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SUMÁRIO

1. Definição........................................................................ 3
2. Epidemiologia............................................................... 3
3. Fisiologia........................................................................ 4
4. Causas............................................................................ 6
5. Investigação diagnóstica ......................................13
6. Tratamento..................................................................18
Referências bibliográficas..........................................21
GINECOMASTIA 3

1. DEFINIÇÃO 2. EPIDEMIOLOGIA
A ginecomastia é definida como a Essa diferença no critério utilizado
presença de qualquer tecido mamá- para se diagnosticar a ginecomastia
rio palpável em homens, seja uni ou faz com que haja diferentes estima-
bilateralmente. Há, entretanto, diver- tivas epidemiológicas. Por exemplo,
gências entre autores, já que alguns em alguns estudos, a ginecomastia
defendem que quando o tecido ma- puberal chega a atingir 69% dos ado-
mário é evidenciado apenas pela ul- lescentes, enquanto em outros essa
trassonografia também deve-se con- estimativa é de apenas 7% (tabela 1).
siderar ginecomastia.

GRUPO CRITÉRIO Nº INDIVÍDUOS Nº (%) COM


ESTUDO IDADE (ANOS)
ESTUDADO UTILIZADO ESTUDADOS GINECOMASTIA

Nydick et al. Escoteiros ³ 0,5 cm 10 – 16 1865 722 (39%)

Tecido subareo-
Neyzi et al. Escolares turcos 9 – 17 993 70 (7%)
lar consistente

Escolares Tecido subareo-


Lee Adolescentes 29 20 (69%)
americanos lar consistente

Escolares
Fara et al. ³ 0,5 cm 11 – 14 681 228 (33%)
italianos
Jovens
Harlan et al. ³ 1,0 cm 12 17 3522 147 (4%)
americanos

Voluntários suí-
Moore et al. ³ 0,5 cm 8,5 – 17,5 35 30 (22%)
ços normais

Escolares Tecido glandular


Biro et al. 10 - 15 77 183 (49%)
americanos palpável
Tabela 1. Percentual de adolescentes com ginecomastia puberal, em diferentes estudos.

Entre adultos também há variação, mas não é tão expressiva como no caso an-
terior, estando entre 32 e 65% (tabela 2).
GINECOMASTIA 4

Nº INDIVÍ-
GRUPO CRITÉRIO IDADE Nº (%) COM
ESTUDO DUOS ES-
ESTUDADO UTILIZADO (ANOS) GINECOMASTIA
TUDADOS
Williams Autópsia Histológico Adultos 447 178 (40%)
Serviço militar
Nuttall ³ 2,0 cm 17 – 58 306 109 (36%)
americano
Voluntá-
Ley et al. rios série ³ 2,0 cm 19 - 39 63 22 ( 35% )
contraceptiva
Não
Carlson Veteranos Adultos 100 32 (32%)
estabelecido
Andersen & Autópsias não
Histológico Adultos 100 55 (55%)
Gram selecionadas
Niewoehner Veteranos ³ 2,0 cm 27 - 92 214 140 (65%)
Tabela 2. Percentual de ginecomastia entre homens adultos, em diferentes estudos.

3. FISIOLOGIA sobre as mamas (figura 1). O estró-


geno agirá através da proliferação
Desenvolvimento mamário na
ductal e a progesterona promoven-
mulher
do o desenvolvimento alveolar. O GH
Com o amadurecimento do eixo hipo- (hormônio do crescimento) e a prolac-
tálamo-hipófise-gonadal da mulher, tina também têm papel importante no
os níveis séricos de estrógeno e da desenvolvimento completo e normal
progesterona aumentarão e atuarão da mama da mulher (figura 2).

