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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE GOIÁS – UNIGOIÁS

PRÓ-REITORIA DE ENSINO PRESENCIAL – PROEP


SUPERVISÃO DA ÁREA DE PESQUISA CIENTÍFICA - SAPC
CURSO DE PADAGOGIA

METODOLOGIAS FREIRIANAS APLICADAS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E


ADULTOS – EJA
AS POSSIBILIDADES DE UMA ESCOLARIZAÇÃO TARDIA

GABRIELLA GARCIA PEREIRA DOS SANTOS


JOSY MAZETO OLIVEIRA
ORIENTADOR: Prof.ª. Ma. VANESSA MARIA SILVA E SOUZA PAVAN

GOIÂNIA
Dezembro/2021
GABRIELLA GARCIA PEREIRA DOS SANTOS
JOSY MAZETO OLIVEIRA

METODOLOGIAS FREIRIANAS APLICADAS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E


ADULTOS – EJA
AS POSSIBILIDADES DE UMA ESCOLARIZAÇÃO TARDIA

Trabalho final de curso apresentando e julgado como requisito para a obtenção do grau de
licenciatura no curso de Pedagogia do Centro Universitário de Goiás – UNIGOIÁS na data de
29/11/2021.

_______________________________
Prof.ª Ma. Vanessa Maria Silva e Souza Pavan
Centro Universitário de Goiás - UniGOIÁS

_______________________________
Prof.ª Ma. Esp. Zilma Rodrigues Neto
Centro Universitário de Goiás - UniGOIÁS

_______________________________
Prof.ª Ma. Lorena Bernardes Barcelos
Centro Universitário de Goiás – UniGOIÁS
METODOLOGIAS FREIRIANAS APLICADAS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS – EJA
As possibilidades de uma escolarização tardia
Gabriella Garcia Pereira dos Santos 1
Josy Mazeto Oliveira2
Vanessa Maria Silva e Souza Pavan 3
Resumo: O objeto de pesquisa é a pesquisa da Metodologia de ensino-aprendizagem de Paulo Freire direcionada
à EJA. O segmento merece uma atenção especial pois atende um expressivo público diferenciado em suas
demandas e anseios, o grupo de educandos que foram excluídos da educação na infância ou na adolescência. No
país, é um direito garantido pela Constituição Federal – CF (1988), o acesso à escola de educação básica, porém
não é o que ocorre na prática. E com o passar do tempo, o aluno que abandonou os estudos sente a necessidade
de voltar a estudar. Os motivos para o retorno aos bancos escolares são variados. A modalidade de ensino
proposta pela EJA é uma forma de pessoas que tiveram que se afastar da sua rotina escolar por inúmeros motivos
e em algum momento da vida percebem a necessidade de voltar ao ambiente escolar. E para conhecer melhor as
propostas metodológicas que são eficazes no trabalho com esse público, optou-se pela pesquisa bibliográfica. O
ensino aplicado na EJA precisa ser adequado ao público ao qual é atendido, pois embora, no segmento 1, os
alunos não tem são na sua maioria alfabetizados, não se pode utilizar as mesmas metodologias aplicadas às
crianças na fase de alfabetização. O importante dentro da realidade da EJA, é dar condições aos alunos para que
consigam recuperar o tempo perdido e possa se desenvolver não apenas cognitivamente, mas que consiga
subsídios que lhe proporcione o pleno exercício da cidadania, que consiga melhorar seu processo de construção
do conhecimento e atinja seus objetivos pessoais. Para a construção metodológica forma utilizados os seguintes
autores: Brasil (19880); Freire (2013); Jesus (2009); Marques (2018); Nascimento (2013); Sousa; Oliveira;
Alves (2021); Tokarnia (2020), entre outros.
Palavras-chave: Oportunidade. Retomada. Adequação. Aprendizagem. Ensino.
FREIRIAN METHODOLOGIES APPLIED IN YOUTH AND
ADULT EDUCATION - EJA
Possibilities of late schooling
Abstract: The research object of this article is the research of Paulo Freire's Teaching-Learning Methodology
directed to EJA. The segment deserves special attention because it serves an expressive public that differs in its
demands and anxieties, the group of students who were excluded from education in childhood or adolescence. In
the country, access to basic education school is a right guaranteed by the Federal Constitution – CF (1988), but
this is not what happens in practice. And with the passage of time, the student who dropped out of school feels
the need to go back to school. The reasons for returning to school benches are varied. The teaching modality
proposed by EJA is a way for people who had to move away from their school routine for many reasons and at
some point in life realize the need to return to the school environment. And to better understand the
methodological proposals that are effective in working with this audience, we opted for bibliographical research.
The teaching applied in EJA needs to be adequate to the public to which it is served, because although, in
segment 1, the students are mostly not literate, the same methodologies applied to children in the literacy phase
cannot be used. The important thing within the reality of EJA is to give students conditions so that they can make
up for lost time and can develop not only cognitively, but that they can get subsidies that provide them with the
full exercise of citizenship, that can improve their knowledge construction process. and achieve your personal
goals. For the methodological construction, the following authors were used: BRASIL (19880); FREIRE (2013);
JESUS (2009); MARQUES (2018); NASCIMENTO (2013); SOUSA; OLIVEIRA; ALVES (2021);
TOKARNIA (2020), among others.

KEYWORDS: Opportunity. Resumption. Adequacy. Learning. Teaching.

