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ISSN 2595-3869
R E V I S T A
SOCIOLOGIA,
POLÍTICA &
CIDADANIA
I S S N 2 5 9 5 - 3 8 6 9
REVISTA SOCIOLOGIA, POLÍTICA E CIDADANIA - © 2018
Editor
Conselho Editorial
Thiago Mazucato
Editor
Sumário
O assistente social como agente emancipador da pessoa com deficiência e sua sexualidade, 43
Nataly Sabioni Nogueira
Rayana Costa Parro
Ações e poderes: realidade histórica e estilo literário em
Antonio Vieira
Wesley Piante Chotolli
Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Especialista em
Ensino de Sociologia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Mestre em Ensino e
Processos Formativos pela Universidade Estadual Paulista (UNESP).
Introdução
Dizer que Antônio Vieira foi um dos maiores pregadores da língua portuguesa
talvez seja desnecessário para quem já teve contato com suas obras e suas façanhas.
Façanhas no sentido das ações desencadeadas por esse ilustre sacerdote que, com sua
perspicácia e inteligência, tornou-se um dos homens mais influentes na corte
portuguesa na época da restauração da monarquia. É justamente acerca dessas
realizações no reinado de D. João IV que podemos fazer uma discussão sobre quais as
aspirações que moveram Vieira a dedicar-se com tanta convicção à política. Dessa
forma, essa análise começará utilizando-se de alguns aspectos das obras de pensadores
que se debruçaram sobre a discussão entre os intelectuais e suas ações junto ao poder
político.
O primeiro aspecto que será necessário considerar é o campo de atuação. Não
se busca uma discussão ampla e geral sobre todas as obras do nosso padre. Ao contrário,
o que se quer aqui é destacar alguns aspectos de sua contribuição para a política e como
eles se desenvolveram em seu contexto. Porém, para que se possa chegar a esse ponto,
é preciso que se delimite onde se pretende trabalhar e qual a perspectiva filosófica que
será trilhada.
Bobbio (1997) considera que:
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deploráveis confusões de planos de discurso tão freqüentes entre aqueles
que falam desse assunto, decorrentes sempre do fato de que os falantes não
se entendem a respeito de quem estão falando, sobre o que estão falando e
sobre o modo de falar a respeito. (BOBBIO, 1997, p. 68)
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verificam os equívocos e os acertos dos reis, e por meio delas é que se conseguirá definir
o futuro de Portugal.
Maquiavel (2010) foi um admirador dos fatos passados. Para ele, os acertos
tidos em outras épocas deveriam ser considerados e utilizados como conteúdo de
exemplaridade. É óbvio que se deve ter um cuidado com a forma com que estes fatos
foram contatos e os valores que orientavam essas ações. Também em Vieira fica
perceptível essa característica. Ele foi um admirador dos reis antigos.
Outro ponto em comum entre os autores é o papel de conselheiro de príncipe.
Maquiavel, ao escrever sua obra O Príncipe (2010), tinha como objetivo principal que
seu livro fosse o “livro de cabeceira” do soberano. Não podemos esquecer também que
Maquiavel possuía interesse não somente em aconselhar o rei, mas voltar a fazer parte
do corpo político de Florença.
Vieira, por mais que não tenha escrito um manual de como deve ser o
comportamento do rei diante de guerras e disputas políticas, também nutria um desejo
por assuntos ligados ao destino do reino. Ser conselheiro não era somente almejar
destaque na corte e na Igreja. Mas é certo que ser conselheiro de príncipe o colocava
numa posição de estrategista político. Ora, basta observar as maquinações que nosso
padre proporcionou para o destino de Portugal, além de sua participação efetiva para
resolver problemas com Estados europeus, como Holanda, Espanha e Nápoles.
Maquiavel (2010) dizia que um rei não podia ser rei e filósofo ao mesmo tempo.
Isso porque, como administrador de um grande reino, a preocupação central do príncipe
seria justamente o andamento das ações efetivas. Para as decisões políticas ele deveria
ser aconselhado por alguém que tivesse experiência e pudesse orientá-lo em tais
assuntos. Ou seja, não caberia ao príncipe ser um pensador e executor de suas próprias
ideias. Vieira nunca chegou a afirmar que o rei não pudesse ser filósofo. No entanto, em
seus sermões é fácil perceber uma preocupação permanente em aconselhá-lo nas suas
ações políticas.
Por meio destas considerações preliminares é preciso dizer que este trabalho
está centrado nas relações entre obra intelectual e as ações de Antônio Vieira. Nesse
sentido, pretende-se demonstrar como o jesuíta conseguiu conquistar o espaço que
obteve na corte lusitana à época da restauração.
Metodologia
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A principal vantagem desse tipo de pesquisa bibliográfica reside no fato de
permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais
ampla que poderia pesquisar diretamente. Essa vantagem se torna
particularmente importante quando o problema de pesquisa requer dados
muito dispersos pelo espaço. [...] A pesquisa bibliográfica também é
indispensável nos estudos históricos. Em muitas situações, não há outras
maneiras de conhecer os fatos passados senão com base em dados
secundários. (GIL, 2008, p. 50)
Discussão
Sempre que se faz um estudo sobre a história do Brasil e seus principais nomes
e representantes do período colonial é improvável, para não dizer impossível, não
mencionar os jesuítas. Com efeito, eles colaboraram imensamente para a educação,
colonização e catequização dos indígenas aqui presentes. De forma alguma se questiona
os malefícios ou benefícios dessa prática. No entanto, é fundamental que se tenha a
compreensão das ações que essa ordem praticou em terras brasileiras.
Um dos principais jesuítas que aqui exerceu atividades de catequese foi o padre
Antônio Vieira que, ao elaborar seus sermões, conseguiu alcançar prestígio tanto com a
camada miúda como com as pessoas de grossa fortuna que integravam a corte
portuguesa. Esse homem, que fazia de sua pregação uma arte, foi muito importante
para o desenvolvimento da igreja no Brasil, haja vista que atraía um grande número de
ouvintes em seus discursos. No entanto, para compreender como Antônio Vieira
transformou-se nesse grande personagem literário e histórico, é necessário que se
conheça um pouco de sua história.
Antônio Vieira Ravasco nasceu em 06 de fevereiro de 1608, em Lisboa (LOPES,
2008, p. 14). Seu pai, Cristovão Vieira Ravasco, pertencia a estratos inferiores da
burguesia portuguesa. No entanto, ainda assim, o pai de Vieira fora condecorado com o
título de “Moço da Câmara”, o que demonstra que ele possuía certo prestígio naquela
sociedade. Em 1614, com apenas 6 anos de idade, Vieira embarcou para o Brasil, junto
~ 8 ~
com seus pais, com destino à cidade de Salvador. Lá chegando, aprendeu a ler e a
escrever no Colégio dos Jesuítas, o que possivelmente deve ter exercido influência
considerável para que o jovem Vieira pudesse, nas palavras de Hernani Cidade, “receber
os estímulos que teriam inclinado o espírito” (CIDADE, 1979, p. 14). Com apenas 15 anos
Vieira resolveu entrar para a ordem dos jesuítas. Isso se deveu ao fato de ter tido
pesadelos na casa do pai. Sua família era contrária a tal atitude. Porém, a vocação que
ele sentia fez o jovem planejar uma fuga, o que acabou se concretizando.
O que é certo é que, não querendo seus pais que ele vestisse a roupeta, um
belo dia fugiu de casa, e foi-se meter no Colégio dos Jesuítas. Seriam
estranhos a isso os reverendos padres, mas não era esse o seu costume.
Procuravam sempre e procuravam por todos os modos lícitos chamar para o
seu Instituto as grandes inteligências e não decerto desperdiçariam a do
Padre Antonio Vieira. Não houve rogos nem instâncias que a família não
empregasse para o dissuadir de vestir a roupeta. Nada conseguiu – Antonio
Vieira fez os seus dois anos de noviciado e professou no dia 6 de Maio de
1625. (ALVES, 1959, p. XXXIV)
~ 9 ~
necessariamente abandonou a teoria, pelo contrário, ela era a base de sua ação) para
colaborar ativamente no campo prático, intervindo na política e na catequização.
No período em que Vieira começou a desenvolver seus sermões, é válido
destacar que muitas revoltas e invasões estavam ocorrendo em solo brasileiro. Como
exemplo, podemos citar a invasão holandesa em maio de 1624 e a conquista de
Pernambuco, em 1630. Segundo Boris Fausto (2006),
~ 10 ~
fomentou o projeto expansionista, povo católico, impregnado de
religiosidade, fiéis dominados pelas virtudes da fé, em nome da qual
ampliavam suas conquistas e, consequentemente, suas riquezas. (ALVARES,
2007, p. 10)
É bom salientar que Vieira não se dizia profeta. Ele se considerava apenas
intérprete das Sagradas Escrituras. A diferença é bem clara. Por mais que o profeta e o
intérprete tentem esclarecer o futuro, eles o fazem de maneiras diferentes. O profeta é
aquele homem no qual se pode perceber o poder de prever acontecimentos que estão
por vir, seja por intermédio de sonhos ou de outros fatores diversos. É um dom. O
intérprete é aquele que, por meio das “pistas” deixadas por Deus, conseguiria
compreender o que ainda não aconteceu. Vieira dizia prever o que há de vir baseado
nas Sagradas Escrituras, ou seja, ele apenas interpretava as palavras de Deus e não
pretendia fazer previsões pelo emprego de meios sobrenaturais. Por intermédio desse
expediente, seria possível conhecer os sucessos que estavam nos planos de Deus
(VIEIRA, 19-).
