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Gisele Luana Starosky

Renata D’Aquino Faria Piazera

Farmacologia Básica e
Terapêu ca Veterinária:
um guia para a manipulação
de medicamentos

1ª Edição
2019
Farmacologia básica e terapêutica
veterinária: um guia para a
manipulação de medicamentos
Farmacologia básica e terapêutica veterinária: um guia para a
manipulação de medicamentos
1ª Edição

GISELE LUANA STAROSKY


Médica Veterinária
&
RENATA D’AQUINO FARIA PIAZERA
Farmacêutica e Bioquímica

2019
1 ed.

Starosky, Gisele Luana; Piazera, Renata D’Aquino Faria. Farmacologia básica e terapêutica
veterinária: um guia para a manipulação de medicamentos. 1. ed. Jaraguá do Sul: 2019.

Registro 397/PR/19
INTRODUÇÃO

Farmacologia básica e terapêutica veterinária: um guia para a manipulação de


medicamentos tem como objetivo auxiliar os acadêmicos do curso de Medicina Veterinária em
seus estudos, contribuindo com informações sobre Farmacologia e terapêutica veterinária
embasadas em literaturas reconhecidas.
SUMÁRIO

1. PRINCIPAIS CONCEITOS EM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA VETERINÁRIA ........................ 12


2. PRESCRIÇÃO DE RECEITAS ....................................................................................................... 15
2.1 Dados da prescrição médica veterinária ........................................................................... 15
2.2 Aspectos a considerar em uma prescrição........................................................................ 15
2.3 Modelo de receita ............................................................................................................. 16
2.4 Siglas comuns utilizadas em prescrições ........................................................................... 17
3. CÁLCULO DE DOSES DE MEDICAMENTOS ............................................................................... 19
3.1 Cálculo de comprimidos .................................................................................................... 19
3.2 Cálculo de mililitros (mL) ................................................................................................... 19
4. FARMACODINÂMICA ............................................................................................................... 21
4.1 Alvo para ação dos medicamentos ................................................................................... 21
4.2 Efeitos anormais aos medicamentos ................................................................................ 21
4.3 Doses tóxicas e efeitos de sobredose de medicamentos ................................................. 22
4.4 Interação medicamentosa................................................................................................. 26
5. FARMACOCINÉTICA ................................................................................................................. 31
5.1 Absorção de medicamentos .............................................................................................. 31
5.2 Mecanismos de absorção .................................................................................................. 31
5.3 Barreiras corporais ............................................................................................................ 32
5.4 Vias de administração de medicamentos ......................................................................... 33
5.5 Biodisponibilidade de medicamentos ............................................................................... 37
6. FLUIDOTERAPIA ....................................................................................................................... 40
6.1 Tipos de desidratação ....................................................................................................... 40
6.2 Fluidos ............................................................................................................................... 40
6.3 Monitoramento da fluidoterapia ...................................................................................... 42
6.4 Cálculo de fluidoterapia (VIANA et al., 2006).................................................................... 43
7. MANIPULAÇÃO VETERINÁRIA ................................................................................................. 45
7.1 Formulações farmacêuticas .............................................................................................. 45
7.2 Formas farmacêuticas disponíveis na manipulação.......................................................... 46
7.3 Formas farmacêuticas disponíveis na manipulação veterinária ....................................... 46
7.4 Vantagens da manipulação de medicamentos na Medicina Veterinária ......................... 60
7.5 Conversões mais comuns em farmácia de manipulação .................................................. 61
7.6 Fator de correção .............................................................................................................. 62
8. NECESSIDADES NUTRICIONAIS EM MEDICINA VETERINÁRIA ................................................. 65
8.1 Proteínas ........................................................................................................................... 65
8.2 Lipídeos ............................................................................................................................. 69
8.3 Carboidratos ...................................................................................................................... 71
8.4 Vitaminas........................................................................................................................... 72
8.5 Minerais............................................................................................................................. 77
9. MANIPULAÇÃO DE FITOTERÁPICOS ........................................................................................ 82
9.1 Fitoterápicos de interesse na farmácia magistral veterinária - Uso interno .................... 82
9.2 Fitoterápicos de interesse na farmácia magistral veterinária — Uso externo ................. 88
10. FLORAIS DE BACH .................................................................................................................. 89
10.1 Grupos de Florais ............................................................................................................ 89
10.2 Florais para os animais (PINTO, 2008) ............................................................................ 91
11. HOMEOPATIA ........................................................................................................................ 96
11.1 Administração do medicamento ..................................................................................... 96
12. TERAPÊUTICA EM FELINOS .................................................................................................... 99
12.1 Diferenças no metabolismo dos gatos ............................................................................ 99
12.2 Medicamentos que devem ser utilizados com cautela em gatos ................................... 99
12.3 Medicamentos contraindicados para gatos .................................................................. 102
13. LEGISLAÇÕES IMPORTANTES............................................................................................... 104
13.1 Proibição da manipulação de medicamentos de uso veterinário em animais de
consumo humano ................................................................................................................. 104
13.2 Proibição da manipulação veterinária dos princípios ativos cloranfenicol e nitrofuranos
............................................................................................................................................... 105
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................ 106
ANEXO.......................................................................................................................................108
LISTA DE ABREVIAÇÕES

AINE – anti-inflamatório não esteroide

ALA – ácido alfa-linolênico

APCC – Animal Poison Control Center

aa – aminoácidos

BUN — nitrogênio ureico no sangue

CoA – coenzima A

DHA – ácido docosa-hexaenoico

dL – decilitro

EIV – espaço intravascular

EPA – ácido eicosapentaenoico

FOS – fruto-oligossacarídeos

g – grama

GLA – ácido gama-linolênico

(H) – apresentação humana

h – hora

HCA – ácido hidroxicítrico

HV — hospital veterinário

IgM – imunoglobulina M

IM – via intramuscular

IP – via intraperitoneal

MAPA – Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento

mcg – microgramas

mL – mililitro

9
M.V. – médico veterinário

ng – nanogramas

PAF – fator de coagulação de plaquetas

q.s.p – quantidade suficiente para

SC – subcutâneo

(V) – apresentação veterinária

VIV – espaço intravascular

VO – via oral

OMS – Organização Mundial da Saúde

Abreviaturas latinas utilizadas em farmacologia e terapêutica

ad lib. (ad libitum) – à vontade

n.r. (non repetatur) – não repetir

a.c. (ante cibum) – antes das refeições

no. (numero) – número

b.i.d. (bis in die) – duas vezes ao dia

p.r.n (pro re nata) – conforme a necessidade

cap (capsula) – cápsula

Dos. (dosis) – dose

q.s. (quantum sufficiat) – quantidade suficiente

q 6h (quaque 6 hora) – a cada 6 horas

q.i.d. (quater in die) – quatro vezes ao dia

s.i.d. (simel in die) – uma vez ao dia

sol (solutio) – solução

10
tab (tabella) – comprimido

t.i.d. (ter in die) – três vezes ao dia

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1. PRINCIPAIS CONCEITOS EM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA VETERINÁRIA

Neste capítulo são abordados, em ordem alfabética, os principais conceitos utilizados


em farmacologia veterinária.

Biodisponibilidade – Velocidade e extensão com a qual o fármaco — ou o seu grupo terapêutico


— é absorvido a partir de uma determinada forma farmacêutica, ficando disponível no seu sítio
de ação. É, então, determinada pela extensão da solubilidade e da permeabilidade do princípio
ativo.

Bioequivalência – Termo utilizado quando dois produtos farmacêuticos são equivalentes e se


mostram com biodisponibilidade igual ou similar, devendo ser considerados como equivalentes
terapêuticos.

Dispensação – Ato do profissional farmacêutico de dispensar, ou seja, proporcionar a um


paciente os medicamentos contidos nas receitas elaboradas por profissionais autorizados.

Dose – Quantidade capaz de provocar a resposta terapêutica desejada no paciente.

Dose de ataque – Dose inicial, geralmente o dobro da dose de manutenção.

Dose de manutenção – Dose necessária do fármaco para surtir o efeito desejado.

Dose única – Dose única do medicamento capaz de ter eficácia comprovada no tratamento.

Droga – Qualquer substância química que possa agir em um organismo vivo, produzindo
alterações que podem ser tanto maléficas como benéficas.

Excipiente – substância inerte que pode ser incorporada em alguns medicamentos, a fim de
completar a massa do medicamento.

Farmácias magistrais/Farmácias de manipulação – Farmácias que manipulam medicamentos.

Fármaco – Termo que tem sido usado tanto como sinônimo de droga quanto de medicamento.
Na terminologia farmacêutica, fármaco é designado como uma substância química conhecida e
de estrutura química definida e que possui propriedades farmacológicas, ou seja, o princípio
ativo do medicamento.

Farmacocinética – Estudo da absorção, distribuição e eliminação do fármaco, ou seja, o caminho


percorrido e o impacto causado pelos fármacos no organismo.

Farmacodinâmica – Estudo dos efeitos, das propriedades e do mecanismo de ação dos


medicamentos.

Farmacognosia – Estudo da origem dos fármacos.

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Farmacopeia Brasileira – Conjunto de informações técnicas (normas e monografias) de
farmoquímicos estabelecidas pelo Brasil.

Farmacotécnica – Estudo do modo de preparo dos medicamentos.

Farmoquímicos – Todas as substâncias ativas ou inativas utilizadas na produção de produtos


farmacêuticos.

Fitoterapia – Estudo da utilização de plantas medicinais no tratamento de doenças.

Formulação farmacêutica – Relação dos farmoquímicos que compõem um medicamento.

Medicamento – Qualquer substância química empregada em um organismo vivo, visando obter


efeitos benéficos, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins diagnósticos. Todo
medicamento é uma droga, porém nem toda droga é um medicamento.

Medicamento de referência – Produto registrado no órgão federal e com eficácia, segurança e


qualidade comprovadas por esse órgão. É comercializado com um nome de marca (comercial,
fantasia ou marca registrada).

Medicamento de venda livre – Medicamento cuja dispensação não requer receita expedida
pelo profissional.

Medicamento genérico – Medicamento que, ao expirar a patente de marca de um produto, é


comercializado sem nome de marca (comercial, fantasia ou marca registrada), porém com a
mesma substância ativa, forma farmacêutica, dosagem e indicação que o medicamento original.

Medicamento similar – Medicamento de uso veterinário com mesmo princípio ativo,


concentração, forma farmacêutica, via de administração, posologia e indicação terapêutica do
medicamento de referência, mas com excipientes que podem ou não ser idênticos.

Medicamento tarjado – Medicamentos que apresentam, em sua embalagem, tarja vermelha ou


preta, cujo uso requer a prescrição do profissional.

Nutracêutico – Combinação dos termos “nutrição” e “farmacêutico”, ou seja, trata-se de um


produto nutricional com valor terapêutico. O alimento ou parte de um alimento com efeitos
benéficos, incluindo prevenção e tratamento de doenças.

Posologia – Estudo da dosagem dos medicamentos.

Produto de uso veterinário – Produto definido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e


Abastecimento (MAPA) como “toda substância química, biológica, biotecnológica ou
preparação manufaturada cuja administração seja aplicada de forma individual ou coletiva,
direta ou misturada com os alimentos, destinada à prevenção, ao diagnóstico, à cura ou ao

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tratamento das doenças dos animais, incluindo os aditivos, suprimentos promotores,
melhoradores da produção animal, medicamentos, vacinas, antissépticos, desinfetantes de uso
ambiental ou equipamentos, pesticidas e todos os produtos que, utilizados nos animais ou no
seu hábitat, protejam, restaurem ou modifiquem suas funções orgânicas e fisiológicas, bem
como os produtos destinados ao embelezamento dos animais”.

Pulsoterapia – Uso de doses terapêuticas ou não em intervalos maiores do que normalmente


utilizados e por um tempo maior. Muito utilizada em tratamentos antifúngicos ou ainda em
alguns protocolos de longo prazo com corticosteroide.

Remédio – Tudo aquilo que cura, alivia ou evita uma enfermidade, abrangendo não só os
agentes químicos (medicamentos), como também os agentes físicos (duchas, massagens).

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2. PRESCRIÇÃO DE RECEITAS

O objetivo de uma prescrição veterinária é a dispensação de um ou mais medicamentos


para que seja instituído o tratamento. Abordaremos os principais passos para uma boa
prescrição veterinária e suas definições, essenciais para que ocorra um tratamento efetivo.

2.1 Dados da prescrição médica veterinária

Os dados essenciais para a prescrição de uma receita incluem:


1. Cabeçalho: espaço em que deve constar o nome, endereço e telefone do profissional,
acompanhado de sua categoria profissional e do número de inscrição no Conselho
Regional de Medicina Veterinária do seu estado. Ainda, de forma opcional, pode ser
acrescido o número de seu CPF e sua especialidade.
2. Superscrição: espaço reservado para a identificação do animal (nome, espécie, raça,
idade), o nome do proprietário e seu endereço.
3. Inscrição: indicação do uso/modo de administração grifado: uso oral (interno), injetável
tópico (externo) ou oftálmico. E, logo abaixo, o nome do princípio ativo ou medicamento
comercial, a concentração e a quantidade necessária.
4. Subscrição: prescrição de medicamentos manipulados. Deve conter informações
destinadas ao farmacêutico, especificando a forma farmacêutica, a quantidade e o tipo
de acondicionamento, por exemplo.
5. Indicação ou instrução: indicação do modo de administração (intervalos entre doses e
tempo de tratamento) do medicamento e a via de administração. Essas informações
devem ser claras e objetivas.
6. Assinatura ou rubrica: deve ser feita logo abaixo da instrução, descrevendo o local, a
data e, mais abaixo, a assinatura do médico veterinário com seu CRMV.

2.2 Aspectos a considerar em uma prescrição

Há aspectos importantes, relacionados ao paciente, que devem ser levados em


consideração no momento da prescrição dos medicamentos.
• Doença: deve-se prestar atenção às contraindicações do medicamento a ser
administrado ao paciente, já que, em alguns casos, é necessário ajustes em suas doses.
Um exemplo é a prescrição de medicamentos metabolizados no fígado, pois devem ser
administrados com cuidado em portadores de doenças hepáticas.
• Espécie: algumas espécies são intolerantes a certos medicamentos, portanto é
necessário observar a correta administração e as suas contraindicações.

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• Porte e peso: é importante considerar o porte e o peso do animal em questão. Em
animais obesos, por exemplo, é importante reajustar as doses de alguns medicamentos
que possuem baixa lipossolubilidade.
• Raças: algumas raças são particularmente sensíveis a determinados medicamentos.
Exemplo disso é a toxicidade da ivermectina para cães das raças Collie, Pastor de
Shetland, entre outros.
• Idade: a administração de alguns medicamentos para animais jovens ou idosos deve ser
feita com cautela, pois, devido a algumas particularidades, eles podem sofrer efeitos
colaterais.
• Sexo: é importante observar a administração de medicamentos para animais gestantes,
por exemplo.

2.3 Modelo de receita

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2.4 Siglas comuns utilizadas em prescrições

AMP.................................................. ampola
Ca...................................................... cálcio
CP/comp........................................... comprimido
Cr...................................................... creme
cx...................................................... caixa
EV..................................................... endovenosa
Fr...................................................... frasco
g....................................................... grama
Gts.................................................... gotas
h....................................................... horas
IM..................................................... intramuscular
IV...................................................... intravenoso
KCl................................................... cloreto de potássio
kg..................................................... quilograma
L....................................................... litro
mcg.................................................. micrograma
mEq.................................................. miliequivalente
mg.................................................... miligrama
Mg.................................................... magnésio
min................................................... minuto
mL..................................................... mililitro

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NaCl.................................................. cloreto de sódio
Seg.................................................... segundo
SC...................................................... subcutâneo
Sol..................................................... solução
Susp.................................................. suspensão
VO..................................................... via oral
VR..................................................... via retal
XP...................................................... xarope

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3. CÁLCULO DE DOSES DE MEDICAMENTOS

3.1 Cálculo de comprimidos

Peso (kg) x Dose (mg/kg) = dose total (mg)

Dose total necessária


= Número de comprimidos necessários
Concentração do comprimido

Exemplo

Cão: 20 kg

Posologia: 10 mg/kg

Apresentação: comprimidos de 100 mg

20 kg x 10 mg/kg = 200 mg (dose total necessária)

200 mg/comprimido de 100 mg = 2 comprimidos

3.2 Cálculo de mililitros (mL)

Peso (kg) x Dose (mg/kg) = dose total (mg)

Concentração da solução (mg/mL) = (% concentração) x 10

Dose total necessária


= mL necessários
Concentração da solução (mg / mL)

Exemplo

Cão: 10 kg

Posologia: 5 mg/kg de uma solução a 20%

10 kg x 5 mg/kg = 50 mg (dose total necessária)

Concentração da solução – 20% x 10 = 200 mg/mL

50 mg
mL necessários = = 0,25 mL
200 / mL

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EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO – 1

1) Um cão de 15 kg necessita de enrofloxacina a 10 mg/kg/b.i.d./VO por 7 dias.


Apresentação: comprimidos de 15 mg, 50 mg, 150 mg. Caixa com 10 comprimidos.

2) Um gato de 4 kg necessita de ampicilina 15 mg/kg/s.i.d./S.C. por 3 dias.


Apresentação: líquido 5%. Frasco com 10 mL.

3) Um equino de 500 kg necessita de 12 mg/kg/Dose única/IM.


Apresentação: líquido 55%. Frasco com 15 mL.

20
4. FARMACODINÂMICA

A farmacodinâmica é um ramo da farmacologia que estuda as ações dos medicamentos


nas funções bioquímicas ou fisiológicas de um organismo vivo, ou seja, considera tanto a
consequência inicial de uma interação medicamento-receptor quanto seus efeitos
subsequentes. Esse ramo da farmacologia também realiza a relação dose-resposta dos efeitos
biológicos e terapêuticos dos medicamentos, com importância também para que se entendam
os efeitos farmacológicos e adversos causados pelos medicamentos.
De acordo com o mecanismo de ação, os medicamentos podem ser divididos em dois
grupos: os estruturalmente inespecíficos e os estruturalmente específicos.
• Estruturalmente inespecíficos: medicamentos cujo efeito farmacológico causa
alterações nas propriedades físico-químicas, provocando mudanças em mecanismos
importantes das funções celulares e levando à desorganização de uma série de
processos metabólicos. Como exemplo desse grupo, temos os anestésicos gerais
inalatórios e os desinfetantes.
• Estruturalmente específicos: exercem sua ação biológica decorrente de sua interação
com receptores — macromoléculas existentes no organismo —, formando com eles um
complexo e ocasionando alterações na função celular.

4.1 Alvo para ação dos medicamentos

O alvo de ligação de um medicamento no organismo animal são as macromoléculas


proteicas: enzimas, moléculas transportadoras, canais iônicos, receptores de
neurotransmissores e ácidos nucleicos. Alguns deles são brevemente explicados a seguir:
• Enzimas: a interação por meio das enzimas é exercida por muitos medicamentos, que
atuam principalmente como inibidores delas.
• Moléculas transportadoras: as proteínas transportadoras possuem reconhecimento
específico para identificar e carrear substâncias para o interior das células. Alguns
exemplos dessas substâncias são a glicose, os aminoácidos, íons e neurotransmissores.
• Receptores celulares: algumas proteínas celulares têm a função de receptores de
substâncias endógenas, como os hormônios, neurotransmissores e autacoides. Tais
receptores atuam na transmissão de uma mensagem, de forma direta ou indireta,
acarretando mudanças bioquímicas nas células-alvo.

4.2 Efeitos anormais aos medicamentos

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Alguns indivíduos podem apresentar reações diferentes a determinados medicamentos,
as quais podem ser exacerbadas ou reduzidas. Algumas delas são explicadas na sequência:
• Hiper-reação: os indivíduos apresentam respostas a doses baixas de determinados
medicamentos, as quais não causam efeitos na maioria da população.
• Hiporreação: os indivíduos necessitam de doses maiores para desencadear
determinado efeito farmacológico do que aquelas normalmente utilizadas pela maioria
da população.
• Tolerância: baixa sensibilidade (hiporreatividade) que resulta de uma exposição prévia
ao medicamento, a qual causa alterações farmacocinéticas e/ou farmacodinâmicas e
promove com o passar do tempo uma resposta farmacológica menor.
• Dessensibilização: hiporreatividade que se desenvolve dentro de alguns minutos.
• Idiossincrasias: ocorrência de um efeito inesperado após o uso de um medicamento que
acomete pequena porcentagem dos indivíduos.
• Supersensibilidade: aumento do efeito de um medicamento, causado pela elevação da
sensibilidade de receptores sinápticos.
• Hipersensibilidade: efeito causado por reações alérgicas decorrentes da ligação
antígeno-anticorpo, o que promove a liberação de histamina.