1
Discente do curso de Nome do Curso do Centro Universitário de Goiás – UNIGOIÁS. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/9101831454676715. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-9051-5918. E-mail:
gabisgarcia_p@hotmail.com
2
Discente do curso de Nome do Curso do Centro Universitário de Goiás – UNIGOIÁS. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/4503839428290188. Orcid: https://orcid.org/ 0000-0001-7927-1118. E-mail:
josy.mazetto@hotmail.com
3
Professora adjunto Vanessa Maria Silva e Souza Pavan pela Universidade Federal de Goiás – UFG. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2010084642115699. E-mail: professoravanessapavan@gmail.com.
1 INTRODUÇÃO
O objeto de pesquisa desse artigo é a pesquisa da Metodologia de ensino-
aprendizagem de Paulo Freire direcionada à EJA. O segmento merece uma atenção especial,
pois atende um expressivo público diferenciado em suas demandas e anseios, o grupo de
educandos excluídos da educação na infância ou na adolescência. Não podemos afirmar que
pessoas adultas que não sabem ler e escrever sejam comparadas a uma página em branco. As
pessoas, mesmo analfabetas tem uma história de vida e devem perceber-se como sujeitos que
não tiveram oportunidade por diferentes motivos de estudar em tempo “normal” de 7 a 10
anos como é feito no ensino básico brasileiro.
Nosso trabalho apresentará aos leitores as informações mais relevantes sobre essa
modalidade educacional, EJA que através dos seus sujeitos, jovens e adultos, vem se
modificado através dos tempos como ser humano histórico que é. O autor nomeia de
oprimidos e opressores os sujeitos em lugares sociais adversos. Os que detém o poder.
Opressores e os que não, são os oprimidos. Aqui no caso, educandos da EJA que ainda não
conseguiram se libertar pela educação adquirindo um nível de conscientização libertadora na
vida.
Freire (2013, p. 31), em seu célebre livro a Pedagogia do oprimido, defende que:
quem, melhor que os oprimidos, se encontrará preparado para entender o significado
terrível de uma sociedade opressora? Quem sentirá, melhor que eles, os efeitos da
opressão? Quem, mais que eles, para ir compreendendo a necessidade da libertação?
Libertação a que não chegarão pelo acaso, mas pela práxis de sua busca; pelo
conhecimento e reconhecimento da necessidade de lutar por ela. Luta que, pela
finalidade que lhe derem os oprimidos, será um ato de amor, com o qual se oporão
ao desamor contido na violência dos opressores, até mesmo quando está se revista
da falsa generosidade referida.

No país, é um direito garantido pela Constituição Federal – CF (1988), o acesso à


escola de educação básica, porém não é o que ocorre na prática. Por motivos variados muitos
acabam abandonando os bancos escolares para se dedicar a outras atividades como o trabalho,
e até ou mesmo abandonam os estudos pelo acesso difícil às poucas escolas de período
noturno com o é a EJA.
E com o passar do tempo, o aluno que abandonou os estudos sente a necessidade de
voltar a estudar. Os motivos para o retorno aos bancos escolares são variados. Assim o
incentivo nasce da necessidade relacionada a busca de melhores oportunidades profissionais,
realização pessoal, exigência social e mesmo a vontade de ter acesso a leitura mais corriqueira
e não menos importante como ler placas de endereço, números e nomes indicativos em
ônibus, preços de produtos de mercado, bulas de remédios e até mesmo o desejo de ler sua
bíblia desejo recorrente dos educandos que são religiosos.
3
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988).

Temos como objetivo compreender e aprofundar na identificação da metodologia


Freiriana para Jovens e Adultos. Os objetivos que se pretende alcançar foram: identificar
quais metodologias são aplicadas na unidade escolar para atender a demanda dos alunos bem
com a diferença de níveis; reconhecer as metodologias utilizadas durante a rotina da aula;
compreendê-las e aplicadas no processo de ensino aprendizagem; analisar a forma com a qual
esses meios são aplicados para diminuir a diferença entre os níveis dos alunos.
Para a obtenção dos dados para a elaboração do referido artigo foi escolhido a
pesquisa bibliográfica feita através de livros, artigos, “internet”, documentos e outras mídias
que se façam necessárias. Sousa; Oliveira; Alves (2021, p. 65), destacam que:
a pesquisa científica é iniciada por meio da pesquisa bibliográfica, em que o
pesquisador busca obras já publicadas relevantes para conhecer e analisar o tema
problema da pesquisa a ser realizada. Ela nos auxilia desde o início, pois é feita com
o intuito de identificar se já existe um trabalho científico sobre o assunto da pesquisa
a ser realizada, colaborando na escolha do problema e de um método adequado, tudo
isso é possível baseando-se nos trabalhos já publicados. A pesquisa bibliográfica é
primordial na construção da pesquisa científica, uma vez que nos permite conhecer
melhor o fenômeno em estudo. Os instrumentos que são utilizados na realização da
pesquisa bibliográfica são: livros, artigos científicos, teses, dissertações, anuários,
revistas, leis e outros tipos de fontes escritas que já foram publicados.

Ao pensar em um projeto de pesquisa, o pesquisador deverá estabelecer alguns


aspectos antes de começar a escrita. E um desses itens a serem decididos é a metodologia que
deverá ser empregada, a escolha definirá toda a estrutura do artigo. Com esse pensamento a
escolha para esta escrita será a da pesquisa bibliográfica.
É importante ressaltar que a pesquisa bibliográfica faz parte de toda e qualquer outra
metodologia, pois ela deve ser o início de todo processo de pesquisa. Desta forma, observa-se
que com essa modalidade de pesquisa é possível analisar resultados já obtidos anteriormente e
a partir disso contestar ou confirmar os resultados, ou mesmo abrir outras possibilidades de
discussão.
A pessoa com distorção série/idade tem uma dificuldade de se adaptar à série ao qual
foi matriculado, pois, de um lado pode ser mais velho que os demais alunos e por outro pode
não ter as proficiências necessárias para estar em uma sala mais avançada. Em se tratando de
alunos da EJA, as dificuldades podem ser ainda maiores, uma vez que, em geral, esses/os
alunos/as estão fora dos bancos escolares a muitos anos e alguns casos nunca frequentaram.
Os níveis de conhecimento são variados e o professor regente precisa atender todas as
particularidades e cumprir o currículo determinado para o segmento. Diante disso, é
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importante se pensar em metodologias podem ser aplicadas para diminuir essa variabilidade
de níveis de conhecimentos.
Cada um tem uma forma de assimilar o que foi ensinado, mas é preciso se preocupar
com a forma com a qual o objeto do conhecimento é passado para que o aluno consiga
absorver tudo e aplicar em seu cotidiano. Então a metodologia adequada pode facilitar o
trabalho do professor e auxiliar o aluno a construir seu conhecimento de forma autônoma
desenvolvendo sua capacidade crítica. O professor precisa compreender o perfil do seu
alunado e a partir disso elaborar formas de atuação em suas práticas de sala de aula, para não
apenas motivar o/a aluno/a em permanecer na escola, mas proporcionar situação em que eles
possam ampliar o conhecimento tanto formal quanto, habilidades que utilizará no seu dia a
dia.

