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ISBN nº 978-65-990477-0-1

Obra: ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA: POSSIBILIDADES EDUCATIVAS COM


CRIANÇAS

Formato da obra: E-Book


Extensão da Obra: .PDF

Edição: Editora FMP- Faculdade Municipal de Palhoça

Ano: 2020

Cidade: Palhoça-SC

Câmara Brasileira do Livro


Rua Cristiano Viana, 91-Pinheiros -São Paulo – SP -CEP: 05411-000
+55 (11) 3069-1300cbl@cbl.org.br
ARTE,
CULTURA E Possibilidades
Educativas
TECNOLOGIA com Crianças
ARTE,
CULTURA E
© 2020 FMP-SC

Juliana Costa Müller


Karine Joulie Martins
TECNOLOGIA
Lizyane F. Silva dos Santos
Lúcia Valente
Silviane de Luca Avila

Projeto gráfico e editoração


POSSIBILIDADES
Multitarefa Serviços Ltda.
contato@cesarvalente.com EDUCATIVAS
Revisão: Glaucia Caetano Souza COM CRIANÇAS
Ar757 Arte, cultura e tecnologia: possibilidades educativas com crianças /
Juliana Costa Müller, Karine Joulie Martins, Lizyane F. Silva dos Santos, Lúcia
Valente, Silviane de Luca Avila, (orgs.). — Palhoça, SC : FMP, 2020.
60 p. il., color., 36 cm.
Vários autores.
1. Arte. 2. Cultura. 3. Tecnologias. 4. Educação. 5. Crianças . I. Müller, Juliana
Costa. II. Martins, Karine Joulie. III. Santos, Lizyane F. Silva dos. IV. Valente,
Lúcia Seara Berka. V. Avila, Silviane de Luca.
CDD: 707
ISBN 978-65-990477-0-1
SUMÁRIO
BRINCADEIRAS CANTADAS 9
PREFÁCIO 5 Lizyane F. Silva dos Santos
Monica Fantin
O que são as brincadeiras cantadas? . . . . .10

APRESENTAÇÃO 7 E qual a origem das brincadeiras cantadas? 10


Juliana Costa Müller, Karine Joulie Martins,
Lizyane F. Silva dos Santos, Lúcia Valente e Existe algum site ou livro em que
Silviane de Luca Avila podemos encontrar repertórios de
brincadeiras cantadas? . . . . . . . . . . . . . . . . .11

Há diferença entre as brincadeiras


cantadas e os brinquedos cantados? . . . . . .11

Existem vários tipos de


ESPAÇOS CULTURAIS 20
brincadeiras cantadas? . . . . . . . . . . . . . . . . .12 Lúcia Valente

O que são espaços culturais? . . . . . . . . . . . .21


Com que idade as crianças podem começar a
brincar com esse tipo de brincadeira?
O que é ação educativa? E mediação? . . . . .21
Existem brincadeiras cantadas
específicas por faixa etária? . . . . . . . . . . . . .13
Como preparar uma visita
a um espaço cultural? . . . . . . . . . . . . . . . . . .22
Qual a importância das brincadeiras
cantadas para o desenvolvimento infantil? 14
Como os espaços culturais podem
contribuir para o repertório das crianças? .25
Existem regras para as
brincadeiras cantadas? . . . . . . . . . . . . . . . . .15
O que fazer depois de uma
visita a um espaço cultural? . . . . . . . . . . . . .26
Mas no Brasil, quem são as pessoas que
trabalham com as brincadeiras cantadas? .15
Onde encontrar espaços culturais
na Grande Florianópolis? . . . . . . . . . . . . . . . .26
Vamos brincar? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16
Alguns museus de Florianópolis
Indicações de alguns materiais
que vale a pena visitar . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
relacionados às brincadeiras cantadas . . . .19

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 3


SUMÁRIO

CINEMA 30
Karine Joulie Martins

Afinal, o que é o cinema? . . . . . . . . . . . . . . . .31 TECNOLOGIAS DIGITAIS 45


Juliana Costa Müller e Silviane de Luca Avila
Que tal conhecer um pouquinho E quais posturas posso adotar
das origens do cinema? . . . . . . . . . . . . . . . . .32 O que são tecnologias para ensinar as crianças a usar
e tecnologias digitais? . . . . . . . . . . . . . . . . . .46 a tecnologia de modo equilibrado? . . . . . . .51
Onde pode acontecer uma
sessão de cinema? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33 É recomendável o uso de O uso das redes sociais (Youtube,
tecnologias digitais por bebês? . . . . . . . . . .47 Instagram, WhatsApp, Facebook) é
O que é um cineclube? . . . . . . . . . . . . . . . . . .34 recomendado para as crianças? . . . . . . . . . .52
Depois do primeiro ano de vida,
Posso fazer uma sessão de a tecnologia digital pode ser ofertada? . . . .47 O uso das tecnologias digitais
cinema na escola? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .34 induz ao consumo? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53
Como vocês, da área da educação,
E como posso fazer a escolha dos filmes? .38 percebem as recomendações para E na escola, como podemos educar as
os usos das tecnologias digitais das crianças para o uso das tecnologias? . . . . .53
Quanto tempo eu preciso para pesquisas na área da saúde? . . . . . . . . . . . .48
fazer uma sessão de cinema? . . . . . . . . . . . .39 Indicações de aplicativos para crianças . . .55
Teria alguma indicação, na área
Onde encontro filmes da educação, sobre o uso das Indicações de canais no
para fazer as sessões? . . . . . . . . . . . . . . . . . .40 tecnologias digitais por crianças? . . . . . . . .49 YouTube para crianças . . . . . . . . . . . . . . . . . .56

E onde encontro filmes Podemos dizer que é prejudicial


para assistir em casa? . . . . . . . . . . . . . . . . . .41 ficar muito tempo na frente da tela? . . . . . .50
SOBRE AS AUTORAS 57
É possível fazer cinema na Como educar para o uso
escola com as crianças? . . . . . . . . . . . . . . . .42 das tecnologias digitais? . . . . . . . . . . . . . . . .50 CRÉDITOS DAS IMAGENS 58
REFERÊNCIAS 59

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 4


PREFÁCIO
desestabilizações de certezas, as performances das crianças como
pesquisas nessa área foram forma privilegiada para construir
tornando-se importantes aliadas de metodologias participativas”4, tanto
nossas práticas e reflexões3. na pesquisa quanto na formação de
crianças e professores. É nessa
Afinal, como pensar as crianças hoje perspectiva que situo a contribuição
sem lembrar as crianças que fomos? deste trabalho.
MONICA FANTIN
Como propor brincadeiras infantis
atuais sem as referências de nossos Acolhi com prazer o convite para fazer
Há mais de 20 anos o tema da tempos de infância? Como mediar de o prefácio deste ebook Arte, Cultura e
infância, do brincar e da cultura forma significativa as interações das Tecnologia: possibilidades
fazem parte de minha vida crianças com as tecnologias da educativas com crianças, fruto de
profissional, seja na prática docente cultura digital sem a formação e a diversas pesquisas realizadas e/ou em
realizada com crianças de diferentes sensibilidade que tal processo desenvolvimento no contexto do Grupo
faixas etárias, seja na formação inicial requer? E ainda, como considerar as de Pesquisa que coordeno, Núcleo
e continuada de professores e na diversas dimensões do ser criança Infância, Comunicação, Cultura e Arte,
pesquisa1. Nos últimos anos, os sem articular os temas do lúdico, da NICA, UFSC/CNPq. Aliado a isso, a
estudos se ampliaram revelando a cultura, das artes, da mídia, da alegria de ser/ter sido orientadora das
crescente presença e participação da corporeidade, dos direitos das pesquisadoras/ professoras/autoras e
mídia, do cinema, da televisão e das crianças com os desafios da assim ter compartilhado muitas
tecnologias nas práticas culturais formação e das práticas culturais na reflexões, práticas e propostas aqui
infantis , por vezes assumindo certo
2
cultura digital? socializadas. Além de socializar e
protagonismo diante das divulgar resultados de pesquisas
transformações propiciadas pela Diante de tantas interrogações, realizadas com crianças, o livro traz
cultura digital. Como toda destaco a importância de “considerar uma significativa contribuição à área a
transformação provoca certas a escuta às vozes, aos silêncios e às partir de propostas pedagógicas que

1
FANTIN, M. No mundo da brincadeira: jogo, 3
FANTIN, M.;RIVOLTELLA, P.C. Cultura digital e escola: 4
FANTIN, M.; GIRARDELLO, G. Cenários de pesquisa
brinquedo e cultura na educação infantil. pesquisa e formação de professores. Campinas: com e sobre crianças, mídia, imagens e corporeidade.
Florianópolis: Cidade Futura, 2000. Papirus, 2012. Perspectiva, v.37, n.1, 2019, p.100-124. Disponível em
2
FANTIN, M. Crianças, cinema e educação: além do https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/arti
arco-íris. São Paulo: Annablume, 2011. cle/view/2175-795X.2019.e54575/pdf

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 5


buscam dialogar com a formação serem vistos em casa, na escola e no Com uma linguagem didática e uma
docente, enfatizando diferentes cinema, sugerindo também possíveis bela diagramação, o ebook oferece
aspectos das práticas culturais projetos e atividades com audiovisual diferentes possibilidades de
infantis. e crianças. Por fim, em Tecnologias complementar os temas tratados com
Digitais, Juliana Costa Müller e a indicação de links e outros recursos
Ao sugerir pistas e possibilidades à Silviane de Luca Avila refletem sobre a multimídia que podem enriquecer a
formação docente em relação ao relação das crianças com as leitura e inspirar outras relações,
trabalho educativo com crianças, os tecnologias digitais apresentando experiências e práticas culturais com
capítulos contemplam as dimensões recomendações e discutindo sobre os as crianças. Experiências e práticas
da arte, da cultura e da tecnologia no riscos e as possibilidades de significativas, qualificadas e
cotidiano educativo que se constrói mediação, com especial atenção aos responsáveis, tão necessárias para
na escola e fora dela. Em usos das redes sociais e às indicações reafirmar os direitos das crianças e o
Brincadeiras Cantadas, Lizyane F. de aplicativos e canais para crianças. papel do adulto nessa formação e que
Silva dos Santos apresenta aspectos Temas contemporâneos que solicitam não podemos deixar de refletir
históricos e conceituais das cada vez mais espaço na formação de criticamente.
brincadeiras cantadas situando sua quem atua com a educação de
importância para o desenvolvimento crianças. É também por isso que continuamos a
infantil e sugerindo diversas caminhar juntas em outros projetos
atividades lúdicas a serem praticadas Em síntese, o que o leitor – estudante que articulam infância, cultura, arte,
com as crianças. Em Espaços universitário, professor, pais e/ou mídia, tecnologia e educação.
Culturais, o foco escolhido por Lúcia familiares - encontrará nesse livro é
Valente são os museus e as um conjunto de perguntas e respostas Bem-vindos a esta leitura!
mediações educativas para ampliar os que podem ser feitas sobre os temas
repertórios culturais infantis, da infância, da cultura e da formação,
trazendo também sugestões de como as autoras destacam na
atividades relacionadas às visitas com apresentação: “A partir de um jogo de Florianópolis, fevereiro de 2020
crianças aos espaços culturais da perguntas e respostas diretas são
cidade. Cinema é o tema tratado por abordadas as brincadeiras cantadas,
Karine Joulie Martins, que situa as os espaços culturais, cinema e
possibilidades educativas das audiovisual e tecnologias digitais com
sessões de cinema na escola, de alguns exemplos e sugestões para
cineclubes, das escolhas de filmes a inspirar novas ideias e ações.”

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 6


APRESENTAÇÃO abrange a preocupação com o
processo de desenvolvimento desses
sujeitos que trazem a novidade. E
ainda, a preservação do mundo velho
onde as crianças poderão inserir
aquilo que vão construindo ao longo
desse processo de conhecer.
Quais são as suas Essas memórias de infância ajudaram
a compor nossa personalidade, quem No cotidiano não há interrupção entre
memórias mais nós somos e de que modo nós vemos os processos de conhecer “o velho” e
marcantes da infância? o mundo. As memórias nos
acompanham hoje, e se fazem
construir a novidade. Se estendermos
esse diálogo a Paulo Freire (2019),
presentes com maior força para quem o mundo “está sendo”,
Se você nasceu até o início dos anos especialmente quando nos podemos considerar então que tanto
1990, é muito provável que muitas deparamos com o grande desafio de o mundo, quanto os sujeitos que o
dessas memórias envolvam brincar nos tornarmos educadores. Seja no habitam estão em um constante
em espaços abertos como a rua, âmbito familiar, seja na formação processo de transformação.
praças e terrenos baldios. Talvez profissional, a tarefa de educar coloca
essas memórias venham a nossa infância em confronto com a Com a rapidez dos avanços
acompanhadas da letra de uma ou infância contemporânea, permeada tecnológicos na contemporaneidade
outra canção que você aprendeu com por tecnologias que se transformam essa transformação, porém, pode
os avós, pais e professoras. Ou sejam rapidamente e por um crescente acarretar desequilíbrios, pois
canções que embalavam a corda ou a sentimento de insegurança nos estas tecnologias muitas vezes
ciranda com os amigos do bairro nas espaços abertos. chegam sem que tenhamos tempo
festinhas de aniversário. Os passeios suficiente para conhecer todo o seu
da escola a museus e marcos Para a filósofa alemã Hannah Arendt potencial e riscos. Por outro lado, não
históricos da sua região, muito (2014), educar é uma tarefa que exige é raro nos depararmos com discursos
provavelmente, também fazem parte a demonstração de nossa que colocam a criança como
desse conjunto de memórias responsabilidade sobre o mundo para autodidata diante destas novas
especiais! E os filmes? Com certeza apresentá-lo às crianças que chegam tecnologias. Mas, será que o uso que a
você se lembra da primeira ida ao para, sobre este mundo, trazer a criança faz dessa tecnologia contribui
cinema. De ver e rever animações no novidade. Por mais que essa para o seu desenvolvimento? O que
videocassete ou da eterna espera afirmação possa nos direcionar a uma elas aprendem com as tecnologias?
para que um grande filme de aventura ideia de futuro – um mundo novo a ser Qual nosso papel, enquanto adultos
chegasse à televisão. delineado pelas crianças –, também educadores, diante deste cenário?

