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Clarice Lispector:

Uma autora com estilo próprio

Por Clarice Speziali

Seu nome verdadeiro de Clarice é Chaya Pinkhasovna Lispector. A


escritora nasceu dia 10/12/1920, na Ucrânia em Chechelnyk. Clarice foi uma
escritora a frente do seu tempo. Ela se preocupava em descrever o psicológico
dos personagens e retratar o dia a dia comum, analisando as realidades sob uma
ótica subjetiva. Sua produção marcou a literatura do século XX e seu estilo
intimista popularizou as narrativas psicológicas no Brasil. A autora escrevia
romances, contos, crônicas e livros infantis, faleceu em 09/12/1977 no Rio de
Janeiro, devido a um de câncer de ovário.

FAMÍLIA DA CLARICE LISPECTOR


Os pais de Clarice (Pedro e Marieta) decidiram se mudar da Ucrânia,
porque havia uma guerra e eles eram perseguidos por serem judeus. Clarice era
a filha caçula de mais duas irmãs Elisa e Tanya.
Clarice chegou no Brasil em Maceió, em 1922, quando tinha um ano e
suas primeiras palavras foram em português. Quando ela tinha 4 anos foram
para o Recife e sua infância foi muito pobre, nessa época, tinha a língua presa.
A escritora foi casada com um diplomata importante que se chamava
Maury Gurgel Valente, eles tiveram dois filhos chamados Pedro Gurgel Valente
e Paulo Gurgel Valente. Após morar em alguns outros países por conta da
profissão do seu marido, foi para o Rio de janeiro, onde viveu até seus últimos
dias.

CURIOSIDADES SOBRE A ESCRITORA


Clarice se considerava uma “antiescritora” porque não go stava das
estruturas, nem das coisas acadêmicas, nem das regras, porque escrevia onde
e como podia: papeizinhos, guardanapos ou com a máquina de escrever no colo,
enquanto seus filhos cor riam e ela atendia o telefone.
Clarice dizia que se sentia um ‘peixe fora d’água!’ fora do Brasil quando
acompanhava seu marido nas viagens a trabalho. Ela adorava animais, teve um
macaco, um gato, um cachorro e g alinhas.
Estudou vários idiomas, fez cursos de psicologia, antropologia e foi jornalista.

É importante conhecer essa nobre autora que não seguia um estilo de


escrever, mas sim que criou o seu próprio estilo, que inspirou e inspira muitas
mulheres que desejam estar no campo da literatura.
Selecionamos um pequeno conto de Clarice Lispector para que o leitor
possa conhecer um pouco de sua obra:

Atenção ao Sábado

Acho que sábado é a rosa da semana; sábado de tarde a casa é feita de


cortinas ao vento, e alguém despeja um balde de água no terraço; sábado ao vento é
a rosa da semana; sábado de manhã, a abelha no quintal, e o vento: uma picada, o
rosto inchado, sangue e mel, aguilhão em mim perdido: outras abelhas farejarão e no
outro sábado de manhã vou ver se o quintal vai estar cheio de abelhas.
No sábado é que as formigas subiam pela pedra.
Foi num sábado que vi um homem sentado na sombra da calçada comendo de uma
cuia de carne-seca e pirão; nós já tínhamos tomado banho.
De tarde a campainha inaugurava ao vento a matinê de cinema: ao vento sábado era
a rosa de nossa semana.
Se chovia só eu sabia que era sábado; uma rosa molhada, não é?
No Rio de Janeiro, quando se pensa que a semana vai morrer, com grande esforço
metálico a semana se abre em rosa: o carro freia de súbito e, antes do vento
espantado poder recomeçar, vejo que é sábado de tarde.
Tem sido sábado, mas já não me perguntam mais.
Mas já peguei as minhas coisas e fui para domingo de manhã.
Domingo de manhã também é a rosa da semana.
Não é propriamente rosa que eu quero dizer.
Clarice Lispector

Extraído do livro Para não Esquecer, Editora Siciliano – São Paulo, 1992.

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