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PANORÂMICO DE MONSANTO

um espaço que estimula criatividade

Carolina Caldeira da Franca Cabrita

Projeto para Obtenção do Grau de Mestre em Arquitetura com Especialização em Interiores


e Reabilitação do Edificado

Orientação Científica
Prof. José Silveira Dias
Prof. José Manuel Castanheira

PROPOSTA DO TRABALHO FINAL DE MESTRADO

Lisboa, FA ULisboa, dezembro, 2022


PANORÂMICO DE MONSANTO
UM ESPAÇO QUE ESTIMULA CRIATIVIDADE PROPOSTA

ÍDICE GERAL

ÍNDICE DE FIGURAS

GLOSSÁRIO

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO

1.1 Palavras-Chave

1.2 Caso de Estudo: Panorâmico de Monsanto

1.3 Objetivos

1.4 Questões de Trabalho

1.6 Metodologia

CAPÍTULO II – CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA

2.1 Criatividade

2.2 Sinestesia e Arte

CAPÍTULO IV – COMPONENTE PROJETUAL

3.1 Programa

3.2 Casos de Referência

CALENDARIZAÇÃO

ESTRUTURA DO TRABALHO FINAL DE MESTRADO

BIBLIOGRAFIA

WEBGRAFIA

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UM ESPAÇO QUE ESTIMULA CRIATIVIDADE PROPOSTA

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Perspetiva do Panorâmico de Monsanto ……………………………………………………....


6
(Carolina Cabrita, 2022) .

Figura 2: Perspetiva da paisagem do miradouro do Panorâmico de Monsanto …………………...……


7
(Carolina Cabrita, 2022)

Figura 3: Marcel Duchamp. Bicycle wheels, Nova Iorque, 1951. Roda de metal montada num banco
de madeira (129.5 x 63.5 x 41.9 cm) ………………………………………………………………... 10

Fonte: MoMA | Marcel Duchamp. Bicycle Wheel. New York, 1951 (third version, after lost original
of 1913)

Figura 4: Wassily Kandinsky. Sem Título (Primeira Aguarela Abstrata), Centro Pompidou, 1938
………………………………………………………………………………………………………... 14

Fonte: Entassement réglé - Centre Pompidou

Figura 5 – Vincent Van Gogh. Raízes de Árvores, Van Gogh Museum - Amsterdão, 1890. Óleo sobre
tela (50.0 cm × 100.0 cm) …………………………………………………………………………… 15
Fonte: Vincent van Gogh - Tree Roots - Van Gogh Museum

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GLOSSÁRIO
CRIATIVIDADE

Estado de capacidade de associar elementos, à partida, sem qualquer relação entre si, de
naturezas completamente distintas, e a partir daí criar novos objetos.

ARTE

A definição adotada neste trabalho passa pela expressão autêntica na comunicação das ideias,
perceções, sentimentos e emoções.

SINESTESIA

Condição neurológica que, a partir do estímulo de um sentido, desencadeia a perceção


simultânea de outro sentido diferente.

SINESTETA

Indivíduos portadores da condição neurológica – Sinestesia.

NÃO-SINESTETA

Indivíduos que percecionam um sentido de cada vez.

