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Sabentas, Multiculturalidade e Diálogo Intercultural

Multiculturalidade e Dialogo Intercultural (Universidade de Coimbra)

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Descargado por Andrea Martins (bloomcerejinha.am@gmail.com)
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Multiculturalidade e diálogo intercultural


2020. Por Sofia Puglielli.
Boa sorte!! n.n

Programa

I. Vocabulários e gramáticas

1. Culturas e identidades: definições e configurações


2. Multiculturalismos e multiculturalidades: definições, usos, políticas
3. Discriminações: causas, modalidades, consequências

II. Temas, processos, legados

4. Racismos: história e memória


5. Colonialismos e imperialismos: trajetórias e legados
6. Nacionalismos: discursos e políticas
7. Migrações, refugiados e hospitalidade: casos e processos
8. Direitos Humanos: visões e concretizações

Vocabulários e gramáticas

1| Aula de 12 de outubro: Culturas e identidades: definições e configurações. A noção de cultura.

1. Culturas e identidades
“Nunca é uma perda de tempo estudar a história duma palavra”
- Lucien Feure, 1930. Historiador a propósito da palavra “civilização”

I. As (in)definições de Cultura.

Perceber a história duma palavra é perceber muito mais do que a palavra.


Existe um sem fim de sinónimos parciais ou totais da palavra “Cultura”. Mas a
procura do significado desta pode levar a perda da propiá palavra/conceito.
Isto acaba por ser um debate fortemente marcado pela tentativa de apoderar-
se do significado da palavra. Assim, os desentendimentos sobre o significado da
palavra Cultura acabam por originar más apropriações da mesma.

- Imprecisão semântica;
- Apropriação política;
- Diversidade de perspetivas.

 Polissemia, múltiplas definições, múltiplos sentidos e usos;


 Definições, sentidos e usos fluídos, dinâmicos com contexto e história;
partilhados, apropriados e contestados; negociados e impostos;

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 Definição etimológica consensual, mas apresenta dificuldades com a


impressão semântica;
 Sobreposição parcial de outros termos (tradição, civilização, sociedade,
ideologia, mundividência);
 A cultura como objeto de conhecimento de várias disciplinas:
diversidade de perspetivas, linguagens, teorias, métodos, teses,
paradigmas;
 Múltiplos debates conceptuais, teóricos, metodológicos, analíticos;
 A modernidade – Industrialização, intensificação do comércio, a
racionalidade económica e científica, a dessacralização do social e do
político e os seus efeitos de desintegração cultural, comunitária,
“Tradicional”;

Se não é possível definir positivamente acontece uma tentativa de definição


por contraste.

II. (in) definições por contraste.


CULTURA VS …

 O superficial ou desmoralizador (a decadência da civilização moderna)


 A barbárie, a selvajaria, o incivilizado;
 Biologia: supressão dos instintos e dos desejos e refinamento da civilidade;
 A razão e pensamento científico;
 O material, a técnica, o lado prático da (sobre) vivência;
 O individualismo e a criatividade individual;
 O universal: cultura como o particular, diferença cultural como obstáculo a
projetos universalistas ou universalizantes;
 Cultura como totalidade singular VS cultura heterogénea, variável com
caraterísticas partilhadas com outras culturas.

III. Quatro sentidos

 Cultura como educação estética


- Cultura no singular, relativa a ideias humanos universais, a formas valorizadas
de arte, literatura, ideias;
- Desenvolvimento de virtudes morais, sociais e intelectuais;
- Tensões entre (supostas) “Alta cultura” e “baixa cultura”.

Remete as “classes de elite” e à cultura popular, o


folclore. Discriminação de origem histórica.

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 Cultura como desenvolvimento (incremental)


- Cultura: todos os aspetos da vida social resultantes de processos de
aprendizagem cumulativa;
- Diferentes graus de desenvolvimento cultural, hierarquizáveis;
- Cultura como processo potencialmente dinâmico, mas unidirecional,
“evolucionista”.

 Cultura como “formas de vida” distintas


- Cultura no plural, diversa, heterogénea, não passível de ser restrita a
certas práticas socias;
- Plurais, mas com coerência interna, diferenciadas de outras em razão de
contextos precisos, exprimindo diferentes identidades únicas,
incomparáveis, incomensuráveis, não hierarquizáveis;
- Pluralismo ou relativismo?

 Cultura como produção de sentido


- Processo coletivo de confeição de sentido a cada experiência,
condicionando a ação social e instituições sociais;
- Partilha de códigos, significados, sentidos (ou não…);
- Cultura como o conjunto de significados partilhados (Stuart hall);
- Centralidade da análise de discursos;
- Como descrevemos o mundo afeta a nossa experiência, não lhe da apenas
sentido condiciona interpretações, ações e forma identidades.

Processos de Othering…
Categorização de um grupo de pessoas de acordo com a perceção (ou
estabelecimento) de diferenças de natureza étnica, cor de pele, religião, orientação
sexual, género, origem geográfica, ou pertença cultural, gerando dinâmicas e
estruturas de discriminação e desigualdades sociais, económicas, políticas (Ex: à
cidadania).

Os processos de Othering conduzem à desumanização, facilitação de políticas de


extermínio e genocídio. O questionamento e recusa destes processos de Othering, de
exotização ou mesmo diabolização da alteridade, do outro – do racismo à xenofobia

2| Aula de 15 de outubro. Culturas e identidades: definições e configurações. A noção de identidade.

“Histórias importam, muitas histórias importam”


- Chimamanda Ngozi Adichie, "The danger of a single story"

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I. Os perigos de uma história única

“A única história cria estereótipos. E o problema com estereótipos não é que eles
sejam mentira, mas que eles sejam incompletos. Eles fazem uma história tornar-se
a única história.”