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A educação das crianças no Brasil É nesse sentido que “Arte, cultura e E assim, enquanto um coletivo
desde a Constituição Federal (1988) tecnologia: possibilidades educativas formado por professoras e
tornou-se um dever da família e do com crianças” ensaia algumas pesquisadoras, que aqui escreve,
Estado, que se configura pelo questões e possíveis trajetórias para evidenciamos que nosso objetivo é
contexto social, cultural, político, você que, assume esse papel de contribuir para a educação das
econômico e, também, tecnológico. educador e, se vê diante da tensão crianças ao discutir e apresentar
Deste modo, à medida que tratamos entre as memórias de infância que materiais qualitativos que
da educação das crianças falamos dos nos acompanham e as múltiplas possibilitem a ampliação dos
diferentes agentes envolvidos nesse possibilidades de um presente repertórios infantis e dos adultos
processo que colaboram para a sua permeado pelas tecnologias. responsáveis pela mediação entre as
formação integral em todos os seus crianças e o mundo. Afinal, muito se
aspectos (físico, psicológico, Ao tratarmos das crianças em suas discute o que “não é recomendado”
intelectual e social), e para a diversas formas de aprender e se para as crianças, mas pouco se
construção de uma infância na desenvolver entendemos o adulto aprofunda naquilo que pode ser
contemporaneidade. como responsável pela ampliação do qualitativo para a sua educação.
repertório cultural lúdico que
Pesquisadores da educação e considera as especificidades dessa E este é o propósito deste livro, levar
infância, em um trabalho que envolve fase de vida. Desse modo, este livro ao público em geral (acadêmicos/as,
outras áreas como medicina, traz algumas questões emergentes professores/as, famílias)
psicologia e sociologia, articulam sobre a educação das crianças, possibilidades educativas de acesso a
essa demanda em “três pês”: envolvendo não apenas as um repertório cultural amplo e para
proteção, provisão e participação. Ou tecnologias, mas também retomando além do viés comercial, com enfoque
seja, tanto no aspecto físico, algumas dimensões presentes em em elementos e produções culturais
psicológico, intelectual e social, nosso nossa infância. A partir de um jogo de brasileiras e regionais. Tudo isso em
esforço é de garantir que as crianças perguntas e respostas diretas são um respeito ao direito à infância de
tenham espaço de participação não abordadas as brincadeiras cantadas, brincar, aprender e se desenvolver em
apenas como “receptoras de direitos”, os espaços culturais, cinema e suas diversas linguagens.
mas como produtoras da sua própria tecnologias digitais com alguns
cultura, respeitando suas exemplos e sugestões para inspirar
singularidades. novas ideias e ações.

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 8


1 Brincadeiras
cantadas O que são as
brincadeiras
cantadas?
LIZYANE F. SILVA DOS SANTOS
E qual a origem das brincadeiras cantadas?
Podemos dizer que não existe um canções populares, fandango ou
consenso sobre este assunto, assim críticas políticas.
como não há consenso sobre sua
terminologia, pois as brincadeiras Mas uma questão é certa: as
O que são as brincadeiras cantadas? cantadas e/ou brinquedos cantados, brincadeiras cantadas sofreram
ou, ainda, músicas tradicionais da influência dos povos indígenas, dos
Como diria a grande educadora musical infância, como são reconhecidas por portugueses e outros imigrantes
brasileira Lydia Hortélio a brincadeira alguns autores podem ter se originado europeus e dos povos africanos que
cantada é “uma música a ser brincada”. de múltiplas formas. Há registros de vieram para o Brasil. E com o passar do
Ela recebe essa definição porque que algumas faziam parte das tempo se tornaram tradição por serem
geralmente acontece em grupo, com cerimônias da corte; de jogos e danças propagadas através das gerações pela
elementos fundamentais e expressivos da de adultos que mais tarde foram oralidade, nos provocando a apreciar
música como ritmo, melodia, harmonia, adaptadas e/ou imitadas pelas uma infinidade de crendices e
tempo e dinâmica, em uma inter-relação crianças; outras podem ter nascido de costumes, compondo de modo
com o corpo, com a palavra, com a estórias contadas às crianças, nas permanente o acervo do patrimônio
liberdade de movimentos, que não quais foram dadas melodias; algumas cultural brasileiro.
precisam ser coordenados, e possibilitam surgiram a partir da “descrição” de
a ação de brincar, a criação e recriação, cenas do cotidiano vivenciado por Por esse contexto histórico, a maioria
além de desencadear a ludicidade em seus determinados grupos. E, ainda, existe a não apresenta identificação de
participantes. possibilidade de terem se originado de autoria, está em domínio público, e
Para conhecer um
pouco mais sobre a
história de Lydia
Hortélio, clique aqui.

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 10


conforme a região do país possui gerações passadas, e as ruas, parques, Salvo algumas exceções e
variação de letra, ritmo e gestos, que praças deixaram de ser espaços de adaptações, que podem vir a utilizar
são aceitos, mantidos ou brincadeira livre infantil, devido a bolas, cordas, copos, tecidos ou papel,
reformulados pela população local, inúmeras questões, inclusive o a maioria destas brincadeiras não
conforme sugestão no final deste aumento da violência nas cidades, o necessita de materiais específicos
capítulo. que por sua vez prejudicou o acesso a para que aconteçam e possuam um
estes espaços e diminuiu significado, além do próprio corpo, da
consideravelmente a disseminação voz e da disponibilidade de vivenciar o
Existe algum site ou livro destas brincadeiras. Segundo Perrotti momento.
em que podemos encontrar (1990) “o confinamento da infância
ocasionou-lhe sérios problemas sócio- Use sua criatividade! Invente novas
repertórios de brincadeiras politico-culturais. A cultura produzida brincadeiras! E brinque muito...
cantadas? pela infância livremente nos espaços
públicos foi progressivamente sendo
Sim. Atualmente muitas brincadeiras assimilada pelos espaços privados à
cantadas estão acessíveis através de medida que urbanização e a vida
dispositivos midiáticos, pois foram burguesa avançavam”. (p.92)
gravadas e regravadas por grupos
folclóricos e/ou músicos famosos, que
comercializam e/ou disponibilizam Há diferença entre as
gratuitamente estas canções através
de livros, CDs, DVDs, sites, streaming
brincadeiras cantadas e os
digitais e canais na plataforma brinquedos cantados?
YouTube.
Na verdade, os dois termos são
Também é possível encontrar na usados como sinônimos, porém o
internet vídeos amadores mostrando a primeiro termo desmistifica a ideia
utilização de determinadas de materialidade/objeto que talvez o
brincadeiras em diversos espaços/ segundo possa causar nas pessoas,
contextos /instituições. O que, de pois o que justamente difere esta
certo modo, tem contribuído para a brincadeira das outras são as
sua manutenção como repertórios de relações interpessoais que elas
brincadeiras, uma vez que os modos possibilitam aos participantes, os
de brincar das crianças encontros com o outro
contemporâneas são distintos das independentemente da faixa etária. 

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Existem vários tipos de curtas e simples geralmente Ciranda-Cirandinha; Atirei o pau no
utilizadas para embalar os bebês na gato; Roda Cutia.
brincadeiras cantadas? hora de dormir. Exemplos: Nana
Sim, as brincadeiras cantadas são neném; Bicho- papão; Boi da cara Cantigas de versos: são rodas onde
classificadas por gêneros, tais como: preta. as crianças brincam de jogar versos,
que podem ser inventados na hora ou
Acalantos: também conhecidas como Parlendas: são versos com poucas alguns já memorizados por elas de
cantigas de ninar ou de berço, são sílabas, curtos, repetitivos, com outras ocasiões. Exemplo: Batatinha
canções mais tranquilas, rimas, sem música, declamados em quando nasce.
praticamente sem gestos, com letras forma de texto verbal, nos quais se
estabelece como base a acentuação Histórias cantadas: são histórias as
para que sejam compreendidos. quais foram dadas melodias e
Exemplos: Batatinha quando nasce; possuem um enredo com o desfecho
Hoje é domingo, pede cachimbo; Uni, para seus personagens. Exemplos: A
duni, tê; Cadê o toucinho que estava linda Rosa Juvenil; O cravo e a rosa.
aqui?
Fórmulas de escolha: são
Brincos: é um tipo de parlenda, mais brincadeiras rápidas, divertidas,
utilizada com bebês ou crianças bem normalmente quadrinhas, que servem
pequenas que geralmente é cantada geralmente para formar equipes e/ou
envolvendo gestos que tocam o corpo iniciar uma brincadeira. Exemplos:
da criança. Exemplos: Upa cavalinho; Adoleta; Vaca Amarela; Uma pulga na
Serra serrador; Bate palminha. balança; Lá vai a bola.

Cantilenas: canções breves, simples Pula-corda: brincadeira em grupo,


e delicadas; poemas curtos. onde as crianças são desafiadas a
Exemplos: Bão-balalão. realizarem diversos movimentos
(colocar a mão no chão, ou pular com
Cantigas de roda: também apenas um de seus pés, por exemplo),
conhecidas como cirandas, são enquanto pulam uma corda que é
canções cantadas com os girada por outros, em velocidades
participantes organizados em roda, distintas conforme o ritmo da música
geralmente com as mãos dadas, que escolhida para a brincadeira.
segue um ritmo e algumas Exemplo: Cobrinha; Um homem bateu
movimentações especificas. Exemplo: em minha porta…

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 12


Jogos de mãos: brincadeira em que Canções acumulativas: são Com que idade as crianças
duas ou mais pessoas realizam brincadeiras que exigem atenção,
diversos movimentos com as mãos, memorização e repertório, pois podem começar a brincar
sincronizados com o ritmo da música desafiam os participantes a com esse tipo de
escolhida, às vezes os movimentos se
alternam com outras partes do corpo.
acrescentar elementos na brincadeira
(palavras, sons, gestos), sem
brincadeira?
A velocidade da brincadeira pode desprezar o que os outros já haviam
variar, quanto mais rápido, mais difícil
é manter o sincronismo. Exemplo:
realizado anteriormente, de modo
que, à medida que a música avança se
Existem brincadeiras
Papagaio Louro; Babalu. torna maior e mais complexa, por cantadas específicas por
Jogos de copos: é uma brincadeira
possuir muitos elementos. Exemplos:
A velha a fiar; A árvore da montanha;
faixa etária?
cooperativa, pois desafia os Fui visitar minha tia em Marrocos. As brincadeiras cantadas estão ao
participantes a terem sincronia no alcance de qualquer faixa etária e é
momento de realizar a troca dos Convido você a escolher a que mais se importante adequar a idade, as
copos de forma ritmada. É necessário, identifica e chamar alguém para facilidades e limitações das pessoas
também, agilidade quando o brincar e, quem sabe ainda, lembrar envolvidas. Vale lembrar que alguns
movimento for bater com o copo no das brincadeiras cantadas de sua gêneros/tipos instigam mais a
chão ou na outra mão, respeitando o infância! Divirta-se. atenção em determinadas idades do
tempo da música. Exemplo: variação que outros.
da canção Escravos de Jó.
Deste modo, é importante conhecer
as brincadeiras antes de propor a um
Nestes links é possível ver outras variações de jogos de copos, em contextos diferentes grupo ou sujeito e preparar o
momento, pois o grau de interesse e
motivação se dará conforme as
necessidades de desenvolvimento, a
fase de vida que cada um está
passando e pelo desenrolar da
proposta. Mas, pela minha
experiência, posso dizer que é difícil
aquele/a que não entra na
brincadeira.

Clique aqui para ver o video da E clique aqui para um video com brincadeira
Palavra Cantada: Fome Come. semelhante, com Ana Kendrick, em inglês.

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 13


Qual a importância das
brincadeiras cantadas para o
desenvolvimento infantil?
As brincadeiras cantadas permitem
uma grande variedade de propostas e
cada uma delas permite
oportunidades distintas para o
desenvolvimento integral dos
sujeitos, elas podem aliar aspectos
cognitivos, físicos, afetivos e sociais
às pessoas, pois possibilitam
integração da criança desde muito
cedo ao meio e à cultura.

Em relação aos aspectos cognitivos, brincadeiras podem oportunizar uma grande esforço, um enorme poder de
as brincadeiras cantadas podem melhor percepção corporal, a concentração/atenção e controle do
auxiliar no processo de construção de agilidade/tempo de resposta, o tônus muscular, funções que
conhecimentos das crianças, desenvolvimento do ritmo e de suas necessitam de um comportamento
partindo do interesse que elas estruturas temporais, além de consciente dos sujeitos.
tenham pelos conteúdos das incentivar a coordenação motora e o
canções. Além disso, a vivência rica domínio da organização dos As brincadeiras cantadas também
de apropriação da estrutura da língua movimentos no espaço, incluindo a podem contribuir para a ampliação
materna (rimas, versos, encenações, lateralidade (direita/ esquerda) por das relações sociais das crianças. Ao
diálogos, etc.), contribui para sugerir comandos/ações que se assumirem uma postura brincante, os
ampliação de vocabulário, para um harmonizam com as músicas como: pequenos podem amenizar a timidez,
fonetismo claro, aguçando a mexer a cabeça, dar dois pulinhos, tendo uma oportunidade de se
criatividade, a imaginação, a levantar a mão direita, mexer o pé conhecer e conhecer aos outros
ludicidade e atenção. Tais aspectos esquerdo, etc. melhor, podem se expressar de modo
são primordiais para desencadear espontâneo, interagir e cooperar em
aprendizagens futuras. Embora esses movimentos possam grupos, construindo valores pessoais,
parecer simples aos olhos dos aguçando a afetividade e a empatia
Já no que se refere ao adultos, para as crianças, pelos outros.
desenvolvimento motor, as determinadas atividades geram um

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 14


Através da representação de
papéis, do jogo dramático, da
Existem regras para as profissionais da recreação e lazer,
musicistas, pesquisadores, etc. Seria
espera pela sua vez em participar brincadeiras cantadas? injusto eu destacar apenas alguns
e/ou de tomar para si o papel de nesta escrita, porém neste capítulo
destaque, as crianças começam a As regras existentes nas brincadeiras gostaríamos de convidá-los a
estabelecer limites para si e para o cantadas são simples e podem ser conhecer um pouco mais sobre o
contato que pretendem modificadas por quem estiver universo mágico e potente destas
estabelecer com os outros, brincando. O mais importante é brincadeiras. Junte seus amigos/
percebendo o que lhe agrada ou combinar as alterações para que familiares ou leve para a escola,
desagrada, o que lhe diverte ou todos os participantes se sintam garanto que depois que você
causa estranhamento, e aos incluídos. Além disso, as brincadeiras experimentar ser um brincante, você
poucos vão se sentindo mais devem ser adequadas às condições nunca mais será o mesmo.
motivadas e atraídas a participar. físicas, motoras e cognitivas de quem
participará, para que todos tenham as
É importante sempre lembrar do suas especificidades acolhidas.
olhar sensível e respeitoso para as Inclusive, é muito interessante
crianças que, em determinado incentivar variações, trabalhar as
momento, não desejam se envolver diferenças, acrescentando novas
nas propostas, seja porque não se palavras, estrofes, novos passos e
sentem à vontade, ou outros movimentos. Tudo isso torna
simplesmente porque aquele esses brinquedos uma forma
gênero escolhido não lhes agrada essencial para desenvolver a
no momento. autonomia, o pensar e o agir criativo.

