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1. Definição........................................................................ 3
2. Epidemiologia............................................................... 3
3. Fisiologia........................................................................ 4
4. Causas............................................................................ 6
5. Investigação diagnóstica ......................................13
6. Tratamento..................................................................18
Referências bibliográficas..........................................21
GINECOMASTIA 3
1. DEFINIÇÃO 2. EPIDEMIOLOGIA
A ginecomastia é definida como a Essa diferença no critério utilizado
presença de qualquer tecido mamá- para se diagnosticar a ginecomastia
rio palpável em homens, seja uni ou faz com que haja diferentes estima-
bilateralmente. Há, entretanto, diver- tivas epidemiológicas. Por exemplo,
gências entre autores, já que alguns em alguns estudos, a ginecomastia
defendem que quando o tecido ma- puberal chega a atingir 69% dos ado-
mário é evidenciado apenas pela ul- lescentes, enquanto em outros essa
trassonografia também deve-se con- estimativa é de apenas 7% (tabela 1).
siderar ginecomastia.
Tecido subareo-
Neyzi et al. Escolares turcos 9 – 17 993 70 (7%)
lar consistente
Escolares
Fara et al. ³ 0,5 cm 11 – 14 681 228 (33%)
italianos
Jovens
Harlan et al. ³ 1,0 cm 12 17 3522 147 (4%)
americanos
Voluntários suí-
Moore et al. ³ 0,5 cm 8,5 – 17,5 35 30 (22%)
ços normais
Entre adultos também há variação, mas não é tão expressiva como no caso an-
terior, estando entre 32 e 65% (tabela 2).
GINECOMASTIA 4
Nº INDIVÍ-
GRUPO CRITÉRIO IDADE Nº (%) COM
ESTUDO DUOS ES-
ESTUDADO UTILIZADO (ANOS) GINECOMASTIA
TUDADOS
Williams Autópsia Histológico Adultos 447 178 (40%)
Serviço militar
Nuttall ³ 2,0 cm 17 – 58 306 109 (36%)
americano
Voluntá-
Ley et al. rios série ³ 2,0 cm 19 - 39 63 22 ( 35% )
contraceptiva
Não
Carlson Veteranos Adultos 100 32 (32%)
estabelecido
Andersen & Autópsias não
Histológico Adultos 100 55 (55%)
Gram selecionadas
Niewoehner Veteranos ³ 2,0 cm 27 - 92 214 140 (65%)
Tabela 2. Percentual de ginecomastia entre homens adultos, em diferentes estudos.
HIPOTÁLAMO
OVÁRIOS
GnRH
Estrógenos e
progesterona
LH
FSH
HIPÓFISE Desenvolvimento
das mamas
Estrógeno Progesterona
Prolactina GH
A mama masculina
Todos esses hormônios também es-
tão presentes no organismo dos ho- PRL PROG TEST
mens. Por que, então, eles não de-
senvolvem mamas? EST GH
A testosterona é a responsável pelo
bloqueio deste desenvolvimento. Ela
impede que os hormônios supracita-
dos ajam sobre a mama, bloqueando
a proliferação ductal e o desenvolvi-
mento alveolar.
Origem do estrógeno no
Logo, de forma geral, a fisiopatolo- organismo masculino
gia da ginecomastia está relacionada
ao desequilíbrio entre a testosterona O estrógeno no organismo masculi-
e os outros hormônios - prolactina, no é proveniente, em sua maior parte,
GH, progesterona e, principalmente, da aromatização periférica realizada
estrógeno. pelo tecido adiposo e pela pele (79%).
O percentual restante corresponde ao
estradiol testicular (15%), estrona testi-
cular (5%) e estrógenos adrenais (1%).
GINECOMASTIA 6
Androstenediona Testosterona
Estradiol
Estrona
auto-limitada e a melhor orientação é que esta não possa exercer seu papel
a perda de peso. antagonista sobre o desenvolvimento
das mamas.