 Histórias e experiências sobrepostas, partilhadas, heterogéneas, em


construção, ambivalentes e contraditórias, mas estereótipos, simplismos e
reducionismos, binaríssimos e dicotomias, miopias e generalizações, prisões
simbólicas e identitárias.

II. Os perigos de uma identidade única


Tal como acontece com “cultura”, existem (in)definições de identidade. Situações
de polissemia, múltiplas definições, múltiplos sentidos e usos. Definições, sentidos
e usos fluidos com contexto e história; partilhados, apropriados e contestados;
negociados e impostos.
A identidade acaba por ser objeto de conhecimento de várias disciplinas:
- Diversidade de perspetivas, linguagens, teorias, métodos, teses, paradigmas;
- Múltiplos debates conceptuais, teóricos, metodológicos e analíticos.

Identidade – Conjunto de identificações ou pertenças culturais partilhadas, resultante


de opções e imposições, de possibilidades e constrangimentos entre o que
supostamente “somos” e o que supostamente “devíamos ser”.
A identidade é plural e múltipla, por vezes ambivalente e até contraditória… “as
mestiçagens diversas, as diversas influências subtis e contraditórias”, “nossas” e dos
“outros”. – A noção de mestiçagem de Maulouf.
Identidade relacional, em construção, dinâmica, não fixa e imutável, resultado de
negociações condicionados por contextos históricos, sociais e culturais, mas esses
condicionamentos não são absolutos nem determinantes.

A identidade não é possuída, nem atribuída inteiramente; nem algo que nos define
estaticamente, mas sim um processo interminável d nos tornarmos um individuo
distinto, um grupo distinto.

III. Processos de estigmatização (Erving Goffman, Sociologo)


Desaprovação de crenças ou caraterísticas pessoais por serem tomadas como
contrárias as normas sociais instituídas, conduzindo frequentemente à
marginalização social.

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Aula de 19 de outubro, Multiculturalismos e multiculturalidades: Definições, usos, políticas.

3| Lição do Professor João Maria André.

2. Multiculturalismos e multiculturalidades

I. Distinção entre multiculturalidade e multiculturalismo


Ambos conceitos têm um carater complexo e pratico, no entanto, não devem
ser confundidos.
Multiculturalidade – A multiculturalidade é a coexistência, numa determinada sociedade
ou proximidade espacial, de formas estruturais diferentes ou dinâmicas culturais diferentes ou
de grupos com determinadas diferenças. Representa a realidade de coexistência de diferentes
grupos culturais numa certa proximidade. Tem um sentido descritivo, descreve uma
determinada situação. É um conceito equivalente a diversidade cultura. Assim, este conceito
assenta principal no conceito de cultura societal.

Societal é um vocábulo estrangeiro que


significa: relativo à soma das condições e
Multiculturalismos - é uma faceta política sobre a
atividades humanas consideradas como um
multiculturalidade, são as respostas aos problemas da todo funcionando interdependente mente
multiculturalidade. Os multiculturalismos têm uma
dimensão normativa, são modelos políticos que dão
resposta as sociedades marcadas pela multiculturalidade.

II. Interculturalidade ou interculturalismo


«Inter» remete para interação, para envolvimento mútuo.
Na sequência disto, a interculturalidade é o envolvimento entre várias culturas,
enquanto o interculturalismo remete para a resposta política entre culturas.

 NOTA – quando se fala em diálogo inter-religioso e diálogo intercultural não


devem misturar-se pois enquanto a religioso e diálogo intercultural não
devem misturar-se pois enquanto a religião baseia-se na fé, a cultura
baseia-se na tradição, na arte… ambos conceitos são próximos, mas não são
o mesmo.

III. Fatores da intensificação e potencialização da multiculturalidade atual


Distinguem-se três fatores potencializadores da multiculturalidade:

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I. A erosão do Estado Nação

o Estado – Espaço geográfico e territorial com soberania e independência unificada no


exercício de soberania política, isto é, o território e as suas instituições políticas.
o Nação – Povo com identidade histórico-cultural, isto diz respeito a língua, a tradição
a história, a tudo aquilo ao que o povo se identifica

Estado-Nação: coincidência da estrutura com uma Nação; Primado da Nação.


É uma compreensão territorial com soberania política sobreposta a uma comunidade
nacional.
A segunda metade do seculo XX, devido à fatores políticos e económicos, foi marcada
por um processo progressivo de erosão ou mesmo dissolução de grandes estado-
nação. Constitui-se uma geografia politico-cultural marcada por aquilo que poderemos
chamar estados poli étnicos, ou seja, estados que acolhem no seu seio comunidades
ricas em diversidade cultural.
“(…) Repensar não só as tradicionais fronteiras, mas até a propiá noção de fronteira.”

João Maria André.

II. A Globalização
Há, historicamente, várias globalizações, ou várias sequencias da globalização de que
os tempos recentes são apenas uma reta final, ainda que com os seus propiás
especificidades. Esta começa na Europa com a revolução do vapor, eletricidade e
informática.
“(…) intensificação das relações mundiais que unem locais distantes, de tal modo que
acontecimentos locais são condicionados por eventos que acontecem a muitas milhas de
distância e vice-versa” – Giddens

Desta maneira, tudo o que acontece tem uma projeção global. Mas a realidade da
globalização é também plural em termos ético-políticos.