4.3 Doses tóxicas e efeitos de sobredose de medicamentos

Intoxicações por medicamentos são muito frequentes em pequenos animais e


costumam acontecer por ingestão acidental ou administração incorreta/exacerbada de
medicamentos para uso humano em animais. Outro problema bastante comum é a extrapolação
de doses e indicações terapêuticas dos medicamentos para outras espécies, sendo um exemplo
comumente observado o da administração de medicamentos para cães fornecidos na mesma
dose aos gatos. Por todos os motivos citados, a cada dia são relatados diversos casos de
intoxicações medicamentosas nas espécies domésticas.
Todo medicamento, quando administrado de forma incorreta, pode se tornar
potencialmente tóxico. Por esse motivo, é necessário conhecer o mecanismo de ação, as vias de
administração, a posologia e consequentemente as doses e as manifestações clínicas que
podem levar ao aparecimento de efeitos toxicológicos nos indivíduos. Na tabela seguinte, estão
citados alguns medicamentos utilizados em animais, suas respectivas doses tóxicas e os efeitos
adversos da sobredose dessas substâncias. O entendimento das manifestações clínicas assegura
um tratamento adequado e aumenta as chances de recuperação nos casos de intoxicação.

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Princípio ativo Dose tóxica/efeitos de sobredose

Em cães, doses acima de 450-500 mg/kg causam intoxicação aguda.


Ácido acetilsalicílico
Em gatos, 325 mg/kg, 2 vezes/dia pode ser letal.

Há dados indicando que gatos que receberam 100 mg/kg/dia durante


Albendazol 14-21 dias apresentaram sinais de perda de peso, neutropenia e
dificuldade mental.

Sobredoses agudas de penicilina oral podem ocasionar desconfortos


Ampicilina tri-hidratada
gastrointestinais.

Sobredoses orais agudas causam vômitos, diarreia e cólicas


Azitromicina
gastrointestinais.

A sobredosagem causa efeitos muscarínicos (salivação, micção,


Betanecol defecação, etc.), geralmente observados com a administração oral ou
SC.

Segundo alguns dados, cães que receberam 1,5 g/kg por via oral
desenvolveram êmese e tiveram diminuição da pressão arterial. Cães
Captopril
recebendo doses maiores que 6,6 mg/kg a cada 8 horas podem
desenvolver insuficiência renal.

De acordo com o banco de dados da Animal Poison Control Center


(APCC), vômitos são relatados em doses de 5,3 mg/kg em cães e
Carprofeno
3,9 mg/kg em gatos. O nível de preocupação da APCC para danos
renais é de 50 mg/kg em cães e 8 mg/kg em gatos.

Cães recebendo doses orais de 600 mg/kg/dia desenvolveram


Clindamicina
anorexia, vômitos e perda de peso.

Sobredoses comumente causam sedação, depressão e ataxia. Alguns


Clonazepam animais podem exibir sinais paradoxais, como hiperatividade,
desorientação e vocalização. Êmese geralmente não ocorre.

A sobredosagem pode produzir profunda depressão respiratória e/ou


Codeína do SNC na maioria das espécies. Outros efeitos podem incluir colapso
cardiovascular, hipotermia e hipotonia do músculo esquelético.

Os efeitos adversos observados nas sobredoses são uma extensão dos


efeitos colaterais do medicamento, ocorrendo principalmente
Ciproeptadina depressão do SNC, efeitos anticolinérgicos (membranas mucosas
secas, taquicardia, retenção urinária, hipertermia, etc.) e, em alguns
casos, hipotensão.

A sobredosagem de diazepam inclui efeitos como depressão


Diazepam
significativa do SNC (confusão, coma, diminuição dos reflexos, etc.).

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Cavalos normais recebendo doses de até 50 mg/kg/dia (50x) durante
Diclazurila 42 dias desenvolveram apenas efeitos marginais (diminuição do
ganho de peso, aumento da creatinina, BUN).

Efeitos adversos incluem sinais clínicos cardíacos e extracardíacos. Os


Digoxina gatos são relativamente sensíveis à digoxina, enquanto os cães
tendem a ser mais tolerantes a altos níveis séricos.

A dose letal mediana (DL50) administrada via oral em cães foi


reportada como >50 mg/kg. Os sinais clínicos observados após a
Diltiazem
sobredosagem podem incluir sintomas gastrointestinais, bradicardia
por bloqueio cardíaco, hipotensão e insuficiência cardíaca.

Sinais de toxicidade incluem sedação e hematúria em doses não letais,


coma, convulsões, opistótono, dispneia e edema pulmonar em
Dimetilsulfóxido (DMSO)
dosagens mais elevadas. As DL50 relatadas após administração IV são:
gatos 4 g/kg e cães 2,5 g/kg.

A sobredose oral é associada a distúrbios gastrointestinais (vômitos,


anorexia e/ou diarreia). Embora a doxiciclina seja menos vulnerável à
quelação com cátions do que outras tetraciclinas, a administração oral
Doxiciclina de antiácidos divalentes ou trivalentes pode ligar parte do fármaco e
reduzir o desconforto gastrointestinal. Caso o paciente desenvolva
êmese grave ou diarreia, os fluidos e eletrólitos devem ser
monitorados e substituídos, se necessário.

Em cães, a dose de 200 mg/kg pode ser letal. Em situações de


overdose, a principal preocupação é a hipotensão; assim, recomenda-
Enalapril
se tratamento de suporte com solução salina normal para corrigir a
pressão arterial.

Com base em estudos, cães que receberam 10 vezes a dose


recomendada de enrofloxacino durante 14 dias desenvolveram
apenas vômitos e anorexia. A dose letal foi observada em cães quando
Enrofloxacino se administrou 25 vezes a dose recomendada por 11 dias. Em gatos, a
sobredose pode ser grave, causando cegueira e convulsões; 20 mg/kg
ou mais podem causar retinopatia e cegueira potencialmente
irreversíveis.

A dose letal aguda mínima em cães é >2 gramas/kg, via oral. Altas
Famotidina
doses podem causar hipotensão, taquicardia e colapso.

A DL50 em cães após administração oral é >1.000 mg/kg; A sobredose


crônica de 10 mg/kg em cães durante seis meses levou ao
desenvolvimento de calcificação e cicatrização do parênquima renal.
Furosemida
A sobredose aguda pode causar problemas de equilíbrio de eletrólitos
e de água, efeitos no SNC, como letargia em coma e convulsões, e
colapso cardiovascular.

24
A sobredosagem aguda pode causar problemas de equilíbrio de
eletrólitos e de água, efeitos no SNC, como letargia em coma e
Hidroclorotiazida
convulsões, e efeitos gastrointestinais (hipermotilidade, desconforto
gastrointestinal). Aumentos transitórios no BUN foram relatados.

Em cães (raças não sensíveis), na dose de 2,5 mg/kg, ocorre midríase


e, a 5 mg/kg, ocorrem tremores. Em doses de 10 mg/kg, tremores
graves e ataxia são observados. As mortes ocorreram quando as
Ivermectina
dosagens excederam 40 mg/kg, mas a LD50 é de 80 mg/kg. Em
equinos, doses de 2 mg/kg causaram sinais de deficiência visual,
depressão e ataxia.

Em testes, cães que receberam 55 mg/kg por dia durante 12 dias


Marbofloxacino desenvolveram anorexia, vômitos, desidratação, tremores, pele
vermelha, edema facial, letargia e perda de peso.

A metionina pode ser tóxica para gatos que consomem outros


alimentos nos quais a metionina foi adicionada. Quando a metionina
Metionina foi administrada em gatos adultos a uma dose de 2 g/dia por via oral,
observou-se anorexia, metemoglobinemia, formação de corpo de
Heinz (com anemia hemolítica resultante), ataxia e cianose.

Metoclopramida A DL50 por via oral de metoclopramida em coelhos é 870 mg/kg.

Sinais de intoxicação associados ao metronidazol em cães e gatos


incluem anorexia e/ou vômito, depressão, midríase, nistagmo, ataxia,
inclinação da cabeça, déficits de propriocepção, desorientação,
Metronidazol tremores, convulsões, bradicardia e rigidez. Esses efeitos podem ser
observados em sobredoses agudas, doses acima de 60 mg/kg por dia
em cães, ou em alguns animais em terapia crônica, quando se usam
as doses recomendadas.

Em estudos, beagles toleraram uma dose oral única de 200 mg/kg, e


collies toleraram doses de 10 mg/kg sem adversidade. Doses tóxicas
Milbemicina oxima
podem causar midríase, hipersalivação, letargia, ataxia, pirexia,
convulsões, coma e morte.

Em cães, doses acima de 100 mg/kg geram intoxicação aguda. Já as


Paracetamol
doses acima de 10-40 mg/kg em gatos causam intoxicação aguda.

25
Os sinais clínicos mais predominantes esperados são hipotensão e
bradicardia. Outros efeitos possíveis podem incluir reações do SNC
Propranolol (consciência deprimida a convulsões), broncoespasmo, hipoglicemia,
hipercalemia, depressão respiratória, edema pulmonar, outras
arritmias ou assistolia.

Em dados obtidos, gatos que recebem doses de 50 mg/kg duas vezes


Ronidazol
ao dia têm maior incidência de neurotoxicidade.

Em testes, cães que receberam doses três vezes maiores ao


recomendado apresentaram sinais de diminuição de peso, salivação,
Selegilina
diminuição da resposta pupilar, desidratação, ficaram ofegantes e
com comportamentos estereotípicos.

A sobredose oral é associada a distúrbios gastrointestinais (vômitos,


Tetraciclina anorexia e/ou diarreia), e a sobredose crônica pode levar ao acúmulo
de drogas e nefrotoxicidade.

Sobredoses orais agudas podem causar sinais depressivos do SNC ou


síndrome serotoninérgica. Letargia, midríase, ataxia e vômito são mais
Tramadol
comuns, mas também podem ser observados sinais estimulatórios,
como taquicardia, tremores e vocalização.

Doses muito elevadas podem resultar em diarreia e potencialmente


Vitamina C
urolitíase.

4.4 Interação medicamentosa

Interações medicamentosas ocorrem quando há utilização concomitante de mais de um


medicamento e, devido a isso, é modificado o efeito de ambos os medicamentos ou de apenas
um deles. Essa interação pode reduzir (antagonismo) o efeito de um dos fármacos ou
potencializá-lo (sinergismo), causando efeitos não previstos no tratamento.

4.4.1 Sinergismo

O sinergismo acontece quando o efeito de dois medicamentos ocorre na mesma


direção, o que pode se dar de duas formas:
• Sinergismo por adição: o efeito combinado de dois ou mais medicamentos é igual à
soma dos efeitos isolados de cada um deles.
• Sinergismo por potencialização: o efeito combinado de dois ou mais medicamentos é
maior do que a soma dos efeitos isolados, comumente ocorre quando as substâncias
não atuam pelo mesmo modo de ação e uma potencializa a outra.

26
4.4.2 Antagonismo

A associação entre dois medicamentos também pode causar diminuição ou anulação


completa dos efeitos de um deles, em um fenômeno chamado antagonismo, que pode ser
farmacológico e não farmacológico.
• Antagonismo farmacológico, que se divide em dois tipos:
 Competitivo: quando há competição do agonista e do antagonista pelo mesmo
receptor.
 Não competitivo: quando o antagonista bloqueia algum ponto importante da cadeia
de eventos que levaria à resposta desencadeada pelo agonista.
• Antagonismo não farmacológico, no qual não há envolvimento direto do antagonista
com um receptor. Pode ser classificado em:
 Antagonismo farmacocinético ou disposicional: quando um medicamento reduz
efetivamente a concentração plasmática de outro administrado ao animal.
 Antagonismo fisiológico ou funcional: ocorre quando os agonistas interagem em
receptores independentes (sistemas fisiológicos diferentes), porém acabam
produzindo efeitos opostos que se anulam.

4.4.3 Algumas interações medicamentosas registradas

Na tabela a seguir, são descritas algumas interações medicamentosas.


Ativos Interações
A
Aminoglicosídeos/Cefalosporinas Aumento do risco de nefrotoxicidade
Aminoglicosídeos/Diclofenaco Aumento do risco de nefrotoxicidade
Aminoglicosídeos/Digoxina Redução da absorção da digoxina
Redução da absorção do anti-inflamatório com
Antiácidos/Anti-inflamatórios diminuição de sua eficácia farmacológica
Antiácidos/Digoxina Redução da absorção da digoxina
Antiácidos/Eritromicina e
azitromicina Redução da absorção no intestino
Redução da atividade terapêutica e bloqueio dos efeitos
Anticoagulantes/Vitamina K anticoagulantes
Anticoagulantes/Barbitúricos Redução do efeito do anticoagulante
Anticoagulantes/Rifampicina Redução do efeito do anticoagulante
Anticoagulantes/Carbamazepina Redução do efeito do anticoagulante
Anticoncepcionais Redução da atividade terapêutica e sangramento de
orais/Barbitúricos escape
Redução da atividade terapêutica e sangramento de
Anticoncepcionais orais/Rifampicina escape

27
Anticoncepcionais Redução da atividade terapêutica e sangramento de
orais/Carbamazepina escape
Redução da atividade terapêutica e sangramento de
Anticoncepcionais orais/Fenitoína escape
Anti-hipertensivos/Fenotiazínicos Hipotensão
Anticolinérgicos/Antidepressivos Íleo adinâmico
Amicacina e gentamicina/AINEs Aumento do risco de nefrotoxicidade
Aminoglicosídeos/Digoxina Redução da absorção da digoxina
Bradicardia, parada sinusal e diminuição do débito
Amiodarona/Diltiazem e verapamil cardíaco
Amiodarona/Propranolol e
metoprolol Hipotensão arterial, bradicardia e parada cardíaca
Amiodarona/Lidocaína Convulsão
Amiodarona/Amitriptilina ou
domperidona ou levofloxacino ou
claritromicina Arritmias ventriculares
Amiodarona/Ondansetrona Hipopotassemia, hipomagnesemia e risco de arritmias
Amiodarona/Digoxina Náuseas, êmese e arritmia (toxicidade pela digoxina)
Ampicilina/Doxiciclina Diminuição da eficácia da ampicilina
Anfotericina B/Ciclosporina Aumento do efeito nefrotóxico da ciclosporina
Diminuição do efeito anti-hipertensivo do
Atenolol/ampicilina betabloqueador
Atracúrio/aminoglicosídeos Potencialização dos efeitos do relaxante muscular
B
Barbitúricos/Naloxona Bloqueio da depressão do Sistema Nervoso Central
Barbitúricos/Propranolol Aumento da biodisponibilidade e meia-vida

Benzodiazepínicos/Flumazenil Reversão dos efeitos dos benzodiazepínicos


Butorfanol/Hidromorfona Diminuição da eficácia de ambos os opioides
C
Cefalosporinas/Varfarina Risco hemorrágico
Aumento da atividade antimicrobiana e potencial
Cefalosporinas/Amicacina e
nefrotóxico da cefalosporina pode ser aumentado pela
gentamicina
gentamicina
Aumento dos níveis plasmáticos de ciclosporina em
Cetoconazol/Ciclosporina
quase 40%
Captopril/Trimetoprima Aumento da hiperpotassemia
Risco de disfunção renal e diminuição do efeito anti-
Captopril/AINEs hipertensivo
Prolongamento da meia-vida de ambos os
Cimetidina/Verapamil medicamentos
Prolongamento da meia-vida de ambos os
Cimetidina/Teofilina medicamentos
Ciprofloxacina/Corticosteroides Aumento do risco de ruptura de tendão e tendinite
Redução da absorção da digoxina devido à formação de
Colestiramina/Digoxina complexo com a colestiramina
Corticosteroides/Barbitúricos Redução dos efeitos dos corticosteroides

28
Corticosteroides/Rifampicina Redução dos efeitos dos corticosteroides
Corticosteroides/Carbamazepina Redução dos efeitos dos corticosteroides
Corticosteroides/Fenitoína Redução dos efeitos dos corticosteroides
D
Digoxina/Espironolactona Toxicidade digitálica
E
Risco de disfunção renal e diminuição do efeito anti-
Enalapril/AINEs hipertensivo
Enalapril e Aumento da diurese, aumento do efeito seguido e
captopril/Espironolactona hiperpotassemia grave
Enalapril/Trimetoprima Aumento da hiperpotassemia
Enrofloxacina/Teofilina Redução da concentração plasmática de teofilina
Prolongamento da meia-vida de ambos os
Enrofloxacina/Flunixina meglumina medicamentos
Possível toxicidade devido ao aumento dos efeitos dos
Eritromicina/Corticosteroides corticosteroides
Eritromicina/Varfarina Aumento do efeito anticoagulante
Eritromicina/Alfentanila Aumento dos níveis plasmáticos de alfentanila
F
Fenilbutazona/Anticoagulantes
(orais) Redução do efeito anticoagulante

Fenilbutazona/Varfarina Aumento da concentração plasmática de varfarina


H
Heparina/Captopril e enalapril Hiperpotassemia
Heparina/Nitroglicerina Redução do efeito anticoagulante da heparina
Heparina/Vitamina E Aumento do risco de hemorragias

I
Aumento dos níveis plasmáticos de ciclosporina em
Itraconazol/Ciclosporina quase 40%
L
Lidocaína/Tramadol Aumento do risco de convulsões
Lidocaína/Succinilcolina Apneia prolongada
M
Marbofloxacino/Teofilina Redução da concentração plasmática de teofilina
Medetomidina/atipamazol Reversão dos efeitos sedativos
Meperidina/Cetoprofeno Ação analgésica
Risco de convulsão aumentado, aumento dos efeitos
Metoclopramida/Tramadol sedativos
Metoclopramida/Midazolam Aumento dos efeitos sedativos
Metoclopramida/Morfina Aumento dos efeitos sedativos
Metronidazol/Anticoagulantes Redução dos efeitos anticoagulantes
O

29
Prolongamento da meia-vida de ambos os
Omeprazol/Teofilina medicamentos
Prolongamento da meia-vida de ambos os
Omeprazol/Verapamil medicamentos
P
Penicilinas/Antiácidos Má absorção no sistema gastrointestinal
Penicilinas/Metoclopramida Má absorção no sistema gastrointestinal
Penicilinas/Neomicina Má absorção no sistema gastrointestinal

R
Rifampicina/Anticoagulantes Redução do efeito do anticoagulante
Rifampicina/Corticosteroides Redução dos efeitos dos corticosteroides
Rifampicina/fenitoína Risco aumentado de convulsões
S
Sulfonamidas/Metotrexato Reação tóxica exagerada, hipertireoidismo
Suplementos de
K+/Espironolactona Hiperpotassemia pronunciada
T
Tetraciclina/Antiácidos Diminuição do efeito das tetraciclinas

30
5. FARMACOCINÉTICA

A farmacocinética é o estudo dos processos de absorção, distribuição, biotransformação


e excreção de um medicamento dentro de um organismo vivo. As características
farmacocinéticas de um medicamento em particular determinam sua concentração no plasma.

5.1 Absorção de medicamentos

A absorção é a transferência de um medicamento do seu local de administração para a


corrente sanguínea. Para que ela ocorra, é necessário que o medicamento atravesse as
membranas biológicas independentemente da via de administração.
• Passagem através de membranas celulares: também chamadas de membranas
biológicas, são constituídas de uma camada dupla de lipídios anfipáticos (compostos que
apresentam uma região hidrofílica e uma outra hidrofóbica). Sua característica é a
impermeabilidade à maioria das moléculas polares e a íons e permeabilidade às
moléculas não polares. Dessa forma, as moléculas não polares são capazes de atravessar
a camada lipídica das membranas, já que não se dissolvem em gordura, e, assim,
medicamentos lipossolúveis são absorvidos facilmente por difusão simples, e
medicamentos hidrossolúveis necessitam de outros processos para atravessar as
membranas celulares.

5.2 Mecanismos de absorção

A absorção de medicamentos pode ocorrer por processos passivos, com o uso de


substâncias carreadoras ou por pinocitose e fagocitose, com ou sem gasto de energia.

5.2.1 Processos passivos

Na difusão simples ou passiva, não há gasto de energia, e o medicamento atravessa a


membrana biológica por difusão, movendo-se da região de maior para a de menor
concentração. Na filtração, um mecanismo comum para transporte de substâncias pequenas, o
medicamento atravessa as membranas por meio de canais.

5.2.2 Substâncias carreadoras

Os carreadores transportam moléculas ou íons para o interior da célula. No transporte


que ocorre por difusão facilitada, não há gasto de energia, pois o medicamento move-se através

31
do carreador de acordo com o gradiente de concentração. Um exemplo desse tipo de transporte
é a entrada de glicose nas células.
Já no transporte ativo, o medicamento é movido por transportadores específicos contra
o gradiente de concentração e, dessa forma, há gasto de energia. Como exemplo, podemos
mencionar a glicoproteína P, que transporta uma série de substâncias químicas para fora das
células e impede o acúmulo delas no meio intracelular.

5.2.3 Pinocitose e fagocitose

Nesses processos, há gasto de energia, já que a membrana celular invagina em torno da


molécula e, posteriormente, são formadas vesículas intracelulares que se destacam da
membrana. A fagocitose é a absorção de partículas sólidas, e a pinocitose é a absorção de
partículas líquidas.

5.3 Barreiras corporais

Para que um medicamento alcance seu efeito terapêutico, é necessário que o mesmo
alcance o órgão-alvo em uma concentração satisfatória. Para tanto, algumas barreiras biológicas
devem ser ultrapassadas para que o medicamento seja transportado até o seu local de ação.

