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Epíteto, couraça, torpor - sem ressalvas – & etc...

Edmar Alves

Totem Records
2022

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Epíteto, couraça, torpor - sem ressalvas – & etc...
Edmar Alves

Totem Records
2022

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© Copyright 2022

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autor.

___________________________________________

Pinto, Edmar Alves


A474
Epíteto, couraça, torpor - sem ressalvas – & etc... / Edmar Alves Pinto.
Contagem: edição do autor, 2022.

282 p.

Inclui bibliografia

1. Literatura brasileira – Poesia. I. Título

CDD: 869
___________________________________________

Poesias, textos, imagens, revisão, capa & concepção por EDMAR


ALVES

Contato Edmar Alves – (31) 98773-6353 (somente What’sApp) /


edmaralves1972@gmail.com

Edmar Alves & Totem Records – em julho de 2022

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Para

Peter Steele (1962-2010)


Chris Cornell (1964-2017)
Stephen Hawking (1942-2018)
Flávio Migliaccio (1934-2020)
Mike Howe (1965-2021)

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"Melhor escrever para si mesmo
e não ter público do que escrever para o público
e não ter a si mesmo"

(Cyril Connolly 1903-1974)

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8
9
Sumá
rio
Prefácio............................................................................................. 11

Capítulo 1m - Retrospectiva reinventada............................ 15

Capítulo d2is – Obituário, duma tristíssima vida......................... 63

Capítulo tr3s – Soerguimento, memórias, hamsters, histórias,


relógios e manifestos................................................... 123

Capítulo 4uatro – Terminalidades......................................... 199

Capítulo cinc5 - Necrológio............................................................ 221

Posfácio............................................................................. 257

Sobre o autor.................................................................................. 265

Agradecimentos & Notas...................................................... 273

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PREFÁCIO
“Peço desculpas a todos, mas não tenho tempo de ser breve”
(padre Antônio Vieira)

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Considerações iniciais

“Não se tem outra escolha neste mundo a não ser entre a solidão e a
vulgaridade” (Schopenhauer)

Considerando os últimos 20 anos, nunca li tantos livros como em


2020/2021. Nunca assisti a tantos documentários como em
2020/2021. Nunca ouvi tantas bandas e seus CDs, k7 e vinis como
em 2020/2021. Nunca finalizei tantos livros sozinho ou em parceria
como em 2020/2021. Nunca olhei tanto para mim mesmo como em
2020/2021, me reavaliando e me (des/re)fazendo...

Quando as poesias morrerem.


Também morrerá o autor, o criador e o livro.

A invisibilidade como tema de poesia e de livro

"Escrever é estar no extremo de si mesmo" (João Cabral de Melo


Neto)

Durante o processo que vai da idealização à impressão e venda deste


artefato – popularmente chamado livro - nenhum deus foi louvado,
nenhum animal foi consumido e ninguém foi agredido!

Outro alerta: Quem não comprou ou leu os anteriores, não leia este!
É um conselho, um aviso, um alerta!

Este livro é nascido da solidão. Este livro é nascido do auto exílio. Do


isolamento social. Não haveria tempo melhor para este livro vir ao
mundo. E não haverá outro tempo pior para lê-lo quanto o pós-
isolamento social. O motivo? Será ainda mais incompreensível.

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Sua construção se delonga desde o nascimento de Versos Tétricos, e,
2003. Mas um livro não é somente a produção/confecção de poesias;
é também – e sobretudo – a construção de uma ponte, um viaduto,
um portão dimensional que possa ligar uma na outra e esta
construção durou todo o ano de 2020/2021. Portanto, trata-se de um
produto pandêmico, podendo ser classificado na mesma estante que
obras musicais como Quadra (do Sepultura), Obsequian (do
Paradise Lost), Genesis XIX (do Sodon), Titans of Creation (do
Testament), Generation Antichrist (do Onslaught), Scriptures
(do Benediction), Emerald Eyes (do Iron Angel), entre outros...

A banda de metal norte-americana Anthrax couverizou suas


próprias músicas no CD The Greater of Two Evils (de 2004) -
dando às músicas cantadas originalmente por Niel Turbin e Joey
Belladona à voz de Jon Bush. Mas não foi a única! Malice
também o fez. Bandas como o Six Feet Under, (nos CDs
Graveyard Classics 1 and 2), couverizou músicas alheias dando uma
interpretação bem particular como se fosse por eles criadas.

Também ousei fazer isso! Fiz com a minha poesia!


O livro inicia-se com releituras dos livros anteriores.
Porque fiz?
Fiz porque são de minha autoria e faço delas o que quiser;
transformo quando quiser, adapto, ou as enterro se também quiser...
Mas não é só isso!
Quero que a expressão de meu pensamento siga a minha existência!
Não desejo que meus pensamentos sejam enterrados antes de mim.

Matar o narcisista dentro de si

“A solidão é a última possibilidade antes da morte” (George Perros)

O sonho e a meta de todo escritor é que suas palavras alcancem


multidões, que as livrarias – as poucas que ainda restam – liguem
sem parar pedindo mais edições, mais títulos e momentos de
autógrafos. Um escritor quer que seu livro ou texto se transforme em
13
filme, novela ou série. Quer sempre mais público, mais leitores. Em
troca disso, vários até aceitam se vender, vender sua obra, sua
criatividade.

Ouvindo/assistindo a entrevista do Carlos Lopes (gênio criativo,


vocalista e guitarrista da banda carioca Dorsal Atlântica) ao
Gastão Moreira (grande comunicador e responsável, em grande
medida, por minha permanência no mundo da música), disse que ser
underground/extremo é ser independente das amarras das
gravadoras. Então ser um escritor independente é não se vender ao
mercado, é não escrever por encomenda talvez!

Auto exclusão/extermínio: Ser depressivo é auto exterminar-se a


cada dia, a cada instante, é tomar para si um não sequer ainda
emitido...

Não se quer nem tomar banho, descuidando-se da aparência, da


esperança de que amanhã será melhor. Vai se morrendo a cada dia,
dissolvendo-se sem ao menos perceber. O mal cheiro vem do ralo de
onde vamos escorrendo pouco a pouco. Alguns percebem. Outros se
afastam. Outros tantos nem percebem.

Auto exclusão/extermínio: obra depressiva é a materialização e o


registro, passo a passo, do desfazer-se do autor!

(inacabado)

Eis o livro que tem as cores desta vida, deste tempo e deste mundo...

Eis o livro partido/parido pela maior pandemia deste meu tempo...

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RETROSPECTIVA REINVENTADA

Capítulo

1m
Escritos de ontem ou antes de ontem reescritos hoje

"Quando os escritores morrem, eles se transformam nos seus livros.


O que, pensando bem, não deixa de ser uma forma interessante de
reencarnação." (Jorge Luís Borges)

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O CICLO DO NOME, O NOME DO CICLO
(Edmar Alves, em abril de 1996)

Um homem que se chamava gente que se chamava


humano que se chamava feliz que se chamava empregado que se
chamava amigo que se chamava assalariado que se chamava
virtuoso que se chamava respeito que se chamava
preocupado que se chamava desempregado que se chamava
inadimplente que se chamava pobre que se chamava
comum que se chamava povo que se chamava massa que se chamava
medo que se chamava ontem que se chamava pouco que se chamava
nojo que se chamava viúvo que se chamava filho que se chamava
pai que se chamava azar que se chamava sem-terra que se chamava
sem-teto que se chamava sem-rosto que se chamava
sem-identidade que se chamava qualquer que se chamava
coisa que se chamava objeto que se chamava favor que se chamava
distância que se chamava pedido que se chamava miséria que se
chamava descaso que se chamava semáforo que se chamava
papelão que se chamava ruas que se chamava noite que se chamava
horror que se chamava sobrevivência que se chamava
tiros que se chamava fuga que se chamava desdentado que se
chamava morte que se chamava enterro que se chamava indigente
que se chamava solo que se chamava caixão que se chamava vermes
que se chamava cinzas que se chamava origens que se chamava
esquecimento que se chamava terra que se chamava
esterco que se chamava fertilidade que se chamava
natureza que se chamava vida que se chamava geração que se
chamava verde que se chamava animais que se chamava clorofila que
se chamava insetos que se chamava arco-íris que se chamava flores
que se chamava perfume que se chamava jardim que se chamava
alegria que se chamava dia que se chamava prazer que se chamava
simbologia que se chamava dúvidas que se chamava rapidez que se
chamava fases que se chamava pressa que se chamava imprecisão
que se chamava
assassino que se chamava loucura que se chamava
dúvidas que se chamava pequeno que se chamava futuro que se
chamava pós-moderno depois de se chamar e ser moderno e atual,
atual e moderno que se chama-
-va
nome
sem
nunca precisar
17
de
um
nome.

18
O TEMPO
(Edmar Alves, em julho de 1996)

um tropeço

um ganho
uma doação
uma troca

um caminho

um perda
um achado

um ditado
uma frase
um diálogo

uma paixão
um amor
um mundo
uma pessoa
uma vida

uma tragédia
uma armação

um conto
um fato

um encanto
uma tristeza
uma alegria

um meio
um fim

uma ordem
um escravo
um servo

um mundo
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uma contradição
uma intermediação
uma espera
uma afirmação

uma luz
uma escuridão

um furo
um ferimento

um remédio
um remendo
um curativo
um vício
um veneno

um sonho
um pesadelo
um desespero

um
arrependimen
to

uma história
uma mentira
uma verdade
uma memória

um abuso
uma loucura
um absurdo

uma parte
um todo

uma
contemplação
uma
continuação
uma contaminação
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uma complementação

uma indagação
uma resposta

um gesto
uma difamação
uma negação
uma afirmação
um pedido

uma correnteza
uma onda
um vento

uma ida
uma volta
uma alternativa

uma geração
uma rotação
uma transformação

um som
um ruído

uma purificação
uma união
uma separação
um híbrido

um inicio
um medo
um choro
um sorriso
um acaso
uma fatalidade
um destino
um arremesso

um conselho
um consolo
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um projeto
um desenho

uma determinação

uma fuga
um protesto

uma palavra

um acerto
uma venda

uma conversa
uma solidão
uma notícia
um sentimento
um arrependimento

um constrangimento
um ensaio
uma apresentação
uma vaia

uma ofensa
uma briga
um encanto
uma ilusão

um protesto
uma raiva

um respeito
uma amizade

uma transgressão

um amigo

um luta
uma batalha
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uma disputa

uma deformação
um arranjo
um jeito

um período
uma época
um lugar

um numero
uma soma
uma divisão
uma multiplicação

um cruzamento
uma esquina

uma imaginação
uma figura
uma cor

uma dor
uma alegria
um retrato
um mito

uma flor
uma vida
uma morte
um assassinato
um suicídio
um basta

uma dependência
um vicio
um apoio
uma muleta

um atraso
uma sofisticação

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uma versão
um fato
um escrito

um tratamento
uma espera
um testamento

uma carta
uma ata
um bilhete

uma hipótese
uma prótese
um disfarce

uma confirmação
uma armação

um choro
uma doença
uma velhice
uma descaracterização

uma movimentação
uma paralisação
uma fila
uma data
uma dilatação

um conserto
uma convocação
um convite
um ingresso

uma conotação
um arranjo

uma curva
uma linha
uma reta
um círculo
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uma figura

uma analise
uma profecia

uma onomatopeia
uma metáfora
uma analogia
uma comparação

um animal
um homem
uma mulher
um ser

um propósito
uma relação

uma solidão
uma alteração
uma apatia
um fenômeno
uma anormalidade

uma harmonia
uma consequência
uma desorganização

uma cobrança
uma atividade
um trabalho

uma promessa
uma crença
uma inocência
uma prisão
uma pena

um fracasso
um tema

um carinho
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uma farsa
uma tragédia
uma fantasia

uma carga
um peso
uma leveza
uma sustentação
uma determinação

uma idade
um corpo
um rosto
um mofo

uma superação
um sabor
um amargo

um estilo
uma estética
um arquétipo
um modelo

um convencimento
uma realização
um conjunto
uma constatação

uma tentação
uma provocação

uma noite
um dia
um ciclo
uma lembrança

um futuro em que estaremos


um passado em que estivemos
um presente em que estamos

uma idéia de tudo que existe e que existiu


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somos apenas uma propagação
somos a continuação de tudo e de todos
que não deixarão de existir

tudo e todos somos partes do tempo que não passa

Assista, se quiser

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EU DE TÃO ALHEIO
(Edmar Alves, em julho de 1999)

E tens me reclamado todo o tempo


de que tenho andado muito alheio
e não sei até o momento
para que, além de ouvir o que não quero ouvir,
[este tão alheio, até aqui, veio

Mas não sei se quero estar mais presente do que este alheio
e conseguir não me afogar
neste mar tão... tão cheio
de mentiras, de meias palavras, de subterfúgios só para todos
[e a mim enganar

E tu, ainda, não sabes parar


e tu que, ainda, não consegues distinguir versos de amor de
[versos de dor
e tu que, ainda, não aprendeu, e além de não aprender,
[se negas a amar

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EXCEÇÃO
(Edmar Alves, em maio de 1999)

E você passava por mim


sem que eu soubesse
e você pede atenção para um agora,
ainda que eu não lhe desse

E eu que nem sabia que você existia


e procurava por um outro você;
sem nunca esperar que fosse,
você era, fosse quem fosse, que ainda era

E não sabíamos sobre esse encontro,


procurávamos quotidianamente
outros e mais, mais outros
e tudo que precisávamos estava ali, aqui, a nossa frente

E ainda que acreditasse ou não


num dia desses, seria
como é este agora todo esse agora,
como nunca pudemos prever que fosse um todo.

O outro teria o outro


- juntos -

agora...

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REGOGIZO
(Edmar Alves, em janeiro de 2000)

1.

Eu quase te chamo multidão

para que, em um amanhã talvez, possa esquivar-

-me de mais um não

bastaria, para ti, uma vida toda para ver-me então

como meu peito


como meus olhos são

meus sonhos anoitecem ao sol à pico

é um pedido do tempo... e não sei se fico

ainda sem
sei que se aproxima

e toca-me agora

procuras que acharás meu coração, perdido,

lá na curva do alto mar,

esperando ouvir sinais, além dos de flores, por ti, pisoteadas

2.