Pela fama conquistada com seus sermões, Vieira logo foi chamado para pregar
na corte portuguesa. Ele se tornou uma pessoa reconhecida e de alto prestígio naquela
sociedade. E ainda pôde desenvolver suas aptidões de homem político, haja vista que
agora se tornava não somente um padre, mas alguém de máxima confiança. Enfim,
entrava em cena o conselheiro do rei. Segundo a análise do padre Gonçalo Alves (1959),
Acolhido pelo rei como amigo dilecto, exerceu desde logo a máxima
influência na política de seu tempo. Eram os seus sermões muitas vezes
verdadeiros discursos políticos, com que procurava fazer triunfar na opinião
as medidas que se pretendiam adoptar; tal é, por exemplo, aquele seu
magnífico sermão de Santo Antônio, pregado quando estavam reunidas as
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cortes em Lisboa, para conseguir que todos, nobreza, clero e povo,
contribuíssem com o pagamento dos impostos para acudir ao perigo geral.
(ALVES, 1959, p. XXXVIII)
Em 1650 partiu o Padre Antonio Vieira para uma nova missão diplomática, e
missão de alta importância, posto que não fosse decerto das mais patrióticas.
Tratava-se de por em termo à guerra entre Portugal e a Espanha, por meio do
casamento do príncipe D. Teodósio com uma filha de Filipe IV. Era a
reconstituição da união ibérica que se planeava assim, fazendo-se de Lisboa
a capital de toda essa vasta monarquia e ficando assim o trono na Casa de
Bragança. (ALVES, 1959, p. XLII)
No entanto, não alcançou os objetivos que lhe foram destinados, visto que não
conseguiu realizar aquilo que lhe fora proposto, ou seja, conseguir a união das famílias.
E mais, ao voltar a Lisboa, viu a decepção que causou à família real.
Ainda sobre a presença dos reis em seus textos, é interessante como Vieira
pensava o problema da administração do reino. Segundo Lopes (2008),
Nos textos históricos e políticos de Vieira, o rei está sempre alerta para a
preservação de uma ordem terrena desejada por Deus, e por Ele confiada aos
príncipes. Vieira acreditava que as ações dos homens eram fiscalizadas por
uma Providência Divina, de tal modo que, por inexplicáveis e surpreendentes
que pudessem parecer alguns eventos particulares, eles se sucediam em uma
sequência regulada. (LOPES, 2008, p. 23-4)
Como Lopes nos diz, o rei não deveria temer os acontecimentos futuros, pois
estes já estavam definidos por uma vontade divina. Um rei temente a Deus, que fosse
conduzido pela fé, dirigiria seu reino rumo ao paraíso. Ainda segundo o autor, “em caso
de desvios dos príncipes, o providencialismo de Vieira assume um conteúdo ameaçador”
(LOPES, 2008, p. 24). Isso quer dizer que, em um reino onde seu líder não tivesse fé,
agisse de maneira corrupta e imoral, os castigos eram bem prováveis. Nesse sentido,
Vieira estava amparado pela Sagrada Escritura e nos exemplos de reis que foram
punidos por não serem tementes a Deus.
Na ocasião em que atuou como conselheiro do rei, período que se estende de
1641 a 1654, é sabido os problemas que a metrópole enfrentava para manter a colônia
brasileira. O Brasil era alvo constante de invasões, e pequenas rebeliões eram
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observadas neste território. A tensa relação de Portugal com certos Estados europeus –
normalmente com Castela –, também se mostrava crítica. Em meio às tensões
diplomáticas recorrentes, Vieira foi indicado a ser uma espécie de negociador da crise
envolvendo Portugal e Holanda (CIDADE, 1979). Em relação ao tema, Cidade (1979) diz
que
Fica novamente evidente o homem de ação que Vieira era. Para ele, “a fé cristã
não poderia ser incompatível com as contingências da vida prática” (LOPES, 2008, p. 23).
Ou seja, a religião deveria ultrapassar o campo teórico, por assim dizer, e chegar aos
homens, em suas ações cotidianas. De nada adiantaria um sermão bem composto se
isso não possuísse relações com a vivência daqueles que o ouvissem. Essa distância
entre Igreja e vida cotidiana deveria ser cada vez menor.
Em 1655, Vieira escreveu o que se tornaria seu sermão mais conhecido: O
Sermão da Sexagésima. Em suas palavras, pode-se perceber a dedicação do jesuíta para
aproximar o catequizado com a palavra de Deus. As metáforas utilizadas, as explicações
dos termos e a própria crítica feita ao teor e aos objetivos dos sermões são geniais. Ele
diz que para uma alma ser convertida por meio de um sermão é necessário que se tenha
um bom pregador coerente com a sua doutrina e que tenha o poder de persuadir o
ouvinte. Também é preciso que ocorra o bom entendimento das palavras por parte dos
presentes e, por último, mas não menos importante, a graça de Deus, iluminando as
almas dos seguidores.1
Ao fazer suas considerações sobre os significados dos sermões, Vieira diz que
“palavras sem obras, são tiros sem balas; atroam, mas não ferem” (VIEIRA, 1959, p.14)2.
Ou seja, de nada adianta a pregação se ela não está relacionada com ações. Ao utilizar
o exemplo do semeador no Sermão da Sexagésima, o jesuíta conseguiu atingir seus
objetivos, pois sua comparação se torna clara. Assim como o semeador enfrentou
dificuldades para colher o fruto, a palavra de Deus também encontrou dificuldades para
ser difundida, mas mesmo com esses obstáculos, ela existe e deve ser proclamada. A
1
Cf. VIEIRA, Antonio. Sermões. Sermão da Sexagésima. Porto: Lello & Irmão, 1959. V.1. p.10.
2
Como esclarecimento, o Sermão da Sexagésima foi escrito em 1955. No entanto, para a
produção desse texto foi utilizada uma obra publicada com o ano de 1959.
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preocupação do pregador com a função do sermão é bem explícita. Vieira falava com o
objetivo de ser entendido por todos. Em seu sermão, ele diz que o “[...] estilo pode ser
muito claro e muito alto, tão claro que o entendam os que não sabem, e tão alto que
tenham muito que entender nele os que sabem” (VIEIRA, 1959, p. 20).
Portanto, o sermão deveria ter significado tanto para aquele que fosse letrado,
que conhecesse a história, a Bíblia, mas também para as pessoas mais simples. O
objetivo era o mesmo para todos. Isso só comprova a habilidade que Vieira possuía, pois
com tantas diferenças ele conseguiu ser aclamado por todos.
É importante saber que Vieira sempre foi um defensor dos índios. E isso devido
à sua compreensão sobre os acontecimentos bíblicos. Segundo Bosi (2005), a
interpretação que o autor fazia sobre os três reis magos poderia servir como defesa para
os indígenas. A tradição cristã diz que os três reis magos eram de origens diferentes. Um
deles, chamado Belchior, era de origem negra. Mesmo Belchior sendo negro, e os outros
dois brancos, todos foram salvos por Deus. Sendo assim, Vieira chegou à conclusão de
que, independentemente da cor ou da raça, todos os homens tinham uma filiação em
comum. A explicação da diferença de cor dar-se-ia pelo fato de algumas regiões estarem
mais próximas do sol, outras mais distantes.
Analisando tal fato, Bosi considera que Vieira se encontrava amparado por
documentos dos papas, que eram favoráveis à liberdade dos índios. Mesmo assim, a
Igreja permitia o cativeiro indígena. Isso pode parecer um dilema para a época. No
entanto, existe uma explicação plausível para isso. Ainda segundo Bosi (2005),
Posto o discurso nessa chave, o que dele se seguiria, caso fosse mantido o seu
grau de coerência interna? Sobreviria a condenação pura e simples do que se
praticava então no Brasil, ou seja, tomaria forma lógica o repúdio a qualquer
tipo de cativeiro. Para aí caminha o ímpeto dos argumentos éticos. Para aí
levam os símiles com a dupla rota da estrela de Belém, a qual primeira
conduziu os magos a Cristo (figura da conversão dos gentios) e, em seguida,
os desvios do caminho onde Herodes os faria matar – figura da libertação dos
mesmos índios dos colonos. Analogamente, essa viria a ser a dupla missão
dos jesuítas: levar a boa nova às almas dos tupinambás e defender os seus
corpos quando ameaçados de cair às mãos dos brancos. (BOSI, 2005, p. 135)
Talvez esta seja uma questão contraditória, porém parece que a Igreja, mesmo
permitindo o cativeiro, realizava sua função social, ou seja, a de catequizar e,
consequentemente, salvar as almas desses índios. Bosi ainda diz que Vieira se mostrava
bastante consciente dentro desta situação, que demonstra a condição ambígua da Igreja
colonial. Essa ambiguidade fica realçada diante do seguinte contexto:
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fumo. Era fatal que este último exigisse cada vez mais a força de trabalho do
primeiro, nesse momento, o pacto entre o colono e o jesuíta mostra a sua
precariedade, e o enfraquecimento se dá no interior de um esquema
assimétrico de poderes. (BOSI, 2005, p. 137)
Bosi explica que a Igreja não podia viver no interior de um sistema em que o
Estado dependia dessa mão-de-obra indígena. Sendo assim, ir contra a atitude de
escravizar o índio seria ir contra os interesses dos grandes fazendeiros e donos de
engenho. Portanto, a situação dos jesuítas era delicada e, de certo modo, extremamente
complicada. Vieira, mesmo que estivesse amparado por sua interpretação dos fatos, não
poderia ir contra as condições reais em que vivia. Ao fazer uma análise sobre os índios,
Vieira dizia haver três tipos de indígenas: os que serviam como escravos; os que viviam
de maneira natural e os que viviam na aldeia de maneira livre. No entanto, caberia à
Igreja salvar essas almas pela catequese.