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CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
Se o universo for pensado como uma receita de Deus, que leva uma chávena de inteligência,
uma xícara de necessidade, uma colher de criatividade, uma pitada inconformidade e
acidentalidade q.b., tudo tem um início assim como tem um fim, o que se cria pode-se
destruir, ciclos iniciam-se e finalizam-se, e a Criatividade é um atributo já naturalmente
presente no universo e original da sua entidade criadora.
A evolução das espécies pode ser pensada como uma estratégia criativa de adaptação aos
fatores e condições que as rodeiam. Por uma questão de sobrevivência, os seres vivos
arranjam mecanismos de proteção, defesa e ataque que lhes garantem subsistência em
determinado habitat. Os catos desenvolveram folhas espinhosas que absorvem qualquer
humidade que houver no ar, por mais seco que seja; os camaleões alteram as suas cores para
se confundirem com o tronco de uma árvore ou com o musgo do chão; devido às secas, as
girafas precisaram de deixar de comer a erva do chão para poderem chegar às folhas das
árvores mais altas e os seus pescoços alongaram; quando os hominídeos passaram da
floresta equatorial para as quentes savanas perderam os pelos corporais e consequentemente
a pele tornou-se mais pigmentada e com mais melanina para proteção dos raios ultravioleta.
Não se conhece se por consequência evolutiva ou por mero acaso, mas o ser humano
desenvolveu uma característica a mais: a racionalidade, mas não é por isso que deixa de
fazer parte da sua condição dar continuidade à metamorfose para se adaptar ao ambiente em
que vive. Exceto que, com esta característica extra, a metamorfose também se torna externa
à sua aparência, deixam de ser só as suas características físicas que se alteram e passam a ser
tecnologias físicas que fabrica para facilitar as suas tarefas. As flechas e lanças que criou
para caçar foram por si representadas nas paredes das grutas que ainda eram o seu abrigo,
desenhando cenas de caça como forma de manifestação para obter sucesso. Este foi o
primeiro momento em que sentiu a necessidade de transpor as suas crenças, valores,
conceitos e símbolos para uma superfície que os imobilizasse e foi a partir deste momento
que o seu cérebro se expandiu e a sua criatividade deu um salto exponencial - cria a Arte.
Como produto da necessidade de abrigo conjugada com a condição de ser artístico, surgem
as primeiras manifestações da Arquitetura. O abrigo passa a ser um espaço estético,
cenográfico, onde pode interpretar as várias personagens sociais e ser ele próprio na

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privacidade das paredes que ergueu. Mas assim que o sentido de melhoramento da vida
quotidiana se torna um propósito coletivo, a humanidade ganha uma escala “moderna” de
domínio sobre o planeta inteiro, retoma uma cegueira antropocêntrica e começa a evoluir a
uma velocidade insustentável, tecnológica, científica e espiritualmente. Seria importante um
abrandamento e recuo para decidir a direção dos esforços, rever o significado de evolução e
determinar qual é o objetivo final comum.
A atenção que é dada à evolução da tecnologia e da ciência devia ser equivalente à que é
dada à Arte, já que é uma das principais invenções humanas que o distinguem dos animais
irracionais e os mantêm vivos com dignidade.

1.1 PALAVRAS-CHAVE
Design de Interiores | Reabilitação | Panorâmico de Monsanto

Espaço de Criação Artística | Psicologia da Arquitetura

1.2 CASO DE ESTUDO: PANORÂMICO DE MONSANTO

Figura 1 - Perspetiva do Panorâmico de Monsanto. (Carolina Cabrita, 2022).

Por detrás de toda a área florestal de Monsanto, o edifício ao qual é dado o nome de
Panorâmico de Monsanto, contempla timidamente a paisagem mais privilegiada da cidade.
Concebido para ser um restaurante de luxo, no qual inúmeras obras de artistas nacionais

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vieram tomar como casa em forma de murais, pinturas e esculturas. No entanto, todos os
investimentos tiveram pouco sucesso, funcionando apenas dois anos como restaurante,
acabando por cair no abandono. Entretanto tornou-se miradouro municipal, e mesmo ao
abrigo da Câmara, continua sem um propósito digno, mas com inúmeras potencialidades
espaciais.

Figura 2 - Perspetiva da paisagem do miradouro do Panorâmico de Monsanto (Carolina Cabrita, 2022).

1.3 OBJETIVOS

Como disciplina delicada que é, a Arte precisa das condições certas para acontecer, já que é
um reflexo das emoções verdadeiras e de uma perceção autêntica que cada individuo tem da
realidade.

Perante o cenário frenético de evolução, que pressiona a produtividade, a originalidade e a


eficiência, é importante não deixar o campo das Artes para trás. A necessidade, quase
fisiológica, que os artistas têm de exprimir aquilo que sentem encontra, por vezes,
obstáculos que acabam por despoletar bloqueios criativos. A artificialidade do contexto
urbano, por vezes, complica a disponibilidade criativa. Asfixiados pela rotina e pela densa
massa construída que os envolve, e até carenciados de um espaço que possam dedicar
exclusivamente à criação, os criativos precisam de um refúgio ou um espaço disponível para
desenvolverem os seus projetos artísticos com imperturbabilidade. O caso de estudo
escolhido para este projeto, o Panorâmico de Monsanto, enquadra-se no contexto urbano,
mas com a distância apropriada para poder encarnar um centro de terapia da criatividade.