2 METODOLOGIA
A modalidade de ensino proposta pela EJA é uma forma de pessoas que tiveram que se
afastar da sua rotina escolar por inúmeros motivos e em algum momento da vida percebem a
necessidade de voltar ao ambiente escolar. E para conhecer melhor as propostas
metodológicas que eficazes no trabalho com esse público, optou-se pela pesquisa
bibliográfica
Para a obtenção dos dados para a elaboração do referido artigo foi escolhido a pesquisa
bibliográfica. Ao pensar em um projeto de pesquisa, o pesquisador deverá estabelecer alguns
aspectos antes de começar a escrita. E um desses itens a serem decididos é a metodologia que
deverá ser empregada, a escolha definirá toda a estrutura do artigo. Com esse pensamento a
escolha para esta escrita foi a pesquisa bibliográfica, para Pizzani et. al. (2012, p. 54),
a pesquisa bibliográfica é um trabalho investigativo minucioso em busca do
conhecimento e base fundamental para o todo de uma pesquisa, a elaboração de
nossa proposta de trabalho justifica-se, primeiramente, por elevar ao grau máximo
de importância esse momento pré-redacional; como também justifica-se pela
intenção de torná-la um objeto facilitador do trabalho daqueles que possivelmente
tenham dificuldades na localização, identificação e manejo do grande número de
bases de dados existentes por parte dos usuários.

Desta forma, observou-se que com essa modalidade de pesquisa é possível analisar
resultados já obtidos anteriormente e a partir disso contestar ou confirmar os resultados, ou
mesmo abrir outras possibilidades de discussão.
A pesquisa bibliográfica em nada deixa a desejar em relação a outras metodologias, mas
que pelo contrário, este tipo é complementar a todas as outras. Um bom pesquisador de campo

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precisa reconhecer todo o histórico já pesquisado para a partir disso, definir sua linha de
pesquisa para a obtenção dos resultados e alcance dos objetivos.
Pizzani (2012, p. 56) afirma ainda que,
a pesquisa científica é a atividade intelectual intencional que visa responder às
atividades humanas, para compreender e transformar a realidade que nos rodeia.
Significa realizar esforços para investigar, descobrir, conhecer alguma coisa.

O homem assim como a Ciência, de forma geral, está em constante modificações e


evolução, por isso é importante sempre rever resultados e propor novas soluções, tudo está em
constante mudança, os avanços são enormes e o ser humano faz parte disso, os pensamentos
que eram relevantes a alguns anos atrás podem ter sofrido modificações e a perspectiva para
ver o mundo a volta também. Então o que era tido como verdade anteriormente hoje talvez
seja obsoleto.

3 CONTEXTO HISTÓRICO DA EJA NO BRASIL


Por inúmeras situações, muitas pessoas, em algum momento da vida, precisa
abandonar os estudos para se dedicar a outras atividades. Isso ocorre por fatores diversos,
questões financeiras ou mesmo a falta de oferta do nível escolar dentro de um perímetro que
seria viável o deslocamento.
Tokarnia (2020, p. 1), destaca que,
segundo o IBGE, ao todo, no Brasil, 20,2% dos jovens de 14 a 29 anos não
completaram o ensino médio, seja porque abandonaram a escola antes do término
dessa etapa, seja porque nunca chegaram a frequentá-la. Isso equivale a 10,1
milhões de jovens. A maior parte é homem, o equivalente a 58,3%, e preta ou parda,
o equivalente a 71,7% de todos que não estavam estudando.

O abandono escolar é mais evidenciado para os alunos na fase da adolescência, pois


nessa etapa os alunos já tem idade para ingressar no mercado de trabalho e diante de
dificuldades financeiras da família optam pelo trabalho para ter um reforço financeiro. Porém,
existe também nas séries iniciais, porém com número reduzido, e isso se deve a vários fatores,
dentre eles, a obrigatoriedade de as crianças estarem matriculadas para receberem algum
auxílio financeiro do governo; outro fator que poderia ser destacado é o fato de a maioria das
pessoas habita na zona urbana e com isso o acesso à escola fica um pouco mais fácil.
De forma incisiva, por interesses políticos, haja vista, que os analfabetos não tinham
direito a voto, e consequentemente não tinham direito a exercer sua cidadania de forma plena,
a partir de 1930, houve a primeira tentativa em proporcionar condições para que esses jovens
e adultos, maiores de 18 anos, pudessem retornar aos bancos escolares e concluir seus
estudos.

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Marques (2018, p. 14) em seus estudos aponta que,
em 1964 com a aprovação do Plano Nacional de Alfabetização de Adultos (PNAA),
que previa a disseminação por todo o Brasil, de programas de alfabetização
orientados pela proposta de Paulo Freire. Essa proposta foi interrompida com o
Golpe Militar e seus promotores foram duramente reprimidos. Ano de 1967O
governo assume o controle dos Programas de Alfabetização de Adultos, tornando-os
assistencialistas e conservadores. Nesse período lançou o MOBRAL – Movimento
Brasileiro de Alfabetização. Ano de 1969, Campanha Massiva de Alfabetização.
Década de 70 O MOBRAL expandiu-se por todo o território nacional,
diversificando sua atuação. Das iniciativas que derivaram desse programa, o mais
importante foi o PEI – Programa de Educação Integrada, sendo uma forma
condensada do antigo curso primário.

Esses foram os primeiros passos até se chegar à estrutura da EJA atualmente. A


modalidade de ensino ganhou mais notoriedade a partir da implantação da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação (LDB), por meio da lei n.º 9394/96, após sua promulgação, a EJA passou
a incorporar a educação básica.
Em sua estrutura a EJA tem as funções de reparação, de equalização e de qualificação.
Pois, não basta proporcionar ações burocráticas para que o indivíduo que teve que abandonar
os estudos possam retornar e concluir, mas é preciso dar a possibilidade por através de
metodologias adequadas, que esse aluno tenha condições igualitárias aos alunos do ensino
regular a desenvolver suas habilidades e conseguir as aprendizagens pertinentes ao nível de
ensino.
O aluno que procura a EJA quer alguma melhoria em sua vida, seja para ocupar um
cargo melhor no atual emprego, seja para buscar outra oportunidade de trabalho, ou mesmo
para poder ter autonomia em realizar afazeres do cotidiano como, ir ao supermercado e
conseguir ler o nome de um produto, pegar o ônibus sem a ajuda de outras pessoas. Diante
disso, é preciso que os professores da EJA tenham propostas adequadas para que essa
modalidade de ensino cumpra de fato as funções que lhe compete.

