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3.3.1 Piloto 01
A Rua João Fernandes Vieira tem uma ambiência muito particular, apesar de ser
um ambiente de trabalho, com escritórios, repartições, entre outras coisas. A sombra das
árvores e atmosfera contribuem para uma sensação de relaxamento (MONTE, 2015).
38
Para relato completo ver Apêndice A.
95
3.3.2 Piloto 02
39
Para relato completo ver Apêndice B.
98
Figuras 40 e 41. Rodrigo e Matheus no casario; Assistência de máquinas de costura. Fotos: Luiz do Monte e Matheus Mota.
3.3.3 Piloto 03
40
Vídeos e outros registros dos pilotos e experimentos disponíveis no blog: cargocollective.com/recifedeandada
102
Figuras 46 e 47. Frames dos vídeos do percurso das sombras e das pedras. Arquivo do autor.
Figuras 48 e 49. Ruínas do Recife antigo Fotos: Luiz Monte e João Pessoa.
103
3.3.4 Piloto 04
o Ed. Cristina Tavares na Rua da Guia, onde hoje funciona um edifício de escritórios
e um antigo armazém na Rua do Apolo onde atualmente existe um estacionamento.
O outro aspecto interessante do trajeto, foi a influência dos sons como
elementos de desvio do percurso. Em vários momentos da deriva a dupla foi capturada
por elementos sonoros do cotidiano da cidade. O primeiro elemento sonoro foram as
palmas em um edifício da Rua da Guia onde acontecia algum tipo de terapia corporal
coletiva. Esse desvio de rota fez, inclusive, com que a dupla entrasse no edifício e
conversasse com o recepcionista, inteirando-se dos serviços oferecidos no lugar.
Outro elemento sonoro que influenciou no andamento da dupla foi a passagem
de um protesto de funcionários do transporte público enquanto os pesquisadores
cruzavam a Av. Martins de Barros. Ao escutar as palavras de ordem dos manifestantes
com megafones a dupla refreou seu rumo e tomou o sentido da avenida,
acompanhando e filmando41 parte da realização do protesto. Uma constatação dos
pesquisadores em relação ao protesto foi a mudança efêmera na ambiência da rua. A
existência de um acontecimento de força maior numa cidade, como um protesto ou
parada, tem a capacidade de alterar de forma momentânea as relações estéticas e
sociais de uma ambiência. As mudanças das conversas entre os cidadãos, a alteração
de visão em perspectiva dos elementos do ambiente, por conta de possibilidade de se
andar pelo asfalto, entre outros aspectos, confere um caráter alterador de ambiências
a esses acontecimentos facilitando, inclusive, o surgimento de elementos lúdicos.
Figura 51. Frame de vídeo de gravação do protesto na Av. Martins de Barros. Arquivo do autor.
41
Vídeos e outros registros dos pilotos e experimentos disponíveis no blog: cargocollective.com/recifedeandada
105
Figuras 53, 54, 55 e 56. Imagens da ambiência dos arredores do Mercado de São José. Fotos do autor.
42
Vídeos da ruína e outros registros dos pilotos e experimentos disponíveis no blog: cargocollective.com/recifedeandada
108
3.3.5 Piloto 05
Figuras 59, 60, 61 e 62. Registro dos edifícios resultados do “olhar para cima”. Fotos do autor.
110
Figuras 63 e 64. Registros das ambiências da Rua Direita e da praça do Pirulito. Fotos do autor.
111
A pesquisa-piloto de número cinco foi encerrada por volta das seis da noite,
tendo durado aproximadamente quatro horas. Ela se consolidou como mais uma
pesquisa de tendência a uma grande quantidade registros fotográficos, não apenas
por influência dos aplicativos de smartphone, mas também pela atenção concentrada
em elementos visuais, como a visão do alto dos edifícios e o reconhecimento de
ambiências por seus elementos palpáveis. Além disso, a pesquisa foi importante pela
introdução do uso do aplicativo Snapchat, que facilita o registro afetivo por meio de
fotos, e ainda, pela recorrência do uso do Map my Walk para anotação do percurso.
3.3.6 Piloto 06
Para esta pesquisa-piloto foi composto mais uma vez um trio de participantes:
o autor da pesquisa e os pesquisadores-participantes Augusto Ferrer e Bruno Cardim.