Desejo ser-te o verso de teu livro

ou

a palavra de uma poesia que gostas,

é o que deseja (o tempo) já há tempo

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CADÁVER
(Edmar Alves, em julho de 2000)

1.

afaste-se!
hoje eu não quero
absorver suas tristezas;
não quero chorar

e se for para morrer,


quero flores: muitas delas

2.

lençóis sobre lençóis


delicadamente dobrados,
limpos e perfumados

deixaram a cama,
onde se encontravam...
onde nos encontrávamos...

para aquecer
o frio – e agora rígido – corpo
que não mais acordará de seu sono

(de meu sono: o meu corpo)

3.

chute o sol para o lado


que já vem a noite

(e é onde vivo um pouco de minha sobrevida)

e ainda faltam mil anos


para se morrer
definitivamente

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CATARSE
(Edmar Alves, em outubro de 1999)

I.

o inverno veio para entristecer-me,


para que eu possa conhecer
mais sobre mim

o inverno veio para possuir-me,


para ver a lágrima
de meus olhos correr

veio ter-me,
mas digo não estar

não me venha falar


sobre tristezas,
pois já senti quase todas

(as conheço pelo nome,


e não preciso
que me ensinem tais
tristezas)

pensava não sentir dor,


ao que agora,
contento-me por procurar entendê-la

passaram por mim,


amigos cuja qualidade
não pagaria nem por uma vida inteira

II.

vejo como é forte minha mãe


e procuro entender
o que se passou

III.

reunir-se para falar sobre música,


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ouvir música,
discutir política e vida,
chorar mágoas

é o que nos resta


fazer
com os (e)ternos amigos

IV.

sinto uma perda


aproximando-se
e
que tem tocado em meu ombro
todos os dias

agora sei
que não há o eterno sim

e não sei porque


fui amar assim

acho que não quero mais viver


esta forma amor,
quero pôr fim a esta dor

V.

estes são versos amadurecidos


pelo crescimento da barba do tempo no homem

não são como outros,


de outros tempos

onde tenho me perdido pelas dobras do tempo


feito obras do pensamento não crescido

VI.

a sensação de se perder,
a dor do acabar

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(no nunca mais)

é tão diferente
é sempre a mesma:

vazio
exis-
-tencial

Assista, se quiser

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CONCEITOS SIMPLES
(Edmar Alves, em julho de 1999)

ou
sobre problemas... ...situações transbordadas

sobre tendências... ...propagandas faladas

sobre conceitos... ...ideias em axiomas

sobre enredos... ...narrativas esticadas

sobre suspeitos... ...gentes acuadas

sobre modernos... ...tempos intimidados

sobre consciências... ...posições consagradas

sobre sombreados... ...olhares hasteados

sobre instrumentos... ...pensamentos


musicados

sobre trovas...
...poesias meninas

sobre provérbios... ...pensamentos


duradouros

sobre insistências... ...que pedem providências

sobre máximas... ...coisas ultrapassadas

sobre visões... ...ares afixados

sobre poesias... ...construções a eternizar-se

sobre sonetos... ...poesias de ontem

e
sobre silêncios... ...palavras abortadas
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sobre, sobre o que se falar ainda?

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DIVÃ:
(ou poesia que pode ser chamada de vislumbre)

(Edmar Alves, em abril de 1999)

:os dias de ação a espera de reação de meu corpo por minha vida
de reação
de meu corpo
por minha
sobre-
-vida
já são lembran-
-ças
distantes
destes dias
é pouco de mim
que sobrevive
agora

...restando apenas
opacas (e desarmônicas) relações
entre deselegantes
meias-palavras,

que não são mais


que ensaios por resistir
a perda,
resistir a
agudos
sons que ecoam
num peito de um
cor-
-ação que bate
pouco...
depois de tantas
e fecundas paixões
que já não resistem
( insistem )
que fazem
deste
deslize, desfile de quase-quase-quase (etecetera)
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palavras em folha de
120 g/m2, que
fazem
desta apenas resistências
resistentes militâncias
de
pensamentos
de mundos pretéritos
preteridos
por sonhos esquecidos
construídos

em

dias

som-
-brios.

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ELEFANTES EM MARCHA...
(Edmar Alves, em janeiro de 1999)

Quando estiverem melhores as coisas


que dizemos melhor adeus

Quando sorrisos forem ouvidos


saberão que saiu sem ter dito nada

(que falasse sobre o lugar para onde


se vai) (sem que perguntasse, que
respondesse)

Que ficarão! ficarão? ficaram lembranças! ...se


ficaram se ficarão? -sem que se possa dizer não
porque dizer não?

Ouvir-se-ão comentários cochichos buchichos sussurros estalidos


d de assuntos diversos

É sobre alguém que


vai
sem dizer alguém sobre pessoas que
vão

dias que se passam

ponteiros revelam
luares com poesias e
escritas
ouvidas
pronunciadas (esteticamente desorganizadas)
9
(como que orações de sem-fé

fé!
fé de sem-fé
que gozo!
que ódio!
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que nojo!
que palavras secas
castanhas - em extinção -
do-pará que não conheço)

Sede nó garganta

e se olha para trás


procura por ninguém
e não se encontra tempos

que não pertencem mais


quem não encontra tempos

e agora que se fale pouco já há muito


o que se lembrar, o que se calar se lembrar ainda

...que se dirá adeus


se melhorarem as coisas
quando melhorarem

há que
muito
se lembrar

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CONCATENAÇÃO II
(Edmar Alves, em abril de 2000)

: pessoas: ventania: processo


: os sons (ouça)

conceitos: regularidades: leis

singularidades: acaso

constâncias: ficâncias: querências

rupturas: descontinuidade

Assista, se quiser

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YEARNING
(Edmar Alves, em janeiro de 1999)

enraizados,
olhos
vêem so-
bre
o
que pouco
se vê

convencer-
nos
de nosso
destino
em comum

(fazer
amor
como se faz
arte)

eu o
tenho
em meus
- olhos

61
Assista, se quiser

62
OBITUÁRIO DUMA
TRISTÍSSIMA VIDA
Capítulo d2is
A contração de uma preposição com outra palavra – neste caso, um
numeral - é um processo natural na língua portuguesa e consiste em
uma forma abreviada de ser a vida

"A vida só tem sentido depois da morte"


(David Ramon)

63
TALVEZ SEJA A ÚLTIMA NOITE E NÃO DIREMOS MAIS
NADA
(Edmar Alves, em dezembro de 2019)

Sobrarão apenas lembranças


Sobrarão apenas desejos contidos
Sobrarão apenas lágrimas ao chão
Sobrarão apenas escritos sobre a solidão

A tragédia deste mundo é que ninguém é feliz


Estão presos numa época de dor ou de alegria

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EPIFANIAS E MAROLAS
(Edmar Alves, em dezembro de 2018)

1. Epifanias

A morte se faz presente pela ausência dos sons do piano

A presença da despedida se faz com os CDs levados embora

E a estante ficou vazia

Quase ninguém entendia as milhares de suas idiocrasias

Entre elas mais de 20 versões de Pachelbel

Está frio hoje


Estou solitário

Esperando fazer se que se a fazer


À distância quase tudo é perfeito
Cara-a-cara é impossível – já ouvi isso

As decisões difíceis são as mais difíceis de decidir-se

Janelas fechadas
Portas fechadas
Nenhuma fresta permite sol, luz, ar

Alívio substitui vitalidade


Logo depois de 4 vezes

2. Marolas

Como se mede a dor de ser eclipsado pelo desejo alheio?


E quando se fecha a ferida?
E se não fechar?

66
A MATA DE KRASBERG
(Edmar Alves, em dezembro de 2017)

Para Frans Krajcberg (1921-2017)

Krasberg plantou árvores (vivas) e com as árvores (mortas)


Viveu sozinho para o mundo
Denunciou a fumaça que impedia o sol
Produziu do ambiente um meio de uma vida inteira

Será cinzas em breve

67
PATERNIDADE
(Edmar Alves, em dezembro de 2019)

Uma música
Um CD
Um livro, uma poesia
Também é filho
Enquanto se quer

68
FLASH-BACK
(Edmar Alves, em novembro de 2012)

Para MAMP

(a)

Talvez eu fosse capaz de saltar da estratosfera rumo ao oceano


índico

Talvez eu fosse capaz de,


Carregando você no colo, atravessar uma área reservada aos leões
no zoológico
E, sem ferir qualquer animal,
de usar uma mesa de pernas para o alto como barco no rio
Amazonas

Como acreditar em discos voadores


Como acreditar em um coqueiro que dá amora
Como acreditar em uma criança que voa

Como tudo o que parece estranho


e ninguém acredita,
eu amo você

Não é que eu não possa ficar sem você,


É porque eu não quero viver sem você

II.

Agora eu sei o que me faz falta...


Agora eu sei o que me fazia falta...

Antes de te conhecer.

Eu sei o que era pouco em mim antes de você


Apenas agora, eu sei o que me fazia falta antes de você

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7.4
(Edmar Alves, em maio de 2015)

1M
Os terremotos, um após o outro
– forças interiores do planeta –
tentam
abalar a confiança e a fé
que os
nepaleses
tem em si mesmos
– forças interiores das pessoas –

Tentam...

DO2S
Os cães nepaleses não estão ficando sem seu almoço:
uma cortesia das mães de cachorros

TR3S
Os nepaleses foram descobertos no mapa mundi,
para a surpresa de todo o mundi

Q4ATRO: Gran finale


Quando os marinheiros & comandantes são corajosos o suficiente
(e tem em mente seu objetivo),
após a tormenta,
sempre trazem de volta para casa o seu navio

C5NCO: outro
“A mãe e a terra-mãe valem mais que o reino dos céus”

De pé nepaleses!!!
De pé... pois os nepaleses é o povo mais feliz do mundo

70
10.000 TON’S DE RIFFS
(Edmar Alves, em janeiro de 2013)

Para Jeff Hanneman (1964 – 2013)

(solo Hanneman)

Rifss Rifss
Rifss
Rifss
Rifss
Rifss
Rifss
Rifss
Rifss
Rifss
Rifss
Rifss
Rifss
Rifss
Rifss
Rifss
Rifss
Rifss
Rifss Jeff

(2X)
Certeiros
Assustadores
Inesquecíveis
Irretocáveis

E, desde agora,
imortais!

Assita, se quiser

71
PATRIOTISMO EFÊMERO FESTIVO
(Edmar Alves, em setembro de 2014)

Versão 1

O patriotismo de alguns dura tão-somente 45 minutos


O de outros, 2 tempos de 45

No máximo, estende-se à prorrogação

E ponto (apito) final!!!

Versão 2

Patriotismo de várias pessoas dura 90 minutos com 15 para descanso


Alguns são mais patriotas: tem prorrogação e pênaltis!

72
73
PARABÉNS PARA QUEM PERGUNTOU
(Edmar Alves, em março de 2018)

Para Marcelo Dolabela (1957-2020)

Botero chorou as dores da colômbia, seu país


Nós choramos as dores de Botero em meu país

Havia várias multidões


Em cada multidão
Alguns rostos pouco anônimos
Tentaram ser alguém aos nossos olhos

Conhecimentos
em doses homeopáticas
É a receita da UFMG

Entre os mil discos da história – do Dolabela – havia, aqui e aí –


metal
É para fazer a liga

Uma sala em movimento


Uma, duas, todas as perguntas
De todas as crianças do mundo
Todo de crianças

Uma vida em movimento


Os adultos perguntam pouco
- e por isso são tão monótonos

E parabéns para mim


E parabéns para você
E parabéns para todos que perguntaram

74
OS CIDADÃOS, OS COMPANHEIROS E OS CAMARADAS
(Edmar Alves, em junho de 2013)

O Vietnã venceu a França


O Vietnã venceu os EUA
O Vietnã venceu o Khmer Vermelho e libertou o Laos

Vivas ao Vietnã!

75
QUE NÃO SE PERCAM OS PAIS
(Edmar Alves, em julho de 2016)

Há que se perder o juízo


Há que se perder os anéis
Há que se perder a cabeça
Há que se perder a ternura
Há que se perder no tempo
Há que se perder os sonhos
Há que se perder no caminho
Há que se perder com os outros
Há que se perder no mundo
Há que se perder o momento
Há que se perder tudo
Mas não se perca nunca os pais! Ah... isso não!

Não os pais – nem os meus, ou os seus, ou os dele –

76
DESENHO
(Edmar Alves, em fevereiro de 2013)

Para Betânia Lobato

Meus logotipos de adolescente nunca atraíram o olhar de um(a)


professor(a) de artes
Guerras espaciais nasciam das páginas de meus desenhos

Cidades brotavam de simples linhas


Populações inteiras em suas casas

Mas a política sim, interessava a mim e a ela

77
QUASE SEMPRE O AMOR É UM SENTIMENTO MALDITO
(Edmar Alves, em setembro de 2019)

Para RSP

Começa na ardência dos corpos e quase-termina num dito mal dito


que não se sabe do porquê nasceu e como deve ser sepultado

As lágrimas não cessam


Regram chão infecundo
sem nunca torná-lo fértil outra vez
Nem mesmo se finda nesta vida
para começar de novo
Mesmo porque nunca se começa o novo
e nunca se começa de novo

Pois a janela ainda é a mesma


Debaixo olho dia-(h)a-dia
E o sonho
torna TUDO a mesma memória repetida da última vez que fui
chamado
a deitar em dois para ser um só,

Repete
Repete
Repete

Vai se tornando só memória

E aí, sempre se sabe,


Mistura-se a memória
a confusão,
o medo,
o ódio porque não

A mentira para tentar ir a diante


- mas não vai -
e o ódio repetido
e a espera pelo arrependimento
(Até tem torcida pela_)

Mas...
78
Não volta
Não se arrepende
Não se anula esta parte da vida e do tempo

Por isso o maldito amor torna o tempo em que se finda eternamente


e a vida que insiste em se alongar também malditos

E, também, por isso!

Em poesias
músicas
lápides
livros

Sempre alguém preterido por alguém sempre, sobre o amor,


terá assuntos mal ditos a se dizer deste sentimento que alegra as
pessoas
em muito breves momentos...

79
80
END OF TRANSMISSION
(Edmar Alves, em abril de 2010)

A morte nos faz pensar


Produz pensamento e reflexão

Mar cego
Morcego assistindo

Uma vida inteira vivida


Uma vida interna vivida
Uma vida integral sonhada
Mas ninguém nem alguém vivem uma vida inteira

Foi inteira para quem ficou


Nunca é inteira para quem partiu

Para lugar algum

E quase não tínhamos mais que palavras, que saudades, que lugares,
de ausências

E a presença será sempre uma ausência sempre; sempre; sempre

81
ENTREVERO
(Edmar Alves, em agosto de 2014)

A menos que uma


seja uma tutsi
e a outra uma hutu;
e ambas tenham em mãos um facão e estejam em Ruanda

A menos que uma seja


uma kamikase
e a outra um fuzileiro naval norte-americano
e ambas estejam uma no campo visual da outra em plena Segunda
Guerra Mundial

Uma católica
a outra protestante em pleno século XVI
ou na Irlanda do século XX

Uma, o Tom
Outra, o Jerry
após uma provocação deste

A menos que uma seja xiita


e a outra sunita
e ambas morem hoje no Iraque pós-invasão norte-americana

Tudo isso terá sido um entrevero – dos feios; admito –


Mas nada que não seja irreconciliável

82
EPISÓDICAS PERCEPÇÕES
(Edmar Alves, em outubro de 2005)

Um passarinho morreu
percebi ao CAÍ-LO

Chorei

Pessoa querida morreu


percebi ao SAÍ-LO

Chorei
mais

Eu pessoa morri
percebi ao SENTI-LO

Anos antes
chorei
ainda

Recebi pelo correio um bilhete


dizia que somos predestinados

Enganei-me com uma mensagem pelo rádio


dizia que somos

83
TEORIA MIASMÁTICA SOBRE AS PESSOAS
(Edmar Alves, em outubro de 2019)

O mundo será das pessoas tóxicas


Elas se reproduzem rapidamente
Elas se formam rapidamente
Elas intoxicam rapidamente

Elas raptam a nossa mente

84
Entenda, se quiser

85
ESPERA-ESQUINA
(Edmar Alves, em junho de 2007)

Ou se espera pouco, muito pouco


Ou nada se espera mesmo

E se está
numa espera-esquina

Adiante quase nada é possível


Voltar, mesmo a um historiador
é assinar procuração ao desconhecido

Esquerda ou direita
são quase a mesma coisa,
é quase coisa nenhuma

Sabe quando se vive com quem se pensa conhecer?


Sabe quando se vive consigo mesmo pensando se conhecer?
Sabe quando se chega à questão: quem conhece quem? Alguém se
conhece; e
Sabe quando se esquece o que quer, e o que fazer, por qual motivo?