O ilustre jesuíta também fez algumas considerações sobre os negros. Vários de
seus sermões tratam do tema da escravidão. Porém, sua análise está muito mais
preocupada em discutir a dor do escravo do que proporcionar uma solução para a
escravidão. Ele diz que a origem dos negros e dos brancos é a mesma, ou seja, todos
derivam de Adão e Eva. O que ele não conseguiu explicar, segundo Bosi, é o fato dos
destinos serem tão diferentes. “Nem as leis naturais, nem a fé na Redenção logram
resolver” (BOSI, 2005, p. 145).
Visto isso, podemos perceber que sua obra é muito vasta e complexa. Em seus
sermões, Vieira discute os mais diversos temas, passando tanto por questões raciais
como pelo destino de Portugal. E esse destino pode ser movido por ideias patrióticas.
Aos olhos dos estudiosos atuais, esse seu patriotismo também ficou evidente quando
ele fala sobre o Quinto Império. Utilizando-se das Escrituras Sagradas como seu
instrumento de persuasão, o jesuíta vai dizer que Portugal poderá ser o grande reino
que dominará todo o mundo. Essa seria a missão da monarquia lusitana, e tudo indicava
que tal liderança iria acontecer. Mas Vieira não conseguiu concretizar seu texto.
Contudo, um capítulo inicial do que seria sua grande obra foi deixado.
Para Vieira, as histórias contadas até aqui tinham a preocupação somente de
narrar as coisas acontecidas, ou seja, os “sucessos passados”, segundo os seus próprios
termos. A História do Futuro seria diferente daquilo que era convencional. Sua função
era contar o que ainda estava por vir, fazendo com que os povos, sobretudo os
portugueses, estivessem preparados para os fatos que ocorreriam. O jesuíta, no
entanto, advertiu que sua obra não se baseava em qualquer superstição, algo muito
comum em sua época. Essas adivinhações que eram realizadas estavam assentadas nos
quatro elementos formadores da Terra: a Piromancia, que se utilizava do fogo para
prever o futuro; a Aeromancia, que se aproveitava do ar; a Hidromancia, pelas águas e
por fim a Agromancia, que adivinhava o futuro por meio da terra. Para ele, isso não
passava de “ignorância das artes” (VIEIRA, 19-, p. 10).
~ 15 ~
O que havia de mover a história do futuro seriam dois aspectos: a curiosidade
humana e o apetite para se conhecer o que há por vir. Para Vieira, tudo o que era
proibido causava no homem uma vontade de apreciar o que era negado. Mas esse
futuro, em grande parte, já estava dado. Bastava somente interpretar aquilo que estava
registrado nas Sagradas Escrituras. Ou seja, suas previsões do futuro não seriam
ancoradas em falsas ciências, mas naquilo que de mais real existia: o texto sagrado.
Portanto, não era uma atividade de adivinhação, e sim de interpretação. E ainda,
segundo Vieira, “o maior serviço que pode fazer um vassalo ao rei é revelar-lhe os
futuros” (VIEIRA, 19-, p. 17). Isso quer dizer que ele estaria ajudando sua majestade, ao
lhe proporcionar o conhecimento do amanhã.
O jesuíta, para dar crédito a sua obra, dizia que existiam várias utilidades em se
conhecer o futuro. E isso tinha motivado Vieira a compor sua obra. Segundo ele, os
proveitos disso seriam: 1º) poder se planejar para as ações divinas, e que essas ações só
se revelavam porque Deus queria assim; 2º) a paciência para a tão aguardada felicidade
e 3º) os conselhos para as conquistas e vitórias que estavam por vir.
É bem verdade que essa História, ao contrário das outras, privilegiava somente
ao povo português. Essas conquistas e vitórias previstas eram pela formação do Quinto
Império, e Portugal seria o centro desse grande reino. É claro que todos tomariam
conhecimento dessa obra, e isso beneficiaria os inimigos dos portugueses, pois sabendo
dos fatos futuros eles poderiam traquinar ações que impedissem a confirmação dos
triunfos lusitanos. No entanto, ela deveria ser vista como um exemplo útil para todos,
visto que os acontecimentos seriam dessa forma. Vieira ainda diz que sua obra serviria
como escudo, como sugere a passagem a seguir.
Armados com este escudo, que trabalhos, que perigos nos pode oferecer o
mar, a terra e o Mundo, e que golpes nos pode atirar com todas as forças de
seu poder, que não sustentemos nele com animosa constância? (VIEIRA, 19-,
p. 56)
Portanto, com esse escudo não haveria dificuldades nas conquistas. E mais, por
ser uma história já contada, quem não teria coragem de ir para uma batalha já sabendo
do resultado final? A História do Futuro, além de prever o que aconteceria, ainda
motivaria os portugueses para os triunfos, afinal, as guerras já estavam vencidas e os
inimigos derrotados.
Sobre o Quinto Império, podemos dizer que um futuro radioso seria o destino
de Portugal. Vieira (19-) diz ter chegado a essa conclusão pela análise dos
acontecimentos que se sucederam na observação da história. Para ele, os grandes
reinos estavam se constituindo do Oriente para o Ocidente, ou seja, do Leste para o
Oeste. Portugal, o ponto mais a Oeste da Europa, portanto, seria o território perfeito
para este grande reino futuro, que já vinha a passos largos. Além disso, tinha saída para
o mar, o que lhe possibilitava todas as condições naturais necessárias para grandes
conquistas. Como sugerido, a data para que acontecessem tais prodígios também podia
~ 16 ~
ser definida. Portugal se tornaria o grande império já em 1666. Bastaria observar que 66
é o dobro da idade de cristo, e se os numerais romanos fossem ordenados, no sentido
do de maior para o de menor valor, chegar-se-ia a essa data. A sequência seria:
MDCLXVI, ou seja, 1666. E mais: nas Escrituras Sagradas era possível observar reis que
ressuscitaram. Para nosso autor, isso aconteceria também em Portugal. Consistiria a
partir da volta, toda gloriosa, de Dom João IV, que havia morrido em 1656 (VIEIRA, 19-).
Diversas lendas e variados autores se dedicaram a uma explicação sobre a volta
de reis. Inclusive, utilizaram textos de Bandarra (1500-1556) para justificar, em tom
profético, uma volta triunfal de Dom João IV. Vieira, observando esse contexto, também
se utilizou das profecias de Bandarra, aliado às Escrituras Sagradas, para comprovar sua
tese. Esses são alguns dados sobre como Portugal seria o próximo império universal
(VIEIRA, 19-). Como escreveu Hernani Cidade (1979),
Enfim, pode-se perceber que esse grande reino seria uma consolidação do
cristianismo no mundo. Ele não se daria de maneira imediata, ao contrário, passaria por
um processo, e o Quinto Império seria a expressão do fortalecimento da Igreja perante
o mundo. Porém, essa construção e consolidação não era algo tão fácil assim. Pécora
(1994) diz que
~ 17 ~
palavras de Vieira (19-), entender o futuro. É claro que o padre teve que enfrentar
processos inquisitoriais. Durante quatro anos, Vieira esgrimiu com a Inquisição. Segundo
Cidade (1979),
Alves (1959) vai dizer que Vieira foi realmente condenado pela Inquisição. Sua
sentença foi severa: a proibição de pregar e a reclusão em uma casa determinada pelos
inquisidores, em Lisboa. No entanto, quando D. Pedro assume o trono, Vieira viu sua
pena ser completamente perdoada.
Esses são alguns aspectos gerais sobre as obras produzidas por Vieira. Mas,
além disso, o que faz com que esse clérigo seja considerado um homem político?
Existem certas maquinações em seus textos, um objetivo muito maior do que esses
discutidos até agora?
Podem-se achar vários significados dentro de sua obra, e isso caberá à
interpretação de cada leitor. Contudo, tal variedade de sentidos só é possível devido à
riqueza de suas ideias e também pela preocupação com que o autor utilizou as palavras.
Por mais objetivas que sejam suas construções, e tal ideia se deve à clareza com que o
autor desenvolveu sua obra, é necessário que se faça uma explicação sobre como ele
escrevia. Antes disso, e para que se evitem os anacronismos, Pécora (1994) salienta que,
Para Pécora (1994), a base de sentido dos sermões é dada a partir do divino, ou
seja, pela sua sacramentalidade. Essa sua capacidade da retórica foi importante para
demonstrar que, independente de suas vontades políticas, o que se pretendia com suas
pregações era apresentar uma manifestação divina para os homens.
Isso quer dizer que, mesmo que os textos de Vieira apresentem essas
características “modernas” para a época, em última análise pertenciam a um contexto
próprio e possuíam um sentido pré-estabelecido: a salvação divina. Estudar Vieira e
querer fugir da lógica interna do período seiscentista pode acarretar grandes problemas
como, por exemplo, uma interpretação confusa e equivocada dos objetivos do texto. É
~ 18 ~
claro que tal discussão perpassa outros pontos e não somente por sua retórica e seus
textos. No entanto, tal observação é bem válida.