O horário de início da deriva, previsto pelo grupo, foi o horário da manhã com saída
por volta das nove horas, em função da opinião dos mesmos de que neste horário a
cidade demonstra de forma mais intensa a sua vitalidade. A maior disponibilidade de
horário dos pesquisadores-participantes dessa pesquisa em relação aos membros
das outras contribuiu para a extensão do tempo de percurso, o que, por sua vez,
colaborou para uma deriva ainda mais completa.
A deriva teve início em frente ao Shopping Boa Vista, após os participantes
avaliarem o local como um dos principais pontos de encontro da cidade, dada sua
característica de centralidade em relação a todo território do sítio de aplicação das
pesquisas, e ainda, pela sua proximidade com o conceito de plaque tournante
psicogeográfica, igualmente avaliado pelo trio. O trajeto seguiu por entre as ruas de
trás do edifício comercial, situadas mais ao sul do bairro.
O fator que caracterizou o diagnóstico de uma unidade de ambiência nessa
área foi o lodo, a pátina, e a vegetação incrustada em paredes, elementos peculiares
do envelhecimento de alguns edifícios. A ambiência gerada por esses elementos
agregados aos edifícios antigos foi reconhecida na Rua da Soledade, na Rua Manoel
Borba e na Rua Rosário da Boa Vista, e foi classificada pelo grupo como uma
ambiência em estado de descuido, porém de atmosfera atraente ao exercício de
deriva.
113
Ainda no bairro da Boa Vista, o grupo caminhou até um ponto mais ao sul, em
direção ao rio e identificou outra unidade de ambiência, dessa vez conformada por um
pátio sombreado e ventilado, delimitado pelos edifícios e algumas barracas de lanche
da Rua Bulhões Marquês. Mais à frente na deriva, uma terceira ambiência foi
reconhecida pelo trio. A atmosfera bucólica, própria do pátio da Faculdade de Direito
do Recife, aliada à sua fácil e instintiva ligação com o parque de Treze de Maio, de
ambiência semelhante, conformou tal classificação. Os participantes caminharam por
ambos os “parques” e classificaram-nos como espaços de unidade de atmosfera
campestre, mesmo estando inseridos numa malha urbana.
Além dessas ambiências no bairro da Boa Vista, outra região, dessa vez no
bairro de Santo Antônio, foi classificada como uma unidade relacionada com as
ambiências anteriores. A Praça Dezessete, igualmente conhecida como a “Praça dos
Pombos Rosas”, também foi qualificada pelo grupo como dona de uma ambiência
amena em relação ao seu entorno movimentado. A inter-relação entre estas e outras
ambiências foi exercitada pelo grupo em um mapa de unidades de ambiências,
baseado nos preceitos situacionistas do recorte cartográfico de lotes e ruas, do
encurtamento de suas distâncias pela indicação de setas vermelhas e da inclusão de
alguns registros fotográficos.
114
Figura 69. Mapa de unidades de ambiência. Autores: Augusto Ferrer, Bruno Cardim e Luiz Monte.
Figura 70. Mapa de percurso da pesquisa-piloto 06. Autores: Augusto Ferrer, Bruno Cardim e Luiz Monte.
115
Figuras 71 e 72. Beco da Igreja do Divino Espírito Santo e antigo depósito da Singer. Fotos do autor.
nesse período. “(...) convém lembrar que as horas da madrugada são em geral
impróprias à deriva” (DEBORD, 1957).
Pelo fato da maioria das pesquisas-piloto terem sido realizadas no período
diurno, abre-se, portanto, a possibilidade para que os experimentos possam adentrar
o início da noite, e talvez, durar por mais de um dia. “(...) certas derivas de intensidade
suficiente prolongaram-se por dois ou três dias, e até mais” (DEBORD, 1957).
Entretanto, ressalta-se o fato de que a maioria dos participantes das pesquisas-piloto
considera o período diurno como o mais propício às caminhadas.
Outro fato relevante para o planejamento de derivas é a questão do jogo
enquanto elemento de distração e contribuição para o aspecto lúdico de uma
caminhada psicogeográfica. O jogo, ilustrado em algumas situações das pesquisas-
piloto funcionou como um elemento de contraposição à vida corriqueira, ou seja, como
um artifício que auxilia o objetivo da deriva de projetar um olhar e uma condição
diferentes da vivência ordinária das cidades. Nesse sentido, o recurso do jogo foi
estabelecido como um potencial e importante instrumento para os experimentos.
