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V - PENEIRAMENTO

O peneiramento é uma operação mecânica que trata da separação de materiais sólidos


granulados. No processamento de alimentos sólidos é freqüente a necessidade de se separar
materiais com respeito ao seu tamanho. As técnicas de separação são baseadas nas diferenças
físicas entre as partículas como tamanho, forma ou densidade. Em muitos processos os pós
obtidos, raramente possuem um único tamanho, que estão distribuídos em torno de um tamanho
médio.
O peneiramento é um método de separação de partículas que leva em consideração
apenas o tamanho. No peneiramento industrial, os sólidos são colocados sobre uma superfície
com um determinado tamanho de abertura. As partículas menores, ou finas, passam através das
aberturas da peneira; as partículas maiores não.

Uma peneira: separa apenas duas frações que são ditas não classificadas, pois apenas
uma das medidas extremas de cada fração é conhecida: a da maior partícula da fração
fina e a menor da fração grossa.

Duas ou mais peneiras: Frações classificadas, sendo que a operação passa a se chamar
Classificação Granulométrica.

Objetivos do peneiramento:
- Dividir o sólido granular em frações homogêneas.
- Obter frações com partículas de mesmo tamanho.
- Para a operação com uma peneira, o objetivo é apenas separar a alimentação em finos e
grossos.

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5.1 - A Operação de Peneiramento

Em uma operação ideal, a maior partícula fina é menor que a menor partícula dos
grossos, ou seja, não há mistura entre as frações separadas.

Diâmetro de Corte: Limita o tamanho máximo das partículas da fração fina e o mínimo da
fração grossa. As duas frações obtidas nas operações são frações ideais,
representadas por Fi (finos) e Gi (grossos).

Geralmente, o diâmetro de corte é escolhido em função do fim visado na operação,


podendo, ou não, coincidir com a abertura de uma peneira padrão.
Se um material qualquer, cuja análise granulométrica acumulada de retidos (AGAR) é a
representada pela figura abaixo, for submetido a um peneiramento ideal numa peneira de
abertura de malha Dc, o ponto C da curva será o ponto de corte.
A separação dá origem a uma fração Fi que encerra todas as partículas mais finas que Dc
existentes no material alimentado e uma fração Gi que encerra todas as partículas maiores que
Dc.

ϕ
1,0
Fi = Fração de finos, com
diâmetro menor que Dc
C = Ponto de corte Gi = Fração de grossos, com
Fi partículas maiores que Dc

Gi
DC D

As análises granulométricas acumuladas de retidos das frações Fi e Gi ideais são:

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ϕ
1,0

Finos
Grossos
Fi Gi

DC D

As operações reais de peneiramento não permitem realizar separações assim tão nítidas.
Neste caso, algumas partículas maiores que Dc passam pela peneira e se incorporam aos finos,
enquanto outras tantas partículas menores do que Dc ficam retidas nos grossos.
As frações reais obtidas são agora representadas por F e G e suas análises
granulométricas acumuladas têm o seguinte aspecto:

ϕ
1,0 Grossos
ϕG G
Alimentação

ϕA A

Finos
ϕF F

DC D

ϕA, ϕF, ϕG representam as frações acumuladas de grossos Dc em cada um dos materiais


A, F e G.

ϕA: Fração acumulada de grossos Dc na alimentação, que é a fração da massa total de A


constituída de partículas maiores que Dc.

ϕF: Fração acumulada de grossos (>Dc) nos finos F, isto é, a fração da massa total de F que é
constituída de partículas maiores que Dc.

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ϕG: Fração acumulada de grossos (>Dc) no produto grosseiro G.

⇒ Se o peneiramento fosse ideal : ϕF = 0 e ϕG = 1.0

A eficiência do peneiramento resulta da comparação entre as operações real e ideal.


Depende de ϕA, ϕF e ϕG.

- Razões que explicam a retenção de partículas finas nos grossos no peneiramento:


- Aderência do pó às partículas grandes.
- Aglomeração de várias partículas pequenas: Coesão.
- Várias partículas finas na malha: Fluxo elevado.
- Malhas irregulares.
- Mecanismo da operação:
- Partículas em movimento paralelo a abertura das malhas: Alta velocidade.

- Razões que explicam a passagem dos grossos:


- Irregularidade das malhas.
- Partículas grossas com dimensão ≈ Dc.
- Carga excessiva de sólido, forçando a abertura das malhas.

5.2 - Cálculos Relativos ao Peneiramento

Os problemas de engenharia envolvem:


a) Cálculo das quantidades das frações produzidas.
b) Cálculo da eficiência do peneiramento.
c) Dimensões das peneiras.

