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TRABALHO DE LEIS EXTRAVAGANTES

PROFº MÁRCIO REMO

ALUNA : LUCIANA NEVES DE FARIAS RA 9336387940

LEI 10741/03

A história do direito é componente obrigatório nos cursos de Direito no Brasil e possui uma autonomia
disciplinar.
A rigor, não há que se falar em história do Direito, com um caráter universal em uma progressão temporal
linear. Adotando-se uma perspectiva sócio antropológica e mesmo historiográfica, o que encontramos são
tradições culturais particulares que informam práticas rituais de resolução de conflitos - sejam estas
formais ou informais, codificadas ou não, escritas ou não.
Pode limitar-se a uma ordem nacional, abrangendo o direito de um conjunto de povos identificados pela
mesma linguagem ou tradições culturais. Pode-se falar em história do Direito Romano e suas instituições,
do Direito português, do brasileiro, ou se estender ao plano mundial.
Sabe-se, por exemplo, que segundo a tradição europeia continental, a história do Direito Romano e de suas
instituições tem grande importância. É necessário que a história do direito, paralelamente à análise
da legislação antiga, proceda à investigação nos documentos históricos da mesma época. A pesquisa
histórica pode recorrer às fontes jurídicas - que tomam por base as Leis, o Direito consuetudinário,
sentenças judiciais e obras doutrinárias - às fontes não-jurídicas, como livros, cartas e outros documentos.
A história do direito é de suma importância para o estudo da ciência jurídica, pois, visa compreender o
processo de evolução e constante transformação das civilizações humanas no decorrer da história dos
diversos povos e consequentemente das diversas culturas, do ponto de vista jurídico, sendo assim o direito
a ciência do conviver.

Em 1991, as Nações Unidas instituíram uma Carta de Princípios para Pessoas Idosas, os quais se
direcionavam em quatro principais eixos de ação: independência, participação, cuidados especiais e
dignidade. Em 2002, realizou-se, em Madri, a II Conferência Internacional sobre Envelhecimento, momento
em que o Brasil torna-se a preocupar com a pessoa idosa, e, na oportunidade, foram elaborados a
Declaração Política e o Plano de Ação Internacional de Madri sobre Envelhecimento (MIPAA), o qual é tido
como documento reivindicatório, pois o direito do idoso há de ser compreendido de forma abrangente. Tal
plano deu atenção especial à situação dos países em desenvolvimento e definiu como temas centrais a
realização de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais das pessoas idosas, seus direitos civis e
políticos e a eliminação de todas as formas de violência e discriminação contra a pessoa de idade. Em
janeiro de 2010, foi publicado estudo do Comitê Consultivo do Conselho de Direitos Humanos das Nações
Unidas, que aponta para a necessidade de uma convenção internacional específica para os direitos das
pessoas idosas e recomenda o incentivo aos Estados para reportarem-se ao tratamento destinado a estas
pessoas. Logo, apesar dos direitos dos idosos serem regulamentados pelos direitos humanos e a criação de
uma normativa internacional específica não solucionar a problemática relacionada as pessoas idosas,
vislumbra-se a importância desta regulamentação, especialmente a fim destacar a temática sobre o idoso e
auxiliar na efetiva garantia de seus direitos. Em relação aos países integrantes do Mercosul, é importante
salientar que, em conjunto, se comprometeram para com os direitos dos idosos, visando promover o
tratamento desta temática no marco geral das Nações Unidas, com o objetivo de avançar para a adoção de
uma convenção internacional da matéria. Contudo, vale evidenciar que o debate acerca da necessidade de
um instrumento internacional vinculativo dos direitos humanos da pessoa idosa na América Latina
extrapola as fronteiras dos países do Mercosul, ocorrendo nas reuniões da Comissão Econômica das Nações
Unidas para a América Latina e Caribe (CEPAL) e da Organização dos Estados Americanos (OEA). Em relação
à normativa brasileira, finalmente, após 7 anos de tramitação no Congresso Nacional, entrou em vigor no
dia 1º de janeiro de 2004, no Brasil, o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003), após ser sancionado pelo
Presidente da República em outubro de 2003. Por outro lado, através do III Plano Nacional de Direitos
Humanos (PNDH-III), caso seja aprovada uma convenção internacional dos direitos humanos da pessoa
idosa, esta seria recebida pela Constituição Federal Brasileira de 1988, como direito fundamental e,