Idosos
Defeitos congênitos
Ocorre também pelo aumento do teci-
do adiposo, comum nesta fase da vida. Entre estes se encontram:
• A anorquia congênita, em que o
Patológicas bebê possui agenesia gonadal bi-
lateral (ausência de testículos), o
Entre as causas patológicas para a que leva à ausência de produção
ginecomastia, se encontram: 1) de- de testosterona;
ficiência da síntese ou da ação da
testosterona; 2) Aumento da produ- • A síndrome de Klinefelter, em que
ção estrogênica gonadal ou adrenal; não há produção adequada de tes-
3) Aumento da aromatização extra- tosterona, e o menino, geralmente
-glandular; 4) Aumento da sensibili- é obeso, o que corresponde a uma
dade do tecido mamário; 5) Drogas. maior aromatização e produção de
estrógenos;
Tenha em mente que todas estas
causas têm uma fisiopatologia geral • Defeitos na síntese de testostero-
em comum: o desequilíbrio entre a na, causados principalmente pela
testosterona e os hormônios que pro- deficiência de enzimas como a
movem o desenvolvimento mamá- 3β-hidroxiesteroide desidrogenase
rio. Veja a seguir o detalhamento de do tipo 2 (3-HSDII) e a 17β-hidro-
cada uma das causas patológicas da xiesteroide desidrogenase do tipo
ginecomastia: 3 (17-HSDIII);
• A síndrome da insensibilidade an-
drogênica (completa ou parcial),
Deficiência da síntese ou da ação
em que o homem possui cariótipo
da testosterona
46XY, produz testosterona nor-
Há defeitos congênitos e adquiridos malmente, mas os receptores não
que levam à falha da síntese ou da respondem adequadamente a ela,
ação da testosterona, fazendo com levando ao desenvolvimento das
mamas.
GINECOMASTIA 8
SAIBA MAIS!
A síndrome de Klinefelter é uma anomalia cromossômica sexual caracterizada por um cro-
mossomo X adicional, levando o homem a ter o cariótipo 47, XXY. Esta síndrome leva ao
hipogonadismo, devido à incapacidade das células germinativas sobreviverem nos testículos.
O fenótipo comumente é de homem com braços e pernas de tamanho desproporcional, com
testículos e pênis pequeno, além da ginecomastia (figura 3). Estes pacientes possuem, ainda,
maior risco de câncer de mama.
'
HORA DA REVISÃO!
A enzima 17β-hidroxiesteroide desidrogenase tipo 3 (17-β-HSD3) catalisa a conversão de
androstenediona a testosterona nos testículos. Já a deficiência da 3β-hidroxiesteroide de-
sidrogenase tipo 2 (3β-HSDII) resulta em diminuição da síntese de cortisol, aldosterona e
androstenediona.
Dessa forma, a deficiência destas enzimas leva ao comprometimento direto de andrógenos
(androstenediona e testosterona).
GINECOMASTIA 9
SAIBA MAIS!
O hCG (gonadotrofina coriônica humana), é um hormônio comumente dosado em mulheres
para o diagnóstico de gravidez, já que o mesmo é produzido pelo trofoblasto, estrutura que
posteriormente dará origem à placenta.
Entretanto, este hormônio também pode ter seus níveis aumentados em homens, principal-
mente em neoplasias de origem germinativa, como o tumor testicular de células germinativas.
GINECOMASTIA 10
Aumento da aromatização
HORA DA REVISÃO! extra-glandular
Entre as células testiculares se encon- Tanto a doença adrenal, quanto a
tram as células de Sertoli e as células de
hepática podem levar a um aumen-
Leyding. Na embriogênese, ambas têm
papel fundamental. As células de Sertoli to da produção de aromatases, o que
produzem hormônio anti-Mulleriano, ini- reflete em maior conversão de andró-
bindo a formação dos ductos de Muller genos a estrógenos.
e, consequentemente, do trato genital
feminino. Enquanto isso, as células de Além disso, a tireotoxicose também
Leyding produzem testosterona, o que pode ter esse efeito, já que o exces-
induz a formação do sistema reprodutor
masculino.
so de hormônios tireoidianos leva ao
excesso da aromatase. Ademais, os
Na vida adulta, as células de Leyding
continuam com o papel de produção de altos níveis de hormônios tireoidianos
testosterona, enquanto as de Sertoli au- aumentam os níveis de SHBG (globu-
xiliam o processo de espermatogênese, lina ligadora de hormônios sexuais),
dando suporte tanto na nutrição das cé-
lulas germinativas (espermatócitos, es-
que é uma proteína que se liga à tes-
permátide e espermatozoides), quanto tosterona. Em consequência disso, há
na fagocitose de excessos de citoplas- redução dos níveis séricos de testos-
ma liberados na espermatogênese e na terona livre, que é a responsável pelo
proteção dos espermatozoides, já que
estas células se encontram nas paredes efeito inibitório do desenvolvimento
dos ductos seminíferos. das mamas.