Centro → Periferia + Norte → Sul


 A globalização Neoliberal.
É a explicação mais comum da globalização, chamada de Globalização
Hegemónica ou de Rapina, diz respeito as práticas capitalistas globais e ao
domínio ocidental.
“Conjunto de relações sociais que se traduzem na intensificação das interações
transnacionais, sejam elas práticas intraestatais; capitalistas globais ou sociais e
culturais transnacionais”
– Boaventura de Sousa Santos

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 A globalização “da solidariedade”


Ao contrário da globalização de rapina, esta globalização contra-hegemónica,
tanto pode diminuir como favorecer a diversidade cultural na medida em que,
a globalização hegemónica se impõe a outra cultura enquanto a globalização
contra-hegemónica se impões promove a diversificação cultural e a
solidariedade entre culturas.
“A esta globalização de rapina importa contrapor a mundialização da solidariedade,
assente na reunião de esforços de ONG, nos movimentos coletivos para salvar o
planeta, nas iniciativas internacionais para a salvaguarda da paz, nos festivais
interculturais e nas plataformas para o diálogo cultural e religioso promovidas pela
ONU (…)”
- Professor, João Maria André. “Multiculturalidades, identidades e mestiçagem”

III. A sociedade em rede Tele Pólis


Pólis – cidade grega que estrutura o Longe Cidade
espaço publico; determina as regras;
centro fundador: ágora – praça pública (Raiz da política) - evolução da cidade

A sociedade em rede esta em


crescimento permanente. Atualmente esta principalmente marcada pela grande
circulação de fluxos de informação. Esta sequência de intercâmbios, de interação
programada sem espaço físico carateriza-se pela:

- Particularidade; base da interação (topologia reticular e não topologia territorial);


- Informacionalidade: base-unidade de circulação de informação;
- Dinâmica dos fluxos e das suas representações ultrapassa a própria esfera íntima;
diluição da contraposição entre o espaço público e privado (redes sociais); diminuição
da privacidade pela partilha.

A evolução da cultura grega representou o primeiro contacto da multiculturalidade:

 Teópolis - Cidade profundamente configurada pelo divino; conversão do


imperador romano para o cristianismo; Religião do Estado – Cristã; os
poderes políticos são subordinados à Igreja.
 Anthropópolis - Desenvolvimento da economia; burguesia cede a
capitalismo; passagem de um cosmos fechado para um cosmos científico e
mais universal; distinção entre a arte e a técnica.
 Economópolis - Tem como centro da cidade o banco; importância do
câmbio de moedas.
 Telepólis - Não é necessária a aproximação geográfica para se pertencer à
mesma sociedade; cidade da comunicação (marcada pelos fluxos de

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informação); sem espaço físico; negação da circunstância territorial; não


tem delimitação entre o interior e o exterior (sem fronteiras)

IV. Migrações
Movimentos de mobilização: bem público mundial.

O envelhecimento demográfico e a falta de mão de obra são dois motivos que


originam as migrações as quais são principalmente praticadas pela população mais
jovem, escolarizada e urbana que normalmente se encontra no desemprego. Mas
quando clandestinas, as migrações provocam conflitos por motivos burocráticos.
O movimento, isto é, reconhecimento do direito a mobilidade, a cooperação com
países não-europeus e as organizações mundiais promovem a harmonia, permitem a
livre circulação de bens e pessoas. Mas o aumento do fluxo desperta tendências
nacionalistas em detrimento da mobilidade entre países.

V. Refugiados
Modelo de multiculturalismo

Um refugiado é alguém que se descola do seu pais de origem com medo da


perseguição devido sua opinião, ideias, etnia, religião, etc. Atualmente, deslocam-se
devido à instabilidade política, guerras, falta de condições para viver no pais de
origem.
Modelo de integração - Quando os emigrantes se integram bem nas atividades de
desenvolvimento do pais para que vão, existe um acontecimento preservado.
Contudo, existem grupos de emigrantes que são marcados pelo preconceito, que não
contribui para a sua integração.

IV. Modelos políticos de resposta à multiculturalidade

1. Modelo monocultural (assimilacionista/colonialista) – Uma


cultura em detrimento de outras.

2. Modelo político liberal clássico (integração) – pequenas


culturas, cada uma com as suas particularidades. Assenta
numa esfera pública, integrando-se nos padrões culturais do
espaço público.

3. Modelo do multiculturalismo:
A. Modelo do multiculturalismo liberal – respeito as
diferenças culturais consoante as circunstâncias.

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B. Modelo do multiculturalismo Nacionalista ou


comunitarista – Desaparecimento de uma cultura
central e equiparações de culturas com respeito as
diferenças.

C. Modelo dos multiculturalismos emancipatórios -


Consolidação da autonomia política e busca pela
emancipação (independência) cultural.

4. Modelo interculturalista (diálogo intercultural) – integração de


diferentes culturas dentro de uma esfera cultural global
(emigração)

4| Aula de 22 de outubro, Discriminação: causas, modalidades, consequências. Visionamento e debate


sobre “A Class divided”.

3. Discriminação: causas, modalidades, consequências.

5| Aula de 26 de outubro, Discriminação: causas, modalidades, consequências. Continuação do


visionamento e debate sobre “A Class divided”.

Apontamentos sobre o documentário “A Class divided”

No documentário, a professora deliberadamente criou uma situação de discriminação baseada na cor dos olhos
dos seus alunos. No contexto da recente morte de Martin Luther King, a professora pensou, “eles têm que
descobrir que isto esta errado”.

Neste experimento, as crianças passaram a discriminar os seus colegas de olhos castanhos nos intervalos, por
questões de maldades, em palavras da professora “uma turma de bons alunos que gostam de trabalhar em equipa
e são amigáveis com o outro, passou a ser uma turma viciada e cheia de discriminação. Os alunos na posição
inferior inclusive passaram a desempenhar mal as suas tarefas.

Após um dia de aula em que as crianças de olhos azuis eram as superiores, a professora muda a ideia de as
pessoas de olhos castanhos serem inferiores, fazendo deles os superiores e alternando os lugares… Afinal do
experimento as crianças perceberam a lição e conseguiram aplicar a mensagem à cor da pela das pessoas.

6| Aula de 29 de outubro, Discriminação: causas, modalidades, consequências. A discriminação de


género.