Os aplicativos são mais um recurso que também se tornaram importantes a
partir das pesquisas-piloto. Contudo, além da evidente contribuição do Map my Walk,
do Instagram e do Snapchat para o registro das derivas, é interessante pensar na
utilização desviante das características desse aplicativos.
Por exemplo, o Map my Walk, aplicativo criado com o intuito de informar
trajetos, perda de calorias e distâncias para os corredores teve sua função alterada
para o mapeamento de derivas experimentais. O Instagram, cuja função prioritária é
o compartilhamento instantâneo de imagens entre usuários da plataforma, sofreu uma
perversão dessa serventia e foi utilizado nas derivas como instrumento de
mapeamento afetivo. E ainda, o Snapchat, aplicativo inventado para o envio de vídeos
e fotos que não geram registro, foi utilizado como um instrumento de realização
fotografias que traduziam sensações de ambiências. Essas pequenas corrupções dos
aplicativos podem ser relacionadas com o conceito de détournement situacionista, e
contribuem ainda mais para o entendimento da deriva enquanto um modo de
comportamento anti-espetacular.
Por fim, faz-se necessário a ponderação sobre os percursos e uma reavaliação
do campo experimental das derivas. Muito embora o Recife Antigo, o bairro de Santo
Amaro e outros bairros circunvizinhos possuam suas especificidades e ambiências,
118
4 EXPERIMENTAÇÃO E ANÁLISE
120
A primeira parte deste capítulo visa explicitar sobre quais condições e segundo
quais procedimentos os experimentos serão praticados e analisados. Em segundo
lugar, o capítulo visa relatar a aplicação dos experimentos, especificando suas
particularidades de prática e registro. E, por fim, traçar uma análise dessa aplicação,
organizando as reflexões e conclusões com vistas ao objetivo geral da pesquisa de
avaliar os métodos situacionistas de apreensão urbana.
A nova área de pesquisa constitui-se, desta forma, pelo bairro da Boa Vista,
limitado a leste pela Av. Agamenon Magalhães, a norte pela Av. Mario Melo e ao sul
pelas ruas Padre Venâncio e Estado de Israel, assim como todo o bairro de Santo
Antônio e parte do bairro de São José até aproximadamente o Forte das Cinco Pontas,
como ilustrado anteriormente no mapa.
Não necessariamente classificado como parâmetro para aplicação dos
experimentos, mas como recurso grande importância para a experiência de deriva
está a inserção do jogo enquanto elemento de potencialização do caráter lúdico da
deriva, como no caso do “olhar para cima” e do passeio pela sombra, apresentados
nas pesquisas-piloto.
Por fim, é de interesse da pesquisa que a reunião desses parâmetros aplicados
aos exercícios de deriva resulte em registros de caráter diagramático e cartográfico,
os quais serão avaliados, assim como os procedimentos, de forma qualitativa. Essas
especificações visam consolidar os aspectos descritos nas ponderações teóricas e
metodológicas de forma a orientar os experimentos a serem realizados.
123
4.2 Experimentos
O trio, como uma maneira de caracterização formal, decidiu nomear tais espaços de
ambiências nostálgicas.
Ao tratar da dimensão imaterial da pátina, Zancheti e outros autores (2008, p.
9) se baseiam em Bourdieu (1989) e De Certau (1994) ao afirmarem que esta
percepção está vinculada as práticas sociais e aos princípios historicamente
construídos das cidades, concluindo que:
Figuras 74 e 75. O beco lateral à URB/Recife e um edifício envelhecido na Rua do Príncipe. Fotos do autor.
125
Figura 77. Ambiência da Rua Frei Miguelinho, perpendicular à Rua do Sossego. Foto do autor.
126
A deriva teve sua continuidade ainda pela região norte do bairro da Boa Vista.
Os elementos de atração e os comentários deixaram de contemplar a pátina e as
ambiências amenas e passaram a avaliar alguns edifícios e casas modernistas. As
casas conjugadas da Rua Bispo Cardoso Ayres, de aparências pré-modernas e o Ed.
Apollo XXI, cuja imponência remete, verdadeiramente, a um foguete espacial, se
configuram como elementos de destaque na ambiência limítrofe do bairro.
