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HISTÓRIA DA CULTURA GREGA

Painel histórico da Grécia Antiga:


Ocupação da península grega: por volta de 2.200 a.C.
Populações que desenvolvem a Civilização Micênica (da idade do Bronze)
entre 1400-1200 a.C.: famílias principescas reinando sobre pequenas comunidades.
Cultura voltada para o mar.
Centros principais; no Peloponeso, em Micenas, Argos e Pilos.
Escrita silábica (Linear B, revelando que, pelo menos nos palácios, já se
falava o grego).
Por volta de 1200 a.C.: final abrupto - destruição dos palácios fortificados -
invasão dos Dórios vindos do Norte.
400 anos de trevas - desaparece a escrita, tribos e grupos pequenos deslocam-
se em direção da Ásia Menor. (Só não há decadência e declínio porque aparece o
ferro e o mundo grego renasce completamente diferente do anterior)
Tempos micênicos: aqueus, depois “helenos” (consciência de identidade cultural.
Embora houvesse grande diversidade, a “hélade” é uma abstração). Posteriormente,
Atenienses, ou Espartanos, etc., embora helenos.
Gregos: de graeci, um nome que os romanos lhes davam. Bárbaros: bar-bar-bar.
Nesse período, chamado “arcaico”, após 400 anos, a escrita reaparece (por
volta de 800 a.C.) a partir de um antigo alfabeto adaptado (não mais silábico, como
o linear B, mas fonético). Livros em rolos de papiro, mas raros. Predileção pela
palavra. Leituras públicas nas stóa.
Nascem as 1as. manifestações literárias da Grécia: as epopéias homéricas
(fusão de lendas eólias e jônicas).
Escritas a partir da tradição de poesia oral, cantada pelos aedos, que as iam
enriquecendo, narram a derrocada do mundo micênico).
Ilíada, Odisséia: por volta de 750 a.C. (passagens provenientes de épocas
diversas, dificultando a crença na existência de Homero). Séculos de poesia oral
recitada por bardos profissionais.
Segundo Finley: maior contribuição de Homero e Hesíodo:
antropomorfismo dos deuses, revelando o surgimento de uma autoconsciência e
autoconfiança humana sem precedentes.
Poemas homéricos: recusa das cerimônias orgiásticas dionisíacas, que
permanecem largamente difundidas até o fim da civilização grega.
Conciliavam imagem do passado com características do presente. Ex:
Armas de ferro nos poemas, casas e não, palácios, etc. Poder real: pela força, leis
da convenção e do costume Ex: pretendentes que usufruem dos bens de Ulisses.
Eupátridas: aristocracia militar, com posse de terras e detentores do poder.
Direito grego, oral, nas mãos dos eupátridas. Baseado na thémis (deusa da
justiça), ou seja, a justiça divina, cujo depositário é o rei eupátrida, que decide em
nome dos deuses.
Hesíodo: “reis comedores de presentes, que julgam em seu próprio
proveito...”
Início séc. VII enfraquecem pelos seguintes fatores:
- Criação do sistema monetário (pesos e medidas e uso de moedas trazidos
do Oriente). Desenvolvimento do comércio: ascende classe de mercadores e
artesãos, rivalizando com os possuidores de terras.
- Revolução hoplítica (nos vasos, a partir de 700): surgimento de soldados
de infantaria, pesadamente armados (com recursos próprios, portanto de camadas
altas ou médias), em falanges, e sustentados pela cidade para defendê-la, tirando
dos eupátridas o monopólio da defesa e fazendo reivindicações políticas.
Substituição da areté e da timé do herói homérico por novos valores.
Camponeses: endividados, ameaçados pela hipoteca somática (do próprio
corpo).
Surgem os tyrannos: “soberano, rei”, palavra não grega, da Ásia Menor,
inicialmente não pejorativa. Líder, em geral, da aristocracia, que se une à classe
média e ao povo para defendê-los contra os nobres.
Séculos VII e VI na Grécia: dominados por tiranos. Em Atenas, Corinto,
Siracusa e Samos desenvolvem a agricultura, construções urbanas, incentivam
concursos, formação musical e atlética. Em várias cidades, por não conhecer
limites a seu poder, estes reis se tornam de fato “tiranos”.
Sólon (escolhido após conflitos Aristocracia X Camponeses): proibição da
hipoteca somática, abolição das dívidas, revisão da Constituição ateniense.
Reformas que preparam o advento da democracia, ao conceder o direito de voto na
Assembléia (ekklesía) aos Tetes, cidadãos de baixa renda, mas ainda uma
timocracia (hierarquização do direito segundo a riqueza). Sólon: busca substituir a
têmis pela díke, “justiça dos homens”, baseada em leis escritas.
As reformas de Sólon, contudo, desagradam a todos: aos eupátridas, porque
perderam seus privilégios e ao povo, que preferia modificações mais radicais, pois
a justiça ainda estava nas mãos de magistrados e conselhos aristocráticos.
Psístrato reina mantendo as leis de Sólon e ampliando-as por dezenove anos
(juízes itinerantes, sistema de empréstimo a agricultores, obras em Atenas), é
substituído pelos filhos Hiparco e Hípias, derrubados em 510 aC, quando começa a
democracia, com Clístenes, aristocrata que fez alianças com o povo para controlar
as lutas pelo poder após a deposição de Hípias.