E está-se
numa esquina-espera,
onde tudo é uma simples questão de escolha

São mil vidas


numa infinita fração de tempo
Tempo desconstruído após uma experiência de quase morte
Quase; ou morte
Falta-se sorte, falta-me sorte

86
ANATOMIA DA DOR
(Edmar Alves, em junho de 2007)

Boa sorte é boa morte


Morte/sorte

Há momentos... dias... meses...


Tão sombrios quanto a noite, escuro tanto quanto a noite
Há eu’s e outros
Tanto quanto a noite

Quando eu confundo-me com o outro


Nós, com a noite

E a sombra não tem mais forma


E o peito dói até a que a morte não chegue,

E, sobrevivo
infelizmente
E sei que quase morrerei novamente; e em breve

87
FRAGMENTOS DO CASTELO
(Edmar Alves, em janeiro de 2010)

Um cão atropelado por um carro na avenida São Francisco


Comoveu dois outros cães

Não achava que ficariam


mas ficaram

II

E estão colorindo a entrada


e estão colorindo os olhos de chegada
e estão criando outros motivos de ficagem

Se reproduzem,
se alastram
e seus cuidados se formam

seu...

III

Ela me lembrou que a semente tem uma árvore dentro de si


É muita coisa,
É muita vida

Muita coisa dentro de tão pouco

Lembrei que a semente é uma árvore em potencial

IV

Outras relações possíveis

Um pássaro está contido em um ovo


Uma ideia contém o universo

88
VI

9h a 10 para as 10
Quem diz que chegar já chegou e virou passado

VII

Ainda estamos esperando quem prometeu vir

89
90
91
IDÉIAS ASSOCIATIVAS
(Edmar Alves, em outubro de 2011)

Não quero beber para não acordar

Não quero fingir que não é comigo

Não quero sonhar


a mesma coisa
todas as noites

Não quero trocar


muito por
nada

Não quero comer e cuspir


Não quero ter que mentir

Não quero dar meus livros e discos


Quero ter sempre
alguma coisa parar levar

Não quero não lembrar


Não quero não ter o que falar

Não quero não ter para onde voltar


Não quero não ter para onde olhar
E não quero não ter para quem avisar
Não quero não poder ser eu

Não quero trocar as vogais por pontos finais


Não quero não poder reconhecer os teus sinais

Não quero parar num semáforo qualquer


Não quero saber de ninguém sem histórias
Não quero ouvir de ninguém que não respeita nossas memórias

Não quero não saber quem sou eu


(Quem sou eu?)

Não quero me perder no calendário


Não quero passar por otário
92
(pois os risos são sempre em vão)

Quero sempre conseguir gritar não


e sempre que quiser poder dizer sim

93
94
HOLDING HANDS
(Edmar Alves & Hannah, em setembro de 2011)

Holding hands
we walk on sand
for hours

During this things


happened

I something
wanted to keep
each of these moments
in a empty shell…

During this the world


turns around

Each moment,
good or bad,
in a empty shell…

Each moment,
good or bad,
for the two of us

During this things


happened
Far from us

To keep… this empty shell


full of memories

95
J.P. TEIXEIRA: homem de história
(Edmar Alves, em agosto de 2007)

Para João Pedro Teixeira (1918-1962)

João Pedro Teixeira


Cabra marcado para morrer
Segundo seu filho, homem santo
Segundo sua esposa, homem exemplo

Lutou por sua vida


Lutou por sua família
Lutou por seu ideal
Lutou pela liberdade

Lutou contra o latifúndio


Crime impune
Impune como tantos outros
Pelo grande interior do Brasil afora

2 de abril de 1962
2 PMs e latifúndio de Sapé
consolidou o movimento de luta camponesa no Brasil

trabalhadores expulsos do campo


famílias expulsas de suas vidas
mulheres e homens e criaturas
expulsas de seus sonhos

João Pedro
assassinato
levando livros para seus filhos

e quem leva livros p/ seus filhos


é sempre um grande homem

Elizabeth Teixeira
Viu seus 10 filhos separados de si pelo regime militar

96
MEMORIAL
(Edmar Alves, em janeiro de 2008)

Todo mundo tem uma história


Toda história tem um mundo

Surdos
Mudos
Falantes
Cantantes
Saltantes
Historiantes

Cada um tem uma foto


Tem o que dizer
Tem o que mostrar

Aconteceu na rua
No bar
No parque
Durante o aniversário de 10 anos

Todos têm o que dizer


Sobre o que sentiram
Sobre o que mentiram
Ou sobre verdades
Eternas
Dos outros
As pessoais

97
O PEQUENO QUE VIROU GRANDE
(Edmar Alves, em setembro de 2012)

Para José Bezerra, motorista que evitou um acidente em 27


de setembro de 2012 no Anel Rodoviário, BH

Talvez tenham sido os 3 quilômetros mais longos da vida deste


motorista; e de tantos outros

E o pequeno parou o grande


E o pequeno salvou vidas

E ele parou o tempo


E ele parou a morte
E ele parou o sangue
E ele parou a vida (para que pensássemos)
E ele parou...

Viu num filme e enganou a sorte

98
MENTAPSICOSE
(Edmar Alves, em dezembro de 2011)

Rabiscos papéis
Até o fim da tinta
E não saber
Quando parar, porque

(Temer amanhã)

E não saber por onde flui

Por vezes deixo


O meu corpo
E às vezes o esqueço

Volto para buscar

(Temo não encontrar)

99
Assista, se quiser

100
NO VALE DA SOMBRA...
(Edmar Alves, em fevereiro de 2011)

Domingo, 27 de fevereiro. Dia em que minha mãe visitaria minha avó


Pedrolina
e sua irmã caçula Luciene.
Não foi. Preferiu ficar em casa... pensando na via e na morte (rápida)
de sua amiga Juraci.
Foi-se rapidamente: Câncer. (- retificando... trombose).
Seu ex-marido avisou.

Ao visitar minha mãe


a ouvi falar dessa longa amizade.
Mesmo depois de ir morar em Sergipe; voltava todos os anos para
uma conversa.
Na última visita deu mostras de fraqueza.

Minha mãe estava muito triste


e me lembrei do filho caçula de Juraci, meu amigo de infância,
Sérgio.

Pensei no Sérgio,
na Juraci,
em minha mãe
e na vida

Escrevi estes versos logo após ler “No vale da sobra” de Carl Sagan

101
102
BICENTENÁRIO
(Edmar Alves, em agosto de 2014)

Para Robin Williams (1951 – 2014)

Há homens bicentenários
que não querem ser bicentenários
e
abrevia em mais de um século a sua imortalidade

Há homens que ensinam poesia carpe diem


aos seus alunos carpe diem
mas
sabem que a abreviação pode estar bem próxima

103
BONS COMPANHEIROS
(Edmar Alves, em outubro de 2012)

Para Décio Marques (1947-2012)

Nem tenho mais certezas


Que a Sacolinha é real

Passa correndo entre os carros


Que quase não se vê

Era a companhia de Bob e Colega (Pretinho)

Está sozinha agora


Não chega perto de ninguém
Vive seu inferno particular

Não diz nada


Só olha
E olha sempre de longe

Como se fossemos um de seus agressores do passado


Mas talvez sejamos os do presente
(e que presente...)

104
REALISMO FANTÁSTICO
(Edmar Alves, em março de 2012)

1. Sobre os sentimentos

Nenhum sentimento
Nenhum
- Peço que se frise, que se grife –
Nenhum
Sentimento é eterno

A não ser quando


O olhamos pelo
Retrovisor

2. Sobre os relacionamentos

Nenhum relacionamento
- Peço que se frise, que se grife –
Nenhum
Relacionamento é eterno

A não ser quando


O olhamos pelo
Retrovisor

3. Sobre as instituições

Nenhuma instituição
- Peço que se frise, que se grife –
Nenhuma
Instituição é eterna

A não ser quando


O olhamos pelo
Retrovisor

4. Sobre as pessoas

Nenhuma pessoa (ainda que se pense que sim)


- Peço que, novamente, se frise, que se grife –
Nenhuma
105
Pessoa é eterna

A não ser quando


Utilizamos o critério da
Saudade

106
5. Sobre as demais coisas

Nenhuma das demais coisas ainda não citadas aqui


- Peço que se frise, que, novamente, se grife –
Nenhuma é eterna (mesmo que se passe uma vida acreditando ser)

A não ser quando


O olhamos pelo
Retrovisor

E utilizamos o critério da
Saudade

107
SINGULARIDADE
(Edmar Alves, em abril de 2015)

Tem coisas
boas e ruins
que nunca mais
se
repetirão

O problema: são as boas!

108
RAPSÓDIAS PERCEPÇÕES
(Edmar Alves, em outubro de 2005)

DESmorrendo
até anos antes
da própria morte

é como uma morte continuada

percepções
esporádicas
contínuas
permanentes
alternativas
silenciosas
imagéticas
indistinguíveis

e
presentes

DESmorrendo
até anos antes
da própria sorte

109
QUINTESSÊNCIA
(Edmar Alves, em agosto de 2019)

E agora serão só lembranças...

Ela está escolhendo se fica ou se vai...


É um momento crítico

Sobre a noite mais escura de todas as vidas inteiras de todo o mundo


Sobre a parte mais triste de qualquer história triste
Sobre o sonho mais horrível de todas as mentes... que arranca o
coração do peito
Sobre a vida mais solitária sobre a qual literatura ou música alguma
fez qualquer um sentir sequer 1/10 de sua profundidade

Sobre a palavra mais tristemente melancólica


agora descolada do dicionário e estampada na minha testa

E tem sempre alguém querendo conselho, ombro e palavra amiga


para se confortar
Como se eu não fosse humanamente humano para também sentir
dor...
e nem falo que qualquer dor, mas uma dor em especial...
Aquela que pode nos arrancar da vida e nos levar a nada após a vida
Que não seja uma breve saudade
Que passa logo... como um bando de pássaros sobre nossas cabeças
Que logo passa... como um choro torrencial de um minuto dentro de
um segundo
Que passa... e ninguém mais será igual ao que foi a um pequeninho
tempo-fração-de-vida atrás

Sobre não querer ser eu mesmo por enquanto


Por um segundo enquanto... não se é o mesmo

Sobre não querer ser eu e também ninguém mais


Porque qualquer vida é nada de necessário agora

Porque qualquer vida é alguma coisa que eu queira ser

Porque pouco quero ser agora


Porque...

110
FUTILIDADES
(Edmar Alves, em junho de 2003)

I.

a diplomacia e a boa educação nos impede de faltar


ao velório
daquele que sempre nos quis morto

II.

para que tantas honrarias


para que tantas homenagens
para que tantos discursos
para que tantas menções
para que tantas demandas
para tudo terminar numa placa de praça

- futilidades:

(...)

e numa placa
placa de praça repousam inquietos alguns homenageados. E tão logo
são esquecidos

III.

e logo vem a “ordem da serviço’

troca-se a placa
no trocar de gestões

(homens são homens; ou melhor, homens são isso)

111
CALENDÁRIO
(Edmar Alves, em outubro de 2012)

O dia é sol solo

Uma lua vencida

A noite,
dias passados

112
CÍRCULO TOTEM
(Edmar Alves, em junho de 2007)

Ainda sonho
Sou meu pesadelo

Corro riscos ao pensar viver


Como riscos ao morrer várias vezes

Sou tudo
E sou nada
(vice-versa)

sorte
azar
indefinição

não sou o tempo mais passo


sou, sou o tempo e fico

sou chuva que cai


sou homem que se vai

Tudo que me chama cai


Tudo que me espera vai

Eu Sou o inatingível
No tangível
Horizonte
Do ver-se-pode
Daquela janela

Sou o perceptível
No preferencial
Abismo
Do sim-ou-não-sim

Obstáculos
Múltiplos oráculos

Substantivos abstratos
Rasos
113
Em secos poços

Solitário
Uma pedreira

Uma porrada de pedras


Surgiu de uma única pedra
Outrapedra
Outras tantas pedras
Fez surgir inúmeras casas
Das fundações, pelo piso, ou teto

114
Uma chuva
Pingos diversos em mesma direção
Paralelos e incansáveis
Nasceram de um único pingo

Caído na testa
E escorrido pelo rosto da criança
Atrás da sua bola
Um mar, outro mar-oceano
Deixou os olhos da garota
Que ainda espera por mais que 3h pelo seu amante desaparecido
amante

Um livro
Dos grandes, ou nem tanto assim
Confeccionado a partir de uma única e solitária ideia, antes letra

Pedra pedreira
Pau pauleira
Rock roqueira
Merda certeira

Água

De prolongar postumamente algumas lembranças


De pedra em pedra...
De pingo em pingo...
De ideia em ideia...

Filhos, esposa, marido, casa e futuro, seguro de vida, emprego,


estabilidade

Escova de dentes no armário do banheiro, horário para deixar filhos


na escola, cabelos e barba branca

Novo chefe
Vizinho incômodo
Problemas de relacionamento
Contas, contas a pagar

115
CÍRCULO V-V
(Edmar Alves, em maio de 2010)

A pessoa virou objeto


O objeto virou metáfora
E a metáfora virou meta
E a meta virou outra pessoa

E a pessoa virou outra pessoa


O objeto virou outro objeto
E a metáfora virou outra metáfora
E a meta virou outra meta

E a pessoa virou metáfora


(...)
E a meta virou outra pessoa

116
AS CARTAS
(Edmar Alves, em outubro de 2003)

mulher esquartejada por marginais


homem: amor que se mata
não poso mais viver sem este amor: o mundo não nos merece
junta-se a sua amada na sepultura
leva vinho, caneta e papel para lhe escrever poesias

não há amor sem sofrimento,


e não há felicidade sem amor

cartas
garota escreve um romance para a escola baseado em um romance
ocorrido tempos atrás reconstituído a partir de cartas que ninguém
havia lido, encontradas em um velho baú. inicia um trabalho de
investigação (historiadora e detetive)

todo aquele que ama é imbecil


todo aquele que não ama é imbecil
e
podem chamar-me de amante
e meu sobrenome é imbecil

(de um romance ainda sem nome)

ela disse não


os rapazes faziam a corte às suas amadas, ofertando-as a seu amor
quando são aceitos...
quando não, eles se despedem delas pedindo-lhe desculpas por....
o brilho – ainda que sem o seu outrora viço – está lá,
mas o seu fim já chegou
(sua luz já se apagou)

subcapítulos
o espinho
a flor
a cena
o pôr-do-sol
a lua
a dor
o prazer
117
a anestesia

Personagens
Devian...
devian loop
Lúgubre
Gardenian

Síntese
Homem ou mulher morto enquanto o amante o vela durante
dias a fio. Quer ser enterrado com o amante, e o é em vida. Um amor
eterno, diz...
Ela: vestida de vermelho. Vestido longo. Linda...

Sempre ele a amou mas nunca consegui sequer tocá-la

A exemplo de Van Gogh – que cortou a orelha –, ele arrancou o seu


coração e mandou-o de presente a sua amada (ou aos bandidos que a
mataram, ou seriam dois romances???). um coração de presente
acompanhado de uma fita com música.

Imagine o quadro: um coração apaixonado tem como alvo...


Destinando grandes quantias de seu tempo ao seu amor, dedicação
Alegria em amar tanto assim
Tristeza em saber que nunca será possível

Nem inesperado instante, numa meticulosa e planejada decisão


Decide-se entregar de corpo – já que mentalmente já entregara há
tempos – enviando seu coração – bomba cor-de-paixão – a sua
amada.

