1) O documento analisa a segunda carta da obra "Cartas a um cristão inquieto" que discute a originalidade do cristianismo;
2) O autor argumenta que o cristianismo se distingue das outras religiões por se basear na mensagem de amor de Jesus Cristo, não pretendendo dominar totalmente a vida humana;
3) Os principais elementos da fé cristã são a conceção de Deus, do próximo e da verdade.
1) O documento analisa a segunda carta da obra "Cartas a um cristão inquieto" que discute a originalidade do cristianismo;
2) O autor argumenta que o cristianismo se distingue das outras religiões por se basear na mensagem de amor de Jesus Cristo, não pretendendo dominar totalmente a vida humana;
3) Os principais elementos da fé cristã são a conceção de Deus, do próximo e da verdade.
1) O documento analisa a segunda carta da obra "Cartas a um cristão inquieto" que discute a originalidade do cristianismo;
2) O autor argumenta que o cristianismo se distingue das outras religiões por se basear na mensagem de amor de Jesus Cristo, não pretendendo dominar totalmente a vida humana;
3) Os principais elementos da fé cristã são a conceção de Deus, do próximo e da verdade.
Aluno: Maria da Assunção Cabeleira Para este trabalho escolhi a obra Cartas a um cristão inquieto, escrita pelo jesuíta francês Paul Valadier. Esta encontra-se dividida em diversas cartas que resultam de uma troca de correspondência entre o próprio autor e Étienne, personagem que, apesar de cristã, apresenta diversas dúvidas sobre a religião que professa. Assim, apesar da extenção da obra em questão, irei centrar-me na segunda carta da mesma, enviada de Berkeley, a 20 de janeiro de 1990, onde o autor procura responder à questão da pertinência do cristianismo nos dias de hoje, focando-se no tema da originalidade cristã. Deste modo, Valadier procura, nesta carta, fazer uma análise profunda das razões que levam o cristianismo a distanciar-se das restantes religiões, ao realizar uma comparação com a definição de religião de Marcel Gauchet e ao identificar os principais elementos da religião cristã. Com efeito, o tema da originalidade cristã é apresentado pelo autor de forma a afastar a sua explicação de uma tentativa de superiorização do cristianismo face às outras religiões, afirmando que não se pode defender a existência de uma religião melhor ou superior pois isso levaria a uma total desvalorização das restantes. Valadier foca-se, então, nas semelhanças existentes entre o cristianismo e o judaísmo. Ao sublinhar estas semelhanças, o autor acaba por fortificar a posição da religião cristã e, ao indicar o seu contorno específico e a sua originalidade própria, confere autonomia à religião. No entanto, importa referir que, apesar de ter origem no judaísmo, a religião cristã afasta-se do esquema tradicional das religiões, principalmente por se basear na mensagem de Jesus Cristo, que surge como um novo anúncio de Deus, iremos aprofundar isto mais à frente. Segundo a definição de religião de Gauchet, o historiador e filosofo fracês, a religião pretende estabelecer uma relação entre o homem e o divino, propondo um enquadramento completo em todos os aspetos da vida humana e tendo por base o mito que explica as origens. Assim, Valadier afirma que a religião cristã pode ser considerada uma “religião da saída da religião” pois, mantendo certos aspetos em comum com a religião que lhe deu origem, afasta-se da ideia apresentada por Gauchet, tendo uma linha de pensamento independente. Quanto à comparação entre a definição de religião de Marchel Gauchet e os principais elementos da religião cristã, o cristianismo tem particularidades que o destacam como uma religião diferente das outras, demarcando-se do esquema tradicional. De facto, a mensagem de Jesus transmite um anúncio novo da Palavra de Deus, assente no amor ao próximo e na possibilidade de o próprio crente dar continuidade a essa mensagem. Assim, o novo evangelho de Jesus Cristo afasta-se do Antigo Testamento e das tradições judaicas. Também a noção de “lei divina” toma, aqui, outro significado e importância, em comparação com o seu conceito tradicional. Neste último, a vontade divina rege a vida humana na sua totalidade, ou seja, o