HIPOTÁLAMO
OVÁRIOS

GnRH
Estrógenos e
progesterona
LH
FSH
HIPÓFISE Desenvolvimento
das mamas

Figura 1, Ativação do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal


GINECOMASTIA 5

Estrógeno Progesterona

Prolactina GH

Figura 2. Hormônios que atuam sobre as mamas, promovendo o seu desenvolvimento

A mama masculina
Todos esses hormônios também es-
tão presentes no organismo dos ho- PRL PROG TEST
mens. Por que, então, eles não de-
senvolvem mamas? EST GH
A testosterona é a responsável pelo
bloqueio deste desenvolvimento. Ela
impede que os hormônios supracita-
dos ajam sobre a mama, bloqueando
a proliferação ductal e o desenvolvi-
mento alveolar.
Origem do estrógeno no
Logo, de forma geral, a fisiopatolo- organismo masculino
gia da ginecomastia está relacionada
ao desequilíbrio entre a testosterona O estrógeno no organismo masculi-
e os outros hormônios - prolactina, no é proveniente, em sua maior parte,
GH, progesterona e, principalmente, da aromatização periférica realizada
estrógeno. pelo tecido adiposo e pela pele (79%).
O percentual restante corresponde ao
estradiol testicular (15%), estrona testi-
cular (5%) e estrógenos adrenais (1%).
GINECOMASTIA 6

A aromatização é a transformação de testosterona em estradiol ou andros-


andrógenos (hormônios masculinos) tenediona em estrona. A enzima que
em hormônios femininos, podendo medeia essas conversões é denomi-
ser a transformação, por exemplo, de nada aromatase.

Androstenediona Testosterona

Adrenal: <1% Testículo: 15%


AROMATASE
Testículo: <1% Pele, gordura: 85%

Pele, gordura: 99%

Estradiol
Estrona

Logo, nota-se que, apesar de a tes- e progesterona produzidos pela mãe


tosterona bloquear o desenvolvimento durante a gestação e transferidos
mamário, o seu excesso, seja endógeno para o bebê por meio da circulação
ou exógeno, pode levar à ginecomastia, placentária. Pode persistir por sema-
devido ao aumento da aromatização e, nas e haver discreta secreção deno-
consequentemente, de estrógenos. minada popularmente de “leite de
bruxa”, mas não oferece nenhum ris-
co à criança e involui com o passar do
4. CAUSAS tempo.
Fisiológicas
A ginecomastia pode ser fisiológica Puberal
em três fases da vida dos homens.
É bastante comum entre adolescen-
Veja a seguir:
tes com maior índice corporal de gor-
dura. Isso porque o tecido adiposo
Neonatal leva a uma maior conversão da tes-
tosterona (que começou a ser pro-
A ginecomastia deste período é cau- duzida na puberdade) a estrógenos,
sada pelos altos níveis de estrógenos levando à ginecomastia. Também é
GINECOMASTIA 7

auto-limitada e a melhor orientação é que esta não possa exercer seu papel
a perda de peso. antagonista sobre o desenvolvimento
das mamas.
Idosos
Defeitos congênitos
Ocorre também pelo aumento do teci-
do adiposo, comum nesta fase da vida. Entre estes se encontram:
• A anorquia congênita, em que o
Patológicas bebê possui agenesia gonadal bi-
lateral (ausência de testículos), o
Entre as causas patológicas para a que leva à ausência de produção
ginecomastia, se encontram: 1) de- de testosterona;
ficiência da síntese ou da ação da
testosterona; 2) Aumento da produ- • A síndrome de Klinefelter, em que
ção estrogênica gonadal ou adrenal; não há produção adequada de tes-
3) Aumento da aromatização extra- tosterona, e o menino, geralmente
-glandular; 4) Aumento da sensibili- é obeso, o que corresponde a uma
dade do tecido mamário; 5) Drogas. maior aromatização e produção de
estrógenos;
Tenha em mente que todas estas
causas têm uma fisiopatologia geral • Defeitos na síntese de testostero-
em comum: o desequilíbrio entre a na, causados principalmente pela
testosterona e os hormônios que pro- deficiência de enzimas como a
movem o desenvolvimento mamá- 3β-hidroxiesteroide desidrogenase
rio. Veja a seguir o detalhamento de do tipo 2 (3-HSDII) e a 17β-hidro-
cada uma das causas patológicas da xiesteroide desidrogenase do tipo
ginecomastia: 3 (17-HSDIII);
• A síndrome da insensibilidade an-
drogênica (completa ou parcial),
Deficiência da síntese ou da ação
em que o homem possui cariótipo
da testosterona
46XY, produz testosterona nor-
Há defeitos congênitos e adquiridos malmente, mas os receptores não
que levam à falha da síntese ou da respondem adequadamente a ela,
ação da testosterona, fazendo com levando ao desenvolvimento das
mamas.
GINECOMASTIA 8