A discriminação de género

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1. Uma longa história de (anti-)discriminação


 Ana Castro Ossário, As mulheres Portuguesas (1905)
 Congresso feminista e de educação (Lisboa 1928

2. Uma história (inter)nacional

 1972, Novas Catas Portuguesas, compostas por três Marias)


 Código civil (1966), seção sobre “Poder Marital”
 Manifestação do Movimento de Libertação das “O marido é o chefe de
Mulheres, no Parque Eduardo VII, a 13 de janeiro família, e cabe a ele, nessa
de 1975. capacidade, representá-la e
decidir em todos os aspetos
3. Uma história internacional: da vida matrimonial”

A “Década da Mulher” das Nações Unidas (1975-1985)


 1975, O Movimento de Libertação das Mulheres (MLM)
- Criação do dia internacional da mulher.
 1979, Contenção sobre a eliminação todas as formas
de discriminação contra as mulheres.
 1985, Nairobi
- Nascimento do feminismo (???);
- Impacto limitado de iniciativas anteriores;
- Igualdade, direito legitimo, mas também necessidade de política e social;
- Estratégias de futuro: Plano 1986-2000.
 1995, Beijing
- Sem guerra fria…;
- A “mulher” para o género, um problema societal;
- Uma plataforma de ação;
- 12 áreas problemáticas, incluída violência sobre as mulheres, direitos
humanos das mulheres e inserção em espaços de discussão política.

7| Aula de 2 de novembro, Racismos: história e memória. Visionamento do documentário “Inside


Human zoos”

Apontamentos sobre o documentário

“Inside human zoos”

O documentário conta a desconhecida história de homens, mulheres e


crianças que foram expostos e apresentados com animais exóticos na
Europa, América e Japão. Da segunda metade do século 19 até o início da
Primeira Guerra Mundial

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8| Aula de 5 de novembro, Racismos: história e memória

Temas, processos, legados

4. Racismos: história e memória.


“O problema do século XX é o problema da linha da cor [color line], [...] a relação entre as
raças de homens mais escuras e mais claras, na Ásia e em África, na América e nas ilhas do
mar.” (1903)

- W.E.B. Du Bois, a linha da cor, “o cinto do mundo”

I. Definição
Não há racismo sem ação discriminatória

Racismo – preconceito quanto a descendência étnica combinada com ação


discriminatória, definição de Francisco Bethencourt.
O racismo procede a teoria das raças, a ação antecede a classificação

“Raça”: instabilidade semântica que reflete contexto

II. Configurações e dinâmicas históricas

Racismo no plural, o racismo não é linear nem cumulativo. O caráter relacional e


dinâmico dos racismos é contextualizado, isto é, exige o estudo histórico, social e
político.

III. Representações, discursos e práticas

 O papel da ciência
 A centralidade da dimensão política o racismo informal versus racismo
institucional (papel do estado)
 Classificação racial como justificação de desigualdade de direitos e de
hierarquias sociais, e genocídios e extermínios raciais...
 Classificação racial como instrumento de resistência e subversão
 Papel da religião
 O papel do imperialismo e do colonialismo, das descobertas ao “novo
imperialismo” (sécs. XIX-XX)
 O papel do nacionalismo, fenómeno moderno (pós-revolução francesa, 1789)

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9| Aula de 9 de novembro, Colonialismos e Imperialismos: trajetórias e legados. As políticas da


diferença.

5. Colonialismos e Imperialismos: trajetórias e legados.

I. Impérios plurais.
Ideologias, projetos, repertórios… e realidades

Não há apenas um fenómeno no que toca a impérios, há uma variedade de


manifestações ao longo da história, no tempo e no espaço.
Existem realidades multidimensionais dinâmicas (diversidade de atores; pluralidade
de interesses e motivações, muitas vezes contraditórias; variedade de padrões de
dependência, cooperação e conflito). Assim, para olhar para qualquer império é
necessário compreender a contextualização, não só local, mas também internacional.

Campos de intervenção – Espaços locais,


nacionais/metropolitanos, internacionais.

II. Pensar os impérios


A importância da comparação entre impérios, entre países, entre contextos é
questionar os “nacionalismos metodológicos” e os argumentos de “excecionalidade”.
Assim, a comparação não serve apenas para ser um instrumento pós-facto, mas
também para permitir uma compreensão mais apurada das especificidades e das
diferenças
Questionar os argumentos de
“excecionalidade”, no duplo
 Dimensões de análise sentido (ser exceção e ser
excecional). A excecionalidade
Há uma grande diversidade de formas, de repertórios do poder
decorre muitas vezes de não
imperial, este não se limita ao poder militar e territorial,
sermos capazes de interrogar o
manifesta-se através de muitos meios. Variáveis do poder nosso olhar, de não sermos
imperial: capazes de estudar a história de
- Fontes do poder (geopolítico, militar, económico, …); um império de outro ponto de
vista, de outras fontes. A
- Formas de dominação (direta ou indireta); comparação é o instrumento
mais apurado de aprendizagem.
- Formas de administração (instrumentos económicos,
políticos, ideológicos, religiosos, …).

Ou somos capazes de compreender as formas objetivas de relações de poder ou


conseguimos então compreender esse modo variado que os atores políticos
conseguiram empreender para administrar os impérios. Nesta dinâmica de
administração há um problema central: de que maneira o poder foi distribuído para
assegurar, não apenas a expansão, mas também a manutenção do poder. Dito isto, as
formas de administração podem ser:

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 A gestão de demografias (Ex: colonização)


 Padrões e mecanismos de distribuição e manutenção de poder e do privilégio;
 Os instrumentos políticos (incluindo jurídicos e militares);
 Os instrumentos económicos.

III. Os dilemas dos impérios


Grande parte das vezes os impérios são “braços longos com dedos fracos”

 O difícil equilíbrio entre a manutenção dos privilégios imperiais e a projeção de


um destino imperial e a necessidade de administrar os espaços para a
composição multiétnica, incorporando populações dispares numa sociedade,
distribuindo direitos e recompensas.
 Os problemas de lealdade, da legitimidade e do apoio social.
 O facto de os impérios, sobretudo os impérios coloniais, assentarem na
exploração de recursos o que gera exclusão social.
Existem diferentes soluções – Pragmatismo imperial.
“universalismos em competição” Globais na
imaginação, mas limitados na prática.
IV. Imaginando e administrando impérios Burkbank, Cooper.