O objetivo deste projeto será responder à necessidade de um espaço gratuito, aberto a novos
projetos e onde possam surgir novas ideias e algum bloqueio de criatividade e, se for
possível, testar a ideia de que a criatividade pode ser estimulada através arquitetura. A
organização dos espaços poderá remontar o percurso que a mente faz até chegar à
criatividade, como se também fosse uma estrutura arquitetónica.

Contrariar a tirania do visual e adotar a multissensorialidade espacial serão as máximas deste


projeto.

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1.4 QUESTÕES DE TRABALHO


a) A criatividade é estimulável?
b) Qual é a possível relação da arquitetura com a criatividade?
c) Como se configura um espaço que estimula a criatividade?

1.5 METODOLOGIA
Para investigar de que forma é que um espaço arquitetónico pode ter influência na
capacidade humana de desenvolver ideias, esclarece-se a definição de criatividade e a sua
faculdade de ser estimulável. Num segundo momento, explora-se a relação entre a
psicologia e a arquitetura, e quais as sensações, que por reação a determinados
acontecimentos espaciais, são propícias à inspiração e criação. Para isso estudam-se os
comportamentos psicológicos, físicos e neurológicos humanos relativos a uma experiência
imersiva. Investiga-se o impacto das dimensões de espaços arquitetónicos, a ação da luz e da
cor, a relação com o exterior e averigua-se a influência da proximidade com a natureza e a
sua influência na inspiração artística. E num terceiro momento, cruza-se toda a informação e
conceitos e aplica-se projetualmente ao caso de estudo - Panorâmico de Monsanto.

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CAPÍTULO II
CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA

A criatividade é a maior forma de rebeldia da existência. Se deseja


criar, tem que se livrar de todos os condicionamentos; caso
contrário, a sua criatividade não passará de uma mera imitação,
será uma simples cópia de algo.
Pode ser criativo somente como indivíduo, não precisa de ser
criativo como parte da psicologia das massas. A mentalidade
coletiva não tem criatividade; seus membros levam uma vida
enfadonha; eles não conhecem realmente a dança, a melodia, a
alegria; são seres mecânicos.
Uma pessoa que pretenda ser criativa não pode seguir o mesmo
caminho dos outros, uma senda excessivamente trilhada e batida.
Tem que descobrir seu próprio caminho, pesquisar nas selvas da
vida. Ela tem que caminhar só; tem que ser não-conformista com
os valores da psicologia das massas, da mentalidade coletiva.
Osho 1999, p.69

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2.1 CRIATIVIDADE
O hemisfério esquerdo do cérebro é o responsável pela criatividade, que também coincide
com o lado a que corresponde a memória visual, o conhecimento semântico, a memória
semântica, o pensamento divergente e os traços criativos.
A criatividade pode encarnar várias formas, a partir do momento em que surge como resposta
a uma situação desconhecida. Consiste na capacidade de associar elementos, à partida, sem
qualquer relação entre si, de naturezas completamente distintas, e a partir daí criar novos
objetos.
Mas será a criatividade um atributo, uma qualidade, uma condição, um fenómeno, um
momento, um estado ou uma capacidade?

Figura 3 - Marcel Duchamp. Bicycle wheels, Nova Iorque, 1951. Roda de metal montada num banco de madeira (129.5 x 63.5 x 41.9 cm).

As obras do artista contemporâneo, Marcel Duchamp, são exemplos bastante ilustrativos de


ligações inesperadas entre objetos (criatividade). Descontextualizam objetos práticos do seu
ambiente comum de forma a questionar as definições de arte, inutilizando-os e unindo-os em
um só objeto estético. A obra Bicycle Wheels pode ser interpretada como a sugestão da inércia
que está por detrás de uma sociedade teoricamente avançada.