SAIBA MAIS!
A síndrome de Klinefelter é uma anomalia cromossômica sexual caracterizada por um cro-
mossomo X adicional, levando o homem a ter o cariótipo 47, XXY. Esta síndrome leva ao
hipogonadismo, devido à incapacidade das células germinativas sobreviverem nos testículos.
O fenótipo comumente é de homem com braços e pernas de tamanho desproporcional, com
testículos e pênis pequeno, além da ginecomastia (figura 3). Estes pacientes possuem, ainda,
maior risco de câncer de mama.
'

Figura 3. Ginecomastia e testículos e pênis pequenos em um homem com síndrome de Klinefelter


Fonte: Manual MSD

  HORA DA REVISÃO!
A enzima 17β-hidroxiesteroide desidrogenase tipo 3 (17-β-HSD3) catalisa a conversão de
androstenediona a testosterona nos testículos. Já a deficiência da 3β-hidroxiesteroide de-
sidrogenase tipo 2 (3β-HSDII) resulta em diminuição da síntese de cortisol, aldosterona e
androstenediona.
Dessa forma, a deficiência destas enzimas leva ao comprometimento direto de andrógenos
(androstenediona e testosterona).
GINECOMASTIA 9

Defeitos adquiridos Tumores testiculares


Entre estes se encontram: orquite vi- Estes tumores podem ser de células
ral (por caxumba), traumas testicula- germinativas, células de Sertoli e cé-
res, castração, doenças granuloma- lulas de Leyding.
tosas ou neurológicas e doença renal
crônica (DRC) / diálise.
Tumores produtores de hCG fora
Em todos estes exemplos supracita- do testículo
dos, a redução da síntese da testoste-
rona se dá por conta do acometimento Envolvem neoplasias broncogênica,
direto do testículo, exceto as doenças hepática ou renal.
neurológicas e a DRC. Nestes casos,
há uma desregulação hormonal, que Tumor adrenal feminilizante
culmina na redução da atividade do
Neste tipo de tumor há aumento
testículo.
da aromatase e, consequentemen-
te, da conversão de andrógenos em
Aumento da produção estrogênica estrógenos.
gonadal ou adrenal
Neste caso, a ginecomastia é decor- Hermafroditismo verdadeiro
rente do excesso de estrógenos que Nesta patologia, há coexistência de
têm origem em: testículos e ovários, o que leva à pro-
dução maior de estrógenos, uma vez
que além da aromatização, há outra
fonte de estrógenos: os ovários.

SAIBA MAIS!
O hCG (gonadotrofina coriônica humana), é um hormônio comumente dosado em mulheres
para o diagnóstico de gravidez, já que o mesmo é produzido pelo trofoblasto, estrutura que
posteriormente dará origem à placenta.
Entretanto, este hormônio também pode ter seus níveis aumentados em homens, principal-
mente em neoplasias de origem germinativa, como o tumor testicular de células germinativas.
GINECOMASTIA 10

Aumento da aromatização
HORA DA REVISÃO! extra-glandular
Entre as células testiculares se encon- Tanto a doença adrenal, quanto a
tram as células de Sertoli e as células de
hepática podem levar a um aumen-
Leyding. Na embriogênese, ambas têm
papel fundamental. As células de Sertoli to da produção de aromatases, o que
produzem hormônio anti-Mulleriano, ini- reflete em maior conversão de andró-
bindo a formação dos ductos de Muller genos a estrógenos.
e, consequentemente, do trato genital
feminino. Enquanto isso, as células de Além disso, a tireotoxicose também
Leyding produzem testosterona, o que pode ter esse efeito, já que o exces-
induz a formação do sistema reprodutor
masculino.
so de hormônios tireoidianos leva ao
excesso da aromatase. Ademais, os
Na vida adulta, as células de Leyding
continuam com o papel de produção de altos níveis de hormônios tireoidianos
testosterona, enquanto as de Sertoli au- aumentam os níveis de SHBG (globu-
xiliam o processo de espermatogênese, lina ligadora de hormônios sexuais),
dando suporte tanto na nutrição das cé-
lulas germinativas (espermatócitos, es-
que é uma proteína que se liga à tes-
permátide e espermatozoides), quanto tosterona. Em consequência disso, há
na fagocitose de excessos de citoplas- redução dos níveis séricos de testos-
ma liberados na espermatogênese e na terona livre, que é a responsável pelo
proteção dos espermatozoides, já que
estas células se encontram nas paredes efeito inibitório do desenvolvimento
dos ductos seminíferos. das mamas.

