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Bom sou militante do movimento de moradia há 32 dois anos, então eu quando mais jovem
antes dessa militância eu atuava nessa parte pastoral na juventude da igreja católica da zona
leste, que foi um momento muito importante na história de redemocratização do país, aonde
os temas sociais começaram a ficar muito mais fortes e voltar a surgir organizações populares
que até um pouco antes durante a ditadura estavam bastante dificultados. É um momento de
grande efervescência de muita luta de muitas ações né diretas, no movimento de saúde,
movimento de favelas tudo. E na década de 80 então, final um meado pra frente, começa a ter
grandes ocupações de terra nas periferias, nesse momento as periferias eram o maior
epicentro, então as ações pastorais e sociais começaram a atuar junto a serem promotoras,
acaba sendo uma propulsora um centro de aglutinação um centro de juntar as pessoas. E eu
entrei nesse contexto, a primeira atividade que eu participei na vida ocupação da vida com a
moradia, foi na ocupação que fica no Jardim Colorado, que fica no Sapopemba, então ali foi
uma ocupação que eu participei. Ainda na pastoral da juventude, começamos a conhecer e a
se envolver e eu passei a participar de um dos núcleos de base do movimento de moradia e eu
fui passando da pastoral pra participar do núcleo de base do movimento, do núcleo de base fui
pra coordenação regional, fui para OMN e fazendo um monte de coisa. Mas essa primeira
chamada de atenção teve a ver com essa atuação pastoral e por conta dela e do movimento
popular eu fui fazer comecei fazer serviço social. Comecei mais ou na mesma época na PUC de
São Paulo, para ter uma base até para a atuação do movimento.
2- Como tem sido a luta pela reforma urbana junto aos movimentos de moradia?
Então a gente sempre fala, que a pauta da reforma urbana foi uma pauta que ela foi se
aproximando, é claro que quando o movimento começa igual a situação parecida com a de
hoje, aonde você tinha um problema de desemprego muito grande de baixos salários e aluguel
muito alto. Na época tinha tido um pacote econômico, que congelou salários. O movimento
começa muito dessa maneira, tanto que as ocupações, a gente fazia até uma brincadeira, cada
um chegava, pegava uma linha e marcava um lote, não tinha rua, não planejavam o espaço.
Então o movimento já começa, se organizar ele já começa como não queremos sair de uma
favela pra morar em outra favela, a gente quer morar em um lugar eu tenha as condições de
infraestrutura necessária. Na primeira discussão é isso, o que é um nível básico para você ter
uma infraestrutura necessária, para você conseguir ter rede de água e esgoto pra todo mundo,
conseguir ter vias, conseguir ter drenagem, então foi montando na cabeça das pessoas o que
seria esse lugar. Só pra frente a gente começou a discutir aonde esse lugar tava localizado,
porque que essa desigualdade territorial, implicava que a gente não pudesse morar em lugares
melhor localizados.
Ao mesmo tempo, você tem na Constituição de 88 a emenda da reforma urbana que foi um
momento importante de discussão da questão urbana, então foi como uma forma de
mobilização e de sensibilização das pessoas com temas que não era só a questão da moradia, a
gente também teve a oportunidade de conhecer outros autores que atuavam nas questões do
da cidade. Então a esse contato acabou trazendo pra discussão do movimento outras questões
que até então não estavam colocadas. A gente começa a luta pela moradia dela olha pra luta
urbana, pra luta da cidade como um todo. Então esse processo, ele se dá pelas interferências,
pelas conversas, pelos outros atores e outras lutas. Então a gente tinha que passar conceito de
que a moradia informal poderia, deveria a por direito ser regularizada e urbanizada, foi um
conceito que foi entrando aos poucos e que a gente foi batalhando por ele e também pra
questão da habitação, outras a outras questões que influenciavam e elas vão entrando pra
nossa pauta de luta também.
Olha, a gente não acompanha a situação fundiária, a gente faz uma luta que ela tem a ver com
na verdade com o foco de atuação, como é que a gente sabe que imóvel que está vazio, que
está abandonado a muito tempo, que seja prédio que seja terreno, a gente vive nesses bairros
então a gente conhece. Se você sabe onde as coisas acontecem ou se você conversa com
vizinhos as pessoas sabem e se relaciona com o espaço que elas vivem.
É claro que as ferramentas institucionais elas ajudam então a busca por imóveis tem a ver com
essa atuação concreta e a gente vai atrás dessas informações.
Então a nossa base fundiária ela é muito precária, claro que hoje em dia você tem algumas
ferramentas melhores, inclusive em alguns momentos da luta do movimento nós conseguimos
que a própria prefeitura pagasse ou contratasse um estudo sobre os distritos que mais nos
interessava naquela. Na elaboração de Plano Diretor a gente sai com o google numa mão com
a fichinha de papel na mão e pede pras pessoas indicarem terrenos que elas suspeitam, que
esteja vazio, que esteja com alguma ocupação não prevista e a gente então leva pras
discussões de Plano Diretor pra marcar como ZEIS, então foi todo um trabalho que foi feito nos
dois planos no de 2004 e no de 2012. A gente é o próprio movimento forneceu informações
pra transformar essas áreas em ZEIS, e depois fazer o embate político para aprovação disso. E
depois do Plano aprovado o acompanhamento das áreas notificadas, por não utilização pela
Prefeitura que durante a gestão do Haddad começou, logo depois da aprovação do plano tem
um sistema todo organizado na internet e quando o Dória o entrou simplesmente suspendeu
as notificações, parou de notificar. Então tem uma lei que mandou notificar, tem as
ferramentas pra notificar, tinha um departamento da Prefeitura preparado pra notificar o
imóvel vazio e subutilizado e simplesmente o governo mandou parar. Ficou quase três anos
parada, então assim, também você ter as ferramentas legais são muito importantes só que se
a leva, que nem ferramenta é ferramenta, você tem aqui a caneta se ela ficara aqui parada em
cima da minha mesa ela não vai escrever nada sozinha, então a gente sempre precisa estar
atuando e ai assim as ações do movimento são pra fazer as ferramentas institucionais serem
utilizadas.
