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Apesar da inação do governo brasileiro, ainda há esperança. Grandes grupos estrangeiros elegeram
o Brasil como alvo de investimentos em logística
Uma pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral mostra que 85%
das empresas brasileiras registraram aumento de custos logísticos nos
últimos cinco anos. Confira as principais razões
Falta de veículos 6%
Falta de armazenagem 5%
Mão-de-obra 4%
Outros 17%
No ano passado, o Japão aprovou uma lei que prevê a adição de 3% de álcool à gasolina com o
objetivo de reduzir a emissão de poluentes. Em encontros recentes, o presidente Lula e o primeiro-
30 ministro japonês, Junichiro Koizumi, definiram que o Brasil será um parceiro importante nesse
Prof. Emanuel Alvares Calvo
processo. Contudo, para que o volume de álcool exportado seja significativo, como quer o Japão, é
imprescindível que sejam feitos investimentos na expansão das malhas rodoviária e ferroviária e na
modernização dos portos. Na falta de ações concretas do governo brasileiro, grupos privados japoneses
começam a se mexer. O grupo Mitsui, um conglomerado com atuação que vai de mineração a bancos e
35 indústrias químicas, está envolvido no desenvolvimento de projetos para exportação de etanol para o
Japão. Hoje, além de a malha ferroviária brasileira ser deficiente, há poucos vagões para o transporte
de cargas líquidas. No ano passado, a Mitsui exportou 2 milhões de quilolitros de etanol para o
mercado japonês, mas a intenção é triplicar essa quantidade em até três anos. Isso só será possível com
uma forte injeção de recursos. Por meio da MRC Serviços Ferroviários, braço do grupo que se dedica
40 ao setor de ferrovias no Brasil, a Mitsui pretende investir em terminais de carga, portos e armazéns.
Além dela, outros grandes grupos japoneses, como Mitsubishi e Marubeni, pretendem colocar dinheiro
em projetos na área de petróleo no litoral do país, o que poderá consumir recursos estimados em 900
milhões de dólares.
Mas não é apenas o setor energético que tem despertado o interesse de estrangeiros. O setor
45 imobiliário, que poucos associam ao segmento de logística, também se enquadra nesse cenário.
Exemplo disso é a incorporadora americana Hines, que gerencia um fundo de funcionários públicos da
Califórnia. A Hines está investindo 100 milhões de dólares na construção de prédios industriais, a
maioria deles grandes galpões e centros de distribuição. O esquema funciona da seguinte maneira: a
empresa procura um cliente interessado nesse tipo de construção, faz um estudo de viabilidade e ergue
50 o imóvel. Depois, aluga o prédio para um operador logístico que, dessa forma, evita imobilizar parte de
seu capital. "Já possuímos 200 000 metros quadros de área construída no estado de São Paulo", diz
Steve Dolman, vice-presidente da subsidiária brasileira da Hines. "Nosso próximo passo é investir no
Rio de Janeiro."
Não é de hoje que o Brasil atrai investimentos estrangeiros no segmento de logística. No início da
55 década de 90, o grupo americano Martin-Brower veio ao Brasil para cuidar da logística de abasteci
mento dos restaurantes da rede McDonald's. Hoje, 80% do faturamento da empresa é gerado pelo fast
food. Segundo o diretor para a América Latina da empresa, Tupanangyr Gomes, entre 2006 e 2007 a
empresa investirá no país cerca de 15 milhões de dólares, principalmente na modernização da frota de
caminhões e em sistemas tecnológicos. Por enquanto, as operações da empresa estão concentradas em
60 São Paulo, mas o grupo Martin-Brower também entrega para as filiais de seus clientes em outros
estados.
Fonte: Revista Exame, ed. 878, nº 20, ano 40, 11 de outubro de 2.006, Rodrigo Squizato