Você está na página 1de 20

INCIDÊNCIA POLÍTICA

PARTICIPAÇÃO NOS
ESPAÇOS DE CONTROLE SOCIAL

PASTORAL DA AIDS

1
Apresentação

A Pastoral de DST/Aids é um serviço da Igreja Católica que trabalha no


campo das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e Aids. Desenvolve
ações de base esclarecendo a população sobre a importância de uma vida
saudável e os riscos de infecção. Forma lideranças para que se tornem mul-
tiplicadores de informação preventiva, sejam capazes de orientar as pesso-
as para a assistência e tenham nova consciência e atuação no campo dos
direitos humanos, das políticas públicas e controle social.

A Pastoral se orienta fundamentada no direito à vida com dignidade,


onde a pessoa se desenvolve e vive como sujeito, exercendo sua cidadania,
conhecedora de seus direitos e também de seus deveres.

Para qualificar este trabalho de formação, a Pastoral elaborou esta car-


tilha que pretende colaborar para a formação e a informação das lideranças
comunitárias, agentes das pastorais e participantes de comunidades.

Embora vivamos num sistema democrático, ainda nos defrontamos com


práticas autoritárias. O objetivo desta cartilha é proporcionar às lideranças e
agentes de comunidades um instrumento de formação para que conheçam
as engrenagens do sistema, se capacitem na consciência participativa e
exerçam o papel de cidadãos conscientes na formulação de políticas que
beneficiem a população e façam o controle de sua execução. Esta é a temá-
tica dos encontros da presente cartilha

No desejo de sempre crescermos na direção de melhor qualidade de


vida e respeito aos direitos de todos, desejamos bom trabalho!

Coordenação Nacional
Pastoral da Aids

Porto Alegre, março 2009

1
Incidência Política
Primeiro Encontro
( Para ler e refletir antes do encontro com o grupo )

Importância da Participação nos Conselhos Municipais

Os Conselhos Municipais são instâncias de participação do povo e de


legitimidade social nas administrações públicas. São organizados e respon-
sáveis para defender a população e seus direitos como cidadãos. Partici-
pamos dos Conselhos Municipais para prevenir a corrupção e fortalecer
a cidadania. Esta participação é importante porque contribui para a boa e
correta aplicação dos recursos públicos, fazendo com que as necessidades
da sociedade sejam atendidas de forma eficiente. Todos contribuem com o
município pagando impostos. Então nada mais justo que todos tenham o
direito de usufruir e determinar as finalidades deste dinheiro.

O que ganhamos com a nossa participação num Conselho


Municipal…
Com a nossa participação garantimos:
 serviços de qualidade para a população;
 continuidade dos serviços municipais;
 relações de co-responsabilidade (Prefeito, Secretários, Prestadores
de serviços, trabalhadores e usuários);
 atendimento mais justo e humanizado em todos os setores dos
serviços municipais, como a Saúde, Assistência Social, Educação,
Cultura, Segurança, Meio ambiente;
 poder de falar e decidir em todas as reuniões dos Conselhos;
 que a nossa presença mostre a força do povo nas reuniões;
 o nosso direito de fiscalizar onde o dinheiro público é aplicado;
 o exercício da cidadania que nos ajuda a crescer pessoalmente e
aumenta a auto-estima;
 a compreensão de como funciona a sociedade na sua organização
social e política;
 benefícios para a comunidade e para nós mesmos;

2
No entanto, para que os cidadãos possam desempenhar a sua partici-
pação nos conselhos é necessário que sejam mobilizados e recebam orien-
tações de como podem ser fiscais dos gastos públicos. Gestão Participativa
é a gente que faz.

ENCONTRO COM O GRUPO

Acolhida: O coordenador dá as boas vindas, pede para cada um se


apresentar e faz um momento de espiritualidade.

Material: revistas, jornais, papel ofício, cola, fita crepe, hidrocor, papel,
tesoura.