A solução destes problemas interessa, tanto ao projeto, como à operação.

5.2.1 - Quantidade das Frações Produzidas

Como ϕA, ϕF, ϕG representam as frações em massa de grossos Dc em A, F e G


respectivamente, um balanço material de grossos poderá ser escrito, para regime permantente:

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Aϕ A = Fϕ F + Gϕ G
A
G

ϕA = Fração de grossos (>Dc) em A.


ϕF = Fração de grossos (>Dc) em F.
ϕG = Fração de grossos (>Dc) em G.

Combinando com o balanço material total:

A= F +G
temos:
F ϕ A − ϕG
=
A ϕ F − ϕG
e
G ϕF − ϕ A
=
A ϕ F − ϕG

Por análise do gráfico abaixo, observa-se que (ϕF - ϕG e ϕG - ϕF) é o segmento total FG ,

(ϕA - ϕG) é o segmento AG e (ϕA - ϕF) é o segmento AF .

ϕ
1,0 Grossos
ϕG G
Alimentação

ϕA A

Finos
ϕF F

DC D

Portanto as relações anteriores podem ser escritas também como segue:


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F AG G AF F AG
= ou = ou =
A FG A FG G AF

5.2.2 - Eficiência do Peneiramento


A fração de grossos, com diâmetro superior a Dc, alimentados à peneira e que chegam
finalmente ao produto grosseiro G é uma medida da eficiência de recuperação de grossos (EG)

Grossos na
Alimentação = A.ϕA

Grossos = G.ϕG

Grossos nos
Finos = F.ϕ F

G.ϕ G
EG =
A.ϕ A

Por outro lado, a quantidade de finos na alimentação é A(1-ϕA) e a quantidade que


finalmente chega à fração fina é F(1-ϕF), assim pode-se determinar EF, que é a eficiência na
recuperação de finos:

F.(1 - ϕ F )
EF =
A.(1 − ϕ A )

5.2.3 – Eficiência Global do Peneiramento (E):


O produto da eficiência de recuperação de grossos pela eficiência na recuperação de
finos fornece a eficiência global do peneiramento:

E = EG ⋅ E F
Portanto:
F.G ϕ G .(1 − ϕ F )
E= .
A 2 ϕ A .(1 − ϕ A )
ou

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(ϕ A − ϕ G ).(ϕ F − ϕ A ).ϕ G .(1 − ϕ F )
E=
ϕ A .(1 − ϕ A ).(ϕ F − ϕ G ) 2

As eficiências servem para medir o sucesso da operação na separação de grossos e finos.


Se a operação fosse perfeita, ou seja, ideal, todo o material grosso estaria em G e todo o material
fino estaria em F, resultando:

ϕG = 1 ϕF = 0
G = A. ϕA F = A.(1-ϕA)

Portanto EG = 1; EF = 1; E = 1.

5.2.4 - Dimensionamento de uma Peneira


O cálculo da área necessária para realizar um peneiramento é feito com base em dados
experimentais de capacidade, obtidos em catálogos de fabricantes. Estes fornecem valores de
capacidade específica C, em toneladas por 24 horas de operação, por m2 e por mm de abertura
das malhas da peneira.
Se a alimentação da peneira for A ton.h-1 de operação e ela operar continuamente 24
horas por dia, então a superfície de peneiramento (m2) poderá ser calculada diretamente pela
expressão:
24.A
S = , onde S é a área superficial da peneira.
C.DC

 ton 
C = Capacidade específica  ;
 24h ⋅ m ⋅ mm 
2

A = Alimentação da peneira (ton.h-1).

Se o período de funcionamento da peneira for θ h em 24 horas diárias e a capacidade


desejada for A ton.h-1 somente durante o tempo de operação, então a alimentação diária será
( θ ⋅ A ) e a superfície específica necessária será:

θ⋅A
S=
C ⋅ DC

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Muito comumente, no entanto, a peneira deve ser instalada numa unidade de fabricação
que opera 24 horas por dia, sendo-lhe especificada uma alimentação nominal de A ton.h-1, como
se ela também funcionasse continuamente, muito embora o seu período real de funcionamento
seja de apenas θ horas por dia. Neste caso a superfície deverá ser maior para compensar as horas
de inatividade, podendo ser calculada como segue:

- Capacidade nominal especificada = A (ton.h-1)


- Capacidade diária desejada = 24.A (ton)
24 ⋅ A
- Capacidade real necessária = (ton.h-1)
θ
C ⋅ DC  ton 
- Capacidade específica horária =  2 
24 h⋅m 
- Superfície da peneira:
24.A
S = θ =
24.A
.
24
C.Dc θ C.Dc
24
Portanto:
576 ⋅ A
S =
θ ⋅ C ⋅ DC

Exemplo 01 - Uma mistura de sólidos é separada por peneiramento numa peneira de 10 mesh
Tyler. Calcular a relação F/A, G/A e as eficiências de recuperação de grossos (EG), recuperação
de finos (EF) e global do peneiramento (E).