Após essa incursão pela parte norte do bairro, o trio desviou a trajetória no
sentido de retorno à Av. Conde da Boa Vista. Entretanto, antes de chegar na avenida
de fato, os pesquisadores descobriram, num dos boxes do térreo do Ed. Walfrido
Antunes, antigas máquinas de fliperama ainda em funcionamento. A parada para uma
rápida jogada, relembrando memórias afetivas de infância serviu como elemento
amplificador do conteúdo lúdico da deriva.
Figura 80. Uso dos fliperamas na galeria do Ed. Walfrido Antunes. Foto do autor.
127
Figuras 83 e 84. Edifício abandonado - antigo atelier de Abelardo da Hora e ruína na rua Velha. Fotos do autor.
Figuras 86 e 87. Casas na Rua Edmundo Bitencourt e na Rua Barão de São Borja. Fotos do autor.
Pela proximidade das cinco horas da tarde, após longo percurso pela parte sul
do bairro da Boa Vista, o trio decide por uma caminhada até o bairro de Santo Antônio,
com o propósito de se transferir de uma área de pouca movimentação de pessoas
para uma área de grande animação. Além isso, o trio também visava a passagem pela
ponte da Boa Vista para a contemplação do rio Capibaribe e da própria beleza da
ponte.
130
Figuras 88 e 89. Edifício visto da Rua Frei Caneca e Pátio de São Pedro. Fotos do autor.
A deriva continuou pela parte norte do bairro de Santo Antônio durante o início
da noite. A chegada da noite no centro do Recife coincide exatamente com o término
do horário comercial de trabalho, o que acaba por gerar uma mudança brusca no ritmo
das ambiências da cidade. O esvaziamento rápido de alguns espaços acaba por
ampliar a atmosfera bucólica desses lugares, como no caso da Av. Guararapes, que
durante todo período diurno abriga um enorme movimento de pedestres, e que a noite
43
Para apreciação do mapa de inter-relações de ambiências nostálgicas ver apêndice G.
131
se torna gradativamente mais vazia. Nesses espaços vazios a marca da pátina dos
edifícios modernos e calçadas se confunde com a sombra gerada pelas luzes
trazendo à tona novamente o sentimento de nostalgia atrelado ao de degradação e
angústia pelo abandono noturno desses espaços.
44
Film noir - expressão francesa referente ao subgênero de filme policial popular nos Estados Unidos, entre 1939 e 1950.
132
Figuras 91 e 92. Ed. Igarassu e Igreja Matriz de Santo Antônio, Av. Dantas Barreto. Fotos do autor.
45
Para apreciação do mapa de percurso do experimento 01 ver Apêndice C.
133
Figuras 95 e 96. Ligação entre as Ruas Sebastião Lins e Clube Náutico Capibaribe. Fotos do autor.
Muito próximo a esta ambiência, no fim da Rua Clube Náutico Capibaribe e por
trás do Ed. Novo Recife, está situada a Praça Machado de Assis. Apesar de não
funcionar propriamente como uma praça, e ter grande parte de seu terreno ocupado
por carros estacionado, a configuração espacial e atmosférica da Praça Machado de
Pela sua conformação reclusa, sombreada e arborizada a praça foi classificada pelo
trio como um elemento atrativo e possibilitador de um estado de interrupção da
realidade, ou seja, de suspensão momentânea do movimento urbano.
135
O transeunte que adentra a Praça Machado de Assis tem acesso, por duas
entradas, ao beco do Fotógrafo que perpassa o térreo de dois edifícios, o Ed. Novo
Recife e o Ed. Tabira. Dada a hipótese levantada em relação aos becos, o grupo
classificou o lugar como mais um espaço de potencial aceleração do processo de
deriva, tornando a passagem por esses becos um ato de rápida transição entre
diferentes atmosferas.
Além da hipótese dos becos, por sua configuração labiríntica e de corredor de
edifício, o ambiente do beco do Fotógrafo se mostrou um elemento de outras
possibilidades para a deriva. Na exploração do beco, o trio se deparou com a escada
principal do Ed. Novo Recife, que dá acesso ao terraço do edifício. Esse terraço foi
classificado pelo grupo como mais uma das ambiências nostálgicas, não apenas por
se tratar de um lugar envelhecido, como também pela possibilidade de vislumbre de
uma paisagem da cidade formada por edifícios marcados pelo tempo, que acabaram
por contribuir para a conformação da ambiência.