Dinâmica:
1) - Formar subgrupos e distribuir os materiais.
2) - Cada subgrupo deve montar, com o material recebido, um painel no
qual apresente situações de solidariedade, em oposição a situações indivi-
dualistas, dando um título sugestivo para o trabalho.
3) - Apresentação dos painéis, seguida de discussão sobre os pontos
que mais chamarem a atenção do grupo: Qual a importância da participação
na sociedade? De que iniciativa solidária você já participou? Que pessoas
e organizações são exemplos de solidariedade no bairro, na escola, na so-
ciedade?
4) - Conclusão: o facilitador ressalta para o grupo o valor da nossa
participação nos Conselhos para o enfrentamento de questões como fome,
educação, saúde, emprego e outras. Se for oportuno, pode ler o texto ao
lado: o que ganhamos com nossa participação no Conselho Municipal.

3
A Engrenagem do Controle Social

Segundo Encontro
( Para ler e refletir antes do encontro com o grupo )

Direitos Sociais e participação no poder

Passamos por vários momentos históricos no exercício do poder e na


definição dos direitos sociais.
Do Brasil Colônia (1500-1822), Brasil Império (1822-1889), Brasil Repú-
blica (1889 – 1964), Brasil Ditadura (1964-1985), até o Brasil Democrático (a
partir de 1986). Foram centenas de anos sem direitos e com muitos deveres.
A partir do Brasil Democrático nasce em 1988 a Constituição Cidadã
“Art. 1º Todo poder emana do povo, que o exerce indiretamente, através de
seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos dessa constituição”.
É um sistema democrático onde, com muita luta, ampliamos nosso espaço
de participação e conquista dos direitos. Esses direitos, porém, não estão
garantidos. Precisamos constantemente lutar por sua manutenção, imple-
mentação, monitoramento e execução. Para sermos cidadãos conscientes
e participativos devemos compreender como funciona a sociedade.
Pagamos o total de 65 impostos à União, Estados e Municípios. Esses
recursos são destinados às áreas de Educação, Saúde, Justiça, Transporte,
Assistência Social, Trabalho, Cultura e Lazer.
Para que esse dinheiro chegue ao seu destino, deve haver em cada
área, um conselho, com participação da comunidade, que construa o pla-
nejamento das ações e dos gastos, que devem ser acompanhados e moni-
torados.
Se isso não acontecer, a comunidade corre o risco de os recursos se-
rem desviados, não chegando ao seu destino. O resultado é a má qualidade
dos serviços que recebemos.
O indivíduo contribui com os impostos para recebê-lo em forma de ser-
viços públicos (saúde, educação, etc...) com qualidade.
Leis que podem ser consultadas:
Constituição de 1988, Lei 8080 (SUS), Lei 8142 (participação social),
Lei 9313 (medicamentos para Aids).

4
Procure entender estas duas figuras junto com o grupo

5
Ambiente: Cartaz com nomes dos conselhos e organizações da sua cidade.

Animador: Homens e mulheres constroem as diferentes sociedades


através de ações coletivas e individuais, públicas e privadas. Entre estas
ações encontram-se ações políticas que são um conjunto de atos humanos
que possuem a dimensão pública e que se relacionam com as estruturas de
poder da sociedade (texto base C.F. /96).

Maria, você pode explicar o que é Controle So-


cial?

Sim, explico. Você lembra da Marta? Ela man-


dou fazer uma casa em outra cidade. Manda-
va dinheiro todo mês para pagar o pedreiro e
para a compra do material. Trabalhava em
três empregos pra realizar o sonho da casa
própria e teve uma grande surpresa. Seis meses depois, ela foi
ver como estava sua casa e a construção estava pela metade.

Como é que ela deixou tudo por conta dos pedrei-


ros e não foi lá pra ver como estava sendo gasto
o dinheiro que ela mandava e se a casa estava
ficando boa?
Para conversar:

Animador: O que a história da Marta tem a ver com o controle social?


Então a sua pergunta está respondida. Isso é controle social. A diferença
é que o pedreiro é o prefeito, a casa é o município com seus programas
sociais e a Marta somos todos nós. Por isso é importante a gente participar
dos Conselhos para planejar onde o dinheiro deve ser gasto e acompanhar
se os trabalhos são realizados do jeito que a comunidade precisa.