Considerações finais
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mesmo texto, ela pode possuir duplo significado. Mas isso não traria uma confusão para
o observador menos atento aos seus textos? Sim, se Vieira não tratasse de explicar, no
decorrer do discurso, o que ele pretendia com este novo significado.
Para encerrar, o último, mas não o menos importante aspecto que se pode
notar, é preciso dizer algo sobre as palavras e o próprio discurso de Vieira. Como
salientou Saraiva (1980),
Pela combinação dos dois processos – o que extrai de uma palavra numerosos
conceitos, e o que extrai de um conceito numerosas palavras – as palavras se
prestam a todas as espécies de associação, abrem-se por todos os lados à
passagem de qualquer discurso. Vieira, no discurso engenhoso em vez de
fazer uma triagem entre as possíveis conexões, acessíveis a certos circuitos e
fechados a outros, o que torna a palavra, em certa medida, uma
demonstração da validade lógica de associação das ideias, as usa de tal
maneira que elas não opõem resistência a qualquer encadeamento.
(SARAIVA, 1980, p. 27)
Portanto, devido a todos esses aspectos, sua construção é precisa, mas cheia
de significados. São utilizadas a lógica, figuras metafóricas, duplas interpretações, mas
mesmo assim o objetivo final é conquistado: passar, utilizando seus sermões, os
ensinamentos bíblicos. Ainda assim, por toda a necessidade que Vieira teve de se
“infiltrar” no meio político, seus textos traziam ensinamentos aos governantes da época,
sempre utilizando exemplos retirados das Sagradas Escrituras. Dessa forma, a palavra
seria um instrumento de ação para Vieira. O autor, mesmo sendo considerado um
escritor barroco, conseguiu ser claro e convincente. Segundo Cidade (1959), “mas não
se esgota nestes artifícios a sua capacidade imaginativa. Possui-a dotada de singular
poder plástico, e na Bíblia, na Natureza, nas noções científicas e técnicas do tempo,
encontra ele mina inesgotável de alegorias, símbolos, imagens e comparações” (CIDADE,
1959, p. 444).
O que vemos aqui, diante dessas análises sobre sua escrita e sobre suas figuras
retóricas e aspectos linguísticos, é a união de uma mente brilhante com as habilidades
de um espetacular orador. Talvez esta seja mesmo uma combinação incomum. Um
conhecimento que une a métrica das frases com o desenho e significado das palavras.
Após uma vida toda voltada às questões religiosas e políticas, Vieira morreu em
18 de julho de 1697, com 89 anos. O legado deixado pelo jesuíta é muito vasto, com
uma rica coleção de sermões de temas diversos de um homem de ação que possuía um
conhecimento amplo sobre os mais diferentes assuntos que passavam pela Filosofia e
pela Política. Enfim, sua vida foi uma jornada que incluiu da catequese à produção de
teses sobre o destino de Portugal, o enfrentamento da Inquisição, viagens pelo Brasil e
por toda a Europa, entre tantas outras coisas que nos espanta nos seus quase 90 anos
de existência.
Portanto, o que se buscou discutir aqui foram alguns aspectos da vida e obra
de Vieira, bem como a sua importância para o reino luso-brasileiro. Pode-se concluir que
~ 20 ~
o jesuíta, por meio de seus textos e de suas ações como conselheiro de príncipe,
contribuiu muito para a consolidação do reino português. E isso de forma bem simples,
basta observar a atividade de catequização e de seus atos políticos enquanto figura da
corte portuguesa. A sua preocupação com o destino de Portugal fez o autor compor a
sua História do Futuro, em que se pode notar o sentimento patriótico do padre ao
tentar, de toda maneira, fazer com que o reino lusitano se tornasse o grande império
mundial. E isso sem fugir de suas crenças, utilizando-se da palavra de Deus por meio das
Escrituras Sagradas. Enfim, um excelente pregador, dotado de uma inteligência rara e
belíssima, que fez o possível para semear a palavra divina.
Espera-se que esse artigo tenha contribuído para elucidar e explicar algumas
das peripécias do padre Antônio Vieira, bem como problematizar a questão dos
sermões, da História do Futuro e do papel do jesuíta como conselheiro de príncipe. No
entanto, ocorre a necessidade de se pesquisar mais sobre o tema. Esta foi apenas uma
tentativa inicial de abordar alguns problemas que podem ser percebidos ao estudar
Vieira. Mesmo assim, diversas questões merecem destaque dentro da obra vieiriana. O
estudo de outros sermões, por exemplo, pode ser realizado. Novos aspectos políticos
dentro da História do Futuro com certeza há de surgir com uma nova leitura. Portanto,
o que se espera desse texto é a inquietação do leitor em busca de novas fontes, de
outras interpretações e de outras leituras. Acredita-se que com isso, esta tarefa tenha
sido concluída.
Referências
AMES, José Luiz. Maquiavel. IN: LOPES, Marcos Antônio. (Org). Ideias de História:
tradição e inovação de Maquiavel a Herder. Londrina: Eduel, 2007.
ALVARES, Cláudia Assad. O discurso paradoxal de Vieira no sermão Pelo bom sucesso
das armas de Portugal contra as da Holanda. São Paulo, Tese (Doutorado em Filologia
e Língua Portuguesa) – Programa de Pós-graduação em Filologia e Língua Portuguesa,
Universidade de São Paulo, 2007.
ALVES, Gonçalo. Duas palavras de apresentação. In: VIEIRA, Antônio. Sermões. Porto:
Lello & Irmão, 1959. V.1.
~ 21 ~
CIDADE, Hernani. Lições de cultura e literatura portuguesas. Coimbra: Coimbra Editora,
1959. V.1.
CIDADE, Hernani. Padre Antônio Vieira – a obra e o homem. Lisboa: Arcádia, 1979.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. – 6ª ed. – São Paulo: Atlas,
2008.
FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil. – 2ª ed. – São Paulo: Editora da Universidade
de São Paulo, 2006.
VIEIRA, Antônio. História do Futuro. [S.l.]: Imp. Nacional, [19-]. Coleção Grandes
Mestres do Pensamento.
VIEIRA, Antônio. Sermões. Sermão da Sexagésima. Porto: Lello & Irmão, 1959. V.1.
~ 22 ~
O estudo de gênero no Brasil: a influência do movimento
feminista nas Ciências Sociais
Caroline de Souza Frontoura
Bacharela e Licenciada em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (UEL)
Introdução
(...) um aspecto que não sofreu alteração até pouco tempo foi o de que esse
ser humano, como categoria universal de indivíduo, é referenciado pelo sexo
masculino gerado na Modernidade. Os/as cientistas sociais voltaram sua
atenção para categorias sociais diversas, como aquelas que resultaram da
experiência social realizada na produção econômica, na vinculação à classe
social, à cultura, na inserção religiosa e na nacionalidade. (KÜCHEMANN et al,
2015, p. 64)
1
Segundo os autores Küchemann, Bandeira e Almeida (2015, p. 64) tais status tornam as relações sociais
entre homens e mulheres desiguais e complementares
~ 23 ~
análise que abrange inúmeros fenômenos sociais, políticos, históricos, culturais e
econômicos.
É importante dizer que gênero envolve um tipo de análise que não de senso
comum. Portanto, o gênero como objeto de análise nos indica que essa dimensão
abrange fenômenos sociais que anteriormente pareciam naturais2. Mais precisamente,
os trabalhos científicos sobre esta temática, evidenciam uma estratégia de poder que
naturaliza as relações sociais com o intuito de ocultar as relações de poder subjacentes3
(HURTIG & PICHEVIN, 1986).
Neste trabalho, grosso modo, o tema gênero refere-se a relações culturais de
poder que, inicialmente focadas na diferença de homens e mulheres, se estendeu a
diferentes grupos sociais4. Ou seja, refere-se a toda hierarquia, dominação e
subordinação do sujeito, estando baseada em quesitos sexuais. Por conseguinte, através
de uma revisão bibliográfica, a seguir são recuperadas as origens da temática de gênero,
tanto na linha do tempo dos movimentos feministas, como também de dinâmicas
acadêmicas, particularmente no Brasil.
Nos Estados Unidos, a origem dos estudos feministas, juntamente com a dos
estudos raciais, encontra-se nos movimentos de protesto ocorridos nas
2
Relação homem e mulher.
3
O conceito de gênero como objeto de pesquisa das ciências sociais questiona os fenômenos que são
percebidos como naturais sob a visão segundo a qual toda a produção do conhecimento é permeada por
relações de poder (HARDING, 1996), ou seja, a variável gênero anteriormente desconsiderada pela
Ciências Sociais, está fortemente presente nas categorias de análises econômicas, social, cultural e
políticas. Deste modo a temática de gênero como fenômeno empírico possibilita uma nova análise dos
objetos de estudos clássicos da sociologia, política e antropologia.
4
As questões de gênero perpassam originariamente toda a gama de estruturas, identidades sociais e
subjetividades individuais.
~ 24 ~
universidades americanas ao longo da década de sessenta. Este movimento
inspira o questionamento da visão e prática despolitizada do establishment5
profissional e acadêmico das ciências sociais. (HEILBORN & SORJ, 1999, p. 2)
5
O termo inglês establishment refere-se à ordem ideológica, econômica e política que constitui uma
sociedade ou um Estado.