Nos territórios imperiais há múltiplos atores, diferentes motivações e interesses,


recursos nas metrópoles.
A ideologia, as políticas e as tradições culturais desempenharam um papel central…

 As “teorias” raciais: imaginando a população a As políticas da diferença


dominar
 As “missões civilizadoras” Resumem-se a resposta da
pergunta: Como vamos governar?
 Discursos e realidades
 A doutrinas e as políticas de “assimilação” Acabam por ser formas de controlo
 Diferentes papeis das instituições políticas, e “administração”,
escolares, religiosas condicionamentos. Modalidades
 O papel da lei: o indigenato. de inclusão que coexistem com
modalidades de exclusão
O regime de indigenato nas colonias francesas era uma
ficção de integração e assimilação, instrumento de
discriminação…
- O Code de l'Indigénat (1881): a legalização da discriminação;
- A apropriação de terras, sistema de penalizações, taxação, trabalho forçado;
- Dois sistemas legais, normativos.

Mas tentativas de gerir a diversidade étnica tiveram implicações no presente,


perpetuaram a discriminação.

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10| Aula de 12 de novembro. Colonialismos e Imperialismos: trajetórias e legados. A(s) história(s) da


globalização imperial

A globalização não é um estado, é um processo

I. As razões de uma análise global

 Limitações das análises locais, nacionais e regionais;

 Necessidade de transcender histórias nacionais: “o nacionalismo


metodológico”;

 Importância de fatores externos na transformação e dinamismos das histórias


nacionais

 Reconhecimento da importância de fenómenos de circulação de ideias e


valores, de movimentos sociais e políticos, de instituições.

- A intensificação das comunicações globais;

- A “globalização” do nacionalismo moderno;

- A emergência de uma “consciência global”: direitos humanos ou perigos


ecológicos, por exemplo.

 As novas unidades de analise no centro das investigações sociológicas,


históricas e económicas

- O comércio de Longa-distância;

- As redes missionárias e mercantis;

- Circulação e encontro de ideias, valores, crenças, mundividências;

- Novas geografias de analise: regiões, oceanos, o globo.

 novos olhares e novas metodologias

- ênfase em “conexões”, “redes”, “trocas”, “circulações”;

- Interesse em histórias e trajetórias partilhadas, conectadas, constituídas.


Interdependentes.

 Articulação entre análises e histórias verticais (da formação de ideologias e


instituições particulares) e horizontais (das conexões e interdependências)
 Recusa do difusionismo (centro-periferia) e valorização de perspetivas
multicêntricas

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 Recusa do eurocentrismo: análise global


 Pensar na globalização como fenómeno multidimensional; como resultado da
interdependência de processos históricos com diferentes manifestações
geográficas (coexistência entre processos de uniformização e processos de
diferenciação).
 Importância de estudar a ligação entre a globalização, o seu impacto
diferenciado e a emergência de conflitos.
 Coexistência entre processos de uniformização e processo de diferenciação:
identidades híbridas (A. Appadurai)

II. Os traços de um mundo globalizado (ou mundo em globalização)

 Aparecimento de um mercado único global: para produtos essenciais,


capital, crédito e serviços

 Acréscimo de interação entre Estados e globalização dos interesses


políticos

 Penetração global de universos culturais por via de meios de comunicação


organizados globalmente: fusão entre mensagem cultural e comercial

 Migrações e diásporas em larga escala (voluntárias e involuntárias): redes


e conexões globais transnacionais

 Dinâmicas políticas, sobretudo de natureza imperial – formal e informal –,


que globalizaram a competição geopolítica

III. Periodizando e tipificando a globalização

Globalização:

 “expansão, concentração e aceleração das relações a uma escala mundial”


(Jürgen Osterhammel)

 Processo dinâmico de integração a uma escala mundial

 Múltiplas globalizações

 Variação de grau, de impacto geográfico, de manifestação histórica (ver texto de


F. Cooper)

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Houveram diferentes períodos e diferentes formas históricas da globalização:

 A “globalização arcaica” (antes de 1500)

“redes e formas de domínio antigas criadas pela expansão geográfica de ideias


e forças sociais, dos níveis local e regional para o inter-regional e o
intercontinental”
(C. Bayly, The Birth of the Modern World, pp. 41-42)

A globalização arcaica carateriza-se por múltiplos centros, dimensões marítimas e


terrestre. A sua importância das redes globalizantes tem origem em reis e guerreiros (a
riqueza e a honra), em missionário e peregrinos (a universalização da fé), nos
mercadores e empresas (o lucro)
Papel central:

 Impérios pré-modernos: Império Bizantino, Islão, Cristianismo


 Redes diaspórias móveis os sistemas de crença universalizantes
 As cidades como espaços de coordenação de processos globalizantes
 Crescente especialização laboral regional, antecâmara da divisão global do
trabalho
 A importância crescente do consumismo
Limites: técnicos e institucionais, geográficos

 A “proto globalização” (c.1500-1800)

A emergência de um sistema internacional de Estados permitiu o crescimento na


produção, organização de serviços e de capital pré-industrial. Surgiram novos padrões
de consumo e novos padrões de produção e troca. Intensificação da relação entre
território, taxação e soberania política, deu-se a emergência da identificação nacional.