6
CONTINUANDO A CONVERSA...

Descentralização, quer dizer que os recursos


são destinados pelo governo federal (União)
para o Estado e depois para o Município. Os
conselhos são mecanismos de participação e le-
gitimidade social. E decidem onde os recursos
serão aplicados.

Municipalização é uma mudança de compor-


tamento do poder público em relação a gerência
dos recursos que implica no controle e avaliação,
construção de instâncias deliberativas com a par-
ticipação popular. Significa tirar o poder de de-
cisão das mãos do governo federal e passar esse poder para
os gestores estaduais e municipais. Os Conselhos Municipais
com representação da população conhecem melhor a realida-
de e indicam onde é mais urgente aplicar os recursos.

Controle Social, é o espaço (conselhos) onde


todos os cidadãos através das entidades legiti-
mamente reconhecidas podem participar, suge-
rir, fiscalizar, deliberar as políticas públicas.
Assim o poder não fica somente nas mãos de
uns poucos. Acontece a descentralização!

Maria, você pode me explicar melhor, essa tal de


descentralização?

7
Sim, você se lembra da casa de Marta? Ela tem
uma filha que mora na cidade onde está cons-
truindo a casa. Você não acha que ela podia ter
pedido à filha para acompanhar a construção,
pagar os pedreiros, comprar o material e ir lá
ver se o trabalho estava sendo realizado?

Agora entendi o que é descentralização. É como


se Marta fosse o governo federal e estadual e a
filha dela o município. Como ela está mais próxi-
ma da realidade, pode acompanhar e fiscalizar
melhor o dinheiro investido na construção.
Refletir o texto:

• Quais são os Conselhos ou instâncias que existem e funcionam em


nosso município?
• Você sabe de onde vem, como e onde é investido o dinheiro do nos-
so município?
• Fazer levantamento dos Conselhos que existem em sua Cidade.

8
Do Favor Para o Direito

Terceiro Encontro
(Para ler e refletir antes do encontro com o grupo)

Historicamente formou-se, no Brasil, o Estado marcado pelo clientelis-


mo. Isso significa que o Estado é detentor dos recursos e a população se
relaciona com o Estado na forma de submissão. Ou seja, a população paga
os impostos para manter a máquina do Estado, que beneficia um grupo de
privilegiados, enquanto que o povo fica com as migalhas que caem da mesa.
Nesta estrutura tornou-se famosa a política do coronelismo, onde um
“coronel” determinava em quem a população devia votar e quais os inves-
timentos que as Prefeituras, Estados e o próprio País deviam fazer. Dentro
desta mentalidade, ficou comum trocar voto por favores, ou seja, o período
eleitoral tornou-se a única oportunidade de obter vantagens pessoais. Os
candidatos oferecem favores em troca de votos e depois passam o mandato
fazendo negociatas para recuperar o dinheiro investido na campanha.
A constituição de 1988, no Brasil, é o marco de um novo sistema de
governo, chamado democrático, onde os gestores públicos, ou seja, aque-
las pessoas que são eleitas para governar e os funcionários públicos são
servidores do povo, não para fazer favores, mas para atender os direitos da
população (saúde, educação, assistência social, etc). Por isso a população
tem direito de saber onde é investido o recurso público (que é resultado da
contribuição de todos os cidadãos pelos impostos) e os gestores têm obri-
gação de fazer a prestação de contas de forma clara. Por outro lado, toda a
estrutura pública e os serviços devem beneficiar toda a população, porque
todos pagam por ela. Assim, o cuidado pelas coisas públicas também é dever
de todos. Os danos causados a estes bens, prejudicam a população e acar-
retam investimentos que poderiam ser destinados a melhorar outros serviços.
Para que isso aconteça, a população precisa se organizar (movimen-
tos populares, grupos, associações, conselhos, sindicatos, cooperativas,
comissões) e ficar atenta para não ser enganada. Embora vivamos numa
democracia, baseada nestes princípios que foram conquistados pela orga-
nização popular, ela ainda não está garantida, pois muitos políticos querem
continuar com o velho esquema do clientelismo e boa parte da população
ainda ajuda manter a velha política do favorecimento e busca o serviço pú-
blico, como se buscasse uma esmola e não um direito.

