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CENTRO UNIVERSITÁRIO FG – UNIFG

PSICOLOGIA

CURSO DE EXTENSÃO PSICOFARMACOLOGIA DAS PSICOSES

CASSIELE SANTOS DE OLIVEIRA

ANÁLISE DOS TEXTOS DE FLORBELA ESPANCA ATRAVÉS DO LIVRO DE


MÁGOAS

GUANAMBI – BA

2023
LAUDO PSICOLÓGICO

1. Identificação

Pessoa atendida: Florbela Espanca

Finalidade: Avaliação de quadro clínico do transtorno depressivo maior

Profissão: Poetisa

Idade: 36 anos. Nascimento: 8 de dezembro de 1894, Vila Viçosa, Portugal.


Falecimento: 8 de dezembro de 1930, Matosinhos, Portugal.

2. Descrição da Demanda

O laudo visa, através da análise dos poemas de Florbela Espanca registrados em


seu livro, o Livro de Mágoas, analisar se, com base nos relatos deixados em sua poesia,
ela se encaixa nos critérios diagnósticos do Transtorno depressivo maior.

2. Descrição da paciente

Florbela Espanca (1894-1930) foi uma poetisa portuguesa, autora de sonetos e


contos importantes na literatura portuguesa. Foi uma das primeiras feministas de
Portugal. Sua poesia é conhecida por um estilo peculiar, com forte teor emocional, onde
o sofrimento, a solidão e o desencanto estão aliados ao desejo de ser feliz. Florbela
Espanca, nome literário de Florbela da Alma da Conceição, nasceu em Vila Viçosa, no
Alentejo, Portugal, no dia 8 de dezembro de 1894. Seu pai, João Maria Espanca era
casado com Maria do Carmo Toscano, que não podia ter filhos e autorizou o marido a
se relacionar com a camponesa Antônia da Conceição Lobo. Com ela, João Maria teve
dois filhos: Florbela e Apeles que foram levados para morar na casa do pai e foram
registrados como filhos de Antônia e pai “incógnito”, que só a reconheceu como sua
filha depois que ela morreu.
3. Procedimento

Análise do Livro de Mágoas de Florbela visando identificar sintomas que


encaixem nos critérios diagnósticos do Transtorno Depressivo Maior.

Critérios Diagnósticos – DSM 5.

A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo
período de duas semanas e representam uma mudança em relação ao funcionamento
anterior; pelo menos um dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda de interesse
ou prazer.

Nota: Não incluir sintomas nitidamente devidos a outra condição médica.

1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, conforme indicado por
relato subjetivo (p. ex., sente-se triste, vazio, sem esperança) ou por observação feita por
outras pessoas (p. ex., parece choroso). (Nota: Em crianças e adolescentes, pode ser
humor irritável.)

2. Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades


na maior parte do dia, quase todos os dias (indicada por relato subjetivo ou observação
feita por outras pessoas).

3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta (p. ex., uma alteração
de mais de 5% do peso corporal em um mês), ou redução ou aumento do apetite quase
todos os dias. (Nota: Em crianças, considerar o insucesso em obter o ganho de peso
esperado.)

4. Insônia ou hipersonia quase todos os dias.

5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis por outras pessoas,
não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento).

6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias.

7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que podem ser


delirantes) quase todos os dias (não meramente autorrecriminação ou culpa por estar
doente).
8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão, quase todos os
dias (por relato subjetivo ou observação feita por outras pessoas).

9. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação suicida


recorrente sem um plano específico, uma tentativa de suicídio ou plano específico para
cometer suicídio.

B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no


funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.

C. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra


condição médica.

Nota: Os Critérios A-C representam um episódio depressivo maior.

Nota: Respostas a uma perda significativa (p. ex., luto, ruína financeira, perdas por um
desastre natural, uma doença médica grave ou incapacidade) podem incluir os
sentimentos de tristeza intensos, ruminação acerca da perda, insônia, falta de apetite e
perda de peso observados no Critério A, que podem se assemelhar a um episódio
depressivo. Embora tais sintomas possam ser entendidos ou considerados apropriados à
perda, a presença de um episódio depressivo maior, além da resposta normal a uma
perda significativa, também deve ser cuidadosamente considerada. Essa decisão requer
inevitavelmente o exercício do julgamento clínico baseado na história do indivíduo e
nas normas culturais para a expressão de sofrimento no contexto de uma perda.