5.3.1 Barreiras tissulares corporais

• Trato gastrointestinal: para que um medicamento seja absorvido nesse sistema, é


necessário que ele seja solúvel nas membranas celulares, já que o trato gastrointestinal
é revestido por células epiteliais muito unidas umas às outras (bloqueio dos espaços
intercelulares), impedindo que o medicamento passe entre elas.
• Barreiras epiteliais de pele, córnea e bexiga: as células dessas barreiras também se
apresentam muito unidas umas às outras, mas a pele intacta permite a passagem de
substâncias lipossolúveis pequenas, por meio da difusão.
• Barreira hematoencefálica: a barreira hematoencefálica impede que substâncias
polares ou de peso molecular elevado penetrem no SNC, uma vez que é formada por
paredes contínuas de capilares, com poucas vesículas de pinocitose, associadas a células
endoteliais, estreitamente unidas.
• Barreira hematotesticular: é composta pelas células de Sertoli, as quais funcionam
como uma barreira que separa a lâmina germinativa basal do lúmen do túbulo
seminífero no interior do testículo.

32
• Barreira placentária: a estrutura anatômica da placenta varia conforme as espécies
animais em níveis macro e microscópicos, e essas diferenças se refletem nos
mecanismos de troca de substâncias. A classificação das placentas são: endocorial
(carnívoros), hemocorial (primatas e roedores) e epiteliocorial (ruminantes, suínos e
equinos). Nesta última, existem camadas tissulares espessas que impedem a passagem
de anticorpos maternos para o feto, explicando o fato de que o colostro é extremamente
importante para esses animais. A transferência de substâncias químicas de baixo peso
molecular e lipossolúveis pela barreira placentária pode ocorrer por difusão simples,
facilitada, transporte ativo ou até mesmo pinocitose.

5.3.2 Barreiras capilares

• Capilares com máculas: encontrados em grande parte do organismo (em músculos,


vísceras, ossos, entre outros), permitem que substâncias não ligadas a proteínas
plasmáticas possam sair de seu interior e alcançar o espaço extracelular devido a zonas
frouxas nas junções intercelulares.
• Capilares fenestrados: encontrados em órgãos excretores e secretores (glomérulos
renais e glândulas salivares, pancreática e hipofisária). Nestes, as fenestrações entre as
células permitem a passagem de substâncias químicas não ligadas a proteínas
plasmáticas.
• Capilares com bloqueio completo: apresentam os espaços intercelulares
completamente ocluídos, deste modo, a passagem de substâncias químicas para o
espaço extracelular deve ser feita pelo interior das células epiteliais. Exemplo desse caso
é a barreira hematoencefálica.

5.4 Vias de administração de medicamentos

As propriedades do medicamento (características físico-químicas) e os objetivos


terapêuticos (p. ex., necessidade de um início rápido de ação, necessidade de tratamento por
longo tempo, necessidade de efeito sistêmico ou localizado) determinam a via de administração
a ser escolhida. São relacionadas a seguir as principais vias de administração de medicamentos
comumente utilizadas em Medicina Veterinária.

5.4.1 Vias digestivas

33
Para que um medicamento seja absorvido pelas vias digestivas, é necessário que ele seja
liberado da sua forma farmacêutica e que tenha a capacidade de atravessar as barreiras
celulares do sistema gastrointestinal. As vias digestivas são: oral, sublingual, retal e ruminal.
• Via oral: mais segura que outras vias, porém, deve-se considerar a variação entre as
espécies na biodisponibilidade oral. Formas farmacêuticas disponíveis por essa via
incluem soluções, líquidos, suspensões, géis, pastas, cápsulas, tabletes, bólus ruminal,
pós e grânulos para a adição no alimento, pós solúveis para adição na água de bebida e
premix, adicionado no alimento.
 Preparações revestidas (entéricas): o revestimento entérico, também conhecido
como gastrorresistente, é uma técnica utilizada para proteger o medicamento do
ácido gástrico e liberando-o apenas no intestino, onde ocorre sua dissolução e
liberação. Esse revestimento é muito utilizado para medicamentos que são instáveis
em meios ácidos (p. ex., omeprazol) e para medicamentos irritantes ao estômago (p.
ex., ácido acetilsalicílico).
 Preparações de liberação prolongada: medicamentos com essa ação têm
revestimentos ou substâncias especiais que controlam sua liberação e permite,
assim, uma absorção mais lenta e uma duração de ação mais longa do efeito. Essas
preparações podem ser administradas com menor frequência, facilitando o manejo
do animal.

Efeito da primeira passagem


Fenômeno no qual o medicamento absorvido no sistema gastrointestinal tem sua
concentração significantemente reduzida pelo fígado (veia porta) antes de atingir a circulação
sistêmica. Apesar de esse efeito ocorrer em todas as espécies animais, ele é maior nos
herbívoros do que em onívoros e carnívoros, pois os herbívoros apresentam maior capacidade
de biotransformação de substâncias químicas.

• Via sublingual: essa via permite uma absorção rápida de pequenas doses de alguns
medicamentos, devido à vasta vascularização sanguínea e à pouca espessura da mucosa
sublingual, o que possibilita a absorção direta na corrente sanguínea. Além disso,
proporciona a retenção do fármaco por tempo mais prolongado.
• Via retal: por essa via, o medicamento absorvido sofre efeito de primeira passagem de
forma parcial, uma vez que não passa pela veia porta, e segue para sua distribuição no
organismo. Sua utilização é restrita em Medicina Veterinária, já que possui

34
desvantagens na absorção (irregular e incompleta) e pode ocorrer irritação da mucosa
retal. Um exemplo de prescrição é de diazepam para felinos que sofrem de epilepsia.
• Via ruminal: restrita a medicamentos que agem no rúmen, como é o caso dos anti-
helmínticos, administrados diretamente no rúmen com uso de aplicador e agulha
específicos.

5.4.2 Vias parenterais

As vias parenterais mais comuns incluem a intravenosa, a intramuscular e a subcutânea.


• Via intravenosa: via parenteral mais comum para administração de medicamentos,
sendo útil para aqueles que não podem ser absorvidos pela via oral. Em cães e gatos,
as veias mais utilizadas são a radial, a femoral e a tarsal recorrente. Em animais de
grande porte, utiliza-se a veia jugular e, em suínos, utiliza-se a veia marginal da orelha e
a cava cranial.
• Via intramuscular: trata-se de uma via muito empregada em Medicina Veterinária, em
que a substância é injetada no músculo esquelético na forma de soluções oleosas ou
suspensões. Deve-se considerar que o local de administração da medicação pela via
intramuscular pode afetar a concentração plasmática e a biodisponibilidade.
• Via subcutânea: a absorção dos medicamentos ocorre por difusão, atravessando poros
e fenestrações entre as células do endotélio dos capilares vasculares e dos vasos
linfáticos. Para que se obtenha um efeito mais prolongado, pode-se empregar o
medicamento em formas insolúveis ou em pellets, com liberação lenta.

Outras administrações parenterais

Outras vias parenterais são utilizadas com menor frequência e com


finalidades específicas. Algumas dessas vias são as seguintes:
 Intradermal: utilizada para diagnóstico, sendo os exemplos mais comuns o teste da
tuberculina e os testes de alergia.
 Intraperitoneal: essa via tem grande superfície de absorção e, por esse motivo, é
utilizada quando se necessita administrar grandes volumes de solução. Um exemplo
dela é a diálise peritoneal.
 Intracardíaca: utilizada para eutanásia em animais de laboratório.
 Intratecal: tem uso limitado ao diagnóstico radiológico e envolve a administração de
medicamentos através das membranas que revestem o SNC.
 Epidural: utilizada para anestesias em cirurgias abdominais.

35
 Intra-articular: utilizada em casos em que se deseja causar efeito anti-inflamatório
de forma local, em determinadas articulações.

5.4.3 Vias transmucosas ou tópicas

Vias tópicas são utilizadas para obter efeito terapêutico localizado, isto é, não sistêmico.
É considerada uma via muito segura, mas podem ocorrer casos de intoxicação quando o
medicamento é absorvido mesmo através da pele íntegra. Deve-se considerar, ainda, que a pele
dos animais varia conforme a espécie e também conforme a região onde o medicamento é
aplicado.
• Via transdérmica: nessa via, os medicamentos são liberados continuamente, mantendo
uma concentração plasmática desejável para uma duração específica. Essa via pode ser
utilizada para administração de medicamentos de ação mais local, como anti-
inflamatórios não esteroidais (AINEs), ou até medicamentos antidepressivos e
corticosteroides. Após a aplicação e absorção cutânea, o medicamento atinge regiões
mais profundas ou mesmo a corrente sanguínea, para uma ação sistêmica.
• Pour-on ou spot-on: na forma pour-on, o medicamento é aplicado sobre o dorso do
animal e, na forma spot-on, na cernelha do animal. Essa via é utilizada principalmente
para controle de ectoparasitas, tanto em pequenos como em grandes animais. O
medicamento se espalha sobre a camada de gordura existente sobre a epiderme dos
animais e, assim, age por toda a superfície corporal.
• Via inalatória: via restrita a utilização para anestesia inalatória.

Tabela 1: Comparação entre as principais vias utilizadas em Medicina Veterinária.

VIA DE
VANTAGENS DESVANTAGENS
ADMINISTRAÇÃO
Segurança
Alimentos podem interferir na
Economia
absorção
Oral Diversas formas farmacêuticas
Efeito de primeira passagem
disponíveis
Necessária adesão do paciente
Facilidade na administração
Imprópria para substâncias
Rápida absorção de substâncias
Sublingual irritantes ou de sabores
hidrossolúveis
desagradáveis

36
Redução de biotransformação do
princípio ativo no fígado, já que atinge
diretamente a circulação sistêmica
Evita parcialmente o efeito de
primeira passagem Irritação na mucosa retal
Retal
Evita a inativação do medicamento Não aceitação do paciente
pela acidez gástrica
Permite a administração de altas
Riscos de embolias e infecções
doses
por contaminação
Obtenção rápida de efeitos
Impróprias para substâncias
Intravenosa farmacológicos
oleosas
Ideal para situações de emergência
A maioria das substâncias deve
Possibilita melhor controle de dose
ser injetada lentamente
administrada
Dor e aparecimento de lesões
Absorção relativamente rápida musculares
Intramuscular Adequada para veículos oleosos e Deposição errática do
certas substâncias irritantes medicamento no tecido
adiposo ou nos planos fasciais
Facilidade de produzir
Apropriada para medicamentos que
sensibilização
Subcutânea precisam ser absorvidos lenta e
Dor e necrose quando
continuamente
utilizadas substâncias irritantes
Alguns pacientes podem ser
Indolor alérgicos
Evita o efeito de primeira passagem Limitação de fármacos, já que
Transdérmica
Aumento da adesão do paciente ao nem todos os ativos que
tratamento podem ser manipulados nessa
forma

5.5 Biodisponibilidade de medicamentos

A biodisponibilidade refere-se à quantidade de um medicamento disponível no


organismo quando administrado em sua forma farmacêutica, ou seja, à quantidade da
substância que atinge a circulação quando é absorvida. Assim, a biodisponibilidade de um

37
medicamento é analisada pela medida de fármaco que chega à corrente sanguínea e pela
velocidade com que isso ocorre.
Informações sobre biodisponibilidade são utilizadas para determinar a quantidade de
um fármaco absorvido a partir de uma determinada forma farmacêutica; a velocidade de
absorção do medicamento; a permanência da substância no organismo; a correlação com as
respostas farmacológicas e/ou tóxicas; a posologia e identificação da melhor forma
farmacêutica para determinado princípio ativo.
Deve-se considerar que medicamentos com administração intravenosa estão 100%
biodisponíveis para atuar no organismo. Já as substâncias administradas por via intramuscular
ou por via oral, por exemplo, nunca estarão disponíveis 100%, já que necessitam de um percurso
maior (diversas barreiras biológicas) até chegar à corrente sanguínea.

5.5.1 Distribuição de medicamentos

Quando absorvido, um medicamento chega ao sangue e posteriormente distribui-se


para seu local de ação, ou seja, a distribuição de um medicamento é sua passagem da corrente
sanguínea para os tecidos. Essa passagem ocorre por meio de difusão, o medicamento sai da
corrente sanguínea por meio das membranas celulares dos capilares, por poros ou fenestrações
das paredes. Primeiramente, o medicamento passa nos órgãos que possuem maior
vascularização (rins, fígado, coração etc.), e após se distribui para os outros tecidos (tecido
adiposo, epitelial, cartilaginoso etc.).

5.5.2 Biotransformação

A biotransformação consiste na transformação química de substâncias (medicamentos


ou agentes tóxicos) para facilitar sua posterior eliminação. Esse processo transforma a
substância em um composto mais hidrossolúvel, além de também resultar na inativação
farmacológica do medicamento.
Substâncias absorvidas no trato gastrointestinal são biotransformadas no fígado para
que então alcancem o restante do organismo, porém, esse não é o único local de
biotransformação, já que outros órgãos e tecidos também possuem enzimas para tal finalidade.
A biotransformação ocorre em duas fases, sendo que a primeira está relacionada a
etapas de oxidação, redução e hidrólise do medicamento e a segunda é relacionada com a
conjugação do medicamento (ou seu metabólito) a um substrato endógeno (ácido glicurônico,
radicais sulfatos, acetatos, aminoácidos).

5.5.3 Excreção

38
Após sua biotransformação ou até mesmo na forma inalterada, o medicamento é
removido do organismo pela excreção. Os principais sítios de excreção de medicamentos são os
rins, nos quais ocorre o principal processo de eliminação de medicamentos; o fígado, que pode
excretar os medicamentos pela bile; e os pulmões, onde ocorre a excreção de medicamentos
voláteis.

39
6. FLUIDOTERAPIA

A fluidoterapia corresponde à forma de reposição e de recuperação do volume dos


compostos líquidos corporais. Essa também é uma importante via de acesso para administração
de medicamentos para pacientes em pré, trans e pós-operatório ou que necessitam de
observação especial.
A via intravenosa é a mais utilizada na fluidoterapia por garantir uma reposição precisa
e com maior controle, principalmente para animais com grave nível de desidratação ou com
perda aguda de fluidos. Para administração, as veias de acesso comum são as cefálicas, jugulares
e safenas, mas outras podem ser acessadas em casos isolados. Outras vias de administração
incluem a intraóssea, utilizada quando não é possível o acesso venoso ou ainda em pacientes
muito jovens. Além delas, há a via subcutânea, porém a absorção de fluido é mais limitada no
espaço subcutâneo, não sendo recomendada em animais muito desidratados. Por fim, a via oral
pode ser utilizada em animais que não estejam com náuseas ou vomitando.

6.1 Tipos de desidratação

O tipo de desidratação que acomete o paciente depende da tonicidade do líquido que


permanece no organismo. Dessa forma, há três tipos de desidratação:
• Isotônica: nessa desidratação, ocorre perda de líquido isotônico, não ocorre passagem
de líquido do fluido extracelular para o intracelular.
• Hipotônica: nesse tipo de desidratação, há perda de líquido hipertônico do meio
extracelular, que recebe fluido do meio intracelular para compensação fisiológica. Como
consequência, há uma desidratação grave no nível intracelular.
• Hipertônica: nesse tipo de desidratação, há perda de líquido hipotônico, isto é, troca de
água do meio extracelular para o meio intracelular, já que este último apresenta maior
potencial osmótico.
Tabela 2: Parâmetros laboratoriais encontrados em animais desidratados

Tipo de Concentração de Proteína plasmática Volume globular


desidratação sódio total (hematócrito)
Isotônica sem alteração sem alteração sem alteração
Hipotônica aumenta aumenta (pouco) aumenta (pouco)
Hipertônica diminui aumenta aumenta

6.2 Fluidos

40
Na rotina veterinária são utilizados diversos fluidos, porém os mais comuns são os
coloidais e os cristaloides. Nessa terapia, é importante selecionar os fluidos que se concentram
no compartimento corporal onde há carência de volume. Os líquidos administrados são
divididos em duas categorias: cristaloides e coloides.

6.2.1 Cristaloides

Fluidos cristaloides são soluções aquosas com moléculas — principalmente eletrólitos e


tampões — permeáveis à membrana capilar, que podem se classificar como fluidos de reposição
e fluidos de manutenção.
• Fluidos de reposição podem ser acidificantes ou alcalinizantes e têm osmolaridade
semelhante à do plasma, como exemplos temos as soluções de Ringer (normal e com
precursores de bicarbonato) e a solução de NaCl a 0,9%.
 Fluidos de reposição alcalinizantes, como Ringer acetato, Ringer lactato e Ringer
gluconato, são indicados para pacientes em choque, com traumatismos,
apresentando vômito e diarreia, enfermidades metabólicas diversas, doença renal,
síndrome da dilatação vólvulo-gástrica, entre outros.
 Fluidos acidificantes, como solução salina isotônica e solução de Ringer, têm
indicação para pacientes com alcalose metabólica.
• Fluidos de manutenção são soluções que complementam a exigência eletrolítica em
pacientes descompensados. No geral, esses fluidos são compostos pela adição de outros
eletrólitos em uma formulação existente (p. ex.: solução salina adicionada de cloreto de
potássio).
A escolha do cristaloide a ser administrado se dá por medidas ou estimativa das
concentrações de sódio e potássio e pela osmolaridade tanto do soro do animal quanto do fluido
a ser fornecido.

6.2.2 Coloides

Coloides são soluções aquosas com alto peso molecular que não conseguem atravessar
a membrana capilar, permanecendo no espaço intravascular (EIV). Considera-se que os coloides
sejam fluidos para reposição de volume intravascular e os cristaloides, soluções para reposição
de volume intersticial.
Os coloides de uso clínico são denominados de expansores plasmáticos, utilizados
quando há necessidade de se aumentar de forma rápida o volume intravascular. Seu uso é
efetivo principalmente em casos de atropelamentos, em que o paciente se encontra

41
politraumatizado e hipovolêmico; casos de queimaduras extensas; pacientes hipovolêmicos e
com edema cerebral e/ou pulmonar; pacientes em choque. Existem os coloides naturais (p. ex.
plasma, albumina ou sangue total) e os sintéticos (p. ex. dextrana, hidroxietilamido (HEA) e
hemoglobina livre de estroma).

Tabela 2: Tipos de fluidos e aditivos

Ocorrência Distúrbio Solução


Vômito Alcalose Solução fisiológica a 0,9% ou Ringer
Ringer lactato ou solução fisiológica a
Diarreia Acidose 0,9% + bicarbonato
Ringer lactato ou solução fisiológica a
Vômito + diarreia Acidose 0,9% + bicarbonato
Solução fisiológica a 0,9% +
Hepatopatia Acidose bicarbonato. Solução glicofisiológica
Ringer lactato
Nefropatia Hipernatremia Solução fisiológica a 0,45% + solução
glicosada a 2,5%.
Ringer lactato ou solução fisiológica a
Acidose
0,9% + bicarbonato
Solução fisiológica 0,45% + solução
Cardiopatia Hipernatremia
glicosada a 2,5%
Ringer lactato ou solução fisiológica a
Acidose
0,9% + bicarbonato
Ringer lactato ou solução fisiológica a
Choque Acidose
0,9% + bicarbonato
Ringer lactato ou solução glicosada a
Anorexia + pouca desidratação
5%
Suplementar K se mantido por vários
dias em fluidoterapia

6.3 Monitoramento da fluidoterapia

Todos os animais que recebem fluidos devem ser monitorados por meio de exame físico,
avaliação da hidratação e do peso corporal, pelo menos duas vezes ao dia. A administração
excessiva de cristaloides pode se manifestar em uma série de sinais clínicos. Alguns dos sinais
mais comuns são aumento da frequência e esforço respiratórios, secreção serosa nas narinas,
quemose, distensão ou pulsações das veias jugulares, tremores, edema, hipertensão (> 140 a
150 mmHg), aumento da pressão venosa central (PVC) (> 8 a 10 cm H2O), aumento significativo
do peso corporal (> 12 a 15%) e diminuição rápida e/ou dramática no VG e sólidos totais.