Eleição se torna por sorteio, anual, todo cidadão é, potencialmente, administrador.


Assembléia é soberana, se reunia na Pnix, assuntos preparados pela boulé: o
conselho dos 500. A democracia consolida-se e vive bem-estar na época do
Império ateniense, sobretudo no longo governo de Péricles, o mais famoso arconte
ateniense).

Hesíodo (final do século VIII, princípio do VII) Teogonia: theós+


gígnesthai, nascer. Nascimento ou origem dos deuses. Poema de cunho ditático,
que procura estabelecer a genealogia dos imortais. Antes da teogonia, Hesíodo
coloca a cosmogonia, origem do mundo.

Marco Fábio Quintiliano (escritor latino 35-110 a.C): “raramente se nota em


Hesíodo inspiração poética, sua obra é uma catalogação de nomes”.

Crítica injusta. Hesíodo enfeixou e ordenou em genealogias, a desordem


caótica em que vegetavam os velhos mitologemas tradicionais.
Fixa as gerações divinas e os mitos cosmogônicos, organizando o cosmo em
três níveis: celeste, ctônico e telúrico.

Para Hesíodo, o poietés, não é só um criador, um “fazedor”, mas antes um


legislador em nome das musas, as detentoras de todas as artes.

Assim, o poietés é um mantis, um advinho. Em latim uates, poeta, tem o


sentido primeiro de profeta, adivinho, de onde vem uaticinium, vaticínio, previsão.

Se o poeta é “fingidor” sabe também dizer a verdade, como ele afirma:

Pastores que habitais os campos (...)

sabemos relatar ficções muito semelhantes à realidade,

mas, quando o queremos, sabemos também proclamar verdades. (Teog., 26-


27)

Séc. VIII a.C: domínio dos eupátridas, que manipulavam a justiça. Hesíodo
busca a díke “a justiça dos homens”. Moîra não mais do acaso, mas da vontade de
Zeus.

Projetando o social pelo divino, faz o deslocamento do Kháos para Zeus, isto
é, das trevas para a luz.

Tese de Bachofen: substituição do teratomorfismo pelo antropomorfismo:


as trevas suplantadas pela luz, os deuses ctônios pelos olímpios, a matrilinhagem
pela patrilinhagem.

Zeus: não criador, mas conquistador e ordenador.

Hierogamias: deus “antropoformizado”, depois de estabelecer, pela


conquista, a justiça e a paz, torna-se a síntese das qualidades divinas e humanas de
um governante todo-poderoso, mas justo e civilizado.

Distinguem-se três gerações divinas: Urano, Crono, Zeus. Vitória de uma


religião mais plástica e bela, sobre a anterior, de potências ctônias.
Lesky: caminho ascendente para a ordem estabelecida por Zeus, triunfo da
justiça.

(Invenção da escrita e da moeda e, depois:) Advento da Pólis (cidade-estado


grega): entre os séculos VIII e VII a.C. Para Vernant é uma verdadeira invenção,
cuja originalidade será plenamente sentida pelos gregos.
Centralizada na ágora (praça pública) onde se debatem os problemas de
interesse comum.
Separam-se o domínio público e o privado: os direitos e deveres do cidadão
se sobrepõem aos privilégios de nascimento.
Novo ideal de justiça de caráter político: o homem se liberta dos desígnios
divinos para tecer seu próprio destino na praça pública. Autonomia da palavra:
não mais a palavra revelada dos mitos, mas a humana, do conflito, da discussão, da
argumentação. Isonomia: igualdade de direitos políticos - demokratia.
Finley: Contradição grega: até que ponto a comunidade pode alterar suas próprias
leis sem cair na anarquia? Sentido de comunidade: esbarra na desigualdade entre
os membros. Aristóteles: os homens viram-se para a stásis (revolta) por desejo de
igualdade.
Vernant: “A filosofia é filha da cidade”.
Os primeiros filósofos viveram por volta do século VI a.C. e, mais tarde, foram
classificados como pré-socráticos (a divisão da filosofia grega se centraliza na
figura de Sócrates) e agrupados em diversas “escolas”. Seus escritos
desapareceram com o tempo e só nos restam alguns fragmentos ou referências
feitas por filósofos posteriores.
Separação do homem da physis: não mais cosmogonia, mas cosmologia.
Como é possível do Caos emergir um Cosmos? Qual é o princípio, a arché
de todas as coisas?
Passagem do mito à razão: continuidade nas estruturas de explicação e
ruptura quanto à atitude das pessoas diante do pensamento.
O mito não se questiona, enquanto a filosofia problematiza, convida à
discussão.
Filosofia e Ciência: uma coisa só em seu início, só no séc. XVII as ciências
se separam, embora sua teoria permaneça no domínio da filosofia.
Aparecimento da filosofia: resultado de uma mutação mental vinculada a
outras transformações: a escrita, a lei, a moeda, o cidadão, a pólis, as instituições
políticas, a tragédia.
A TRAGÉDIA GREGA

Origens da tragédia: obscuras.


