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UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DA REGIÃO DE CHAPECÓ

Área: ÁREA DE CIÊNCIAS EXATAS E AMBIENTAIS


Componente Curricular: OPERAÇÕES UNITÁRIAS I
Carga horária: 80 h/a
Professor: Gustavo Lopes Colpani

2 - AGITAÇÃO E MISTURA

Na indústria, muitas operações dependem da agitação e mistura de fluidos. Usualmente a


agitação refere-se ao movimento induzido em um fluido por meios mecânicos em um recipiente. O
fluido pode circular no recipiente ou apresentar outro padrão de fluxo. A mistura está normalmente
relacionada a duas ou mais fases inicialmente separadas que são aleatoriamente distribuídas dentro
ou através uma da outra.
Para ilustrar esta diferença temos como exemplo, um tanque contendo água fria que pode ser
agitado para trocar calor com uma serpentina, mas não pode ser misturado até que algum outro
material seja adicionado a ele como, por exemplo, partículas de algum sólido.
Desta forma, entende-se que os processos de agitação diferem dos processos de mistura,
uma vez que ao tratarmos de agitação iremos considerar uma única fase e nos processos de mistura
consideraremos que os componentes se apresentam em duas ou mais fases.

2.1 - Objetivos

A agitação é utilizada em diversas aplicações, incluindo:

- a dispersão de um soluto em um solvente;


- a mistura de dois ou mais líquidos miscíveis;
- a produção de uma suspensão de um sólido finamente dividido em um líquido;
- a dispersão de líquidos imiscíveis;
- a dispersão de um gás num líquido (aeração);
- a mistura de reagentes em um reator químico (acelerar a reação);
- a promoção de uma melhor transferência de calor;
- a promoção de uma melhor transferência de massa;
- redução de aglomerado de partículas.

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- obter materiais com propriedades diferentes daquelas do material originário.

2.2 - Propriedades que Influenciam na Mistura

- Do fluido : ρ , μ, miscibilidade.
- Do sólido : tamanho das partículas, ρS, forma, aderência e molhabilidade.

Ainda em relação ao fluído, a tensão de cisalhamento é influenciada pelo fluxo, conforme


ilustra a Figura 1.

Figura 1 – Comportamento de fluxo para fluidos. a) Avaliação da tensão de cisalhamento. b)


Avaliação da viscosidade.

Fonte: FOX e McDONALD, 1998.

2.3 - Equipamentos para Mistura

Os sistemas de mistura apresentam em comum:


Líquido a ser misturado (agitado);
Vaso que contém o líquido;
Equipamento mecânico que gera a turbulência.

Pode-se, ainda, dividir a mistura em duas classes principais:


Mistura de líquidos e materiais pouco viscosos.
Mistura de pastas.

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Neste material iremos tratar mais especificamente da mistura de líquidos. Entende-se por
líquido qualquer solução ou suspensão bombeável.

Os principais componentes para a agitação de líquidos são relacionados a seguir:


Vaso: preferencialmente com fundo arredondado, pois facilita o processo de agitação,
evitando pontos sem mistura;
Motor: responsável pela promoção do movimento (energia elétrica energia mecânica);
Redutor de velocidade: pode ser mecânico ou eletrônico. Utilizado para o controle da
velocidade/freqüência de agitação;
Haste com impelidor: este conjunto constitui o agitador, responsável por transmitir
movimento ao fluido;
Dificultores ou chicanas (opcional): são utilizados para evitar a formação do vórtice;
Termômetro (opcional): acompanhar a temperatura da mistura;
Ponto de amostragem: permitir a coleta de amostras para análise.

A Figura 2, abaixo, mostra esquematicamente um tanque agitado com os seus principais


componentes, enquanto que a Figura 03 ilustra um tanque industrial com um corte na lateral.

Figura 2 – Esquema de um tanque de agitação/mistura.

Fonte: McCABE et al., 1993.