4 PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM NA EJA


O ensino aplicado na EJA precisa ser adequado ao público ao qual é atendido, pois
embora, no segmento 1, os alunos não têm são na sua maioria alfabetizados, não se pode
utilizar as mesmas metodologias aplicadas às crianças na fase de alfabetização. Pois, embora
não tenham adquirido o conhecimento formal, esses alunos têm todo um histórico de outros
conhecimentos e vivências, então o que chama a atenção de uma criança e a desperta para
aprender não pode ser aplicado a um adulto, pois não terá a mesma eficácia.
O professor em sua prática de sala de aula deve proporcionar ao aluno da EJA
condições para se desenvolver e superar suas limitações e isso deve acontecer em um tempo

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reduzido, pois ao contrário das outras modalidades do ensino básico regular, o período letivo
é de seis meses. Então o conteúdo que deveria ser ministrado em um ano passar a ser aplicado
na metade desse tempo.
Jesus (2009, p. 9) afirma que para que se cumprir as funções da EJA é importante a
formação de professores de qualidade, que será indispensável neste processo ainda
carente destes quesitos. Outro ponto a ser considerado importante para que haja
transformação nesta modalidade é a contribuição efetiva da sociedade civil que se
fazendo parte desta estará exercendo sua cidadania. A sociedade já trouxe grandes
resultados se olharmos ao início desta história, portanto, é essencial que se dê
continuidade a essas forças unidas em movimentos sociais para que tragam
constantemente mudanças na EJA transformando a prática sem compromisso em
uma aprendizagem que tenha importância e significado para o aluno

As ações e os trabalhos desenvolvidos na EJA irão refletir não apenas para o aluno.
Mas a sociedade ganha cidadãos mais preparados para desempenhar suas funções e tomar
suas decisões. Então é preciso que haja um olhar diferenciado para essa modalidade de
ensino, dando condições para que os professores possam desempenhar um trabalho de
excelência, com recursos e metodologias que atendam de fato as necessidades dos alunos.
Nascimento (2013, p. 10) reitera que
o conhecimento modifica o homem, assim considera-se que a EJA-educação de
jovens e adultos, é capaz de mudar significativamente a vida de uma pessoa, traz
oportunidades para conviver em uma sociedade democrática, justa e igualitária com
direitos e também deveres.

Diante desse aspecto, ressalta-se a importância de que o professor seja qualificado


para atuar com os alunos da EJA, pois os conhecimentos que trazem consigo não podem ser
descartados ou ignorados. Dentro de uma mesma sala os níveis de conhecimento poderão ser
bem variados, então o professor terá que proporcionar situações em que atenta a todos, mas
cada um com sua perspectiva de conhecimento.
Medeiros; Rosa (2009, p. 5) destacam que,
a adoção de metodologias diferenciadas é essencial para promover um melhor
processo ensino-aprendizagem, principalmente quando se busca uma formação
qualificada de profissionais na área do ensino. Incluindo o fato de que o cotidiano de
docentes e alunos é bastante dinâmico, é de fundamental relevância a também
dinamização das aulas.

Não há uma receita metodológica pronta para ser aplicada, pois, é preciso considerar a
realidade de cada turma, o contexto social ao qual está inserido, bem como, os motivos que
levaram os alunos a retornarem aos bancos escolares. Por isso o professor precisa conhecer de
perto a realidade de cada aluno, por isso é importante manter o constante diálogo, tanto no
individual quanto no coletivo para que assim possa ouvir os anseios dos alunos e com a
equipe pedagógica dar o melhore direcionamento para os alunos.

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Nascimento (2013, p. 10) destaca que,
a educação é um processo contínuo de conscientização, mudanças nas práticas
educacionais, e visa estabelecer a relação entre cidadania e educação, de modo a não
negar educação àqueles que já foram excluídos da escola na idade regular.

O importante da realidade da EJA, é dar condições aos alunos para conseguirem


recuperar o tempo perdido e possa se desenvolver não apenas cognitivamente, mas que
consiga subsídios que lhe proporcione o pleno exercício da cidadania, que consiga melhorar
seu processo de construção do conhecimento e atinja seus objetivos pessoais.

5 AS PERSPECTIVAS DE PAULO FREIRE NO PROCESSO DE ENSINAR E


APRENDER NA EJA
Ao retornar para o ambiente escolar, o jovem e/ou o adulto esperam ter um ambiente
adaptado as suas necessidades e à sua realidade, pois a forma metodológica aplicada em salas
equivalentes no ensino regular, não atenderão as especificidades desse alunado. Pois, os
mesmos já trazem consigo conhecimentos e não te tem tempo e nem necessidade de regredir
ao ponto inicial. O ponto de partida será o conhecimento que trazem consigo, sua história e
motivação para continuar os estudos.
Nascimento (2013, p. 11), destaca que:
os educadores que se comprometem com a Educação de Jovens e Adultos, tem que
possuir consciência da necessidade de buscar mecanismos, métodos e teorias que
estimulem o público alvo a não abandonar a sala de aula, ou seja, o professor é o
estimulador, o mediador de seus alunos. Esses educadores devem ser
comprometidos com a aprendizagem dessas pessoas, adequando métodos
incessantemente cada vez mais relacionados à realidade do público que estão
trabalhando, inserindo no currículo a realidade do aluno.

Na perspectiva freiriana o processo de aprendizagem precisa estar pautado no mundo


exterior, aonde o aluno tenha consciência das próprias ações e a partir delas consiga
desenvolver-se e aplicar tais conhecimentos em sua vida cotidiana. Silva; Ploharski (2011, p.
1651) afirmam em seus estudos que a:
conscientização é essencial para a valorização do ser humano e para a transformação
da sociedade. Na concepção Freiriana, a alfabetização tem como pressuposto o
desenvolvimento da consciência crítica dos alunos, que são concebidos como seres
criadores e pensantes capazes de produzir conhecimentos na sua prática social,
independente da realidade em que estejam inseridos.

O adulto, através de suas vivências, é um sujeito crítico por isso não lhe cabe aceitar
os conhecimentos de forma imposta tendo o professor como o único detentor do saber, como
é no ensino tradicional. As raízes e os conhecimentos variados dos alunos devem ser
respeitados e utilizado como matéria-prima para desenvolver novos saberes. Desta forma o

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professor consegue motivar e prender a atenção do aluno para que ele não abandone
novamente os bancos escolares por pensar que aquilo não irá agregar em sua vida.
Moura; Serra (2014), destacam que:
a ideia inicial do pensamento de Freire compreende uma educação que não é neutra,
pois a mesma quando vista sobre as dimensões da ação e da reflexão de certa
existência pressupõe a atuação do homem sobre essa realidade. O princípio da
politicidade nas ideias de Freire concebe a educação como problematizadora, que
mediada pelo diálogo busca a transformação através do pensamento crítico.