9
Para Conversar: Qual a diferença entre “favor” e “direito”?

André, tu não sabes da maior. Ontem eu passei um


susto com meu filho. Ele adoeceu.

E como vai seu filho, agora?

Está muito bem. Graças a Deus e também ao doutor


que examinou ele imediatamente e ainda deu uns re-
médios pra ele tomar.

Que bom que o Sistema Único de Saúde está funcio-


nando. O sistema está na lei e garante atendimento de
qualidade para toda a população. Esse atendimento
que seu filho recebeu não foi nenhum favor, mas é um direito
dele!

Mas André, foi tudo de graça, o doutor não cobrou


nada e ainda deu os remédios!

Mas Marta pensa comigo: quando você foi ao mer-


cado fazer as compras do mês, uma parte do que
você pagou pelos produtos era imposto, que é desti-
nado à saúde. Assim, o atendimento não foi de graça. Você já
tinha pagado antecipadamente esse serviço.

10
Para conversar no grupo:

1. O que pensamos sobre essa história? Estamos sabendo que isso vale
para todos os serviços públicos? Que eles são direitos e não favores?

Sabe que a escola da minha filha amanheceu com as ja-


nelas quebradas e um monte de lixo no pátio? Agora a
diretora disse que vai cobrar uma taxa de cada aluno
pra arrumar as janelas. E colocar os alunos pra limpar
o pátio. Eu achei um absurdo! Porque a gente paga imposto que
deveria garantir a educação e coleta do lixo também.

Sim, você está certa, só que é uma pena que as coisas


públicas sejam destruídas. É como lá em casa. Quando
a gente não cuida das coisas, elas estragam e devem ser
consertadas. Esse é um gasto que poderia ser evitado e o dinheiro
serviria para outras coisas. A televisão lá de casa todo mundo me-
xia e ela quebrou. Então o jeito foi deixar de comprar roupa pras
crianças, pra consertar a televisão.

Com as coisas públicas também é assim, quando se estra-


gam tem que tirar dinheiro de outra coisa pra arrumar. E eu
até estou pensando que o município é nossa casa, todos que
moramos aqui devemos cuidar dos espaços que são de todos.

Muitas pessoas acham que porque é público, não é de


ninguém. Você considera a cidade, o Estado, o país sua
casa?
(Deixar conversar)

Gesto concreto:
Como andam os espaços públicos de nossa comunidade? O que pode-
mos fazer para cuidar melhor?

11
Como Funcionam os Conselhos

Quarto Encontro
(Para ler e refletir antes do encontro com o grupo)

Os conselhos são instrumentos da sociedade, de caráter permanente e


deliberativo que favorecem a descentralização do poder.
Podem e devem participar conselheiros representando o povo (usuá-
rios), representando o governo (gestor), representando os trabalhadores
nas suas áreas de trabalho (profissionais de saúde, educação, cultura, meio
ambiente...) e conselheiros representando os prestadores de serviços (labo-
ratórios, clínicas, hospitais, escolas privadas, universidades, instituições...),
garantindo a paridade, isto é, partes iguais na composição. O Conselho de
saúde, por exemplo, é composto por 25% de trabalhadores de saúde, 25%
de gestores e 50% de usuários.
Esses conselheiros se encontram em reuniões ordinárias e extraordi-
nárias sempre que necessário. Não recebem por este serviço. Os agentes
protetores do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), chamados con-
selheiros tutelares, recebem por seu serviço. Os Conselhos Tutelares não
seguem a mesma dinâmica dos outros conselhos.
Esses conselhos estão presentes nas três esferas de governo: Fede-
ral (Conselhos Nacionais), Estadual (Conselhos Estaduais) e Municipal
(Conselhos Municipais). É o espaço de participação popular na gestão
pública e instrumento para enfrentar os graves problemas que atingem
os municípios, principalmente, quando se trata de direitos e deveres dos
cidadãos.
É importante compreender o funcionamento dos conselhos para poder
ser um agente ativo dentro destes espaços. Entrar num conselho represen-
tando associações, movimentos, igrejas, grupos, gestores e outros, significa
construir espaços onde o poder é descentralizado.