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Figura 03 – Tanque de agitação/mistura industrial.

Fonte: FOGLER, 1999.

Os equipamentos de agitação/mistura podem ser divididos quanto ao regime de operação,


sendo:

a) Batelada
Equipamentos de agitação/mistura operados em batelada podem ser usados para materiais
viscosos, plásticos e sólidos. São pontos importantes destes equipamentos:
- Tempo para obtenção do resultado desejado;
- Facilidade e rapidez de descarga e limpeza;
- Consumo de energia.

b) Contínuos
Equipamentos de agitação/mistura operados em regime contínuo podem ser usados para
gases, líquidos de baixa viscosidade e suspensões.

2.3.1 - Classificação dos Impelidores

Os impelidores são classificados de acordo com o tipo de escoamento promovido no interior


do tanque (vaso).

a) Escoamento radial: Tem suas pás paralelas ao eixo de rotação. Este fluxo é perpendicular

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à parede do tanque. Fazem parte desta classe os impelidores tipo turbina, pás, âncora e grade.
A Figura 4(a) ilustra o perfil de escoamento para estes impelidores.

b) Escoamento axial: São aqueles cujas pás fazem um ângulo menor que 90º com o plano de
rotação do impelidor. Fazem parte desta classe os impelidores tipo hélices e turbinas de pás
inclinadas. A Figura 4(b) ilustra o perfil de escoamento para estes impelidores.

Figura 4 – Perfil de escoamento. a) Escoamento radial. b) Escoamento axial.

Fonte: McCABE et al., 1993.

A Figura 5 apresenta esquematicamente o formato de alguns impelidores.

Figura 5 – Impelidores. a) Hélice de três pás. b) Turbina de lâminas retas abertas. c) Turbina com
lâminas no disco. d) Turbina de lâminas verticais curvas. e) Turbina com pás inclinadas.

Fonte: McCABE et al., 1993.

A Figura 6 apresenta fotografias de impelidores tipo turbina de fluxo axial. O impelidor da


Figura 6(a) possibilita um custo mínimo de agitação sobre uma ampla margem de aplicações, nas
quais a viscosidade não é grande e que exigem um movimento rápido e completo. A Figura 6(b)

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mostra uma turbina para uso como agitador/circulador, com movimentação vertical do fluído.

Figura 6 – Impelidores tipo turbina. a) Turbina de fluxo axial (pás inclinadas) com estabilizador
direcional. b) Turbina de fluxo axial (pás moldadas, inclinadas).

(a) (b)
Fonte: FOUST et al., 1982.

A Figura 07 apresenta fotografia de impelidores de fluxo radial. O impelidor ilustrado pela


Figura 7(a) provoca turbulência intensa, principalmente na direção radial, porém às custas de
elevado consumo de potência. O impelidor em forma de âncora, Figura 7(b), é utilizado onde se
requer um baixo nível de turbulência em um fluido viscoso. Bastante eficiente em vasos onde se
requer resfriamento ou aquecimento.
Figura 7 – Impelidores de fluxo radial. a) Turbina com lâminas no disco. b) Impelidor tipo âncora.

(a) (b)
Fonte: FOUST et al., 1982.

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Figura 8 – Impelidor com formato helicoidal.

Fonte: FOUST et al., 1982.

O impelidor helicoidal, Figura 8, é utilizado, com maior freqüência, para misturar


ingredientes sólidos e líquidos, ou para agitar massas, pastas ou lamas.

2.3.2 - Escoamento do Fluido

O tipo de escoamento desenvolvido pelo fluido no interior do vaso depende:

- do tipo de lâmina utilizada;


- do tamanho do tanque;
- das características do fluido;
- dos dificultores (chicanas);
- do impelidor utilizado.

A velocidade do fluido num tanque agitado apresenta três componentes:

a) Componente radial: atua na direção perpendicular ao eixo da haste.


b) Componente longitudinal: atua na direção paralela ao eixo.
c) Componente tangencial: atua na direção tangente à haste. Responsável pela formação do
vórtice. Deve ser evitada.