6
GOLDBERG, Anette. “Feminismo no Brasil Contemporâneo: o percurso intelectual de um ideário político”,
BIB, n° 28, 1989.
7
Os estudos acadêmicos sobre a temática da mulher no Brasil se manifestam inicialmente na década de
1970. Pesquisadoras brasileiras participam da Conferência sobre Perspectivas Femininas nas Ciências
Sociais Latino-Americana realizada em Buenos Aires em 1974. Posteriormente, acadêmicas feministas
brasileiras participaram, também, na Welsley Conference on Women and Development em junho de
1976.em 1975 o Coletivo de Pesquisa sobre Mulher da Fundação Carlos Chagas realizou o seminário “A
Contribuição das Ciências Humanas para a Compreensão do Papel das Mulheres”.
~ 25 ~
Por outro lado, no decorrer da história, as mulheres acadêmicas fundaram
núcleos de estudos nas universidades voltados para a análise das questões feministas,
no entanto, tais núcleos não se fortaleceram como centros de ensino propriamente dito.
Assim, pode-se dizer que a principal diferença entre a institucionalização dos estudos
feministas nos dois países é que, no caso brasileiro, as mulheres acadêmicas,
procuraram estabelecer um protagonismo dentro da dinâmica das Ciências Sociais
nacional através do reconhecimento científico, ao invés de contribuírem com a
formação de espaços de discussões integrados a comunidade. Nesta perspectiva, os
estudos sobre a mulher, e mais tarde os estudos voltados para o gênero e suas relações,
foram o mecanismo de institucionalização do discurso feminista nas Ciências Sociais e
na academia brasileira.
No período de 1960 e 1970 no Brasil, o termo “estudo sobre mulher”
prevaleceu como denominação da nova área que surgia nas Ciências Sociais. Os
trabalhos acadêmicos seguiam as pautas feministas sobre a condição da mulher na
sociedade brasileira, denunciando a posição de subordinação e opressão determinado
por fatores biológicos/culturais como o exposto por Silva em sua pesquisa de 1966:
8
“A partir da segunda metade da década de 1970, o termo gênero surge com Gayle Rubin (1975) como a
contrapartida cultural do sexo biológico, só que ainda se baseia no par “cultura X natureza”. Então, sexo
passa a ser usado apenas para falar de diferenças biológicas entre machos e fêmeas, enquanto gênero faz
referência às estruturas e às representações sociais, culturais e psicológicas que se impõem a tais
diferenças” (KÜCHEMANN et al., 2015, p. 67).
~ 26 ~
as teorias sociológicas anteriores, infelizmente os escritos científicos feministas tiveram
pouco impacto no Brasil em relação a produção cientifica de outros países.
(...) Talvez essa seja mais uma evidência da pouca disposição das acadêmicas
feministas em assumir uma posição de confronto ou de isolamento na
academia. Para além da relevância cognitiva, a adoção do conceito de gênero
em substituição aos termos mulher e feminismo favoreceu a aceitação
acadêmica desta área de pesquisa, na medida em que despolitizou uma
problemática que, tendo se originado no movimento feminista, mobilizava
preconceitos estabelecidos. No Brasil, novamente contrastando com os
Estados Unidos, esta passagem foi realizada sem grandes traumas.
No melhor dos casos “gênero” foi adotado de uma maneira consensual, no
pior dos casos optou-se por um compromisso simbolizado pela adoção de
ambos termos, mulher e gênero, separados agora por uma barra. O esforço
em construir uma problemática sociológica diferenciada do problema político
trazido pelo feminismo caracteriza boa parte dos esforços de
institucionalização desta temática9. (HEILBORN & SORJ, 1999, p.4)
9
“Este esforço parece ter sido muito bem sucedido haja vista a crítica que as pesquisadoras mais bem
integradas, digamos assim, ao mainstream acadêmico brasileiro, sofreram em recente consultoria solicitada
pela Fundação Ford à Navarro e Barrig (Consultants’ Report on the Status of Women’s Studies in Brazil for
the Ford Foundation, 94) sobre os estudos de gênero no Brasil. As consultoras consideram que os estudos
de gênero no Brasil teriam perdido o seu viés militante e seriam acríticos às regras de hierarquia de uma
academia, em suas percepções, seriam androcêntricas. 12 Para uma análise da atuação da Fundação Ford
no país ver MICELI, Sérgio, “A Aposta numa Comunidade Científica no Brasil, 1962-1992”, In MICELI,
Sérgio (org.) História das Ciências Sociais no Estudos de Gênero no Brasil”. (HEILBORN; SORJ 1999, p.4)
~ 27 ~
brasileira passou a orientar investimentos de agências internacionais ao incentivo à
pesquisa e ao combate às diferenças sociais, como por exemplo, a Fundação Ford10.
O movimento feminista em geral, porém, principalmente o que começou a se
manifestar na América Latina nos anos seguinte a 1970, foram concebidos como forte
mecanismo de construção e ampliação da presença feminina nas pesquisas sociológicas
e políticas no Brasil. Neste período, os apoios de instituições e programas de pesquisa
foram de grande importância e decisivos para a legitimação de resultados científicos na
área de análise da relações de gênero, sobretudo, em um ambiente acadêmico que
relutava contra as pesquisas de incentivos privados.
Como afirmar Heilborn e Sorj:
10
Segundo Germain (1976), nos anos de 1970 a Fundação Ford indicou o Brasil como o país que mais
desenvolveu em relação a produções cientificas sobre mulheres frete aos demais países da América Latina.
~ 28 ~
da academia. Nota-se, também, que o interesse pelo tema perpassa as motivações
políticas. Outro fator que vem crescendo atualmente nas ciências sociais no Brasil, em
relação ao debate da temática de gênero, é inserção de pesquisadores homens11.
Durante um certo período o tema de gênero foi marcado pelo o debate francês
apenas voltado às “relações sociais de sexo”, presente na sociologia do trabalho.
Contudo, devido as mudanças de paradigmas das Ciências Sociais o uso da categoria
gênero surgiu. No caso do Estados Unidos, principal referência sociológica dos estudos
de gênero, o debate foi influenciado pelo funcionalismo pincipalmente sobre as
posições do feminino e masculino na sociedade. Esta perspectiva pode ser nota em
Persons que teve grande influência na Ciências Sociais a partir de da década de 1960,
analisando relações de gênero dentro da família nuclear ressaltando o papel feminino e
masculino na manutenção familiar, compreendida como fundamental ao
funcionamento social.
11De acordo com Oliveira (1998) no debate contemporâneo sobre gênero surge os estudos sobre masculinidade, e
em parte, contrapões os problemas detectados nos estudos sobre mulher.
~ 29 ~
legitimação da submissão feminina no âmbito familiar. O argumento foi que implicar o
conceito de gênero como posição social limitava a análise ao indivíduo frente a dinâmica
social. Além disso, houve uma forte crítica de que relacionar o gênero puramente com
diferenças sexuais o reduziria como objeto empírico em relação as pesquisas dobre o
funcionamento da sociedade. Deste modo a temática de gênero inclui-se nas categorias
de análise teórica com o objetivo de ser uma nova variável no entendimento da vida
social.
Como a maioria dos campos de estudo das Ciências Sociais, a temática de
gênero também não escapou das referências marxista. As teorias marxistas focalizadas
no trabalho impulsionaram os debates sobre as relações de gênero e o trabalho
doméstico, assim como, as divisões de trabalho nas indústrias e empresas. Desta forma,
o marxismo contribuiu para o desenvolvimento das análises de gênero fora do recorte
familiar, porém, os conceitos dessa linha de pensamento mostraram-se limitados para
a pesquisa referentes ao gênero.
Por fim, os trabalhos acadêmicos por fundamentar o campo das relações de
gênero, tais como vemos atualmente, se fortificaram nos estudos antropológicos que
relacionaram o tema com questões históricas e culturais, tendo como objeto de
pesquisa a relação corpo, sociedade e sexualidade. Neste sentido, vários autores situam
gênero como um "modelo de como as desigualdades entre os sexos figuram e podem
ser entendidas pela referência a desigualdades estruturais que organizam uma dada
sociedade" (COLIER & ROSALDO, 1980, p. 176). Assim, o gênero integra um conjunto de
explicações sobre o social, cultural e político.
Conclusões
Referências
COLLIER, Jane e ROSALDO, Michelle. Politics and gender in simple societies. In: ORTNER,
S., WHITEHEAD, H. Op. Cit. e em uma direção um pouco distinta HÉRITIER, Françoise.
Masculino e Feminino. Enciclopédia Einaudi, vol. 20, Lisboa, 1980.
~ 30 ~
GERMAIN, Adrienne. Consultancy on Brazilian Women´s Role in Development, The
Ford Foundation, 1976.
HEILBORN, Maria Luiza; SORJ, Bila. Estudos de Gênero no Brasil. In: MICELI, Sergio
(Org.). O que ler na ciência social brasileira (1970-1995). São Paulo: Editora Sumaré;
Brasília: Anpocs, 1999.
OLIVEIRA, P.P. Discursos sobre a Masculinidade, In: Revista Estudos Feministas, vol. 6
nº 1. Rio de Janeiro, IFCS/UFRJ, 1998
PARSONS, Talcott and BALES, Robert,F., Family, Socialization and Interaction Process,
New York, Free Press, 1955.