O conhecimento adquirido nos bancos escolares precisa fazer sentido para o aluno
quanto este não estiver limitado ao ambiente escolar. Por isso a necessidade de o
conhecimento estar atrelado à realidade do aluno e ao seu mundo. Diante essa realidade o
professor, para desenvolver um trabalho eficiente precisará encontrar subsídios que chamem a
atenção do aluno, que esses saberes possam ser usados em sua rotina e o primordial que
considerem o conhecimento prévio de cada aluno.
É importante que o professor conheça cada aluno e suas especificidades e a partir
desse reconhecimento ofereça recursos e desafios para que os alunos utilizem seus
conhecimentos para solucionar o que foi solicitado. Quanto a isso Moura; Serra (2014, p. 16)
destacam ainda que:
o objetivo da educação para Freire é conscientizar o sujeito sobre sua realidade, a
fim de transformá-la. Sua proposta de educação serve de instrumento para a
emancipação do sujeito, uma vez que, tem como base o diálogo, a presença da
relação educador/educando e a utilização dos saberes prévios para que novos
conhecimentos sejam apreendidos.

O que deixa mais visto que o ensino, seja em qual modalidade for, porém, evidencia-
se mais na EJA pela faixa etária dos alunos, precisa estar em consonância com a realidade do
aluno, pois só desta forma será de fato eficiente e, simultâneo, interessante para o aluno.
Desde o que está sendo ministrado em sala ele reconhece em sua própria realidade, tende a
motivar-se a desenvolver mais e fazer a construção do processo ensino aprendizagem com
sólidos alicerces que servirão de bases para outras conquistas.
Para o aluno da EJA não faz sentido trabalhar a alfabetização considerando os
aspectos de som/grafia, pois seus conhecimentos já estão muito além, portanto, trabalhar a
leitura e a escrita como é abordada no Ensino Fundamental não surtirá os mesmos resultados e
ainda poderá provocar uma sensação de fracasso tanto no educador quanto no educando. Ao
invés disso, Feitosa (2019, p. 35 - 36), destaca ser preciso realizar uma pesquisa mais ampla:
a pesquisa sociológica deve extrapolar a verificação do universo vocabular. O
educador ou educadora deverá iniciar o processo de alfabetização por uma leitura de
mundo mais ampla, pois é necessário conhecer o grupo-classe em diferentes
aspectos e dimensões. Para isso, o educador ou educadora poderá utilizar diferentes
formas de investigação da realidade: entrevistas, trabalho com textos sobre

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identidade, autorretrato, narrativa oral, preenchimento de instrumentais que
investiguem a situação social e econômica, origem, preferências, níveis de escrita
etc.

Desta forma o professor ganha subsídios suficientes para elaborar uma forma
metodológica que aguce o interesse do aluno e lhe proporcione momentos de aprendizagem a
partir da bagagem de conhecimentos. É importante compreender que em uma mesma sala
haverão (saberes) diferentes cercas, e isso aumenta o desafio do professor, pois precisa
atender todos para que poderem desenvolver as mesmas habilidades, porém com pontos de
partidas diferentes.
Quanto mais o objeto de conhecimento estiver associado ao cotidiano de cada aluno,
mais fácil será a aprendizagem, pois, ao contrário do alunado em idade adequada, os discentes
da EJA já têm uma autonomia e a cada item assimilado na sala de aula já poderá iniciar a
aplicação em seu cotidiano. Por isso é tão importante compreender em qual contexto social
esse indivíduo está inserido para proporcionar-lhe a categoria de aprendizagem necessária
para seu desenvolvimento além de cognitivo, social.
A construção da leitura e da escrita deve partir de algo concreto ao qual possam
assimilar sem utilizar recursos abstratos. Feitosa (2019, p. 38) destaca que:
é preciso que eles se transformem em temas geradores da ação alfabetizadora. É
fundamental que sejam problematizados, que estejam presentes nos debates, nos
textos trabalhados, nas situações-problemas, nas expressões artísticas, nos cálculos
matemáticos, nas produções de textos individuais e coletivos, nos conteúdos de
maneira geral.

A partir da definição dos temas geradores os alunos terão mais condições de


desenvolver, pois, conseguem observar na prática a necessidade de novos saberes, a
alfabetização sai de algo abstrato para algo necessário, como, por exemplo, a necessidade de
se locomover, analisar um produto em um supermercado, enviar ou receber uma mensagem
de texto, entre outros.
Tirar dos alunos a posição passiva de aprendizagem é um passo importante para ele
compreenda que por si, com o auxílio do professor, irá construir seus conhecimentos e não
apenas mecanizados, mas que saiba utilizar esses conhecimentos no cotidiano de forma
crítica, pois, quando o aluno domina um novo assunto ele consegue expor sua opinião e
debater numa situação de controvérsias. Defender o ponto de vista é fundamental para todo e
qualquer ser humano, pois assim está cumprindo seu papel de cidadão.
Diante disso o professor em suas práticas pode levantar situações problema em que
tira o aluno da zona de conforto e faça-se necessário criar argumentos embasados em fatos

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para serem solucionadas as questões conflitantes. Quanto a isso Feitosa (2019, p. 19) destaca
que:
problematizar é inserir a dúvida, as diferentes possibilidades de se enxergar um
problema. Para se problematizar um fato, o educador ou educadora deverá lançar
mão da pedagogia da pergunta. A pergunta nos leva à “desnaturalização” do natural.
Ela nos permite questionar nossas certezas e procurar outras formas de ver o mesmo
objeto. A pergunta desestabiliza o óbvio, extrapola o senso comum e é um
importante instrumento para a superação da consciência ingênua.