Vale destacar que a organização


em roda, contribui de modo muito Mas no Brasil, quem são as
importante para a rede de relações
que o sujeito estabelece durante a
pessoas que trabalham com
brincadeira, pois tem como as brincadeiras cantadas?
característica a acolhida, na roda
não há hierarquias, todos No Brasil há muitas pessoas em
conseguem trocar olhares por diversas áreas que se dedicam a
igual, dando uma sensação de estudar, registrar e preservar esta
pertencimento ao grupo. cultura: artistas, folcloristas,
professoras/es, educadores físicos,

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 15


Vamos brincar? Como se brinca? Como se brinca?
Em roda, os participantes cantam Em roda, na posição em pé, um
Lavadeira os versos da canção seguindo os dos participantes fica no centro
O sol vem nascendo ali gestos, na parte do “sol” todos para ensinar a letra da música. Na
Eu vi uma velhinha assim apontam para o céu; na segunda primeira parte os movimentos são
Com a roupa deste tamanho frase imitam uma “velhinha”; na livres, geralmente bate-se palmas;
E água pequinininha terceira, fazem com os dois braços na segunda parte da música o
como se estivessem segurando participante que estiver no centro
Refrão: Lava, lava lavadeira uma trouxa grande de roupa; e na para na frente de um outro e
Quanto mais lava mais cheira (2x) parte da “água” usam dois dedos inventa uma dança ao seu estilo, a
para representar pouca água em pessoa escolhida deverá repetir os
O sol vem nascendo ali um recipiente. Na parte do refrão gestos. Na continuação o
Eu vi uma velhinha assim os gestos são livres e se alternam participante irá parar em frente de
Com a roupa deste tamanho conforme a escolha da roda. A uma outra pessoa e dançar ao seu
E água pequinininha ação de lavar pode ser jeito até que todos tenham
representada como se estivesse participado. Uma variação desta
Refrão: Esfrega, esfrega lavadeira esfregando a própria roupa, por brincadeira pode ser com a
Quanto mais esfrega mais cheira exemplo. repetição dos movimentos em
(2x) conjunto, independentemente de
Dança do chep-chep quem foi o escolhido da vez.
Torce, torce lavadeira 1a parte Fui à Nova York visitar a
Quanto mais lava mais cheira (2x) minha vó, e ela me ensinou a Olaria do povo
Estende... dançar o chep-chep Nome do participante... Vai ter que
Passa... entrar na olaria do povo (2 x)
Guarda.... 2a parte Dança do chep-chep, Ele(a) desce como um vaso velho e
dança do chep-chep, dança do quebrado e sobe como um vaso
chep-chep, chep-chep, auê! novo (2x)

Como se brinca?
É uma brincadeira em grupo, todos
se reúnem em pé e em círculo. A
música sempre inicia com o nome
de um dos participantes da roda, o
escolhido deve ir ao centro e
abaixar-se como um “vaso velho e

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 16


quebrado” (sem animação) e
levantar como um “vaso novo”
(muito animado), os movimentos
podem ser livres e variados,
podem ser associadas palmas
como acompanhamento da
canção. A brincadeira segue até
que todos os nomes tenham sido
cantados e todos tenham entrado
na roda. Ao final, canta-se "Todo
mundo vai ter que entrar..." e todos
entram na roda ao mesmo tempo.

Alface
Alface estava crescendo
Veio a chuva e quebrou o galho
Rebola, chuchu, rebola, chuchu
Rebola senão eu caio (x2)

Como se brinca?
É uma brincadeira em grupo, todos Peixinho no aquário do outro, e depois junto novamente
se reúnem em pé e em círculo. E 1a parte Eu tenho um peixinho no as mãos subindo em movimentos
seguem a letra da música, quando aquário colorido e brincalhão. ondulares como se o peixinho
o “alface cresce” pode-se colocar estivesse nadando para sair do
as mãos para cima, na parte da 2a parte Gira, gira que mergulha aquário.
chuva pode-se descer as mãos só pra chamar atenção. (x2)
devagar, em etapas, ou bem rápido Eu tenho uma casinha
inclinando o corpo para frente e Como se brinca? 1a parte Eu tenho uma casinha,
para baixo ao mesmo tempo; no Esta brincadeira pode ser em assim, assim.
refrão os participantes colocam as duplas e/ou em grupo. Na primeira 2a parte Eu bato na portinha,
mãos na cintura e remexem os parte os participantes unem as assim, assim, assim.
quadris, na parte do “caio” todos duas mãos e as movimentam como 3a parte Engraxo os meus
podem sentar no chão. se fosse um peixe nadando no sapatos, assim, assim.
aquário, na segunda parte eles 4a parte E pela chaminé, a fumaça
giram os dois braços em torno um sai assim.

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 17


Sapo cururu
1a parte Sapo cururu, panela no
fogo,
Arroz ta crú (2x)
Eu fui passear no mato, e era um
mato sem fim...
2a parte Eu vi o sapo tocar viola,
3a parte- E as mãozinhas fazendo
assim..
Tic, ti prá lá
Tic, ti prá cá
Toca viola que eu quero dançar
(2x)
E as perninhas fazendo assim...
Tic, ti prá lá
Tic, ti prá cá
Toca viola que eu quero dançar
(2x)
E a cabeça fazendo assim...
E o corpo inteiro fazendo assim...
Como se brinca? canção. Na terceira parte, deve-se
É uma brincadeira em grupo, todos fingir lustrar os sapatos, com os Como se brinca?
se reúnem sentados no chão e em braços paralelos, três vezes. Em roda, na posição em pé, formar
círculo. Na primeira parte fazer um (Direita para cima e esquerda para como se fosse um trem. Na
triângulo, juntando os indicadores, baixo, esquerda para cima e direita primeira parte começa a caminhar,
que vai ser a casinha, começa-se para baixo, direita para cima e cantando e batendo palmas. Na
fazendo o movimento que imita esquerda para baixo). E na quarta segunda parte, todos param e
uma casinha pequena e ao longo parte fazer com um dos dedos uma imitam tocar uma viola. Na terceira
da música vai aumentando. Na espiral, que sobe. parte mexem o membro do corpo
segunda parte, fecha-se uma das solicitado, para fora da roda
mãos e faz o movimento como se Cada vez que repetir a música, ir quando cantar “pra lá” e para
estivesse batendo na porta, do aumentando o 'tamanho' dos dentro da roda quando cantar “pra
mesmo modo que na primeira parte gestos e o volume da voz, até que cá”. Na parte que for solicitado o
começa com movimentos sutis e alcance o máximo de tamanho com corpo inteiro, deve-se remexer
vai expandindo-os no decorrer da os gestos. todo o corpo.

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 18


Indicações de alguns materiais relacionados às brincadeiras cantadas

Filmes que podem ajudar a refletir As músicas, em CDs: BRINCADEIRAS DE RODA,


sobre a brincadeira: ESTÓRIAS E CANÇÕES DE NINAR
(para ver, clique no título do filme) CONTAR CANTANDO: Gravadora: Eldorado
LAGUSTA LAGUÊ (CD)
MITÃ Artistas: Solange Maria / Diversos
Compositores/Produtores: Francisca
Documentário, Brasil, 2013, 52 min Cavalcanti e Adelino dos Santos Neto. Artistas relacionados: Antônio Nóbrega
Direção: Lia Mattos, Alexandre Basso Gravadora: Sony Music/ Prêmio Cultural Ano: 1983
Produção: Espaço Imaginário Fundação Catarinense de Cultura de (para ouvir, clique aqui)
Florianópolis. 2000 Ô, BELA ALICE
TERRITÓRIO DO BRINCAR Pesquisa e direção: Lydia Hortélio Livros, com CD
CANÇÕES DO BRASIL
Documentário, Brasil, 90 min, 2015. Gravadora: Casa das 5 pedrinhas
O BRASIL CANTADO POR SUAS
Direção: David Reeks e Renata Meirelles Ano: 2004 EU VI AS TRÊS MENINAS
CRIANÇAS (CD-LIVRO)
Autora: Lucilene Silva
TARJA BRANCA Autores: Sandra Peres e Paulo Tatit
PANDALELÊ Ano: 2014
A revolução que faltava Gravadora: Palavra Cantada
BRINQUEDOS CANTADOS (para ouvir, clique aqui)
Documentário, 80 min, 2014. Cidade: São Paulo. 2001
Autor: Palavra Cantada
Direção: Cacau Rhoden
ABRA A RODA TIN DÔ LÊ LÊ Editora: MCD COM.PRODUTOS. 1980 PARA OS PEQUENOS
Pesquisa e direção: Lydia Hortélio (para ouvir, clique aqui) Autoras: Maristela Loureiro e Ana Tatit
Ano 2002 Editora: Melhoramentos
LENGA LA LENGA Ano: 2015.
(Para ouvir, clique aqui)
JOGOS DE MÃOS E COPO (CD)
Compositores: Viviane Beineke e Sérgio Sites:
Paulo Ribeiro de Freitas
(para ver, clique no nome do site)
Gravadora: Ciranda Cultural Ano: 2006
OCUPAÇÃO LYDIA
HORTÉLIO

PALAVRA CANTADA

MAPA DO BRINCAR
FOLHA DE SÃO PAULO

BIA BEDRAN

BARBATUQUES

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 19


2 Espaços
culturais O que são
espaços
culturais?
LÚCIA VALENTE
O que é ação educativa? Curador e curadoria de
E mediação? museus e de exposições

Ação educativa é o planejamento de A bibliografia especializada


atividades para uma determinada aponta o curador como o
O que são exposição. Mediação é a ação que responsável por um acervo,
espaços culturais? possibilita melhor fruição do espaço
cultural.
como o especialista em um
campo de conhecimento, como
Espaços culturais são locais que pertencem ou aquele profissional apto a
são relativos à cultura, onde se vive cultura. Quando se estuda Museologia ou Artes assumir a direção de um museu.
Esses espaços podem ser os mais variados Visuais existe uma disciplina chamada Mas, ainda de acordo com Maria
como bibliotecas, teatros, cinemas, museus e “Ação Educativa” que trata do Cristina Bruno (2015),
galerias de arte, e como a cultura está em todos planejamento de ações, atividades, professora e museóloga, e
os lugares onde está o ser humano, também as conteúdos que poderão ser explorados assumindo um conceito mais
cidades, as ruas, os parques e os jardins são em uma exposição. Ao planejar a atual e abrangente, a curadoria
espaços culturais. O que muda nossa apreensão exposição, o curador ou responsável já é a somatória de distintas
dos espaços como culturais é a maneira como pensa que ações serão essas. operações que entrelaçam
nos aproximamos, como somos apresentados a intenções, reflexões e ações,
eles, como conhecemos suas histórias, a Nesse plano, o curador pensa na cujo resultado evidencia os
história por trás deles. Por isso é importante acessibilidade, além de outros itens, seguintes compromissos com:
que, desde cedo, as crianças os conheçam e que incluem os públicos com ▶ possibilidades interpretativas
deles usufruam para que se familiarizem e deficiências visuais, motoras, assim de ressignificação dos
construam seus próprios significados. como o público infantil. acervos e coleções;
▶ a aplicação de
Museu de Shenzhen, China Em alguns espaços a mediação é procedimentos museológicos
realizada por monitores, profissionais de salvaguarda
ou outras pessoas treinadas (da (conservação), sem prejuízo
própria instituição) que estudam os da comunicação; e
acervos para explicar ao público, ▶ processos curatoriais que
receber escolas, enfim, interagir e possibilitem decodificar as
auxiliar no processo de comunicação necessidades das
da exposição. Um bom mediador sabe sociedades em relação à
ouvir e falar no momento oportuno, função contemporânea dos
respeitando seu público. museus.

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 21


Talvez, por essa razão, muitos
visitantes de museus, galerias de arte
Alguns espaços culturais e museus
costumam agendar horários para
Como preparar uma visita a
e exposições preferem percorrer as receber estudantes e grupos de um espaço cultural?
salas por sua conta, ou, quando é crianças de escolas, para os quais
oferecido, usar os audioguias, QR preparam uma visita com recepção Quando se planeja uma visita a um
codes ou aplicativos disponíveis (acolhimento), explicação do tema, museu ou exposição, pode-se envolver
nesses espaços.  tempo livre para exploração do as crianças na construção de objetivos
espaço e, ao final, a realização de e trajetórias nesse espaço, para que
Em outros locais também podemos alguma atividade. aproveitem bem a oportunidade, bem
encontrar voluntários (professores, como para que essa visita não se torne
historiadores da arte, etc.) que se apenas uma maneira de “sair da
dispõem, em determinados horários e escola e matar tempo”. 
dias da semana, a explorar temas,
obras ou artistas específicos para o Mas, depois de entrar naquele espaço,
público interessado, geralmente deve-se permitir que as crianças
pequenos grupos. tenham seu próprio tempo para

“A importância do silêncio no
espaço da comunicação é
fundamental. De um lado, me
proporciona que, ao escutar,
como sujeito e não como objeto,
a fala comunicante de alguém,
procure “entrar” no movimento
interno do seu pensamento,
virando linguagem; de outro,
torna possível a quem fala,
realmente comprometido com
comunicar e não com fazer puros
comunicados, escutar a
indagação, a dúvida, a criação de
quem escutou. Fora disso,
fenece a comunicação”.
PAULO FREIRE, 2019, p. 115
Museu de Cognac, França

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 22


explorar, conhecer, contemplar e, a “(…) para ser educativa, a arte precisa
partir de seu repertório, propor ser arte e não arte educativa; do
alguma atividade dirigida.  mesmo modo, para ser educativo, o
museu precisa ser espaço de cultura e
Preparar-se significa estudar a não um museu educativo. É na sua
exposição, as obras, artistas (se for o precípua ação cultural que se
caso) para ouvir e responder apresenta a possibilidade de ser
perguntas, interrogações, dúvidas e educativo. O museu não é lugar de
abrir-se ao diálogo, incentivando a ensinar a cultura, mas, sim, lugar de
imaginação, a interpretação subjetiva cultura.”
e a sensibilidade estética. O professor
pode estar tratando de algum Para despertar nos alunos o gosto pela
conteúdo que a visita poderá arte e o prazer no encontro com a
complementar ou esclarecer. Uma cultura é preciso, também, desenvolver
professora de biologia que visita o em nós mesmos esse gosto e esse
Museu do Lixo, em Florianópolis, todos prazer. Por isso é importante, para nós,
os anos, afirma que, depois da visita, adultos, conhecer, estudar, pesquisar e
os alunos passam a perceber o mundo frequentar os espaços culturais
à nossa volta de uma forma diferente. disponíveis na cidade em que vivemos
Por exemplo, como nossa sociedade ou visitamos.
Museu do Brinquedo, Florianópolis
desperdiça recursos e descarta
objetos em um volume É nesse sentido que a pedagoga e
“Quem somos nós senão uma impressionante. Vale a pena criar uma professora, Maria Cristina Carvalho
combinatória de experiências, de experiência agradável, que os destaca “a importância de valorizar a
informações, de leituras, de provoque a conhecer mais e a querer esfera cultural, sua natureza, suas
imaginações? Cada vida é uma voltar ao museu. funções, suas características, suas
enciclopédia, uma biblioteca, um manifestações e suas desigualdades,
inventário de objetos, uma A reflexão da professora e e colocar-se em defesa de uma
amostragem de estilos, onde tudo pesquisadora em educação Sônia orientação cultural na formação de
pode ser continuamente remexido Kramer (1998, p. 210), diz respeito à professores” (2005, pag. 135).
e reordenado de todas as maneiras escolarização dos museus, que muitas
possíveis” vezes são usados apenas para ilustrar Quando visitamos museus e
ÍTALO CALVINO, 1990, p. 138 os conteúdos, ela diz: exposições em família, também é