Diante da comunidade ou do município, o papel e a res-
ponsabilidade do conselheiro é:

• Participar da formulação de políticas públicas;


• Discutir, aprovar e organizar as normas de funcionamento das con-
ferências;

12
• Ser um elo entre o conselho, a entidade representativa e a comuni-
dade, garantindo que as propostas e decisões não sejam individu-
ais, mas coletivas;
• Discutir os problemas ligados às diversas áreas e representá-la na
reunião do conselho;
• Repassar as prioridades que foram aprovadas na reunião do conse-
lho, estimulando a participação na implementação das ações;
• Denunciar ao Ministério Público, à imprensa, etc irregularidades que
aconteçam na implementação dos serviços;
• Conhecer a realidade local e acompanhar as atividades e adminis-
tração com muita atenção para os serviços que o gestor contrata;
• Acompanhar a execução das ações e seus gastos.

Acolhida: (Símbolos: Faixas com nomes dos conselhos.)

DINÂMICA : O Cego e o Guia


(Formam-se pares.Uma pessoa guia a outra, que faz papel de cega.
Andam pela sala. O guia não toca no cego. Orienta somente pela fala. Al-
guns objetos são colocados no meio da sala para dificultar o caminhar. O
papel do guia é orientar para que faça o caminho sem bater nos obstáculos.
Depois de algum tempo, invertem-se os papéis. O cego vira guia e o guia
vira cego. Segue a mesma dinâmica.)

Para conversar:

Qual é a sensação de caminhar sem enxergar? Como é exercer o papel


de guia? Quem é o cego? Quem é guia? Por que é cego? Qual a intenção
do guia?

(escolher duas pessoas do grupo para ler)

Maria: André lembra de Dona Marta, da comuni-


dade Alto da Serra, que falou na reunião que antes
de participar dos Conselhos não entendia nada so-
bre a história de cobrar do prefeito suas responsa-
bilidades: água, energia, educação, posto de saúde,
melhorias do meio ambiente, saneamento básico, tudo isso de
qualidade? Eu achava que isso era papel do vereador e não
um dever do cidadão e cidadã. Agora descobri que não. Graças

13
à minha participação no conselho. Qualquer problema que es-
teja atrapalhando a vida da comunidade devemos mobilizar a
comunidade e ir reivindicar solução.

André: Pronto Maria, que bom que você tem uma


nova visão de como conquistar melhorias para a co-
munidade.

Maria: É importante estar do lado da comunidade,


e defender nossos direitos, mas não devemos ficar
sempre contra o gestor, juntos precisamos definir o
que queremos e qual o papel de cada um com pro-
postas concretas para melhorar as condições do mu-
nicípio.

André: Veja Maria, eu não participava, porque


pensava que as reuniões eram para os conselheiros.

Maria: Não, André. As reuniões são abertas para


toda a comunidade. Todos têm direito a voz. Só votam
os conselheiros, depois que ouvem a comunidade.

André: Mas quando se reúnem? E que local?

Maria: As reuniões são divulgadas em locais pú-


blicos, com dia, local e horário marcados. Caso isso
não aconteça, as pessoas podem cobrar do conselho.

14
André: Todos os conselhos funcionam da mesma
forma?

Maria: Não, cada conselho tem regras de funciona-


mento. É bom conhecer cada conselho e como funcio-
na. Por exemplo: o de saúde é regido pela Lei 8142.
E alguns órgãos públicos têm ouvidorias que escu-
tam as pessoas e encaminham aos órgãos competentes para
buscar soluções necessárias. No caso da saúde as pessoas
devem ligar para o disque saúde, 0800 61 1997. A ligação é
sem custo.

Para refletir

1 Você já vivenciou uma experiência como a da Marta? Conte como


aconteceu.