As ideias são um produto do arquivo de conhecimento do indivíduo, aquilo que o rodeia vai
ter um impacto direto na sua forma de pensar e a vastidão do seu arquivo é proporcional às
possibilidades de conexão entre componentes. A questão da liberdade está diretamente
relacionada com a criatividade de cada indivíduo. As suas limitações consistem não só no
contexto social das suas interações, mas também na constituição biológica, origem ancestral e
história sociocultural, e restringem a capacidade de sequer conceber algumas ideias, por mais
revolucionário que se seja.
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A sociedade molda a forma de pensar dos seus cidadãos, a evolução das estruturas sociais
impacta a complexidade das suas mentes e linguagem. (…) the emergence of neural circuits
involving prefrontal cortical regions and interactive neuronal-glial ensembles. These would
be coativated by processes related to norms and social rules of the permitted, the forbidden,
the cooperation, the hierarchies, and the development of adaptive social behaviors.
(Colombo, 2020, p. xii-xiii).
Quanto mais civilizada for uma sociedade, mais livre é, e isso mede-se através da organização
social e política, índice de pobreza, segurança e riqueza cultural.

Segundo Bloomberg, para o pensamento divergente reúnem-se uma série de capacidades que
definem a criatividade:
- a fluência, a habilidade de produção em quantidade;
- a flexibilidade, a capacidade de colocar os problemas em perspetiva;
- a originalidade, a produção de ideias únicas;
- e a elaboração, desenvolver as ideias.

Uma imaginação fértil traduz um vasto mundo interior, potenciando uma vigorosa
criatividade. Quanto mais cedo se começa a estimular a imaginação, mais consistente será a
criatividade ao longo da vida. A infância é o momento da vida de maior absorção de
informação e a fase de maior exploração das possibilidades e aprendizagem dos limites
disponíveis. Uma educação rica é aquela em que a criatividade e a imaginação das crianças
são uma prioridade, quer no ambiente familiar, quer escolar. Quando existem condições que
se adaptam aos vários estilos de aprendizagem e as crianças sentem que as suas ideias e
individualidade são bem-vindas, as suas capacidades motoras, sociais, emocionais,
linguísticas e cognitivas são exponenciadas. O sentimento de aprovação das ideias e da

forma de expressão das crianças é muito importante porque potencia a autoconfiança, que
pode ter impacto na idade adulta para se sentir confortável em expressar-se livremente, sem
constrangimentos.

Obviamente que cada artista tem o seu processo de criação, e a própria criatividade não é
linear. Deve-se desmistificar a ideia que sugere que ser criativo é algo místico, um dom
concedido à nascença ou exclusivo só de alguns. A realidade é que todos os indivíduos estão

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fisicamente aptos a gerar criatividade nas suas mentes, seja ela de que amplitude for, e é
possível expandi-la com intervenções pedagógicas. Ser criativo está, regra geral, associado à
inovação, mas acaba por ser a capacidade de resolução de problemas que surgem em diversos
âmbitos da ação.

2.1 SINESTESIA E ARTE


Em situações regulares, os recetores sensoriais recebem estímulos e transformam-nos em
impulsos nervosos, fornecendo as informações sobre o ambiente que nos rodeia. As imagens
são percecionadas pela visão, os sons pela audição, o sabor pelo paladar, o cheiro pelo
olfato e as coisas físicos pelo tato.

Mas a certa altura, detetaram-se anomalias na perceção sensorial de alguns indivíduos, que
descreviam a realidade como uma sobreposição de sensações, associando por exemplo
sabores a cores e cheiros a sons. Durante muito tempo, catalogou-se este comportamento
como um distúrbio mental, uma imaginação muito fértil, ou como consequência do uso de
substâncias alucinogénias, mas em 1690, no Ensaio sobre o Entendimento Humano, John
Locke analisou o caso de um homem cego que alegava ver cores ao ouvir determinados sons.
E depois de mais alguns estudos sobre este fenómeno, conseguiu-se encontrar um padrão de
“sintomas”, comuns a todos os indivíduos, mas só foi considerada condição neurológica pela
ciência quando o paradigma do conhecimento científico vigente deixou de ter exclusivamente
em conta os dados físicos e visíveis e lhe deu o nome – Sinestesia*.

Do grego, syn- significa união, junção e -esthesia significa perceção ou sensação, daí surge o
conceito de sinestesia, que consiste na junção de sensações numa única perceção. É uma
condição neurológica que, a partir do estímulo de um sentido, desencadeia-se a perceção
simultânea de outro sentido diferente. Perante esta condição, uma cor pode ser ouvida, uma
forma saboreada e um som visível; combinações de sentidos que os não-sinestetas* teriam
dificuldade em imaginar, mas talvez as compreendam do ponto de vista poético, quando
utilizam a figura de estilo – metáfora -, estão a pôr em prática o lado sinestésico que está
presente em todos os humanos, variando de intensidade de indivíduo para indivíduo.