136
Figuras 98, 99, 100 e 101. Imagem do terraço do Ed. Novo Recife; vista da paisagem e dos prédios do entorno. Fotos do autor.
Atravessada a ponte da Boa Vista o trio adentra o bairro de Santo Antônio pela
Rua Frei Caneca e segue caminho pela Rua da Palma. Quase ao fim da extensão da
rua o grupo descobre a existência de um beco que tem início na própria Rua da Palma,
atravessa a Rua Vinte e Quatro de Maio e termina na Av. Dantas Barreto. Segundo
avaliação do trio, os aspectos desse beco condizem exatamente com os elementos
levantados durante a passagem pelo beco da Fome e do Fotógrafo. Intitulado pelos
pesquisadores como beco do Ferro-Velho, pela quantidade de objetos descartados, o
recinto funciona como um atalho que parte de um setor desocupado e pouco comercial
da Rua da Palma e desemboca na amplitude comercial e espacial da Av. Dantas
Barreto, permitindo ao passante uma conexão quase direta ao setor central do
camelódromo que percorre a avenida.
Figuras 103 e 104. Imagens do início e do fim da travessa do Martírios. Fotos do autor.
Figuras 107 e 108. Ambiência da praça do Sebo ao anoitecer e à noite. Fotos do autor.
46
Para apreciação do mapa de percurso do experimento 02 ver Apêndice D.
141
Ainda durante o percurso pela Rua do Riachuelo, o trio se viu atraído pela
indumentária lúdica de uma carroça de material reciclável decorada com bandeiras e
outros artefatos coloridos, como uma sombrinha de frevo e uma bandeira do Brasil. A
obra espontânea do carroceiro foi associada pelos pesquisadores como semelhante
a organicidade dos parangolés e estudos visuais de Hélio Oiticica47. O
reconhecimento e registro visual da carroça também foi considerado pelo grupo como
um processo inerente as derivas, pela capacidade que a técnica tem de transformar o
olhar objetificados e usual do transeunte, permitindo-lhe a percepção de informações
estéticas abstrusos no próprio dia-a-dia das cidades.
47
Hélio Oiticica (1937 – 1980), pintor, escultor, artista plástico e performer carioca.
143
Figuras 111 e 112. Ambiência da Rua Bernardo Guimarães e pátio interno da UNICAP. Fotos do autor.
48
Para apreciação do mapa de inter-relação de ambiências suspensas ver apêndice H.
144
Figuras 113 e 114. Imagem da parede da antiga Fratelli Vita; Frame do vídeo do bate-estaca. Foto e arquivo do autor.
49
Vídeos e outros registros dos pilotos e experimentos disponíveis no blog: cargocollective.com/recifedeandada
145
Figuras 115 e 116. Edifícios do último trecho da Av. Conde da Boa Vista. Fotos do autor.
Figuras 117 e 118. Registro da ambiência da Rua Bulhões Marquês. Fotos do autor.
Figuras 120 e 121. Ruas do entorno do Mercado de São José à noite. Fotos do autor.
50
Vídeos e outros registros dos pilotos e experimentos disponíveis no blog: cargocollective.com/recifedeandada
148
Figuras 122 e 123. Pátio do Livramento e Beco do Marroquim à noite. Fotos do autor.
51
Para apreciação do mapa de percurso do experimento 03 ver Apêndice E.
151
atmosfera das ambiências que estão imediatamente próximas a elas. Esses dois
mapas correspondem aos apêndices G e H no final do documento.
O sétimo e último mapa tem a responsabilidade de transmitir graficamente a
variedade de elementos lúdicos que rementem às situações associadas ao jogo
situacionista. Nele foram representados sons, objetos e situações num mescla de
fotografias e pequenas inserções textuais. Ele procura se distanciar do olhar com
ênfase nos dados físicos e representar os momentos e componentes mais subjetivos
dos experimentos. Intitulado de mapa de ilustração de elementos de jogo, ele
corresponde ao apêndice I desta dissertação.
Figuras 126 e 127. Exemplos dos mapas disponíveis nos apêndices F e G. Arquivo do autor.
Figuras 128 e 129. Exemplos dos mapas disponíveis nos apêndices H e I. Arquivo do autor.