SAIBA MAIS!
Assim como o hipertireoidismo, o hipotireoidismo também pode levar à ginecomastia. Porém,
por um mecanismo diferente: os baixos níveis de hormônios tireoidianos induzem o aumento
da prolactina, um dos hormônios responsáveis por promover o desenvolvimento das mamas.

Outra comorbidade que pode levar ao supracitadas. Acredita-se que isso


aumento da aromatização é a obesi- ocorra por alguma mutação genética
dade, já que o tecido adiposo é grande ainda desconhecida e denomina-se
colaborador da conversão periférica. esta condição de Síndrome do ex-
Há ainda, indivíduos que produ- cesso de aromatase (SEA) ou Gine-
zem aromatase em excesso, mesmo comastia pré-puberal com trans-
sem nenhuma das comorbidades missão dominante.
GINECOMASTIA 11

SAIBA MAIS!
A ginecomastia pré-puberal com transmissão dominante ou síndrome do excesso de aroma-
tase é uma condição extremamente rara, sendo registradas até então menos de 10 famílias
acometidas. Geralmente, a criança, além da ginecomastia, cursa com crescimento puberal
acelerado, aumento da idade óssea (mas sem comprometimento da estatura final) e viriliza-
ção incompleta, devido aos baixos níveis de testosterona e altos de estrona.

o desenvolvimento da mama, mesmo


Aumento da sensibilidade do
com a ação opositora da testosterona.
tecido mamário
Neste caso, não há nenhum equilí-
brio hormonal entre a testosterona Drogas
e os hormônios pró-desenvolvimen- Várias drogas, como as expostas a se-
to mamário. Porém, o tecido mamá- guir na tabela 3, podem levar ao dese-
rio possui sensibilidade aumentada quilíbrio hormonal e culminar na gineco-
principalmente ao estrógeno, fazen- mastia. Por isso, é essencial que sempre
do com que pequenas quantidades se investigue o uso de qualquer subs-
de estrógeno sejam suficientes para tância na anamnese e depois se pes-
quise se pode haver alguma relação.

CATEGORIAS DROGAS

Andrógenos e esteróides anabólicos


Hormônios Gonadotrofina coriônica, GH (KO IGF1 mice; IGF1+E2; GH+E2)
Estrógenos e agonistas de estrógenos

Anti-andrógenos ou inibido-
Ciproterona, flutamida, bicalutamida, finasteride
res da síntese de andrógenos

Antibióticos Isoniazida, quetoconazol, metronidazol

Medicação anti-ulcerosa Cimetidina, omeprazol, ranitidina

Quimioterápicos
Ciclofosfamida, clorambucil (agentes alquilantes)
anti-neoplásicos

Drogas de abuso Álcool, anfetaminas, heroína, maconha

Amiodarona, captopril, digitoxina, enalapril, metildopa, nifedipina, reserpi-


Drogas cárdio-vasculares
na, verapamil, aldosterona

Agentes psicoativos Diazepam, haloperidol, fenotiazinas, antidepressivos tricíclicos


Terapia anti-retroviral
Efavirenz, estavudina
(HAART)
Outros Fenitoína, penicilamina, alupurinol

Casos isolados Metotrexate, fenofibrato, talidomida, fluoxetina

Tabela 3. Drogas que podem levar à ginecomastia.. Fonte: Canhaço, 2015.