Ao investigar para que serviria a Sinestesia e porque é que teria sido “inventada”, de um
ponto de vista filosófico otimista, Ramachandran, reparou que havia uma percentagem de
incidências da condição relacionada com as artes, a música e a literatura muito maior do que
na população comum. Não se sabe se será a criatividade uma consequência da sinestesia ou o
contrário, ou até mesmo um mero acaso, mas o que é facto é que existem suspeitas de que

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alguns grandes artistas como os pintores: Wassily Kandinsky e Vincent Van Gogh; os
compositores: Franz Liszt, Nikolai Rimsky-Korsakov, Olivier Messiaen e Alexander Scriabin;
e poetas como: Matsuo Bashō, Arthur Rimbaud e Charles Baudelaire possam ser sinestetas*,
embora não existam diagnósticos clínicos que o possam provar (Cytowic, 1993).

Tanto a Sinestesia como a arte são resultados de experiências e união de sensações, e são, só
por si, uma experiência individual. No caso da Arte, há várias etapas que compõem as várias
experiências: o momento em que surge uma ideia, o momento de conceção do objeto e o
momento de exposição, em que o espectador consome a experiência que é consigo
partilhada. Através da arte é possível comunicar múltiplas sensações, e a sinestesia é um
atributo de qualquer manifestação artística.

Figura 4 – Wassily Kandinsky. Entassement réglé, Centro Pompidou,


1913. Óleo sobre tela (116 x 89 cm).

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Figura 5 – Vincent Van Gogh. Raízes de Árvores, Van Gogh Museum - Amsterdão, 1890. Óleo sobre tela (50.0 cm × 100.0
cm).

This painting seems at first sight to consist of a jumble of bright colours and
fanciful abstract forms. Only after that do you realise that it shows a slope with
tree trunks and roots. These are trees used for timber, growing in a marl quarry.
Such quarries could be found around Auvers (FR). The work was not entirely
completed. That explains its unfinished appearance. It is probably Van Gogh's
very last painting. Andries Bonger, the brother-in-law of Vincent's brother Theo,
described it in a letter: 'The morning before his death, he had painted a sous-bois
[forest scene], full of sun and life.'

Play a Kandinsky — Google Arts & Culture

The Sun

Along the old street on whose cottages are hung


The slatted shutters which hide secret lecheries,
When the cruel sun strikes with increased blows
The city, the country, the roofs, and the wheat fields,
I go alone to try my fanciful fencing,
Scenting in every corner the chance of a rhyme,

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Stumbling over words as over paving stones,


Colliding at times with lines dreamed of long ago.

This foster-father, enemy of chlorosis,


Makes verses bloom in the fields like roses;
He makes cares evaporate toward heaven,
And fills with honey hives and brains alike.
He rejuvenates those who go on crutches
And gives them the sweetness and gaiety of girls,
And commands crops to flourish and ripen
In those immortal hearts which ever wish to bloom!

When, like a poet, he goes down into cities,


He ennobles the fate of the lowliest things
And enters like a king, without servants or noise,
All the hospitals and all the castles.

— William Aggeler, The Flowers of Evil (Fresno, CA: Academy Library Guild,


1954)

A evolução tecnológica propõe cada vez mais que se reduza a perceção da realidade à visão e
à audição, ao consumo de estímulos exaustivos através dos ecrãs. E até já existem
experiências de sinestesia simuladas digitalmente, mas as experiências exclusivamente
imagéticas e sonoras não contribuem verdadeiramente para o enriquecimento cultural. Se
pensarmos, uma experiência verdadeiramente multissensorial pode ser encontrada na
Natureza, numa floresta, ao pisar o musgo com os pés descalços e sentir a textura, humidade e
o aroma que liberta, ouvir os sons dos animais, ver a paleta multicolorida das árvores, das
flores e do céu, o sabor de uma amora silvestre ou uma folha de hortelã que se apanhe pelo
caminho.