SILVA, Carmen da. A Arte de Ser Mulher. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira. 1966
~ 31 ~
Para ser o que se é: contribuições da Terapia Ocupacional para
a desconstrução de estigmas e estereótipos acerca da
diversidade
Débora Isabele de Vasconcelos Teixeira
Terapeuta Ocupacional formada na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
Este artigo tem por objetivo gerar uma reflexão, assim como novas discussões
acerca dos tensionamentos e contribuições que o terapeuta ocupacional possui em seu
arcabouço teórico-prático frente à desconstrução de estereótipos de gênero e/ou
práticas normatizadoras e estigmatizantes, visando a promoção de uma cultura de
igualdade.
De acordo com Goffman (1988) o termo estigma surge com os gregos que o
criaram para “se referirem a sinais corporais com os quais se procurava evidenciar
alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentava
(GOFFMAN, 1988, p. 5).” Dessa forma, o indivíduo passava a ser reconhecido
socialmente através de seu estigma, ou seja, de sua marca. O autor segue
desenvolvendo e categorizando tal conceito sociologicamente, atribuindo,
principalmente, uma conotação negativa enquanto mais um meio de categorização
social. Esta seria a categorização do indivíduo a partir de um atributo que o diferenciasse
da norma estabelecida, reduzindo-o a tal atributo depreciativo, entendendo-o assim
como menos humano.
Quanto aos estereótipos, Lippmann, (2008) afirma que temos uma tendência a
definir primeiro, para depois ver “pegamos aquilo que nossa cultura já definiu para nós,
e tendemos a perceber aquilo que captamos na forma estereotipada para nós por nossa
cultura” (pg. 85). Ao mesmo tempo, o autor traz que este se trata de uma “projeção
sobre o mundo de nosso próprio sentido, de nosso próprio valor”, são carregados de
sentimentos”, “a fortaleza de nossa tradição” que por meio deles podemos nos sentir
seguros no lugar que ocupamos (LIPPMANN, 2008, p. 97).
O preconceito, a projeção de estigmas e estereótipos sobre o outro são formas
extremamente eficazes de invisibilização do ser, “tudo aquilo que distingue a pessoa,
tornando-a um indivíduo; tudo o que nela é singular desaparece. O estigma dissolve a
~ 32 ~
identidade do outro e a substitui pelo retrato estereotipado e a classificação que lhe
impomos” (SOARES et al, 2005, p. 175).
Segundo Durkheim, existem comportamentos e ações que são aceitos
socialmente; e aqueles indivíduos que não os seguem sofrerão com a repressão e
coerção pública. Diversos são os fatos externos imperativos ao indivíduo e que sobre
eles exercem um poder:
~ 33 ~
formatam a si mesmas como masculinas e femininas, reivindicando assim um lugar na
ordem do gênero, assumindo o papel que lhe é dado ou confrontando a norma.
Gastaldo (2008), discorrendo acerca do pensamento de Goffman, afirma que
existe a ideia de um “ritual” referente a um comportamento expressivo, ações ou gestos
significativos que representariam cada gênero. “Trata-se de condutas “ritualizadas”,
portadoras de um sentido que não está, evidentemente, nas condutas em si, mas nos
códigos culturais que nelas imprimem significado” (GASTALDO, 2008, p. 152).
O mesmo autor supracitado destaca o conceito de “displays de gênero”, os
quais funcionariam como marcadores rituais de pertencimento a grupos de gênero. Tais
marcadores, são facilmente encontrados na mídia, no discurso publicitário e,
consequentemente, reproduzidos socialmente, como em uma situação em que vários
meninos não participam de uma atividade culinária, não porque não queiram, mas
porque seria “coisa de mulher”. Comportamentos como o descrito iniciam-se mais cedo
do que imaginamos; desde o bebê do sexo masculino sair em seu macacão azul, até o
fato da indústria de brinquedos para crianças do sexo feminino investir quase que
noventa por cento na fabricação de bonecas:
Butler (2003) irá afirmar que a sexualidade define-se enquanto algo fluido, não
podendo ser enquadrada ou colocada em caixinhas que a limite. Ela questiona o sexo
enquanto algo puramente biológico e traz que o ser “homem” e ser “mulher”
configuram-se muito além disso. Simone de Beauvoir, em “O segundo sexo” (1980), iria
abrir sua obra com a frase “não se nasce mulher, torna-se mulher”, trazendo a
provocação sobre as diversas construções sociais em torno do “ser mulher”. Nesse
mesmo sentido, Butler diz que a questão de gênero está diretamente ligada com as
relações de poder na sociedade, mas que o tal não é apenas sobre construção social,
precisa também ser desconstrução. Gênero não é algo substancial: “(...) é uma
complexidade cuja totalidade é permanentemente protelada; jamais plenamente
exibida em qualquer conjuntura considerada” (BUTLER, 2003, p. 42). Este, ainda
segundo a autora, se trata de algo performativo, de uma prática que será repetida a
partir de conceitos, em uma estrutura reguladora altamente rígida, a qual se cristaliza
para produzir a aparência de uma substância, de uma classe natural do ser.
Dando suporte às problematizações aqui expostas a teoria queer surge, então,
para questionar e desestabilizar essas diferenças universalizadas e discutir as marcas
dadas aos corpos sexuados. Segundo Louro, queer estaria relacionada “a diferença que
não quer ser assimilada ou tolerada, e, portanto, sua forma de ação é muito mais
transgressiva e perturbadora” (LOURO, 2001, p. 546). Em outras palavras:
~ 34 ~
Penso que é este o espírito de queering o currículo: passar dos limites,
atravessar-se, desconfiar do que está posto e olhar de mau jeito o que está
posto; colocar em situação embaraçosa o que há de estável naquele ― corpo
de conhecimentos. (LOURO, 2004, p. 64).
~ 35 ~
De igual maneira, cabe a este profissional proporcionar aos indivíduos
experimentarem novas formas de ser, de estar e de se relacionar em seus diferentes
contextos, de forma a fomentar o empoderamento e o protagonismo desse sujeito,
trabalhando questões do direito e da cidadania que, assim como ressignificar fazeres e
ampliar “experienciações”.
A ação do terapeuta ocupacional perpassa vários setores para além da saúde,
como o da cultura, lazer, política, educação, etc.; onde maior importância é dada ao
processo e às relações e construções vivenciadas, no qual as atividades, enquanto
instrumento de ação, ganha um sentido ampliado. De acordo com Francisco (1988), por
volta de 70 e 80, a atividade, com base no materialismo histórico, é tida como um meio
de criação e transformação, aproximando-se muito do conceito de práxis trazido por
Marx.
As atividades possuem matéria irredutível que se empresta à significação, mas
que impõe condição para sua atuação e define limites para a interpretação. Tais
atividades são objeto que se constrói na comunicação, na experiência e na situação
vivida segundo a história, as práticas sociais e os valores culturais que cada pessoa ou
grupo social realiza de forma particular. Por isto, são ao mesmo tempo, objeto singular
e plural, podendo configurar-se como instrumento de emancipação ou de alienação
(BARROS et al., 2002, p. 102).
Ostrower (2013) vai defender que o homem além de homo faber, é ser fazedor,
de forma que ele não cria só porque gosta ou quer, mas porque precisa. Dessa forma é
permitido pensar que todo processo criativo é carregado de subjetividade e de critérios
que já foram elaborados pelo indivíduo anteriormente através de escolhas e
alternativas. Sempre de forma intuitiva. A criação concerne ao ser humano evasão,
expressão de sentimentos, assim como a reorganização do ser juntamente com formas
de enfrentamento da realidade.
Entretanto, mesmo que a sua elaboração permaneça em níveis subconscientes,
os processos criativos teriam que referir-se a consciência dos homens, pois só assim
poderiam ser indagados a respeito dos possíveis significados que existem no ato criador.
Entende-se que a consciência nunca é algo acabado ou definitivo. Ela vai se formando
no exercício de si mesma, num desenvolvimento dinâmico em que o homem,
procurando sobreviver e agindo, ao transformar a natureza se transforma também E o
homem não somente percebe as transformações como, sobretudo nelas se percebe.
(OSTROWER, 2013, p. 10)
O momento de criação é onde ocorre uma expressão de sentimentos, de ideias,
é onde o ser intelectual, cultural, sensível, histórico, deposita um pouco de sua essência
de forma a obter um produto, um resultado que condense e satisfaça os processos
internos do indivíduo. Ostrower (2013) irá nomear tal processo de criação, de tensão
psíquica, onde esta é muitas vezes vista como um conflito emocional pelo qual o
indivíduo passa, não sendo este a fonte da criatividade mas, significante por interferir
nas temáticas e até nas formas de configuração desses produtos. É errôneo assumir que
~ 36 ~
apenas há criação na arte, e que somente a arte é um processo criativo válido; pois
mesmo quando refere-se a fazeres mecânicos, não significa a ausência de criações
nesse; em contraposição, esta afirma que o ser humano cria todo o tempo, apesar de
por meio de processos criativos diferentes.
A atividade vem como um instrumento/recurso de atuação do terapeuta
ocupacional, sendo por meio dela que momentos de reflexão, interação social, catarse,
estimulação e tratamento, assim como produção de subjetividade, transformação do
outro e de si mesmo ocorrem.