42
6.4 Cálculo de fluidoterapia (VIANA et al., 2006)

1. Determinação da necessidade basal de líquidos:

Adultos Filhotes Neonatos e lactantes


Carnívoros 40-50 mL/kg/dia 70 mL/kg/dia 150 mL/kg/dia
Equídeos 30-60 mL/kg/dia
Ruminantes 50-80 mL/kg/dia 50-100 mL/kg/dia

2. Determinação da necessidade de reposição em função da desidratação:


Peso (kg) x % desidratação x 10

Parâmetros clínicos para o cálculo da porcentagem de desidratação:

% de desidratação Sinais clínicos associados


4% Apenas histórico de adipsia
5-6% Urina concentrada, apatia, redução da elasticidade cutânea e mucosas
parcialmente ressecadas.
8% Redução da elasticidade cutânea, mucosas secas e viscosas, retração do
bulbo ocular, oligúria e TRC > 3 segundos
10-12% Todos os sinais anteriores acrescidos de pulso rápido e fraco e contrações
involuntárias
12-15% Choque e óbito

3. Determinação das perdas hídricas contínuas:


Vômito = 40 mL/kg/dia
Diarreia = 50 mL/kg/dia
Ambos = 60 mL/kg/dia

4. Cálculo do volume final e da velocidade de infusão:

A soma das três etapas anteriores é a quantidade total de líquido que deve ser
administrado durante 24 horas, devendo ser recalculado diariamente.
A velocidade de infusão depende principalmente da gravidade do quadro clínico. A
seguir, está descrito o limite de infusão endovenosa para as diferentes espécies.
Caninos: 60-80 (90) mL/kg/h
Felinos: 50-55 mL/kg/h
Bovinos adultos: 10-20 mL/kg/h
Bezerros: 40-50 mL/kg/h

43
Equídeos: 10-20 mL/kg/h
É recomendado que a taxa de infusão seja diminuída após as primeiras horas de
fluidoterapia, a fim de evitar sobrecarga hídrica e outras possíveis complicações.
A quantidade de fluido , em mililitros por minuto (um mililitro tem em torno de
24 gotas), é dada pela divisão do volume total de fluido pelo tempo de infusão.
Exemplo
Fluidoterapia para um cão macho, sem raça definida, com dois anos de idade e pesando
8,5 kg. Como sinais clínicos, o animal apresenta quadro de gastroenterite hemorrágica com
vômitos e diarreia. O grau de desidratação considerado para esse paciente foi de 6%.
1. Determinar a necessidade basal de líquidos
8,5 x 50 = 425 mL
2. Determinar a necessidade de reposição em função da desidratação
8,5 x 6 x 10 = 510 mL
3. Determinar as perdas hídricas contínuas
8,5 x 60 = 510 mL
4. Calcular o volume final e a velocidade de infusão
Volume total: 425 + 510 + 510 = 1.445 mL/dia

Limite de infusão = 60 mL/kg/hora


Para esse paciente: 60 x 8,5 = 510 mL/hora, recomendando-se baixar para 85 mL/hora após as
primeiras horas de hidratação.
Supondo-se que o animal ficará sob infusão contínua por 24 horas (1.440 minutos):
1.445 mL/1.440 minutos = 1 mL/minuto (aproximadamente 24 gotas/minuto).

44
7. MANIPULAÇÃO VETERINÁRIA

Apesar de não ser um assunto muito abordado durante a graduação em Medicina


Veterinária, a manipulação de medicamentos veterinários é um segmento que está em
constante crescimento. Este capítulo apresenta uma abordagem relacionada à atividade
magistral, a suas características e a alguns métodos terapêuticos que são pouco conhecidos,
porém muito interessantes.
Para que a atividade magistral seja bem compreendida, é necessário o conhecimento
dos principais conceitos sobre manipulação e suas terminologias.
• Manipulação: método de preparo de medicamentos personalizados, visando atender as
necessidades específicas, e às vezes únicas, do médico veterinário prescritor e do
paciente.
• Preparação magistral: formulação preparada na farmácia magistral para um
determinado indivíduo. É feita a partir de uma prescrição de profissional habilitado, que
estabelece em detalhes sua composição, forma farmacêutica, posologia e modo de usar.
• Preparação: procedimento farmacotécnico destinado à obtenção do produto final
manipulado. Abrange desde a avaliação da prescrição (por um farmacêutico), a
manipulação, o fracionamento de substâncias, o envase, a rotulagem e a conservação
das preparações.
• Dispensação: ato de fornecer o medicamento ao consumidor, de acordo com a receita
veterinária.
• Medicamento: produto farmacêutico elaborado com finalidade profilática, curativa ou
paliativa.

7.1 Formulações farmacêuticas

As formulações, também conhecidas como fórmulas farmacêuticas, são elaboradas


tendo em vista a maior facilidade na hora da administração dos medicamentos para os animais.
Muito comuns na prática magistral, em que o médico veterinário elabora uma fórmula para seu
paciente, elas podem ser feitas com ativos de forma isolada ou associações, visando alcançar
seus objetivos terapêuticos.
Na elaboração de uma fórmula farmacêutica, é importante que o médico veterinário
tenha conhecimentos sobre farmacotécnica, como a estabilidade dos ativos utilizados,
apresentações, interações medicamentosas, toxicidade, dentre outros fatores importantes.
Uma formulação é constituída por:

45
• Princípio ativo: substância principal da fórmula que possui finalidade terapêutica. As
formulações podem ter mais de um princípio ativo.
• Adjuvantes: substâncias que auxiliam a preparação da fórmula farmacêutica (por
exemplo: conservantes, estabilizantes, diluentes, desagregantes, aglutinantes etc.),
essas substâncias devem ser inócuas para não prejudicar a eficácia terapêutica do
medicamento.
• Corretivos: substâncias adicionadas em formulações orais para tornar o medicamento
mais agradável. Alguns exemplos são os edulcorantes, que corrigem o sabor, e os
flavorizantes, que corrigem o sabor e o odor.
• Veículo ou excipiente: meio no qual o princípio ativo é colocado para que seja
completado o volume ou a massa do medicamento, sendo o termo veículo empregado
para líquidos, e o termo excipientes, para sólidos. É utilizada a abreviatura q.s.p.
(quantum sufficit para = quantidade suficiente para) que se refere à quantidade que
deve ser acrescentada.
Exemplo de formulação:
Pimobendan...............0,1-0,3 mg/kg/cápsula
Benazepril................0,25-0,5 mg/kg/cápsula
Cápsulas...........................q.s.p. 30 unidades
Modo de usar: Administrar uma cápsula por V.O., a cada 12 horas.

7.2 Formas farmacêuticas disponíveis na manipulação

De acordo com a Resolução RDC n. 31, de 11 de agosto de 2010, da Agência Nacional de


Vigilância Sanitária (Anvisa), forma farmacêutica é o “estado final de apresentação dos princípios
ativos farmacêuticos após uma ou mais operações farmacêuticas executadas com ou sem adição
de excipientes apropriados, a fim de facilitar a sua utilização e obter o efeito terapêutico
desejado, com características apropriadas a uma determinada via de administração”, ou seja, é
o modo de apresentação final do medicamento.
Conforme essas informações, o prescritor tem como optar pela forma farmacêutica que
seja mais adequada às características do princípio ativo e ao paciente.

7.3 Formas farmacêuticas disponíveis na manipulação veterinária

As formulações magistrais para uso veterinário são classificadas de acordo com a via de
administração:

7.3.1 Formas farmacêuticas de uso oral

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Dentre as formas farmacêuticas sólidas, as cápsulas, os biscoitos e as pastas orais são as
mais utilizadas e se caracterizam por serem mais estáveis que as formas líquidas e, assim, são
preferidas para utilização com princípios ativos pouco estáveis.
• Cápsula
As cápsulas têm tamanhos diferentes que variam conforme a dose total necessária do
medicamento, ou seja, um medicamento com dose baixa pode ser colocado em uma cápsula
pequena. É importante que elas sejam incolores, a fim de minimizar possíveis riscos de alergias.
Essa forma farmacêutica conta ainda com as cápsulas gastrorresistentes, também
conhecidas como cápsulas entéricas, que são destinadas a medicamentos que necessitam
passar intactas pelo suco gástrico para que ocorra a liberação apenas no intestino. Outra
possibilidade é a de manipular medicamentos fotossensíveis em cápsulas opacas.
Veja um exemplo de prescrição magistral de cápsulas:

47
• Biscoito medicamentoso

Os biscoitos medicamentosos são uma forma farmacêutica sólida, geralmente


elaborados a partir de ração. Podem ser manipulados em diversos tamanhos e formatos, com
um ou mais princípios ativos, além de contar com flavorizantes disponíveis em diversos sabores
que auxiliam na melhor adesão ao tratamento. O flavorizante torna o medicamento muito mais
agradável, permitindo que o animal identifique cheiros e gostos, e mascara o sabor residual
característico de muitos medicamentos.
Veja um exemplo de prescrição magistral de biscoitos medicamentosos:

48
• Pasta oral

A pasta oral é destinada principalmente para os felinos e pode ser aplicada diretamente
na boca do animal ou nas patas, pois os gatos, ao se lamberem, ingerem o medicamento. Mas
ela também pode ser feita para cães e equinos (booster). Assim como ocorre com os biscoitos,
essa forma farmacêutica contém flavorizantes para facilitar a adesão dos animais ao tratamento.
O cálculo de uma prescrição de pasta oral é feito por dose, ou seja, se o animal tem 5 kg
e o médico veterinário deseja prescrever 5 mg/kg de itraconazol, cada dose administrada terá
25 mg de itraconazol.
Veja um exemplo de prescrição magistral de pasta oral:

49
• Suspensão oral

A forma líquida garante facilidade na deglutição, podendo ser utilizada para diversos
medicamentos. A suspensão é composta pelas fases líquida e sólida, devendo ser agitada para
que as partículas sólidas, insolúveis no líquido, sejam suspensas. A adição de flavorizantes
permite a correção do sabor, principalmente para fármacos amargos.
Outra vantagem dessa forma farmacêutica é a possibilidade de prescrição para animais
diabéticos, já que o veículo pode ser manipulado à base de edulcorantes em vez de açúcares.
Além disso, outra possibilidade interessante é a escolha do sabor de preferência do animal,
tornando a forma farmacêutica ainda mais atrativa.
Veja um exemplo de prescrição magistral de suspensão oral:

50
• Filme oral

O filme oral é uma forma farmacêutica que pode agir de forma local ou sistêmica,
liberando rapidamente os princípios ativos de sua formulação. Por ser um polímero solúvel em
água, hidrata-se e dilui-se rapidamente quando em contato com a cavidade oral, sem que haja
necessidade de ingerir água após a administração. Essa forma farmacêutica é limitada a
princípios ativos potentes empregados em doses baixas.
Veja um exemplo de prescrição magistral de filme oral:

51
• Xarope

Forma farmacêutica líquida e doce, que forma uma solução hipertônica. Dentre suas
vantagens, estão a boa conservação e a possibilidade de mascarar sabores desagradáveis de
alguns medicamentos amargos.

• Pós com sabor

Pó é uma forma farmacêutica finamente dividida e seca, preferida para pacientes com
dificuldade de deglutição. O tamanho das partículas contidas nos pós medicamentosos
influencia diretamente na biodisponibilidade do medicamento, contribuindo com a velocidade
de solubilização em água no trato gastrointestinal.

• Sachê

Forma farmacêutica em pó destinada à administração de doses individuais.

7.3.2 Formas farmacêuticas de uso tópico

Entre as formas farmacêuticas de uso tópico, estão as formas cosméticas e de uso


dermatológico (tratamento, limpeza e embelezamento) e as formas transdérmicas (tratamento
de afecções sistêmicas).

• Formas cosméticas

As formas cosméticas são preparações farmacêuticas com a característica de ter o


medicamento dissolvido em veículos, os quais podem ser aquoso, oleoso, hidroalcoólico,
glicerinado, entre outros. Entre as formulações tópicas mais comuns estão as pomadas, cremes,
géis, xampus e soluções tópicas (p. ex. spray). Assim como nos xampus, nessas formas
farmacêuticas também podem ser incluídos princípios ativos em associação. Outras formas
cosméticas incluem ainda o spot-on e o pour-on, aplicados no pelo ou pele sobre a cernelha ou
o pescoço dos animais.
 Pomada: forma semissólida utilizada para aplicação na pele ou nas mucosas, onde
amolecem à temperatura corporal. São utilizadas para tratamentos dermatológicos
localizados ou próximos ao sítio de aplicação.
Veja um exemplo de prescrição magistral de pomada:

52
 Creme: forma semissólida destinada ao uso externo, que pode conter um ou mais
princípios ativos dissolvidos ou emulsionados em uma base adequada.
Veja um exemplo de prescrição magistral de creme:

53
 Géis: forma semissólida de aspecto translúcido constituída de soluções ou
dispersões de partículas ou grandes moléculas em bases hidrofílicas ou
hidrofóbicas (dispersão sólida em fase líquida).
Veja um exemplo de prescrição magistral de gel:

54
 Soluções tópicas: destinadas à aplicação tópica, geralmente aquosas, podendo
conter álcoois ou outros solventes orgânicos com ou sem princípios ativos
incorporados, também podem ser conhecidas como “loções”.
Veja um exemplo de prescrição magistral de solução tópica (spray):

55
 Xampu: a manipulação de xampus medicamentosos é muito comum na farmácia
magistral. Essa forma farmacêutica é considerada interessante, pois podem ser
associados a ela diversos princípios ativos que têm ação local e outras substâncias
com ação hidratante e emoliente, que melhoram a eficácia terapêutica. Também é
possível a manipulação de xampus hipoalergênicos, que são formulados sem

56
ingredientes que causam irritações na pele de cães alérgicos, como parabenos e
essências.
Veja um exemplo de prescrição magistral de xampu:

57
• Gel transdérmico

Nessa forma farmacêutica, podem ser manipulados diversos medicamentos que têm
absorção transdérmica, desde os ativos de ação local, como também AINEs, antidepressivos e
corticoides. Os medicamentos são liberados de forma contínua e, após a absorção cutânea,
podem causar efeitos sistêmicos.
Para a administração de medicamentos por essa via, são necessários alguns
conhecimentos quanto aos fatores de passagem na barreira cutânea, como a absorção
transcutânea, o sítio de ação do medicamento, a estabilidade e as doses indicadas.
Normalmente recomenda-se a aplicação em áreas de pouco pelo e onde o animal não alcance
facilmente, como os lóbulos de orelha e o dorso. É importante ressaltar que o tutor deve usar
luvas na hora da aplicação do medicamento no animal, impedindo assim a absorção pela pele
humana.
Veja um exemplo de prescrição magistral de gel transdérmico:

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EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO – 2

1) Prescrever uma receita magistral para um gato de 3 kg que necessita de cetoconazol


(10 mg/kg/S.I.D./V.O. por 24 dias. Forma farmacêutica: pasta oral.

2) Prescrever uma receita magistral para um cão de 9,5 kg que necessita de doxiciclina
(8 mg/kg/S.I.D./V.O. por 30 dias). Forma farmacêutica: biscoitos.

3) Prescrever uma receita magistral para um cão de 23 kg que necessita de uma


formulação contendo benazepril (0,4 mg/kg/B.I.D./V.O.) e pimobendan
(0,2 mg/kg/B.I.D./V.O.), uso contínuo. Forma farmacêutica: cápsulas.

4) Prescrever uma receita magistral para um gato de 4,2 kg que necessita de tramadol
(3 mg/kg/T.I.D/V.O., durante 3 dias). Forma farmacêutica: cápsulas.

59
7.4 Vantagens da manipulação de medicamentos na Medicina Veterinária

São muitas as vantagens encontradas quando um medicamento é manipulado de acordo


com as características do paciente. Abaixo são citados alguns desses benefícios:

7.4.1 Versatilidade das doses

A versatilidade das doses é uma das principais vantagens da manipulação de


medicamentos veterinários, que permite atender às especificidades e às doses necessárias para
as diversas espécies, dentre elas: cães, gatos, equinos, e animais silvestres e exóticos.
Outro ponto importante é que, como é manipulada a dose adequada de acordo com a
particularidade terapêutica do paciente, não há mais necessidade de partição de comprimidos,
comum em medicamentos comerciais. Esse procedimento, muitas vezes, faz com que se tenha
partes desiguais e uma consequente variação de dose entre elas, podendo ser em concentração
maior ou menor do que o realmente necessário ao animal. De fato, diversos medicamentos
comerciais de interesse não estão disponíveis no mercado em concentrações veterinárias.

7.4.2 Escolha da forma farmacêutica

A manipulação permite a escolha da forma farmacêutica mais adequada à via de


administração escolhida ou às condições específicas do paciente. Ela também torna possível a
escolha do veículo ou do excipiente para pacientes com restrições ou sensíveis a determinados
ingredientes presentes nas formulações.
Outro fator diferencial é a palatabilidade apresentada pelas formas farmacêuticas com
flavorizantes, que mascaram sabores indesejáveis, melhorando a adesão ao tratamento.

7.4.3 Associação de princípios ativos

A associação entre princípios ativos em uma mesma forma farmacêutica é desejável em


diversas condições clínicas, pelo efeito que tais ativos podem ter, mas também por melhorar a
adesão do paciente em situações nas quais ele precisa de diversos medicamentos, tornando o
manejo terapêutico menos complicado tanto para o proprietário quanto para o animal. Uma
prescrição magistral permite a manipulação de medicamentos com associações que muitas
vezes não estão disponíveis de forma comercial.

7.4.4 Controle de qualidade

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Os medicamentos manipulados passam por um rigoroso controle de qualidade, que
assegura todo o processo de manipulação, sendo consideradas desde as questões físico-
químicas e microbiológicas, como a aquisição de matérias-primas e de embalagens, a
manipulação, a conservação, até o momento de dispensação do produto final.

7.5 Conversões mais comuns em farmácia de manipulação

A conversão de unidades na farmácia permite transformar as unidades de medida


(massa, volume) de acordo com a necessidade. Para tanto, abaixo estão as principais conversões
utilizadas na rotina do médico veterinário.

g → mg= multiplicar por 1.000 (ex.: 0,1 g x 1.000 = 100 mg)

mg → mcg = multiplicar por 1.000 (ex.: 1 mg x 1.000 = 1.000 mcg; 0,25 mg x 1000 = 250 mcg)

g → mcg = multiplicar por 1.000.000 (ex.: 1 g x 1.000.000 = 1.000.000 mcg)

mcg → mg = dividir por 1.000 (ex.: 250 mcg ÷ 1.000 = 0,25 mg)
mg → g = dividir por 1.000 (ex.: 100 mg ÷ 1.000 = 0,1 g)

mcg → g = dividir por 1.000.000 (ex.: 500 mcg ÷ 1.000.000 = 0,0005 g)

SISTEMA MÉTRICO DE PESOS


0,001 kilograma (kg) 1 grama (g)
0,01 hectograma (hg) 1 grama (g)
0, 1 decagrama (dkg) 1 grama (g)
10 decigramas (dg) 1 grama (g)
100 centigramas (cg) 1 grama (g)
1.000 miligramas (mg) 1 grama (g)
1.000.000 microgramas (mcg) ou (µg) 1 grama (g)
1.000.000.000 nanogramas (ng) 1 grama (g)

No cálculo das doses, é preciso conhecer a quantidade de substância medicamentosa


dissolvida no solvente. Veja o exemplo:
Uma solução de 1% contém:

UNIDADES DE VOLUME UNIDADES DE PESO


Em 100 mL 1 grama

61
Em 10 mL 0,1 grama, 100 mg
Em 1 mL 0,01 grama, 10 mg
Em 0,1 mL 0,001 grama, 1 mg

7.6 Fator de correção

É indispensável abordar a necessidade de aplicação do fator de correção de princípios


ativos em farmácias magistrais e o quão importante é o conhecimento dos Médicos Veterinários
com relação a esses fatores. As correções garantem a eficácia e a qualidade dos produtos
manipulados, e a falta dela ou correção feita de forma equivocada podem implicar dosificação
errada que podem ocasionar até mesmo problemas legais. Dessa forma, as farmácias de
manipulação devem garantir a qualidade de seus produtos de acordo as correções necessárias.
• Fator de correção (FCr): fator utilizado para corrigir diluições, teor de princípio ativo,
teor elementar de um mineral e umidade de uma substância. As correções devem ser
feitas com base nos certificados de análise das matérias-primas ou nas diluições feitas
na própria farmácia.
• Fator de equivalência (FEq): aplicado quando a literatura e/ou medicamentos de
referência determinam a conversão. O FEq é utilizado para fazer o cálculo da conversão
da massa do sal ou do éster para a massa do fármaco ativo, ou da substância hidratada
para a substância anidra.
De acordo com Ferreira (2010), o fator de correção deve ser aplicado quando:
• substâncias são comercializadas em sua forma diluída;
• substâncias possuem fator de equivalência (sal em relação à sua base; substância
hidratada em relação à base ou ao sal anidro);
• deseja-se calcular o teor elementar em sais minerais ou minerais aminoácidos quelatos;
• é necessário fazer correção do teor e/ou umidade conforme laudo do fornecedor, se um
ou ambos estiverem abaixo do limite mínimo indicado;
• princípios ativos nutracêuticos relacionados em prescrições estiverem disponíveis em
forma diluída (ex.: licopeno, luteína, isoflavonas etc.).

62
7.6.1 Exemplo de princípio ativo que necessita de fator de correção:

Ativo: SAMe Correção Referência

PM* SAMe dissulfato tosilato: 766,79


Equivalência sal/base 1,92
PM* SAMe base: 398,44.