CAPÍTULO III
COMPONENTE PROJETUAL

3.1 PROGRAMA
Assim como qualquer outro edifício, o Panorâmico de Monsanto pode ser lido sob várias
perspetivas, e um projeto de reabilitação acaba por ser uma espécie de psicologia, em que há
um diálogo entre o arquiteto e o edifício. Se calhar, a melhor forma de descobrir que
programa atribuir a alguns espaços fosse deixá-los abertos à livre apropriação. As
necessidades que faltam a determinado grupo de pessoas hão de ali surgir espontaneamente; o

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Espaço diz-nos de que precisa e do que nós precisamos.


Talvez tenha sido isso que aconteceu ao Panorâmico de Monsanto. Talvez se tenha finalmente
concretizado quando deixou de tentar encarnar programas que não lhe serviam, se dissociou
do Luxo e do elitismo, e humildemente acolheu aqueles que o admiram a si, ao seu ponto de
vista e os que o sentem como espaço de livre expressão artística. Supõe-se que tenha sido isso
que o manteve verdadeiramente vivo quando se tornou a Casa da arte urbana de Lisboa. Vivo,
mas em degradação, porque ainda não se assumiu totalmente como espaço de observação de
uma vista democrática, e para todos os efeitos precisa de uma manutenção que o salve da
decadência.
O próprio edifício escolheu o seu programa: um espaço democrático, um centro de criação
artística e um miradouro. E neste projeto, organiza os seus espaços para receber pessoas,
artistas e observadores de paisagens. O seu percurso pode semear inspiração e provocar
algum sentimento de vontade de expansão, expressão, criação, etc. através de uma
experiência imersiva multissensorial.

O projeto consistirá num centro de reabilitação criativo onde qualquer pessoa que precise de
um espaço para desenvolver um projeto relacionado com as artes possa encontrar no
Panorâmico de Monsanto um ambiente confortável e inspirador para as suas ideias. E para
isso, o edifício dividir-se-á em quatro momentos: de inspiração, de criação, de exposição e
de observação.

Sendo a arquitetura já, por si, uma experiência multissensorial, o momento de inspiração
consistirá num lugar em que a perceção do espaço acentuará dramaticamente os sentidos para
intensificar a experiência e direcioná-la para a inspiração. O espaço deverá ser o mais
abstrato possível, para não influenciar objetivamente nem sugerir nenhuma ideia concreta,
aliás, um dos conceitos-base a ser exaltado é exatamente o que constrói a ideia de que cada
pessoa perceciona a realidade do seu ponto de vista, mesmo que ela se apresente da mesma
forma para todos. Erguer-se-á um cenário utópico onde os visitantes encontrem o seu próprio
universo criativo com maior facilidade do que encontram na realidade que os rodeia no
quotidiano.
O visitante deve sentir o oposto de inibição, a experiência provoca o conceito de expansão e
entrega, e cada visitante interpreta-o à sua maneira. A ideia é encenar o momento de
inspiração o mais abrangentemente possível para recriar o universo criativo de cada artista.
Por a criatividade ser um estado de capacidade de resolução de problemas com arte, o papel

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do visitante é ativo, de necessária interação com o espaço. Além de ser o cenário, o espaço é
um dos agentes da ação. O espaço estará à disposição do visitante com luz, som, reflexão e
ilusões de ótica espaciais.
O momento de criação é aquele em que o espaço apresenta, objetivamente, condições para a
propiciar a fluidez da projeção das ideias dos artistas que o visitam.
Como consequência do momento de criação, surge o momento de exposição, onde todas as
obras desenvolvidas no edifício serão expostas ao público.
Para dar continuidade ao principal propósito do edifício, o momento de observação mantém
a sua função de miradouro e que, na verdade, pode ser lido também como um momento de
inspiração, em que a paisagem é o objeto inspirador.

3.2 CASOS DE REFERÊNCIA


Os casos de referência que se seguem dizem respeito ao momento de inspiração e não
representam, em si, fundamentos teóricos da pesquisa feita até aqui, são apenas exemplos de
exposições interativas. Aquilo que têm em comum é o facto de serem instalações artísticas
que se metamorfoseiam no espaço, acrescentando-lhe informação e nem poderiam habitar em
mais lado nenhum senão ali, ou perderiam contexto. São a ponte de interação entre a
arquitetura e os seus visitantes; através destas instalações, têm a oportunidade de
compreender e experimentar as várias dimensões da arquitetura.