É por meio do fazer, ser e estar, desempenhado durante atividade que
desenvolve-se um movimento de devir, essencial para a produção de subjetividade, de
forma a encontrar um corpo “que se abre às forças da vida, que agita a matéria do
mundo e as absorve como sensações, a fim de que estas, por sua vez, nutram e
redesenhem sua tessitura própria” como descrito por Rolnik (2006, p. 13).
Existem momentos na vida onde a questão de saber se se pode pensar
diferentemente do que se pensa, e perceber diferentemente do que se vê, é
indispensável para continuar a olhar ou a refletir (FOUCAULT, 1984, p. 13).
A subjetividade e a pluralidade humana são uma das maiores riquezas, explorá-
las é uma arte, e é no cotidiano que estas se constroem e se desconstroem sempre que
necessário, sendo, portanto, este o foco de intervenção do terapeuta ocupacional.
De acordo com Spink (2008), o cotidiano seria algo comum a todos os seres
humanos, composto por um fluxo de fragmentos corriqueiros e de acontecimentos em
micro-lugares. É possível afirmar que o cotidiano possui particularidades do indivíduo e
de seu contexto, no entanto, é importante que o indivíduo reflita sobre o mesmo para
não viver de forma totalmente alienada, assim como para produzir sua subjetividade.
Agnes Heller apud Santos (2009), desenvolve o conceito de cotidiano em
relação às atividades, que fazem parte da reprodução do indivíduo e da sociedade. Para
esta muitas das atividades cotidianas são realizadas de forma pouco consciente, já que
são feitas quase que mecanicamente e gerando um processo de alienação que só seria
quebrado pelas objetivações genéricas para-si, em que o indivíduo de forma consciente
também se relaciona com atividades não-cotidianas que se constituem pela ciência,
arte, filosofia, moral, e pela política.
Cotidiano é pensar como as condições em questão afetam suas atividades, seus
fazeres; como é o seu estar na sociedade, assim como sua organização pessoal. É,
também, pensar as relações dos indivíduos na comunidade, no território, em seu
contexto de vida. Assim, é importante pensar como se dão as relações de trabalho,
familiares, com a sociedade, o acesso a bens culturais, serviços, entre outros.
Galheigo (2003) ressalta que os terapeutas ocupacionais com o objetivo de
significar e ressignificar esse cotidiano promovendo a subjetivação e conscientização do
ser, são privilegiados ao poder contribuir diretamente com todo o processo de
elaboração crítica.
~ 37 ~
Esse movimento constante de articulação e problematização, do micro para o
macro, do singular para o coletivo e vice-e-versa, promovendo ações diretas (com o
indivíduo) ou indiretas (com a rede, com o meio) são ações constituintes do olhar e da
prática terapêutica ocupacional; assim como promover o empoderamento do indivíduo
enquanto sujeito de direitos, enquanto um corpo desejoso e com potencial subversivo.
(...) apostamos na proposição de práticas que debatam e possibilitem a
participação na discussão e implementação de políticas públicas, da ofertas de serviços
e ações para a população e, conjuntamente, se dediquem à criação de subsídios e
tecnologias sociais para a articulação das possibilidades de resolução dos problemas
locais através de um processo de organização dos serviços de atenção, das diversas
ações e da articulação junto à população em diferentes níveis (MONZELLI, 2013, p. 72).
Diante do exposto, o cuidado, a problematização e o empoderamento precisam
acontecer de forma dialética, em um ir e vir constante do micro para o macro, desde a
desconstrução o discurso hegemônico, por meio de ações políticas e de participação,
até as ações individualizadas para com os sujeitos (indivíduo e família), de forma a
fortalecer redes de apoio, ressignificar espaços e relações, sejam elas sociais ou afetivas.
Gonçalves & Coutinho (2008) afirmam que a família é a primeira e principal
instituição fonte de suporte para o desenvolvimento do indivíduo, assim como espera-
se que nela obtenha-se orientações para o enfrentamento de conflitos. Como primeiro
meio social com que se tem contato, é também dela que vem a maioria dos valores
desenvolvidos e as habilidades de relacionar-se em sociedade, já que a mesma também
age, como pólo de organização de relações exteriores a ela. No entanto, ao mesmo
tempo que esta é fonte de suporte, de trocas afetivas e simbólicas, esta também pode
ser cenário de conflitos e sofrimentos, frustrando o ideal de família existente (“paz” e
“união” x “falta de diálogo”, “tensões” “rejeição”).
No tocante às quebras de paradigmas, Peralva (1997) supõe, primeiro,
transformações essenciais no âmbito da família, com uma mais nítida separação entre
o espaço familiar e o mundo exterior, e uma redefinição do lugar da criança no interior
da família. A criança se torna objeto de atenção particular e alvo de um projeto
educativo individualizado, que de certo modo qualifica o lugar que ela virá,
posteriormente, a ocupar na sociedade adulta.
O núcleo familiar, automaticamente entendido como meio de proteção, e
principal rede de suporte do indivíduo, é o primeiro a se romper quando o filho (a) ideal,
esperado não atende tais expectativas. A família é o locus dos problemas enfrentados
pelos indivíduos porque existe, também, uma reprodução, um ideal social onde
perpetua-se e mantém-se a lógica vigente de controle e normatização representada
pelo modelo da “família estruturada tradicional brasileira”; e assim se problematiza
constantemente as famílias e sua constituição, validando umas e desvalidando outras,
mas sem ampliar o olhar para o macro e questionar também o contexto em que estas
são “produzidas”.
~ 38 ~
Considerações finais
~ 39 ~
garantia dos direitos básicos dos indivíduos, por meio de uma relação permeada de
afeto, sentido e fazeres.
Não há uma única e absoluta verdade, não há um único caminho que se o
trilharmos alcançaremos a resposta que procuramos, mas, sim, há um labirinto com
diversos caminhos e diversas saídas que irão nos levar a lugares distintos e, muitas
vezes, inexplorados.
Referências
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Perspectiva, v. 18, n. 1, 2004.
BARROS, D.D. et al. Terapia Ocupacional Social. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo, v. 13,
n.3, 2002.
FOUCAULT, M. História da sexualidade II. O uso dos prazeres. Rio de Janeiro: Edições
Graal, 1984.
__________. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1987.
__________. A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2002.
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GASTALDO, E. Goffman e as relações de poder na vida cotidiana. RBCS, vol. 23, n. 68,
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GONÇALVES, H.S. & COUTINHO, L.G. Juventude e família: expectativas, ideais e suas
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Nantes/São Paulo: Musée des Beaux Arts e Pinacoteca do Estado, 2006.
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Terapia Ocupacional da UFSCar, São Carlos, v. 19, n. 2, 2011.
~ 42 ~
O assistente social como agente emancipador da pessoa com
deficiência e sua sexualidade
Nataly Sabioni Nogueira
Graduada em Serviço Social pela UNILINS
Rayana Costa Parro
Graduada em Serviço Social pela UNILINS
~ 44 ~
natural da contranatureza, é o modelo ampliado, a forma desenvolvida pelos
próprios jogos da natureza, de todas as pequenas irregularidades possíveis.
E, nesse sentido, podemos dizer que o monstro é o grande modelo de todas
as pequenas discrepâncias. (FOCAULT, 2002, p. 70-1)
O autor mostra que as anomalias são algo natural, entretanto são tratados
como algo proibido, que deve ser escondido e anulado, uma vez que a domesticação
desses corpos não é efetiva como a de um corpo sem anomalia. É algo que visualmente
desperta curiosidade e interesses, mas que ao mesmo tempo causa repulsa.
Foucault (1979) fala do “individuo corrigido” e do “masturbador”. Sobre o
primeiro ele diz que a família, escolas, instituições, corrigem e delimitam o
comportamento de cada ser humano através de regras que podam suas ações físicas e
sociais. A respeito do autor o segundo diz que é fruto da domesticação e da proibição
do sexo, da falta de diálogo sobre o assunto, pois é tratado como algo proibido.
Analisando-se da maneira, compreende-se que o sujeito que apresenta
anomalia é domesticado, castrado, impedido pela sociedade de simplesmente ser.
Assim, a constituição desse ser social entra crise e, se o meio em que vive compactuar
com as questões apresentadas, dificilmente este será um indivíduo emancipado na sua
totalidade. E corpo que não corresponde aos padrões normativos estabelecidos pela
sociedade, são estigmatizados, excluídos e segregados, tornando-se parte de uma
minoria, ocupam uma posição subalterna numa estrutura de poder de uma sociedade.
Que, baseando-se em estereótipos e preconceitos, encontra dificuldade de lidar,
conviver e olhar o diferente, rotulando esses corpos. Prova disso é que, entre os anos
1840 até 1970, na Europa e nos Estados Unidos havia vários circos onde pessoas que
apresentavam alguma deficiência eram expostas para que fossem vistas a fim de saciar
a curiosidade da sociedade.
Retomando os apontamentos de Fernandes & Barbosa (2016), é possível
entender que não tem espaço para estes corpos na centralidade dessa estrutura
corpórea, mas sim na periferia da cultura imposta, chamados pelos autores de “corpos
periféricos”, corpos que a todo momento recebem a cobrança da transformação para
serem aceitos, fazendo com que cresça a busca por tratamentos estéticos. Afirmam que:
Corpo periférico é o das secreções, dos cheiros, dos ruídos – tudo quanto a
educação do indivíduo civilizado, que se afasta decisivamente da barbárie, vai
adestras com método. Mas o corpo periférico é também aquele que tapamos
porque foge da geometria da beleza, da esquadria da desenvoltura física. […].