Correção umidade Correção de acordo com o lote


Não mais que 3%
(água) adquirido

Correção em relação à base


Não menos que 95% e não mais que
Teor anidra, de acordo com o lote
105% de ademetionina.
adquirido

*Peso molecular

7.6.2 Cálculo de fator de equivalência

Para calcular o fator de equivalência (FEq), divide-se o peso molecular do sal pelo peso
molecular da base. Dessa forma:

PM (peso molecular) do sal


FEq =
PM (peso molecular) da base

Usando como exemplo o SAMe: aplica-se o fator quando o princípio ativo adquirido for
o dissulfato tosilato de ademetionina. Dessa forma:
• Peso molecular SAMe dissulfato tosilato: 766,79
• Peso molecular SAMe base: 398,44

766,79
FEq = → FEq = 1,92
398,44

7.6.3 Cálculo de fator de equivalência entre sais

Para calcular o fator de equivalência entre sais, usaremos o exemplo do gluconato de


manganês para manganês puro. Veja:
Fórmula comercial contendo gluconato de manganês: 10,46 mg.
Primeiramente, é necessário calcular o FEq inicial, dividindo-se o peso molecular do
princípio ativo presente na fórmula comercial pelo da forma pura.
Dessa forma, FEq inicial:

63
Peso molecular do gluconato de manganês: 481,27
Peso molecular do manganês puro: 54,938

481,27
FEq = → FEq = 8,7602
54,938

Vimos que o medicamento comercial contém 10,46 mg de gluconato de manganês,


sendo necessário dividir esse valor pelo FEq inicial.

10,46
FEq = → FEq = 1,194
8,7602

Ou seja, o fator de equivalência de gluconato de manganês para manganês puro é 1,194.

7.6.4 Cálculo de fator de correção (FCr)

Para o cálculo do fator de correção é necessário dividir 100 pelo teor da substância ou
do elemento. Usaremos como exemplo o betacaroteno.
Prescrição: betacaroteno10 mg/cápsula
Substância disponível: betacaroteno 11 %

100
FCr = → FCr = 9,09
11

Cálculo:
10 mg x 9,09 = 90,9 mg de betacaroteno 11% por cápsula.

7.6.5 Cálculo de fator de correção de umidade

O cálculo do fator de correção de umidade é feito com a seguinte expressão:

100
FCr =
100 – teor de umidade

Usaremos como exemplo o FCr de umidade do metotrexano. Veja:


Certificado de análise da matéria prima apresentando 8% de água ou umidade

100 100
FCr = → FCr = → FCr = 1,09
100 – 8 92

64
8. NECESSIDADES NUTRICIONAIS EM MEDICINA VETERINÁRIA

A nutrição garante a manutenção do organismo e o fornecimento de energia por meio


dos nutrientes contidos nos alimentos. As diversas espécies animais têm diferentes
necessidades, ou seja, a quantidade de energia necessária para o organismo se manter em pleno
funcionamento é diferente entre cães, gatos, equinos, aves etc. Assim como nos humanos, os
animais dependem de uma nutrição correta e balanceada para suprir todas as necessidades
diárias, e entre os principais nutrientes que garantem isso estão: proteínas, lipídeos,
carboidratos, vitaminas e minerais.
Cabe ressaltar, ainda, alguns objetivos da nutrição. Veja:
• desenvolvimento corporal e manutenção do organismo pelo suprimento das
necessidades nutricionais básicas (aminoácidos, minerais, vitaminas e ácidos graxos);
• atuação na demanda proteica, uma vez que os lipídeos e carboidratos são as principais
fontes energéticas para os cães. Para os gatos, as proteínas também são importantes
para seu metabolismo energético;
• prevenção de algumas doenças ou possíveis riscos, já que alguns nutrientes são
antioxidantes, prebióticos, fonte de fibras e de ácidos graxos essenciais etc.;
• apoio em tratamentos, pois certos nutrientes são adicionados em maiores quantidades,
enquanto outros são limitados nos alimentos, de forma a auxiliar nos protocolos
terapêuticos.

8.1 Proteínas

Cães e gatos têm necessidades proteicas que dependem do estado fisiológico em que
se encontram (crescimento, gestação, lactação, nível de esforço físico), atuando em fenômenos
de construção ou renovação importantes.

8.1.1 Aminoácidos

As proteínas são moléculas constituídas por um total aproximado de 20 aminoácidos,


dos quais 11 (no gato) e 10 (no cão) precisam ser fornecidos na alimentação, pois não são
sintetizados pelo organismo deles. Os aminoácidos são indispensáveis para garantir o
funcionamento vital e as suas funções fisiológicas, como a síntese das proteínas, necessária para
composição ou renovação de órgãos ou estruturas, veicular moléculas (proteínas de transporte),
síntese de hormônios e de anticorpos etc.

65
Deve-se considerar que, em determinadas condições fisiológicas ou patológicas, alguns
aminoácidos não essenciais não são sintetizados em quantidades suficientes e passam a ser
suplementos indispensáveis.

• Aminoácidos essenciais (arginina, histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina,


fenilalanina, taurina apenas para gatos, treonina, triptofano, valina).

A deficiência dos aminoácidos essenciais interrompe a síntese de proteínas vitais para o


organismo, e o animal passa a utilizar suas próprias proteínas para sintetizar as que faltam.
Informações: não podem ser sintetizados pelo organismo, devendo ser introduzidos
pela alimentação ou por suplementação.
Funções desempenhadas: são essenciais ao corpo, ou seja, indispensáveis para a síntese
de proteínas essenciais do organismo.

• Aminoácidos sulfurados (metionina e cistina)

Informações: são necessários para a síntese de queratina, a principal proteína


encontrada no pelo. Dessa forma, sua deficiência causa alterações no pelo, como queda, atraso
no crescimento e aspecto quebradiço e opaco.
Funções desempenhadas: dos dois aminoácidos, somente a metionina é considerada
essencial, porém, se a cistina for fornecida em quantidades necessárias, poupa a metionina de
realizar outras funções.
*Dietas ricas em aminoácidos sulfurados tendem a produzir urina ácida, já que o
metabolismo destes aminoácidos produz ácido sulfúrico (eliminado pela via urinária).

• Arginina

A arginina é um aminoácido essencial cuja suplementação pode beneficiar portadores


de doença cardíaca ou renal. Precursor do ácido nítrico, apresenta função relaxante sobre as
fibras musculares lisas dos vasos.
Informações: componente importante da síntese da ureia a partir da amônia. Sua
carência pode levar a quadros de intoxicação pela amônia (hiperamonemia), ocasionando, em
gatos, vômitos, sialorreia e distúrbios do SNC. Essa carência deve ser rapidamente corrigida, pois
pode levar à morte.
Funções desempenhadas: apresenta propriedades benéficas em pacientes com
insuficiência cardíaca crônica, já que reduz problemas respiratórios provocados pelo aumento
da produção de CO2 durante o esforço. Apresenta também mecanismos imunológicos.

66
• Glutamina

Apesar de não ser um aminoácido essencial, uma vez que pode ser sintetizada pelo
organismo a partir de outros aminoácidos, a glutamina tem um papel importante na proliferação
e no desenvolvimento de células que têm renovação rápida, como é o caso das células dos
sistemas gastrointestinal e imunológico.
Informações: em situações de estresse, exercícios intensos ou doenças, a demanda
metabólica desse aminoácido fica prejudicada no organismo. A suplementação é recomendada,
pois a baixa concentração de glutamina pode permitir indivíduos fiquem mais propensos às
infecções.
Funções desempenhadas: aumento da resposta imune, síntese das proteínas do DNA
celular, síntese hepática de substâncias, fonte de energia para as células da mucosa intestinal.
*Uma suplementação com esse aminoácido é importante na recuperação de síndromes
digestivas, já que atua no reparo da mucosa intestinal.

• Lisina

A lisina é importante na síntese de todas as proteínas do organismo e, por isso, é um


aminoácido essencial, devendo ser empregada obrigatoriamente na alimentação. A carência
desse aminoácido pode causar, por exemplo, atraso no crescimento de filhotes.
Informações: a necessidade de lisina aumenta quando há um aumento de proteína na
dieta.
Funções desempenhadas: importante papel na síntese das proteínas. Alguns estudos
demonstram seu uso em gatos com herpes-vírus: suplementos com este aa podem limitar a
excreção viral e sinais clínicos nos animais com essa doença.

• Tirosina e fenilalanina

Também chamados de aminoácidos aromáticos devido à sua estrutura cíclica,


apresentam importante ação na produção de pigmentos da pelagem (feomelanina e
eumelanina). Dessa forma, a carência deles pode alterar a coloração dos pelos dos animais,
podendo ser indicada a suplementação com tirosina para aumentar intensidade da coloração
da pelagem.
Funções desempenhadas: papel na pigmentação da pelagem e da íris. A tirosina é um
precursor da dopamina, da noradrenalina e da adrenalina, moléculas importantes no
funcionamento do SNC e na reprodução.

67
• Taurina

A taurina é um aminoácido essencial para os gatos, sendo indispensável para a visão, a


audição, a reprodução, o crescimento, a emulsificação de gorduras e a conjugação de ácidos
biliares.
Em cães e gatos, a taurina é utilizada na prevenção e no tratamento de doenças
cardíacas (cardiomiopatia dilatada). Devido a suas propriedades antioxidantes, é muito utilizada
também em suplementações para animais idosos.
Informações: não participa da síntese de proteínas, sendo sintetizada, pela maioria dos
mamíferos, a partir da metionina e da cistina.
Funções desempenhadas: ação antioxidante; permite a síntese dos sais biliares pelo
fígado. Possui ação sobre os fluxos de cálcio entre o interior e exterior de células, permitindo
atuação no funcionamento cardíaco.

• Aminoácidos de cadeia ramificada (AACR)

Os AACR são os aminoácidos essenciais leucina, isoleucina e valina.


Informações: são indispensáveis para a manutenção da proteína corporal, além de
serem fonte de nitrogênio para a síntese de alanina e glutamina.
Funções desempenhadas: estimulam a síntese das proteínas e retardam a sua
degradação nos músculos. Apesar de todos apresentarem propriedades benéficas sobre os
músculos, a leucina, em especial, apresenta ação maior na regulação de processos anabólicos
na síntese e na degradação proteica muscular.

• Carnitina

A carnitina é o aminoácido sintetizado a partir dos aminoácidos lisina e metionina.

Informações: sua principal função é na utilização da gordura corporal como fonte de


energia, facilitando o transporte dos ácidos graxos de cadeia longa para dentro da mitocôndria.
Portanto, a L-carnitina pode ser utilizada como adjuvante para controle da obesidade. Além
disso, doenças cardíacas podem ser relacionadas a carências desse aminoácido no organismo,
sendo, dessa maneira, muito utilizado na cardiologia veterinária. Sua estrutura química é
apresentada em duas formas da molécula, a D e a L, porém apenas a L-carnitina é eficaz.
Funções desempenhadas: a carnitina atua diretamente na via de produção de energia
(oxidação das gorduras nas mitocôndrias) permitindo o transporte dos ácidos graxos através da
membrana que envolve cada mitocôndria. Também apresenta papel importante durante a

68
gestação e a lactação, aumentando o peso dos recém-nascidos e o número de animais por
ninhada.

8.2 Lipídeos

Os lipídeos são adquiridos na dieta e configuram importantes fontes de energia e de


ácidos graxos essenciais. No entanto, devem ser administrados com cautela, pois uma ingestão
exacerbada pode levar à obesidade. Os lipídeos constituem uma família de substâncias
orgânicas mais conhecidas como gorduras.

8.2.1 Ácidos graxos

Os ácidos graxos poli-insaturados são os principais constituintes dos lipídeos.


Caracterizados pelo número de átomos de carbono que os compõem, podem ser saturados (sem
ligação química entre dois carbonos) ou insaturados (comportando de uma a seis duplas
ligações). Estes últimos são mais frágeis, sujeitos à oxidação. Os denominados ácidos graxos
essenciais, indispensáveis para o organismo, devem estar presentes na alimentação.
Funções desempenhadas: os ácidos graxos saturados de cadeia curta são muito
interessantes para o fornecimento rápido de energia aos cães de esporte, bem como ao animal
diabético e aos filhotes recém-nascidos. Já os ácidos graxos poli-insaturados têm papéis
estruturais e essenciais (nas membranas ou nas lipoproteínas do sangue). Destes últimos, os
mais comuns são os da série ômega 3 e ômega 6, que não podem ser sintetizados pelo
organismo.
Fontes: óleos vegetais (óleo de linhaça).

• Ácidos graxos ômega 6

O ácido linoleico é indispensável para a síntese das membranas celulares. Sua carência
afeta a integridade da barreira cutânea e causa alteração na pelagem dos animais.
Informações: do ácido linoleico derivam outros dois ácidos graxos de cadeia longa,
chamados GLA (ácido gamalinolênico) e ácido araquidônico.
Funções desempenhadas: são indispensáveis à síntese de prostaglandinas e, como são
moléculas de atividade hormonal, atuam sobre a saúde da pele e pelo, assim como sobre o
sistema reprodutivo.

• Ácido gamalinolênico (GLA)

69
O GLA tem ação em problemas de origem inflamatória, principalmente em afecções
dermatológicas.
Informações: permite manter a fluidez das membranas celulares, necessária para
realizar as trocas vitais entre células. Uma suplementação com esse ácido graxo favorece a
produção de prostaglandinas de tipo 1, com efeitos anti-inflamatórios conhecidos.

• Ácidos graxos ômega 3

Os ácidos graxos ômega 3 têm papel biológico e nutricional, especialmente na


alimentação de animais de esporte. Também é muito utilizado em animais idosos e portadores
de doenças inflamatórias crônicas, como osteoartrite, insuficiência renal crônica, diarreias
inflamatórias e doenças dermatológicas.
Informações: constituem uma família particular da categoria dos ácidos graxos poli-
insaturados, derivada do ácido alfalinolênico (ALA). Dos ácidos graxos ômega 3 derivam outros
dois ácidos graxos denominados ácido eicosapentaenoico (EPA) e ácido docosa-hexaenoico
(DHA).
Funções desempenhadas: ação anti-inflamatória, inibindo a síntese de certos
mediadores químicos da inflamação, melhora no desempenho esportivo e da oxigenação
cerebral dos animais idosos e auxilia na melhora da capacidade de aprendizagem dos animais
jovens.

• EPA e DHA

O ácido eicosapentaenoico (EPA) e o ácido docosa-hexaenoico (DHA) são conhecidos


pelas suas funções anti-inflamatórias, além de apresentarem ação em funções cardíacas e renais
e na prevenção de neoplasias.
Informações: o DHA é um constituinte de lipídeos de membranas estruturais,
principalmente de fosfolipídeos no tecido nervoso e na retina. Já o EPA participa da regulação
da pressão arterial, da coagulação sanguínea, da função renal, das reações inflamatórias e
imunológicas, entre outras funções em tecidos, já que é transformado em eicosanoides
(prostaglandinas, prostaciclinas, tromboxanos, leucotrienos e prostanoides).
Funções desempenhadas: indispensáveis no desenvolvimento cerebral e da retina dos
embriões e do feto. Além disso, têm papel importante nas seguintes funções:
• imunidade — essenciais em uma variedade de processos celulares e multicelulares;
• inflamação — modulação da resposta inflamatória, reduzem arritmias, dor associada a
artrites, aterosclerose e inflamação, inclusive TGI;

70
• cognição — propriedades únicas para a bicamada lipídica das membranas neuronais,
facilitando a neurotransmissão e reduzindo a perda de memória;
• desenvolvimento visual — importantes durante o desenvolvimento da retina;
• cardiovascular — manutenção dos níveis normais de triglicérides, regularizando o ritmo
cardíaco e melhorando a função dos vasos sanguíneos;
• pele e pelagem — atuação nas doenças inflamatórias cutâneas de cães e gatos, controle
do prurido e inflamação cutânea em processos alérgicos;
• renal: controle de proteinúria, prevenção da hipertensão glomerular e redução da
produção de eicosanoides pró-inflamatórios.
• câncer: redução da taxa de crescimento tumoral e de metástase e aumento da eficácia
e da tolerância do tratamento quimioterápico.

8.3 Carboidratos

Os carboidratos são as moléculas compostas de carbono, oxigênio e hidrogênio, que têm


certas características químicas em comum.
Cães e gatos são capazes de sintetizar a glicose necessária para suprir suas células a
partir de aminoácidos. A ingestão de carboidratos, entretanto, acrescenta grandes melhorias ao
funcionamento orgânico.

8.3.1 Fruto-oligossacarídeo, prebiótico (FOS)

A inclusão de FOS na dieta de cães e gatos ajuda a prevenir distúrbios intestinais


causados pela proliferação de bactérias patogênicas no intestino, além de auxiliar a renovação
regular das células do cólon.
Informações: os FOS funcionam como fibras fermentáveis. Como não são digeridos, são
rapidamente fermentados pelas bactérias presentes no cólon, propiciando a produção de ácidos
graxos de cadeia curta (ácidos graxos voláteis), que:
• acidificam o meio intestinal;
• são nutrientes excelentes para a manutenção e a renovação das células;
• revestem as paredes do intestino grosso.
Funções desempenhadas: a fermentação do FOS permite alimentar diretamente as
células do intestino grosso. Também favorece o desenvolvimento de microbiota intestinal
específica (bifidus e lactobacilos), inibe o crescimento de bactérias patogênicas e melhora a
digestão e a absorção de nutrientes.

71
*A suplementação com FOS na alimentação de cadelas reprodutoras permite aumentar
o teor de anticorpos (IgM) presentes no leite, favorecendo melhor imunidade dos filhotes.
Fontes: é sintetizado a partir do fungo Aspergillus nigricans na presença de açúcar. Esse
fungo secreta uma enzima que permite a adição de moléculas de frutose suplementares para
formar o FOS.

8.3.2 Manano-oligossacarídeo (MOS)

O MOS participa do equilíbrio da microbiota, agindo direta e indiretamente sobre a


saúde do sistema digestório. Dessa forma, previne distúrbios como diarreias e doenças
intestinais de origem digestiva.
Informações: os MOS pertencem à categoria de fibras e, assim, são carboidratos não
digeridos pelo animal. Também atuam contra bactérias patogênicas que colonizam o lúmen
intestinal, porém com ação diferente. Os MOS são compostos por glicose e manose.
Funções desempenhadas: originados das paredes de leveduras, exercem ações diversas
com benefícios no intestino, como a limitação do desenvolvimento de bactérias patogênicas,
impedindo sua aderência à mucosa intestinal e promovendo a melhora direta do sistema
imunológico, o que permite uma melhor defesa contra patógenos.
Fontes: provenientes da parede das leveduras.

8.3.3 Mucilagens

As mucilagens são fibras solúveis em água utilizadas no tratamento de problemas de


trânsito gastrointestinal, que regulam e facilitam a eliminação fecal.
Informações: o psyllium é uma ótima fonte de mucilagem e costuma ser utilizado como
adjuvante no tratamento de afecções que resultam em constipação. A inclusão dessa fibra
alimentar na dieta de animais apresenta-se como uma alternativa natural interessante, uma vez
que pode ser empregada a longo prazo, com baixas ocorrências de efeitos colaterais.
Funções desempenhadas: as cascas das sementes do psyllium apresentam grande
capacidade de retenção de água, o que faz com que as fibras aumentem de volume e formem
um gel que aumenta a viscosidade e a lubrificação, facilitando a eliminação do conteúdo fecal.
Fontes: espécies de psyllium.

8.4 Vitaminas

As vitaminas são substâncias orgânicas essenciais para as diversas funções de


crescimento, reprodução e manutenção do organismo. São classificadas de acordo com sua

72
solubilidade: as solúveis em lipídeos são chamadas de vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K), e as
solúveis em água são chamadas vitaminas hidrossolúveis (complexo B — B1, B2, B3, B5, B6, B7,
B9 e B12 —, vitamina C e colina).
Assim como outros nutrientes, o requerimento de vitaminas é maior em fases como o
crescimento, a prenhez e a lactação, e durante doenças infecciosas, inflamatórias etc. A carência
ou o desequilíbrio de vitaminas no organismo animal podem causar as chamadas
hipovitaminoses, mas o excesso no consumo faz com que elas se acumulem no organismo e
tornem-se tóxicas.

8.4.1 Vitamina A

A carência de vitamina A pode ocasionar problemas oftálmicos e cutâneos, além de


anomalias reprodutivas, sensibilidade a infecções e complicações pulmonares. Já o seu excesso
é relacionado a problemas articulares e reprodutivos.
Informações: vitamina lipossolúvel. Sua absorção se dá no intestino delgado e é
armazenada no fígado. Todos os animais têm exigências fisiológicas de vitamina A ativa (retinol)
e, com exceção dos gatos, quase todos os animais têm a capacidade de converter os precursores
dessa vitamina (betacaroteno), em vitamina A ativa.
Funções desempenhadas: atua na visão, na reprodução, no metabolismo (síntese
proteica), na pele e pelagem. Apresenta ação sinérgica com o zinco e os aminoácidos sulfurados.

8.4.2 Vitamina D

A vitamina D também é conhecida como calciferol, a vitamina D2, como ergocalciferol e


a D3, colecalciferol. As formas mais usadas na terapêutica são as vitaminas D2 e D3.
Informações: vitamina lipossolúvel. As duas maiores fontes naturais de vitamina D são
a exposição da pele aos raios ultravioleta (luz solar) e a ingestão de alimentos. Nos alimentos, a
vitamina D2 encontra-se em pequena quantidade no óleo de fígado de peixe. A vitamina D3 é
mais abundante no óleo de fígado de bacalhau e de peixes.
Funções desempenhadas: tem função primordial no metabolismo do cálcio e do
fósforo, auxilia na prevenção de quedas e na redução de fraturas. Além disso, a associação dessa
proteína na síntese proteica muscular, relaciona-se à melhora da função muscular e de seus
receptores nos músculos. Já a carência dessa vitamina pode causar problemas ósseos, porém
seu consumo excessivo também está relacionado a problemas graves de ossificação.