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2.3.3 - Formação do Vórtice

O vórtice (redemoinho) é produzido pela ação da força centrífuga que age no líquido em
rotação, devido à componente tangencial da velocidade do fluido. Geralmente ocorre para líquidos
de baixa viscosidade e em vasos com agitação central desprovidos de chicanas. O vórtice ocorre
quando Re > 300 para tanques sem chicanas.

Figura 9 – Ilustração do vórtice.

Fonte: McCABE et al., 1993.

Quando ocorre, o vórtice prejudica a mistura, pois apenas uma das três componentes de
velocidade ocorre com maior intensidade. Desta forma, este comportamento é indesejado e pode ser
evitado seguindo-se uma das medidas abaixo:

Descentralizar o agitador;
Inclinar o agitador de 15º (aproximadamente) em relação ao eixo vertical do centro do
tanque;
Colocar o agitador na horizontal;
Utilizar chicanas.
A Figura 10 apresenta, esquematicamente, maneiras de evitar-se a formação do vórtice.

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Figura 10 – Esquema de instalação do agitador.

Fonte: McCABE et al., 1993.

2.3.4 – Dificultores / Chicanas

As chicanas são anteparos instalados próximos à parede do vaso de modo a reduzir o efeito
da componente tangencial de velocidade, objetivando assim evitar a formação do vórtice. As
chicanas podem ser instaladas seguindo-se três diferentes configurações:

a) Próximo à parede, para líquidos de baixa viscosidade. Geralmente são utilizados 4


dificultores, com largura de 1/10 - 1/12 do diâmetro do tanque para soluções de baixa
viscosidade.
b) Afastados da parede, para líquidos de viscosidade moderada.
c) Afastados da parede e inclinados, para líquidos de alta viscosidade. Geralmente, o
afastamento é de 1/2 de largura, a fim de evitar acúmulo de sólidos atrás das lâminas.

2.3.5 - Configuração do Tanque Padrão

O projeto de um tanque agitado envolve um grande número de escolhas, tais como a


localização do agitador, as dimensões do tanque, o número e dimensões das pás etc. Cada decisão
irá afetar a taxa de circulação do líquido, os padrões de velocidade e a potência consumida. A
Figura 11 mostra um esquema de um tanque com sas dimensões.

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Figura 11 – Relação das variáveis das dimensões do tanque.

Fonte: McCABE et al., 1993

Na literatura, encontram-se, principalmente, duas relações de variáveis para a definição da


geometria do tanque padrão: Holland e McCabe.

a) Segundo Holland:
i) Impelidor: turbina de 6 lâminas planas.
ii) Diâmetro do impelidor: Da = (1/3).Dt
iii) Altura do impelidor em relação à base do vaso: E = (1/3).Dt
iv) Largura da pá do impelidor: W = (1/5).Da
v) Comprimento da pá do impelidor: L = (1/4).Da
vi) Nível do líquido: H = Dt
vii) Número de dificultores (chicanas): 4 montados verticalmente na parede do tanque do
fundo até acima do nível de líquido.
viii) Largura dos dificultores: J = (1/10).Dt

b) Segundo McCabe:
i) Diâmetro do impelidor: Da = (1/3).Dt
ii) Altura do impelidor em relação à base do vaso: E = Da
iii) Largura da pá do impelidor: W = (1/5).Da
iv) Comprimento da pá do impelidor: L = (1/4).Da
v) Nível do líquido: H = Dt
vi) Número de dificultores (chicanas): 4.
vii) Largura dos dificultores: J = (1/12).Dt

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viii) Número de pás do impelidor (turbina): 4 a 16, geralmente 6 a 8.
ix) Caso o nível do líquido seja maior que 1,25 Dt usar mais impelidores, conforme ilustra
a Figura 12.
x) A distância ótima entre os impelidores fica entre 1 - 1,5 Da.
xi) Distância entre chicanas e parede: c = 0,015.Dt

Ainda segundo McCabe, o número de impelidores pode ser calculado pela relação empírica
de Weber, Equação 01.

