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Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS Nº 173.442 - PE (2010/0092254-5)

RELATORA : MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA


IMPETRANTE : EDUARDO TRINDADE E OUTRO
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
PACIENTE : LEMMÁCIA ANGÉLICA COSTA LINS
EMENTA

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS.


VENDA DE MEDICAMENTO FALSIFICADO. COMERCIALIZAÇÃO
DE REMÉDIO DESPROVIDO DE AUTORIZAÇÃO REGULAMENTAR.
(1) AUSÊNCIA DE SUPORTE FÁTICO. NÃO APRESENTAÇÃO DA
ÍNTEGRA DO INQUÉRITO POLICIAL. AFERIÇÃO DE
ILEGALIDADE. IMPOSSIBILIDADE. (2) ATIPICIDADE.
INEXISTÊNCIA DE DOLO. ANÁLISE DE QUESTÕES FÁTICAS. VIA
ELEITA. IMPROPRIEDADE.
1. É inviável o reconhecimento de carência de justa causa, por falta de suporte
fático, diante da ausência de apresentação do inquérito policial e do
procedimento ministerial sobre o qual se edificou o oferecimento da denúncia.
2. Não cabe, na estreita via do habeas corpus, proceder-se ao afastamento
da tipicidade, por carência do elemento subjetivo, dado que, in casu, haveria a
necessidade de se dirimir, previamente, questões fáticas, cujo equacionamento
melhor ocorrerá nas vias ordinárias.
3. Ordem denegada..

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça: "A Turma, por
unanimidade, denegou a ordem de habeas corpus, nos termos do voto da Sra. Ministra
Relatora." Os Srs. Ministros Og Fernandes e Vasco Della Giustina (Desembargador
convocado do TJ/RS) votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Haroldo Rodrigues (Desembargador
convocado do TJ/CE).
Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Maria Thereza de Assis Moura.

Brasília, 31 de maio de 2011(Data do Julgamento)

Ministra Maria Thereza de Assis Moura


Relatora

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HABEAS CORPUS Nº 173.442 - PE (2010/0092254-5)

RELATORA : MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA


IMPETRANTE : EDUARDO TRINDADE E OUTRO
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
PACIENTE : LEMMÁCIA ANGÉLICA COSTA LINS

RELATÓRIO

MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA (Relatora):

Cuida-se de habeas corpus, substitutivo de recurso ordinário, com pedido


liminar, impetrado em favor de LEMMÁCIA ANGÉLICA COSTA LINS, contra acórdão do
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE PERNAMBUCO que, em prévio writ, não
determinou o trancamento/anulação da ação penal.
Ressuma dos autos que a paciente, juntamente com outro corréu, foi
denunciada, pela supostos crimes contra a saúde pública, nos seguintes termos:

Consta do Inquérito policial que, no dia 08 de dezembro de 2009, pela


manhã, neste município, foi desencadeada a operação "Antiprético", que
contou com a participação da Polícia Federal e da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária, tendo por objetivo a fiscalização de farmácias suspeitas
de comercializarem medicamentos de uso controlado sem autorização da
ANVISA, bem como, de venderem medicamentos falsificados e de
procedência ignorada, sem registro na mencionada agência de vigilância
sanitária, em total desacordo com a legislação vigente.
No dia acima referido, no período matinal, agentes da PF e da ANVISA
se dirigiram à Farmácia Santa Rita, localizada na Av. Caruaru, nesta, onde
encontraram José Erivoaldo da Silva, proprietário do referido
estabelecimento, em situação de flagrância, pois tinha em depósito, as
drogas constantes do auto de apreensão de fls. 17/19 do IP, em desacordo
com a PORTARIA 344/1998 do Ministério da Saúda, conforme laudo
preliminar de fls. 21/27 do IP.
Extrai-se dos autos que as drogas constantes do auto de fls. 17/19
foram apreendidas nas prateleiras e armários existentes na retromencionada
farmácia, estando em depósito e disponíveis à comercialização. Durante os
trabalhos de fiscalização foram atestadas pelos técnicos da ANVISA e pelos
policiais federais as seguintes irregularidades (condutas delituosas): (i)
depósito e exposição à venda de medicamentos falsos, mais precisamente
os nominados Viagra e Cialis; (ii) depósito e exposição à venda do
medicamento sem registro no Brasil, a saber, o medicamento cujo nome
comercial é Pramil; (iii) depósito e exposição à venda de medicamentos
sujeitos a controle especial (descritos no laudo de fls. 24/26), que estavam
à venda na farmácia, desacordo com a Portaria 344, do Ministério da
Saúde, uma vez que a farmácia não tem sequer autorização para
comercializar esse tipo de produto, e ainda que a tivesse, a irregularidade
permaneceria, porquanto não estavam sendo observados os termos da
citada portaria, quanto ao controle e à venda desses medicamentos.
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Destaque-se que em relação aos medicamentos apreendidos, os ditos,
sujeitos a controle especial ainda foram constatadas as seguintes
irregularidades, as quais estão descritas detalhadamente no laudo de
constatação preliminar de fls. 21/27: a) dispensação (comercialização) sem
autorização da autoridade sanitária competente, contrariando o artigo 2º, da
portaria 344/98-MS; b) dispensação de medicamento sem nota fiscal, em
desacordo com artigo 25 da portaria 344/98-MS; c) dispensação sem
retenção de receita médica, afrontando o artigo 35, da portaria 344/98-MS;
d) dispensação sem anotação da quantidade vendida e seus respectivos
números de lote, em desobediência ao artigo 36, da portaria 344/98-MS; e)
dispensação sem escrituração, ou seja, deveriam ser mantidos no
estabelecimento, para efeito de fiscalização e controle, livros de
escrituração conforme determinado no artigo 62 da portaria 344/98-MS.
Em relação aos medicamentos apreendidos, da marca PFIZER,
VIAGRA 50MG-SILDENAFIL, LOTE 404850055a, e marca LILLY,
CIALIS 20MG-TADALAFILA, LOTE 0556107, usados para disfunção
erétil, também se comprova sua falsificação, a partir das informações dos
respectivos fabricantes, às fls. 31/32 do IP.
Ademais, conforme acima mencionado, o primeiro acusado tinha em
depósito para venda o remédio da marca LA QUÍMICA FAMACEUTICA,
PRAMIL 50MG-SILDENAFIL, utilizado para disfunção erétil, não tendo
este registro na AVISA, vez que não está permitida sua comercialização no
território nacional, nos termos da Resolução nº 2997/2006 (fl. 30 do IP).
Emerge do procedimento inquisitório que a segunda denunciada,
Lammarcia Angélica Costa Lins, trabalha na referida farmácia, há 06 anos,
exercendo a função de farmacêutica. Nessa condição, em face de suas
obrigações legais, participou na execução dos delitos acima descritos,
concorrendo com sua anuência técnica, vez que tinha a obrigação de
informar às autoridades sanitárias e ao Conselho Regional de Farmácia
acerca das irregularidades detectadas em medicamentos no
estabelecimento, consoante dispõe a resolução 357/2001 do Conselho
Federal de Farmácia. Assim agindo, anuiu espontaneamente com a prática
contumaz de tais ilícitos pelo primeiro denunciado, deixando,
conscientemente, de exercer o múnus de sua profissão, e, por conseguinte,
sendo partícipe das ações delituosas já especificadas.
Os depoimentos constantes dos autos, o auto de apresentação e a
apreensão de fls. 17/19, o laudo de constatação preliminar de fls. 21/27,
além de outras provas técnicas, demonstram os indícios de autoria e
materialidade delitiva.
Em assim procedendo praticaram os denunciados as condutas típicas
previstas no artigo 33, caput, c/c art. 66, da Lei 11.343/06, no artigo 273,
§ 1º, do CPB e no artigo 273, § 1º-B, inciso I, do CPB, c/c artigo 29 e
artigo 69 (concurso material), ambos do Código Penal pátrio, pelo que
oferece a presente denúncia, requerendo: (...) (fls. 62-66).