Fração Acumulada (%)


Malhas Tyler Dp (mm) Alimentação Grossos Finos
4 4,699 - - 0
6 3,327 2,5 7,1 0
8 2,362 15 43 0
10 1,651 47 85 19,5
65 0,208 98 100 97,5
Fundo 0 100 100 100

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Exemplo 02 - Uma peneira com 10 malhas por polegada, feita com fios de 0,04 polegadas de
diâmetro, foi utilizada para separar sólidos em grossos e finos, resultando na análise abaixo.
Calcular a relação entre grossos e alimentação e finos e alimentação. Calcular as eficiências da
peneira.

Fração Acumulada (ϕ)


Malhas Tyler D (cm) Alim. ∆ϕ Alimentação Grossos Finos
4/6 0,3327 0,025 0,025 0,07 ---
6/8 0,2362 0,125 0,150 0,42 ---
8/10 0,1651 0,327 0,471 0,80 0,19
10/14 0,1168 0,257 0,725 0,95 0,56
14/20 0,0833 0,159 0,887 0,98 0,80
20/28 0,0589 0,054 0,941 1,00 0,90
28/35 0,0417 0,021 0,968 0,93
35/48 0,0295 0,010 0,971 0,96
48/65 0,0208 0,008 0,980 1,00
65/100 0,0147 0,006 0,986
100/150 0,0104 0,004 0,996
150/200 0,0074 0,003 0,993
-200 0,007 1,000

5.3 - Equipamentos para Peneiramento

Industrialmente são utilizadas peneiras com abertura entre 20 cm a 50 µm (400 Mesh).


Caso as partículas sejam menores que 50 µm a operação unitária utilizada será: ciclone ou
câmara de poeira.
As peneiras industriais são construídas com barras metálicas (ferro, latão, cobre) lâminas
e cilindros perfurados ou com telas e tecidos, com fios de diferentes materiais (arame, seda e
plástico). As peneiras utilizadas para separar alimentos devem ser confeccionadas com aço inox
(série 300S), metal Monel ou tela de nylon.
A área das peneiras depende:
- Vazão de sólidos;
- Tipo de operação;

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- Tipo de peneira.

5.3.1 - Peneiras estacionárias:


- São mais simples, mais robustas e econômicas.
- Dispostas horizontalmente ou inclinadas entre 20 e 50º
- Uso restrito para material grosseiro (Na maioria dos casos maiores que 5 cm.
- Operação descontínua.
- Entopem com facilidade.

Ex : Telas inclinadas

5.3.2 - Peneiras rotativas:


- Tipo mais comum: tambor rotativo.
- Inclinação variando de 5 a 10o.
- Comprimento: 4 a 10 m.
- Rotação típica: 15 rpm

5.3.3 - Peneiras Agitadas


- Agitação provoca a movimentação das partículas sobre a superfície de peneiramento.
- Eficiência é relativamente alta para materiais maiores que 1 cm, mas é baixa para finos.
- Inclinação: 16 a 30º.
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- Rotação do eixo: 600 a 1800 rpm.

5.3.4 - Peneiras vibratórias:


- Alta capacidade e eficiência, principalmente para materiais finos.

- Estrutura vibrada: a estrutura é submetida a vibração mecânica por meio de excêntricos ou


eixos desbalanceados, ou vibração eletromagnética com solenóides. A maior diferença entre as
peneiras agitadas e as vibratórias está na freqüência (neste caso, 1200 a 7200 ciclos/minuto) e na
menor amplitude de vibração (1,5 a 10mm). São ligeiramente inclinadas (5 100 para operação a
úmido e 200 para operação a seco). As malhas utilizadas na indústria química variam de 2,5 cm a
35 mesh, para peneiramento a seco, indo até bem abaixo de 100 mesh para peneiramento a
úmido, chegando a até 225 mesh para alguns casos.

- Tela vibrada: elas possuem eletroímans que atuam diretamente sobre a tela. A freqüência é
bastante alta (1800 a 7200 vibrações por minuto) e a amplitude é bem pequena. Fazem o
peneiramento de finos (80 a 100 mesh), não sendo recomendadas para trabalho pesado.
Apresentam como desvantagem um desgaste excessivo da tela e ruído (pode ser atenuado
utilizando telas emborrachadas ou feitas totalmente de borracha).

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