8.4.3 Vitamina E

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A principal função metabólica da vitamina E envolve sua ação antioxidante, sendo muito
utilizada para prevenir ou tratar doenças causadas pelo estresse oxidativo das células.
Informações: vitamina lipossolúvel. Pertence ao grupo dos tocoferóis (alfa, beta e
deltatocoferol), sendo o alfatocoferol o mais ativo. As principais fontes de vitamina E são o óleo
de gérmen de trigo, óleos de sementes e gordura animal.
Funções desempenhadas: além de sua alta capacidade antioxidante, podendo
minimizar os efeitos tóxicos de radicais livres sobre as células em geral, a vitamina E também
participa da proteção da membrana dos eritrócitos, da prevenção da degeneração muscular e
da necrose hepática. Essa vitamina ainda influencia no metabolismo de ácidos graxos e
nucleicos, melhora dos efeitos de suplementações com vitamina A (impede sua oxidação) e
apresenta ação na síntese de hormônios.

8.4.4 Vitamina K

A vitamina K natural disponível para uso terapêutico é a vitamina K1, que também é
conhecida como filoquinona/fitonadiona e é convertida no organismo em vitamina K2.
Informações: vitamina lipossolúvel. A deficiência dessa vitamina normalmente ocorre
por alterações na absorção intestinal e pelo uso de antibióticos de largo espectro que inibem a
microbiota bacteriana intestinal, como as sulfas, por exemplo.
Funções desempenhadas: importante para ativação de inúmeras enzimas, sendo
indispensável para certos fatores de coagulação sanguínea. Também é importante no
metabolismo das proteínas, pois permite a fixação do cálcio nos ossos. Tem ação anti-
hemorrágica, sendo utilizada em equinos, de forma empírica, na prevenção e no tratamento da
hemorragia pulmonar induzida por exercício. A vitamina K1 também é utilizada como
antagonista farmacológico da intoxicação por anticoagulantes, como no caso de rodenticidas.

8.4.5 Vitamina B1

A vitamina B1 também é conhecida como tiamina.


Informações: vitamina hidrossolúvel. O organismo dos mamíferos não tem boa
capacidade de armazenar essa vitamina.
Funções desempenhadas: a vitamina B1 está envolvida em várias reações bioquímicas
complexas. É importante para a transformação de carboidratos em lipídeos e é indispensável ao
funcionamento do sistema nervoso, uma vez que permite a síntese do neurotransmissor
acetilcolina, o qual transmite os impulsos nervosos de um neurônio para outro. A vitamina B1 é

74
importante ainda na prevenção e tratamento de doenças nervosas degenerativas e afecções
cardíacas.

8.4.6 Vitamina B2

A vitamina B2 também é conhecida como riboflavina.


Informações: vitamina hidrossolúvel. É uma substância indispensável ao funcionamento
de enzimas utilizadas em diversas reações bioquímicas.
Funções desempenhadas: atua no metabolismo energético e tem função essencial nas
reações de oxidação das células do organismo, incluindo a produção de energia. Tem
participação importante no metabolismo de aminoácidos, carboidratos e ácidos graxos. A
vitamina B2 é um componente do pigmento da retina do olho e também contribui para a
qualidade da pele e do pelo do animal.

8.4.7 Vitamina B3

A vitamina B3 também é conhecida como niacina, ácido nicotínico ou nicotinamida.


Informações: vitamina hidrossolúvel. Importante constituinte de duas coenzimas do
organismo, a nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD) e a nicotinamida adenina dinucleotídeo
fosfato (NADP), importantes para a respiração celular. A carência dessa vitamina provoca
principalmente problemas dermatológicos, fraqueza muscular, distúrbios digestivos, anemias e
outros sinais.
Funções desempenhadas: assim como a maioria das vitaminas do complexo B, a
vitamina B3 também participa da produção de energia, decorrente do metabolismo de
carboidratos, proteínas e lipídeos. Tem efeito no crescimento animal, na diminuição dos níveis
plasmáticos de colesterol LDL e no aumento do colesterol HDL e de triglicerídeos, protegendo o
coração. É uma vitamina necessária para uma pele saudável, favorecendo a síntese de lipídeos
cutâneos (ceramidas).

8.4.8 Vitamina B5

A vitamina B5 também é conhecida como ácido pantotênico.


Informações: vitamina hidrossolúvel. Facilmente encontrada em alimentos,
principalmente fígado, rins, músculos, cérebro, arroz, gema de ovo, levedura de cerveja, cereais
e legumes verdes. A carência dessa vitamina é rara.
Funções desempenhadas: faz parte da composição da coenzima A (CoA), funcionando
como transportadora em reações enzimáticas da síntese de ácidos graxos. É uma vitamina

75
envolvida em todo o metabolismo para produção de energia, além de atuar na produção de
hormônios adrenais. Ainda, auxilia a utilização de outras vitaminas, desempenhando importante
papel com relação à proteção cutânea.

8.4.9 Vitamina B6

A vitamina B6 também é conhecida como piridoxina.


Informações: vitamina hidrossolúvel. É relativamente mais tóxica do que outras
vitaminas hidrossolúveis, quando incluída em níveis maiores do que os necessários. Já a
deficiência dessa vitamina causa alterações dermatológicas, neurológicas e sanguíneas.
Funções desempenhadas: atua na forma de coenzimas, como o fosfato piridoxal e o
fosfato piridoxina, estando envolvida em reações de inúmeras funções do organismo
(metabolismo de gorduras, proteínas e carboidratos). É importante também para reações
metabólicas que envolvem os aminoácidos.

8.4.10 Vitamina B7

A vitamina B7 também conhecida como biotina.


Informações: vitamina hidrossolúvel. A atuação mais importante da vitamina B7
relaciona-se a problemas dermatológicos e até mesmo com quadros neurológicos.
Funções desempenhadas: metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas. A biotina
facilita o processo de metabolismo do ácido graxo essencial, favorecendo a síntese do ácido
araquidônico a partir do ácido linolênico e alterando as relações dos ácidos graxos ômega 6 e
ômega 3. É uma vitamina essencial para a integridade dos tecidos queratinizados, ou seja, pele,
pelos, unhas, cascos e chifres.

8.4.11 Vitamina B9

A vitamina B9 também é conhecida como ácido fólico, folato ou folacina.


Informações: vitamina hidrossolúvel. A carência dessa vitamina pode estar relacionada
com as más-formações no feto durante o seu desenvolvimento.
Funções desempenhadas: importante na formação de fatores necessários para a
biossíntese de DNA e RNA. Possui ação importante na prevenção de anemias, uma vez que
participa da formação do grupo heme e da maturação dos eritrócitos, além de atuar como fator
de crescimento animal e na constituição de aminoácidos. A necessidade dessa vitamina pode
ser maior durante as fases de gestação e lactação.

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8.4.12 Vitamina B12

A vitamina B12 também é conhecida como cobalamina.


Informações: vitamina hidrossolúvel. É a única vitamina que apresenta em sua
composição química o cobalto, um elemento mineral. Algumas situações podem causar
deficiência dessa vitamina, como o envelhecimento, a dieta vegetariana e as doenças
gastrointestinais.
Funções desempenhadas: atuação em células de diversos sistemas, principalmente no
sistema nervoso, gastrointestinal e na medula óssea. Suas principais ações incluem a síntese de
DNA e RNA, formação de eritrócitos, manutenção e integridade do sistema nervoso,
metabolismo de carboidratos, proteínas e gorduras, entre outras.

8.4.13 Vitamina C

A vitamina C também é conhecida como ácido ascórbico.


Informações: vitamina hidrossolúvel. É a vitamina mais instável com relação às
características físico-químicas.
Funções desempenhadas: tem importante ação antioxidante, sendo muito utilizada na
prevenção ou no tratamento de doenças causadas pelo estresse celular, degenerações e
envelhecimento. Uma de suas principais ações inclui ainda a síntese e a manutenção do
colágeno, sendo essencial para a formação e a manutenção de tecido conjuntivo, dentes, ossos
e cartilagens. Outra função da vitamina C é a ação imunoestimulante e hepatoprotetora, o que
a torna essencial como coadjuvante no tratamento de anemias ferroprivas.

8.4.14 Colina

A classificação da colina como vitamina tem sido questionada, porém ainda assim é um
potente nutriente e sua suplementação é necessária para os animais.

Informações e funções desempenhadas: fundamental para a prevenção da esteatose hepática,


também conhecida como fígado gorduroso. Além disso, é importante na síntese da acetilcolina
e no metabolismo de lipídeos.

8.5 Minerais

A boa nutrição de um animal inclui também os minerais. Em quantidades adequadas,


são considerados importantes já que participam de todos os processos bioquímicos corporais.
Os minerais são divididos entre macroelementos (cálcio, fósforo, potássio/sódio, magnésio, etc.)

77
e oligoelementos (ferro, zinco, manganês, cobre, iodo, selênio, etc.), participndo em diferentes
funções no organismo.

8.5.1 Cálcio

Algumas fases da vida do animal podem exigir níveis maiores de cálcio no organismo,
como é o caso da lactação e do crescimento. Porém a suplementação só é indicada quando o
indivíduo apresenta carência nutricional desse mineral.
Informações: o cálcio é um macroelemento muito importante para o organismo. A
relação entre cálcio (Ca) e fósforo (P) deve estar perfeitamente equilibrada.
Funções desempenhadas: o cálcio apresenta papel fundamental na ossificação dos
animais, em conjunto com o fósforo. O mineral também atua em funções biológicas como a
contração muscular, a mitose, a coagulação sanguínea e a transmissão do impulso nervoso ou
sináptico.

8.5.2 Fósforo

No organismo, o fósforo deve estar em perfeito equilíbrio com o cálcio.


*em animais geriátricos, aconselha-se reduzir o fornecimento de fósforo. Além disso,
em pacientes com doença renal crônica (DRC), o fósforo deve ser reduzido, uma vez que é o
principal nutriente responsável pela progressão dessa doença.
Informações: trata-se de um dos minerais presentes em maior proporção no organismo
animal. O fósforo tem grande importância na manutenção do equilíbrio ácido-base e osmótico.
Funções desempenhadas: dentre as muitas funções desempenhadas por esse mineral
no organismo, está sua participação, junto com o cálcio, na ossificação dos animais. Também é
um componente das membranas celulares e um dos componentes dos ácidos nucleicos (DNA e
RNA).

8.5.3 Potássio

Em gatos, o requerimento de potássio deve ser maior em animais geriátricos do que em


jovens e de idade mediana.
Informações: classificado como macroelemento mineral pela sua importância para o
organismo.
Funções desempenhadas: junto com o sódio, esse mineral tem participação essencial
no funcionamento das células, proporcionando equilíbrio de pressão entre o interior e exterior
celular. Tem ainda uma importante função no funcionamento cardíaco.

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8.5.4 Citrato de potássio

Agente alcalinizante de urina (aumenta o pH urinário), tem como principal função a


diminuição da excreção de cálcio na urina e aumento do citrato. Também atua na inibição da
formação de cálculos urinários de oxalato de cálcio. Essa ação se dá pois o citrato se quela ao
cálcio e forma um sal solúvel na urina. Dessa forma, o cálcio deixa de estar disponível para se
ligar ao oxalato e formar um cálculo.
Informações: classificado como macroelemento mineral pela sua importância para o
organismo. Seu uso deve ser cauteloso, já que seu efeito alcalinizante pode induzir o risco de
formação de cálculos estruvita e os cálculos de fosfato de cálcio, comuns em urina alcalina.
Funções desempenhadas: o uso é interessante pois pode limitar o aparecimento de
outros tipos de cálculos que se desenvolvem em pH ácido (urato de amônio e os cálculos de
cistina).

8.5.5 Sódio

Principal cátion do organismo. No espaço extracelular é encontrado 90% do sódio do


organismo, principalmente no plasma, nos fluidos intersticiais e na medula óssea. O restante é
localizado no interior das células.
Informações: classificado como macroelemento mineral pela sua importância para o
organismo. Os equinos possuem maior requerimento de sódio, seguido de vacas leiteiras, aves,
suínos, outros ruminantes e carnívoros domésticos.
Funções desempenhadas: tem como principal função a manutenção dos fluidos no
interior dos vasos, regulando a pressão osmótica e o metabolismo de água no corpo, atuando
conjuntamente com o cloreto. Outras funções são a regulação da bomba sódio-potássio, o
equilíbrio ácido-base e a transmissão de impulsos nervosos.
*O leve aumento do teor de cloreto de sódio nos alimentos estimula o consumo de água
e, por consequência, a diurese. Essa função tem importância principalmente para o aumento do
volume de urina e frequência de micções, auxiliando na eliminação de cristais.

8.5.6 Magnésio

A deficiência desse mineral pode levar ao aparecimento de problemas nervosos. Além


disso, o magnésio pode atuar na inibição da formação de cálculos de oxalato de cálcio.
Informações: classificado como macroelemento mineral pela sua importância para o
organismo.

79
Funções desempenhadas: da mesma maneira que o cálcio e o fósforo, o magnésio
também participa da formação do esqueleto, porém a quantidade de magnésio no organismo é
muito menor do que as quantidades de cálcio e fósforo. Possui ainda participação na condução
nervosa e nas contrações musculares.

8.5.7 Oligoelementos

• Zinco

Presente em vários tecidos do organismo, principalmente no fígado e no pâncreas, mas


também nos rins, nas adrenais, nos testículos, na pele etc., o zinco é um elemento muito
importante na síntese do colágeno e de queratina.
Informações: as necessidades desse mineral variam de acordo com a espécie, a idade,
a presença de doenças inflamatórias, estresse e teores de cálcio na dieta.
Funções desempenhadas: está ligado a várias metaloenzimas que apresentam diversas
funções, como multiplicação, transcrição e regeneração do DNA. Além disso, ainda participa de
processos de maturação de tecidos epiteliais, cicatrização de feridas, regula o apetite e exerce
função na modulação da resposta imune.

• Ferro

Dentre as diversas funções biológicas do ferro, a mais importante está na produção de


células vermelhas no sangue, sendo um nutriente essencial na prevenção e no tratamento de
anemias.
Informações: animais jovens com crescimento rápido necessitam de maiores
quantidades de ferro do que os adultos.
Funções desempenhadas: tem como principal função a participação na composição da
molécula de hemoglobina, a qual carreia o oxigênio para os tecidos. A carência desse mineral
faz com que as hemácias apresentem baixa concentração de hemoglobina no seu interior
(hipocromia), diminuição do tamanho das hemácias (microcitemia) e menor formação de
eritrócitos (anemia).

• Cobre

O cobre desempenha importantes funções no organismo, participando como


componente de diversas enzimas.

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Informações: o mineral faz parte dos fatores antianêmicos nos quais se encontram os
folatos, a vitamina B12 e o ferro. Quando há um acúmulo dele no fígado, esse nutriente pode se
revelar tóxico.
Funções desempenhadas: além de suas funções sobre as metaloenzimas, o cobre ainda
participa da produção, qualidade e pigmentação de pelos, atua na eritropoiese facilitando a
absorção intestinal do ferro e a sua incorporação na hemoglobina; também tem participação da
síntese do colágeno dos tendões e da mielina do sistema nervoso.

• Selênio

O selênio é um importante antioxidante que atua no combate de estresse oxidativo,


decorrente de envelhecimento, câncer, doenças inflamatórias etc.
Informações: grande parte de sua absorção é estocada no fígado e nos rins. Também é
encontrado no interior de outros tecidos e nas células sanguíneas.
Funções desempenhadas: antioxidante com atuação conjunta com a vitamina E na
proteção das membranas celulares, particularmente das células musculares. Em casos de
deficiência de selênio, os radicais livres não são metabolizados para formas menos tóxicas.

81
9. MANIPULAÇÃO DE FITOTERÁPICOS

O termo fitoterápico é relacionado aos produtos farmacêuticos obtidos a partir de


matérias-primas ativas vegetais que possuem efeitos farmacológicos, sendo utilizadas partes de
plantas, como caules, folhas, raiz, entre outros. Assim, fitoterapia é o termo designado para a
utilização de plantas no tratamento de doenças em diferentes formas farmacêuticas.
No Brasil, a utilização de medicamentos fitoterápicos é habitual tanto na medicina
humana como também na veterinária, já que o território nacional possui uma enorme variedade
de plantas. O uso de produtos fitoterápicos, principalmente nos produtos manipulados, é muito
comum já que as farmácias magistrais costumam ser os principais locais de comercialização e
de informações sobre esses medicamentos.
O interesse crescente por medicamentos e tratamentos alternativos e de baixo custo
faz parte da mudança no perfil dos consumidores e, desse modo, a procura por essa terapia
cresce a cada dia. Apesar disso, há certa carência sobre a fitoterapia na bibliografia nacional de
cunho científico, complicando muitas vezes o conhecimento da população. Além disso, os
produtos naturais muitas vezes são envolvidos em uma série de informações equivocadas, que
abrangem de forma incorreta dados sobre as propriedades farmacêuticas e segurança dos
fitoterápicos, sendo essas informações errôneas amplamente divulgadas entre a população.
Informações incorretas podem se tornar um risco à saúde dos pacientes, já que doses
inadequadas de fitoterápicos são relacionadas à ineficácia do tratamento ou a intoxicações.
Desse modo, é fundamental que ocorra a disseminação do conhecimento existente
sobre o uso das plantas na Medicina Veterinária para então trazer todos os benefícios
terapêuticos que podem ser obtidos por meio delas. São muitas as espécies de cunho
medicamentoso interessantes para os animais e, entre as principais propriedades terapêuticas,
estão: ação antioxidante, ansiolítica, antidepressiva, laxante, antimicrobiana, anti-inflamatória
e diversas outras.
A seguir, relacionamos de forma resumida algumas características das principais plantas
utilizadas em Medicina Veterinária.

9.1 Fitoterápicos de interesse na farmácia magistral veterinária - Uso interno

9.1.1 Boswellia

Nome científico: Boswellia serrata


Principais constituintes: hidrocarbonetos terpênicos, triterpenos, cetonas e sesquiterpenos.

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Farmacologia: ação anti-inflamatória (inibição de substâncias químicas pró-inflamatórias e
síntese de leucotrieno). Outras ações citadas incluem efeitos antirreumáticos, analgésicos,
antibacterianos, imunossupressores e antidiarreicos.
Uso terapêutico: reumatismo, osteoartrite, bronquite e asma, colite ulcerativa, tumor cerebral.
Precauções e contraindicações: não informado na literatura consultada.
Efeitos adversos: há relatos de erupções cutâneas, diarreia e náusea como possíveis efeitos
adversos, porém relatos adversos são raros na literatura.
Interações: não informado na literatura consultada.

9.1.2 Cáscara sagrada

Nome científico: Rhamnus purshiana


Principais constituintes: aldemodina-ranol, aloe-emodina, aloínas, barbaloínas, cascarosídeos
A, B, C e D, emodina, heterosídeos antraquinônicos.
Farmacologia e uso terapêutico: tratamento da constipação intestinal e da prisão de ventre,
também é usada como diurético, estimulante estomacal e laxante.
Precauções e contraindicações: contraindicada para gestantes e lactantes.
Efeitos adversos: não informado na literatura consultada.
Interações: não informado na literatura consultada.

9.1.3 Cogumelo do sol

Nome científico: Agaricus blazei Murril

Principais constituintes: extrato padronizado em 10% de polissacarídeo, ácido palmítico, ácido


esteárico, ácido oleico, ácido linoleico, ácido araquidônico e betaglucanas.

Farmacologia: propriedades antimutagênicas e imunomoduladoras.

Uso terapêutico: terapia antineoplásica, prevenção de câncer e aumento das funções


imunológicas.

Precauções e contraindicações: não informado na literatura consultada.

Efeitos adversos: não informado na literatura consultada.

Interações: não informado na literatura consultada.

9.1.4 Cranberry (também conhecido como oxicoco e arando)

Nome científico: Vaccinium macrocarpon


Principais constituintes: procianidinas, polifenóis, catequinas, epicatequina e cianina,
antocianidinas.

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Farmacologia: sua principal ação é a antimicrobiana, principalmente atuando na inibição da
adesão da E. coli nas células epiteliais do trato urinário.
Uso terapêutico: prevenção e tratamento de infecções do trato urinário, prevenção de urolitíase
(estruvita e carbonato de cálcio), adjuvante na cistite aguda e crônica, cirurgia pós-uretrostomia.
Precauções e contraindicações: administrar com cuidado em pacientes com insuficiência renal.
Também deve ser evitado em pacientes com cálculos de urato ou oxalato de cálcio, devido ao
alto teor de oxalato do cranberry.
Efeitos adversos: não há efeitos adversos conhecidos.
Interações: as informações são baseadas na utilização em humanos. O excesso de cranberry
pode aumentar a excreção ou reduzir os níveis sanguíneos de alguns medicamentos
(antidepressivos, antipsicóticos e analgésicos a base de morfina).