Esclarecem que, presa em flagrante, converteu-se a segregação em


preventiva, que foi tida por ilegal pelo Tribunal a quo.
Aduzem que a ação penal carece de justa causa em razão da insuficiência de
indícios de autoria. Salientam que os depoimentos colhidos não indicam a participação da
paciente e, no interrogatório policial do corréu, teria este isentado a paciente de qualquer
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responsabilidade pelos fatos articulados na denúncia. Ademais, haveria carência de justa
causa, pois, no máximo se poderia imputar à paciente conduta negligente, a despeito de os
crimes apresentados serem previstos apenas na modalidade dolosa.
Alegam a ocorrência de nulidade, pela desobediência ao devido processo legal,
visto que foi adotado procedimento ordinário em vez daquele previsto na Lei 11.343/06.
Ter-se-ia por violado, então, o disposto no art. 55, § 4.º da Lei de Drogas.
Asserem que a paciente não teria o perfil de traficante. Realçam que se trata
de paraibana lutadora, casada, com dois filhos e profissional sem qualquer repreensão no
Conselho Federal de Enfermagem.
Sublinham que a decisão que recebeu a denúncia é carente de motivação.
Destacam que, no prévio writ, a liminar foi deferida, sendo a ordem denegada
em função de o relator originário ter se afastado, assumindo o feito outro julgador.
A anterior impetração foi denegada em aresto assim ementado:

CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS.


TRÁFICO DE ENTORPECENTES E FALSIFICAÇÃO DE PRODUTOS
DESTINADOS PARA FINS TERAPÊUTICOS OU MEDICINAIS, CRIME
OMISSIVO IMPRÓPRIO. CONDUTA CULPOSA. PREVISÃO LEGAL.
MATERIALIDADE DO CRIME E INDÍCIOS DE AUTORIA.
DESCRIÇÃO PORMENORIZADA DA CONDUTA DELITIVA,
POSSIBILITANDO O EXERCÍCIO DA AMPLA DEFESA. ALEGAÇÃO
DE INÉPCIA DA DENÚNCIA POR AUSÊNCIA DE INDÍCIOS DE
AUTORIA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL, POR FALTA DE
JUSTA CAUSA. INCABIMENTO. INTELIGÊNCIA DO ART.395, DO
CPP (COM AS ALTERAÇÕES IMPLEMENTADAS PELA LEI Nº
11.719/08). ADOÇÃO DE RITO ORDINÁRIO. NULIDADE.
INOCORRÊNCIA. CRIMES CONEXOS. POSSIBILIDADE DE AMPLA
DEFESA. FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO DE
RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. DESNECESSIDADE. ORDEM
DENEGADA. I-O Trancamento de ação penal por falta de justa causa,
postulado na via estreita do habeas corpus somente se viabiliza quando, pela
mera exposição dos fatos na denúncia, constata-se, de plano, que inexiste
qualquer elemento indiciário demonstrativo da autoria do delito pela paciente
ou que há imputação de fato penalmente atípico, nos termos do que
preceitua o art.395, do CPP, consoante nova redação que lhe foi dada pela
Lei nº 11.719/08. II-Inadmissível a concessão da ordem com o fito de ser
trancada a ação penal por falta de justa causa, quando a denúncia descreve
a prática de crime em tese e há indícios suficientes da autoria imputada à
paciente. III-Nas hipóteses de conexão dos crimes previstos na Lei
11.343/06 com outro cujo rito previsto é o ordinário, este deve prevalecer,
porquanto, sob perspectiva global, ele é o que permite o melhor exercício
da ampla defesa. Precedentes do STJ. IV-O ato de recebimento da
denúncia dispensa fundamentação complexa, dada a sua natureza
interlocutória. Precedentes do STJ. V-A fundamentação referente à rejeição
das teses defensivas erigidas na fase do art.396-A, deve limitar-se à
demonstração da admissibilidade da demanda instaurada, sob pena,
inclusive, de indevido prejulgamento no caso de ser admitido o
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prosseguimento do processo-crime. Precedentes do STJ. VI-Ordem
denegada, à unanimidade. (fls. 96-97).