2 O que isto tem a ver com cidadania? Comente

3 Identificar conselhos do município e quem são os representantes


dos usuários

15
Relação Entre Movimento Social
e Poder Público
Quinto Encontro
( Para ler e refletir antes do encontro com o grupo )

Nos últimos anos, vivemos uma inovação nas relações de Poder. Cres-
cemos na consciência participativa, na aproximação entre Poder Público e
Sociedade Civil.
Hoje muitas ações e problemas sociais são discutidos, assumidos e en-
frentados de forma parceira, em cooperação entre Poder Público (gestores
nas esferas Municipal, Estadual e Federal) e Organizações da Sociedade
Civil que trabalham com diferentes segmentos sociais. Também se amplia-
ram as possibilidades e iniciativas de cooperação com as organizações re-
ligiosas.
Como percebemos, muitos problemas atuais carecem de uma solução
urgente. Esta solução não pode ser de forma isolada. É preciso estabelecer
parcerias e cooperação com um olhar crítico diante dos gestores, sem sub-
serviência, sem deixar-se dominar ou manipular.
Neste momento social de novas relações de poder, vemos com otimis-
mo que, aos poucos, estamos assumindo o destino de nossas vidas de
forma co-responsável.
Não cabe à sociedade civil e as Igrejas assumir o papel do Estado.
Este, como gestor, que recolhe impostos para garantir direitos ao cidadão,
tem que assumir a responsabilidade com a solução dos problemas sociais,
mas isso não isenta todos os setores sociais de sua parcela específica de
contribuição. Para garantir qualidade de vida é preciso participação e coo-
peração.

16
(escolher duas pessoas do grupo para ler)

Francisco: Vó Marta, podes nos contar de sua expe-


riência na participação Política?

Vó Marta: Em meu tempo, os políticos eram pessoas


distantes, apareciam somente na hora de pedir o voto,
e nossa parte era somente votar. O que acontecia na
administração, com o dinheiro e o rumo da cidade nin-
guém sabia. E em algumas regiões do Brasil eu ouvia
falar que a gente não podia nem questionar. Muitos
“coronéis” chegavam a ser violentos com quem se me-
tesse em política. Nem o Padre podia dar opinião. E o voto até era
mercadoria de troca, muitos trocavam o voto por um quilo de arroz,
telha para a casa, remédio para o filho ou outras ajudas.

Francisco: E hoje, vó, como a senhora percebe?

Vó Marta: Hoje já avançamos bastante. Te-


mos maior consciência do poder de nosso voto. Ele pode
definir o rumo de nossas vidas, de nossa cidade e até de
nosso país. O voto é coisa séria, tem que ter muita consci-
ência em votar, não por benefícios, mas no melhor projeto.

Francisco: Ouvimos a experiência de vó


Marta que nos contou do seu tempo. Como vemos hoje
a participação e a política? Há mudanças ou tudo
continua igual?

Ana: Olha, lá na minha cidade ainda tem um pouco


dessas histórias. Muitos políticos aparecem somente
na hora da eleição. E até oferecem ajuda.
17
Maria: Em nossa comunidade já trabalhamos a carti-
lha da Lei 9840. Lá aprendemos que todo político que
fizer negócio com o voto e usar a máquina administra-
tiva na campanha pode perder o mandato e ser preso.

Teresa: La na minha comunidade o político nos visi-


tou, conversamos sobre as prioridades que temos e ele
até fez proposta de parceria na área da saúde.

Ana: Eu faço parte de uma organização da Sociedade


civil que trabalha com crianças em situação de rua.
Nós elaboramos um projeto e concorremos a recur-
sos públicos para ajudar a solucionar o problema da
criançada.

Maria: Eu participo do Conselho de saúde. Nos reu-


nimos uma vez ao mês e discutimos os problemas de
saúde da comunidade, propomos políticas públicas e
até fiscalizamos sua aplicação e o investimento dos
recursos.

Teresa: Lá na minha cidade nos reunimos e fomos


até a prefeitura, porque o município não estava cum-
prindo o planejamento das ações que foram elabora-
das conjuntamente.
Perguntas para o aprofundamento.

1. O que podemos aprender com a experiência de Vó Marta?


2. Conhecemos a realidade de nossos bairros e já reivindicamos me-
lhorias?
3. Vivemos um momento novo de participação e cooperação. Como
podemos participar? Em que vamos participar?
4. De que forma podemos fazer parcerias com o poder público?

18
PASTORAL DA AIDS

19

Você também pode gostar