Diante de uma situação que cause um certo impacto, o aluno precisará elaborar de
forma rápida um posicionamento, seus limites serão testados assim como sua capacidade de
elaborar uma hipótese em pouco tempo. A partir dessas pequenas construções o aluno começa
a pegar o ritmo para se desenvolver cada vez mais.
A aprendizagem nasce a partir de uma série de fatores e Padilha (2019, p. 20), em seus
estudos afirma que:
a alfabetização na perspectiva intertranscultural se constrói na direção de um
processo educacional aberto, reflexivo, ético, dialógico, valorativo, criativo, ousado
e complexo, que tem seu ponto de partida das relações que as pessoas estabelecem
entre si e, delas, com o mundo. Trata-se de um aprofundamento investigativo sobre
os meandros do processo de ensino e de aprendizagem na alfabetização, incluindo-se
aí todas as dimensões da organização do nosso trabalho pedagógico, que será objeto
de uma reflexão permanente, em diferentes espaços intertransculturais – como por
exemplo, nos Círculos de Cultura onde a alfabetização acontece.

Em muitas situações o aluno já tem as informações sobre um determinado tema. Mas


não consegue transformar isso em conhecimento. Isso pode ser aplicado à alfabetização
também, pois o aluno pode ter em seu repertório a capacidade de decifrar os códigos, porém
não consegue associar isso ao seu cotidiano por isso não adquiriu a habilidade da leitura e
nem da escrita.
Quando o aluno é incentivado a pesquisa e outras práticas que possibilitem as trocas
de informações e/ou conhecimentos ele passa a ressignificar-se bem como suas
aprendizagens. Essa prática de multisaberes em situações multiculturais favorece não apenas
para a ampliação de conhecimentos, mas possibilita que outras metodologias sejam aplicadas
em conjunto, atendendo assim mais alunos em suas especificidades pessoais, o que pode
aumentar o nível de aprendizagem de todos.
Padilha (2019, p. 22) destaca ainda que:
a Alfabetização Intertranscutural deve incentivar a pesquisa, a criatividade, a crítica,
as vivências e convivências em grupo, em coletividade. Além disso, procura criar
espaços e atividades que estimulem intercâmbios culturais, multiculturais,
interculturais e transculturais, visando à melhoria e à qualificação da participação
dos sujeitos aprendentes e ensinantes na definição do currículo da EJA que se está
vivenciando e construindo, incluindo-se aí os momentos de planejamento, de
avaliação da avaliação do processo de ensino e aprendizagem. Pretende, ainda, a
substituir a prática de “sala de aula” por uma ação educacional e cultural no Círculo

12
de Cultura, construindo encontros de trabalho, estudos, de relações humanas e da
criação de novos textos, contextos e meta-contextos.

Ao contrário da criança, o adulto tende a compreender e assimilar melhor quando tem


muitas possibilidades de aprendizagem, ou seja, quanto mais informações tiver acesso mais
irá construir conhecimentos. Partindo da ideia que cada um tem sua própria forma e ritmo,
quanto maior o número de metodologias e recursos disponíveis, melhor será o
desenvolvimento de cada aluno.
6 EJA, POSSIBILIDADE DE LIBERTAÇÃO DO OPRIMIDO
A exclusão social de pessoas não alfabetizadas e com baixa escolaridade é uma
realidade e isso fica mais evidente quando se trata de indivíduos economicamente ativos.
Essas pessoas acabam indo parar nos subempregos, são vítimas de constantes agressões
psicológicas, se sentem ameaçadas, pois não consegue lutar por seus direitos e exercer seu
papel de cidadão como qualquer outro. Quanto a isso Feitosa (2019, p. 42) destaca que:
o analfabetismo entre pessoas jovens, adultas e idosas tem se concretizado como
uma das formas mais cruéis de exclusão. A pessoa não alfabetizada vive
cotidianamente inúmeras situações de humilhação, insegurança, dependência e
medo, que são marcas expressivas da opressão. O analfabeto é, nessa perspectiva,
um oprimido.

Destaca-se que o conhecimento não é importante apenas para que o indivíduo tenha
melhor condição financeira com a possibilidade de um emprego melhor, mas sim qualidade
de vida, perspectiva de mudança diante de uma realidade tão sofrida e que nem sempre é por
opção própria. E diante disso a EJA surge como opção para que essas pessoas possam se
reconhecer e serem reconhecidas (por terceiros) como cidadãs, dignas de desempenhar seu
papel social e fazer valer seus direitos.
Pessoas nessa situação, de analfabetas, tem uma vaga compreensão de mundo, são
facilmente manipulados, pois, a capacidade de interpretação do mundo é bastante limitada, o
que as torna em geral ingênuas e facilmente manipuladas, o que na mão de pessoas mal-
intencionadas pode ser um prato cheio para inúmeros golpes, até mesmo colocando a pessoa
enganada em situação criminal.
Feitosa (2019, p. 42) afirma ainda em seus estudos
a alfabetização, nessa perspectiva, tem por objetivo inserir a pessoa não alfabetizada
no contexto letrado e possibilitar a superação da consciência ingênua e a ampliação
da consciência crítica. Essa prática se dá num processo de construção do
conhecimento, que parte de um contexto discursivo de interlocução e interação, por
meio do desvelamento crítico da realidade. Ela promove a capacidade de, entre
outras coisas, compreender e comunicar o mundo e as próprias ideias, por diversos
meios e códigos.

13
Nota-se então que a partir da alfabetização o indivíduo tem condições plenas de
desenvolver outras habilidades e competências, superando assim suas limitações. Um jovem,
adulto ou idoso sem a aquisição da leitura e da escrita se torna incapaz de tomar decisões,
como, por exemplo, exercer o direito ao voto, pois pela Constituição Federal por meio artigo
14, §1º e incisos.
Existe a urgência em romper as barreiras que limitam qualquer cidadão de exercer
seus direitos, mesmo quando está em atraso escolar. Não é necessário apontar culpados para a
evasão escolar, é preciso sim, criar políticas públicas que facilite a permanência dos atuais
alunos na sala de aula, e para aqueles que abandonaram, que se dê condições para conseguir
superar as limitações e desenvolver as habilidades necessárias para a boa convivência social.
A EJA, embora tenha uma relevância social imensa, em geral, é vista com descaso, é
com se fosse uma forma de obter um certificado de conclusão de uma etapa escolar sem ter
adquirido os conhecimentos e habilidades necessários. Por conta disso acaba sendo
desprezado e isso não é uma realidade contemporânea, desde os primórdios, os relatos
históricos relatam o descaso com o ensino daqueles que tiveram, por algum motivo,
abandonar os bancos escolares e se dedicar a outras atividades.
Para tentar mudar essa realidade, o então presidente João Goulart, na década de 1960,
diante do quadro exorbitante de analfabetos no país criou o Programa Nacional de Educação.
E para coordenar as ações desse programa convidou Paulo Freire. E Feitosa (2019, p. 44)
destaca que essas ações culminaram.
com o lançamento do Programa Nacional de Educação com base no Sistema Paulo
Freire. Este Programa, que teve a efêmera existência de oitenta dias, apresentava-se
como possibilidade de superação do modelo assistencialista e compensatório que
fora imprimido à EJA desde seu surgimento. O Sistema Paulo Freire, ou Método
Paulo Freire como é conhecido, foi um divisor de águas na Educação de Adultos,
pois marcou a ruptura do paradigma compensatório e possibilitou uma compreensão
da EJA que a caracteriza, politicamente como um direito inalienável e,
metodologicamente, como modalidade com especificidade.