118
SORROW
(Edmar Alves, em junho de 2012)

O prazer se atira sobre a razão


E não há razão que se meça
Prazeres desmedidos
Prazeres arrancados à-esmo
Prazeres quilométricos e incessantes

E se fecham os olhos

E querem fazer crer


- fingem crer –
Que deus proverá
E reparará as consequências

Ela estava sempre correndo


Para fazer do almoço uma história
Para fazer daquele olhar uma história
Para fazer do...... uma história

Revolução Hidra
Perde-se aqui uma cabeça
Para depois serem 2 ou 3
Se na revolução francesa
Decepou-se
Se na revolução fuzilou-se

E depois cresceu aos milhares

Se nunca se encerra
Este ciclo

Quando odiamos alguém


Acreditamos que alguém é algo
Acreditamos que não tenha algo de bom em alguém, em ninguém

Prefiro não odiar


Quero evitar a doença?????????????

(se ou quando quase nada cabe numa definição)

119
Sorrowwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwww

120
121
US APART
(Edmar Alves, em outubro de 2011)

E eu fui
para bem longe

Mas voltei
para mais perto

Fui
porque eu não queria ir
ir nunca mais

Eu fui
porque eu queria voltar

122
SOERGUIMENTO, MEMÓRIAS,
HAMSTERS, HISTÓRIAS,
RELÓGIOS E MANIFESTOS
Capítulo tr3s
Lembra-se, esquecer, inventar o que esqueceu, dividir com alguém e
registrar momentos da vida

“A vida é muito curta para ser pequena”


(Benjamin Disraeli)

123
MANIFESTO
(Edmar Alves, em junho de 2020)

Não se pode ser verdadeiramente humano se alimentando dos


animais

(é incompreensível)

Sorvido ao prato, além da carne, está o sofrimento de todas as vidas


sacrificadas
Da invenção das máquinas de morte
A manipulação disso nos faz menos humanos

A abstenção melhora o mundo e a humanidade

Quem calcula a quantidade de dor, sofrimento no mundo neste


instante

124
NECROLIVRO
(Edmar Alves, em setembro de 2019)

1. A música

A longa introdução não revela quase nada do que virá nos próximos
tempos

Ora ouve-se
Ora não

Ruídos vão escalando


e escavando sentimentos

Guia cada ouvinte


A esta ou aquela sensação

Os tambores substituem os ruídos de introdução


Os sons cortantes das guitarras deitam-se sobre um colchão;
oriundos do teclado

Vai-se do nada a ação

O som grosso e volumoso do baixo nos cerca de todos os lados

É sufocante
E aterrador

Como se fossemos enterrados vivos

Dura
Dura
27min

Num outro tempo parece uma vida inteira

Como se fosse uma vida inteira

2. A vida

Faz-se festa pela vinda de mais um


125
Às vezes 2
Ou 3

Aos poucos tornamos cada escolha o caminho a seguir

Percebemos que somos únicos

Passamos a procurar nosso lugar neste mundo sem lugar

Descobrimos que este lugar não existe

Dá-se a necessidade:

Partir
Ficar

Partir
Esperar

Partir

3. A Poesia

Preenche-se os vários vazios com versos

Versos musicais
Versos vitais
Versos virais

Quase se acredita
que os espaços vazios tem solução

Quase!

Entre o breve momento do entre nascer e morrer

Quase se acredita que foi bom - porque foi intenso

Quase-termina bem
pois se acreditou por alguns momentos
126
Quase mentiras foram verdades

Mas o livro chegou a última página

Livraria fechada
Editora falida
Edição encerrada
Livro sobre a mesa
Luz apagada

4. 1+2+3=X

K7 embolou
A agulha arranhou o vinil
O CD chegou aos 78min
O sono veio

O momento chegou
Abreviou-se a vida para cessar o sofrimento

Restou saudades

Fundiu-se a música, a poesia e a vida

Findou-se a vida, a música e a poesia

127
MONÓLOGOS INTERMITENTES
(Edmar Alves, em outubro de 2006)

Assim pode-se chamar aquele que faz o mal:

Belzebu. Tinhoso.
Satã.
Príncipe das Trevas. O tentador.
Lúcifer. Diabo.
Baal. Beemot.
Anticristo. Pazuzu. Satanás. Demônio...

eo
Homo sapiens.

Assista, se quiser

128
129
S/A MORTE
(Edmar Alves, em junho de 2005)

Os melhores já se foram
Os grandes já se foram
Os bons já se foram
E já se foram os muito bons
Os extraordinários também
Os inigualáveis idem
Alguns deles foram há muito
Outros deles forma há bem pouco

E só restaram os ruins,
os medianos, os péssimos
e nós

nós que hoje lemos nos carros,


não mais pretos,
“traslados póstumos”

e não funerária

130
AUTO-DE-FÉ (ANTI-)PEDAGÓGICO
(Edmar Alves, em junho de 2005)

Mais vítimas da fome


Mais vítimas da ignorância
Mais vítimas da estupidez
Mais vítimas da fé
Mais vítimas da barbárie

Mais vítimas...

Somadas a outras tantas


trucidadas
violadas
detonadas
queimadas
desaparecidas

A cada minuto
A cada quadro cheio
A cada 50min
A cada recreio
A cada silêncio
A cada “cale a boca”
Em cada escuro

Desde então
Januária, Paulo Freire, Cortella e nós somos dor e saudade
principalmente dor
principalmente saudade

131
RÉQUIEM: M. M. (música para os mortos)
(Edmar Alves, em junho de 2002)

A 50 km/h – é esta a velocidade em que se pode, ao mesmo tempo,


prazerosamente dirigir, apreciar paisagens e gentes, além de pensar
– cruza a minha frente,
Deselegantemente, pausadamente,
O pensante elefante,
Raciocinava,
Levava,
Com sua tromba,
Alguma coisa a boca,
E ruminava filosofias milenares e poesias afins

Eu cuido dos meus ai’s


E vão vocês com esses tais

Mesmo que às vezes se pense que sim

Não adianta esperar


Ou não acreditar
A tristeza, toda ela do mundo não está em uma só corpo
Por que a morte seguida de ponto final é a morte prolongada ou a
vida sem vida

132
SOBRE A DECISÃO
(Edmar Alves, em outubro de 2007)

O futuro não existe


Pois é aqui e agora construído

O que vai ser nunca será


Se já não é

Liberdade inclui decidir quando partir

A soma de todos os livros


A soma de todos os dias
A vez que escrevem sobre isso

Empiricamente parece que todos gostam de continuidade


mas poucos fazem/planejam/organizam/meditam/ trabalham

sobre a continuidade

O dia mais triste da vida


Mas, depois outros dias tristes serão os mais tristes

133
VIDAS INTERROMPIDAS
(Edmar Alves, em maio de 2011)

idas
Vidas interrompidas
Idas
idas

d
i
o problema da morte é o “nunca mais”

134
EPÍGRAFE
(Edmar Alves, em dezembro de 2019)

Já chove há mais de 5 dias


Chove mais que um mês
Faz tempos que não vejo ninguém
A não ser vultos pela janela embasada

Se tivesse levantado mais


Vezes da cama, saberia
Que não para de chover a desde 2003
Quando vi versos tétricos desde então foram poucos os versos criados
e os poucos criados foram cada vez mais tétricos

A poesia tornou-se algo estranho a mim


Tantas coisas também se tornaram estranhas
A política, as pessoas, as coisas
O mundo também é mais estranho
É uma estranheza que tudo pode acabar agora
E isso não me seria tão estranho

Visitei a Finlândia, passei pela Suécia. Estive em Oslo, na Noruega.

Destes versos vários foram requentados, feitos a ver de mim mesmo,


versos delas mesmo

Sem ressalvas pois pode ser o último


Houve outros, senão anexos
As filosofias dos pensadores viraram pó, como eu – e se passaram
vários invernos desde então

A linguagem negativa levou-me a uma encruzilhada a ninguém


saberá qual caminho escolhi
Nenhum epílogo deveria ser escrito sem chuva

Nenhum prolegômeno deveria ser escrito...


Nenhum prólogo deveria...

Totem revelou-se ser identidade para quem abriu mão de seu


séquito...
Nossa linguagem tornou-se tão hermética
Estamos sempre andando em círculos
135
Ao fundo ouve-se Dead Can Dance

A chuva não cai


O sono não vem
O tempo se esvai...

136
O este círculo tem nome
As poesias estão se fragmentando
Quase não há o que se dizer nelas, por elas

Só se ouve pingos lá fora, a respiração irregular aqui dentro

É como se não fosse possível respirar lá fora, como se chovesse aqui


dentro

E a qualquer momento, tudo isso pode...

E tudo será silêncio


Depois tudo será saudade
Até que não reste mais nada além das palavras impressas sem voz, e
sem entonação, sem sujeito, sem tom, sem grito que a faça ser
ouvida, e de manifestar do não, da oposição ao status quo tornou-se
história

De livros que não serão mais vendidos,


Não há séquitos
Os leitores se foram. O país é analfabeto
Mensagens instantâneas sobre põem-se ao pensamento, ao
ceticismo, à ação

E se a tristeza for pequena


Pode-se fechar aos poucos algum tempo

Muito bom tempo,


Insuportável,
para sempre

137
EQUAÇÃO
(Edmar Alves, em fevereiro de 2014)

138
Não é deus
É apenas paranoia

Não é deus
É apenas histeria coletiva

Não é deus
É apenas fraqueza, fracasso, medo, herança cultural, solidão... etc...

Eu só queria esquecer
que por mim
alguém
ENGENHA, ENGENHA

e que

no hinduísmo tem 33 milhões de deuses

139
PNP
(Edmar Alves, em abril de 2007)

Venho por meio desta PNP – poesia não poesia –, solicitar,


muito respeitosa / humildemente,
que não esqueça do(s) passado(s), do meu passado, do que fiz:

e foi sobre s/ o lendário amazônico pássaro Uirapuru


que escrevi minha 1a poesia (talvez em 1984);

foi quase um plágio – confesso – de não sei-lá-o-quê:

algo que não resistiu à pesada mão (pesada) do tempo,


que não resistiu ao meu revisionismo.

Por fim, coloco-me a disposição.

O autor.
Contagem, 10 de abril de 2009.

140
ESTOU TE ESPERANDO
(Edmar Alves, em junho de 2016)

E eles não falavam a mesma língua


Se viam
Se esperavam
Queriam um ao outro

Se desejavam
e pensavam
s/ o futuro em comum

Mas ainda
precisavam
falar a mesma
língua

141
APOCALIPSE NEON
(Edmar Alves, em abril de 2004)

142
As coisas vão tudo bem
se a vida tem se esvaído de mim
gota a gota
pinga
pinga
quase-pinga
não pinga, e pinga
mas tem pessoas dançando
as ruas são palco: e se enchem de palhaços
“corre, corre” tem “acerto de diferenças lá fora”
é este o nome da briga, é este o retrato da moderna selvageria
somos quase todos selvagens plugados on line, www.commerda
tem jaula,
tem ração,
tem, tem fezes ao vivo,
tem assovios,
tem aplausos
tem sei lá mais-o-quê
e o quanto reclamam, esperneiam
e corpos estrebucham no lote vago
e corpos defecam no canteiro central
e corpos sugam o sangue dos inimigos
travestidos de colegas
travestidos em amigos
por um clique,
por nota,
por um favor,
por uma cumplicidade,
por mentiras,
silêncios
e corpos putrefazem-se num sexo incessante,
num sexo intermitente,
num sexo terminal

São vários, tão todos, são quase (aqueles)


são infinitos fins-de-mundo
numa só vida, numa só saída-de-casa
numa só esquina, numa só solidão
mas piscam luzes de néon
e como piscam, piscam

Quase-piscam
143
e se não,
pensa-se que piscam
mas a noite continua pelo dia a dentro
quase não termina
parece que a querem por quase um ano
talvez tempo suficiente para que sobrevivam
para que não se viva mais um pouco
e nossos pesadelos se evidenciam
nestas luzes de neon
corpos quase gratuitos
sexo permanentemente sexo
drogas de todos os tipos para todos os tipos de iguais
são todos iguais
não dizem as mesmas coisas
não fazem as mesmas coisas
não sentem as mesmas coisas
não vivem as mesmas coisas
são quase todos uns não sei-o-quê

E piscamos feito luzes de néon


ofertando-se,
ofertando-nos
ofertando...
e a noite continua
esta é a vida que quase me foi ofertada
esta é a vida feito luzes de néon

Expostas
estamos expostos ao acaso / puro descaso
ao acaso
puro acaso
são casos

Ninguém sabe nada


Ninguém sabe nada
Ninguém sabe nada
Ninguém sabe nada
Ninguém sabe nada
Ninguém
Ninguém sabe nada
Ninguém sabe nada
Ninguém sabe “porra nenhuma”
144
Estão se perguntando sei-lá-o-quê
se ninguém ouve
é barulho demais
o som está sempre alto demais

Discotecas,
festas,
bobagens
carros-som,
carros de som
e a ignorância persiste, resiste, insiste

Formando barricadas – e talvez seja difícil vence-las


Formando trincheiras – e talvez seja impossível supera-las

E venho me perguntando
por que continuar por aqui
produzir significado para todos estes dias sem-sentido

É trabalho árduo
É trabalho quase inútil
e repito que
gota a gota,
pinga e pinga
quase, quase pinga
goteja meu sangue
goteja meu sangue aqui neste chão imundo

Sangue de um vermelho escuro, espesso


feito estas luzes de neon

Que anunciam 27 horas diárias


que nosso tempo esvaiu-se
e que, desde “anteontem”
é apenas sobrevida, sub vida

Estou virando adubo


estou virando pelo avesso

Estou virando eles


(o que é muito pior)
145
Estou virando...
(ou me separo do lixo, ou sou este lixo: indistintos somos todos
então)

Estou virando pelo meu avesso


estou contando os minutos

Estou de partida, parece


estou confundindo o que sou com o que era com o que deveria

Estou de partida, talvez


estou me resumindo neste resumo

Estou assistindo na noite


nos letreiros de néon
a palavra, correndo-a-mil

“APOCALIPSE: ASCENSÃO E QUEDA DE UMA CIVILIZAÇÃO”

SESSÃO DAS 21h

INGRESSOS: GUICHÊ 03

CRIANÇAS NÃO ENTRAM, NEM PAGANDO

Estes dizeres me fizeram lembrar


que estou de partida
e nem quero me despedir de ninguém

Sairei em silêncio / fecharei as portas

Discretamente

Como deveríamos todos


como deveriam ser todos
ao passar pela vida

146
FUTILIDADES
(Edmar Alves, em junho de 2003)

I.

a diplomacia e a boa educação nos impedem de faltar


ao velório
daquele que sempre nos quis morto

II.

para que tantas honrarias


para que tantas homenagens
para que tantos discursos
para que tantas menções
para que tantas demandas
para tudo terminar numa placa de praça

- Futilidades:

(...)

e numa placa
placa de praça repousam inquietos alguns homenageados. E tão
logo são esquecidos

III.