todo sobrepõe-se ao indivíduo e a lei divina impõe-se ao Homem. Por outro lado, o cristianismo apresenta-se antes como uma religião de valores e princípios virados para o próximo e não somente para Deus, não se verificando uma total “despossessão do homem”. Deste modo, é o crente que escolhe seguir esta lei, mantendo a sua vontade própria. Tendo isto em conta, podemos afirmar que não existe no cristianismo uma pretensão de dominar todos os aspetos da vida humana. À opinião defendida pelo autor de que o cristianismo não olha para o passado, tendo-se adaptado às mudanças presentes, escapa que as principais fontes de inspiração da religião cristã continuam a ser os seus primórdios, principalmente a figura de Jesus e a sua ressurreição. Assim sendo, não podemos considerar que o cristianismo se desapega completamente das tradições, apesar da sua constante evolução. Quanto aos aspetos linguísticos, partilho da opinião do autor, visto que o cristianismo é uma religião que não implica nacionalidades ou aspetos culturais e que não prende os crentes a uma língua sagrada. No entanto, tendo a discordar com o autor no que toca à relevância do texto sagrado pois é evidente a força imperativa da Bíblia e dos seus mandamentos e textos. Os pontos fundamentais da consciência cristã são a conceção cristã de Deus, do próximo e da verdade, sendo a mais importante e principal a primeira referida. Relativamente à conceção cristã de Deus, esta assenta na ideia da não identificação de Deus como lei sagrada. Importa, então, referir que esta pode ser facilmente contestada, uma vez que a autoridade da lei provém da figura divina. Assim, apesar de não existir uma identificação direta, visto que Deus não é a sua lei, existe sim uma associação apresentada aos crentes. Esta associação leva a contestar a insuficiência de gestos religiosos para adorar a Deus, porque para além de orações, verifica-se o serviço a Deus através do serviço ao próximo. Ao afirmar que Deus não é limitado nem pelo espaço nem pelo tempo confere-se um carácter inegável à transcendência e à unidade divinas. Assim, é possível aferir a existência de uma crítica à sociedade, em relação a este assunto, quando se explica que os mais próximos de Deus não são aqueles que se demonstram devotos publicamente, mas sim, aqueles que se entregam interiormente a Deus. Relativamente à conceção do próximo, o segundo ponto fundamental da consciência cristã, esta é indeterminada e deriva da conceção de Deus, isto porque o próximo é aquele com o qual nos relacionamos por iniciativa livre ou por caridade, assente na misericórdia de Deus que nos aproxima do próximo. Deste modo, Jesus Cristo diz-nos “Amai-vos um ao outro como eu vos amei”, representando a união entre nós e o próximo. É pertinente referir, também aqui, a citação de Mateus “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” como máxima a seguir. Este incentivo de ajudar o outro que não tem quaisquer laços para connosco é um traço muito importante do cristianismo. O serviço é feito em prol de todas as pessoas e não apenas de Deus. A este ponto de vista são associados as missões e o voluntariado. Outro ponto de vista diz que o serviço a Deus passa pelo serviço ao próximo. Na verdade, ambos os pontos de vista são válidos e estão interligados, pois servir a Deus implica amar o próximo e, ao mesmo tempo, servir o próximo implica adorar a Deus. Por último, referimo-nos à conceção da verdade cristã, que se baseia numa relação de comunhão na diferença, uma vez que a Igreja apenas enriquece ao estabelecer uma relação com as diferentes culturas e filosofias. Na diferença repete-se a ideia da comunhão de Deus com os crentes e estes entre si na difereça. Efetivamente, com o desenvolver dos tempos a Igreja foi ganhando um papel de superioridade e hoje em dia é a detentora da verdade cristã, isto é, estabelece uma comunhão com diferentes realidades e culturas. Através de todos os elementos anetriormente apresentados torna-se possível afirmar que, apesar do seu contorno específico e do seu pensamento original, o cristianismo não deixa de ser uma religião. No entanto, as suas especificidades tornam-no algo mais, sendo para muitos um modo de vida.