Figura 12 – Vaso com múltiplos impelidores.

Fonte: McCABE et al., 1993.

WELH
N Impelidores = 01
Dt

onde WELH é a altura de líquido equivalente a da água, conforme a Equação 02.

WELH = H × m 02

onde m é a massa específica média do conteúdo do vaso.

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2.4 - Consumo de Potência em Tanques Agitados

A potência estimada em um sistema agitado é função do tipo de fluxo dentro do misturador


e das proporções geométricas do equipamento. O padrão de escoamento em um vaso é uma
combinação complicada de fluxo laminar, turbulento e separação da camada limite. Quando o fluxo
no tanque é turbulento, a potência requerida pelo impelidor pode ser estimada pelo produto da
vazão volumétrica produzida pelo impelidor e energia cinética por unidade de volume de fluido.
Para estimar a potência requerida para rotacionar o impelidor a uma dada velocidade,
correlações empíricas de potência, juntamente com outras variáveis do sistema, são necessárias. A
forma de tais correlações pode ser encontrada por análise dimensional, dando-se maior importância
à variáveis como dimensões do tanque e impelidor, a distância entre o fundo do tanque e impelidor,
nível de líquido, além das dimensões das chicanas. O número e arranjo das chicanas, bem como o
tipo e número de pás do impelidor devem ser fixados. As variáveis analisadas serão as medidas do
tanque e impelidor, propriedades do fluido (viscosidade e densidade) e freqüência de rotação.
As várias medidas lineares, como D e H, podem ser convertidas em fatores admensionais,
chamados de fatores de forma. Estes fatores são calculados dividindo-se a dimensão referida pela
dimensão de referência, geralmente Da e Dt, sendo os principais fatores apresentados abaixo.

Da E L W J H
S1 = ; S2 = ; S3 = ; S4 = ; S5 = ; S6 =
Dt Dt Da Da Dt Dt

O desenvolvimento completo da análise dimensional, utilizada para a definição da relação


entre as variáveis, de modo a fornecer uma base teórica para se estimar empiricamente o Número de
Potência, é apresentado por Bennett (1978, p. 186).

2.4.1 –Números adimensionais empregados em agitação e mistura

Reynolds:

Re =
nDa 2 ρ
=
(nDa )Daρ ∝ U 2 Daρ 03
µ µ µ

onde u é a velocidade periférica do impelidor. Desta forma, o número de Reynolds pode ser
interpretado como uma relação entre a força inercial e viscosa.

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Número de Potência:

P
NP ≡ 04
n Da 5 ρ
3

No vaso, o movimento das pás do impelidor se opõe a uma força de arraste, que atua sobre
toda a área de circulação, não apenas sobre os extremos da pá. Assim, o número de potência é
análogo ao fator de atrito ou ao coeficiente de arraste. Np é proporcional à razão entre força de
arraste atuando em uma unidade de área do impelidor e forças de inércia. Resumidamente, pode-se
dizer que Np é a razão entre a força aplicada pelo impelidor e a força de inércia.

Número de Froude:

n 2 Da 05
Fr =
g

O número de Froude é interpretado como a razão entre a força de inércia e forças associadas
à gravidade. O número de Froude intervém na dinâmica de fluidos sempre que existe um
movimento de ondas importante sobre a superfície do líquido. A relação entre as forças
especificadas por Fr ocorre como conseqüência do vórtice, pois neste existem forças gravitacionais
não equilibradas, que são proporcionais à massa de líquido influenciada.
O número de Froude, Fr, somente intervém no cálculo do consumo de potência em um
sistema agitado quando se tem a formação do vórtice, ou seja, para Re > 300 e sistemas sem
chicanas.