poderia, conforme o parágrafo 3º do art. 5º, atingir status de emenda constitucional, se aprovada por
quórum especial. Ainda no Brasil, em 2010, foi instituído o Fundo Nacional do Idoso, com o objetivo de
financiar os programas e as ações relativas ao idoso com vistas a assegurar os seus direitos sociais e criar
condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade. A criação do
fundo significa dimensão pragmática da política nacional do idoso. Sob o liame do Estatuto do Idoso (Lei
nº10.741/2003), vale destacar que esta Lei Federal é composta por 118 artigos, e resgatou os princípios
constitucionais que garantem aos cidadãos com idade igual ou superior a sessenta anos (art. 1º), direitos
que preservem a dignidade, sem distinção de origem, raça, sexo e idade. Pautou-se nos princípios da
absoluta prioridade ao idoso e da proteção integral deste indivíduo, haja vista que definiu preceitos
fundamentais em relação às pessoas idosas, estabeleceu a forma como devam estas ser tratadas por seus
familiares, consagrou que é obrigação do Estado, garantir aos idosos a proteção à vida e à saúde, mediante
efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de
dignidade (art. 9º) e criou tipos penais especificamente relacionados à proteção à pessoa idosa. No tocante
à tutela penal criada pelo Estatuto do Idoso, este prevê, em seu art. 94 que: […] aos crimes previstos em lei,
cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o procedimento previsto
na Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do Código
Penal e do Código de Processo Penal (Lei nº 10.741, out. 2003). Contudo, confere-se a referido artigo duas
interpretações: a primeira é que podem ser utilizados na respectiva apuração os institutos da transação
penal e da suspensão condicional, de modo que, não sendo possível a aplicação desses benefícios, o
trâmite processual ocorrerá de acordo com o rito previsto nos arts. 77 a 81 da Lei nº 9.099/95. Por outro
lado, a segunda corrente entende que, a teor da redação do art. 94, aos crimes previstos no Estatuto com
pena máxima de até quatro anos deve ser estabelecida, como regra geral, a aplicação do procedimento
sumaríssimo previsto na Lei nº 9.099/95 e, como exceções, a possível aplicação às infrações penais
tipificadas no Estatuto do Idoso o instituto da transação penal apenas quando a pena máxima cominada in
abstrato não foi superior a dois anos ou, se possível aplicar às infrações penais tipificadas no Estatuto do
Idoso o instituto da suspensão condicional do processo apenas quando a pena mínima cominada não for
superior a um ano. Conforme entendimento de Norberto Avena (2010, p. 821), “a adoção da primeira
posição importaria no paradoxo jurídico”, haja vista que levaria à conclusão de que, sendo idosa a vítima,
consideram-se como de menor potencial ofensivo todas as infrações que tenham cominada pena de até
quatro anos de prisão, e, não sendo, são de menor potencial ofensivo apenas os delitos cuja pena máxima
não ultrapasse dois anos (art. 61 da Lei nº 9.099/95). Neste sentido, conclui o autor que: […] “tal
interpretação, em vez de extrair da lei uma maior proteção à vítima idosa, consagra um privilégio ao
criminoso, possibilitando desfrutar dele, em casos tais, de benefício (transação penal) que não lhe seria
concedido caso tivesse o crime sido praticado contra pessoa com idade inferior a 60 anos” (AVENA, 2010,
p.821). Por essas razões, a maioria da doutrina e jurisprudência, aderiram à segunda vertente, qual seja, a
de que o Estatuto do Idoso não ampliou a definição de infração de menor potencial ofensivo estabelecido
pela Lei nº 9.099/95, tampouco conferiu ao criminoso o direito aos benefícios da transação penal e da
suspensão do processo (arts. 76 e 89 da Lei nº 9.099/95) a todas as figuras típicas nele definidas com
apenamento máximo de até quatro anos. Pelo contrário, “pretendeu assegurar uma proteção mais efetiva
ao idoso, estabelecendo um procedimento simplificado e, via de consequência, mais rápido, na apuração
das infrações definidas em seu art. 94” (AVENA, 2010, p. 821). Em caso de apuração dos crimes definidos
no Estatuto do Idoso com pena máxima superior a quatro anos, por falta de disciplina expressa, o rito a ser
aplicado é o comum ordinário (rito padrão), nos termos do art. 394, § 1º, I do Código de Processo Penal,
concluindo-se, portanto, que o procedimento sumário não é utilizado nas infrações tipificadas no Estatuto
do Idoso. Para definição do procedimento de apuração dos crimes praticados contra o idoso não definidos
na Lei nº 10.741/2003, deve-se utilizar, na falta de procedimento especial, a regra do art. 394, § 1º do CPP.