GINECOMASTIA 12

CAUSAS DE GINECOMASTIA

Neonatal
Drogas
Diazepam Amiodarona Captopril Várias outras
Puberal

Idosos
Aumento da
sensibilidade do
tecido mamário
Fisiológicas Defeitos
congênitos Anorquia Síndrome de Defeitos de Síndrome da
congênita Klinefelter enzimas insensibilidade
androgênica

Deficiência da síntese Defeitos


CAUSAS DE Traumas e D.
ou da ação da T adquiridos
Orquite viral DRC granulomatosas
GINECOMASTIA castração e neurológicas

Aumento da
Patológicas produção estrogênica Tumores produtores
Tumor adrenal Hermafroditismo
gonadal ou adrenal de hCG fora do Tumores testiculares
feminilizante verdadeiro testículo

Aumento da
aromatização SEA (Síndrome D. hepática
extragonadal do Excesso de Obesidade Tireotoxicose
Aromatases) e adrenal
GINECOMASTIA 13

5. INVESTIGAÇÃO bem como as suas características (co-


DIAGNÓSTICA loração, quantidade e viscosidade).
Clínica É importante também delimitar à pal-
pação, a localização do volume, já que
Anamnese na ginecomastia o volume se encontra
É fundamental que o paciente seja exatamente abaixo da aréola. Quan-
questionado sobre a época de apa- do este volume palpado se encontra
recimento, história familiar, uso de lateralmente à aréola, possivelmente
medicamentos ou outras substâncias se trata de outra desordem (figura 4),
(fórmulas, suplementos, chás, cremes, tendo que ser excluída a hipótese de
óleos), passado médico (doenças crô- câncer de mama, principalmente se a
nicas, DRC, hiper ou hipotireoidismo, massa for endurecida.
doença hepática), fertilidade, libido e
disfunção erétil (em busca de hipogo- SE LIGA! A palpação deve ser efetua-
nadismo primário ou secundário). da de forma adequada para que se tire
as conclusões necessárias deste exame.
Dessa forma, deve-se proceder o exa-
me com os dedos indicador e polegar de
Exame físico forma rotatória e levemente compressi-
va, na tentativa de delimitar a extensão e
No exame físico é mandatória a palpa-
a profundidade do tecido mamário.
ção das mamas, para que se verifique
o volume e se há descarga papilar,
GINECOMASTIA 14

Figura 4. Localização da massa palpável na ginecomastia e em outras desordens.


Fonte: Braunstein, G. D. Gynecomastia. NEJM. 2007.

Outro exame que deve ser realizado é diagnóstica. Dessa forma, buscando
a palpação testicular, buscando a ava- fazer o diagnóstico diferencial da gi-
liar seu tamanho e consistência, para necomastia com a lipomastia, os nó-
verificar o seu trofismo. Ademais, o dulos benignos e o câncer de mama,
exame físico convencional (completo) vale-se de exames laboratoriais e de
deve ser realizado, em busca de outros imagem.
sinais clínicos, como: fácies sindrômica, Os exames de imagem aplicáveis a
telangiectasias e ascite (doença hepá- este tipo de avaliação são a ultras-
tica), bócio e exoftalmia (hipertireoidis- sonografia e a mamografia. Observe
mo), baixa estatura e sinais de hipogo- na figura 5 os aspectos de diferentes
nadismo (pênis e testículos pequenos, acometimentos (de benignos a ma-
ausência de pelos, voz aguda). lignos) visualizados à mamografia.

Laboratorial e imagiologia
Apesar de importante, a avaliação clí-
nica não é suficiente para a conclusão
GINECOMASTIA 15

A B C D E F

Figura 5. Mamografias evidenciando: A. Ginecomastia subareolar/ B. Ginecomastia nodular/ C. Ginecomastia difusa/ D.