2.4.2 – Correlações para o Cálculo do Consumo de Potência

A potência, em tanques agitados, pode ser calculada pela expressão do Número de Potência,
conforme a Equação 06.

P = N P n 3 Da 5 ρ 06

Na literatura existem diversas correlações para determinar o valor de NP, apresentadas na

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forma de equações semi-empíricas e empíricas, além de gráficos e tabelas. Quando intervém o
número de Froude, seu efeito se considera mediante a Equação 07.

= ψ (Re, S1 , S 2 ,K, S n ) = Φ
NP 07
Fr m

Sendo Φ a função de potência. A constante m está relacionada com o Número de Reynolds,


de acordo com a Equação 08.

a − log Re 08
m=
b

onde a e b são constantes empíricas, e seus valores podem ser obtidos pela Tabela 9.1 de McCabe et
al. (1993).

Para baixos valores de Re as linhas de NP x Re, tanto para tanques com chicanas quanto para
aqueles com ausência destas, são coincidentes, com um ângulo, em coordenadas logarítmicas, no
valor de –1. Sendo assim:

KL 09
NP =
Re

e, portanto:

P = K L n 2 Da 3 µ 10

As Equações 09 e 10 podem ser utilizadas para regime de escoamento laminar, que


significa, para sistemas agitados, Re < 10. Para Re > 10000, em tanques com chicanas, NP
independe de Re, e a viscosidade não é um fator a ser considerado. Nesta faixa o fluxo é bastante
turbulento e, portanto:

N P = KT 11

logo:

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P = K T n 3 Da 5 ρ 12

Valores para as constantes KL e KT, para vários tipos de impelidores são mostrados pela
Tabela 9.3 em McCabe et al. (1993).

2.4.3 – Efeito da Geometria do Sistema

Em sistemas com impelidores tipo turbina de pás planas, operando em regime turbulento,
em tanques com chicanas, o efeito da geometria do sistema pode ser assim resumido:

a) Diminuindo-se o valor de S1, aumenta-se NP para tanques com chicanas estreitas e em baixo
número. NP diminui pra chicanas largas e em maior número. Para tanques com 4 chicanas e

S 5 = 1 , comum na indústria, alterando-se S1 não se observa efeito significativo em NP.


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b) O efeito em NP para alterações em S2 depende do modelo (tipo) de turbina. Para turbina de disco
com pás planas, aumentando-se S2 observa-se um aumento em NP. Para turbinas de fluxo
vertical, aumentando-se S2 diminui-se NP.
c) Para turbina de lâminas retas abertas, o efeito de S4 em NP depende do número de pás. Para 6 pás,
NP aumenta diretamente com S4; Para 4 pás NP aumenta com S 41, 25 . Nos demais tipos de turbinas
não se observa efeito significativo.
d) Em agitadores com dois impelidores tipo turbina (mesmo tipo) consome-se cerca de 1,9 vezes
mais potência que para agitadores com um único impelidor, desde que a distância entre os
impelidores seja no mínimo o seu diâmetro. Quando a distância de afastamento é menor que o
diâmetro do impelidor pode-se ter até 2,4 vezes mais consumo de potência que um único
impelidor.
e) A forma do tanque tem pouco efeito em NP, porém tem grande influência nos padrões de
circulação.

2.5 – Cálculo da Rotação do Impelidor

2.5.1 Mistura de líquidos


A rotação a ser utilizada nos sistemas de agitação e mistura pode ser calculada a partir de
correlações de números adimensionais, da velocidade maciça e do termo definido como
bombeamento efetivo, conforme Equações 13 e 15.