Todavia, havendo procedimento especial previsto no Código Penal ou em leis especiais, este deverá ser
aplicado. Em face da divergência de posicionamento quanto à forma de investigação policial e ao juízo em
que deverá tramitar o processo criminal voltado à apuração de tal ordem de crimes, Avena entende que,
nas infrações com pena máxima não superior a dois anos, a investigação policial é realizada mediante
termo circunstanciado, a competência do processo é do juizado especial criminal, com aplicação do rito
sumaríssimo, e podem ser aplicados os benefícios da transação penal e suspensão condicional. Em relação
às infrações com pena máxima superior a dois anos e que não supere a quatro anos, e às infrações
remanescentes com pena máxima superior a quatro anos, a investigação policial ocorre mediante inquérito
policial, sendo competente o juízo comum. A diferença é que no tocante aos primeiros delitos, poderá ser
aplicado apenas o instituto da suspensão condicional do processo, desde que a pena mínima do crime não
seja inferior a um ano e o procedimento é o sumaríssimo (art. 94 da Lei nº 10.741/2003), enquanto que
para os outros crimes, não haverá nenhum benefício e o procedimento utilizado é o comum ordinário.
Quanto às infrações não definidas no Estatuto do Idoso, seguirão as regras normais de apuração conforme
seja a hipótese delituosa que tenha sido praticada contra o idoso. Sob a ótica do direito processual penal e
processual civil, vale enfatizar que o Estatuto do Idoso assegurou a tramitação mais célere ao idoso que
figura como parte no processo. Enquanto a Emenda Constitucional nº 45/2004 regulamentou como direitos
e garantias fundamentais a razoável duração do processo, o Estatuto do Idoso priorizou a tramitação dos
feitos, em qualquer instância, em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou
superior a 60 anos (art. 71, caput). Vale enfatizar que basta fazer prova de sua idade, requerendo o
benefício à autoridade judiciária competente para decidir o feito, a qual “determinará as providências a
serem cumpridas, anotando-se essa circunstância em local visível nos autos do processo” (art. 71, § 1º, Lei
nº 10.741/2003). No tocante à Administração Pública, a prioridade do idoso se estende aos processos e
procedimentos, “empresas prestadoras de serviços públicos e instituições financeiras, ao atendimento
preferencial junto à Defensoria Pública da União, dos Estados e do Distrito Federal em relação aos Serviços
de Assistência Judiciária” (art. 71, § 3º, Lei nº 10.741/2003). Ainda, prevê a Lei nº 10.741/2003 que, “para o
atendimento prioritário será garantido ao idoso o fácil acesso aos assentos e caixas, identificados com a
destinação a idosos em local visível e caracteres legíveis” (art. 71, § 4º). Antes da entrada em vigor do
Estatuto do Idoso, apenas algumas cidades brasileiras garantiam o transporte coletivo público gratuito aos
idosos. Contudo, após o advento da Lei nº 10.741/2003, “fica assegurada a gratuidade dos transportes
coletivos públicos urbanos e semi- urbanos, exceto nos serviços seletivos e especiais, quando prestados
paralelamente aos serviços regulares” (art. 39, caput). Assim, para fazer a tal benefício, basta que a pessoa
idosa apresenta qualquer documento que faça prova de sua idade (art. 39, § 1º, Lei nº 10.741/2003). Ainda,
em referidos veículos, 10% dos assentos devem ser reservados aos idosos, sendo estes preferenciais,
inclusive devendo conter aviso legível (art. 39, § 2º, Lei nº 10.741/2003). Destaca-se que aos idosos com
idade entre 60 e 65 anos, a concessão de tal benefício ficará a critério da legislação local (art. 39, § 3º, Lei
nº 10.741/2003). Por outro lado, o Estatuto do Idoso excepcionou os transportes coletivos interestaduais,
garantindo apenas a reserva de duas vagas gratuitas em cada veículo para pessoas idosas com renda igual
ou inferior a dois salários mínimos, ou desconto de 50% do valor da passagem para os idosos que
excederem as vagas gratuitas e que se enquadrarem neste privilégio (art. 40, incisos I e II), cabendo aos
órgãos competentes definir os mecanismos e os critérios para o exercício destes direitos (art. 40, parágrafo
único). Nos termos da lei local, aos idosos é assegurada a reserva de “5% (cinco por cento) das vagas nos
estacionamentos públicos e privados, as quais deverão ser posicionadas de forma a garantir a melhor
comodidade” ao usuário (art. 41, Lei nº 10.741/2003). Também “é assegurada a prioridade do idoso no
embarque no sistema de transporte coletivo” (art. 42, Lei nº 10.741/2003). Sob a vertente do direito civil