Mama feminina adulta/ E. Câncer de mama/ F. Câncer de mama

A solicitação de exames laboratoriais Estando o LH alto e a T baixa, con-


inclui: β-hCG, LH (hormônio luteini- tata-se hipogonadismo hipergona-
zante), FSH (hormônio folículo-es- dotrófico. Já se o LH estiver normal
timulante), T (testosterona), E2 (es- ou baixo e a T baixa, constata-se hi-
tradiol), prolactina, TSH (hormônio pogonadismo hipogonadotrófico ou
tireo-estimulante) e T4 livre. prolactinoma (se os níveis de prolacti-
De acordo com os resultados, confir- na estiverem altos).
ma-se ou descarta-se as hipóteses.
Por exemplo, se a prolactina estiver HORA DA REVISÃO!
aumentada, a hipótese de prolacti- O hipogonadismo hipergonadotrófico
noma se torna mais consolidada. Se é caracterizado pela disfunção na pro-
TSH estiver baixo e T4 livre alto, con- dução de testosterona a nível dos tes-
tículos. Dessa forma, o LH se encontra
firma-se o hipertireoidismo. em níveis séricos elevados devido ao
Estando o hCG alto, é necessária a feedback positivo gerado pelos baixos
níveis de testosterona.
realização de ultrassonografia testi-
Já no hipogonadismo hipogonadotrófico,
cular, buscando alguma massa que
a disfunção que leva à baixa produção
confirme a suspeita de tumor testicu- de testosterona se encontra na hipófise,
lar de células germinativas. Não ha- o que faz com os níveis de LH estejam
vendo a detecção de nenhuma mas- normais ou baixos, demonstrando a sua
não-responsividade ao feedback posi-
sa, deve-se solicitar radiografia de tivo que deveria ocorrer por conta dos
tórax e tomografia computadorizada baixos níveis de testosterona.
de abdome, em busca de algum tumor Uma das possibilidades para a disfunção
de células germinativas extragonadal da hipófise é o prolactinoma, um tumor
(broncogênico, hepático, suprarrenal benigno, localizado nesta glândula, que
produz prolactina e que pode suprimir
e renal são as principais localizações). a produção de outros hormônios, entre
eles o LH, culminando no hipogonadis-
mo hipogonadotrófico.
GINECOMASTIA 16

Estando o LH e a T altos, há duas pos- adrenal ou aumento da aromatiza-


sibilidades: hipertireoidismo ou in- ção extraglandular. Este diagnóstico
sensibilidade androgênica. Se o TSH diferencial pode ser feito através de
estiver reduzido e o T4 livre estiver ultrassonografia testicular e tomogra-
elevado, constata-se o hipertireoidis- fia computadorizada ou ressonância
mo primário. Se ambos estiverem em nuclear magnética de adrenal.
níveis normais, constata-se insensibi- Se HCG, TSH, T4 livre, LH, T e estra-
lidade androgênica. diol estiverem normais, trata-se de
Já se o LH estiver normal ou reduzido uma ginecomastia idiopática. Obser-
e o estradiol elevado, há as seguin- ve nos fluxogramas abaixo as inter-
tes possibilidades: tumor testicular pretações dos resultados e as condu-
(de células de Leyding ou Sertoli) ou tas adequadas para cada caso.
GINECOMASTIA 17

hCG, LH, T, E2 hCG, LH, T, E2

↑hCG ↑LH ↓T LH nl ou ↓LH, T ↑LH, T LH nl ou ↓ E2↑ hCG, LH, T, E2 nls

Hipogonadismo
USG testicular ↑PRL PRL nl ↑T4, ↓TSH T4, TSH nls USG Ginecomastia idiopática
hipergonadotrófico

Hipogonadismo Insensibilidade
Massa Normal Prolactinoma Hiper-tireoidismo Massa Normal
hipogonadotrófico androgênica

Tumor de cél. Tumor de cél. de


TC ou RNM de adrenal
Tumor de cél. germinativas Leyding ou de Sertoli
germinativas extragonadal ou
testiculares não trofoblástico
produtor de hCG
Massa Normal

RX tórax e
TC de abdome ↑ Extraglandular
Tumor adrenal
de aromatase
GINECOMASTIA 18