Provavelmente: poesia lírica aliada a rituais do culto de Dioniso (o deus
mais popular, ignorado por Homero, do vinho, do êxtase, dos ritos orgíacos)
Canto coral + dança, dançarinos com máscara (sátiros, associados a Dioniso,
dramas satíricos)
Teatro: uma invenção grega, de consequências e impacto que sobrevivem
até hoje.
Tragédias; associadas às Grandes Dionisíacas (no princípio da primavera), a
mais magnificente das 4 festas anuais em honra à Dioniso que se celebravam em
Atenas. A festa só era excedida em majestade às grandes Panatenéias, que se
realizavam de quatro em quatro anos em honra de Atenas, a padroeira da cidade.
1º dia: colorida procissão cerimonial, terminando com o sacrifício de um
touro e a deposição da estátua formal do Deus no teatro. Depois, um concurso de
odes ditirâmbicas implicando dez coros, cinco de homens e cinco de rapazes, com
50 membros, acompanhados por flautas.
2º dia: representavam-se cinco comédias.
Depois, durante três dias, seguia-se o concurso de tragédias, ao longo de três
dias, destinados aos dramaturgos rivais que, para a ocasião, escreviam três
tragédias, que podiam ser ou não interligadas para formar uma trilogia,
acompanhadas de um drama satírico, uma peça "grotesca".
O grau desse esforço, em sua totalidade, era espantoso.
Número de participantes ativos: nunca menos de mil homens e rapazes, que
dedicavam imenso tempo a ensaios prévios.
Espectadores: cerca de 14 mil pessoas, em filas ascendentes, ao ar livre,
homens, mulheres, crianças e até escravos. Os lugares de honra eram disputados
tanto pelos atenienses quanto pelos estrangeiros ilustres.
Centro: a orquestra, um recinto circular e aberto, onde os atores dançavam e,
atrás, o palco, com um simples pano de fundo e cenários rudimentares.
A mais alta entidade da cidade, o arconte epônimo, anualmente eleito,
presidia o processo e, entre as suas obrigações, estava a seleção dos dramaturgos
que iriam competir.
Os custos de produção eram cobertos, em parte, pelo tesouro do Estado e, em
parte, por contribuições de pessoas abastadas.
A competição era decidida por um grupo de cinco juízes, escolhidos muitas
vezes até pela sorte.
Ésquilo, Sófocles e Eurípedes foram, nessa sequência, os dramaturgos mais
famosos do século V. Os três, em conjunto, escreveram cerca de 300 peças, das
quais só sobrevivem apenas trinta e três.
Não possuímos sequer uma peça dos outros 150 escritores de tragédias cujos
nomes são conhecidos, alguns deles gozando, outrora, de fama considerável.
As condições do Festival impunham limites definidos aos artistas, na
utilização dos coros e dos atores, na escolha dos temas e, até mesmo, na estrutura
das peças, na linguagem poética e na métrica.
No início, havia apenas um ator e o coro. Ésquilo introduziu o segundo,
provavelmente, o passo decisivo para a criação da tragédia.
Sófocles acrescentou um terceiro, terminando aí a evolução.
O papel do coro foi gradualmente minimizado até terminar, em Eurípedes,
em pouco mais de um interlúdio musical.
Eurípedes ficou a um passo da revolução do gênero, ao popularizar os temas
e a linguagem da tragédia, trabalhando novos problemas, como a ênfase socrática
sobre a razão, a humanidade dos escravos, a alma da mulher, as responsabilidades e
a corrupção do poder.
A Atenas do século V foi o que propiciou o florescimento do gênero, mas é
inútil procurar uma relação automática entre a política e a tragédia.
Quando os dramaturgos abordavam a política, projetavam suas implicações
morais, não a sua prática. Contudo, a relação é clara, quando se pensa no jogo de
opiniões contraditórias onde a tragédia se originava e que ela ajudava a incentivar e
na tolerância com que eram vistos os dramaturgos que exploravam a alma humana
até os seus limites, inclusive, introduzindo em peças personagens típicas da cidade,
como Aristófanes inclui Sófocles, em As Nuvens.
Após a Guerra do Peloponeso, a tragédia se torna arte secundária, vivendo
mais da criação dos velhos mestres do que de uma vitalidade renovada.

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