SAIBA MAIS!
Assim como o hipertireoidismo, o hipotireoidismo também pode levar à ginecomastia. Porém,
por um mecanismo diferente: os baixos níveis de hormônios tireoidianos induzem o aumento
da prolactina, um dos hormônios responsáveis por promover o desenvolvimento das mamas.
SAIBA MAIS!
A ginecomastia pré-puberal com transmissão dominante ou síndrome do excesso de aroma-
tase é uma condição extremamente rara, sendo registradas até então menos de 10 famílias
acometidas. Geralmente, a criança, além da ginecomastia, cursa com crescimento puberal
acelerado, aumento da idade óssea (mas sem comprometimento da estatura final) e viriliza-
ção incompleta, devido aos baixos níveis de testosterona e altos de estrona.
CATEGORIAS DROGAS
Anti-andrógenos ou inibido-
Ciproterona, flutamida, bicalutamida, finasteride
res da síntese de andrógenos
Quimioterápicos
Ciclofosfamida, clorambucil (agentes alquilantes)
anti-neoplásicos
CAUSAS DE GINECOMASTIA
Neonatal
Drogas
Diazepam Amiodarona Captopril Várias outras
Puberal
Idosos
Aumento da
sensibilidade do
tecido mamário
Fisiológicas Defeitos
congênitos Anorquia Síndrome de Defeitos de Síndrome da
congênita Klinefelter enzimas insensibilidade
androgênica
Aumento da
Patológicas produção estrogênica Tumores produtores
Tumor adrenal Hermafroditismo
gonadal ou adrenal de hCG fora do Tumores testiculares
feminilizante verdadeiro testículo
Aumento da
aromatização SEA (Síndrome D. hepática
extragonadal do Excesso de Obesidade Tireotoxicose
Aromatases) e adrenal
GINECOMASTIA 13
Outro exame que deve ser realizado é diagnóstica. Dessa forma, buscando
a palpação testicular, buscando a ava- fazer o diagnóstico diferencial da gi-
liar seu tamanho e consistência, para necomastia com a lipomastia, os nó-
verificar o seu trofismo. Ademais, o dulos benignos e o câncer de mama,
exame físico convencional (completo) vale-se de exames laboratoriais e de
deve ser realizado, em busca de outros imagem.
sinais clínicos, como: fácies sindrômica, Os exames de imagem aplicáveis a
telangiectasias e ascite (doença hepá- este tipo de avaliação são a ultras-
tica), bócio e exoftalmia (hipertireoidis- sonografia e a mamografia. Observe
mo), baixa estatura e sinais de hipogo- na figura 5 os aspectos de diferentes
nadismo (pênis e testículos pequenos, acometimentos (de benignos a ma-
ausência de pelos, voz aguda). lignos) visualizados à mamografia.
Laboratorial e imagiologia
Apesar de importante, a avaliação clí-
nica não é suficiente para a conclusão
GINECOMASTIA 15
A B C D E F
Hipogonadismo
USG testicular ↑PRL PRL nl ↑T4, ↓TSH T4, TSH nls USG Ginecomastia idiopática
hipergonadotrófico
Hipogonadismo Insensibilidade
Massa Normal Prolactinoma Hiper-tireoidismo Massa Normal
hipogonadotrófico androgênica
RX tórax e
TC de abdome ↑ Extraglandular
Tumor adrenal
de aromatase
GINECOMASTIA 18
GINECOMASTIA
Drogas anti-
estrogênicas
Desequilíbrio entre
testosterona e hormônios pró-
Inibidores de
Tratamento GINECOMASTIA Fisiopatologia desenvolvimento mamário
aromatases
(estrógenos, progesterona,
GH e prolactina)
Irradiação
Diagnóstico Causas
Cirurgia
Ultrassonografia ou Drogas
mamografia
REFERÊNCIAS
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GINECOMASTIA 22