 Revolução no conhecimento: mapas, censos, a classificação dos territórios,


recursos e populações a uma escala mundial
 Expansão comercial: açúcar, tabaco, chá, café, ópio
 Expansão de migrações laborais
 Expansão imperial: a primeira era de um imperialismo global
Limites: persistência de formas arcaicas de organização política, económica e
sociocultural

 A “globalização moderna” (pós-1800)

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Foi marcada pela emergência do Estado-Nação e pela revolução industrial. Deram-se


esforços para controlar ritmo e a direção das trocas internacionais e transnacionais, foi
um período de politização da globalização

 Consciência nacional e nacionalismos de massa globalizados e exportados


 Competição interimperial global: conflitos
Limites: emergência de resistências regionais e locais, a internacionalização do
nacionalismo e a politização da globalização

 A “globalização pós-colonial” (pós-1950)


Deram-se as vagas de descolonização, a globalização da Guerra Fria. Verificou-se um
reordenamento da geopolítica e da economia global. As organizações e os serviços
financeiros, comerciais e de informação transnacionais desempenharam um papel
crescentemente central, tendo impacto na ordem política.
Foi um período por excelência da globalização cultural:

 A universalização do particularismo, a particularização do universalismo


 A falsa ilusão homogeneizadora (A. Appadurai)
Problemas ambientais globais: a sociedade de risco.
Limites: o ressurgimento das identidades locais e regionais.

12| Aula de 16 de novembro. Colonialismos e Imperialismos: trajetórias e legados. Os ecos dos impérios.

“A descolonização é um diálogo com o passado colonial, não apenas o simples


desmantelar dos hábitos e dos modos de vida coloniais”
- Arjun Appadurai
I. As dinâmicas da descolonização
A continuidade e resistência das configurações imperiais registou-se:

 no grau de exercício da autoridade em contexto colonial e a sua


A existência de mudanças
aceitação ou contestação por parte das populações colonizadas significativas em qualquer
 no grau de mobilização política e social das populações um destes três aspetos
metropolitanas relativamente à causa imperial e colonial, condicionou decisivamente
 no grau de reconhecimento internacional da legitimidade (de forma variável) a
política da soberania colonial continuidade dos impérios
coloniais europeus

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Pós-1945 verificou-se

 A emergência decisiva do nacionalismo africano e da sua resistência ao domínio


e à autoridade coloniais,
 O progressivo descontentamento das populações metropolitanas face aos
custos e aos benefícios dos impérios coloniais
 A progressiva contestação internacional, sobretudo promovida no interior da
O.N.U., à continuidade das soluções imperiais.

No caso da descolonização portuguesa houve uma relação cíclica entre a violência e a


relação colonial e uma continua situação de desordem colonial e nacionalismo
anticolonial. As causas e razões disto foi:

 Presença crescente de comunidades portuguesas


 Relutância negocial: recusa de reconhecer a legitimidade do protesto e das
exigências
 Guerras e conflitos: “a practical rather than ideological decision” (Patrick
Chabal) face a recusa negocial
Ainda, também se verificaram diferentes nacionalismos: modernizadores,
tradicionalistas e antinacionalistas.

II. Os legados dos impérios

A nível político e administrativo os impérios deixaram um legado de estruturas


autocráticas e centralizadas que careciam de representação política, isto devido à
inexperiência.

A nível de políticas económicas estas verificaram-se “tradicionais”: reservas de mão de


obra, monoculturas, exportação agrícola (3/5 emprego na agricultura (1975-1980)). O
fim das relações económicas estreitas com a antiga metrópole enfraqueceu a
economia, que passou a apresentar um decréscimo acentuado no seu crescimento
económico pós-independência
Além disto os impérios deixaram um legado de altos níveis de iliteracia (75% Angola e
Moçambique). Persistência de idiomas e modelos de desenvolvimento: o homem
novo.

A nível social deram-se ciclos de violência, guerras civis. “Socialismo”, nacionalizações,


coletivizações. Mantiveram-se ideologias da excecionalidade: “missão civilizadora”,
Luso-tropicalismo, benevolência colonial.
As novas políticas da diferença:

 Políticas migratórias
 Exclusão social
 Limbos identitários

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III. Os passados do presente


“A descolonização nunca foi apenas a ‘transferência de poder’ da dominação europeia
para a independência de nações asiáticas, africanas e caribenhas depois de 1945,
cronológica e politicamente contida (…) Não foram apenas as antigas colónias a ser
refeitas como resultado do caminho para a descolonização: o mesmo aconteceu com a
Europa Ocidental, tanto no plano nacional como nos locais e internacionais, precisando
de se descolonizar a si própria.”
- Elizabeth Buettner

Os usos do passado, as lutas da memória no presente tiveram um impacto no atraso


entre a descolonização e o processo de reconhecimento dos seus impactos e legados.
Deu-se a prevalência de uma literatura memorialista
• Memória versus história

13| Aula de 19 de novembro. Nacionalismos: discursos e políticas. A(s) história(s) do nacionalismo

6. Nacionalismos: discursos e políticas

I. Precisões conceptuais:

 Nação
A modernidade do termo nacionalismo sujeita o conceito (Nação) à polissemia:
 Processo de formação e crescimento das “nações”
 Sentimento de pertença a uma “nação”
 Linguagem e simbolismo da “nação”
 Movimento político e social em nome da “nação”
 Doutrina e ideologia (busca da autonomia, identidade e unidade nacional: movimento
ideológico para sua conquista e preservação).

É necessário evitar conceber “nação” como substância inalterável. Esta conceito


procede da ideologia do nacionalismo e tanto engloba fatores objetivos (língua,
religião, costumes, território, instituições), como fatores subjetivos (atitudes,
perceções e sentimentos.
A “nação” não é um estado, é um tipo de comunidade, não uma atividade
institucional. E este tipo de comunidade não é uma comunidade étnica
A “nação”, ao contrário das etnias, requer um território, uma cultura pública e um
certo grau de autonomia política e ocupação física de um território.

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“Nação” - Comunidade humana ocupando uma pátria, possuindo mitos comuns e


uma história (codificada, oficial, uma história nacional) e uma cultura pública
partilhadas, uma economia própria e direitos e responsabilidades comuns.