Embora os resultados no tempo em que o sistema ficou ativo fossem satisfatórios, a


ditadura militar impediu que o modelo fosse implantando em todo território brasileiro. Mais
uma vez ficou evidenciado a pouca vontade do poder público de dar um pouco de dignidade a
essa parte da população tão excluída
Vale destacar a proposta de Paulo Freire para a criação do referido sistema. O modelo
pode ser dividido em três momentos (ou etapas) bem distintos e são eles: investigação
temática; tematização; e problematização.
Na etapa da investigação, busca-se reconhecer o universo vocabular e o contexto no
em que o aluno está inserido e a partir disso o professor terá a possibilidade auxiliar na
14
ampliação da leitura de mundo dos alunos em suas práticas cotidianas. Para tanto, Feitosa
(2019, p. 36) destaca que,
o educador ou educadora poderá utilizar diferentes formas de investigação da
realidade: entrevistas, trabalho com textos sobre identidade, autorretrato, narrativa
oral, preenchimento de instrumentais que investiguem a situação social e econômica,
origem, preferências, níveis de escrita etc. Quanto mais se conhece os educandos,
maior a possibilidade de promover intervenções didáticas que os auxiliem a superar
suas dificuldades. Maior também será a possibilidade de inserir o debate sobre temas
significativos que os levem a refletir sobre as situações que permeiam o seu
cotidiano. Para que se possa exemplificar cada proposta, devem se apresentar
questões que podem ser utilizadas na caracterização dos educandos, que podem
servir de parâmetro para ilustrar esse momento do Método.

Destaca-se que é importante conhecer a realidade do alunado para que o professor em


suas práticas possa atender as especificidades de cada um. Todos os aspectos são
considerados, até mesmo a forma com a qual o aluno interage com os demais colegas e com o
docente. Promover a socialização pode ser o ponto de partida para a criação de vínculos
afetivos e trocas de experiências que serão fatores importantes para a ampliação das
aprendizagens.
É importante que o professor compreenda o contexto social onde seu alunado vive,
como é o nível de organização social, tudo isso pode ser utilizado para obter melhores
resultados frente aos processos de ensino aprendizagem e, além disso poderá direcionar os
conhecimentos considerando às reais necessidades do alunado, e não passando conteúdos
aleatórios que nem sempre faram sentido para os discentes, o que no que lhe concerne não
terá um resultado satisfatório.
Na segunda etapa, o educador sai do processo mecanizado das famílias silábicas e leva
os objetos do conhecimento para uma situação confortável e conhecida para os alunos, para
tanto pode se utilizar de tema geradores. E a partir desses temas propor momentos de
discussão, aprendizagens e soluções de situações problema. Feitosa (2019, p. 38), destaca que,
o tema gerador deve, necessariamente, emergir do conjunto de práticas de
investigação. Por sua vez, devem produzir a superação da visão ingênua e promover
uma visão mais crítica da realidade. Dada a complexidade de alguns temas, eles
poderão gerar também subtemas. O importante é esgotar todas as possibilidades de
compreensão do tema e garantir que as áreas do conhecimento ajudem nessa
compreensão.

O aluno da EJA já adquiriu em todo seu curso de vida inúmeros conhecimentos e estes
não podem ser desprezados. Talvez ele não consiga organizar todas as informações a ponto de
utiliza-las em seu favor, mas consegue se expressar diante de pontos específicos. Então a
partir disso o professor pode propor e simular situações que favoreça ao aluno expandir e
reorganizar essas informações transformando-as em aprendizagens.

15
Salienta-se que nesses processos, deve ser necessário que vincule a escrita com a
leitura, para que assim o educando compreenda que um está diretamente ligado a outro. Não
basta que ele consiga copiar integralmente textos elaborados que não consegue decodifica-los
e compreender suas informações. Um processo depende diretamente do outro, na prática a
leitura acontece de forma mais espontânea, embora necessite da intervenção do educador,
sendo assim Feitosa (2019, p. 38) destaca que,
no início do processo de alfabetização, a leitura deverá contar com a ajuda do
educador. Com o tempo, os educandos passarão a compreender como se estrutura a
língua e, num processo constante de construções e desconstruções, eles serão
perfeitamente capazes de decifrar esse código. Aos poucos eles irão ampliando a
compreensão que tinham da escrita e, gradativamente, irão substituindo suas formas
subjetivas de escrita pela forma convencional. Não se pode negar que eles chegam à
sala de aula com uma forma de escrita; e, por mais rudimentar que ela seja, deverá
ser sempre o ponto de partida para se partir rumo à forma ortográfica convencional.

Por fim, porém não menos importante, apresenta-se a etapa da problematização.


Quando se insere um ponto divergente em uma roda de conversa, por exemplo, o instinto
humano, tende a buscar alternativas para que a situação seja solucionada. Ao instigar o
pensamento do aluno para encontrar soluções, o professor dá a oportunidade de o aluno
pensar além do óbvio, de questionar os padrões e a partir disso construir novas possibilidades
e consequentemente conhecimento. Segundo Feitosa (2019, p. 39) a problematização “nos
permite questionar nossas certezas e procurar outras formas de ver o mesmo objeto. A
pergunta desestabiliza o óbvio, extrapola o senso comum e é um importante instrumento para
a superação da consciência ingênua”.
Essa é a oportunidade de desenvolver no aluno o senso crítico, a capacidade de ver as
coisas não tão automáticas e a partir disso ter condições que questionar sua própria realidade,
a estrutura onde está inserido. Terá a hipótese de se libertar da exclusão, pois conseguirá fazer
valer seus direitos, poderá exercer sua cidadania e poder de decisão, seja ela em qual instância
for. Feitosa (2019, p. 39), destaca ainda que
se não for questionada, a informação só informa, mas não conscientiza, não liberta.
O educador ou educadora pode fazer de suas aulas um campo fecundo de
conhecimentos e descobertas. Pode fazer da dúvida um caminho para a pesquisa,
para a reflexão, para o conhecimento.