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 23


interessante que saibamos a que
exposição estamos indo, consultando
previamente a programação, não só
para que nossos interesses coincidam
com os das crianças, mas também Uma exposição de
para que seja apropriada para sua esqueletos de
animais no Museu de
idade. Quando se faz uma visita a um Shenzhen, na China,
museu em alguma viagem, por sob a perspectiva
evolucionária
exemplo, mesmo que não se tenha
uma agenda ou propósito específico,
pode-se explorar a exposição com
crianças pequenas de várias maneiras:

▶ ao percorrer uma sala com obras de


arte, ler o nome do artista e da obra “A construção do
- Essa é a Mona Lisa e o pintor conhecimento ou a produção
chamava-se Leonardo. Esse quadro do conhecimento do objeto
é Duas Meninas ao Piano feito por implica o exercício da
Pierre Auguste Renoir. Esse é o curiosidade, sua capacidade
Mercado Público de Florianópolis, de crítica de “tomar
feito por um pintor chamado distância” do objeto, de
Martinho de Haro. Assim, tenta-se observá-lo, de delimitá-lo, de
dar, ao artista, uma face humana cindi-lo, de “cercar" o objeto
mais familiar, estabelecendo uma ou fazer sua aproximação
relação mais próxima com o autor e metódica, sua capacidade de
a obra. comparar, de perguntar”
representado, se a pessoa está PAULO FREIRE, 2019, p. 83
▶ entrar em uma sala e pedir para que triste ou alegre, etc. Usar, enfim,
a criança olhe todas as obras e uma obra para despertar
escolha uma de sua preferência. sentimentos e um olhar crítico, sem
Depois, ler o nome da obra e do objetivos didáticos ou de erudição.
artista e conversar sobre o que lhe
chamou a atenção, as formas e ▶ sentar em algum banco do museu e
cores, o que está sendo apenas observar as pessoas que

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 24


passam e olham as obras. Essa é Como os espaços culturais Museus de arte
uma ótima maneira de descansar
e ao mesmo tempo brincar. Às podem contribuir para o Muito se fala em “educação do
vezes, pode-se achar grandes repertório das crianças? olhar”, que é um exercício, uma
coincidências entre o espectador construção. Combinar
e a obra! Museus históricos percepção e sensibilidade para
produzir conhecimento.
▶ fazer uma jogo de achar objetos, Conhecer o passado pelos objetos Adriana Ganzer, (2005), fala
detalhes, semelhanças nas obras. expostos em um museu histórico sobre a visita ao museu de arte
permite estabelecer algumas relações como a proximidade com as
▶ conversar com o segurança do aparentemente não evidentes. Se obras originais que
museu para saber como é observarmos os objetos no museu e proporciona melhor
trabalhar ali. Ver, além dos aprendermos a ler esses objetos, visibilidade das cores, formas e
objetos, as pessoas que passam podemos refletir sobre nossa vida e técnicas das pinturas, dos
seus dias naquele lugar. sobre os objetos que nos cercam na desenhos ou das fotografias,
vida cotidiana. Há uma história na suas dimensões e volumes. O
materialidade das coisas, hábito de ir ao museu,
como por exemplo, no observar, discutir, questionar e
Esta obra (Vista do Desterro) mobiliário do museu, nas pesquisar possibilita nas
de Victor Meirelles retrata vestimentas, relógios e crianças aprender a fruir com
Florianópolis no final do
século XIX e permite novas outros objetos que podem sensibilidade e a olhar de uma
relações da arte com a gerar comparações com seus maneira diferente, mesmo para
geografia, história e meio
ambiente, por exemplo. usos, materiais e funções no as coisas mais comuns.
tempo. Assim, podemos Através da arte também podem
partir do que é familiar para o ser explorados outros temas
que nos é estranho e que se como história, geografia, meio
encontra nos museus. ambiente, etc.

“(…) se pretendemos uma educação não apenas intelectual, mas


principalmente humanizadora, a necessidade da arte é ainda mais
crucial para desenvolver a percepção e a imaginação, para captar a
realidade circundante e desenvolver a capacidade criadora,
necessária à modificação dessa realidade”.
ANA MAE BARBOSA, 2002, p. 5

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 25


O que fazer depois de uma criando uma expectativa e
despertando a atenção para detalhes
visita a um espaço cultural? antes não observados.
Se uma visita foi bem planejada cabe
ao professor, na volta à escola, buscar Em uma experiência realizada em uma
os elementos que foram importantes disciplina do Curso de Pedagogia,
e propor uma atividade escrita, solicitou-se aos alunos que
artística, de imagens, ou, utilizando as fotografassem o caminho até o museu
novas tecnologias disponíveis, como e colocassem as fotos no WhatsApp
por exemplo uma entrevista entre do grupo, justificando a sua escolha.
pares sobre a visita. Essa foi uma boa experiência até
porque, depois da visita, foi criado um
O percurso até o museu pode ser mapa-roteiro com as fotos impressas
explorado, chamando a atenção para dispostas no chão da sala, resultando
a rua, os cartazes, as cores, as
pessoas que se encontram no
num belo trabalho, com a participação
de todos.
Onde encontrar
caminho. Essa experiência já se espaços culturais
constitui como parte da visita, Perceber que a cultura está em muitos
lugares deve ser o ponto de partida:
na Grande
não importa se for uma fortaleza, uma Florianópolis? Museu da Imagem e
“Portanto, não é facil manter-se praça, uma rua ou uma exposição de do Som, Florianópolis
aberto à alteridade que arte. Provocar a curiosidade das
interrogamos - e a experiência crianças, respeitar seu tempo, suas
estética pressupõe isso (…) o olhar histórias de vida e suas experiências, Oito municípios da Grande de Campo do Governador
sensível não reconhece ser generoso e verdadeiro. Tudo isso Florianópolis têm museus Hercílio Luz
imediatamente; exige atenção deve fazer parte do guia para um bom cadastrados nesse guia. São Bonifácio: Museu
flutuante. Depois, organiza e mediador. O resto aprende-se com a Histórico Professor
classifica. O contemplador ativo, prática e boa vontade. Biguaçu: Casa dos Francisco Serafim
ultrapassando os limites da obra e Açores/Museu Etnográfico Guilherme Schaden
do artista, vai revelando símbolos, Se você quiser pesquisar sobre os Governador Celso Ramos: São José: Museu da Família
decodificando, estabelecendo museus de Santa Catarina consulte o Fortaleza de Santa Cruz de Koerich e Museu Histórico
sentidos. Com o reconhecimento, Guia de Museus de Santa Catarina, e Anhatomirim de São José
vem a interpretação, conservando baixe o pdf. Nova Trento: Santuário Tijucas: Museu Tijucas
a legitimidade do objeto estético”. Santa Paulina Florianópolis: possui cerca
FRAYSE-PEREIRA IN LEITE, 2005, p. 44 Rancho Queimado: Casa de 23 museus cadastrados.

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 26


Alguns museus de Florianópolis que vale a pena visitar
Museu de Arqueologia e Museu do Homem do Sambaqui Museu de Arte de Santa Catarina
Etnologia Professor Oswaldo Pe. João Alfredo Rohr / Centro Integrado de Cultura
Rodrigues Cabral da UFSC Conhecido nacional e Criado em 1949, possui acervo
Existe desde 1965. Além do internacionalmente pelo seu importante de artistas
importante acervo de Arqueologia importante acervo arqueológico catarinenses e nacionais, promove
Pré-Colonial e Histórica, e de recolhido pelo jesuíta que lhe dá o exposições temporárias e possui
Etnologia Indígena, o Museu é nome, situa-se no Colégio núcleo de ação educativa.
guardião da coleção “Profa Catarinense. Atende escolas por
Para visitar o site,
clique no nome Elizabeth Pavan Cascaes”, agendamento. Museu do Brinquedo da Ilha de
do museu preservando o significativo acervo Santa Catarina / UFSC
do artista Franklin Joaquim Criado em 1999 pela professora
Cascaes, constituído por desenhos Telma Piacentini com inspiração na
e esculturas que retratam o obra de Franklin Cascaes. Possui
cotidiano, a religiosidade, lendas, acervo de aproximadamente 300
mitos, folguedos folclóricos e brinquedos e está aberto ao
tradições dos primeiros público na Biblioteca Universitária
colonizadores da Ilha de Santa da UFSC. Possui Ala Pedagógica
Catarina.Possui setor de Ação para atendimento a escolas.
Educativa e recebe grupos por
agendamento.

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 27


Museu da Escola Catarinense itens, vários dos quais doados por obra “Presépio”. Nos jardins do
/ UDESC visitantes. Está localizado no museu estão expostas, ainda,
Criado em 1992 e instalado Centro de Transferência de várias esculturas, com destaque
definitivamente no prédio atual em Resíduos Sólidos da Comcap, no para o conjunto de obras
2007. Tem como objetivo principal Itacorubi. Agendamento de visitas denominado “O Paraíso”.
a consolidação como espaço de grupos e escolas por telefone. Agendamento de visitas por
educativo não formal, responsável telefone ou e-mail.
pela preservação do patrimônio Museu Victor Meirelles
cultural catarinense ligado à Está instalado desde 1952 na casa Museu Histórico de Santa
Educação. Faz agendamento para da família do artista. Reformado, Catarina / Palácio Cruz e Sousa
visitas mediadas. ainda não tem data de Instalado em 1986, no Palácio Cruz
reabertura. Possui significativo e Sousa, na Praça XV de
Museu do Lixo acervo do artista e também realiza Novembro. Possui cinco categorias
Criado em 2003 por iniciativa de exposições temporárias de arte de acervo: arquitetônico,
servidores da Companhia contemporânea. arqueológico, arquivístico,
Melhoramentos da Capital - bibliográfico e museológico.
COMCAP, para abrigar material em Museu Ovo Eli Heil Agenda visitas mediadas e
bom estado que tinha sido O Museu “O Mundo Ovo de Eli apresenta exposições
recolhido pelo serviço de coleta de Heil” abriga o acervo da artista permanentes e temporárias.
lixo. Espaço destinado à Educação plástica catarinense Eli M. Heil,
Ambiental, abriga milhares de com exposição permanente de
suas obras. Possui três espaços: a
“Sala de Exposição”, a “Sala de
Esculturas” e o anexo que abriga a

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 28


Fortalezas da Ilha de Santa Museu da Imagem e do Som /
Catarina Centro Integrado de Cultura
São José da Ponta Grossa e Santo O MIS foi criado para preservar,
Antônio de Ratones documentar, pesquisar e
Parte de um conjunto do sistema comunicar acervos
defensivo da Ilha de Santa audiovisuais de relevância
Catarina, construído por volta de nacional e preferencialmente
1700, as fortalezas permaneceram do Estado de Santa Catarina,
em ruínas por muitos anos. Hoje, dando continuidade ao
abertas à visitação pública e sob a trabalho realizado pelo Núcleo
tutela da UFSC representam de Documentação Audiovisual
patrimônio cultural e exemplos da (NDA) da Fundação
arquitetura militar daquela época. Catarinense de Cultura (FCC),
existente entre 1989 e 1998.

Fundação Cultural Badesc


Inaugurada em 2006 como “um
espaço transdisciplinar, um
universo que valoriza o artista
e todas as formas de arte e
cultura”. Também proporciona
diversas combinações e
interligações dessas diferentes
formas de fazer arte e de
propagar conhecimento.
Apresenta exposições
temporárias, cursos e extensa
programação em seu
Cineclube. Realiza ação
educativa.

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 29


3 ema
Cin
Afinal,
o que é
cinema?
KARINE JOULIE MARTINS
Quanto mais maneiras temos de E podemos chamar de cinema também
assistir filmes (e de produzi-los a indústria que produz esses filmes.
também), mais desafiador é encontrar
uma resposta objetiva para definir o Então quando assistimos a um filme
cinema. Com a ajuda de muitos fora da sala de cinema, por exemplo,
pesquisadores, de diversas áreas, na escola, será que podemos chamar
podemos admitir o cinema como um de cinema? E quando as crianças
Afinal, o que é o cinema? sistema de regras e convenções para produzem um filme na escola? O fato é
Por mais simples que pareça, criar sentidos a partir da combinação que o cinema sempre transitou por
existem muitas formas de das imagens. Nesse sistema, outros diversos espaços e esteve em diálogo
responder a essa pergunta. pesquisadores vão perceber o com outras áreas, é claro deixando
Provavelmente quando você a leu potencial de uma linguagem que também suas contribuições nessa
imaginou uma sala grande, em comunica de diferentes formas com trajetória. Nas próximas páginas
formato de auditório, com imagens em movimento. Mas não vamos apresentar um pouquinho
poltronas acolchoadas voltadas podemos esquecer que o cinema é dessas possibilidades de aproximação
para uma tela que cobre toda a também o lugar em que vemos filmes. entre o cinema e a área da educação.
parede. O cheirinho de pipoca, a
ansiedade durante os trailers e a
empolgação quando as luzes
apagam. Pode ter imaginado
também um domingo chuvoso com
amigos no sofá discutindo sobre
qual filme de terror vão assistir na
Netflix. Talvez uma longa viagem
de ônibus com o smartphone na
mão e alguns road movies na
playlist?

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 31


Que tal conhecer Algumas versões dessa história basicamente consistem em imagens

um pouquinho das contam que muitas pessoas se


levantaram assustadas com a
fixas dispostas em sequência que, ao
sofrerem ação de um movimento
origens do cinema? possibilidade de serem atropeladas. mecânico, nos causam a impressão de
estarem se movimentando.
Paris, 28 de dezembro de 1895. No Pesquisadores na área do cinema
subsolo do Grand Café, mais chamam atenção para o grande Todo esse esforço leva à invenção do
precisamente no Salon Indien, os esforço realizado por artistas e cinematógrafo, usado naquela
irmãos August e Louis Lumière cientistas, ao longo da história da primeira projeção que mencionamos.
apresentam uma nova invenção: o humanidade, no sentido de reproduzir Mas para chegar ao cinema como o
cinematógrafo, uma máquina capaz a realidade – ou promover uma ilusão conhecemos, foi necessário que
de filmar e projetar imagens em dela. Encontramos indícios desse outras pessoas ainda vissem no Muito
movimento. O público curioso e esforço na pintura figurativa, por cinematógrafo, por exemplo, um provavelmente
apreensivo senta em cadeiras de exemplo, ou na fotografia. Mas para potencial para contar histórias. Alice você já testou
frente para um painel improvisado, que acreditássemos nessa ilusão, Guy Blachè foi talvez a primeira delas um brinquedo
logo ocupado por um feixe de luz que faltava algo: o movimento! e em 1896 produziu “A fada do ótico quando era
se transforma na porta de uma repolho”, no qual uma fada retira criança, como o
fábrica. De lá saem operários e mais Então, no século XIX houve uma crianças de grandes repolhos flipbook ou o
operários e a cena se repete por “corrida pelo movimento” que leva os plantados em um jardim, por taumatrópio.
aproximadamente um minuto. Depois cientistas a desenvolverem teorias e aproximadamente um minuto. Outra Quer conhecer
de outros pequenos filmes sobre o equipamentos óticos que permitiam a produção que merece destaque nesse alguns
cotidiano e as ruas de Paris, surge na captação e o estudo do movimento. sentido é “Viagem à Lua”, realizada brinquedos
tela um trem em movimento. E ele se Por conta dessas pesquisas surgem em 1902 nos Estados Unidos, pelo óticos?
aproxima rapidamente! também os brinquedos óticos, que mágico/ilusionista Georges Meliès. No Clique aqui.