 Ethnie
Ethnie em francê – é uma comunidade humana associada a uma pátria, possuindo mitos
comuns de ancestralidade, memórias comuns e um ou mais elementos de cultura
partilhada (língua, religião, costumes) e um grau de solidariedade mínimo (pelo menos
entre as elites)

Como dito anteriormente, esta não tem normalmente um referente político, uma cultura
pública e mesmo uma dimensão territorial, a sua existência não depende destes fatores

Sobreposição de comunidades étnicas e nações: exemplos: nações poliétnicas (Bélgica,


Espanha, Suíça) ou nações de diáspora (arménios, judeus sem território durante séculos).
Mas...exemplos de sobreposição, na prática: o Estado-Nação (caso raro, larga maioria dos
Estados são poliétnicos e muitos destes revelam fraturas étnicas)

 Identidade nacional
Outrora, também eram usados os termos de caráter nacional e consciência
nacional. Este é, simultaneamente, um conceito analítico e uma noção da ideologia
nacionalista.
Identidade nacional - a constante reprodução e reinterpretação de valores, símbolos,
memórias, tradições e mitos (a herança distintiva das “nações”), bem como a
identificação dos indivíduos com essa herança e com os seus traços culturais.
Mas a noção de identidade pode ser um problema. A continuidade e mudança:
evitar a fixidez e o essencialismo.

II. Paradigmas: teses, variantes e problemas


Existem duas perspetivas essenciais:

 Visões primordialistas - conceção naturalista da “nação”. Nela a “nação” é vista como


um dado primordial, propriedade da ordem natural; geraram formas orgânicas e
essencialistas de nacionalismo. O paradigma primordialista apresenta-se nas seguintes
variantes:

 Variante socio biológica: As “nações”, grupos étnicos e “raças” estão associadas


às tendências de reprodução genética dos indivíduos e à sua expansão grupal (redes
de parentesco). São, portanto, raízes biológicas reais que explicam as origens étnicas
de um dado grupo. Os mitos da origem étnica não seriam mitos.

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 Variante culturista: O grupos étnicos e “nações” decorrem de laços culturais


da existência social (Edward Shils e Clifford Geertz). Papel importante do
parentesco, da raça, da língua, da religião, de uma associação a um território,
costumes, etc. Os laços primordiais coexistem com laços cívicos, associados à
ordem política. São perceções e crenças tomadas como adquiridas e
persistentes, daí o seu papel preponderante na constituição e continuidade
da nação. Poder emocional e afetivo associado à nação. É uma variante
menos essencialista.
Críticas e problemas:

 Papel da racionalidade política, a instrumentalização política de fatores


culturais, laços primordiais (perceções e crenças) e partilhas biológicas.
 A mobilização social em torno de certos interesses e a necessidade de
legitimar certas perspetivas políticas são objetivos que conduzem à
invocação de patrimónios biológicos e culturais comuns.
 O nacionalismo como um instrumento para a obtenção de ganhos políticos?

 Paradigma modernista e as visões instrumentalistas - Ênfase no envolvimento


político-ideológico do processo de singularização de uma “nação”, pela criação e
transmissão de valores e práticas culturais específicas. critérios cronológicos e
sociológicos na base da afirmação do carácter recente da “nação”: a ideologia, o
movimento e simbolismo nacionalistas são criações recentes, de um ponto de
vista histórico, remetem para a revolução francesa.
Nacionalismo como uma inovação política própria da modernidade. “Nações”,
estados-nação, identidades nacionais:
 produtos históricos recentes e novos
 novas formas de organização política
 novo vocabulário e ideologia política
 um novo tempo histórico

O paradigma modernista apresenta as seguintes variantes:

 Variante socioeconómica: As “nações” e nacionalismo resultam das


tensões resultantes do capitalismo industrial (desigualdades de
crescimento, conflitos de classe) (Michael Hechter, Tom Nairn).
 Variante sociocultural: As “nações” e nacionalismo como produto
sociológico das transformações inerentes à época industrial. A
emergência de um sistema educativo público, de massas associado às
necessidades da industrialização (Ernest Gellner).
 Variante política: As “nações” e nacionalismo como produtos da
emergência e consolidação de um Estado Moderno profissionalizado.

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Afirmação da soberania de um Estado implica a sua legitimação


(Anthony Giddens, Michael Mann, John Breuilly)
 Variante ideológica: ênfase na formulação ideológica da doutrina
nacionalista, na sua relação com o iluminismo e nas suas relações com
formas quase religiosas. Nacionalismo como religião civil (Elie Kedourie)
 Variante construtiva: As “nações” como produtos intencionais de
engenharia social e política, fruto de manipulações de elites políticas,
sociais e económicas (Eric Hobsbawn). Ênfase nas modalidades de
invenção da nação e do nacionalismo como mecanismo de invenção da
tradição. Comunidades imaginadas que substituem as forças
unificadoras de tipo religioso ou monárquico (Benedict Anderson).
Ainda existe uma terceira via, o etno-simbolismo.
Paradigma etno-simbolista (A. D. Smith): valoriza o estudo dos elementos subjetivos
associados à formação das “nações” e ao impacto dos nacionalismos.
 O complexo mítico-simbólico: a memória, o sentimento, os símbolos, os mitos
 importância da longa duração, ou seja, com as formas históricas de identidade
coletiva (sobretudo comunidades étnicas) e a sua relação com a formação das
nações.
 preocupação com os estratos populares: imposição dos parâmetros culturais
(as tradições culturais, instrumentos culturais e simbólicos existentes) que
podem ser instrumentalizados politicamente
 a questão emocional: a persistência das ligações efetivas às comunidades
étnicas ou à “nação”

14| 23 de novembro. Nacionalismos: discursos e políticas. Debate sobre A criação das identidades
nacionais, de Anne-Marie Thiesse

I. A historicização das “nações” e da “identidade nacional”

Construção social das “nações” e da “identidade nacional”: historicização dos


processos. Nacionalismo gera a “nação”, não o contrário. Por consequência as
“Nações” são um produto da imaginação, da invenção e do proselitismo. Assim, o
sentimento nacional “só é espontâneo quando já está totalmente interiorizado;
tem de ser ensinado previamente” Distinguem-se três processos fundamentais...