9.1.5 Chá verde — epigalocatequina galato (EGCG)

Nome científico: Camellia sinensis


Principais constituintes: os flavonoides mais abundantes encontrados no chá verde são as
catequinas, sendo a principal catequina do chá verde a epigalocatequina galato (EGCG).
Farmacologia: antioxidante natural que estimula a desintoxicação do fígado e reduz o colesterol,
a inflamação e o estresse oxidativo, podendo contribuir também com a prevenção de neoplasias
e doenças cardíacas.
Uso terapêutico: antioxidante, tratamento de obesidade, hipercolesterolemia, doenças
cardiovasculares.
Precauções e contraindicações: baseado em uso humano, as contraindicações são para
pacientes com doença renal e desordens de tireoide. O uso deve ser feito com cautela para
gestantes e lactantes.
Efeitos adversos: baseado em uso humano, o excesso de chá verde pode causar hiperacidez,
irritação gástrica, redução do apetite, obstipação e diarreia.
Interações: não informado na literatura consultada.

9.1.6 Garcinia Cambogia (garcínia; tamarindo do malabar)

Nome científico: Garcinia gummi-gutta


Principais constituintes: ácido hidroxicítrico (HCA), cambogin, camboginol, compostos fenólicos
(bioflavonoides, xantonas, benzofenonas).
Farmacologia: alguns estudos demonstram uma ação hipolipemiante, por meio da inibição de
enzima ATPcitrato liase, responsável pela clivagem do citrato em acetilCoA em oxaloacetato.

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Uso terapêutico: reduz a absorção de colesterol e triglicerídeos, aumenta a sensação de
saciedade.
Precauções e contraindicações: não informado na literatura consultada.
Efeitos adversos: não informado na literatura consultada.
Interações: não informado na literatura consultada.

9.1.7 Garra do diabo (Devil’s claw)

Nome científico: Harpagophytum procumbens


Principais constituintes: glicosídeos iridoides (incluindo harpagosídeos, procumbídeos),
glicosídeos fenólicos (acteosídeo, isoacteosídeo, verbascosídeo), flavonoides, triterpenos
(incluindo ácidos oleico e ursólico), polissacarídeos (estaquiose, rafinose), esteróis.
Farmacologia: anti-inflamatório, antirreumático, analgésico.
Uso terapêutico: osteoartrite, dores articulares e estimulante do apetite.
Precauções e contraindicações: não deve ser administrado em pacientes com úlceras gástricas,
pois ocorre aumento da secreção de ácido gástrico com seu uso.
Efeitos adversos: distúrbios gastrointestinais (desconforto e diarreia).
Interações: omeprazol, lansoprazol, pantoprazol, diazepan, carisoprodol, meloxicam,
cetoconazol, itraconazol.

9.1.8 Ginkgo biloba

Nome científico: Ginkgo biloba


Principais constituintes: glicosídeos flavônicos (flanovoides e bioflavonoide), lactonas
terpênicas (ginkgolídeos A, B, C; bilabolídeo).
Farmacologia: ação antioxidante, ação inibidora do fator de ativação das plaquetas (PAF)
(gingkolídeos), aumento da circulação sanguínea, ação neuroprotetora.
Uso terapêutico: afecções neurológicas como a disfunção cognitiva canina.
Precauções e contraindicações: não informado na literatura consultada.
Efeitos adversos: incluem distúrbios gastrointestinais, reações alérgicas cutâneas.
Interações: anticoagulantes, ácido acetilsalicílico, AINEs, antiplaquetários, inibidores da
acetilcolinesterase.

9.1.9 Ginseng indiano (Ashwagandha)

Nome científico: Withania somnifera

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Principais constituintes: lactonas esteroidais (withanolídeos, withaferinas), alcaloides e
flavonoides, saponinas, aminoácidos e ferro.
Farmacologia: propriedades anti-inflamatórias, antitumorais, antioxidantes,
imunomoduladoras, hematopoiéticas e rejuvenescedoras.
Uso terapêutico: aspergilose, osteoartrite, disfunção cognitiva. adjuvante à quimioterapia,
anemia, doença hipotireoideana e hipertensão. Doenças crônicas, especialmente de origem
inflamatória, prevenção de câncer.
Precauções e contraindicações: altas doses têm propriedades abortivas.
Efeitos adversos: desconforto gastrointestinal, diarreia e vômitos.
Interações: precaução ao administrar em conjunto com sedativos ou ansiolíticos. A
ashwagandha pode potencializar os efeitos dos barbituratos.

9.1.10 Kawa-Kawa (kava-kava, Cava-cava)

Nome científico: Piper methysticum


Principais constituintes: resina, lactonas (cavalactonas), metilsticina (kavakina), dihidro-
metisticina, kawaina, pigmentos (flavokawina A e B), mucilagens e glicosídeos.
Farmacologia: ação no sistema límbico, proteção do SNC na isquemia, ação sedativa e calmante.
Uso terapêutico: tranquilizante e ansiolítico natural. Alívio da ansiedade devido a fogos de
artifício, tempestades, estresse, separação e outras causas. Relaxante muscular.
Precauções e contraindicações: durante a gravidez e lactação e em pacientes com depressão
endógena ou doença hepática.
Efeitos adversos: não deve ser utilizada em casos de doença hepática aguda ou crônica, ou
quando drogas hepatotóxicas são administradas concomitantemente.
Interações: Pode ocorrer potencialização da eficácia de substâncias de ação central, como
álcool, barbitúricos e outros agentes psicofarmacológicos.

9.1.11 Óleo de linhaça

Nome científico: Linum usitatissimum L.


Principais constituintes: fonte rica de ácido alfalinolênico (ALA) ou ômega 3, com uma
concentração de 58 a 60%. Quantidades menores de ácidos graxos ômega 6 (ácido linoleico e
ácido oleico) estão também presentes em concentração próxima a 15%.
Farmacologia: possui propriedades laxantes, anti-inflamatória, bactericida, antitussígena e
mucolítica, diminui o colesterol e reduz o risco de doenças cardiovasculares.

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Uso terapêutico: antioxidante e fonte de suplementação vegetal de ômega 3 e 6. O ômega 3 é
precursor para as cadeias longas de ômega 3, conhecidas como ácidos eicosapentanoico (EPA)
e docosa-hexanoico (DHA).
Precauções e contraindicações: não informado na literatura consultada.
Efeitos adversos: não informado na literatura consultada.
Interações: não informado na literatura consultada.

9.1.12 Passiflora

Nome científico: Passiflora incarnata L.

Principais constituintes: Flavonoides, glicosídeos cianogênicos, óleo volátil.

Farmacologia: antiespasmódico, antitussígeno, ansiolítico, sedativo, hipnótico.

Uso terapêutico: ansiedade, nervosismo, adjuvante para tratamento de estresse devido a


viagens ou transporte, convulsões.

Precauções e contraindicações: não informado na literatura consultada.

Efeitos adversos: nenhum efeito adverso é esperado na dosagem normal.

Interações: efeitos aditivos com ansiolíticos e depressores do SNC.

9.1.13 Resveratrol

Nome científico: Polygonum cuspidatum


Principais constituintes: proantocianidinas
Farmacologia: propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, inibe a ativação metabólica de
carcinógenos, diminui a proliferação celular, induz a apoptose e atua como antimutagênico.
Uso terapêutico: muito utilizado na prevenção e tratamento de neoplasias devido a suas
propriedades antioxidantes.
Precauções e contraindicações: não informado na literatura consultada.
Efeitos adversos: não informado na literatura consultada.
Interações: não informado na literatura consultada.

9.1.14 Valeriana

Nome científico: Valeriana officinalis L.


Principais constituintes: monoterpenos, sesquiterpenos, ésteres terpênicos, sesquiterpenonas
e ácidos, irinoides (valepotriatos), alcaloides, ácidos fenólicos, flavonoides e taninos.
Farmacologia: calmante natural, sedativo, hipnótico, antiespasmódico, anticonvulsivante, entre
outros.

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Uso terapêutico: ansiedade, insônia e adjuvante no tratamento de pacientes com epilepsia.
Pode ser útil em gatos com cardiomiopatia hipertrófica.
Precauções e contraindicações: não informado na literatura consultada.
Efeitos adversos: alguns autores relatam excitação paradoxal ou superestimulação após ser
utilizada.
Interações: incluem barbitúricos e outros depressores do sistema nervoso central. Também
pode aumentar os efeitos das benzodiazepinas.

9.2 Fitoterápicos de interesse na farmácia magistral veterinária — Uso externo

PRINCÍPIO ATIVO AÇÃO CÃES GATOS


Extrato glicólico de Hidratante, emoliente, cicatrizante, Uso externo: Uso externo:
babosa, aloe vera regenerador da pele. 2,0 - 6,0 % 2,0 - 6,0 %
Extrato glicólico de Ação anti-inflamatória, antisséptica, Uso externo: Uso externo:
calêndula adstringente, cicatrizante e secativa. 2,0 - 6,0 % 2,0 - 6,0 %
Extrato glicólico de Uso externo: Uso externo:
Ação calmante, restauradora.
camomila 2,0 - 6,0 % 2,0 - 6,0 %
Uso externo: Uso externo:
Óleo de amêndoas Hidratante.
2,0 - 10 % 2,0 - 10 %
Uso externo: Uso externo:
Óleo de citronela Repelente.
2,0 - 20% 2,0 - 20%
Óleo de gérmen de Uso externo: Uso externo:
Hidratante e emoliente.
trigo 2,0 - 10 % 2,0 - 10 %
Ação nutritiva, emoliente e Uso externo: Uso externo:
Óleo de girassol
reepitelizante 1,0 - 3,0% 1,0 - 3,0%
Uso externo: Uso externo:
Óleo de macadâmia Hidratante
1,0 - 5,0% 1,0 - 5,0%
Ação anti-inflamatória, antisséptica,
Uso externo: Uso externo:
Óleo de melaleuca adstringente, cicatrizante e hidratante.
1,0 - 100% 1,0 - 100%
Indicado para uso em atopia
Antipulgas, anticarrapatos com ação Uso externo: Uso externo:
Óleo de neem
repelente e inseticida natural 3,0 - 10% 3,0 - 10%
Óleo de semente de Uso externo: Uso externo:
Hidratante
uva 1,0 - 5,0% 1,0 - 5,0%
Uso externo: Uso externo:
Tintura de alecrim Indicado contra queda de pelos
2,0 - 5,0% 2,0 - 5,0%
Ação adstringente, anti-inflamatória, Uso externo: Uso externo:
Tintura de arnica
descongestionante, antiedematoso 2,0 - 10% 2,0 - 10%
Tintura de Uso externo: Uso externo:
Cicatrizante
barbatimão 2,0 - 10% 2,0 - 10%
Calmante, emoliente, antisséptica, Uso externo: Uso externo:
Tintura de camomila
antialérgica, anti-inflamatória 2,0 - 10% 2,0 - 10%
Ação antisséptica e cicatrizante.
Uso externo: Uso externo:
Tintura de malva Indicada para inflamações e afecções
0,5 - 5,0% 0,5 - 5,0%
bucais
Tintura de própolis Ação antibacteriana anti-inflamatório e Uso externo: Uso externo:
20% secativa 1,0 - 4,0% 1,0 - 4,0%

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10. FLORAIS DE BACH

Os Florais de Bach são reconhecidos como tratamento natural pela Organização Mundial
de Saúde (OMS) desde 1956, e assim como outras terapias complementares, a utilização de
florais também vem ganhando destaque na Medicina Veterinária nesses últimos anos. Os florais
de Bach foram desenvolvidos na década de 30 pelo médico homeopata Edward Bach, que
estudou e desenvolveu 38 essências vegetais terapêuticas, que podem ser utilizadas de forma
isolada ou combinadas.
Os Florais de Bach são considerados formas de tratamento suaves, sutis, profundos e
vibracionais, sendo compostos energéticos que quando absorvidos no organismo são capazes
de restabelecer desequilíbrios através de suas propriedades. Cada essência floral atua em um
problema específico, deste modo, deve ser feita uma avaliação minuciosa sobre o
comportamento do animal para que haja então a restauração do equilíbrio físico e emocional.
Deve-se considerar que os Florais de Bach são sistemas terapêuticos diferentes daqueles
utilizados na homeopatia, apesar de que Edward Bach tenha recebido grande influência de
Hahnemann (médico que criou a homeopatia). Ainda segundo Bach, a origem de qualquer
patologia deve ser analisada previamente através das manifestações emocionais, uma vez que
as doenças podem ser consequências de conflitos entre a alma e a mente.
Dentre as vantagens, as essências florais podem ser utilizadas principalmente em
alterações comportamentais como ansiedade, agressividade, medo, angústia, tristeza e
depressão. Seu modo de ação se dá através de reversão de movimentos negativos da psique e
direcionando-os opostamente, ou seja, produzindo movimentos positivos. De forma contrária
aos humanos, os animais reagem às essências de forma muito mais rápida, apresentando muitas
vezes respostas já nas primeiras doses administradas.

10.1 Grupos de Florais

As 38 essências desenvolvidas por Bach são divididas em sete grupos, de acordo com os
seus usos:

1. Medo
• Mimulus
• Rock Rose
• Aspen
• Cherry Plum
• Red Chestnut

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2. Incerteza e da insegurança
• Cerato
• Scleranthus
• Gentian
• Gorse
• Hornbean
• Wild Oat
3. Falta de interesse no presente
• Clematis
• Honeysuckle
• Wild Rose
• Mustard
• Chestnut Bud
• White Chestnut
• Olive
4. Grupo da solidão
• Water Violet
• Impatiens
• Heather
5. Grupo da hipersensibilidade a influências e opiniões externas
• Agrimony
• Centaury
• Walnut
• Holly
6. Grupo do desalento e desespero
• Larch
• Pine
• Elm
• Sweet
• Star of Bethlehem
• Willow
• Oak
• Crab Apple
7. Grupo do cuidado excessivo com os outros

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• Chicory
• Vervain
• Vine
• Beech
• Rock Water

10.2 Florais para os animais (PINTO, 2008)

Agrimony: tratamento de sofrimentos mentais ou físicos não demonstrados de forma clara, seja
pela aparência ou pelo comportamento. Indicado para cães com preocupação excessiva em
agradar seu dono.
Aspen: tratamento de medos e apreensões sem causa definida (animais ansiosos, nervosos, com
tremores, respiração ofegante, suor, micção, orelhas e cauda baixas, corpo encolhido,
comportamento arredio e latidos sem motivo). A essência Aspen tranquiliza o animal, melhora
a respiração e reduz a tensão muscular.
Centaury: tratamento da submissão. Indicado para animais inseguros e ansiosos que
apresentam postura de submissão e chegam até mesmo a urinar devido à subserviência.
Cerato: indicado para animais totalmente dependentes dos tutores, que não sabem o que fazer
e para onde ir sem o dono.
Cherry Plum: indicado para animais que apresentam comportamentos descontrolados e
compulsivos. Administrado em animais muito nervosos, histéricos, destruidores e
descontrolados, que apresentam ataques de fúria e até mesmo convulsões. Também pode ser
indicado para animais que apresentam comportamento autodestrutivo.
Chestnut Bud: melhora o aprendizado, fazendo o animal aprender com os próprios erros e
aproveitar as suas experiências. Sua indicação é para animais em período de treinamento e
adestramento.
Chicory: tratamento da carência excessiva, possessividade e dependência. Possui indicação
também para animais que destroem tudo para chamar a atenção dos donos.
Clematis: trata a falta de interesse, melhorando a concentração dos animais. Indicado para
animais em treinamento.
Crab Apple: indicado para animais que ingerem fezes, lambem-se compulsivamente e
apresentam parasitas, infecções e intoxicações.
Elm: indicado para animais com sobrecarga de trabalho, em exposições, adestramento ou
quando o dono é muito exigente.
Gentian: tratamento de fraqueza, desânimo, tristeza e falta de apetite.

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Gorse: indicado para animais apáticos e para fêmeas que perderam seus filhotes.
Heather: indicado para animais que querem chamar a atenção por se sentirem solitários,
aqueles que fazendo barulhos, latem de forma compulsiva, destroem objetos e choram.
Também pode ser administrado em animais que não escutam seus donos ou seu treinador.
Holly: tratamento de raiva, inveja, ciúme e egoísmo.
Honeysuckle: trata a saudade que o animal tem do ambiente, de outros animais ou de pessoas.
Indicado para animais que ficam deprimidos longe de casa.
Hornbean: trata a preguiça, a fraqueza, o cansaço ou a fadiga. Tem indicação para animais que,
após longo período de descanso, precisam voltar ao trabalho.
Impatients: para animais impacientes e irritados. Indicado para os hiperativos, inquietos e
impacientes em aprender.
Larch: tratamento da baixa autoestima, perda da confiança e insegurança com relação a erros.
Indicado a animais que sofreram traumas ou foram abandonados.
Mimulus: indicado para animais que sentem medo de escuro, água, barulho, fumaça, inseto,
carro, avião etc.
Mustard: tratamento da depressão sem motivo aparente.
Oak: indicado para animais que, mesmo cansados e sem disposição, continuam cumprindo seu
dever.
Olive: trata a fadiga, o cansaço absoluto, a falta de energia vital. Indicado para animais que
tiveram doenças há pouco tempo e animais idosos.
Pine: trata a culpa e o arrependimento.
Red Chestnut: indicado para animais superprotetores. Trata aqueles que sentem medo da
perda, seja de animais ou pessoas, e ainda apresentam preocupação excessiva com eles.
Rock Rose: tratamento de medos extremos. Indicado para aqueles animais que ficam em estado
de inconsciência, agressivos e até descontrolados por medo excessivo.
Rock Water: indicado para animais teimosos, metódicos, dominadores e que não aceitam
mudanças na rotina.
Scleranthus: indicado para animais com desequilíbrio, temperamento instável e indecisos.
Star of Bethlehem: tratamento de traumas físicos e emocionais (acidentes e maus-tratos, por
exemplo).
Sweet Chestnut: indicado para animais deprimidos por sentirem falta do dono, que se recusam
a comer e se automutilam.
Vervain: trata a hiperatividade, o entusiasmo em excesso e a impulsividade. Indicado a animais
hiperativos, que não conseguem relaxar, vivem em estado de alerta e que apresentam dores
musculares.

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Vine: para animais com comportamento dominante. Indicado para animais dominantes e
agressivos, que marcam território e não toleram outros animais.
Walnut: tratamento para a dificuldade de mudanças e adaptações (mudanças de casas,
condições novas, por exemplo).
Water Violet: indicado para animais antissociais, reservados e indiferentes ao que ocorre ao
redor.
White Chestnut: indicado para animais com comportamentos compulsivos, insônia,
preocupação e e inquietação.
Wild Oat: indicado para animais cujo desempenho é menor que sua capacidade e para
mudanças de função.
Wild Rose: indicado para animais que não têm prazer em viver, que estão sempre tristes,
entediados, indiferentes e apáticos.
Willow: trata animais irritados, mal-humorados e rancorosos.

Rescue Remedy (Floral de emergência): composição de cinco dos 38 Florais de Bach, sendo eles:
Clematis + Rock Rose + Impatiens + Cherry Plum + Star of Bethlehem. Esse floral pode ser
associado ainda com mais cinco florais. Essa composição atua na reintegração imediata do
sistema psicoenergético, restabelecendo o equilíbrio emocional. Trata o estresse, o sofrimento
e a tensão. Indicado principalmente para situações de choque, traumas e estresse.

10.2.1 Tabela para consulta rápida dos florais e suas indicações

Floral Indicações
Agrimony Sofrimentos mentais ou físicos
Aspen Medo de coisas desconhecidas. Animais selvagens ou nervosos.
Beech Intolerância com outros animas, pessoas ou situações.
Centaury Dificuldade em dizer não.
Cerato Falta de confiança nas próprias decisões.
Cherry Plum Picos de agressividade. Animal descontrolado.
Incapacidade a aprender com os próprios erros. Estimula a memória
Chestnut Bud emocional do animal e sua capacidade de fixar o treinamento e não
repetir os erros.

Chicory Egoísmo e possessividade. Para chegada de um bebê, para evitar o


sentimento de rejeição, trabalha o desapego ao dono.
Clematis Concentração.
Crab Apple Limpeza, asseio e sentimento de autorrejeição por desagrado.
Elm Sensação de sobrecarga por excesso de responsabilidade.
Gentian Perseverança e apetite.
Gorse Desespero, Quando o animal desiste de lutar.
Heather Equilíbrio da necessidade de atenção.

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Holly Ódio, inveja, raiva e ciúme.
Honeysuckle Saudade.
Hornbean Cansaço, preguiça.
Impatiens Impaciência. Animais extremamente inquietos, que destroem coisas.
Larch Falta de confiança, para aumentar a autoestima.
Mimulus Medo de coisas conhecidas e timidez.
Mustard Tristeza profunda e sem motivo aparente.
Oak Equilíbrio do animal persistente que avança os limites de sua capacidade.
Olive Falta de energia. Exaustão após o esforço físico e mental.
Pine Culpa.

Red Chestnut Desapego de ente querido. Para animais que latem demais, ficam
agitados ou depressivos longe do dono.
Rock Rose Terror e medo. Pânico e barulho, fogos.
Rock Water Inflexibilidade e teimosia.
Scleranthus Incerteza e desequilíbrio.
Star of Bethlehem Traumas, choque.
Sweet Chestnut Angústia mental. Falecimento de outro animal.
Vervain Animal hiperativo, excesso de entusiasmo.