Neste link você pode assistir a alguns filmes


produzidos e projetados pelos Irmãos Lumière. Além
do famoso “A chegada do trem na estação Ciotat”,
havia outros pequenos filmes sobre o cotidiano
urbano em Paris. Note que o acompanhamento
musical não é original, uma vez que naquele momento
o equipamento não permitia a gravação e reprodução
de sons e imagens sincronizadas. Algo que só foi
possível no final dos anos 1920!

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 32


filme de 15 minutos, baseado no livro também para nos provocar diferentes
“Os Primeiros Homens na Lua”, de sensações. Ao mesmo tempo, o Onde pode acontecer uma
H.G. Wells, cinco astrônomos entram cinema também foi origem de outras sessão de cinema?
em um foguete e viajam até o satélite. áreas que se desenvolvem, por vezes,
Lá, são capturados por “homens-lua”. se aproximando ou se afastando Você sabia que apenas 7,4% das
O filme traz cenários e fantasias desse “sistema de formas”, como a cidades brasileiras têm salas de
teatrais e “trucagens” - sobreposição publicidade e a televisão, por cinema? Segundo relatório publicado
de imagens e cortes que podemos exemplo. Além de, claro, hoje, pelo Observatório do Cinema e
considerar os primórdios dos efeitos compartilhar a mesma tela das Audiovisual da Ancine em 2018 o
especiais. tecnologias digitais com aquilo que é Brasil tinha apenas 3.347 salas de
produzido por outros meios. cinema espalhadas em 416 das suas
Em diálogo com a literatura, o teatro, 5.570 cidades. Esses dados
as artes visuais e a antropologia, a Por mais que isso cause algumas demonstram que em muitos lugares a
forma de se fazer filmes foi sendo divergências teóricas acerca dos exibição de filmes em outros espaços
transformada, ampliando seu limites entre cinema e outros produtos pode ser a única maneira de se ter
potencial para contar histórias e audiovisuais, também proporciona uma experiência coletiva de cinema.
novas experiências individuais e
coletivas que há pouco mais de um Hoje, com poucos equipamentos é
século não passariam de sonhos. possível fazer sessões de cinema em
Vamos conhecer mais sobre elas? qualquer lugar que tenha espaço e
segurança para o grupo de pessoas que
se pretende acolher. Você já imaginou
ver um filme em uma praça? Na praia?
Em uma estação de trem desativada?
Muito provavelmente você já Em uma Câmara de Vereadores?
conhece a série brasileira “Castelo Espalhadas pelo Brasil e pelo mundo, há
Rá-Tim-Bum”, criada por Cao iniciativas públicas, de grupos
Hamburger e Flávio de Souza, e particulares ou projetos sociais que se
exibida na TV Cultura entre 1994 e dedicam a realizar sessões de cinema
1997. O episódio “Luz, câmera, diferentes daquela experiência que se
ação” traz algumas aproximações conhece da sala de exibição comum,
com a história e os modos de que na maioria das cidades, fica no
produção de cinema, potencial shopping. Alguns desses grupos tornam
para iniciar uma conversa com as suas sessões regulares e acabam se
crianças. organizando para formar um cineclube.

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 33


O que é um cineclube?
Por definição, um cineclube é um
espaço de exibição que reúne pessoas
interessadas não apenas em assistir
filmes, mas também discuti-los. É
uma ideia que surgiu nos anos 1920,
na França, e propiciou a construção
de um pensamento acerca das
questões ético-estéticas do cinema,
ajudando a consolidá-lo como uma
área de pesquisa. Além disso, em
muitos lugares, também incentivou a
produção de filmes com um maior
teor de experimentação, quebrando
regras e convenções de linguagem. programação de filmes nacionais, Posso fazer uma sessão de
No Brasil, surge, assim, o Cinema
Novo, nos anos 1960, movimento que
regionais ou estrangeiros de difícil
acesso. O cineclube tem dentre seus
cinema na escola?
buscava um cinema que dialogasse objetivos, a formação do público com “O cinema nos oferece uma janela pela
mais com o povo, tanto na forma um repertório mais amplo e diverso, qual podemos nos assomar ao mundo
quanto no conteúdo. além de oferecer espaço para a para ver o que está lá fora, distante no
exibição de filmes independentes, ou espaço ou no tempo, para ver o que não
Ainda hoje, no Brasil, você vai seja, filmes realizados por pequenas e conseguimos ver com nossos próprios
encontrar uma imensa diversidade de médias produtoras com olhos de modo direto. Ao mesmo tempo,
iniciativas de cineclubes. De modo financiamento coletivo, através de essa janela vira espelho e nos permite
geral, são espaços que oferecem patrocínio ou edital. Geralmente fazer longas viagens para o interior, tão
sessões gratuitas, regulares, com esses filmes não conseguem espaço ou mais distante de nosso
em salas de cinema e encontram na conhecimento imediato e possível. A tela
distribuição alternativa para do cinema (ou o visor da câmera) se
Se você quiser conhecer mais cineclubes um meio para chegar ao instaura como uma nova forma de
sobre os princípios do cineclube, público. Mais adiante falaremos sobre membrana para permear um outro modo
clique aqui para ler o manifesto de algumas plataformas que fazem essa de comunicação com o outro (com a
autoria do cineclubista Felipe distribuição. alteridade do mundo, das pessoas, das
Macedo publicado na Pré-Jornada coisas, dos sistemas) e em si próprio.”
Nacional de Cineclubes de 2004. ADRIANA FRESQUET, 2013, P.19

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 34


A professora e pesquisadora Adriana
Fresquet (2013) nos apresenta uma
dimensão do cinema que é
profundamente relacionada ao
processo de ensino-aprendizagem: o
potencial de nos conduzir ao distante
e a nós mesmos! As histórias e pontos
de vista que o cinema traz nos
marcam de modo semelhante às
nossas memórias e podem nos ajudar
a perceber de outra forma o cotidiano
que nos cerca. Por isso, levar o cinema
para a escola não significa apenas
proporcionar momentos de
entretenimento para as crianças ou
trabalhar ludicamente alguns Equipe e projeto secretárias (os). E, claro, os alunos
conteúdos curriculares, mas também também! Diante de uma nova
incentivar a reflexão sobre a forma É muito mais fácil nos mantermos experiência com cinema na escola,
como olhamos e conhecemos o motivados quando dividimos a novos interesses podem ser
mundo. responsabilidade sobre o trabalho. despertados, especialmente
Portanto, consideramos que o relacionados à expressão artística,
Alinhados a esse pensamento, primeiro passo para consolidar seu além da própria responsabilidade com
pesquisadores, professores e projeto é organizar uma equipe, seja a produção de um evento na escola.
cineastas dedicaram-se a propor um com duas ou três pessoas, para que
projeto para tornar a exibição de filmes possam se dividir para realizar as Com essa equipe formada, vocês
um componente curricular no Brasil. atividades: uma pessoa assume a podem começar a discutir o projeto
Assim, após muita discussão, em 2014 infraestrutura, a outra organiza a do cineclube. Talvez começando com
foi sancionada a Lei 13.006 que escolha dos filmes e uma terceira se algumas questões como: Qual será o
demanda a exibição de 2 horas concentra na divulgação, por exemplo. objetivo do cineclube? Será
mensais de cinema brasileiro na associado ao conteúdo trabalhado
escola. Pensando nessa demanda, mas O grupo não precisa ser em disciplinas? Ou priorizará
também em iniciativas que possam necessariamente formado só por discussões mais amplas e
surgir com outras finalidades, professores. Você pode envolver interdisciplinares? Quais tipos de
apresentamos algumas dicas para outros funcionários como auxiliares filmes serão exibidos? De que forma
você organizar um cineclube na escola. de serviços gerais, cozinheiras (os) envolverá os alunos e funcionários da

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 35


escola? A comunidade poderá retorno dessas discussões, as distância da parede onde será feita a
participar das atividades? demandas de espaço, equipamento e projeção. Não esqueça de verificar o
as datas das sessões. funcionamento das tomadas. Por fim,
Não se esqueça de pensar, também, se a sala não tiver cortinas, cubra o
em um nome para o cineclube. Esse Espaço vidro com papel Kraft ou outro
nome pode surgir a partir de muitas semelhante para evitar que a luz
inspirações. Pode estar relacionado ao O próximo passo é saber se há um atrapalhe a projeção.
objetivo ou ao gênero dos filmes que espaço na escola disponível,
serão exibidos, caso seja feita a opção confortável e seguro para o número Se a sua intenção for realizar um
por um gênero único, às discussões de pessoas que você espera na cineclube ao ar livre, lembre-se de
que se propõe, ao lugar onde a sessão sessão. Lembre-se de que o espaço conferir o horário do pôr-do-sol para
acontece, uma homenagem a um(a) deve ser acessível a todos os alunos agendar a sessão. E, se a luz da rua
cineasta ou quem sabe uma (deve ter rampa e sinalização para atrapalhar, entre em contato com a
homenagem a alguém muito pessoas com deficiência visual, caso empresa fornecedora de energia para
querido(a) pela escola. você vá promover uma sessão com verificar a possibilidade de
audiodescrição). Se a sala não tiver desligamento das luzes dos postes
Ah! Depois desses passos, procure a cadeiras, você pode pensar em trazer próximos durante a sessão.
direção para institucionalizar o almofadas e tapetes de borracha que
projeto. Para isso, você pode fiquem confortáveis para sentar. Elas Caso sua iniciativa seja produzir
escrever um projeto que relacione o devem ser dispostas com certa sessões em praças ou outros espaços

Você sabia que pessoas com deficiência visual também


podem ter uma experiência de cinema? Para isso os filmes
precisam ter um recurso chamado de audiodescrição, que é
uma faixa extra de áudio, adicionada ao arquivo do filme.
Nessa faixa são descritos os cenários, objetos, personagens,
ações e movimentos, com pausa para os sons e diálogos.
Para pessoas surdas, há dois recursos que aprimoram a
experiência de cinema, a Legenda para Surdos e
Ensurdecidos (LSE) que além dos diálogos também
transcrevem os sons e músicas das cenas; e a janela de
LIBRAS, na qual a interpretação de diálogos, sons e músicas é
inserida no canto da tela. Quer ver/ouvir um filme com esses
recursos? Acesse aqui.

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 36


públicos, você deve consultar a
prefeitura da sua cidade para verificar
os procedimentos de autorização. Aqui relacionamos os
equipamentos necessários
Equipamentos ou recursos para fazer uma projeção

Hoje há uma grande variedade de


equipamentos que algumas escolas Tela, painel,
tecido espesso
têm disponíveis para aulas e eventos. branco esticado
Caso a sua escola não tenha o ou parede
Notebook ou computador de mesa com
branca sem
necessário, que tal buscar uma manchas ou entrada para DVD (caso queira exibir filmes
nesse suporte) e software para leitura de
parceria com escolas vizinhas? Outros ranhuras.
vídeos. Na internet você encontra alguns para
espaços como associações de download gratuito como o VLC ou o BSPlayer.
moradores, clubes e ONGs também ATENÇÃO: É fundamental que você tenha
acesso a esse equipamento para fazer testes
podem ter interesse em apoiar um antes da sessão.
projeto de cineclube.

Divulgação

Se a sessão que você está


organizando não for exclusiva para
uma turma, é importante realizar uma
Projetor digital.
divulgação na escola convidando o ATENÇÃO: Além de ter acesso ao
Cabo HDMI ou VGA para a transmissão da
imagem. A opção depende da saída do
público. Ou ainda, se a sessão for equipamento para fazer testes é necessário
notebook ou computador e entrada do
verificar se as saída do notebook ou
aberta, é necessário chamar as computador são compatíveis com o projetor.
projetor. Caso haja incompatibilidade entre
os equipamentos, é possível utilizar um
pessoas da comunidade para adaptador que se encontra em lojas de
participar. Você tem alunos ou acessórios eletrônicos.
colegas com habilidades em desenho Caixa de som
amplificada ou outro
ou design? Que tal pedir a eles que equipamento de som
façam um cartaz bem atrativo? disponível.
Recomendamos, no
entanto, que seja um
Nesse material você pode adicionar equipamento conectado
por cabos, uma vez que
informações sobre o filme: título, a conexão via Bluetooth
direção, ano, país de origem e pode causar atrasos na Cabo P2-P10, P2-RCA ou outro
reprodução do áudio compatível com a entrada do
duração, faixa etária recomendada, e dos filmes equipamento de som.