Todas essas práticas alinhadas levam a observar o quanto a educação praticada de


forma democrática e com seriedade pode mudar a realidade das pessoas, seja ela em idade
adequada ou mesmo com distorção série idade. O trabalho com a modalidade EJA exige do
professor uma perspectiva de ensino aprendizagem que foge do padrão, pois esse alunado
necessita de um atendimento diferenciado, cada um tem suas especificidades e níveis de

16
aprendizagem e capacidade de assimilação diferente. Para tanto o professor precisa de
variados recursos para atender todos e assim conseguirem alcançar os objetivos estabelecidos.
Mais do que promover que um aluno da EJA aprenda a ler e a escrever, a modalidade
de ensino pode literalmente transformar a vida do indivíduo, pois com as aprendizagens abre-
se novas perspectivas e possibilidades. E o método criado por Paulo Freire vai de encontro a
essas necessidades, pois por meio dele, o professor sai do padrão utilizado em salas regulares
e apresenta novas propostas que vão atender de fato as necessidades dos alunos que por algum
motivo precisaram abandonar os bancos escolares e em algum momento da vida teve a
necessidade de retomar os estudos, mesmo que seja para se sentir parte da sociedade onde está
inserido.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho com a EJA é um grande desafio, pois se trabalha com uma grande
variedade de saberes, mesmo os alunos matriculados na mesma etapa têm níveis diferentes e
caberá ao professor identificar em que nível está cada um e a partir dessas informações definir
a metodologia que mais de aqueda a turma, pois a ideia é que os saberes sejam nivelados e
que todos consigam atingir os mesmos objetivos.
Não há uma receita pronta que seja totalmente eficaz e atenda as especificidades de
todos os alunos, mas existem possibilidades, Freire em suas práticas destacava que na EJA, os
objetos do conhecimento precisam estar diretamente ligados ao cotidiano do aluno e seu
contexto social, haja visto, que não se pode ignorar os conhecimentos prévios do aluno.
O professor precisa se atentar aos resultados individuais dos alunos, pois é importante
que todos consigam compreender e assimilar o que está sendo ensinado, para tanto o uso de
metodologias variadas para atender as necessidades individuais dos alunos é essencial, pois
cada um está em um nível de aprendizagem diferente e assimila de forma própria os saberes.
Ressalta-se que o professor da modalidade EJA, precisa constantemente estar em
contato com seu alunado, pois, quanto mais tiver informações de cada um melhor serão os
resultados, pois as aprendizagens serão direcionadas para as reais necessidades de cada aluno.
Mais do que nunca, nessa situação, o professor precisa pesquisar constantemente novas
formas de atuação e assim atender todas as demandas necessárias para o crescimento,
desenvolvimento e o sucesso do aluno.

17
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 2006.

FEITOSA, Sônia Couto Souza. A educação de jovens e adultos como possibilidade de


libertação do oprimido. In. PADILHA, Paulo Roberto (org.). Caderno de Formação – Como
alfabetizar com Paulo Freire. 1ª ed. Instituto Paulo Freire. São Paulo, 2019.

FEITOSA, Sônia Couto Souza. Como alfabetizar com o Método Paulo Freire. In.
PADILHA, Paulo Roberto (org.). Caderno de Formação – Como alfabetizar com Paulo Freire.
1ª ed. Instituto Paulo Freire. São Paulo, 2019.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 32ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

JESUS, Elijane Ferreira de. Metodologias de ensino aprendizagens aplicadas a sala da


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para o ensino de polímeros, 2009. Disponível em: <https://cutt.ly/hb6BYhq>. Acesso em:
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MOURA, Vera Lúcia Pereira da Silva; SERRA, Maria Luiza A. A. Educação de jovens e
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PIZZANI, Luciana. A arte da pesquisa bibliográfica na busca do conhecimento. Rev. Dig.


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3
SOUSA, Angélica Silva da; Oliveira; Guilherme Saramago de; ALVES, Laís Hilário. A
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TOKARNIA, Mariana. Necessidade de trabalhar é principal motivo para abandonar


escola. Agência Brasil. Disponível em: <https://cutt.ly/Kb6ZvWE>. Acesso em 20 maio de
2021.

4
TERMO DE CIÊNCIA E AUTORIZAÇÃO PARA DISPONIBILIZAÇÃO DO
PRODUTO ACADÊMICO-CIENTÍFICO EM VERSÃO IMPRESSA E/OU
ELETRÔNICA PELO CENTRO UNIVERSITÁRIO DE GOIÁS - UNIGOIÁS

Pelo presente instrumento, Eu, GABRIELLA GARCIA PEREIRA DOS SANTOS,


enquanto autora, autorizo o Centro Universitário de Goiás – UNIGOIÁS a disponibilizar
integralmente, gratuitamente e sem ressarcimentos, o texto METODOLOGIAS
FREIRIANAS APLICADAS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – EJA: AS
POSSIBILIDADES DE UMA ESCOLARIZAÇÃO TARDIA, tanto em suas bibliotecas e
repositórios institucionais, quanto em demais publicações impressas ou eletrônicas da IES,
como periódicos acadêmicos ou capítulos de livros e, ainda, estou ciente que a publicação
poderá ocorrer em coautoria com o/a orientador/orientadora do trabalho.
De acordo com a Lei nº 9.610 de 19 de fevereiro de 1998, tomo ciência de que a obra
disponibilizada é para fins de estudos, leituras, impressões e/ou downloads, bem como a título
de divulgação e de promoção da produção científica brasileira.
Declaro, ainda, que tenho conhecimento da Legislação de Direito Autoral e também da
obrigatoriedade da autenticidade desta produção científica, sujeitando-me ao ônus advindo de
inverdades ou plágio, e uso inadequado ou impróprio de trabalhos de outros autores.

Goiânia, __ de mês de ano.

_______________________________
Gabriella Garcia Pereira dos Santos
Discente

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Vanessa Maria Silva e Souza Pavan
Orientadora

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disponibilizada é para fins de estudos, leituras, impressões e/ou downloads, bem como a título
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Goiânia, __ de mês de ano.

_______________________________
Josy Mazeto Oliveira
Discente

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Vanessa Maria Silva e Souza Pavan
Orientadora

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