E logo vem a “ordem de serviço’

troca-se a placa
no trocar de gestões

(homens são homens; ou melhor, homens são isso)

147
MEDITAÇÃO DE BESOURO
(Edmar Alves, em fevereiro de 2013)

Meditação de besouro
com minha ajuda
um besouro
desvirou-se (estava se debatendo fazia tempo)

Com um galho
isso na primeira passagem
já na segunda-feira passagem
lá estava ele em meditação

(- Estado de não momento,


durante algum momento,
em que o ser em questão abstrai-se de si mesmo / e,
ao abstrair-se de si mesmo,
abstrai-se do mundo,
do universo,
da vida
e
da existência -)

148
149
GPS
(Edmar Alves, em outubro de 2011)

Tem dias que quase


não saio de casa

Esperando o tempo passar

Por meses não vejo o


sol nascer

Esperando o tempo voltar

E, às vezes, não sei onde estou


Quase não sei quem sou

Esperando o tempo passar


Esperando o tempo voltar

150
MENINOS E MENINAS MODERNOS
(Edmar Alves, em outubro de 2014)

Celulares profícuos
Os prazeres ainda vemos
Cantam cada uma
Cada conquista
Os garotos ainda
Nos fazem crer que
Gozam simultaneidades
Durante todo o dia

São seus sorrisos


Maliciosos durante
Todos os o dia

Ociosos

151
NOITE POLIGLOTA
(Edmar Alves, em fevereiro de 2012)

Pensar em ouvir a noite


Querer ouvir a noite

É quase
Tão bom
Quanto

Ouvir a noite

E, digo mais:
Ouvi a noite
(...)

(mesmo se saber / entender o que ouvi)

152
153
ODE AO TREMA
(Edmar Alves, em abril de 2011)

Antiguidades

Recuso-me a enterrar o que faz destas palavras poesias por si


mesmas

Trema, tremei!
O seu fim está próximo
Conspiram contra ti nas academias “lusófilas”

154
POESIA SOBRE OS CORPOS QUE SE LANÇAM s/ A MORTE
(Edmar Alves, em junho de 2003)

pela causa palestina

-capam às pedras
aos mísseis, aos tanques

ESCAPAM
-das, e tantas caem
-ados, e tantos não se levantam

-s s/ tanques
-çados s/ pessoas
-as retórica do tipo americana

155
SOBRE ANIMAIS E PESSOAS
(Edmar Alves, em outubro de 2012)

Um homem e o seu cão andam pela rua lado a lado


Este projete aquele
Numa amizade de mais de 10 mil anos

II

Como é bonito
Ver movimentar-se

Vitalidade

Em todos os animais,
Insetos, plantas e “outras Coisas”

Caminha
Para
Vira
Segue em frente

É tão estranho
Ver pessoas matarem para devorarem cadáveres

E é tão triste ver cães pelas ruas procurando comida


E fugindo das pessoas

156
SANSARA
(Edmar Alves, em outubro de 2007)

A humanidade nasce aos milhares


São todos sem alma
E pelos feitos
E ............
Ou abstrato
Ou substrato

Como à uma
Máquina – sansara

Injeta-se
Um a um
Sua (devida) alma

E ainda adjetiva nossa a ser um substantivo

157
RIGOR MORTIS
(Edmar Alves, em outubro de 2010)

Foi apagado para todo o sempre

E sobre a morte tem-se pouco a dizer

Sentado num pequeno barco


O rio desce lentamente
Num bonito balé por suas margens

Ao som de réquiem p/ M.
Uma corda une o barco, o eu e a margem da qual parti
Da vida que não se seguiu
A corda tenciona-se cada vez mais até que... a vida se esvai... e
descemos o rio

E já não confio nas pessoas


E já não confio em que confiava

158
REVISÃO DOCUMENTAL
(Edmar Alves, em março de 2010)

Nossas vidas são feitas de memórias: o que não se lembra nunca


existiu: e alguma coisa nunca existiu, mas lembramos: o deus dos
ateus são os totens: os totens dos religiosos são os deuses

159
CONVERSA EM OURO PRETO
(Edmar Alves, outubro de 2010)

“O mal que o homem faz sobrevive a ele;


o bem é enterrado junto aos seus ossos”
(Júlio César, imperador romano)

É dito e feito
poeta morto
livro póstumo incompleto
e anexos-notas-afins

(É) dito e (re)feito


glorificação

Resgata-se de suas poesias


ainda jovens
a frase-lápide

Mas poeta-morto tão estimado...


e a lápide?

Este encontra-se com o poeta (ouro-pretano) Marcos


para uma conversa do além-túmulo...

...falava-se sobre as “Entrelinhas” das “Alma(s) inquieta(s)”;


sobre o(s) enigma(s) dos “vampiros da noite”
[que atacam poetas de muita fé]

160
CRIANÇAS CORRENDO POR BOLAS
(Edmar Alves, em agosto de 2003)

A tragédia, a desgraça, o sofrimento, a morte


nos chega aos ouvidos
através de uma pequena mentira

eu não gosto de...


mas gosto de ver crianças correndo atrás de uma bola, alegres

algumas são amantes


e por isso não devoram e são...

e são ingênuas
e por isso nos aceitam
e por isso são delicadas
e por isso nos surpreendem
e são...

e por isso nos cativam


e por isso nos ouvem

são crianças correndo por bolas


são adultos correndo por dinheiro

161
O QUE SOMOS; O QUE COMEMOS
(Edmar Alves, em janeiro de 2008)

Formigas
Formigas
Formigas
No paraíso do açúcar

II

O seu prato sangra


Seus sapatos sangram
E eu me desvio até de formigas

III

Um cachorro pediu
ajuda
Entrou, e não quer mais sair
E fez de um professor
um humano mais humano

E ele chamaram duque

162
VOO PANORÂMICO
(Edmar Alves, em fevereiro de 2013)

100 ou 200 ou ainda mais


Cada uma, incrivelmente,
Transporta
Em peso e tamanho,
4 ou 5 vezes o seu próprio p. & t.

Os passos humanos
Lhes subtrai membros
Lhes atrasa o serviço
E tem +
O vento que leva uma delas
Para longe

Num voo
Ela plaina feito para pente
E eu olho
E eu a admiro

163
VIA LACTA BAIANA
(Edmar Alves, em março de 2014)

164
I

As 6h40min o borracheiro regou por 3 vezes 3 pequenas plantinhas à


beira da via expressa

II

Hare Krisna no shopping


Eu não tinha tempo
E ninguém tem mais tempo
Mas quem faz o seu próprio tempo é você, sou eu
E eu não tinha mais tempo
E ele não volta jamais
E quando pensei que seria possível voltar
Não encontrei mais o Hare Krisna no shopping

165
TRINCHEIRA CHAVISTA EM LUTO
(Edmar Alves, em março de 2013)

Há 2 exércitos em combate neste instante neste momento


Em um dos lados estão os ignorantes
Em um dos lados estão os convictos de que nada deve mudar,
Os injustos, os assassinos, os exploradores...

E no outro lado da trincheira estão os que lutam sozinho


Estão os que lutam; e são incompreendidos
E lutam pelo mundo contra o mundo

E riem destes
E ignoram estes

Neste lado estou eu


Neste lado está (não estava: está!) Hugo Chaves

Perdemos um grande soldado


Mas a guerra não foi vencida por eles

Perdemos o mais destemido dos lutadores


Mas eu não posso parar por aqui

É preciso seguir

Mas também é preciso lembrar-se de Hugo Chaves


E é preciso honrar o seu nome

E sempre que possível for


gritar, escrever, lembrar, cantar, sonhar, fazer, tentar, escolher,
descrever
que Hugo Chaves vive!!!!

E desde hoje
o mundo mais triste e mais injusto:

nosso exército perdeu Chaves

166
THE EYES OF THE DOGS
(Edmar Alves, em janeiro de 2013)

Pelos olhos dos cães eu vejo a desumanidade dos seres humanos e a


infidelidade aos seus amigos desde aproximadamente 10 mil anos

Aos pés de boa pessoa há sempre um ótimo cão: acariciando e/ou


sendo acariciado

167
2013
(Edmar Alves, em junho de 2020)

2013: o ano que ainda não acabou!


Os fanáticos do futebol, da novela, do BBB e da religião migraram
para a política

As redes sociais transformaram-se em redutos de ódio e de odiadores

Abriram a porta do canil!


Os Pibulls do fascismo estão pelas ruas!

O Facebook e o Instagram transformaram tudo em cidade grande

168
169
OS MILAGRES DO DRAUZIO ATEU
(Edmar Alves, em maio de 2020)

Entre trans presas


Dráuzio fez o óbvio
Fez a rotina
Fez a rotina
fez o cotidiano
que a internet apossada pelos hates viu milagre

alguns até pediram para o ateu ser presidente


sem lembrar que era ateu
sem esquecer que o presidente é inumano

entre as trans presas pelas grades


presas pelo corpo masculino
do mundo hétero
preso pelo mundo dilacerador, destruidor de corpos, de ideias e
pessoas

breve milagre
em tempos inumanos
em tempos irracionais
em tempos em que todas nós estamos atrás das grades

a notícia do milagre passou num meteoro

e foi visualizado no dia em que os héteros opressores presenteiam


suas vítimas com flores, bombons, cartões e outros agrados
anestésicos e amnésicos

quer fazer do mundo um mundo melhor,


pratique empatia todos os dias

quer entender a empatia,


observe os cães, como Diógenes

170
UM MUNDO PELA JANELA
(Edmar Alves, em abril de 2015)

Moça com jeito de menina tímida


observa o seu mundo de curiosidades, estranhezas, sonhos e
relevâncias
pela sua janela
e Regina, sua mãe, também a observa

procura traduzir estas novas relações e algumas fotoGRAFIAS para o


seu tempo

171
CARRINHOS DE ROLIMÃ E CAMINHÕES CEAM
(Edmar Alves, em agosto de 2007)1

Fazia tempo que não participava de uma roda de piadas


Foi assim no dia 5 de agosto [2007]
Foi assim na casa de Marcos – vulgo Marquinhos –, o
aniversariante, e Sônia, – a esposa-anfitriã

Fazia tempos; e eram piadas e casos passados a muito...


Namoros, crimes no bairro, travessuras de criança e aventuras de
adolescência

Fazia tempos que não me lembrava


do meu carrinho de rolimã
Ricardo, irmão de Márcia – minha (SIC) –, contou os seus casos
Eu não; mas lembrei-me de minhas aventuras sobre 4 rodas
Fiz vários, ruins, dos quais não lembro mais
Meu pai – Edmundo – me fez 1 com formato de garrafa e de cor
verde
Só eu tinha um carrinho de rolimã verde
Só eu...
Só meu tinha um carrinho de rolimã verde com eixos soldados
Meu pai que fez um...
Meu pai que fez...
Meu pai...
E era verde da cor da fruta que mais gosto – o abacate [vitamina de
abacate é uma maravilha] – e da cor dos grandes caminhões com os
quais meu pai tanto viajou

Com os quais meu pai e eu tanto viajamos [caminhões da CEAM]

1
Marcos, Marquinhos, Sônia, Ricardo e Márcia são nomes fictícios
172
CENA DE CRIME
(Edmar Alves, em maio de 2011)

A paixão é a militância
O amor é a utopia

Aquela não repousa nunca sob


nossos pés

Esta repousa sobre o horizonte

Não se fundem
embora, por vezes, se confundem

Gêmeas xifópagas
mas passível de separação

Carece de definição
Permanecem sempre em ebulição

Causa mortes e feridas


eternas

173
ELEIÇÃO DE 2018
(Edmar Alves, em janeiro de 2019)

Os astralopthecus estão entre nós


São de direita
e votam na direita

174
HOMEM ORGULHOSO
(Edmar Alves, em dezembro de 2003)

Dia em que a ditadura mundial venceu a local


Dia de carmina burana tecno

Lutar para acabar com as injustiças sociais


ainda faz parte do discurso dos formandos

Um senhor já curvado,
pequeno,
com inúmeras rugas,
suado,
calça presa apenas pelo

cinto

Fez sua filha ir além dele


e estava orgulhoso:
era só orgulho...
era o orgulho em si...

Tocou a mão em sua filha; e quase não foi retribuído


Conduziu-a ao palanque

[mas ele é que estava no palanque]

175
HISTORIADOR CONTEMPORÂNEO
(Edmar Alves, em fevereiro de 2013)

I. Pré-história

Estou atado à mesa (de som – por curiosidade)


Ao tempo (carregado nas costas por uma tartaruga)
À uma flor – que passa sempre pelo mesmo caminho
Às palavras – que se manifestam em diferentes velocidades, direções
(e quase não é lida)

E algumas foram escritas erradas e são sempre errantes

Ao passado – pois o horizonte é longe

À música – assinalando e grifando tempos, pessoas, lugares, idades

A outras idades históricas, ainda que eu tente ser contemporâneo

II. Idade Antiga

Vi escravos construindo templos


E homens se transformaram em deuses
E homens derrubaram seus deuses

III. Idade Média

Tudo estava completamente escuro: os dias e as noites


Não pude ver deus

IV. Idade Moderna

Todos exploram todos; somos todos democráticos

V. Idade Contemporânea

Ainda estão acontecendo diante de meus olhos: a história de cada um


176
177
FORMIGA EDUCADORA
(Edmar Alves, em fevereiro de 2013)

Passou entre duas pernas


Passou por trás de um
Desfilou à frente do paulista Barmak

Atraiu meu olhar


Atraiu o dele

E exigiu um momento de reflexão educativa

178
CONSTATAÇÃO
(Edmar Alves, em maio de 2019)

Foi o tiro do portão aberto


Do descuido
Da falta de humanidade e educação
Do policiamento em frente à escola do bullying

Mas também foi o voto no fascismo


Das fotos com arminhas nas redes sociais

Foi a desimportância na educação do país


Da falta de investimento na educação

Foi só Suzano
Mas não foi só Suzano
Foi s/ todos nós, todos os nós da educação

Sobre todos os nós não desatados por nós

Sobre a humanidade e a falta dela

179
PNP
(Edmar Alves, em abril de 2007)

Nem sei se deveria mesmo


Ter nomeado esta poesia de PNP 2...
Foi falta de opção mesmo,
Preguiça intelectual
Ou algo assim...

É! Deve ser assim!


Mas o que eu quero mesmo falar
É que, em uma de minhas primeiras incursões no mundo da música
Foi a música “tráfico de drogas” (Toxic Traffic) da antiga banda do
Herbert (vulgo Neném)
Não tenho mais ela
Nem ele mais deve ter

Á assim! Teve pouca importância antes


E agora quero guardar tudo...

180
EU SOU EU E MINHAS COISAS
(Edmar Alves, em agosto de 2007)

1. Parâmetros

Eu sou eu e as (minhas) coisas


Eu sou eu e minhas coisas

Eu sou eu
e minhas coisas são só coisas;
antes eram de outras pessoas

Eu sou eu
e minhas coisas são só minhas coisas

Eu sou eu
e minhas coisas são minhas coisas

minhas coisas sou eu

minhas coisas são minhas

Eu não sou sem minhas coisas

2. Definições

Como uma ostra


Eu sou eu e as minhas coisas
Sem ostras
Minhas coisas que são como ostras

Como uma ostra, não como ostras – sou vegetariano desde os 15 anos
/ 1987 –
Eu sou eu e minhas coisas

3. Anexo

Eu sou eu e minhas coisas

181
COSMONAUTAS, ASTRONAUTAS & TAIKONAUTAS
(Edmar Alves, em outubro de 2011)

Para Yuri Gagarin (1934- 1968)

Os cosmonautas foram os primeiros


Os astronautas foram depois
E agora é a vez dos taikonautas

Eu também estive em Júpiter, Saturno e Marte

Foram viagens longas


Da infância até ontem

Às vezes nem queria voltar

182
183
ARQUEOLOGIA
(Edmar Alves, em novembro de 1999)

o s s o s

t r o ç o s

t r a ç o s

n o s s o s

Ouça, se quiser

184
185
POESIA PARA NÓS
(Edmar Alves, em janeiro de 2013)

Yuri Gagarin não viu deus no espaço


Saramago não escreveu a deus
Bill Gates não teclava com deus
Lima Duarte não contracenava com deus
Hugh Laurie não solou sua guitarra em dueto com deus
Dráuzio Varela não se consultou com deus
Andréa Beltrão não fez deus rir
Björk não fez dueto com deus em seu show
Gregório Duvivier não noticiou nenhum fato sobre deus

Eu não conheci deus!