Não só na hora da reforma do imóvel a parte da obra é a mais rápida, o problema está
resolvido nessa hora. A assessoria ajuda nos processos não só nos projetos. Ela busca terreno,
se é recuado ou não, ela ajuda na negociação com o poder público, valores e nas normas. A
formulação de propostas também é um espaço de discussão conjunta e depois de tudo isso a
discussão de projeto que é um processo coletivo para que permita a participação de quem vai
morar e a ampliação de repertório para ampliar as referências. Como as influências do que é
morar bem e mal influência nas pessoas e a forma do uso do espaço da unidade no espaço da
unidade e do conjunto e passa a discutir com as pessoas como esse projeto vai atingir as suas
necessidades não o que o comércio imobiliário está vendendo.
A varanda é um espaço de transição de uma pessoa que sai de uma moradia horizontal para
vertical, as cozinhas são espaços de convivência e importância, olhamos cada perspectiva e os
espaços comuns sem violar a necessidade dela. Como fazer as mediações do que é viver bem
naquelas condições, o projeto é importante por ser a concretização de uma luta toda. E por
fim o momento da obra, como o processo de autogestão a assessoria modifica nas decisões,
até onde vai os argumentos técnico dos técnicos. A gestão do processo ela é o tempo todo de
conseguir o equilíbrio de autonomia da família com os limites para ter a estabilidade da
construção, a assessoria é esse processo de mediação. Se oferecem para as pessoas outras
opções elas tomam outras decisões.
Você tem uma série de funções da casa é uma coisa de que você precisa para dar respostas.
Para quem tem a preocupação de onde morar a casa é o patrimônio, uma mercadoria. Esse
embate faz oposição para quem não tem moradia olha para ela como patrimônio que tem que
acumular o patrimônio para conseguir a sua, é uma mercadoria casa. Esse entrave faz com que
a política do governo de ajuda para as pessoas compare a moradia, não o governo fornecer
algo que é direito dela. Essas ideias oscilam muito. As políticas de habitação era uma política
de crédito para as pessoas comprassem a moradia e o verde e a amarelo é a mesma coisa,
para quem pode acessar o crédito não para todo mundo. O poder público não encara que tem
a obrigação de dar acesso a moradia está na Constituição. Na saúde demonstra que a vacina é
universal, direito de todo mundo, do mesmo jeito matrícula na escola, é um direito de todo
mundo a habitação. Na moradia é diferente, é uma exceção, ser sorteado e não pode
questionar, a nossa noção de direito a moradia ainda é fraca temos dificuldade de entender a
moradia como direito enquanto fala disso não fala só de ter uma casa próprio, é o direito de
morar. Todo mundo tem que ter lugar pra morar.
O movimento conta com a melhor rede social que são as pessoas conversando por isso é
muito importante a ação social. Acaba sendo muito mais a experiência vivida e passando a
confiabilidade e a informação, mas é muito pela criação de tecido social. Essas redes são muito
importantes e a outra coisa é a confiabilidade e você vai criando uma identidade e ela vai
sendo divulgada. O seu problema residual é uma questão coletiva.
Quem atua no movimento são mulheres, que vão atuar na liderança. No primeiro momento as
grandes lideranças eram homens e hoje são mulheres. Isso é transforma vida de pessoas, o
papel que elas ocupam na sociedade e na família. Acaba despertando na mulher esse olhar
doméstico para ampliar os horizontes.
A seleção é universal, para ela ser atendida cada programa tem uma regra. Mas é colocado
no inicio que tem que colocar profissionais para atender essas famílias. O critério de
atendimento é a participação, quem participa mais consegue a casa mais cedo e quem
participou menos consegue mais tarde. Não é totalmente justo, mas assim não tem fatores
externos que travem isso. As famílias são priorizadas pela participação territorialmente. E
eles podem escolher onde querem ficar, uma opção que a política pública não te da.
SÍNTESE
Ela contou como conheceu e se envolveu com ele, foi a partir dessas atividades sociais
realizadas na sua juventude que resultou na escolha da sua graduação em Serviço Social.
Desde então ela luta não apenas por moradia justa e de qualidade para pessoas de baixa
renda, mas também que elas estejam bem localizadas na cidade onde tenha
infraestrutura, afinal como foi colocado por Rodrigues (2020) porque que a pessoa que
mora na favela deve morar lá para sempre? Para ela ter melhor condição de vida ela deve
morar também em uma localização dotada de infraestrutura da cidade, quando isso não
acontece, principalmente antes da regulamentação das ZEIS deixava nítido a desigualdade
espacial tornando esse mais um dos motivos de luta. Através do movimento ela constrói
uma mudança de pensamento e de perspectiva para as pessoas atendidas, dando novas
referências de moradia, espaços públicos e o direito que elas têm a cidade, além de
escutar e entender o que a população deseja para a sua nova casa.