155
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
157
O segundo capítulo têm início com uma análise histórica relativa aos primeiros
indícios de exercício da psicogeografia. Esse resgate se mostra importante, pois
demonstra que o conceito de psicogeografia, mesmo tendo sido elaborado pelos
situacionistas, remonta a experimentações realizadas desde o século XVIII. Nessa
parte do capítulo também são relatadas as primeiras tentativas de levar a arte para o
campo das cidades, principalmente por parte dos movimentos dadá e surrealista.
Toda essa análise histórica se faz relevante, pois insere as técnicas da psicogeografia
e da deriva num contexto histórico de experimentações urbanas e demonstra que,
apesar da originalidade dos conceitos situacionistas, ambas as técnicas são produtos
de um desenvolvimento e amadurecimento do processo histórico da arte na
sociedade.
A partir daí são expostos de modo detalhado os conceitos da deriva e da
psicogeografia. Além de uma descrição sobre o caráter situacionista, das hipóteses e
dos possíveis resultados da aplicação das técnicas, o texto procura definir o grau de
relação entre elas, esclarecendo a função principal de cada uma. Sobre essa questão
conclui-se que a deriva se apresenta como um desdobramento prático da
psicogeografia. A deriva seria uma apropriação do espaço urbano através do
caminhar, enquanto a psicogeografia estudava o ambiente urbano utilizando-se da
deriva como instrumento prático (JACQUES, 2003, p. 22).
Ainda no segundo capítulo é exposta uma reflexão sobre a afinidade
situacionista com o conceito de jogo. Esse conceito, ligado à condição do homo
ludens, é analisado como um dos elementos principais que levaram à concepção
situacionista da cidade enquanto labirinto, uma construção ideológica que encarava a
cidade como um elemento de possibilidades lúdicas. A discussão é desdobrada com
a exposição de ações situacionistas de relevância em relação ao conceito de labirinto
e a aplicação da deriva e da psicogeografia. O capítulo conta ainda com uma análise
da literatura e de ações contemporâneas influenciadas pela teoria situacionista,
salientando o impacto positivo dessa revisitação de conceitos para o campo da arte
contemporânea e para a pesquisa vigente.
Os aspectos teóricos e metodológicos em relação ao modo de aplicação das
técnicas situacionistas no Recife foram abordados ao longo no terceiro capítulo. Nele
é realizada uma análise dos pormenores relativos às duas hipóteses levantadas pelos
situacionistas advindas da aplicação da deriva: as unidades de ambiência e as
159
Outro fator importante sobre a aplicação das derivas foi a averiguação das
hipóteses situacionistas. As suposições referentes ao reconhecimento de unidades de
ambiências foram corroboradas pelo trio de pesquisadores. Os participantes
exercitaram o reconhecimento dessas unidades em vários setores da área explorada
e detectaram a presença recorrente de dois tipos de ambiências: as denominadas
ambiências suspensas e ambiências nostálgicas. Esses dois tipos de ambiência foram
analisados durante os três experimentos de forma gradual e espontânea, e acabaram
por se manifestar como elementos que funcionavam ao mesmo tempo como espaços
reconhecidos e espaços norteadores de trajetórias.
Em relação a hipótese das plaques tournantes os pesquisadores obtiveram
diferentes conclusões. Apesar de reconhecerem espaços com potencialidades
similares ao conceito, os três experimentos realizados não foram suficientes para que
os participantes qualificassem com propriedade essas áreas de acordo com o
conceito. Uma afirmação veemente e uma reflexão detalhada sobre a existência de
plaques tournantes psicogeográficas necessitaria, portanto, de um exercício ainda
mais continuo e aprofundado das técnicas situacionistas.
Para além da averiguação das hipóteses, a experiência das três derivas acabou
por suscitar o levantamento de uma proposição por parte dos próprios pesquisadores.
Levantada e analisada durante os experimentos no quarto capítulo, não apenas em
modo textual, como em formato de mapa, a hipótese dos becos enquanto túneis de
potencialização da experiência de deriva se apresenta como uma importante
contribuição contemporânea, de caráter especulativo, e com grandes possibilidades
de desdobramento para pesquisas futuras.
