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Para a grande maioria dos 308 municípios único fator que levou a esta perda de qualidade,
Portugueses o Plano Diretor Municipal (PDM) é o ele constituiu um contributo fundamental. Em
principal, e em muitos casos o único, instrumento 2006 é aprovado um novo PDM que constitui um
de planeamento e gestão urbanística. O marco de viragem na história urbanística recente
planeamento e a gestão territorial, enquadrados da cidade do Porto e um caso singular na prática
pelo PDM, assentam normalmente num de planeamento Portuguesa (Oliveira, 2006). O
mecanismo de zonamento. Na esmagadora plano, que está atualmente em vigor, baseia-se
maioria dos casos este mecanismo, que consiste numa cuidadosa análise da cidade, realizada rua a
em definir diferentes zonas para as quais rua, parcela a parcela. Esta análise conduziu à
posteriormente se estabelecem diferentes regras identificação de dez tipos de ‘tecidos urbanos’,
de transformação urbana, tem por base um único com base nos edifícios existentes (e, de modo
critério, os usos do solo. Ou seja, as zonas indireto, nas parcelas e ruas). Para cada um desses
definidas no plano têm por base uma delimitação tecidos o PDM define um conjunto de regras que
funcional e um dos seus objetivos fundamentais, a autarquia e cada ator privado têm de cumprir no
em termos de transformação futura, é separar ou processo de transformação da cidade, em
misturar diferentes usos do solo. particular nos processos de loteamento e de
As desvantagens de uma excessiva divisão licenciamento. Estas regras, que variam de tecido
funcional têm sido evidenciadas ao longo das para tecido, consistem em aspetos muito simples,
últimas décadas. No entanto, se a tendência para como o cumprimento de alinhamentos, a
uma separação funcional tem vindo a dar lugar a manutenção de uma cércea dominante ou o
uma maior propensão para a mistura de usos estabelecimento de uma cércea inferior à largura
(desde que compatíveis), o mecanismo de da rua em que o edifício se insere, entre outros.
zonamento com base num critério de uso do solo Oito anos passados sobre a ratificação do PDM é
permaneceu praticamente inalterado. Enquanto a possível fazer uma avaliação muito positiva do
questão funcional é plenamente abordada por este processo de implementação do plano (Oliveira et
mecanismo, ele pouco ou nada regula em termos al., 2014). No entanto, pode-se perguntar se é
de forma e de estrutura urbana – dois elementos possível fazer ainda melhor. Mais concretamente:
com uma maior permanência na ‘vida’ da cidade poderá o campo científico da Morfologia Urbana
do que o elemento funcional que, em geral, se dar um sólido contributo ao modo como se pensa
transforma mais rapidamente. e planeia a dimensão física da cidade do Porto?
Como em muitos municípios Portugueses, a A relação entre investigação científica e
qualidade do espaço urbano na cidade do Porto prática profissional é um dos temas do debate
foi progressivamente diminuindo ao longo das atual na área da Morfologia Urbana. Nesse
últimas décadas. Apesar da existência de um sentido, tem vindo a ser discutida a aplicabilidade
mecanismo de zonamento funcional não ser o de teorias, conceitos e métodos morfológicos na
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dimensões), no primeiro caso (PDM) a rua é reconhecimento das cinturas periféricas (fringe
entendida por partes. A isto não é alheio o facto belts) como elementos estruturadores do espaço
de na leitura do primeiro zonamento a unidade urbano e reveladores da história urbana da cidade.
fundamental ser o quarteirão. No primeiro caso, as partes de uma cintura
A segunda diferença fundamental prende-se periférica da cidade não são identificadas como
com uma leitura dos ‘grandes elementos’ que tal, sendo remetidas para a Área de Edificação
estruturam a cidade. Se no primeiro caso esta Isolada e para a Área de Equipamento.
leitura não existe, no segundo caso há um Como foi dito anteriormente, o PDM do Porto
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