Você está na página 1de 2

ALGUNS PONTOS SOBRE ETNICIDADE

*
Francisco das Chagas Fernandes Santiago Júnior

A etnicidade tem se desenvolvido como um dos campos de pesquisa mais ricos


das humanidades e ciências sociais. Em cada disciplina, as noções de etnia, grupo étnico e
etnicidade apresentaram uma trajetória própria que é impossível aqui recordar. Em vez
disso, iremos apenas apontar alguns pontos que consideramos pertinentes na reflexão
sobre etnicidade na atualidade, e como esta permite relativizar o olhar do pesquisador
sobre a forma como os seres humanos constroem sua convivência e pensam a si próprios.
Em meio aos tempos das discussões dos locais da cultura e da diáspora1, da modernidade
líquida2 ou das desterritorializações3, etnia, raça e seus correlatos são re-problematizados
como um dos aspectos fundamentais pelos quais conflitos e disputas nas sociedades
contemporâneas são construídos. Elaboremos alguns dessas problemáticas.

1. A etnicidade é uma questão de identificação construída tendo como


referência uma origem comum.

A tradição “barthiana”, a rigor, jamais resolveu o problema da diferenciação da


etnicidade e sua especificidade como fenômeno identitário. Porém, o estudo da etnicidade
se define pela análise “dos processos variáveis e nunca determinados pelos quais os atores
identificam-se e são identificados pelos outros na base da dicotomizações Nós/Eles,
estabelecidas a partir de traços culturais que supõe derivados de uma origem comum e
realçados nas interações raciais”4.

2. A atribuição é a maneira pela qual a etnicidade adquire existência,


podendo se tornar um recurso “digno” de realce pelos agentes sociais
*
Professor Adjunto I do Departamento de História e Geografia (CERES) da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte.
1
BHABHA, Homi. O Local da Cultura. 2 ed. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2003.
2
BAUMAN, Zygmunt. A Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2001.
3
GUATTARI, Felix. Da produção de subjetividade. In: PARENTE, André. A Imagem-Máquina: a era das
tecnologias do virtual. 3 ed. São Paulo: Editora 34, 1996.
4
STREIFF-FERNART, Jocelyne; POUTIGNAT, Philippe. Teorias da Etnicidade seguido de grupos étnicos
e suas fronteiras. São Paulo: Editora da UNESP, 2000. P. 141.

1
3. A etnicidade oscila numa dialética entre ascendência e consentimento tanto
na relação entre os grupos étnicos como nos produtos culturais.
4. A identidade étnica se faz sob processos desiguais que implicam em experiências
sociais diversas e frequentemente traumáticas.
5. A etnicização é o processo pelo qual é construída a etnicidade como um dos muitos
padrões de compartilhamento de características culturais
6. A etnicidade nem sempre depende de uma comunidade étnica, podendo ter uma
existência virtual e/ou desterritorializada.
7. Os agentes sociais costumam naturalizar as diferenças étnicas, tendendo a apagar
as origens “crioulas” e a concorrência destas com outras formas de relação social
vigente.
8. Para finalizar, podemos dizer que compreender as variações não étnicas de
identificação permite observar as diversas maneiras pelas quais os agentes sociais são
inventivos na consciência e tentativa de resolução de alguns de seus problemas
cotidianos. Compreender a etnicidade implica em dessencializá-la e encontrar com
quais campos e padrões de partilha culturais e socialização ela concorre. A
concorrência de padrões é fundamental para entender quais as opções que tornam o
realce étnico mais ou menos pertinente.

Você também pode gostar