6. TRATAMENTO Drogas com ação anti-estrogênica


Doença de base Havendo grandes quantidades de
estrógenos, o mais indicado é o uso
O tratamento da ginecomastia con-
de drogas que se liguem aos recep-
siste primordialmente no tratamento
tores estrogênicos, antagonizando
da doença de base. Logo, se for hi-
seu efeito. Um exemplo desta classe
potireoidismo, deve-se fazer a reposi-
medicamentosa é o Tamoxifeno, que
ção hormonal com levotiroxina; se for
pode ser utilizado por 3 a 6 meses, na
hipertireoidismo, ablação da tireoide
dose de 20 mg/dia, via oral.
ou tireoidectomia; se for algum tumor,
quimioterapia, radioterapia e/ou cirur- É bastante comum a associação do
gia, conforme indicação. tamoxifeno com o Danazol ou com
outro andrógeno fraco e esta combi-
nação é eficaz em 80% dos casos.
Testosterona e outros andrógenos
O Clomifeno é também uma droga
Em caso de hipogonadismo, há indi- anti-estrogênica, moduladora seleti-
cação do uso de Testosterona. Ou- va do receptor estrogênico e que leva
tras alternativas são o Danazol, a à melhora da ginecomastia 64% das
Di-hidrotestosterona (tópica), Oxi- vezes. É utilizada na dose de 100 mg/
metolona, Oxandrolona, Nandrolo- dia, via oral, por 3 a 6 meses.
na e Estanozol. Nenhum destes deve
ser prescrito quando não há deficiên-
Inibidores de aromatase
cia de testosterona, porque o excesso
destes andrógenos pode levar ao au- Quando há altos níveis de aromatase,
mento de aromatização e dos níveis esta é a classe mais indicada e exis-
de estrógenos, efeito contrário ao tem as seguintes opções: Anarstro-
desejado. zol (1mg/dia, via oral, por 3 a 6 meses)
Observe a seguir a posologia das e Letrozol (2,5 mg/dia, via oral, por 3
drogas mais utilizadas: Testosterona a 6 meses). Entretanto, os benefícios
solução 250 mg/mL, 1mL via oral, de destes medicamentos são limitados.
3 em 3 semanas (há também opções
em cápsulas e soluções intramuscu- Radiação da região mamária
lares); Danazol 400 mg/dia, via oral,
dividido de 12 em 12 horas, por 3 a Pacientes com câncer de próstata, em
6 meses. uso de medicamentos que inibem o
estímulo androgênico, podem se be-
neficiar da irradiação profilática da
GINECOMASTIA 19

região mamária em baixas doses, de mama está indicada a remoção do


forma a prevenir a ginecomastia. tecido glandular associado ou não à
Um estudo, por exemplo, demonstrou lipossucção.
que a irradiação da mama profilática
é uma estratégia eficaz e bem tolera- Acompanhamento psicológico
da para a prevenção de ginecomastia
induzida por Bicalutamida, um dos Os efeitos físicos da ginecomastia
medicamentos utilizados durante o podem se estender para efeitos psi-
tratamento do câncer de próstata. cológicos, já que a alteração do corpo
gera distúrbios de autopercepção e
de autoestima, principalmente entre
Cirurgia crianças e adolescentes. Portanto, é
Quando há falha do tratamento me- essencial que estes grupos tenham
dicamentoso, constrangimento do acompanhamento psicológico.
paciente ou suspeita de câncer de
GINECOMASTIA 20

GINECOMASTIA

Presença de qualquer tecido


mamário palpável em homens,
seja uni ou bilateralmente
Doença de base

Testosterona e outros Definição


andrógenos

Drogas anti-
estrogênicas
Desequilíbrio entre
testosterona e hormônios pró-
Inibidores de
Tratamento GINECOMASTIA Fisiopatologia desenvolvimento mamário
aromatases
(estrógenos, progesterona,
GH e prolactina)
Irradiação

Diagnóstico Causas
Cirurgia

Avaliação clínica Deficiência da síntese ou da ação da T


Acompanhamento
(anamnese + exame
psicológico
físico)
Aumento da sensibilidade do tecido mamário

Ultrassonografia ou Drogas
mamografia

Aumento da produção estrogênica gonadal ou adrenal


Laboratoriais:
T, E2, LH, FSH, TSH,
Aumento da aromatização extragonadal
T4l, Prolac, βhCG
GINECOMASTIA 21

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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GINECOMASTIA 22

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