186
PARADOXO DE BUDA
(Edmar Alves, em outubro de 2017)

O home se fez deus


Pelo trabalho (planejou como fazer)
Pela meditação (a partir do trabalho)
Pela – não – ação (e tornou-se paradigma)

187
ESSA É A VIDA PERFEITA
(Edmar Alves, em janeiro de 2019)

Os chineses comem cachorro


Os indianos nunca comem vacas
Os peruanos matam lhamas
Os brasileiros jogam seus cães na rua

Mas eles voltam; e voltam sempre

E é esse a vida perfeita


E eu não como nenhum deles

Os iranianos não gostam dos cachorros


Os australianos comem cangurus e os demônios da Tasmânia os
assustam
E quem assustam os indonésios são os Dragões de Comodo
E formigas trabalham em toda a parte do mundo
Congoleses matam elefantes pelos dentes
E todo dia tem cachorro na escola
E é essa a vida perfeita
E eu tenho sempre observado

Os noruegueses pescam baleias


Portugueses comem bacalhau
E todos deveriam ouvir Pachelbel’s
Porque essa é a vida perfeita

Ricos gostam de gatos


E a amiga Elizeth tem 10 gatos
E o amigo Sílvio tem mais de 40
E a moradora de rua tem 5 cães
E o Duque é quase cego
E é essa a vida perfeita

188
Entenda, se quiser

189
O BUDISTA E A CASA DE 200 DÓLARES
(Edmar Alves, em janeiro de 2005)

depois que as
gigantescas ondas tusunami
recuaram,

além de lama,
destroços
de coisas e gentes,

ficou o olhar perdido


sobre o mar,

e que se pergunta sempre

ficaram lágrimas
aos que o mar não
devolveu

ficou também a ideia do


budista
[a mais barata, simples e rápida]:

precisa-se apenas de
2 horas e 1/2 e 200,00U$

190
191
112º DIA
(Edmar Alves, em setembro de 2011)

Aos professores que resistiram os 112 dias em greve

Havia muitas TVs contra nós


Muita mentira foi dita

E a sorte estava lançada

Muita coisa a ser revista


Outras a se conquistar

E parecia que eu não mais voltaria

Enfim vencemos a censura


Enfim vencemos um governador quase meia noite

E agora estamos de volta


Aos quadros

E as coisas são
Exatamente as mesmas coisas

Assim, fiz essa leitura.

192
193
ALMOÇO NA CASA DE BUDA
(Edmar Alves, em janeiro de 2003)

CENA I: prolegômenos

O que somos? O que comemos em almoço na casa de Buda


O que somos? O que lemos; leituras na biblioteca de Buda
O que somos? O que dizemos em discurso no palanque de Buda
O que somos? O que ouvimos pela música de Buda
O que somos? O que ouvimos pelo silêncio de Buda
O que somos? O que tocamos com os instrumentos de Buda
O que somos? O que sentimos; o que sentimos com Buda

CENA II: teoria sincrética sobre os seres humanos

Se somos a soma de nós mesmos ao que comemos;


e somos
é-se um homem, ou mulher,
que come a vaca; e eis um homem-vaca

É-se um homem, ou mulher,


que come galinha; eis um homem-galinha

Um homem, ou mulher,
que come o bode; eis um homem-bode

Coreanos que comem cachorros são homens-cão


Japoneses que comem peixes; eis homens-peixe-vivos

Alguns, homens e mulheres,


comem outros homens;
e são os ensimesmados ao extremo

E aqueles que não comem animais não passam de si mesmos;


são apenas a si mesmos

194
195
CENA III: cardápio

E no cardápio,
coloridos grãos
e no pós-almoço,
dolorosos temas:

1. canibalismo,
2. ditaduras: (a) locais e (b) mundiais,
3. extermínios étnicos,
4. poluição,
5. banalização da violência, e
6. desregulamentação desenfreada do estado

CENA IV: os convidados

Entre os convidados,
eu, 300 divindades hindus (nem todos puderam vir),
alguns marxistas,
e alguns antecedentes
de não menos de 4.500 anos atrás

A sombra da árvore acomodou a todos


e saíram / saímos todos satisfeitos
com o bom papo
e a ótima qualidade da comida

CENA IV: a despedida

Alguns animais
nos esperavam à saída
abanando descompassadamente as suas caldas

– Cada um à sua forma –

pareciam dizer bem vindos


e até mais

196
ENCRUZILHADA
(Edmar Alves, em janeiro de 2019)

A morte vira saudade


Mostra direções
Expõe erros, acertos
Vira esterco
Refaz vidas
E liberta pessoas de suas escolhas

A questão não é se acontecerá ou não,


mas quando acontecerá

É uma simples/difícil decisão

197
198
TERMINALIDADES
Capítulo qu4tro
Toda e qualquer vida se encerra ou no culto alheio ou na caricatura
de si mesma

“A vida é muito curta para ser pequena”


(Benjamin Disraeli)

199
NÓS, OS HUMANOS
(Edmar Alves, em setembro de 2020)

Quanto mais se convive com os humanos e os não humanos mais se


sabe quem são os humanos e os inumanos

Humanos são os pobres


Humanos é a periferia
Humanos
Humanos são os de esquerda
Humanos são os
Humanos são os chineses
Humanos são os ribeirinhos
Humanos
Humanos
Humanos
Humanos são os vietcongs
Humanos são as putas
Humanos
Humanos
Humanos são os mendigos
Humanos são os excluídos
Humanos são os entristecidos, os saudosistas, os suicidas
Humanos são as vítimas do covid-19
Humanos são as moças que frequentam a igreja
Humanos são os que perderam o trem
Humanos são os que viram queimar o ônibus na madrugada
Humanos são os médicos sem fronteira
Humanos são os Hútus e os Tutsi
Humanos
Humanos
Humanos são as vítimas de bullying
Humanos são os endemoniados da noite
Humanos
Humanos são os ouvintes de doom metal
Humanos
Humanos
Humanos são os amantes de chorinho
Humanos são o
Humanos são as fantasiados do carnaval
Humanos são os eleitores da esquerda

200
O porquê da exclusão?
Se todos humanos são!

(inacabada)

201
LINHA DO TEMPO
(Edmar Alves)

1. (inacabada)

202
2. OLHO POR OLHO, DENTE POR DENTE
(em maio de 2014)

E, ao final, estarão todos cegos para todo o sempre

Em forma de grande totem


nas antigas cidades
Ur, uruk, biblios... todos leem
Antigas leis que se tornaram verdades

Comerciantes errantes
O tigre e o Eufrates cruzando
Árabes, indianos, europeus, africanos, chineses
e para o futuro, suas histórias escrevendo

Terra entre rios


Entre montanhas e desertos
Caldeus, amoritas, babilônicos e outros tantos se sucederam
e ao mundo de hoje sua herança deixaram decerto... sabemos agora!

Mesopotâmicos no Crescente Fértil habitavam


Agora sedentários pelo Oriente Médio não mais erravam

Golfo Pérsico e o Irã ao leste


Mar Cáspio e a Turquia ao norte
Kuwait, Arábia Saudita e seu deserto ao sul
No Oeste temos quem? A Síria e a Jordânia
Assim, lembramos quem cerca hoje o Iraque

Hoje são mulçumanos


Entre xiitas e sunitas dividem-se
Mas na idade antiga politeístas conceituavam-se

Hamurabi, Babucodonossor e Sargão


Zigrates, leis, tempos ao longo do tempo deixarão
Cidades, bibliotecas, leis e suspensos jardins
Para que fins?... foram construídos, erguidos, preservados; para que
fins?

Escrita cuneiforme
Deixando para trás grunhidos, nomadismo, tribalismos...
Escrita cuneiforme
203
Inaugurando a antiguidade
Fazendo raridades, singularidades e suas verdades
Escrita cuneiforme
Fundindo fogo, argila e inventividade
Deixando leis, recados, regras e livros bem... bem nos conformes

Era uma vez... há 3.000 anos atrás

204
3. BRAVURA MEDIEVAL
(em dezembro de 2017)

Homem de coração puro


Cavaleiro destemido
Sua meta é o prometido ouro
E nesta caminhada afastar todo o medo

Brancaleone e seu cavalo Aquilante


Homem e seu animal sempre valente
Seu exército luta sem lutar
Suas histórias de bravura viajam por ar e mar

Brancaleone... Brancaleone...
Seu coração será imortal
Branca... Branca... Leone... Leone...
Sua bravura não teme nenhum mal
Sua chegada a Aurocastro será triunfal...

A honra é a sua bandeira


A e a integridade de uma dama manterá inteira
A sorte é sua companheira
E suas histórias de vitória vão durar a vida inteira

Uma, duas, outras missões lhe foram confiadas


E todas as joias encontradas por si serem herdadas
Não sobrará pedra sobre pedra
Não restará inimigo algum...

(repete refrão)

205
4. ARMADURAS QUEIMADAS
(em maio de 2014)

Os campos de batalha eram um só lago de sangue


Pedaços de corpos, ossos

Irmãos procuravam por irmãos


Pais choravam seus filhos
Mães clamavam pelo fim das batalhas
Clamavam a deus
Clamavam aos generais destemidos

Enlutados
famílias contam seus mortos
e prometem ser esta a última

Até que esta última seja apenas mais uma


Até que esta última seja a lenha que queimará a próxima vingança
A próxima guerra travada
Sob os mesmos lemas
Sob os mesmos pretextos
Sobre os mesmos corpos ao chão

206
OS ILUMINISTAS
(Edmar Alves, em junho de 2015)

Quem são? Quem são?


Voltaire, Rosseau, Mostesquiau
Vieram ao mundo para fazer dele um lugar mais claro, esclarecido,
iluminado

“Defenderei até a morte seu direito de dizer”

Iluministas
A idade das trevas eles encerraram
Com o direito divino dos absolutistas eles acabaram
Vários despotistas: Catarina, José, Pombal aderiram
E a velha nobreza viu seu mundo diante de seus olhos sumindo

Iluministas
Os desportistas esclareceram
Iluministas
Diderot e d’Alambert a enciclopédia organizaram
Iluministas
Novas e tantas ideias nasceram
Iluministas
E ao conjunto da humanidade novos sóis nasceram

Leram os gregos e se fizeram filósofos


Entre antigos nobres, absolutistas e déspotas estavam pisando em
ovos
Novas soluções ao velho mundo proporiam
Comércio nascendo, cidades crescendo, mundo interligado e a
conquista do Novo Mundo ousaram

Iluministas
Contrabandistas de ideias
Contrabandistas de livros
Pelas noites de Paris e Londres rastejavam
Muita confusão, ódio e medo pelo novo, para si atraíram

Mas fizeram do mundo velho um mundo bem melhor

Herdamos deles a democracia, a paixão pelo público

207
SOBRE O SÉCULO XX
(Edmar Alves, em outubro de 2020)

Para Eddie Van Halen (1955-2020)

Ninguém deveria ter que assistir sozinho “nós que aqui estamos, por
vós esperamos”

Ninguém poderia sentir sozinho todas as dores do século passado


sem um ombro para se amparar

Todas as coisas do mundo se repetiram no século passado


Todas as coisas nasceram lá e lá morreram

Todas as pessoas deveriam ter ficado lá; eu também


Sou um sobrevivente do século que se matou em público

Como faz para juntar todo o sofrimento do nascer até aqui?


E guardá-lo sem que ninguém veja?

Talvez – e só talvez – ninguém teria escapado com vida do século XX


Nem Buda
Nem o meu amor
Nem as vontades alheias
Nem os bons livros
Nem as coisas (colecionáveis)

Algumas coisas se repetem desde o fim do século XX


Como numa interminável passagem

Na memória dos velhos


Nos livros da escola
Na escolha de seus heróis
Nos cemitérios

Onde foi guardada a história da gente, do mundo, das coisas?


Do universo?

(inacabada)

208
CATARSE
(Edmar Alves, em outubro de 2020)

VII

Ao chegar em casa,
mil noites atrás

me esperava

pausado
pousado

na porta
o pernilongo

ao abrir
entrou comigo

209
ECOMEM
(Edmar Alves, em março de 2015)

Ecos do fazer humano


espalham-se pelo universo

Tudo está/estava/estará
acontecendo ao mesmo (e num/não único) tempo
Fatiado lado a lado

E, de quando em quando,
E quando saltamos entre um disco e outro...

Amanda esteve na exposição


Amanda aceitou o desafio

Todas as continuações se perderam no tempo

(inacabada)

210
MISANTROPO
(Edmar Alves, em setembro de 2020)

IV

Em uma longa noite nos prendemos na interminável pandemia

E eu
percebi
que
são apenas

escritos de um
misantropo

211
FILOSOFIAS D’OUTONO
(Edmar Alves, em junho de 2020)

XXXI

E depois de 48 invernos quase em silencio,


talvez seja preciso repetir algumas das coisas
que ninguém ouviu

XXXII

Repetir algumas das coisas que ninguém ouviu

(inacabada)

212
213
UM DIA TODOS SEREMOS IGUAIS
(Edmar Alves, em junho de 2019)

2
Talvez esse dia não chegue nunca

214
UMA PONTE QUE NUNCA UNIU DOIS LADOS
(Edmar Alves, em janeiro de 2020)

Desde março
Assistindo e lendo histórias distópicas que em parte estão se
realizando

As eleições de 2018 deram origem a uma grande horda de zumbis

215
Colar figura 1, 2 ou 3

216
217
O CICLO DO NOME, O NOME DO CICLO
(Edmar Alves, em outubro de 2020)

“Eu não acredito num deus intervencionista”


(Nick Cave)

II

Mas acredito no Nick Cave

III

Há meses não saio de casa


Há meses não piso em casa

Ainda tento curar feridas


que não se cicatrizam

218
219
220
NECROLÓGIO
Capítulo cinc5

Alguns se vãos em ter construído nada.


Outros, depois de deixarem outro mundo.
Uns se vão com a dúvida ou nos deixa com a dúvida.

“Me desculpem, mas não deu mais. A velhice neste país é o caos
como tudo aqui. A humanidade não deu certo. Eu tive a impressão
que foram 85 anos jogados fora num país como este. E com esse tipo
de gente que acabei encontrando. Cuidem das crianças de hoje!”
Flávio Migliaccio (1934-2020)

221
A INVENÇÃO DA MORTE
(Edmar Alves, em outubro de 1998)

Nascemos com vocação para adubo

Morremos todos santos

(quase só nascemos e morremos)

(ou quase...)

222
223
NECROLIVRO
(Edmar Alves, em setembro de 2019)

1. A música

A longa introdução não revela quase nada do que virá nos próximos
tempos

Ora ouve-se
Ora não

Ruídos vão escalando


e escavando sentimentos

Guia cada ouvinte


A esta ou aquela sensação

Os tambores substituem os ruídos de introdução


Os sons cortantes das guitarras deitam-se sobre um colchão;
oriundos do teclado

Vai-se do nada a ação

O som grosso e volumoso do baixo nos cerca de todos os lados

É sufocante
E aterrador

Como se fossemos enterrados vivos

Dura
Dura
27min

Num outro tempo parece uma vida inteira

Como se fosse uma vida inteira

2. A vida

Faz-se festa pela vinda de mais um


224
Às vezes 2
Ou 3

Aos poucos tornamos cada escolha o caminho a seguir

Percebemos que somos únicos

Passamos a procurar nosso lugar neste mundo sem lugar

Descobrimos que este lugar não existe

Dá-se a necessidade:

Partir
Ficar

Partir
Esperar

Partir

3. Poesia

Preenche-se os vários vazios com versos

Versos musicais
Versos vitais
Versos virais

Quase se acredita
que os espaços vazios tem solução

Quase!