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 37


sobre a sessão: horário, local, se vai caso a sessão seja aberta, vale a pena
mente que a ampliação desse
haver conversa após o filme, se vai colocar cartazes em locais de grande
repertório passa pela desconstrução de
haver a distribuição de pipoca e se é circulação como supermercados, algumas ideias prévias geradas pelos
necessário confirmar presença antes, padarias ou farmácias. filmes comerciais que consumimos em
em função da quantidade de lugares. plataformas de streaming, na televisão
Além disso, vale acrescentar a ou no cinema. Em geral, esses filmes
informação de que a sessão é E como posso fazer têm questões de linguagem e conteúdo
gratuita, especialmente se for aberta
à comunidade.
a escolha dos filmes? muito semelhantes e, por vezes,
acabam criando estereótipos de
Quais filmes você costuma assistir? pessoas por suas características
Nas primeiras sessões pode ser que Você assiste filmes brasileiros? O que físicas ou origens
seu público seja pequeno. O principal chama mais a sua atenção em um étnicas. O mesmo
meio para ampliar esse público é filme? Sobre o que eles falam? Como acontece com a
manter a regularidade nas sessões, são os personagens principais? Você repetição dos conflitos
por exemplo, em uma sexta-feira às acha que os personagens se parecem que movem os filmes de
18h, a cada 15 dias. Assim, seu público com pessoas que você conhece? O gênero, como comédias
saberá que há sessões naquele dia, que se passa no filme, poderia se românticas ou filmes de
independentemente de encontrar um passar em outro lugar do mundo? terror. Se quisermos nos
dos cartazes de divulgação. A Consegue se identificar com eles? distanciar dessas
divulgação “boca a boca” também padronizações, podemos Dela (de Bernard Attal, 2018)
pode ajudar a atrair a atenção para o O momento de escolher os filmes para nos fazer algumas
projeto, principalmente no início. E, exibir na escola é o passo mais perguntas no momento
desafiador de todos para concretizar de escolha dos filmes:
seu projeto, talvez seja
Uma boa ferramenta também o mais pessoal. ▶ Há personagens
para fazer cartazes Isso porque as nossas negros? São
de divulgação é o escolhas revelam, além de protagonistas? O que
O balãozinho azul (de Fáuston da Silva, 2013)
Canva, que possui nosso objetivo, também o eles fazem?
site e aplicativo nosso repertório cultural, ▶ Há personagens
gratuitos e fáceis de aquilo que consumimos, o indígenas?
utilizar. que nos entretém e o que Refugiados ou com
Basta adicionar nos provoca a refletir. outras origens
imagens e as étnicas? Como esses
informações, É fundamental que nesse personagens são
salvar e pronto! momento você tenha em tratados? Vivi Lobo e o quarto mágico
(de Isabelle Santos e Edu MZ Camargo, 2019)

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 38


▶ Há personagens mulheres, Não existe um método único para interessante que você perceba nos
meninas? Sobre o que elas falam? escolher os filmes. Você pode filmes se o tema é adequado ou se
▶ Há personagens com alguma planejar com muita antecedência traz elementos e linguagens que não
deficiência? O que elas fazem? suas sessões, perpassadas por um sejam adequados à faixa etária do
▶ Onde o filme se passa? tema, pelos personagens de uma seu público. Por isso é
▶ O filme valoriza outras culturas? determinada origem étnica, pelo imprescindível que você assista aos
▶ O filme traz fatos ou elementos gênero, explorando as obras de um filmes antes da sessão.
novos para mim? diretor ou país de origem. Ou se
pautar, ainda, pela discussão que
gostaria de instigar após o filme, Quanto tempo eu preciso
pensando nas questões estéticas
apenas, ou no conteúdo. Outra forma
para fazer uma sessão de
de escolher os filmes é envolvendo o cinema?
próprio público, com uma escuta
atenta ao debate para perceber É muito comum professores que
questões que emergem e podem ser exibem filmes em aula relatarem que
aprofundadas. Ou, ainda, com precisam dividi-lo em dois dias devido
votação aberta entre dois ou mais ao curto tempo da aula. Mas existem
filmes pré-selecionados. filmes chamados curta-metragem que
Independentemente da abordagem, tem duração de até 30 minutos. Na
você, com certeza, passará algumas verdade, o curta-metragem foi o
horas assistindo a filmes e lendo formato que deu origem ao cinema,
críticas/artigos sobre eles na internet pois naquele momento o rolo da
Territórios do brincar (de Renata Meirelles e David Reeks, 2015)
antes de propor uma sessão. película para filmar era muito curto, o
E que tal exibir, além de ficções, documentários que dava para garantir pouco mais de
também? O documentário é um formato (ou gênero, Outra consideração relevante na um minuto de filmagem. Toda a
dependendo do autor) que se propõe a construir hora da escolha do filme é a faixa experimentação dos primeiros anos
narrativas a partir de, ou com a realidade. O formato se etária para a qual propomos a do cinematógrafo se deu com a
popularizou na televisão, mas nas salas de cinema, sessão. No Brasil há um sistema de produção de curtas. Apenas mais
ficou fora do circuito comercial. O documentário Classificação Indicativa que produz tarde, quando se disseminou a
também tem espaço em festivais e plataformas de informações sobre a idade mínima exploração do cinema para contar
streaming e muitos realizadores usam esse gênero para para a qual se recomendam histórias (e não apenas mostrar o
falar sobre temas do cotidiano, para denunciar conteúdos audiovisuais. Mas quando movimento) é que se alongou o
questões sociais, apresentar soluções encontradas estamos falando de crianças, além tamanho dos rolos de película.
para problemas do meio ambiente. da classificação oficial livre, é

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 39


Mesmo hoje, quando o digital amplia Onde encontro filmes para fazer as sessões?
muito mais os limites de gravação e
armazenamento, o formato de curta- PLATAFORMAS DE
metragem é utilizado por cineastas DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
que estão em formação ou início de Agora que você já viu alguns passos um link para download ou streaming do
carreira, pois é mais barato, mais necessários para produzir uma sessão filme. Todas as exibições programadas
são divulgadas no site. Depois da sessão
rápido e objetivo. Porém, é um formato de cinema, que tal fazer um teste e que você organizou, é necessário
que hoje não tem mais espaço nas produzir uma na sua escola? Ou no preencher um relatório on-line simples,
salas de cinema, limitando-se à seu bairro? Na internet é possível com dados de público e impressões
sobre o filme e debate. Ah! Não se
circulação em festivais, cineclubes e encontrar algumas plataformas que
esqueça de fotografar a sessão para
mais recentemente em plataformas da disponibilizam filmes brasileiros com incluir imagens no relatório! Essas fotos
internet. licença para a realização de sessões não serão divulgadas, elas servem
públicas e gratuitas. E muitos deles apenas para a comprovação de que a
sessão aconteceu.
Na escola, uma sessão de curtas tem ainda são acompanhados de materiais
um grande potencial para mostrar escritos pela equipe de produção para Taturana Mobilização Social
diversos olhares sobre o mesmo tema, orientar conversas e outras atividades O funcionamento desta plataforma é
muito semelhante ao da Videocamp. Aqui
por exemplo. E o tempo mais curto após a sessão. você se cadastra como exibidor,
ainda permite que se faça uma seleciona o filme e agenda a sessão.
conversa ou outra atividade após o Videocamp Alguns dias antes da sessão você recebe
Uma das plataformas mais conhecidas o link para download ou streaming e
filme. Além disso, para crianças muito
pelos cineclubistas, a Videocamp reúne depois você insere no site dados de
pequenas, com um período mais curto filmes e programas que abordam temas público e do debate. O catálogo traz, em
de atenção, podemos promover sensíveis, causas sociais, situações que sua maioria, documentários voltados para
sessões com um ou dois curtas. merecem um olhar mais atencioso. Para questões sociais. Tanto aqui quanto na
promover uma exibição, basta cadastrar- Videocamp é importante testar o arquivo
se no site, escolher o filme e agendar do filme no notebook ou computador
O ideal de tempo reservado para esse uma sessão pública – segundo antes do dia da exibição.
projeto é calcular a duração do(s) apresentação da plataforma “basta
filme(s) que você vai exibir com reunir cinco pessoas para poder assistir”.
Dois dias antes da sessão você receberá
alguns minutos para uma breve
acolhida ou apresentação da
atividade e pelo menos 30 minutos
para uma conversa ou outra atividade
ao final da sessão, assim você garante
um espaço de participação mais ativa
para o público.

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 40


PROJETOS DE DISTRIBUIÇÃO
DE MATERIAL FÍSICO E onde encontro filmes para assistir em casa?
Apesar de não tão comuns, você
pode encontrar, também, alguns Se a sua intenção é assistir filmes em
projetos que ainda distribuem DVDs casa, sozinho ou com amigos, para
através de serviços postais ou em conhecer novos diretores, novos
eventos de cinema e/ou educação. estilos e ampliar seu repertório com
as crianças – especialmente as mais
velhas – elencamos aqui algumas
plataformas de streaming gratuitas,
criadas e mantidas no Brasil. Atenção!
Todo o conteúdo possui licença livre
para exibição doméstica via Afroflix
streaming, ou seja, não é possível É uma plataforma colaborativa que
disponibiliza conteúdos audiovisuais
baixar conteúdo ou realizar sessões brasileiros que tenham, pelo menos, uma
utilizando essas plataformas. pessoa negra em uma área de atuação
técnica/artística, como direção,
Circuito de Cinema Infantil produção ou no elenco principal.
Desde 2011 a Mostra de Cinema Também é possível enviar conteúdo
Infantil de Florianópolis lança desde que atenda a proposta da
anualmente DVDs com alguns curta- plataforma. Você vai encontrar o
metragens que participaram do catálogo aqui, organizado por formato
evento. Há algumas edições, os DVDs (documentário, ficção, séries, etc.).
possuem recursos de audiodescrição, Filmes que voam
Legendas para Surdos e Ensurdecidos O catálogo traz curtas e longa-
(LSE) e LIBRAS. Os DVDs são lançados metragens, documentários e ficções
no primeiro semestre e são nacionais. O diferencial desta plataforma
distribuídos para escolas e gestores são os recursos de LIBRAS e
culturais que se comprometem a audiodescrição em alguns dos filmes
realizar sessões para as crianças de
Libreflix
Serviço de streaming colaborativo e de para a promoção de acessibilidade,
suas instituições ou município. Para inclusive em filmes infantis que são parte
código aberto. Aqui o próprio usuário
recebê-lo você deve comparecer a um do acervo da Mostra de Cinema Infantil
que tiver produções autorais pode
dos eventos do Circuito – acompanhe de Florianópolis. Para assistir não é
contribuir com o catálogo enviando o
a agenda no site da Mostra e nas necessário fazer cadastro, mas caso
arquivo através de um formulário. Você
redes sociais – ou fazer a solicitação queira utilizar os filmes em sessões
vai encontrar aqui produções nacionais e
de envio através do site. O número de públicas, é possível enviar uma
internacionais, organizadas por formato
DVDs é limitado. Fique atento para mensagem na plataforma para verificar a
(documentário, ficção, séries, etc.) ou
não perder o prazo de solicitação! disponibilidade da licença para o filme
tema (social, música, ativismo).
escolhido.

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 41


Curta o Curta
A plataforma foi criada no ano 2000 por
um coletivo independente e desde então
disponibiliza curta-metragens brasileiros
para exibição doméstica, além de
reservar um espaço para notícias
relacionadas à produção audiovisual no
Brasil. O foco são as produções
independentes. Aqui há mais de 1000
Curta Doc filmes disponíveis entre catálogo e
É uma plataforma que deriva de um acervo e a plataforma tem recursos de
projeto homônimo desenvolvido para a busca por título, direção, gênero,
televisão, em 2009 e voltado para a duração, entre outras categorias.
exibição de documentários produzidos
na América Latina. Dois anos depois foi
criada a plataforma on-line para a
divulgação desse acervo. Aqui é possível
encontrar filmes documentários curta,
média e longa-metragens em português,
espanhol ou em línguas indígenas com É possível fazer cinema na
legendas. O acervo está dividido por
temas, tais como direitos humanos, escola com as crianças?
literatura, infância, entre outros.
Com a popularização das tecnologias
de produção de imagens nas câmeras
Retina Latina digitais, smartphones e tablets ficou
Para quem compreende bem o espanhol, muito mais fácil experimentar com
Retina Latina é uma boa maneira de
conhecer um pouquinho da fotografia e vídeo fora dos espaços
cinematografia dos nossos países profissionais. Além disso, há alguns
vizinhos. A plataforma foi criada em 2015 equipamentos como tripé e
pelo governo colombiano e, desde
microfones disponíveis a um preço
então, outros países aderiram ao espaço
Curta Dia on-line para dar visibilidade às suas acessível no mercado. E, claro, há
Em plataformas como o Youtube e o produções, que pouco conseguem sempre a possibilidade de trabalhar a
Vimeo você também encontrará canais espaço nas salas de cinema. A
que são dedicados à divulgação de criatividade na produção de
plataforma também oferece notícias,
curtas-metragens, como o Canal Curta entrevistas e resenhas sobre os filmes.
acessórios com materiais simples
Dia, dedicado a divulgar curtas- como canos de PVC, arames, cola
metragens nacionais. Mas em uma
quente, etc. No Youtube é possível
rápida pesquisa você também poderá
encontrar canais que trazem filmes por encontrar muitos tutoriais para
gênero ou acervos de festivais de produção doméstica.
cinema internacional.

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 42


No entanto, mais importante do que a outras referências para promover a
variedade/qualidade dos reflexão. É possível também propor
equipamentos ou o domínio de um uma reinterpretação daquilo que
sistema de convenções, é que foi trazido, aproveitando o espaço
tenhamos clara a intenção da nossa para fazer a mediação;
experiência de fazer cinema com as
crianças, para criar possibilidades de ▶ Quem vai assistir ao filme? Que tal
participação e envolvimento de pensar no público com as crianças?
acordo com a faixa etária. Algumas Se o filme é para crianças não-
questões podem nos ajudar no alfabetizadas, você pode incluir
desenvolvimento dessa experiência: outras linguagens para os créditos
que não a escrita, por exemplo;
O que precisamos ter em mente aqui é ▶ Se nosso principal objetivo é fazer
que existem algumas singularidades cinema com as crianças, é preciso ▶ Nem todas as crianças vão
na produção de um filme que o valorizar o processo mais do que demonstrar a mesma disposição
diferem, por exemplo, dos registros almejar um resultado técnica e em práticas com cinema, assim
que fazemos no cotidiano. Em um esteticamente padronizados, e isso como em outras brincadeiras ou
filme cada imagem que vemos é acontece quando investimos na tarefas, mas você pode tentar
planejada e representa uma escolha experimentação e no agregar outros interesses que ela
dentre muitas possibilidades. O que aprofundamento de cada exercício tenha na produção, como o
filmar? Onde colocar a câmera? A que que propomos. Um filme produzido desenho ou a música;
distância do que/quem estamos pelas crianças trará marcas da
filmando? Em que direção? descoberta dos equipamentos e do
Movimentar ou não? Com som ou sem processo de aprendizagem, como
som? Qual som? Com música ou sem? trazem seus desenhos e textos, por
Cada uma dessas escolhas vai exemplo;
produzir um significado diferente
para quem assiste e a combinação de ▶ É possível e necessário criar
uma imagem com a próxima pode espaços de escuta nesse processo,
acrescentar ainda outros evitando descartar ideias sem uma
significados. Essas escolhas discussão coletiva sobre elas. Se
constituem a linguagem do cinema, essas ideias refletem apenas
aquele sistema de regras e consumos culturais comerciais ou
convenções que mencionamos no não, correspondentes com a faixa
início deste capítulo. etária, você pode trazer também

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 43


▶ Se você nunca passou por uma Para organizar melhor o trabalho e
experiência com produção de não esquecer nenhum detalhe na hora
cinema na escola, talvez seja mais de filmar, que tal fazer um projeto por
simples começar com escrito? Aqui tem um exemplo para
documentário. Você pode partir da você começar a organizar as
ressignificação do registro, se já informações:
for um hábito, buscando criar uma Quer mais ideias
lógica narrativa entre as imagens para práticas e
para contar um dia na escola ou PROJETO DE AUDIOVISUAL desenvolvimento
falar de algum projeto pedagógico. Título: de um projeto com
Documentário ou ficção?: as crianças? Visite
Considerando essas questões, há Duração: Cinema na
diferentes formas de se desenvolver Tema: escola:
esses projetos com cinema na escola. Storyline: Caso você tenha interesse em construindo
(Conte a história em uma linha)
Há, por exemplo, uma abordagem desenvolver projetos com espaços de
Argumento:
mais próxima de uma organização (Conte a história completa em até uma cinema na sua escola e não cidadania.
profissional que seria a divisão do página) sabe por onde começar, dê uma
grupo/turma em equipes, com Personagens: olhada no material desenvolvido
funções diferentes: produção, Equipe: em outros projetos, com
direção, fotografia, arte, som, edição, Abordagem/Direção: sugestões de exercícios que não
dentro das quais pode ou não haver (Como você organizará as filmagens? demandam conhecimentos
De que modo as crianças
hierarquias entre diretor e técnicos, como o Inventar com
participarão?)
assistentes. Dessa forma, há uma a Diferença: Cinema, Educação
Roteiro/Tratamento:
profundidade maior na pesquisa e (Escreva como você imagina o e Direitos Humanos (ID), um
dedicação para cada função e um argumento e as estratégias de projeto de nível nacional
desenvolvimento maior de uma abordagem no corpo do filme. A desenvolvido pela Universidade
escrita pode ser livre, num texto
habilidade, porém as crianças não vão corrido ou dividida em cenas/blocos. Federal Fluminense que deu
poder conhecer outras funções. Outra Aproveite para descrever onde a origem a um intenso movimento
possibilidade é trabalhar por meio de câmera vai ficar em cada uma das de produção de cinema nas
cenas, se vai haver movimento ou não,
jogos ou exercícios e fazer com que escolas. Projetos como esse
se o som será gravado também, etc.)
todas as crianças passem por todas demonstram que o primeiro
Cronograma:
as funções, garantindo que todas (Relacionar o que será gravada em passo para trazer o cinema para
conheçam minimamente do que se cada dia e local) a escola é a disposição para
trata, porém sem aprofundamento. Equipamentos: descobrir a novidade junto com
(Listar os equipamentos necessários) as crianças.