Por sobre o Corpo construímos toda uma arte das ocultações, do traje a
cosmética, da prótese a cirurgia estética. (FERNANDES & BARBOSA, 2016, p.
77)
Logo, podemos compreender que há uma relação de poder dos corpos centrais
sobre os corpos periféricos. Foucault (1979) trata o poder como algo que não se possui,
~ 45 ~
mas que se exerce. Ou seja, não existe poder, o que existe são relações e práticas de
poder.
Uma vez que o poder se materializa através das relações sociais, este leva à
construção de estruturas que geram normas que comandam nossa percepção sobre os
mecanismos dos arranjos sociais que são seguidos e que se reproduzem. O Estado tem
essa relação de poder com a sociedade, gerando regras estruturais que são respeitadas
e reproduzidas sem questionamento.
O autor diz que a sociedade moderna transformou essa relação de poder e
proporcionou novos instrumentos para a sua aplicação, visto que não sendo mais de
forma religiosa que se domina, mas, agora, essa relação de dominação se dá através da
materialização da disciplina por meio de cada indivíduo que internaliza as regras e as
reproduz. Assim, torna-se habitual o dominado ser subjugado. A relação de poder de
um indivíduo sobre outro ocorre de maneira tão produtiva que recai sobre o corpo
dominado, com a finalidade de adestrá-lo.
Segundo Foucault (1979), o adestramento só se efetiva com a dominação de
um sujeito sobre outro. Dessa forma, o poder passa criar uma estrutura que bloqueia
discursos que sejam diferentes da relação de poder imposta e naturalizada, que dificulta
o questionamento desse discurso.
Assim, é possível compreender como ocorre a relação de dominação dos
corpos centrais sobre os periféricos e os preconceitos estabelecidos pelos discursos da
estrutura de poder, que fazem com que os corpos diferentes sofram por não se
encaixarem em um padrão ou adoeçam tentando se encaixar nos modelos impostos.
~ 46 ~
A garantia do uso da nomenclatura correta pode parecer algo mínimo, mas
garante a estes indivíduos o direito de serem tratados sem preconceito, trazendo
dignidade a estes indivíduos. Entretanto, é necessário pensar nessa dignidade na sua
totalidade, entendendo essa pessoa como sujeito de direitos.
Assim sendo, é indispensável garantir a estes sujeitos igualdade, acessibilidade,
autonomia, liberdade, inclusão social, entre tantos outros direitos dentre os quais o
direito de vivenciar a própria sexualidade. É importante entender que, como qualquer
outro ser humano, a pessoa com deficiência tem direito sobre seus desejos sexuais, sua
orientação sexual, sua compreensão de gênero e tudo que estiver ligado à sua
sexualidade e que for de seu interesse.
Em 2009, o Ministério da Saúde lançou uma cartilha sobre os Direitos Sexuais
e Reprodutivos na integralidade da atenção à saúde da pessoa com deficiência, o qual
aborda aspectos legais, fundamentação teórica e conceitual sobre a temática. A cartilha
busca fazer compreender a pessoa com deficiência não em seus fatores biológicos, mas
sim como um ser social, reconhecendo-se a sua integralidade, para além da sua
deficiência e limitações aparentes, enxergando-a como seres humanos detentores de
direitos, na condição de cidadã (Ministério da Saúde, 2009). Os direitos da pessoa com
deficiência só são materializados quando há compreensão e reconhecimento por parte
de todos os setores da sociedade, o que exige engajamento social sobre a temática,
desmistificando os conceitos limitantes, construídos culturalmente sobre a deficiência:
~ 47 ~
Para compreender a sexualidade da pessoa com deficiência na sociedade
contemporânea no Brasil faz-se necessário analisá-la sob a perspectiva legal,
observando-se as legislações vigentes no que tange a temática. A Declaração Universal
dos direitos humanos, em seu primeiro artigo, parte da premissa do direito e do respeito
a todas as pessoas sem distinção de qualquer condição, seja ela religiosa, politica, sexo,
cor e outra natureza:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade […] (BRASIL, 1988)
[..] as pessoas com deficiência devem estar incluídas sempre no rol de direitos
humanos, pois quando os textos são genéricos eles se reportam a todas as
pessoas, no entanto, como estigmas arraigados culturalmente demoram a ser
combatidos e superados se faz necessário especificações. Daí a importância
de documentos, convenções e legislações, voltados especialmente para o
reconhecimento e defesa dos direitos das pessoas com deficiência, e que
orientem países signatários a adotarem medidas em seus países para a
concretização dos mesmos. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009, p. 22)
~ 48 ~
Desse modo, é somente em 2015 que entra em vigência a lei brasileira de
inclusão (estatuto da pessoa com deficiência) lei 13.146 – 2015. Conforme disposições
gerais da legislação, o principal objetivo da lei é assegurar e promover, em condição de
igualde, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais pela pessoa com
deficiência, visando a sua inclusão social e cidadã.
O estatuto torna-se um instrumento facilitador para o exercício dos direitos
universais, em especial à igualdade com as demais pessoas, apresentando um conjunto
de direitos em diversas áreas, visando à emancipação civil e social das pessoas com
deficiência.
Assim, a pessoa com deficiência passa a ter maior representatividade na
sociedade, sendo-lhe legalmente garantido o direito ao acesso as políticas públicas em
diversos setores como: educação, saúde, trabalho, esportes, assistência social, e outros,
avançando nos princípios da cidadania.
Seguindo esta mesma ideia, o direito a sexualidade está garantido na Lei
Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, Lei N°13.146, de 6 de julho de 2015,
diz:
O serviço social na conquista pela garantia dos direitos sexuais da pessoa com
deficiência na sociedade contemporânea
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[...] o conceito de direitos sexuais e reprodutivos aponta duas vertentes
diversas e complementares. De um lado aponta para um campo da liberdade
e da autodeterminação individual, o que compreende o livre exercício da
sexualidade e da reprodução humana, sem discriminação, coerção ou
violência. Por outro lado, traz a importância da participação institucional, pois
o efetivo exercício dos direitos sexuais e reprodutivos demandas políticas
públicas que assegurem a saúde sexual e reprodutiva da população.
No sentido mais amplo e contemporâneo, saúde reprodutiva é, sobretudo,
uma questão de cidadania e não um estado biológico, independente do
social. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009, p. 31)
Por tanto o Serviço Social, enquanto profissão que atua diretamente sobre a
cultura, pode contribuir na desmistificação da identidade estigmatizante que
permeia a sexualidade […] através de processos educativos, reflexivos,
dialógicos e transformadores […] a ressignificação do corpo para além da
imagem idealizada pela mídia, o circuito sociocultural e religioso que
influência sobre essa questão […]. (PONCE DE LEÃO, 2017, p. 3)
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Análise
Conclusão
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direcionamentos intelectuais para diversas teorias e diversos saberes que
complementarão sua formação profissional, com o objetivo de garantir um atendimento
de qualidade, sem preconceitos e que gere emancipação do ser social.
Essa reflexão acima nos remete ao posicionamento de Iamamoto (2007),
quando alerta aos profissionais para tornarem-se propositivos e com ações que
ultrapassem as práticas rotineiras.
Como base no arcabouço de leis que viabilizam a garantia de direitos, destes
segmentos é indispensável que o profissional esteja ciente e comprometido para
efetivar a seguridade dos direitos legalmente expressos, ampliando as possibilidades
destes indivíduos viverem, mas, acima de tudo a liberdade de vivenciar em totalidade
corporal.
Portanto, ao pensar propostas de intervenção do profissional de serviço social
nesta temática, concluímos que devemos trabalhar na construção de saberes nas
modificações e transformações culturais, na desmistificação do desconhecido e nas
possibilidades diante da realidade presente em nossos espaços sociocupacional. Dessa
forma é nas atividades rotineiras do profissional que se insere a abordagem da temática,
através de ações de cunho coletivo, tais como: campanhas, palestras, roda de conversas
e outros. Assim como em atendimentos particularizados, como, atendimentos
individuais e familiares. Ações com caráter socioeducativo que possibilita a
ressignificação da sexualidade da pessoa com deficiência, através da perspectiva do
direito inerente ao ser humano.
Referências
BARBOSA, Maria Raquel & MATOS, Paula Mena & COSTA, Maria Emília. Um olhar sobre
o corpo: o corpo ontem e hoje. Psicol. Soc. [online], v. 23, n. 1, 2011.
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__________. Lei n. 13.146, de 6 de jul. de 2015. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13146.htm >. Acesso em: 27 abril de 2019.
FERNANDES, Luís & BARBOSA, Raquel. A construção social dos corpos periféricos. Saúde
soc. [online], v. 25, n. 1, 2016.
ONU. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Assembleia Geral das Nações
Unidas em Paris. 10 dez. 1948. Disponível em < https://nacoesunidas.org/wp-
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PONCE DE LEÃO, Alice Alves Menezes. Pisando em ovos?: dificuldades dos assistentes
sociais para falar sobre a sexualidade na velhice. In: VIII Jornada Internacional de
Políticas Públicas - 1917 a 2017: um século de reforma e revolução, 2017, São Luís. VIII
Jornada Internacional de Políticas Públicas - 1917 a 2017: um século de reforma e
revolução, 2017.
~ 53 ~