Entre o breve momento do entre nascer e morrer

Quase se acredita que foi bom - porque foi intenso

Quase-termina bem
pois se acreditou por alguns momentos
225
Quase mentiras foram verdades

Mas o livro chegou a última página

Livraria fechada
Editora falida
Edição encerrada
Livro sobre a mesa
Luz apagada

4. 1+2+3=X

K7 embolou
A agulha arranhou o vinil
O CD chegou aos 78min
O sono veio

O momento chegou
Abreviou-se a vida para cessar o sofrimento

Restou saudades

Fundiu-se a música, a poesia e a vida

Findou-se a vida, a música e a poesia

226
QUID PRO QUO
(Edmar Alves, em janeiro de 2006)

a vida é um pêndulo,
daqui para aí

ora
lembra-me
uma
tartaruga

ora lembra
uma borboleta

a tartaruga por ser


longeva
a borboleta, efêmera

227
ATRAVÉS
(Edmar Alves, em abril de 2014)

...e foram 5 – 55555555555555555 –


est a m pi d o s
que a t r a v e s s a r a m
a lataria

que a t r a v e s s a r a m
o peito

que a t r a v es s a r a m
os olhos

que a t r a v e s a s r a m
as células

que a t r a v e s s a r a m
o longo-escuro
e
o tempo

que a t r a v e s s a r a m
um último suspiro

que a t r a v e s s a r a m
alguns sonhos

que a t r a v e s s a r a m

através da multidão

(e bastaria entrar; e ficar)

Através da saudade
que entre alguns

restará

228
IMAGEM DECIFRADA
(Edmar Alves, em outubro de 2001)

“Há sempre algo que nos liga a todas as formas de amor e de


amar...
há sempre algo que liga as formas de amor às de amar”

Estamos sempre no centro,


estamos sempre esperando,
sempre desejando,
querendo,
estamos sempre sofrendo,
ouvindo

dizendo adeus...

229
METAMORFOSE
(Edmar Alves, em junho de 2011)

Todos nós desaparecemos


E o caminho tornou-se
Solitário e longo

Sem encruzilhadas
Também não se impõe
A nenhum de nós, decisões

É fácil sobreviver
E não saber se vivemos

Ou se morremos

Não se reconhece ninguém


E o vento bate, bate
Quase caio
E continuo caminhando

Minha mão esquerda acaricia


E, num susto, esmaga
O vento
E aprisionado o tempo

II

Lê-se distante:

Poema-pintura
Poema-arquitetura
Poesia –fantasia
Poesia-arqueologia
Poesia-história

230
231
RECALL
(Edmar Alves, em junho de 2009)

“O único pensamento que sobrevive é aquele que se mantém na


temperatura de sua destruição” (Dostolevski)

Devolva-me a vida
Devolva-me à sorte
Não sei se sou gente

Devolva-me à pintura na parede

Não sei se sou a parede pintada moldada em quadro-pintura


Estampado
Devolva-me a aminha história
Sou verbo
Sou verso

Sou verbos atômicos


Sou versos alucinados

Devolva-me a matéria prima e não pense em retoques


Não se entregue em polimentos (dês)necessários

Pois fere
Pois sobra
Pois perde-se (e me)
Para sempre um depois
Pois só me fere

Oh! Você me sente?


Chega de tentativas vãs
Não me tente
Ou tudo na vida se arrebenta
Ou tudo na vida explode
Ou tudo na vida se apaga
E as folhas se rasgam ao vento
E as folhas se rasgam com o tempo

E em 1 minuto tudo se vai


Até minhas memórias
Minha cabeça explode
232
E sobra quase só poeira

Ficamos velhos quando mais luzes vão se apagando (do que outras se
acendem)

Se for chover
Só me avise para eu não me olhar
Para esperá-la passar
Se for cair pedras cuidado que vou me quebrar

233
OUTRA PÁGINA
(Edmar Alves, em outubro de 2012)

Se nós estivermos certos - com razão


Amanhã
eu não serei nada

(talvez nem lembranças)

Se vocês estiverem certos - com razão


Amanhã
serei um cachorro

(e posso ser mais que lembranças)

234
PREMEDITAÇÃO
(Edmar Alves, em outubro de 2007)

AO FINAL DO ÚLTIMO

VERSO
ERSOV
RSOVE
SOVER
OVERS
VERSO

DA ÚLTIMA POESIA

SERÁ O PONTO FINAL

OU

SERÁ UM PONTO FINAL

235
ARTEFATOS DE ENCERRAR VIDAS
(Edmar Alves, em janeiro de 2007)

236
Que palavras são estas?
Não minta!
Que palavras são...?
Não sinta!
Quantas palavras são minhas?
Nunca há respostas certas...

E eu faço isso
por isso...
Amo você!

Sabe-se que quando se ama:


Um dá ou outro o melhor de si
Ele cheirava tudo

Cheirava livros

E descobria que a história tinha aromas

237
O ÚLTIMO CAPÍTULO
(Edmar Alves, em junho de 2019)

Ensaiar e escrever o último capítulo nunca foi fácil


É viver/morrer o último capítulo mil vezes

238
S/A MORTE
(Edmar Alves, em junho de 2005)

Os melhores já se foram
Os grandes já se foram
Os bons já se foram
E já se foram os muito bons
Os extraordinários também
Os inigualáveis idem
Alguns deles foram há muito
Outros deles forma há bem pouco

E só restaram os ruins,
os medianos, os péssimos
e nós

nós que hoje lemos nos carros,


não mais pretos,
“translados póstumos”

e não funerária

239
RÉQUIEM: M. M. (música para os mortos)
(Edmar Alves, em junho de 2002)

A 50 km/h – é esta a velocidade em que se pode, ao mesmo tempo,


prazerosamente dirigir, apreciar paisagens e gentes, além de pensar
– cruza a minha frente,
Deselegantemente, pausadamente,
O pensante elefante,
Raciocinava,
Levava,
Com sua tromba,
Alguma coisa a boca,
E ruminava filosofias milenares e poesias afins

Eu cuido dos meus ai’s


E vão vocês com esses tais

Mesmo que às vezes se pense que sim

Não adianta esperar


Ou não acreditar
A tristeza, toda ela do mundo não está em uma só corpo
Por que a morte seguida de ponto final é a morte prolongada ou a
vida sem vida

240
SOBRE A DECISÃO
(Edmar Alves, em outubro de 2007)

O futuro não existe


Pois é aqui e agora construído

O que vai ser nunca será


Se já não é

Liberdade inclui decidir quando partir

A soma de todos os livros


A soma de todos os dias
A vez que escrevem sobre isso

Empiricamente parece que todos gostam de continuidade


mas poucos fazem/planejam/organizam/meditam/ trabalham

sobre a continuidade

O dia mais triste da vida


Mas, depois outros dias tristes serão os mais tristes

241
242
VIDAS INTERROMPIDAS
(Edmar Alves, em maio de 2011)

idas
Vidas interrompidas
Idas
idas

d
i
o problema da morte é o “nunca mais”

243
TALVEZ O ÚLTIMO CAPÍTULO
(Edmar Alves, em junho de 2019)

Ensaiar e escrever o último capítulo nunca foi fácil


É viver/morrer o último capítulo não sei quantas vezes

244
ENCRUZILHADA
(Edmar Alves, em janeiro de 2019)

A morte vira saudade


Mostra direções
Expõe erros, acertos
Vira esterco
Refaz vidas
E liberta pessoas de suas escolhas

A questão não é se acontecerá ou não,


mas quando acontecerá

É uma simples/difícil decisão

245
RESTANTES
(Edmar Alves, julho de 2021)

Um carro vermelho na garagem talvez signifique


uma escova no armário do banheiro
e uma peça de roupa na gaveta do guarda-roupa...

Não é porque não te mandei mensagem ontem que desisti de você

Ou que não respeite sua decisão

Respeito, mas sonho que a mude

Ainda desejo,

Mas...

(inacabada)

246
247
DISSOLUÇÃO
(Edmar Alves, em fevereiro de 2020)

I.

Cada letra que saiu de minha boca tornou-se morta


Nenhuma passou ouvido a dentro

Cada palavra dissolveu-se, tornou-se discurso vazio

As palavras deste livro encerraram (talvez) todos os ciclos antes


abertos

As palavras silenciaram-se

Só zumbido madrugada a dentro

E as imagens tomaram o lugar das palavras


e seus significados se pulverizaram

Nem o autor sabe sobre o que escreveu

Ao livro chamou-se necrológio


A noite não acaba mais
Não se tem mais leitores
Não se produzirão mais significados de coisa alguma

Livro pronto
Ponto grafado
Autor morto

II.

Depois de anos sobrou apenas um desenho a giz no chão


e um livro fechado na estante de uma biblioteca fechada

248
Assista ao lyric vídeo,
se quiser

249
(sem título/inacabada)

(Edmar Alves, em julho/agosto de 2021)

I.

Certamente não caibo mais neste lugar


Nesta vida

Qual será a última lembrança que as pessoas e animais terão de mim

Tempos difíceis estes em que vivemos

Não há ninguém que não tenha perdido alguém

Isso é um livro cheio de dores


É como extirpar um tumor que,
parece/talvez,
levou consigo o hospedeiro

II.

A vida é uma incrível letra de thrash/death concretizada em diversas


utopias previsíveis

Adaptado de live/entrevista entre Daniel Thuli (goblin underground


tv) e Pedro poney (banda violador)

A pandemia bolsominiana abreviou a vida de 600 mil

Pais, mães, avós, tios

600 minutos de silêncio pela necropolitica fascista

Avisamos!

“Mas eu te disse, eu te disse”


(De Carangos & Motocas, desenho animado)

Neste dia dos pais, como foi o das mães, dos namorados também
ou como será o das crianças

250
Compraremos menos presentes este ano

Mariana triste
Isabela triste
Flávio triste

Cada vez mais tristes neste mundo de tristezas

(inacabada)

251
252
253
VOCÊ É MINHA PAISAGEM
(Edmar Alves, em julho de 2021)

“O tempo que se leva para fazer alguma coisa é o mesmo tempo que
se leva para não fazer nada” (?)

O quadro/pintura que mais olho, na parede


O caminho, incerto, meu, tem seus passos passados
A voz está dentro, fora também, não se cala, grita volta agora!
O cheiro, como nenhum outro, me leva ao outro mundo

Nem quero voltar


Sonhos, que voltará
Sonhos, que ficará
Sonhos, de volta ao ponto final

Como se não houvesse esse tempo pandêmico

Ninguém substituiu
Ninguém faz melhor
Ninguém é igual

Lembrar cada ferida, lambida, cheirada, roçada, tocada, lembrada

Nenhuma resposta foi dada


Nenhuma hora foi esquecida

Algumas histórias de amor merecem uma segunda chance

(inacabada)

254
A VIDA E O MUNDO E O TEMPO ESTÃO CADA DIZ MAIS
TRISTES
(Edmar Alves, em julho de 2021)

1.

Não sei mais qual é a razão; ou se há...

Eu vou precisar de deixar de fazer algumas coisas


porque aos 50 anos a gente fica muito ridículo...

Quando não há mais esperança, não há porque seguir...

Talvez por isso eu não abro mais janelas, não é?

2.

E quando não há mais esperança?


Eu digo o que para as pessoas?
Eu digo o que para mim mesmo?

Onde encontrar razão para continuar?

O mundo não será mais próximo do que eu pensei!


A vida melhor já passou e não volta mais!

E teimosia achar outra coisa...

(inacabada)

255
A PROBLEMÁTICA DAS DORES E DAS TRISTEZAS DAS
DESPEDIDAS E AFINS
(Edmar Alves, em julho de 2021)

Assim não sobra ninguém...

Assim não resta nenhuma história...

Os que não podem ficar, se vão!

Os que podem ficam, se vão!

E sofrimento após sofrimento não cicatrizado


se torna ferida exposta, veia aberta

E, esvai-se a vida e os motivos...

Sinceridade já não serve de nada


Olho no olho ninguém pede a ninguém
Se procura

(inacabada)

Quais são as maneiras de dizer adeus?

(inacabada)

256
POSFÁ

CIO
Este livro será o último! Tudo já foi dito. Não há mais nada o que se
dizer!
Mas é possível que nunca fique pronto ou que se continue para
sempre! Qualquer que seja o tempo deste “sempre”!

257
Parecia interminável. Afinal, Versos Tétricos, meu último livro
publicado de poesias – o mais lido, mais mencionado e mais vendido
- foi apresentado ao mundo em 2003, 18 anos atrás.

Parecia interminável. Pois faz quase 3 anos que está para ser editado;
e de lá para cá, arrasta-se num quase interminável choramingo.

258
Parecia interminável. Vários outros livros e projetos passaram a sua
frente.

Parecia interminável, pois os vários projetos deste livro deram


errado. Quase não fica pronto. E quase houve desistência. E quase
houve um aborto.

Parecia interminável. Crises criativas, falta de tempo, idas e voltas...

Parecia interminável, pois carecia de uma terminalidade que ligasse


todos os anteriores. Carecia também de uma apresentação a altura de
ser o último de todos os outros. Carecia ainda de ser, poeticamente e
filosoficamente umbilicalmente atado aos outros.

Eis os outros:

O CICLO DO NOME (1996)


LINGUAGEM NEGATIVA (1997)
UM HOMEM OLHA O SEU MUNDO DE DIVERSIDADE... E
OUTRAS POESIAS (1999)
FILOSOFIAS D’INVERNO (1998)
VERSOS TÉTRICOS (2003)

Parecida interminável, mas segue-se os finalmentes. A gestação está


ficando ao fim...

(inacabado)

259
Epíteto, couraça, torpor - sem ressalvas – & etc...
Nasce em meio a pandemia. Em meio aos mortos em número de 500
mil.

Epíteto, couraça, torpor - sem ressalvas – & etc...


Nasce após 1 ano e 4 meses de isolamento social, de home office, de
REANP, entre anexos, entre intermináveis refazeres de planilhas
estatais, entre PETs, aulas híbridas, Apps, kits, resoluções e
memorandos.

Epíteto, couraça, torpor - sem ressalvas – & etc...


Nasce entre dentro da pandemia do COVID-19: 5o0 mil mortes no
Brasil, 19 milhões de infectados no Brasil, outros milhões pelo
mundo...

Epíteto, couraça, torpor - sem ressalvas – & etc...


Nasce entre arquibancadas vazias e dos recordes batidos e ninguém
testemunhará Schumacher sendo ultrapassado...

Epíteto, couraça, torpor - sem ressalvas – & etc...


Nasce em meio o amargor das despedidas, das solidões involuntárias
e das autoimpostas, das bolhas virtuais, da eleição sem multidão,
sem debate...

Epíteto, couraça, torpor - sem ressalvas – & etc...


Nasce para ser o último talvez, para ser o ponto final das poesias e
histórias mal acabadas, ansiando ser lida, mas sabendo que ninguém
mais lê nada...

Epíteto, couraça, torpor - sem ressalvas – & etc...


Nasce aos poucos, mas sempre depois das meias noites e quase
nunca depois dos meio dias, com o pôr-do-sol como ponto de partida
e os luares como companhia.

Epíteto, couraça, torpor - sem ressalvas – & etc...


Nasce confinado num apartamento em auto exílio em fuga de um
tempo e de um mundo e de uma vida que se encerrou em 18 de
março de 2020.