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 44


4Tecnologias
digi t a i s O que são
tecnologias e
tecnologias
digitais?
JULIANA COSTA MÜLLER
SILVIANE DE LUCA AVILA
O que são tecnologias e
tecnologias digitais? processos e máquinas que são armazenamento e a divulgação de
resultados de tecnologias que foram muitas informações ao mesmo tempo,
Praticamente tudo que cerca você sendo desenvolvidas ao longo da por meio de tecnologias que fazem
neste momento, enquanto lê este livro, história. Desde o lápis, ao processo de parte do nosso dia a dia e que não
é resultado de alguma forma de criação do papel, ou todos os possuem o sinal analógico, como:
tecnologia ou representa uma materiais que compõem seu computadores, notebooks, netbooks,
tecnologia, tanto o material em que é computador ou o dispositivo móvel na celulares smartphones, tablets, TV
produzido como o seu formato. Por sua mão, são exemplos de tecnologias. digital e outros dispositivos móveis. O
exemplo, se você está sentado em termo “Tecnologia Digital da
uma cadeira, para que chegasse onde Já as tecnologias digitais são aquelas Informação e Comunicação (TDIC)” é
você está, ela passou por diversos que utilizam o sinal digital (aquele muito utilizado quando se deseja
processos tecnológicos, desde o seu que modifica as transmissões de tratar especificamente das
formato como o material do qual foi informação para uma combinação tecnologias digitais e “Tecnologia da
produzida. Considere uma cadeira de binária (0 e 1) para representar Informação e Comunicação (TIC)”
madeira: para a madeira ficar neste qualquer informação em bits. Este quando se deseja falar de algo em um
formato, ela passou por diversos modo abre grandes portas para o sentido mais amplo.

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 46


É recomendável o uso
de tecnologias digitais
por bebês?
De acordo com a Organização Mundial
de Saúde (OMS), 2019, não é
recomendável que bebês menores de
um ano de idade permaneçam na
frente de dispositivos móveis,
televisores, computadores, pois o
excesso de telas além de prever a
inatividade física, têm contribuído
para o aumento dos casos de miopia.

Nessa idade são essenciais os


vínculos afetivos e o contato com
outras pessoas para o
desenvolvimento das habilidades Por isso, sugerimos que você avalie 9-12: crescendo na época das telas
cognitivas e físicas que podem quando e como tais recomendações digitais”), 2015, é evitar deixar as
acontecer nas brincadeiras no chão, podem contribuir para que você crianças antes dos 3 anos na frente
nas atividades em que o bebê está de oferte uma educação cada vez mais das telas; antes dos 6 anos não
bruços, na leitura e contação de saudável e equilibrada para o oferecer videogames individuais;
histórias. E ainda, na organização de contexto em que vive. entre 9 e 12 anos acompanhar o uso
tempo para um sono de qualidade, da internet pelas crianças; e aos 12
conforme a idade: até 3 meses de 14 a anos não permitir o uso ilimitado da
17 horas, de 4 a 11 meses de 12 a 16 Depois do primeiro ano de internet quando a criança puder
horas de sono. vida, a tecnologia digital navegar sozinha. Além disso, o autor
afirma que assim como precisamos de
É importante sempre lembrar que: pode ser ofertada? uma dieta alimentar, precisamos fazer
as recomendações de uso das uma dieta das mídias.
tecnologias devem ser consideradas A orientação de Serge Tisseron,
por você a partir de seu contexto e do doutor em psicologia e psiquiatra, em Para isso, Tisseron apresenta
crescimento do bebê, pois conforme seu livro “3-6-9-12: diventare grandi possibilidades de mediação para cada
mencionamos, são recomendações. all’epoca degli schermi digitali” (“3-6- um dos diferentes grupos de idade (a

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 47


cada 3 anos), como por exemplo: para Entre 2 e 5 anos, computador e Como vocês, da área da
crianças de até 3 anos assegurar o televisão devem ser limitados em até
desenvolvimento de outras 1 hora; menores de 6 anos devem ser educação, percebem as
linguagens, como a sensorial e protegidos da violência virtual; até os recomendações para os usos
espacial, pois não há uma
contribuição em relação às telas que
10 anos tais dispositivos não devem
estar nos quartos; e, para o
das tecnologias digitais das
seja essencial para o crescimento das crescimento e desenvolvimento pesquisas na área da saúde?
crianças nessa idade. saudável dos adolescentes
recomenda-se de oito a nove horas de Essa temática é cada vez mais
Já para a Sociedade Brasileira de sono, além de evitar que se isolem nos importante e tem contribuído muito
Pediatria (SBP, 2016, p. 3) o uso das quartos ou ultrapassem as horas de para nossas discussões sobre os usos
tecnologias deve estar de acordo com sono recomendadas. das tecnologias digitais na infância,
o desenvolvimento cerebral- ou ainda, como orientar os adultos a
cognitivo-psicossocial das crianças e Perceba assim que, uma pesquisa não fazer uso das tecnologias de modo
jovens; deve ser evitado, recomenda o uso antes dos 2 anos, saudável e educar as crianças para tal.
desencorajado ou proibido quando outra, antes dos 3, mas ambas
apresentar conteúdo inapropriado, sinalizam que esse uso não deve Nós defendemos que cada vez mais se
principalmente antes dos dois anos, acontecer no primeiro ano de vida, faz importante discutirmos o tema e
durante as refeições ou entre 1 e 2 conforme as inúmeras questões compartilhá-lo com os adultos, pois
horas antes de dormir. apresentadas acima. eles são as pessoas responsáveis pela
educação, que poderão avaliar os
fatores para constituir uma educação
saudável e equilibrada no contexto em
que estão imersos.

E assim, percebemos que um dos


desafios é oferecer diferentes
materiais, enfatizar as múltiplas
linguagens da criança, a
corporeidade, a relação com o meio
ambiente e o caráter lúdico das
atividades, em respeito e defesa do
direito da criança de viver a sua
infância em suas questões biológicas,
psicológicas e sociais.

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 48


Teria alguma indicação, na amarelinha, pular corda, soltar pipa,
cantigas de roda. E quando fazer uso
área da educação, sobre o da tela, certificar-se do objetivo, da
uso das tecnologias digitais qualidade do conteúdo e do tempo, de

por crianças? modo que as crianças percebam que


esse é apenas mais um recurso”.
Na área da educação, podemos
mencionar a pesquisa de doutorado “Dos 6 aos 9 anos (1º ao 3º anos):
que tratou sobre a mediação na na escola, precisamos promover os
escola, na família e o uso das processos de construção da escrita e
tecnologias por crianças, de Juliana leitura, bem como ensinar os
Costa Müller (2019, p. 266), que, com conteúdos curriculares estabelecidos.
base em diversas pesquisas, No contexto da cultura digital, a
apresenta como recomendações: tecnologia pode ajudar tanto no dos conteúdos, tais como jogo,
planejamento do professor como nas vídeos, etc”.
“Antes dos 3 anos: evitar o contato atividades com as crianças:
com as telas, embora, muitas vezes, ele audiovisual, livros em suporte digital “Dos 9 aos 12 anos (4º ao 6º anos):
já aconteça nos contextos familiares, e e jogos digitais; conta de e-mail, login, incentivar a elaboração de trabalhos a
cabe à instituição de Educação Infantil senha, já que são utilizados por partir de outros sites, assim como
ofertar outras possibilidades de grande parte das crianças para ensinar a usar serviços de
desenvolvimento e aprendizagem à diversas atividades em jogos e armazenamento e sincronização de
criança, como artes, culinária, teatro, brincadeiras digitais – que são a arquivos, tais como edição de
sons, músicas, entre outros”. preferência nessa faixa etária. arquivos on-line, produção e
Também seria desejável discutir as editoração de vídeos, por meio de
“A partir dos 3 anos: incentivar a preferências e os critérios de escolha diversos recursos. Explicar sobre
conversa sobre o que usam e direitos autorais e a importância de
consomem com as tecnologias, a fim referenciar os conteúdos. Aos poucos,
de trabalhar com materiais que vão Você pode ver mais na tese criar propostas pedagógicas para que
além do que oferta a indústria “Crianças e tecnologias digitais: as crianças possam se posicionar e
cultural. Questioná-las sobre suas desafios da mediação familiar e falar sobre o que fazem com as
preferências de jogos e desenhos escolar” de Juliana Costa Müller, tecnologias digitais. Além disso,
pode ser o caminho para a abertura e defendida na Universidade Federal prover espaços para que elas criem
encontro de outros modos de ser de Santa Catarina em 2019, sob movimentos na escola, orientando
criança, como, por exemplo, na oferta orientação da Profa. Dra. Monica seus colegas a partir de vídeos,
das brincadeiras tradicionais infantis: Fantin. Clique aqui para ler. manifestos, eventos”.

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 49


Podemos dizer que é compromisso com a educação das Como educar para o uso das
crianças, seus direitos de proteção,
prejudicial ficar muito tempo provisão, participação, e quais tecnologias digitais?
na frente da tela? momentos vivenciamos quando Existem recomendações da área da
estamos em frente às telas. São saúde, mas consideramos que não há
O que de fato estamos fazendo na individuais? Coletivos? Há mediação nada mais eficaz do que a mediação e
frente da tela? Estamos nas redes de algum conteúdo? Qual tempo a participação efetiva dos educadores,
sociais? Estreitando laços com quem tecnologia ocupa na minha vida e no tanto no ambiente familiar quanto
viajou? Realizando atividades do convívio com os demais? escolar. 
trabalho? Estudando? Fazendo
trabalhos escolares? Quem sabe estejamos em um Para Serge Tisseron (2013) enquanto
momento de trocar a pergunta “e o educadores/as devemos incentivar as
“O que estamos fazendo em frente às tempo de tela” para “como são as crianças a falarem sobre o que viram
telas?” Talvez essa seja a questão interações, criações e aprendizagens nas telas, pois as telas fazem parte de
principal para podermos conversar no tempo das telas?”. sua vida. É interessante situar o
sobre o “tempo de tela” em um tempo
em que as críticas aparecem vazias de
conhecimento sobre o contexto e de
reflexão sobre o que estamos fazendo
e o porquê fazemos quando estamos
on ou off-line.

Uma das questões principais envolve


a multifuncionalidade das telas, pois
elas nos levam a (re)pensar a
dimensão do tempo de tela, a sua
qualidade, algo que não é passível de
ser calculado quando frisamos pelo
que está sendo feito e não apenas
pela dimensão cronológica do tempo.

E assim, longe de qualquer


sentimento de culpa pelo “tempo que
ficamos na frente das telas”
convidamos você a pensar sobre o

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 50


tempo para a criança, como o que importante considerarmos a E quais posturas posso
aconteceu antes, durante e depois, pluralidade do desenvolvimento
além de encorajá-la a construir as infantil, seu desenvolvimento e adotar para ensinar as
narrativas provindas das imagens que contexto sociocultural ao tratarmos crianças a usar a tecnologia
revelam os sentidos atribuídos aos
conteúdos que assistem. 
da educação que “ora pode ser
negociadora, ora pode capacitar, mas,
de modo equilibrado?
sobretudo, deve ser equilibrada”, Segundo Müller (2019) para uma
E as posturas que os adultos adotam propondo um uso equilibrado e mediação qualificada e equilibrada é
na mediação dos usos das crianças saudável tanto do uso das tecnologias importante promover, no ambiente
pelos artefatos, para Sonia quanto de outros materiais (MÜLLER, digital, os direitos das crianças, seu
Livingstone (2017), professora de 2019, p. 262). bem-estar e o momento com outras
Psicologia Social que lidera diversas brincadeiras que não apenas as
pesquisas a nível mundial, se dá de
modo restritivo ou capacitador. A
restritiva é aquela que supervisiona,
proíbe, restringe as atividades das
crianças; e a capacitadora estabelece
o diálogo como forma de encorajar as
crianças a falarem sobre suas
experiências, orientando-as sobre a
segurança no meio digital.  

Portanto, consideramos que a


educação dos adultos se apresenta
em um constante movimento, ora
restringe, ora capacita, ora negocia, e
quando estes se ausentam, então a
tecnologia é quem realiza a mediação.
Por isso, “Negociar, controlar, proibir,
permitir, restringir, capacitar e
incentivar são mediações que estão
em constante movimento e que não se
sustentam se nos prendermos
somente ao nosso modo de educar”.
Ou seja, enquanto adulto faz-se

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 51


digitais; apresentar aos poucos O uso das redes sociais essa faixa etária. Já o WhatsApp exige
questões que envolvem a segurança a idade mínima de 16 anos. 
digital, como, por exemplo, se os
(Youtube, Instagram, WhatsApp, Facebook)
amigos das redes sociais são é recomendado Estas são as idades mínimas que
conhecidos; avaliar a qualidade dos constam na política de uso dos
conteúdos acessados, bem como a para as crianças? aplicativos, mas vale lembrar que não
recomendação de idade; sobre a Facebook, Instagram (adquirida pelo necessariamente são recomendações
participação das crianças no Facebook), Youtube, Twitter são e, aqui, novamente, cabe a mediação
ambiente digital “confiar na criança, empresas que operam nos Estados do adulto, pois em todas as redes
em um incentivo a sua participação, Unidos da América, por isso seguem sociais citadas há possibilidade de
fazendo com que ela sinta-se mais sua legislação, mais especificamente, que crianças e/ou adolescentes
segura de si”; incentivar a conversa a lei federal que determina a proteção acessem conteúdos inapropriados
sobre o que as crianças fazem on- de dados de crianças on-line, de 1998, para sua idade.
line, criando, assim, vínculos de por isso a grande maioria destas
confiança e posturas responsáveis; redes sociais determina que a idade Estar atento ao que as crianças e
construir combinados que se mínima de criação de um usuário seja adolescentes acessam é fundamental
apliquem a todos e favoreça o de 13 anos. para orientá-las aos caminhos de
momento juntos, além de incentivar como acessar de forma qualificada e
outras experiências que envolvam as Assim, as redes Facebook, Instagram, equilibrada. Afinal, as redes sociais
múltiplas linguagens infantis; adotar Snapchat, Tumbler, Twitter e YouTube digitais podem ser grandes aliadas na
diversas posturas mediadoras de exigem a idade mínima de 13 anos sociabilidade de crianças e jovens se
compartilhamento de experiências para a criação de login e senha. Vale bem trabalhadas, construindo um uso
entre os professores e famílias, além ressaltar que a plataforma YouTube crítico e inteligente, mas também
de fortalecer laços harmoniosos com possui também o YouTube Kids, podem ser grandes vilãs ao gravarem
as crianças no meio digital e fora dele recomendado para crianças de até 12 e venderem seus dados, saberem sua
(MÜLLER, 2019, p. 264).  anos. Neste, o conteúdo é restrito a localização e, direcionarem uma
propaganda ou material.