de família e sucessões, o art. 1.641 do Código Civil determina que é obrigatório o regime da separação de
bens no casamento de pessoa maior de sessenta anos. E, por se tratar de regime imposto por lei, não há
necessidade de pacto antenupcial. Desta forma, “mostra-se evidente o intuito de proteger certas pessoas
que, pela posição em que se encontram, poderiam ser vítimas de aventureiros interessados em seu
patrimônio” (GONÇALVES, 2008, p. 145). Ou seja, o objetivo desta proteção legal é obstar à realização de
casamento exclusivamente por interesse econômico. Em sentido contrário é o entendimento de César
Fiúza que critica o dispositivo nos seguintes termos: […] a constitucionalidade do regime de separação legal
imposto aos maiores de 60 anos vem sendo discutida, desde a entrada em vigor do Código Civil. De fato,
não parece de bom senso a exigência, que representa uma capitis deminutio aos maiores de 60 anos. A
norma os infantiliza, os idiotiza, o que não condiz com a realidade. Hoje, uma pessoa de 60 anos é ainda um
jovem, pelo menos para efeito de casamento” (2009, p. 965). Outra questão intimamente relacionada ao
regime de bens é a doação entre os cônjuges. O Direito Brasileiro admite esta modalidade de doação,
ressalvadas três hipóteses, tais como: se o regime for o da separação obrigatória; se o regime for o da
comunhão universal de bens, uma vez que todos os bens já integram o patrimônio comum; se a doação
ferir a legítima dos herdeiros necessários. No tocante à sucessão legítima, se o cônjuge sobrevivente
concorrer com descendentes do autor da herança, terá direito ao mesmo quinhão que a cada um deles for
conferido por cabeça. Entretanto, conforme previsão do inciso I do art. 1.829 do Código Civil, este direito
não subsiste, não concorrendo o cônjuge sobrevivente com os descendentes, em três hipóteses: se o
regime do casamento era de comunhão universal; se o regime do casamento era o da separação
obrigatória dos bens; e, se o regime do casamento era o da comunhão parcial de bens, e o falecido não
houver deixado patrimônio particular. Fiúza destaca que de todo modo, “[...] qualquer que seja o regime de
bens do casamento, o cônjuge sobrevivente terá direito real de habitação sobre a residência da família,
desde que seja ela o único imóvel residencial do casal” (2009, p. 1028). Neste sentido, aufere-se que a
pessoa idosa além de ser obrigada a se casar sob o regime da separação de bens, ainda fica impedida de
fazer doações de seu patrimônio para o cônjuge, o qual, em caso de óbito do autor da herança, não
concorrerá com os descendentes e, logo, não possuirá quota parte no espólio. CONCLUSÃO Nas sociedades
contemporâneas, os idosos são vistos como fonte de problema, principalmente pelo fato do custo de suas
políticas públicas ser muito alto e sem retorno financeiro para os cofres públicos. Entretanto, esta visão
acerca do idoso é base para o preconceito e a discriminação. No plano internacional, nota-se que não há
convenções multilaterais que contemple o idoso como tema principal, de modo que a proteção das pessoas
de idade avançada ocorre pela aplicação dos instrumentos internacionais de direitos humanos existentes.
Apenas a Convenção Internacional para a Proteção dos Direitos de todos os Trabalhadores Migrantes e
Membros de suas Famílias condena a discriminação pautada na idade. Ainda, as Resoluções da Assembléia
Geral das Nações Unidas e os Planos de Ação Internacionais nas Nações Unidas são normas gerais ou
princípios, e, por isso, não vinculam os Estados ao cumprimento da obrigação. Neste sentido, apesar dos
direitos dos idosos serem regulamentados pelos direitos humanos e a criação de uma normativa
internacional específica não solucionar a problemática relacionada as pessoas idosas, vislumbra-se a
importância desta regulamentação, especialmente a fim destacar a temática sobre o idoso e auxiliar na
efetiva garantia de seus direitos. Por outro lado, no Brasil, há uma ampla normativa em relação aos idosos,
o que garante a proteção de seus direitos. Por tratar-se de um grupo vulnerável, o Poder Executivo
Brasileiro criou políticas públicas que visam garantir os direitos dos idosos, girando em torno
principalmente da fonte de renda, sejam as aposentadorias ou os benefícios de prestação continuada.
Finalmente, vale destacar que os idosos são hipossuficientes em relação aos outros cidadãos. A maior
expectativa de vida é positiva para as sociedades, mas também é fonte de novos desafios. E é por isso que a
proteção de seus direitos é a garantia de condições de igualdade nas sociedades.

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