Epíteto, couraça, torpor - sem ressalvas – & etc...


Nasce em pleno avanço neofascista no mundo. O pequeno genocida
Lázaro foi pego. O grande genocida Bolsonaro ainda está solto.
260
Epíteto, couraça, torpor - sem ressalvas – & etc...
E enquanto a extrema direita avança, a poesia recua!
Enquanto o autoritarismo, a perseguição e a tortura avançam, a
poesia recua!

Epíteto, couraça, torpor - sem ressalvas – & etc...


Nasce no calor insuportável da Amazônia, do cerrado e do Pantanal
que queimam sem cessar pelas mãos criminosas dos bolsonaristas
que acreditam que não há porque deixar nada. Nem livros nem
filmes! Querem queimar as bibliotecas e filmes!

Epíteto, couraça, torpor - sem ressalvas – & etc...


Nasce em meio as mortes de próximos, de irmãos, de amigos, de
pessoas, e o nosso mundo vai ficando pequeno. Nunca perdemos
tantos em um só ano. Os cemitérios estão mais frequentados que os
shoppings!

Epíteto, couraça, torpor - sem ressalvas – & etc...


Nasce entre pessoas que não sabem distinguir entre professores e
torturadores, entre bondade, beleza e sabedoria e maldade, feiura e
estupidez...

Epíteto, couraça, torpor - sem ressalvas – & etc...


Nasce entre a indecisão entre partir e continuar testemunhando este
mundo doente, entre um novo projeto e esquecer o que foi feito,
afinal todos estão insatisfeitos o tempo todo!

Epíteto, couraça, torpor - sem ressalvas – & etc...


Nasce entre o fim da razão e da lógica e o reinado da ignorância, da
estupidez e da loucura!

Nasce para não ser lido!


Nasce para não enlouquecer o autor-criador!
Nasce para se afirmar entre as várias ideias escritas!
Nasce para negar que seja poesia!
Nasce para ser testamento de um outro mundo no qual nasci e ficou
para trás!

261
Finalmentes em julho (de 2021)

O futuro bateu à porta


que se fechou numa quarentena sem fim

Qualquer sonho além da sobrevivência esvaiu-se entre os dedos

Perdi a soma dos dias...


Perdi o sono das noites...

Todas as leituras tornaram-se apenas crônicas de um interminável


período pandêmico

Sou habitado pela alma hamisteriana


e dou voltas intermináveis em minha roda gigante

Sou habitado pela alma cega do cachorro cego que um dia,


ainda no mundo do calendário gregoriano, para entrar; e ficou

São tempos de saudade

E qualquer sentimento além desta saudade não é nada além...

Será que todo esse tempo não será apenas extensão de falta de
decisão?

Mais algumas coisas... ainda em julho...

Parece não ter restado nada...


Vivemos bons tempos para escrever cartas de saudade das pessoas...
Afinal quem não tem saudade de alguém que ficou perdido no
mundo pré pandêmico

E agora deseja dividir mais lembranças que planos...

Todos sabem que não precisamos mais ler jornais!

As notícias são as mesmas desde 2020 – o ano que não mais acaba!

O mundo está ferido a vírus!

262
Mas tenho pensado como foram os últimos dias de pessoas queridas!

Estas são histórias cujos registros não estarão nos livros!

Talvez seja uma carta aos mortos!

Talvez seja conversa com eles!

Talvez seja a contensão da lágrima ao lembrar!

Talvez seja apenas uma tentativa de ocupar-se!

Não se ocupar do mundo, das histórias das pessoas, das lembranças


das pessoas, das tentativas de chorar para aliviar as dores de estar
morto!

E mais outras coisas em julho, agosto, setembro (de 2022)

(inacabado)

263
264
SOBRE O AUTOR

265
Natural de Santa Cruz de Cabrália/Vila de Gabiarra/Porto Seguro,
Bahia. Morador de Contagem/Betim, Minas Gerais. Historiador,
Graduado em História pela UFMG. Pós-graduado pela UFMG &
UNB. Professor da Rede Estadual de Ensino de Minas Gerais. Diretor
da Escola Estadual Estudante Lívia Mara de Castro desde 2016.
Leciona na Escola Estadual Estudante Lívia Mara de Castro (desde
2001) & Elza Mendonça Fouly (desde 2016).

Filho de Edmundo e Maria da Glória, irmão de Edimilson e Edvaldo,


tio de Pedro Henrique, Jordana e Allan, tio-avô de Madalena.

Sócio benemérito da Academia Nevense de Letras, Ciências e Artes


de Ribeirão das Neves (ANELCA)
Sócio – cadeira 6, Contagem – da Academia de Letras do Brasil da
Região Metropolitana de Belo Horizonte (ALB/RMBH)

Em sua caminhada pela poesia, produziu uma exposição intitulada


Intervindotempo em Belo Horizonte (2000), Epíteto. Etc... em
Contagem (2015/2016), Palavras Guardadas (2015) e Poesias,
poesias, seus tentáculos, anexos e adendos... em Belo
Horizonte (2016). Todas as três exposições tiveram seus
desdobramentos em outras cidades/galerias...

Em sua caminhada pela música, possui parcerias musicais com


bandas e autores diversos. Exemplos: Lúcio Big (banda Fase -
Brasília, DF), Márcio Alexandre (banda In Nomine Belialis -
Contagem, MG), Marcoliva (Florianópolis, SC), Rodrigo Führer
(Holocausto) e Alexsandro Alves (bandas Solve et Coagula e Temple
of Chaos – BH, MG)

Possui ainda, inúmeras poesias, contos, apostilas e textos publicados


em coletâneas diversas e jornais de Minas Gerais e de São Paulo.

Possui um selo para lançamento de CDs de bandas de Metal/Rock e


livros, a TOTEM Records (peça catálogo por e-mail)

Recebeu prêmios, certificados e medalhas de literatura e como


professor.
1º lugar / Categoria Ensino fundamental (6º ao 9º ano) na VIII
Mostra de Inovações Pedagógicas do SESC/MG em 2008
1º lugar / Categoria Protagonismo Infanto-juvenil no Concurso João
Cândido do Sind-UTE em 2010
266
Contato: (31)98773-6353 (somente What’sApp) /
edmaralves1972@gmail.com

267
LIVROS

• O CICLO DO NOME
o Edição artesanal: Ideias em forma de arte (1996)
(tiragem sob demanda; encadernação)
o Edição de aniversário: 20 anos depois...: Ideias em
forma de arte / QualyCópias (2016); incluindo
Chuva (1996), Mais um que se foi: são coisas da
vida (1994), O primeiro compilado (1995), O sol do
leste chorava: um homem chamado passado
(1991/2000) e Um homem chamado passado (1995)
(tiragem de 50 cópias)

• LINGUAGEM NEGATIVA
o Edição artesanal: Ideias em forma de arte (1997)
(tiragem sob demanda; encadernação)
o Edição: Ideias em forma de arte / QualyCópias
(2016); incluindo Discurso intimista ou
reminiscência ou substâncias (1997) (tiragem de 50
cópias)

• UM HOMEM OLHA O SEU MUNDO DE


DIVERSIDADE... E OUTRAS POESIAS
o Edição artesanal: Ideias em forma de arte (1999)
(tiragem sob demanda; encadernação)
o Edição em comemoração pelos 15 anos da exposição
intervindotempo: Ideias em forma de arte /
QualyCópias (2016) (tiragem de 50 cópias)

• FILOSOFIAS D’INVERNO
o Edição artesanal: Ideias em forma de arte (1998)
(tiragem sob demanda; encadernação de madeira)
o 1ª Edição: SC Literato (2014); incluindo CD (tiragem
de 200 cópias)
o 2ª Edição: SC Literato (2016) (tiragem de 100
cópias)

• VERSOS TÉTRICOS
o Edição artesanal: Ideias em forma de arte (2003)
(tiragem sob demanda; encadernação)

268
o 1ª edição: Gráfica JC (2011); incluindo CD-Rom
(tiragem de 20 cópias)
o 2ª edição: Gráfica JC (2011) (tiragem de 300 cópias)
o 3ª edição: QualyCópias (2016)

269
SÉRIE P A R A D I D Á T I C A

PALAVRAS GUARDADAS: POESIA, PROSA E REFLEXÃO


Editora SC Literato

• Palavras Guardadas (2013); em coautoria com Agostinho


Viana
o 1ª edição (2013) (tiragem de 100 cópias)
o 1ª edição / 1ª reimpressão (2015) (tiragem de 100
cópias)

• Volume II; em coautoria com Agostinho Viana


o 1ª edição (2014) (tiragem de 100 cópias)
o 1ª edição / 1ª reimpressão (2015) (tiragem de 100
cópias)

• Volume III (2015); em coautoria com Agostinho Viana


(tiragem de 200 cópias)

• Volume IV (2016); em coautoria com Agostinho Viana


(tiragem de 200 cópias)

• Volume V (2017); em coautoria com Agostinho Viana &


Silmara Morais Viana (tiragem de 300 cópias)

• Volume VI (2018); em coautoria com Agostinho Viana &


Silmara Morais (tiragem de 300 cópias)

• Volume VII (2019); em coautoria com Silmara Morais


(tiragem de 200 cópias)

• Volume VIII (2022); em coautoria com Silmara Morais


(tiragem de 100 cópias) (edição especial de quarentena)

270
SÉRIE LITERATURA E P E D A G O G I A

ATIVIDADE ALTERNATIVA DE HISTÓRIA


Editora SC Literato

Volume 2: conhecendo Contagem com a turma do Contagito (2011);


em coautoria com Agostinho Viana (tiragem de 1000 cópias)

Volume 3: Ribeirão das Neves, de norte a sul (2014); em coautoria


com Agostinho Viana (tiragem de 300 cópias)

Volume 4: Caeté, entre o passado e o futuro (2015); em coautoria


com Agostinho Viana (tiragem de 200 cópias)

Volume 5: São Francisco do Glória, das Esteiras ao Glória (2016); em


coautoria com Agostinho Viana (tiragem de 25 cópias) (prensagem
QualyCópias)

Volume 6: Betim construída por gente (2022); em coautoria com


Agostinho Viana e Raquel Paixão (tiragem de 30 cópias)

Volume 7: História & literatura (2022); em coautoria com Agostinho


Viana, Silmara Morais e Mônica de Carvalho (tiragem de 30 cópias)

Volume 8: MORRO VERMELHO: Passagens por “o Morro


Vermelho” (2022); em coautoria com Agostinho Viana (tiragem de
30 cópias)

271
COLETÂNEAS D I V E R S A S

ALB RMBH/MG
AMALETRAS/AMBA
ANELCA
Ao intento do vento/poesia nas montanhas de Minas
Arte e cultura em letras
Edições Arnaldo Giraldo
Menotti del Picchia
Projeto Apparere/Contos sombrios

EM C O L A B O R A Ç Ã O

Criaturas de Marte (2022); em coautoria com Raquel Silva, Alice


França, Davi França e Alexsandro Almeida
Editora Escola Cidadã/ Totem Records (tiragem de 50 cópias)

EXPOSIÇÕES

• Intervindotempo (2000)
• Epíteto. Etc... (2015/2016)
• Palavras Guardadas (2015)
• Poesias, poesias, seus tentáculos, adendos e outros anexos
(2016)

272
AGRADECIMENTOS

& NOTAS

273
AGRADECIMENTOS

Agostinho Viana
Aliny Mesquita
Amador Madalena
Cláudio Cardoso
Edson Drummond/Livraria Popular Vê-se-lê
Fernando “Drowned” Lima
Ítalo Dourado
Leo Brito
Maycon Oliveira
Leonardo, Natal & QualyCópias
Rodrigo Füher
Ruy Rogério/Motin Underground

274
NOTA S

Vídeos promocionais para o lançamento do livro postados no canal


Edmar Alves/TV Totem (assista, se quiser)

vídeo #1

Vídeo #2

Créditos

Edição, Ficha catalográfica, projeto gráfico e layout – Edmar Alves


Revisão de alguns textos – Silmara Morais
Revisão de texto e digitação – Edmar Alves
Uma publicação da Totem Records 2022

275
Poesias não i n é d i t a s

As poesias do capítulo 1m não inéditas fazem parte dos 5 livros


anteriormente lançados por mim

Fotos/i m a g e n s

Todas as fotos/Imagens foram modificadas por Edmar Alves

Capa/1ª imagem do livro – Arte de Fernando Lima e concepção de


Edmar Alves, modificada por Edmar Alves

Prefácio/Abertura dos capítulos/Posfácio - Fotos de Edmar Alves e


modificadas por Edmar Alves

Figurinhas 1, 2 e 3

Arte de Saulo Titoni (2012)/ Arte de Nilson Gomes (2006)/ Arte de


Guidiony (2011)

Poster (não pode ser vendido separadamente)


Arte de Fernando Lima (2018)

Foto do autor - MAMP

Foto final do livro - Luiz Felipe Costa

Os locais foram omitidos propositalmente

Capítulo 1
Arte de Eliana Martins/2 artes de AR/Arte de Salin da Sá/Arte de
Lucas Figueiredo (Lukinha)/2 fotos Edmar Alves/3 artes de Daniel
Cassin/2 artes de Eliana Martins/Arte de Salin de Sá/5 fotos de
Edmar Alves/Arte de Ender /Arte de Salin de Sá/Foto de
MAMP/Arte de Salin de Sá

276
Capítulo 2
Foto de Edmar Alves/Foto de ?/Foto de Raquel Silva/Foto de
Marcus Vinícius/3 fotos de Edmar Alves/1 foto de Edmar Alves
sobre arte de Allan Cunha ou Jordana Pimenta/Foto de
MAMP/Foto de Edmar Alves/Edmar Alves sobre arte de Sineimar
Renato/Foto de Cláudia Márcia

Capítulo 3
Foto de Júnia Cardoso/3 fotos de Edmar Alves/Foto de Rognelson
Dutra/3 fotos de Alexandre Márcio/2 fotos de MAMP/Arte de
Fernando Lima/5 fotos de Edmar Alves/Foto de Luiz Felipe
Costa/Foto de Edmar Alves/Arte de Sineimar Renato

Capítulo 4
Desenho de Nilson Gomes/2 fotos de MAMP/4 fotos de Edmar Alves

Capitulo 5
Arte de Sineimar Renato/2 fotos de Edmar Alves/Arte de Fernando
Lima/2 foto de Edmar Alves/Arte de Ender

277
278
Ações são mais eficientes que orações, adorações a deuses,
santos, símbolos, imagens, crendices e mitos e
superstições.
Aja! Doe seu tempo e seu dinheiro em ações!

Doem para Médicos Sem Fronteiras (MSF) e demais entidades


laicas...

Doem para Save The Children e demais entidades que cuidam de


crianças violentadas, abandonadas, de rua e em situação de
pobreza...

Doem para entidades que cuidam de animais abandonados e que


lutam contra crueldade animal...

Doem para instituições de cuidados com idosos, mulheres ameaçadas


e violentadas, portadores de doenças raras, moradores de rua, etc...

Doem para Ongs laicas e republicanas que defendem causas


humanitárias, animais e ecológicas...

Evitem entidades religiosas (a não ser que, comprovadamente,


revertem suas doações aos necessitados)...

Contribuam com pessoas comuns que defendem essas causas que


você defende e que trabalham sem o amparo de governos e
instituições...

Lembre-se que há sempre uma pessoa, um animal, um


lugar ou uma causa que precisa ser defendido!

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Uma publicação da

Totem Records 2022


Sons, letras, cultura, política, humanidade e natureza

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