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 52


Outra questão interessante que
podemos levantar é que a maioria dos
dispositivos móveis atualmente não
são produzidos para “durar” muitos
anos, pelo contrário, somos
incentivados a que troquemos de
celular a cada ano, pois o aparelho,
com o tempo, fica obsoleto, uma vez
que não acompanha os aplicativos e
suas atualizações de sistema
operacional. 
O uso das tecnologias Por isso, reafirmamos que a
digitais induz ao consumo? mediação de um adulto é Essa é uma outra questão a ser
fundamental, de modo que o adulto ponderada quando falamos do
Sim, pode induzir. Principalmente pela eduque a criança a conhecer seus incentivo ao consumo, que abrange a
crescente publicidade nas redes desejos e aqueles incitados a partir sociedade em um todo. Por isso, fazer
sociais, sendo elas pagas ou geradas do consumo das telas, como, por escolhas conscientes e avaliar se
automaticamente antes de exemplo, quando as crianças pedem realmente é preciso trocar seu
assistirmos a um vídeo no YouTube, aos adultos um brinquedo caro, que aparelho ou demais tecnologias é
por exemplo, ou ainda disseminadas foi apresentado pelo seu YouTuber necessário, inclusive ao
pelos “influenciadores digitais” preferido em um vídeo. considerarmos a preservação do meio
(sujeitos que se destacaram nas redes ambiente.
sociais e são seguidos por um grande É importante pensarmos ainda que
número de pessoas) em seus canais e “[...] quando o consumo está atrelado
perfis pessoais. ao entendimento de que a felicidade E na escola, como podemos
reside em algo externo (juízo que
Vale pontuar que é a partir dos 12 anos cabe não somente às crianças), a
educar as crianças para o uso
que as defesas cognitivas em relação criança corre grande risco de se das tecnologias?
às estratégias de marketing são frustrar, de se deprimir, porque a
criadas, por isso, assistir uma criança demanda é interna e não será A escola e os profissionais da
brincando no YouTube, ou abrindo uma preenchida por outra coisa, o que faz educação possuem um papel muito
caixa com os brinquedos “recebidos”, com que ela, a todo momento, crie importante, tanto para acompanhar e
para outra criança, podem ser novos desejos de consumo” (MÜLLER, mediar, como também ampliar as
consideradas posturas que incitam o 2019, p. 236).  possibilidades às crianças. Para além
desejo do consumo na criança.  de sites de jogos e canais do YouTube

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 53


que as crianças já acessam, a escola de pesquisas desenvolver a criticidade ▶ Antes do uso de qualquer
ao fazer uso dos diversos artefatos dos mesmos. Estes, com apoio e tecnologia ou aplicativo e software
tecnológicos possibilita a criança estrutura, podem buscar a mudança com os (as) estudantes, testar é
criar, recriar outros modos de se em sua prática cotidiana, aprender a fundamental! Explore e teste, se
relacionar no ambiente off e on-line. Éaproveitar os recursos educacionais aproprie para, assim, trabalhar
importante destacar que, além de ser que já estão à sua disposição, ou ainda pedagogicamente com e para os
um espaço bastante rico de falar sobre eles mesmo quando se estudantes;
conhecimento e trocas, o ambiente fazem pouco ou nada presentes na ▶ Avaliar com os (as) alunos (as) a
virtual pode também representar vida das pessoas que consideram tal utilização da tecnologia escolhida,
perigos a crianças e adolescentes, por temática importante. ampliando seu repertório e criando
isso o acompanhamento e diálogo oportunidades para que os
devem ser constantes. Por isso, podemos indicar como os estudantes apresentem outras
primeiros passos para a educação das ferramentas e/ou usos;
O uso das tecnologias digitais em sala crianças para as tecnologias: ▶ Teste, incentive a criação e
de aula também pode representar uma produção dos (das) estudantes,
mudança significativa quando ▶ Conhecer quais as tecnologias (re)crie, mesmo não possuindo
pensada de forma a alimentar a disponíveis na escola e as que os todas as ferramentas necessárias
curiosidade dos estudantes e por meio próprios alunos/as possuem e ou da melhor qualidade. Criar
podem ser utilizadas; espaços para discussão sobre os
▶ Aproveitar os recursos abertos usos é um dos meios de fazermos
existentes, como os softwares presentes as tecnologias na
livres; educação escolar, mesmo quando
▶ Pesquisar sites e aplicativos que os nossas escolas ainda não estão
(as) alunos (as) já acessam e totalmente equipadas.
analisar se há possibilidades
pedagógicas a partir destes, ou A internet tem muitas possibilidades e
ainda quais assuntos podem ser as tecnologias digitais, quando não
problematizados a partir dos ofertadas a todos, se tornam mais
conteúdos acessados pelos uma forma de exclusão, por isso a
estudantes; importância de (re)pensarmos modos
▶ Planejar encontros com o uso de de envolver as tecnologias no
tecnologias ou vídeos do YouTube ambiente escolar contribuindo, assim,
com uma intencionalidade para uma educação equilibrada e
pedagógica que oportunize a saudável.
reflexão, (re)criação e olhar crítico;

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 54


Indicações de aplicativos para crianças
a criança programe quais serão as
ações do robô, que se chama Lightbot.
Incentiva, assim, o raciocínio lógico e
exige concentração e paciência.
Sendo um aplicativo interessante para
ser utilizado também no ambiente
escolar, realizando trabalhos em
duplas ou trios. Para ver, clique
um objetivo, ensinar as cores, ensinar no nome do app

matemática básica, ensinar o nome


dos animais e também dos
objetos. Sua interface é intuitiva e
com desenhos que chamam a
Maritaca atenção. Ele é recomendado para
crianças acima de quatro anos. 
Este é um aplicativo bem diferente e
superinteressante! Gratuito e voltado
para crianças entre 2 a 10 anos, o Arqueólogo / Antigo Egito (e outros)
“Maritaca” é um podcast de contação
de histórias. Uma excelente O aplicativo Arqueólogo, indicado
oportunidade para pais e responsáveis para crianças de até 8 anos, possui
pararem alguns minutos com seus diversas variações (como este do
filhos e escutarem uma boa história. Antigo Egito e outros que envolvem
Além de histórias contadas, há dicas dinossauros) que incluem a criança
de brincadeiras, livros, músicas com o mundo da arqueologia através
infantis e dicas de passeios culturais. LightBot de pistas para solucionar a aventura.
Durante os desafios a criança vai
Tap Kids O LightBot é um aplicativo disponível aprendendo sobre História e se
gratuitamente para Android e IOS, que divertindo.
O Tap Kids é um aplicativo que desenvolve as habilidades de
apresenta quatro diferentes jogos programação por meio de desafios.
com a intenção de que a criança Aconselhável para crianças acima de
aprenda brincando. Cada jogo possui sete anos, este aplicativo solicita que

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 55


Indicações de canais no YouTube para crianças
Antes de indicar Palavra Cantada Carol Levy
alguns canais
específicos, vale Canal da dupla Carol Levy é
lembrar que o YouTube Paulo Tatit e cantora e locutora
possui um aplicativo Sandra Peres traz e seu canal traz
específico para suas músicas conteúdos de
crianças, o YouTube infantis contação de
Kids. Diferente da animadas, shows histórias, músicas
plataforma on-line, o e muito mais. e conteúdos
Para ver, clique YouTube Kids deve ser baixado em seu Com excelente qualidade nas músicas educativos. Indicado para todas as
no nome do canal dispositivo para ser acessado, e é e animações, o canal é uma boa idades.
indicado para crianças de até 12 anos. alternativa para os/as pequenos/as.
Possui indicações selecionadas de Canal do Júlio
conteúdo, recursos de controle dos Universidade das Crianças / UFMG
pais e filtragem de vídeos O Canal do Júlio,
considerados inadequados. Universidade das personagem do
Crianças é um programa infantil
Manual do Mundo projeto de “Cocoricó”
extensão da exibido pela TV
Com uma linguagem acessível e Universidade Cultura, possui
divertida, o canal, Federal de Minas histórias,
comandado por Gerais, que entrevistas e ensina brincadeiras. O
Iberê Tenório, responde perguntas de crianças por personagem principal é um menino de
apresenta meio de animações. O projeto oito anos que com uma linguagem de
experiências trabalha com crianças em oficinas e criança desta idade envolve a todos
caseiras para na produção de curtas de animação, em seus conteúdos inteligentes.
explicar textos ilustrados, áudios e livros. O
princípios básicos da química e da canal e seus vídeos são os resultados
física, e responde perguntas e dúvidas do projeto.
dos espectadores sobre os mais
diversos assuntos.

ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 56


SOBRE AS AUTORAS
Juliana Costa Müller Karine Joulie Martins Lizyane F. Silva dos Santos Lúcia Seara Berka Valente Silviane De Luca Avila
Pedagoga (USJ), mestra e dou- Mestra em Educação e Pedagoga e mestranda do Mestranda do Programa de Pós- Pedagoga com Habilitação em
tora em Educação (PPGE/UFSC) bacharela em Cinema pela programa de Pós-graduação Graduação em Educação da Uni- Anos Iniciais e Mestre em Edu-
com estágio no exterior na Uni- Universidade Federal de Santa em Educação pela versidade Federal de Santa Ca- cação pela Universidade do Es-
versità Cattolica Del Sacro Cuore Catarina (UFSC). Atua no Universidade Federal de Santa tarina na Linha de Pesquisa Edu- tado de Santa Catarina (UDESC).
(Milão/Itália) e curso de aper- desenvolvimento de projetos Catarina (PPGE/UFSC/CNPq). cação e Comunicação. Possui Já atuou como professora de
feiçoamento no Centro Interna- de formação de professores, Especialista em Gestão e graduação em Museologia educação infantil, anos iniciais
zionale Loris Malaguzzi (RE/IT). mediação de cineclubes, além Metodologia do Ensino pela (2015) e Pedagogia (1985) pela e ensino superior. Seus estudos
Especialista em Psicopedagogia da realização de mostras de Faculdade Dom Bosco (2010); Universidade Federal de Santa são voltados para as interfaces
Institucional (FMP); e em Design cinema voltados para infância, em Educação Infantil pela Catarina e especialização em entre tecnologia e educação,
Instrucional para EaD (FACEL). educação e direitos humanos. UFSC (2012); e em Tecnologias Organização, Sistemas e Méto- com ênfase na alfabetização e
Pesquisadora do Núcleo Infân- Membro do Núcleo Infância, da Informação e Comunicação dos (UFSC). Atua como museó- formação de professores. Atual-
cia, Comunicação, Cultura e Arte Comunicação, Cultura e Arte e técnicas de Ensino pela loga voluntária no Museu do mente é doutoranda em Edu-
(NICA/UFSC/ CNPq) desenvolve (NICA/UFSC/CNPq). UTFPR (2018). Membro do Brinquedo da Ilha de Santa Ca- cação no Programa de Pós-gra-
estudos sobre a infância e as Atualmente é doutoranda no grupo de Pesquisa Núcleo tarina, vinculado à UFSC. Autora duação em Educação na Uni-
crianças na contemporaneidade; Programa de Pós-Graduação Infância, Comunicação, do projeto e curadora do Espaço versidade Federal de Santa Ca-
educação das famílias e das es- em Educação da UFSC na linha Cultura e Arte, (NICA/UFSC). Memória Unicred Florianópolis. tarina (PPGE/UFSC), na linha de
colas nos usos das tecnologias de Educação e Comunicação. Atualmente é professora Co-curadora da exposição Wet- Educação e Comunicação e in-
digitais por crianças; múltiplas efetiva da educação infantil zel, História & Patrimônio, do tegrante do Grupo de Pesquisa
linguagens infantis; consumo na Prefeitura Municipal de Centro Universitário Católica de NICA - Núcleo Infância, Comu-
infantil; produção midiática. E Florianópolis. Santa Catarina, em Joinville, SC. nicação, Cultura e Arte, sediado
atualmente é Professora da Fa- Membro do Grupo de Pesquisa no Centro de Ciências em Edu-
culdade Municipal de Palhoça Núcleo Infância, Comunicação, cação da UFSC
(FMP) e da Universidade Federal Cultura e Arte UFSC/CNPq.
de Santa Catarina (UFSC).
julianamuller.formacao@gmail.com karinejoulie@gmail.com lizyane@gmail.com luciavalente@gmail.com silvianeavila@gmail.com

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CRÉDITOS DAS IMAGENS
Pixabay.com Karine Martins Rodrigo Ramos
Imagens com atribuição Criative Página 34 Cine Jangada em Sernambi, PB.
Commons Zero CC0 Página 33
Páginas 10, 11, 12, 14, 15, 16, 17, 45,
Projeto Fortalezas
Divulgação. Rio Festival 2019
46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53 e 54.
Página 29 Divulgação.
Página 39
Cesar Valente tempotransfixo.blogspot.com
Páginas 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, Página 28 Institut Lumière
28 e 29. institut-lumiere.org
Mostra de Cinema Infantil
Página 32
Capturas de tela de Florianópolis
Sites, filmes e videos citados. Divulgação. Time Graphics
Páginas 13, 19, 36, 40, 41, 42, 44, Páginas 31 e 43 Página 32
55 e 56.
Projeto Cinema na Escola: infinitedictionary.com
Reproduções Construindo Espaços de Cidadania Página 32
Capa de livro, cartaz e quadros Divulgação. Divulgação
citados. Páginas 42 e 43 Fotos capturadas nos sites dos
Páginas 19, 23, 25 e 38 fabricantes dos equipamentos.
Projeto Cinema na Praça Página 37
Lúcia Valente Divulgação. Iguaí, BA.
Páginas 18 e 27 Página 35

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ARTE, CULTURA E TECNOLOGIA / 59


Palhoça
SC

Março de
2020

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