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Q = Vm ⋅ S 13

π ⋅ DT2 14
S=
4

Q 15
NB =
Da 3 ⋅ N

A velocidade maciça (Vm) é definida como a resposta dinâmica desejada no sistema, com
valores usuais entre 0,03 a 0,3 m.s-1, conforme os requisitos do processo e de acordo com a escala
de agitação da Tabela XII-3 apresentada em Gomide (1997).
A definição da rotação para um projeto inicia-se na estimativa de um valor para o número de
bombeamento (usualmente NB = 0,7), o qual fornecerá a rotação teórica que será empregada no
cálculo de Reynolds. A partir deste NRe e utilizando-se a Figura XII-11 apresentada em Gomide
(1997), é possível finalmente determinar um novo NB, o qual deverá coincidir com o NB estimado
inicialmente.

2.5.2 Suspensão de sólidos


A suspensão de sólidos em líquidos visa evitar a decantação de partículas sólidas com o
objetivo de dissolução deste material, lixiviação, cristalização ou mera suspensão. Este processo
pode ser tratado de forma análoga ao anterior, empregando-se o conceito de velocidade terminal,
apresentada na Equação 16.

g ⋅ D P ⋅ (ρ s − ρ ) 16
u t = 1,741 ⋅
ρ

A partir desta velocidade, pode-se definir a velocidade de projeto (uP), conforme Equação
17.

u P = f ⋅ ut 17

O parâmetro f é um fator de correção relativo à concentração de sólidos presentes na


solução, conforme Tabela 1.

Tabela 1 – Fator de correção f.

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% Sólidos 2 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
f 0,80 0,84 0,91 1,00 1,10 1,20 1,30 1,42 1,55 1,70 1,85
Fonte: GOMIDE, 1997.

A partir dos dados de velocidade de projeto e da determinação do coeficiente adimensional


ϕ, definido pela escala de suspensão, contida na Tabela XII-8 (GOMIDE, 1997), e pela Figura XII-
13 apresentada em Gomide (1997), é possível calcular a rotação necessária para homogeneização
dos sólidos presentes no processo através da Equação 18.

N = (φ ⋅ u P ) 18
0 , 267
⋅ Da −0,749

2.6 – Mistura de Líquidos Miscíveis

É realizada em processos envolvendo tanques relativamente pequenos, por impelidores na


forma de hélice ou turbina, montados no centro. O processo é, geralmente, bastante rápido, sendo o
tempo de mistura previsto através das correlações para fluxo total produzido por vários impelidores.
Para um impelidor tipo turbina de 6 pás tem-se:

D  19
q = 0,92nDa 3  t 
 Da 

5V πD 2 H 1 20
tT ≈ =5 t
q 4 0,92nDa 2 Dt

2
 Da   Dt  21
ntT     = cte = 4,3
 Dt   H 

Para um dado tanque e impelidor, ou sistemas de geometria similar, o tempo de mistura


varia inversamente com a freqüência de agitação. Isto é experimentalmente comprovado, conforme
mostra a Figura 9.15, McCabe et al. (1993), que apresenta curvas para f t = n ⋅ t × Re , onde ft é o
fator de tempo de mistura. Nota-se que para regime turbulento não há alteração significativa no
valor de ft , ou seja, este permanece constante mesmo para valores maiores de Re.

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2.6 – Ampliação de Escala (Scale up)

Um dos maiores problemas no projeto de sistemas de agitação é a ampliação de escala a


partir de dados de uma unidade piloto ou de laboratório. Para alguns problemas, várias correlações
são propostas, tais como as apresentadas nas figuras de N P × Re e f t × Re . Para muitos outros
problemas correlações adequadas não são encontradas. Para estas situações, alguns métodos de
scale up são propostos, todos baseados na similaridade geométrica entre os equipamentos de
laboratório e industrial. Nem sempre é possível, contudo, ter-se tanques pequenos e grandes com
geometria similar.
A razão entre o diâmetro do impelidor e do tanque, para uma dada potência, também é um
importante fator no scale up. Por exemplo:

Dispersão de um gás em um líquido → Da = 0,25


Dt

Misturas para extração líquido-líquido → Da = 0,40


Dt

Em uma ampliação de escala é necessário que se tenha similaridade dinâmica e, neste caso,
os números admensionais devem permanecer constantes.

