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Solução Que Vem de Fora

Apesar da inação do governo brasileiro, ainda há esperança. Grandes grupos estrangeiros elegeram
o Brasil como alvo de investimentos em logística

Um dos principais obstáculos ao desenvolvimento do Brasil é a falta de investimentos na área de infra-


5 estrutura. Nas últimas décadas, os aportes não acompanharam o ritmo de crescimento do país e o que
se vê hoje é um descompasso entre as necessidades do setor produtivo, que depende das artérias
logísticas para fazer suas mercadorias chegar aos diversos mercados, e a falta de modernização de
rodovias, ferrovias e portos brasileiros. Essa defasagem se intensificou a partir dos anos 80. De acordo
com levantamento realizado por Paulo Tarso Resende, coordenador do Núcleo de Estudos Logísticos
10 da Fundação Dom Cabral, nos anos 70, durante o milagre econômico, os investimentos em infra-
estrutura equivaliam a 4% do PIB brasileiro, nível compatível com a velocidade de desenvolvimento
do país na época. Depois disso, os recursos minguaram. Na década de 80, as verbas aplicadas no setor
representavam 1,5% do PIB, caíram para 1,1% nos anos 90 até atingir a proporção de 0,3%, o que mal
resolve o problema de manutenção das rodovias. Segundo Resende, não deixa de ser surpreendente o
15 fato de o Brasil bater recordes de exportação nos últimos anos, apesar dos gargalos históricos. "Apesar
de muito grave, o problema da infra-estrutura nacional de logística ainda não recebeu a atenção que
merece", diz Resende.

Tão surpreendente quanto os resultados positivos da balança comercial é o interesse crescente de


alguns países pelo Brasil. É o caso do Japão, que se manteve apático em relação ao mercado brasileiro
20 por mais de uma década e agora volta novamente os olhos para o outro lado do mundo. De acordo com
dados da Japan External Trade Organization (Jetro), entidade de promoção comercial do governo
japonês, em 2006 os investimen tos japoneses no Brasil deverão chegar a 1 bilhão de dólares, um
crescimento de quase 30% em relação ao ano passado e quatro vezes maior do que todo o montante
investido aqui em 2004. Embora a entidade não seja precisa a respeito da participação da logística
25 nesse total, sabe-se que boa parte do dinheiro será destinada a projetos ligados ao setor. "Os japoneses
estão interessados, sobretudo, em iniciativas que aliam logística e energia", diz Alexandre Uehara,
analista político-econômico da Jetro.
Razões da ineficiência

Uma pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral mostra que 85%
das empresas brasileiras registraram aumento de custos logísticos nos
últimos cinco anos. Confira as principais razões

Má conservação das estradas 42%

Péssimo funcionamento dos portos 13%

Falta de segurança 13%

Falta de veículos 6%

Falta de armazenagem 5%

Mão-de-obra 4%

Outros 17%

No ano passado, o Japão aprovou uma lei que prevê a adição de 3% de álcool à gasolina com o
objetivo de reduzir a emissão de poluentes. Em encontros recentes, o presidente Lula e o primeiro-
30 ministro japonês, Junichiro Koizumi, definiram que o Brasil será um parceiro importante nesse
Prof. Emanuel Alvares Calvo
processo. Contudo, para que o volume de álcool exportado seja significativo, como quer o Japão, é
imprescindível que sejam feitos investimentos na expansão das malhas rodoviária e ferroviária e na
modernização dos portos. Na falta de ações concretas do governo brasileiro, grupos privados japoneses
começam a se mexer. O grupo Mitsui, um conglomerado com atuação que vai de mineração a bancos e
35 indústrias químicas, está envolvido no desenvolvimento de projetos para exportação de etanol para o
Japão. Hoje, além de a malha ferroviária brasileira ser deficiente, há poucos vagões para o transporte
de cargas líquidas. No ano passado, a Mitsui exportou 2 milhões de quilolitros de etanol para o
mercado japonês, mas a intenção é triplicar essa quantidade em até três anos. Isso só será possível com
uma forte injeção de recursos. Por meio da MRC Serviços Ferroviários, braço do grupo que se dedica
40 ao setor de ferrovias no Brasil, a Mitsui pretende investir em terminais de carga, portos e armazéns.
Além dela, outros grandes grupos japoneses, como Mitsubishi e Marubeni, pretendem colocar dinheiro
em projetos na área de petróleo no litoral do país, o que poderá consumir recursos estimados em 900
milhões de dólares.

Mas não é apenas o setor energético que tem despertado o interesse de estrangeiros. O setor
45 imobiliário, que poucos associam ao segmento de logística, também se enquadra nesse cenário.
Exemplo disso é a incorporadora americana Hines, que gerencia um fundo de funcionários públicos da
Califórnia. A Hines está investindo 100 milhões de dólares na construção de prédios industriais, a
maioria deles grandes galpões e centros de distribuição. O esquema funciona da seguinte maneira: a
empresa procura um cliente interessado nesse tipo de construção, faz um estudo de viabilidade e ergue
50 o imóvel. Depois, aluga o prédio para um operador logístico que, dessa forma, evita imobilizar parte de
seu capital. "Já possuímos 200 000 metros quadros de área construída no estado de São Paulo", diz
Steve Dolman, vice-presidente da subsidiária brasileira da Hines. "Nosso próximo passo é investir no
Rio de Janeiro."

Não é de hoje que o Brasil atrai investimentos estrangeiros no segmento de logística. No início da
55 década de 90, o grupo americano Martin-Brower veio ao Brasil para cuidar da logística de abasteci
mento dos restaurantes da rede McDonald's. Hoje, 80% do faturamento da empresa é gerado pelo fast
food. Segundo o diretor para a América Latina da empresa, Tupanangyr Gomes, entre 2006 e 2007 a
empresa investirá no país cerca de 15 milhões de dólares, principalmente na modernização da frota de
caminhões e em sistemas tecnológicos. Por enquanto, as operações da empresa estão concentradas em
60 São Paulo, mas o grupo Martin-Brower também entrega para as filiais de seus clientes em outros
estados.

Fonte: Revista Exame, ed. 878, nº 20, ano 40, 11 de outubro de 2.006, Rodrigo Squizato

Prof. Emanuel Alvares Calvo

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