Confira as instalações artísticas no Museu das Favelas, que inaugurou em São Paulo -
25/11/2022 - Guia - Fotografia - Folha de S.Paulo (uol.com.br)

Questão 1162087 IPAD - Professor (Pref VS Antão) (tecconcursos.com.br)

Artistic Futures: Digital Interactive Installations — AMT Lab @ CMU (amt-lab.org)

(380) Pinterest

Japanese art collective NAKED explores the world of tea ceremony and Sen no Rikyu in exhibition – grape Japan (grapee.jp)

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CALENDARIZAÇÃO
setembro outubro novembro dezembr janeiro fevereiro março abril maio junho julho
o
01 15 01 15 01 15 01 15 01 15 01 15 01 15 01 15 01 15 01 15 01 15
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
15 30 15 31 15 30 15 31 15 31 15 28 15 31 15 30 15 31 15 30 15 31
Elaboração da Proposta X X X X X X X X X X
do Trabalho Final de
Mestrado
Entrega da Proposta do X
Trabalho Final de
Mestrado

FASE TEÓRICA
Investigação sobre a X X X X X X X X X X X
Criatividade

Exploração do impacto X X X X X X X X X X X
que os Espaços têm na
psique humana

Estudo sobre a Sinestesia X X X X X X X X X X X

Estudo acerca da X X X X X X X X X X X
neurologia relativamente
a exposições imersivas

FASE DE ANÁLISE
Análise de espaços de X X
criação de criativos da
História

Visita ao edifício X X X X

Análise do edifício X X X X X X X X X X X X X X X

Recolha de elementos X X X X
relativos ao local de
intervenção

FASE PROJETUAL
Definição do programa X X

Desenvolvimento X X X
espacial
Exploração Estética X X

Desenho de detalhe X X

Projeto de Execução X X X X X

FASE FINAL

Documento final escrito X X X X X X X X X X X X

Elaboração dos elementos X X


plásticos finais

ENTREGA DO X X
DOCUMENTO
ESCRITO
Painéis de apresentação X

APRESENTAÇÃO X
FINAL DE MESTRADO

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UM ESPAÇO QUE ESTIMULA CRIATIVIDADE PROPOSTA

ESTRUTURA DO TRABALHO FINAL DE MESTRADO

RESUMO

ABSTRACT

ÍNDICE GERAL

ÍNDICE DE FIGURAS

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO
1.1 Palavras-Chave
1.2 Caso de Estudo: Panorâmico de Monsanto
1.3 Objetivos
1.4 Questões de Trabalho
1.5 Metodologia

CAPÍTULO II – CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA

2.1 Criatividade

2.2 Sinestesia e Arte

2.3 Processos criativos e pessoas diferentes

2.4 A Criatividade e as Cores

2.5 Espaços que tiveram influência em Criativos da História

2.6 Psicologia da Arquitetura

CAPÍTULO III – COMPONENTE PROJETUAL

3.1 Programa
3.2 Projetos de Referência

CAPÍTULO IV – CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

WEBGRAFIA

ANEXOS

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PANORÂMICO DE MONSANTO
UM ESPAÇO QUE ESTIMULA CRIATIVIDADE PROPOSTA

BIBLIOGRAFIA
COLOMBO, Jorge A. Creativity, a Profile for Our Species. Social and Neurocognitive Issues. 2020. v.
19. Acesso em:

https://books.google.pt/books?hl=pt-PT&lr=&id=q_zLDwAAQBAJ&oi=fnd&pg=PR5&dq=Bioelectri
cal+activity+of+cerebral+cortex+at+different+stages+of+the+creative+artistic+process+in+artists&ots
=bAikJznble&sig=ygUabR-ijFspekTrsK_h4zA_G88&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false.
[Consultado em: 8 nov. 2022].

DERE, Zeynep. Investigating the Creativity of Children in Early Childhood Education Institutions,
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CAROLINA CABRITA 20
PANORÂMICO DE MONSANTO
UM ESPAÇO QUE ESTIMULA CRIATIVIDADE PROPOSTA

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