2.6.1 Procedimento para ampliação de escala

Um procedimento de ampliação de escala é detalhado a seguir, onde as condições iniciais


são as dimensões geométricas Da1, DT1, H1, ....e as condições finais são Da2, DT2, H2,....

Passo 1: calcule o fator de ampliação de escala R. Considerando o volume do tanque com Dt1 = H1
temos:

V1 = [(π.Dt12)/4].H1
Logo a razão de volume é:
V2/V1 = [(Dt23)/(Dt13)]

Desta forma, o fator de ampliação (R ) pode ser determinado:

R = (V2/V1)1/3 = (Dt2/Dt1)

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Passo 2: Usando o valor R calcule o valor das novas dimensões. Por exemplo:

Da2 = R.Da1; J2 = R.J1 ......

Passo 3: A partir dos dados de diâmetro de impelidor e considerando-se constante os fatores de


forma, define-se qual será a correlação aplicada, conforme descrito na Tabela 1.

Tabela 1 – Correlações para ampliação de escala.


Correlação Rotação (N) Potência (P)
P1 ⋅ N 2 ⋅ Da 2
Reynolds constante N 1 ⋅ Da12 = N 2 ⋅ Da 22 P2 =
N 1 ⋅ Da1

P1 ⋅ Da 23
Potência / Volume N ⋅ Da = N ⋅ Da
3
1
2
1
3
2
2
2
P2 =
Da13

P1 ⋅ Da 22
Tensão de cisalhamento N 1 ⋅ Da1 = N 2 ⋅ Da 2 P2 =
Da12

2.7 – Exemplos

Ex. 01. Um impelidor tipo turbina de 6 pás planas é instalada no centro, em um tanque vertical. A
geometria dos sistema é assim definida: o tanque possui 6 ft de diâmetro; o impelidor 2 ft de
diâmetro, posicionado 2 ft acima da base do tanque; as pás possuem largura de 5 in. O
tanque é preenchido até 6 ft com uma solução de NaOH. A solução possui uma viscosidade

de 12 cp e densidade de 93,5 lb . A turbina é operada a 90 rpm e o tanque é provido de


ft 3
chicanas. Qual a potência requerida para operar o misturador?

Ex. 02. Caso o tanque do Problema 01 não possuir chicanas, qual a potência requerida?

Ex. 03. Um tanque de dissolução deve ser agitado de modo a suspender do fundo todos os sólidos.
A capacidade do tanque é de 20 m3 e o sólido disperso tem partículas de 3 mm de diâmetro
com densidade de 1260 kg.m-3. A densidade do líquido sem sólido é de 955 kg.m-3 e a
viscosidade pode ser considerada igual a 1 cP. Quais são as dimensões do agitador, a
rotação e a potência deste sistema para uma solução que contém 15% de sólidos?

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Ex. 04. No intuito de auxiliar a população no combate ao Sars-CoV-2, você decide produzir
hipoclorito de sódio (água sanitária). A formação deste saneante ocorre em duas etapas, sendo
primeiramente necessário diluir NaOH (soda cáustica) em água até uma solução de 50% (em massa)
e depois misturar esta solução novamente em água, na qual é adicionado cloro gasoso. Neste
sentido, considere a segunda etapa como um processo de mistura de líquidos, a qual deverá ser
realizada em um reator agitado de 8 m3. No entanto, para que fosse possível avaliar o processo de
forma adequada antes do projeto, você realizou um teste em escala piloto, no qual você empregou
um reator de 10 litros, com uma escala de agitação igual a 5. Devido condições do processo, optou-
se por manter a tensão de cisalhamento constante na ampliação de escala. Neste sentido, quais as
dimensões, rotação e potência do reator em escala industrial?
Dados
ρ = 1200 kg.m-3 μ = 6,4 cP

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