Aliado a essa conceituação dos becos como elementos de ampliação da deriva,
os pesquisadores, ainda no quarto capítulo, reconheceram que a própria experiência
da deriva possui um tempo particular, como um momento de contrariedade à
circulação habitual e objetiva da cidade. De acordo com esse preceito, as derivas
teriam a capacidade de apresentar uma nova relação de espaço-tempo ao transeunte,
desvinculando-o momentaneamente de processos corriqueiros e, por vezes,
alienantes da sua própria vida, como o trabalho, o trânsito de automóveis, entre outros.
Essa particularidade da deriva também chegou a ser especulada pelos situacionistas,
o que torna, portanto, essa apreciação dos pesquisadores mais uma conclusão de
conteúdo alinhado aos preceitos do movimento.
161
Assim sendo, podem ser expostas mais algumas conclusões sobre a pesquisa
vigente. A de que as técnicas situacionistas da deriva e da psicogeografia são
efetivamente capazes, através do seu exercício, de promover um olhar sobre as
cidades separado das premissas do espetáculo. E ainda, que a força desse
desvinculamento se encontra no exercício de imersão no tempo particular das
técnicas situacionistas, e em seus objetivos primordiais de apreensão dos aspectos
conscientemente planejados ou não.
Por fim, deve-se argumentar que a aplicação da deriva e da psicogeografia em
uma cidade contemporânea é um exercício de extrema complexidade. As
contribuições expostas nesse trabalho demonstram a enorme possibilidade de
desdobramentos teóricos referentes a essa revisitação. Além disso, apesar de ter
tentado ampliar ao máximo as suas análises a respeito do objetivo traçado, essa
pesquisa se propõe a ser compreendia como uma pequena parte de um conjunto, e
um instrumento facilitador de outras muitas e possíveis novas investigações.
163
REFERÊNCIAS
164
- LIVROS
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Fontes, 2001.
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Companhia das Letras, 1995.
HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: O Jogo Como Elemento da Cultura. São Paulo:
Perspectiva, 2000.
MCDONOUGH, Tom. The Situationists and the City. Nova Iorque: Verso Books,
2009.
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SADLER, Simon. The Situationist City. Cambridge e Londres: The MIT Press, 1999.
VANEIGEM, Raoul. A arte de viver para as novas gerações. São Paulo: Baderna.
2002.
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167
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Acesso em: 16 mai 2015.
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SHAYA, Gregory. The Flâneur, the Badaud, and the Making of a Mass Public in
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- ENDEREÇOS ELETRÔNICOS
RAFFA, Ryan. Urban Drifts 2009 – 2014. Ryan Raffa. 2009. Disponível em:
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- VERBETES
- RELATOS
MONTE, Luiz. Breve relato psicogeográfico – Pesquisa-piloto 02. [S.l: s.n.], 2015.
- MAPAS
APÊNDICES
172
A Rua João Fernandes Vieira tem uma ambiência muito particular, apesar de
ser um ambiente de trabalho, com escritórios, repartições, entre outras coisas. A
sombra das árvores e atmosfera contribuem para uma sensação de relaxamento.
A palavra da Rua da Soledade é fluxo, gente indo e vindo a todo tempo: sente-
se aqui a vivência de fato da cidade, e há de se considerar a praça de frente da Igreja
uma possível plaque tournante.
As ruas Barão de São Borja e Manoel Borba apesar de paralelas têm
ambiências completamente distintas. Enquanto na primeira sente-se a calma que me
lembra a rua da minha vó. Na segunda a automatização dos carros e os pedestres
preocupados configuram um aspecto de – deixe-nos trabalhar!
O contraste da Rua José Mariano em relação ao bairro dos Coelhos em suas
costas é incrível. Pode-se perceber a vida de fato, típica das periferias da cidade em
meio a brechas que aparecem num cenário de armazéns e comércio pesado, de onde
são tiradas matérias primas para construções da sociedade atual, que nada tem de
construtivas. Um conselho aos transeuntes da José Mariano é espiar, e quem sabe
adentrar à vida real que se revela entre as brechas.
A Rua Tobias Barreto é o comércio em pelo do Recife. Talvez eu não tivesse
me agradado tanto dela, não fosse a barraquinha de drops com o símbolo do Santa
Cruz.
Por fim, o cansaço bate na praça do Diário. Outro ponto de várias
possibilidades. Uma plaque tournante que acredito alterar percursos até de quem não
se propõem à deriva. Apesar do sol já ter baixado, o cansaço da andada e o fato de
estar próximo à Av. Guararapes me corrompe a ir embora.