Requerem, liminarmente, a suspensão da ação penal, na qual foi designada


audiência de instrução e julgamento para 22.06.2010. E, no mérito, pleiteiam o trancamento da
ação penal, ou, a decretação da nulidade em razão do desobediência do rito ou pela
insuficiência de motivação do recebimento da incoativa.
A liminar foi indeferida, fls. 143-146.
As informações foram prestadas às fls. 150-246.
O Ministério Público Federal apresentou parecer, fls. 249-251, da lavra do
Subprocurador-Geral da República Carlos E. de O. Vasconcelos, opinando pela denegação da
ordem.
Segundo as últimas informações, a instrução ainda se encontra em curso, com
audiência de colheita de testemunho de defesa designada para 5 de agosto de 2011.
É o relatório.

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HABEAS CORPUS Nº 173.442 - PE (2010/0092254-5)

EMENTA

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS.


VENDA DE MEDICAMENTO FALSIFICADO. COMERCIALIZAÇÃO
DE REMÉDIO DESPROVIDO DE AUTORIZAÇÃO REGULAMENTAR.
(1) AUSÊNCIA DE SUPORTE FÁTICO. NÃO APRESENTAÇÃO DA
ÍNTEGRA DO INQUÉRITO POLICIAL. AFERIÇÃO DE
ILEGALIDADE. IMPOSSIBILIDADE. (2) ATIPICIDADE.
INEXISTÊNCIA DE DOLO. ANÁLISE DE QUESTÕES FÁTICAS. VIA
ELEITA. IMPROPRIEDADE.
1. É inviável o reconhecimento de carência de justa causa, por falta de suporte
fático, diante da ausência de apresentação do inquérito policial e do
procedimento ministerial sobre o qual se edificou o oferecimento da denúncia.
2. Não cabe, na estreita via do habeas corpus, proceder-se ao afastamento
da tipicidade, por carência do elemento subjetivo, dado que, in casu, haveria a
necessidade de se dirimir, previamente, questões fáticas, cujo equacionamento
melhor ocorrerá nas vias ordinárias.
3. Ordem denegada..

VOTO

MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA (Relatora):

Duas são as questões agitadas no presente habeas corpus. A primeira diz


respeito à insuficiência de suporte empírico para lastrear a ação penal. A segunda
relaciona-se à carência de justa causa, porquanto o comportamento irrogado à paciente não
ultrapassaria os lindes da conduta culposa.
No tocante ao embasamento probatório para suportar a ação penal, penso que
a respectiva análise resta inviabilizada tendo em vista a ausência de apresentação de cópia da
íntegra do Inquérito Policial. Somente de posse do inteiro teor de tal procedimento é que seria
possível divisar-se a referida alegação. Note-se que, quando do recebimento da inicial
acusatória, o feito continha mais de 300 páginas. Contudo, toda a impetração, petição inicial
mais documentos, dispõe de apenas 137.
Lembre-se, a propósito, a lição dos Professores Titulares de Processo Penal
da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Ada Pellegrini Grinover, Antonio
Scarance Fernandes, e Antonio Magalhães Gomes Filho a respeito da necessidade de se
promover a devida instrução do writ:

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"Apesar do silêncio da lei, é também conveniente que a petição de
habeas corpus seja instruída por documentos aptos a demonstrar a
ilegalidade da situação de constrangimento ou ameaça trazidos a
conhecimento do órgão judiciário: embora a omissão possa vir a ser suprida
pelas informações do impetrado ou por outra diligência, determinada de
ofício pelo juiz ou tribunal, é do interesse do impetrante e do paciente que
desde logo fique positivada a ilegalidade." (Recursos no Processo Penal, 4ª
ed. rev. amp. e atual., Editora Revista dos Tribunais, 2005, p. 366)

Dada a necessidade de existência de prova preconstituída acerca do


constrangimento ilegal no seio do habeas corpus, esta Corte assim tem decidido:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS


SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. ART. 337-A DO CÓDIGO
PENAL. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. CONSTITUIÇÃO DO
CRÉDITO TRIBUTÁRIO EM RAZÃO DO NÃO CONHECIMENTO DOS
RECURSOS ADMINISTRATIVOS INTERPOSTOS EM FACE DOS
AUTOS DE INFRAÇÃO E IMPOSIÇÃO DE MULTA QUE SERVIRAM
DE BASE PARA O OFERECIMENTO DE DENÚNCIA DADA A
AUSÊNCIA DE DEPÓSITO PRÉVIO. EXIGÊNCIA CONSIDERADA
INCONSTITUCIONAL PELA PRETÓRIO EXCELSO NO ÂMBITO DO
CONTROLE ABSTRATO DE NORMAS. MUDANÇA DE ORIENTAÇÃO
DA AUGUSTA CORTE QUE NÃO ALTERA A SITUAÇÃO DO
PACIENTE, POIS DE ACORDO COM A ORIENTAÇÃO DESTA CORTE
O INÍCIO DA AÇÃO PENAL RELATIVA AO CRIME DE SONEGAÇÃO
DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA NÃO SE CONDICIONA À
CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. NÃO
APLICAÇÃO, AO CASO, DO ENTENDIMENTO ADOTADO, EM
RELAÇÃO AOS CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA.
I - O trancamento da ação penal por meio do habeas corpus se situa no
campo da excepcionalidade (HC 901.320/MG, Primeira Turma, Rel. Min.
Marco Aurélio, DJU de 25/05/2007), sendo medida que somente deve ser
adotada quando houver comprovação, de plano, da atipicidade da conduta,
da incidência de causa de extinção da punibilidade ou da ausência de
indícios de autoria ou de prova sobre a materialidade do delito (HC
87.324/SP, Primeira Turma, Relª. Minª. Cármen Lúcia, DJU de
18/05/2007). Ainda, a liquidez dos fatos constitui requisito inafastável na
apreciação da justa causa (HC 91.634/GO, Segunda Turma, Rel. Min.
Celso de Mello, DJU de 05/10/2007), pois o exame de provas é
inadmissível no espectro processual do habeas corpus, ação constitucional
que pressupõe para seu manejo uma ilegalidade ou abuso de poder tão
flagrante que pode ser demonstrada de plano (RHC 88.139/MG, Primeira
Turma, Rel. Min. Carlos Britto, DJU de 17/11/2006).
(...)
Habeas corpus denegado.
(HC 87.405/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA,
julgado em 11/12/2007, DJe 10/03/2008)

CRIMINAL. HC. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA.


TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. PENDÊNCIA DE PROCESSO
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ADMINISTRATIVO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO OBJETO.
ORDEM DENEGADA.
I. Hipótese em que os pacientes sustentam a ausência de justa causa
para a ação penal contra eles instaurada, em razão da pendência de
processo administrativo fiscal.
II. O impetrante, embora tenha sustentado a impossibilidade de
prosseguimento da ação penal instaurada contra os pacientes em virtude da
existência de processo administrativo fiscal em andamento, no qual estaria
em discussão a materialidade do fato e a legalidade do auto de infração, não
logrou comprovar tais alegações.
III. Não obstante a documentação que acompanha a inicial, inclusive
certidão dando conta da pendência de “decisões finais, na esfera
administrativa, sobre as exigências fiscais dos créditos tributários”, os
autos não trazem cópia de impugnação ou recurso manejados no processo
administrativo ao qual refere o impetrante.
IV. Argumentação que não é hábil a obstar a persecução penal, pois na
situação em exame não se pode aferir a apontada ausência de justa causa
para a ação penal instaurada em desfavor do paciente, já que o processo
criminal encontra obstáculos na esfera administrativa somente quando se
discute a existência do débito o quantum debeatur, o que não se pode
verificar in casu.
V. Ordem denegada.
(HC 40.994/SC, Rel. Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, Rel.
p/ Acórdão Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em
08/11/2005, DJ 24/04/2006 p. 418)

Passa-se, então, ao exame da insurgência no tocante à atipicidade das


condutas irrogadas.
É cediço que o trancamento da ação penal em sede de habeas corpus é
providência excepcional, cabível apenas em casos de ilegalidade que exsurge icto oculi.
A situação é muito interessante e diz com os limites do exercício profissional
do farmacêutico. Trata-se de indagar se: a) seria exigível de tal profissional da área de saúde
que verificasse o caráter escorreito dos produtos que são postos à venda; b) teria ele a
incumbência de aferir a regularidade das licenças para a distribuição, por exemplo, de
produtos controlados; e, c) no caso concreto, a paciente teria incorrido com dolo em relação a
tais deveres.
Inicialmente, é importante pontuar que sobre os ombros do farmacêutico recai,
conforme preceitua a Resolução n.º 357/2001, do Conselho Federal de Farmácia, a direção
técnica da farmácia ou drogaria, cumprindo transcrever o seguinte:

Artigo 10 – O farmacêutico que exerce a direção técnica é o principal


responsável pelo funcionamento do estabelecimento farmacêutico de que
trata a Lei n.º 5.991/73 e terá obrigatoriamente sob sua responsabilidade a
supervisão e coordenação de todos os serviços técnicos do estabelecimento
que a ele ficam subordinados hierarquicamente.
Parágrafo único: A designação da função de diretor técnico deverá ser
requerida ao Conselho Regional de Farmácia para a devida anotação, com a
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informação de seu horário de trabalho.
(...)
Artigo 17 - A responsabilidade profissional e a assistência técnica são
indelegáveis e obriga o(s) farmacêutico(s) a participação efetiva e pessoal
nos trabalhos a seu cargo.
(...)
Artigo 19 - São atribuições dos farmacêuticos que respondem pela
direção técnica da farmácia ou drogaria, respeitada as suas peculiaridades:
I) assumir a responsabilidade pela execução de todos os atos
farmacêuticos praticados na farmácia, cumprindo-lhe respeitar e fazer
respeitar as normas referentes ao exercício da profissão farmacêutica;
II) fazer com que sejam prestados ao público esclarecimentos quanto
ao modo de utilização dos medicamentos, nomeadamente de medicamentos
que tenham efeitos colaterais indesejáveis ou alterem as funções nervosas
superiores;
III) manter os medicamentos e substâncias medicamentosas em bom
estado de conservação, de modo a serem fornecidos nas devidas condições
de pureza e eficiência;
IV) garantir que na farmácia sejam mantidas boas condições de higiene
e segurança;
V) manter e fazer cumprir o sigilo profissional;
VI) manter os livros de substâncias sujeitas a regime de controle
especial em ordem e assinados, demais livros e documentos previstos na
legislação vigente;
(...)
XIII) Informar as autoridades sanitárias e o Conselho Regional de
Farmácia sobre as irregularidades detectadas em medicamentos no
estabelecimento sob sua direção técnica;

Pelo que se nota, a princípio, e nas estreitas fronteiras de cognição do writ,


embasamento normativo há para se exigir do farmacêutico que zele pela regularidade dos
medicamentos que as drogarias oferecem aos consumidores.
Contudo, penso que o caso possui muitas questões fáticas, cujo deslinde não se
coaduna com a estreiteza da via eleita. Como exemplo, tem-se o regime de trabalho da
paciente, cuja CTPS se encontraria, segundo o proprietário da farmácia (também corréu), com
uma contadora que teria endereço ignorado por ele - fl. 182. Assim, creio ser mais apropriado
que as instâncias ordinárias equacionem os pontos controvertidos, aferindo-se, então, a
existência e/ou o grau de responsabilidade da paciente sobre os acontecimentos estampados
na incoativa.
Portanto, não basta, pura e simplesmente, afirmar-se que a paciente agiu, ou
não, com dolo, pois há várias circunstâncias fluidas pendentes de apreciação, não sendo
prudente, no seio do habeas corpus, delas cuidar.
Neste sentido:

HABEAS CORPUS PREVENTIVO. PACIENTE DENUNCIADO POR


LESÃO CORPORAL GRAVE (INCAPACIDADE PARA AS OCUPAÇÕES
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HABITUAIS POR MAIS DE 30 DIAS E PERDA PERMANENTE DE
MEMBRO, SENTIDO OU FUNÇÃO) E FUGA DO LOCAL DO CRIME
(ARTS. 129, § 1o., I E III DO CPB E 305 DO CTB). DIREITO À
TRANSAÇÃO PENAL. IMPOSSIBILIDADE. PENA MÁXIMA
SUPERIOR A 2 ANOS. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
REVOLVIMENTO DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA.
IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA. ORDEM DENEGADA.
1. O trancamento de Ação Penal por meio de Habeas Corpus,
conquanto possível, é medida de todo excepcional, somente admitida nas
hipóteses em que se mostrar evidente, de plano, a ausência de justa causa,
a inexistência de elementos indiciários demonstrativos da autoria e da
materialidade do delito ou, ainda, a presença de alguma causa excludente de
punibilidade.
2. Na hipótese, para o acolhimento da pretensão de reconhecimento
da atipicidade da conduta ou do afastamento da imputação referente à perda
da visão do ofendido, a impetração faz considerações sobre questões
fáticas e que ainda dependem de provas sequer apreciadas pela instância
originária, revelando-se impróprio e prematuro o mandamus. Um simples
exame da denúncia evidencia, ao menos em tese, a subsunção das condutas
do paciente aos delitos imputados, viabilizando o pleno exercício do direito
de defesa, o que se mostra suficiente para o recebimento da peça de
acusação.
3. Inadmissível a suspensão condicional do processo ou a transação
penal, pois o paciente foi denunciado por infração cuja pena máxima
abstratamente considerada é superior a 2 anos. Precedentes do STJ.
4. Ordem denegada, em consonância com o parecer ministerial.
(HC 91.063/SP, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO,
QUINTA TURMA, julgado em 16/10/2008, DJe 19/12/2008)

PROCESSUAL PENAL – HABEAS CORPUS – PORTE DE ARMA DE


FOGO DE PROPRIEDADE DA POLÍCIA CIVIL FORA DO
EXPEDIENTE E DE SITUAÇÃO DE PRONTIDÃO OU PERMANÊNCIA
DECORRENTE DO SERVIÇO – AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE
AUTORIZAÇÃO DO DELEGADO PARA QUE O POLICIAL CIVIL
PORTASSE A ARMA QUANDO DE FÉRIAS E NOUTRA
CIRCUNSCRIÇÃO – DELITO DE RESISTÊNCIA – CRIMES EM TESE –
TRANCAMENTO DE AÇÃO PENAL – DENÚNCIA QUE REÚNE OS
REQUISITOS LEGAIS – QUESTÕES FÁTICAS E ATINENTES AO
MÉRITO DA IMPUTAÇÃO – NECESSIDADE DE SEU EXAME
PRIMEIRAMENTE PELO JUIZ DE PRIMEIRO GRAU. ORDEM
DENEGADA.
1- O trancamento de uma ação penal exige que a ausência de justa
causa, a atipicidade da conduta ou uma causa extintiva da punibilidade
estejam evidentes, independente de investigação probatória, incompatível
com a estreita via do habeas corpus.
2- Se a denúncia descreve conduta típica, presumidamente atribuída ao
réu, contendo elementos que lhe proporcionem ampla defesa, a ação penal
deve prosseguir.
3- Os policiais civis mineiros podem portar armas de propriedade da
Polícia Civil, fora do horário de expediente normal, desde que estejam em
situação de permanência ou prontidão, decorrentes do exercício de suas
atribuições, e autorizados pelo Delegado de Polícia, como chefe imediato do
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servidor.
4- Questões de mérito que impliquem em exame de provas não podem
ser discutidas na estreita via do habeas corpus.
5- Ordem denegada.
(HC 105.758/MG, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA
CONVOCADA DO TJ/MG), SEXTA TURMA, julgado em 26/08/2008,
DJe 08/09/2008)

Assim, tem-se que a insurgência não se mostra em sintonia com a


jurisprudência desta Corte.
Ante o exposto, denego a ordem.
É como voto.

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Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA

Número Registro: 2010/0092254-5 HC 173.442 / PE


MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 2051181 2131155 21320090095757 90095757 9575872009


95758720098170480

EM MESA JULGADO: 31/05/2011

Relatora
Exma. Sra. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA
Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. MARIA ELIANE MENEZES DE FARIAS
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA

AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : EDUARDO TRINDADE E OUTRO
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
PACIENTE : LEMMÁCIA ANGÉLICA COSTA LINS

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Previstos na Legislação Extravagante - Crimes de Tráfico Ilícito e
Uso Indevido de Drogas - Tráfico de Drogas e Condutas Afins

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, denegou a ordem de habeas corpus, nos termos do voto da
Sra. Ministra Relatora."
Os Srs. Ministros Og Fernandes e Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do
TJ/RS) votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Haroldo Rodrigues (Desembargador convocado
do TJ/CE).
Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Maria Thereza de Assis Moura.

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