 Identificação dos antepassados: a elaboração de mitos fundadores, heróis e


heroínas, e a fabricação da língua, culturas e histórias nacionais permitem o
estabelecimento de uma continuidade histórica;
 O folclore: o popular, a identidade estetizada, a simbolização e a
monumentalização da “nação”;

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 A cultura de massas: educação da “nação”, a pedagogia do nacional

II. Os produtores do passado

Deve-se indagar sobre…

 O papel dos atores políticos e instituições políticas: a promoção e a


instrumentalização do passado, da tradição, da cultura, da identidade;
 O papel dos meios de comunicação social de massa na ressurreição do
passado: a circulação e a reprodução sociais de modelos, símbolos,
narrativas;
 Os produtores e difusores do património nacional (intelectuais, poetas,
instituições culturais, museus) pois “todo o processo de formação
identitária consistiu em determinar o património de cada nação e difundir o
seu culto”;
 Os inventários culturais: identificação e classificação das origens e da
tradição;
 O colecionismo e da museologia à teorização sobre a cultura popular e
nacional;
 “Nação” como resultado de uma língua e de uma tradição específica e única

“Um povo tem algo de mais valioso que a língua dos seus pais? Na sua
língua reside todo o seu domínio de pensamento, a sua tradição, história,
religião e a base da vida, toda a sua alma e coração.” - Johann Gottfried
Herder

III. O paradoxo da “nação”

Os particularismos regionais são uma demonstração da diversidade e riqueza


nacional, mas os processos transnacionais como a competição, mimetismo e a
diferenciação levaram à universalização de um modelo comum de “nação” que
esta associada à emergência de uma nova forma de vida social, “A universalidade
do nacional passa pelo particular”

A Nação acaba por ser fruto de uma “revolução ideológica”, associado à


modernidade económica e social. A industrialização, a urbanização e os estados
territoriais modernos transformaram os modos de produção, da expansão dos
mercados, da intensificação das trocas comerciais, do surgimento de tipos sociais
inéditos
Paradoxo? “Nação” resulta como produto da modernidade que recusa essa
modernidade, exaltando a tradição, o passado, o arcaico, o rural.

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IV. As “identidades nacionais”

Existem diversas formas de construção coletiva de identidades nacionais. Com


fundamentos simbólicos e materiais:

“uma história que estabelece uma continuidade com os ilustres antepassados, uma
série de heróis modelos das virtudes nacionais, uma língua, monumentos culturais, um
folclore, locais eleitos e uma paisagem épica, uma determinada mentalidade,
representações oficiais - hino e bandeira - e identificações pitorescas – trajes,
especialidades culinárias ou um animal emblemático”.

V. A “nação ilustrada”

 O folclore: o popular, a identidade estetizada, a simbolização e a


monumentalização da “nação”;
 A “nação ilustrada”: paisagens, trajes tradicionais, exposições identitárias,
museus patrióticos, a arte nacional, os selos postais;
 Paisagens: a paisagem nacional e o princípio da diferenciação;
 Os trajes nacionais: o código de vestuário “já não apenas social, mas também
territorial e nacional”;
 Usos políticos do vestuário: a importância cerimonial, bailes “patrióticos” em
trajes “nacionais”;
 Os trajes campesinos e a invenção de um povo
 O “museu vivo”;
Os trajes nacionais: O kilt: a invenção de uma tradição (c. 1720-1730)

 Apropriação pelas classes altas – burguesia e nobreza – para “anunciar a sua


prestigiosa origem”;
 Inscrição “numa longa tradição histórica” das “criações mais ou menos recentes
da indústria têxtil”

VI. a “nação” exibida

 Exposições identitárias: a “aliança profunda entre o arcaísmo ostensivo da


construção identitária e a mais inegável modernidade económica e
tecnológica”;
 Exposição de produtos, inovações, mas também da “identidade sob o signo da
tradição”: por exemplo, trajes, arquitetura, “aldeias nacionais” (“miniaturas da
nação”), gastronomia, artes populares.
Museus patrióticos: museus da “nação”, museus etnográficos:

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 Fenómeno transnacional desde anos de 1880: competição, mimetismo o 1889:


Congresso Internacional das Tradições Populares.
 Folclorização da identidade nacional: documentação do povo e das suas
tradições
 Tripla função:
 o exaltar sentimento patriótico
 o documentar cientificamente a civilização material tradicional;
 o criar modelos para sustentar criações modernas, associadas à
expansão da produção industrial (artesanato e produção industrial)

VII. A “nação” como mercadoria

 A arte nacional: a mercadorização da “nação”


 Nascimento da “Arte decorativa moderna no espírito da tradição artesanal”,
movimento estético das Arts and Crafts:
 A “arte rústica nacional”
 Neo-artesanato: a salvação da tradição e a sua mercadorização

 Inovação estética, valorização do passado e da tradição, crítica da sociedade


moderna
 Mercados internacionais (de luxo) para artesanatos nacionais
Circulando a “nação”

 Da epopeia (e.g. Lusíadas) ao selo postal


 A “identidade nacional” em notas de banco, moedas, selos postais,
uniformes
 Envolvimento de artistas de nomeada (Alphonse Mucha, “mestre
internacional das artes decorativas”)

“Os antepassados são identificados, a língua nacional é fixada, a história nacional


escrita e ilustrada, a paisagem descrita e pintada, o folclore museografado, as músicas
nacionais compostas”

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