Vine Excesso de autoridade. Para animais que querem dominar outros mais
fracos provocando brigas constantes.
Walnut Adaptação a situações de mudança. Adaptação de nova casa, adoção.
Water Violet Equilíbrio de personalidades reservadas e distantes.
White Chestnud Ideias fixas, pensamentos indesejáveis.
Wild Oat Dúvida.
Wild Rose Animal apático, resignado.
Willow Mau humor e comportamento rancoroso.
Composto de emergência (Star of Bethlehem + Cherry Plum + Rock Rose
Rescue Remedy
+ Clematis + Impatiens).

Terapias complementares como os florais são uma nova possibilidade para tratamento
ou prevenção de doenças de natureza física, mental, comportamental ou emocional, baseando-
se na busca pelo equilíbrio entre esses estados. Esse tipo de tratamento pode ser administrado
concomitantemente aos tratamentos alopáticos, além de não possuírem contraindicações
devido a sua ação vibracional.

Exemplo de prescrição magistral de floral:

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11. HOMEOPATIA

A homeopatia, do grego “semelhante à doença”, foi desenvolvida pelo médico Samuel


Hahnemann no século XVIII, baseada no princípio de que o “semelhante cura o semelhante”,
que preconiza a cura do indivíduo por si só. Essa prática emprega substâncias ativas em doses
pequenas, de acordo com um processo de produção que segue normas estritas da
Farmacotécnica Homeopática. Os medicamentos homeopáticos são feitos de substâncias de
origem vegetal, animal ou mineral que sofrem diluições e sucussões para que se alcancem a
potência pretendida.
Esse também é um tratamento alternativo que pode ser utilizado nas mais diversas
espécies: cães, gatos, aves, equinos, bovinos, silvestres, entre outros. Sua utilização vem
ganhando cada vez mais destaque por ser um tratamento de baixo custo, com efeitos
terapêuticos duradouros e poucos efeitos colaterais (ou até mesmo inexistentes). Na
homeopatia, a doença é vista como um desequilíbrio da energia vital e o medicamento
homeopático tem a função de equilibrar essa energia, tratando o paciente e não a doença.
Os medicamentos homeopáticos devem ser prescritos com base na individualização. Por
isso, cada paciente é avaliado com uma anamnese e pelo exame dos sinais comportamentais.
Em uma consulta homeopática, deve-se buscar ao máximo todas as particularidades
apresentadas por cada animal, pois cada informação obtida é importante, já que a terapia
homeopática visa a cura do doente e não da patologia propriamente dita.
Em busca de tratamentos naturais e sem muitos efeitos adversos, o uso de
medicamentos homeopáticos vem crescendo na rotina médica veterinária. Muitas vezes, a
procura por esse tipo de terapia ocorre geralmente para tratar casos crônicos como dermatites,
otites resistentes a antibióticos, convulsões e distúrbios comportamentais, obtendo-se efeitos
benéficos na maioria dos casos.

11.1 Administração do medicamento

Algumas regras sobre prescrição de medicamentos homeopáticos:


• Apenas um medicamento deve ser receitado de cada vez para um mesmo paciente em
um determinado momento.
• Para realizar novas prescrições, deve-se aguardar que se complete a ação do
medicamento.
• A prescrição deve ser feita com base na síndrome mínima de valor máximo e de acordo
com o diagnóstico homeopático.

96
• Não interferir nas agravações homeopáticas, a não ser que sejam impeditivas ao
paciente e desproporcionadas à gravidade de seu caso.
• O tratamento deve ser iniciado com potências médias (18 a 30 centesimais). Potências
baixas (6 a 12 centesimais) são indicadas para os casos mais orgânicos ou lesionais;
médias para casos não muito graves e funcionais e altas (200, 1.000, 10.000 centesimais)
para os casos predominantemente mentais.
• As doses não devem ser repetidas na mesma potência. Para repetições, deve ser
utilizado o método plus, consistindo na diluição dos glóbulos ou gotas de medicamento
homeopático dinamizado e, cada vez que se administra a nova solução, esta deve sofrer
uma nova sucussão, agitando-se a mesma de 6 a 8 vezes.
• A regra geral em casos agudos é utilizar potências baixas, sendo regulada a frequência
das doses de acordo com o prognóstico da doença.
• Em fases agudas das doenças mentais, é preferível utilizar potências da escala 50
milesimal em doses repetidas ou no método plus, ou ainda utilizar as altas potências
centesimais em doses repetidas no método plus.
• Dar atenção a possíveis contratempos que podem dificultar a cura, como as condições
de higiene, com relação ao medicamento (origem e a conservação), horários de
administração e a dieta.
• A prescrição de estimulantes e desbloqueadores da energia vital, tanto nos casos agudos
como nos casos crônicos, é indicada por Hahnemann, dentre eles o Sulphur, Hepar
sulphuris, Mercurius.
Exemplo de prescrição magistral de homeopatia:

97
98
12. TERAPÊUTICA EM FELINOS

Com o objetivo de esclarecer questões decorrentes de intoxicações por medicamentos


em gatos, trazemos, neste capítulo, as principais características do metabolismo dessa espécie
e os medicamentos que devem ser utilizados com cautela e que são contraindicados em felinos.

12.1 Diferenças no metabolismo dos gatos

Intoxicações medicamentosas em felinos ocorrem principalmente devido à


administração errônea de medicamentos e de doses superiores às recomendadas. É importante
ressaltar que todo medicamento pode ser tóxico, o que diferencia a toxicidade de uma dose
terapêutica é justamente a dose administrada.
Apesar de as intoxicações serem mais comuns em cães do que em gatos, essa última
espécie acaba por sofrer intoxicações mais graves, em decorrência do seu metabolismo. Os
gatos apresentam receptores semelhantes aos de outros animais, porém o metabolismo dessa
espécie é diferente, afetando diretamente a eliminação do medicamento e de seus metabólitos
no organismo.
Os gatos apresentam uma menor tolerância a certos princípios ativos e uma das
principais causas de intoxicação nessa espécie é a incapacidade da biotransformação hepática
(glucoronil transferase), que impossibilita a conjugação de determinados medicamentos. Em
virtude dessa deficiência na conjugação, muitos fármacos que são metabolizados por essa via
acabam apresentando meia-vida prolongada, e doses elevadas podem levar a níveis tóxicos,
causando sérias consequências.
Outra característica dos felinos é a facilidade que essa espécie tem de oxidar a
hemoglobina, resultando em meta-hemoglobinemia e anemia, decorrentes da formação de
corpúsculos de Heinz.
Dessa forma, alguns medicamentos devem ser utilizados com cautela, com o intervalo
entre doses adequado e sempre observando sua eliminação.

12.2 Medicamentos que devem ser utilizados com cautela em gatos

Aciclovir: pode ocorrer acúmulo do medicamento, uma vez que sua principal forma de
eliminação é pela via renal. Tem pouca absorção e produz toxicidade, podendo causar
leucopenia e anemia.
Ácido acetilsalicílico: gatos apresentam deficiência em metabolizar os salicilatos de forma
rápida, devido à deficiência das enzimas glicuroniltransferase. Assim, a administração de doses
elevadas pode causar quadros de intoxicação.

99
Álcool benzílico: o acúmulo do metabólito da fase 1 do ácido benzoico é capaz de levar à
intoxicação, que pode ocorrer quando se usa 0,45 g de ácido benzoico/kg ou 0,2% da substância
ou mais na dieta do animal.
Amitraz: seu uso não é recomendado em felinos. Os principais sinais de intoxicação são sedação,
hipotermia, bradicardia, bradiarritmias, hipotensão, bradipneia, midríase e hiperglicemia.
Amprólio: devido à deficiência de tiamina, provoca de forma mais comum distúrbios no
metabolismo da glicose, encefalopatias, hemorragias do tronco cerebral, ataxia, depressão e
alterações no nervo óptico.
Analgésicos opioides: devido à variação nos graus de sedação que essa espécie apresenta, são
pouco utilizados pois ocasionam recuperações incertas. A sobredose de morfina, por exemplo,
pode acarretar excitação, espasmos tônicos, ataxia e até mesmo a morte. A sensibilidade dos
felinos pode estar relacionada ao estímulo de receptores dopaminérgicos. Esses analgésicos
podem, entretanto, ser utilizados de forma segura em doses recomendadas. Outros analgésicos
que devem ser utilizados com cautela são: oximorfina, meperidina, tartarato de butorfanol.
Azatioprina: gatos têm uma sensibilidade particular à toxicidade medular da azatioprina,
resultando muitas vezes em leucopenia e trombocitopenia. Dessa forma, o uso do medicamento
deve ser monitorado por meio de hemograma.
Cloranfenicol: por sofrer biotransformação hepática e excreção renal, a meia-vida desse
medicamento é longa e dose-dependente. Nota: o cloranfenicol está proibido para
manipulação veterinária, conforme IN n. 9, de 27 de junho de 2003.
Clorpropamida: durante o uso do medicamento deve ser feito um acompanhamento por meio
de exames laboratoriais e uma dieta alimentar regular precisa ser mantida, uma vez que esse
medicamento pode causar hipoglicemia.
Codeína: uso deve ser cauteloso devido à hipersensibilidade que os gatos têm aos analgésicos
narcóticos. Assim, somente doses baixas podem ser utilizadas. Os profissionais devem atentar
para as associações da codeína geralmente encontradas em fórmulas que podem ser tóxicas
para felinos.
Compostos fenólicos: gatos são sensíveis a esses compostos devido à característica da difícil
conjugação com o ácido glicurônico, levando à rápida saturação do mecanismo de detoxificação.
Dessa forma, há retenção desses compostos não metabolizados e acúmulo de quinonas tóxicas.
Dipirona: devido ao seu metabolismo lento, a administração de doses elevadas em gatos pode
levar a intoxicações.
Enrofloxacina: há relatos de alguns casos de degeneração retiniana aguda e cegueira após o uso
da enrofloxacina na espécie felina.
Estreptomicina e diidroestreptomicina: podem induzir neurotoxicidade nos gatos.

100
Fenitoína: pouco utilizada em gatos devido à escassez metabólica.
Griseofulvina: não deve ser administrado em fêmeas prenhes no primeiro terço de prenhez, já
que possui efeito teratogênico. Durante o tratamento com esse medicamento, é necessário
manter o monitoramento por meio de exames hematológicos, pois seu uso pode desenvolver
anormalidades hematológicas e hepáticas.
Hexaclorofeno: não deve ser administrado em filhotes, animais com feridas, em casos de
insuficiências hepáticas e renal e colestase.
Iodeto de sódio e potássio: felinos são mais suscetíveis a esse princípio por desenvolverem
efeitos colaterais ligados ao iodismo.
Iodo e iodóforos: pode ocorrer intoxicação devido ao hábito de lambedura dessa espécie. O
tratamento de feridas em gatos com antissépticos polivinilpirrolidona-iodo (povidine tópico e
tintura) na concentração a 1% e 10% pode causar irritação e necrose tecidual, por isso
recomenda-se a diluição desse composto a 0,1 e 0,5%.
Lidocaína: gatos são mais sensíveis e apresentam maiores efeitos no neurológicos e
respiratórios, como agitação, fasciculações musculares, convulsões generalizadas e parada
respiratória.
Loperamida: felinos são sensíveis a analgésicos narcóticos e o uso desse princípio ativo de ser
feito de forma cautelosa.
Metronidazol: quando administrado em doses altas, pode causar intoxicação do SNC podendo
atravessar a barreira hematoencefálica e acumular-se no SNC.
Naproxeno: devido aos seus efeitos nefrotóxicos, pode causar insuficiência renal aguda.
Organofosforados: gatos são mais susceptíveis aos efeitos tóxicos dos organofosforados,
ocorrendo acúmulo de acetilcolina.
Peróxido de benzoíla: o uso não deve ultrapassar 2,5% em felinos.
Piroxicam: deve ser utilizado com cautela, pois pode causar insuficiência renal aguda, já que é
uma droga nefrotóxica.
Propiltiouracil: alguns efeitos colaterais têm sido relatados com o uso desse medicamento em
gatos. Para o tratamento do hipertireoidismo felino, o metimazol é o fármaco de escolha.
Propofol: esse anestésico, derivado do fenol, pode levar à oxidação eritrocitária quando
administrado aos felinos durante vários dias seguidos.
Quinolonas: as de primeira geração causam maior toxicidade que as quinolonas de segunda e
terceira gerações. Doses altas podem causar cristalúria, devido à sua solubilidade em soluções
ácidas.
Salicilatos: devido à dificuldade que os felinos têm em metabolizar salicilatos de forma rápida,
apresentam uma meia-vida plasmática extremamente longa (+- 44,6 horas), sendo dose-

101
dependentes. A maioria das intoxicações em gatos ocorre devido à administração de doses
indicadas para cães ou humanos.

12.3 Medicamentos contraindicados para gatos

Acetaminofeno (paracetamol): altamente tóxico para felinos. A deficiência da glicuronidação e


rápida saturação da via de sulfatação causa desvios de grande parte do metabolismo hepático
desse medicamento para as enzimas da fase 1, causando grande quantidade do metabólito
tóxico reativo, que se acumula causando lesão oxidativa hepatocelular e à hemoglobina.
Outros AINES que não devem ser utilizados: ibuprofeno, fenilbutazona, ácido mefenâmico,
nimesulida e naproxeno.
Amiodarona: por ser altamente lipofílico, ocorre depósito tecidual desse medicamento,
causando fibrose pulmonar, depósitos na córnea, disfunção hepática, entre outros.
Antissépticos urinários: antissépticos como azul de metileno e fenazopiridina podem causar
oxidação irreversível da hemoglobina, ocorrendo hemólise intravascular e desenvolvimento de
corpúsculos de Heinz.
Benzocaína: esse anestésico é relacionado à formação de produtos tóxicos a partir da oxidação
das hemoglobinas.
Benzoato de benzila: contraindicado pois causa êmese, diarreia, hiperexcitabilidade, convulsão
e dores abdominais.
Carprofeno: a meia-vida desse medicamento em gatos é muito longa, próxima a 11 horas, sendo
contraindicado.
Cisplatina: devido à sua toxicidade pulmonar, pode causar mielossupressão e até mesmo morte.
A cisplatina não é absorvida pelo trato gastrointestinal, acumulando-se nele, nos rins e no
fígado.
Diclofenaco sódico: medicamento altamente tóxico em carnívoros e dentre os principais efeitos
adversos estão as gastroenterites hemorrágicas graves.
Digitoxina: gatos são mais sensíveis aos seus efeitos tóxicos dose-dependentes, já que esse
medicamento possui meia-vida longa. Sinais de toxicidade incluem anorexia, vômito e
depressão, que frequentemente aparecem antes das anormalidades do eletrocardiograma.
Indometacina: esse anti-inflamatório é contraindicado em gatos pois pode causar grave
gastroenterite hemorrágica.
Fenilbutazona: provoca graves distúrbios gastrointestinais, hepatotoxicidade e nefropatias.
Fluorouracil: em gatos, causa mielossupressão e distúrbios gastrointestinais. Neurotoxicidade
irreversível e fatal tem sido descrita quando administrado de forma sistêmica e tópica.

102
Fosfato de sódio (enema): devido ao risco de desenvolver hipernatremia, hiperfosfatemia,
hiperglicemia, hipocalcemia e sinais gastrointestinais, esse acidificante urinário é contraindicado
em felinos.
Oxifenilbutazona: pode causar graves distúrbios gastrointestinais, hepatotoxicidade e
nefropatias.
Primidona: a meia-vida desse medicamento em gatos é muito longa, além disso é metabolizado
no fígado, sendo incapaz de sofrer biotransformação.
Progestágenos sintéticos: risco de desenvolvimento de neoplasias mamárias benignas e
malignas em gatos após a administração de acetato de megestrol e medroxiprogesterona.

103
13. LEGISLAÇÕES IMPORTANTES

Neste capítulo, são abordadas algumas regulamentações que dizem respeito à


manipulação de produtos veterinários determinadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA).
São elas:
Decreto n. 5.053, de 22 de abril de 2004 — Aprova o Regulamento de fiscalização de
produtos de uso veterinário e dos estabelecimentos que os fabriquem ou comerciem, e
dá outras providências.
Alterações: Decreto n. 8.448, de 6 de maio de 2015 e Decreto n. 8.840, de 24
de agosto de 2016.
Instrução Normativa MAPA n. 11, de 08 de junho de 2005 — Aprova o Regulamento
Técnico para Registro e Fiscalização de Estabelecimentos que Manipulam Produtos de
Uso Veterinário e o Regulamento de Boas Práticas de Manipulação de Produtos
Veterinários (Farmácia de Manipulação).
Alteração: Instrução Normativa n. 41, de 4 de dezembro de 2014.
Instrução Normativa n. 9, de 27 de junho de 2003 — Proíbe a fabricação, a manipulação,
o fracionamento, a comercialização, a importação e o uso dos princípios ativos
cloranfenicol e nitrofuranos e os produtos que contenham estes princípios ativos, para
uso veterinário e suscetível de emprego na alimentação de todos os animais e insetos.

13.1 Proibição da manipulação de medicamentos de uso veterinário em animais de consumo


humano

Instrução Normativa n. 41, de 4 de dezembro de 2014


A IN n. 41 refere-se à manipulação de produtos de uso veterinário para as espécies
animais destinados à alimentação humana. Dessa forma:

3.4 É vedada a manipulação de produtos de uso veterinário para todas as


espécies animais destinadas à alimentação humana, exceto quando se tratar
de preparações homeopáticas produzidas em conformidade com a
Farmacopeia Brasileira de Homeopatia com potência igual ou superior a 6 CH
ou 12 DH.

De acordo com o Memorando Circular n. 19/2014/CPV/DFIP, de 23 de dezembro de


2014, a principal justificativa para a proibição da manipulação de produtos veterinários
alopáticos para animais de produção é o risco sanitário que pode apresentar, devido ao
desconhecimento do período de carência para consumo dos alimentos provenientes dos

104
animais tratados com esses produtos, uma vez que cada manipulação possui uma fórmula
específica, o que inviabiliza a realização de estudos de depleção residual do medicamento.

13.2 Proibição da manipulação veterinária dos princípios ativos cloranfenicol e nitrofuranos

Instrução Normativa n. 9, de 27 de junho de 2003


O MINISTRO DE ESTADO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, no uso da
atribuição que lhe confere o art. 87, da Constituição, tendo em vista o que dispõe o Decreto-Lei
n. 467, de 13 de fevereiro de 1969, o Decreto n. 76.986, que regulamenta a Lei n. 6.198, de 26
de dezembro de 1974, o Decreto n. 1.662, de 6 de outubro de 1995, o Decreto n. 2.062, de 7 de
novembro de 1996, e tendo em vista o que consta do Processo n. 21000.005292/2003-06 e n.
21000.005646/2003-12, resolve:
Art. 1º Proibir a fabricação, a manipulação, o fracionamento, a comercialização, a
importação e o uso dos princípios ativos cloranfenicol, nitrofuranos e os produtos que
contenham estes princípios ativos, para uso veterinário e suscetível de emprego na alimentação
de todos os animais e insetos.

105
BIBLIOGRAFIA

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WHALEN.K Farmacologia Ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.

107
ANEXO

Respostas exercícios de fixação – 1

1) 15kg x 10 mg/kg = 150 mg

Preciso administrar ao animal 150 mg, 2 vezes ao dia. Como há a apresentação do


medicamento em caixas de 150 mg, serão necessários 2 comprimidos de 150 mg ao dia.

Cada caixa contém 10 comprimidos, para 7 dias serão necessários:


2 comprimidos por dia x 7 dias= 14 comprimidos.
Logo, serão necessárias 2 caixas.

2) 4kg x 15 mg/kg = 60 mg (dose total necessária)

Concentração da solução: 5% x 10: 50 mg/mL

mL necessários: 60 mg ÷ 50 mg/mL= 1,2 mL

Preciso administrar ao animal 1,2 mL, 1 vez ao dia. Como o tratamento tem duração de 3 dias,
precisarei de 3,6 mL do medicamento. Sendo assim, já que cada frasco contém 10 mL, será
necessário apenas 1 frasco.

3) 500kg x 12mg/kg = 6.000 mg (dose total necessária)

Concentração da solução: 55% x 10: 550 mg/mL

mL necessários: 6.000 mg ÷ 550 mg/mL= 10.91 mL ≅ 11 mL

Assim, como cada frasco do medicamento contém 15 mL do medicamento, será


necessário apenas 1 frasco.

108
Respostas exercícios de fixação – 2

1) 3 kg x 10 mg/kg = 30 mg de cetoconazol (dose total necessária)

2) 9,5 kg x 8 mg/kg = 76 mg (dose total necessária)

3) Benazepril: 23 kg x 0,4 mg/kg = 9,2 mg (dose total necessária)


Pimobendan: 23 kg x 0,2 mg/kg = 4,6 mg (dose total necessária)

4) 4,2 kg x 3 mg/kg = 12,6 mg (dose total necessária). 3 cápsulas por dia por 3 dias:
9 cápsulas.
Obs.: receita de uso controlado. Necessita de 3 vias (proprietário, farmácia e
veterinário).

109

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