D. A ocorrência do episódio depressivo maior não é mais bem explicada por transtorno
esquizoafetivo, esquizofrenia, transtorno esquizofreniforme, transtorno delirante, outro
transtorno do espectro da esquizofrenia e outro transtorno psicótico especificado ou
transtorno da esquizofrenia e outro transtorno psicótico não especificado.

E. Nunca houve um episódio maníaco ou um episódio hipomaníaco.

4. Análise

Foi observado que Florbela apresenta os critérios de A – C, indicando um caso


de transtorno depressivo maior.
No critério A ela demonstra 7 sintomas, sendo 1, 2, 4, 6, 7, 8 e 9.

5. Conclusão

Através do levantamento de dados realizados a partir da leitura do livro, e


comparando tais dados com os critérios diagnósticos do DSM – 5, conclui-se que a
paciente avaliada se encaixa nos critérios do transtorno depressivo maior. Porém, é
evidente que em um laudo diagnóstico feito fora desse contexto uma análise mais
completa é necessária para chegar a um diagnóstico.

Ressalto a importância de dar atenção a tais sinais, todo sofrimento é passível de


análise e intervenção buscando evitar desfechos como o de Florbela.

Guanambi, 24 de fevereiro de 2023.


ANEXO

Neste anexo destaco trechos do livro de mágoas que possuem relação com os
critérios diagnósticos do transtorno depressivo maior

Poema Vaidade, p. 05:

“Acordo do meu sonho ... E não sou nada! ...”

Poema Eu, p. 06:

“Eu sou a que no mundo anda perdida,

Eu sou a que na vida não tem norte,

Alma de luto sempre incompreendida! ...

Sou aquela que passa e ninguém vê ...

Sou a que chamam triste sem o ser...

Sou a que chora sem saber porquê”

Poema Castelã da Tristeza, p. 07:

“Vivo sozinha em meu castelo: a Dor!”

Poema Lágrimas ocultas p. 09:

“Se me ponho a cismar em outras eras

Em que ri e cantei, em que era querida,

Parece-me que foi noutras esferas,

Parece-me que foi numa outra vida ...

E a minha triste boca dolorida,

Que dantes tinha o rir das primaveras,

E bate as linhas graves e severas


E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago ...

Toma a brandura plácida dum lago

O meu rosto de monja de marfim ...

E as lágrimas que choro, branca e calma,

Ninguém as vê brotar dentro da alma!

Ninguém as vê cair dentro de mim!”

Poema Torre de névoa p. 10:

“E pus-me, comovida, a conversar

Com os poetas mortos, todo o dia.

Criança doida e crente! Nós também

Tivemos ilusões, como ninguém,

E tudo nos fugiu, tudo morreu! ...

Calaram-se os poetas, tristemente ...

E é desde então que eu choro amargamente

Na minha Torre esguia junto ao céu! ..”

Poema A minha dor p. 11

“Nesse triste convento onde eu moro,

Noites e dias rezo e grito e choro,

E ninguém ouve ... ninguém vê ... ninguém ...”

Poema Dizeres íntimos p.12

“É tão triste morrer na minha idade!

E logo vou olhar (com que ansiedade! ...)

As minhas mãos esguias, languescentes,


De brancos dedos, uns bebês doentes

Que hão-de morrer em plena mocidade!

E os meus vinte e três anos ... (Sou tão nova!)

Dizem baixinho a rir: “Que linda a vida! ...”

Responde a minha Dor: “Que linda a cova!”

Poema Mais triste, p. 32:

“E não vêem que eu sou ... eu ... afinal,

A coisa mais magoada das que são?! ...

Poentes de agonia trago-os eu

Dentro de mim e tudo quanto é meu

É um triste poente de amargura!

E a vastidão do Mar, toda essa água

Trago-a dentro de mim num mar de Mágoa!

E a noite sou eu própria!

A Noite escura!”

Poema Impossível, p. 35:

“O que é que tem?!

Tão nova e sempre triste!

Faça por estar contente! Pois então?! ...”

Quando se sofre, o que se diz é vão ...

Meu coração, tudo, calado, ouviste ...

Os meus males ninguém os adivinha ...

A minha Dor não fala, anda sozinha ...

Dissesse ela o que sente! Ai quem me dera! ...

Os males de anto toda a gente os sabe!


Os meus ... ninguém ...

A minha Dor não cabe nos cem milhões de versos que eu fizera! ...”

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