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(Compliance)
Capítulo I
Conceitos e definições em Compliance
O compliance surge com a criação da Prudential Securities, em 1950, nos
Estados Unidos, em 1960 com a regulação da Securities and Exchange Commission
(SEC) e em 1977 com a criação do Foreign Corrupt Practices Act (FCPA). Cerca de
25 anos depois, o Reino Unido criou o Bribery Act, e, em 2013, foi a vez do Brasil
criar a lei 12.846, conhecida como lei anticorrupção.
Assim, o termo compliance passou a fazer parte do dia a dia das empresas
públicas e privadas. Inicialmente associado a regras e regulamentos, mais
recentemente, passou a compor os programas de integridade, para definir “estar em
conformidade” com regulamentos e normas orientadoras da gestão.
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O primeiro tipo de mecanismo de integridade é a obrigação de promover a
ética visando assegurar o comportamento virtuoso do agente, público ou corporativo,
preferindo seu progresso ético, baseado na própria consciência do indivíduo, capaz
de discernir e agir corretamente, guiado por valores e princípios, dispostos em
códigos, na educação mediada, promovida por exemplo liderança.
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legislação trabalhista (Departamento de Recursos Humanos) e legislações fiscal e
tributária (Departamento Financeiro), por exemplo.
Negócios
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(Iniciativas Históricas)
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A agência que não possui autoridade criminal, o que faz com que o Ministério
Público seja acionado na ocorrência de alguma irregularidade, sendo responsável
por investigar de forma independente para garantir a regulação do mercado, tendo
como objetivo produzir documentos e testemunhos que possam servir como base
para uma possível ação judicial futura.
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.
Na agência existem cinco divisões principais:
1. Finança de Corporação
2. Comércio e Mercados
3. Gestão de Investimentos
4. Execução
Divisão que trabalha com as outras três para investigar violações das leis de valores
mobiliários.
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Essa comissão possui 23 escritórios, encarregados de executar ações de
fiscalização sobre leis de valores mobiliários do mercado americano, além de emitir
novas regras e supervisionar instituições.
Atuação
Base de dados
A SEC possui um sistema unificado de dados, facilitando com que seus profissionais
consigam cruzar informações e perceber irregularidades.
Por outro lado, na CVM, é comum que os funcionários tratem os dados de forma
dispersa, diminuindo assim a eficiência em sua atuação.
Transparência
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Quebra de Sigilo
Aplicação de Punições
A FCPA foi promulgada como parte de uma investigação que desencadeou uma
grande crise política nos EUA que levou à renúncia do então presidente Richard
Nixon em 1974.
Ficou conhecido um escândalo em que cinco homens foram presos por fotografar
documentos e tentar colocar dispositivos de escuta telefônica no escritório do
Comitê Nacional Democrata em Washington. Esses homens eram partidários do
então presidente Nixon do Partido Republicano. Ele estava concorrendo a seu
segundo mandato nas eleições e o objetivo era obter informações privilegiadas
sobre seus oponentes para usar durante a campanha eleitoral. Para saber mais
sobre o caso, você pode assistir ao filme Todos os Homens do Presidente, um
material complementar bem interessante.
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Além do escândalo político conhecido como Watergate, as autoridades dos
EUA também investigaram doações corporativas para causas políticas, descobrindo
um extenso sistema de pagamentos a autoridades estrangeiras. As investigações
resultaram em mais de 400 empresas envolvidas em pagamentos indevidos feitos
como garantia para negócios internacionais, totalizando mais de US$ 300 milhões.
Nos EUA, as empresas que negociam seus títulos na bolsa de valores são
obrigadas a ter registros contábeis precisos e possuem balanços. Essa investigação
confirmou a falta de transparência nos registros financeiros da empresa, o que
poderia obscurecer possíveis resultados adversos e desencadear uma crise
financeira no mercado doméstico norte-americano.
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Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2017/02/16/06/13/handcuffs-
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Para o cumprimento das disposições dessas convenções, o Brasil teve que aprovar
a Lei Anticorrupção, que estava em projeto de lei desde 2010 (PL 6.826/2010).
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A lei brasileira foi um marco significativo no combate à corrupção no Brasil. No
entanto, antes de sua promulgação, outras leis já existiam e permanecem em vigor
visando o combate à corrupção e atividades semelhantes, tais como: o Código Penal
Brasileiro, Lei de Improbidade Administrativa, Lei de Lavagem de Dinheiro, Lei de
Licitações.
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Diferente da FCPA, a lei brasileira se aplica apenas a pessoas jurídicas, ou seja, a
empresas e corporações em geral. A pessoa que comete o ato de corrupção será
punida por outras leis dependendo do comportamento, mas não pela Lei
Anticorrupção Brasileira.
A FCPA pode ser aplicada pelo Departamento de Justiça dos EUA (DOJ) e pela
Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC). Um órgão aplica sanções civis e
criminais e o outro somente na esfera civil, mas ambas as autoridades podem
investigar e punir indivíduos e empresas que cometem violações da FCPA.
A Lei Anticorrupção Brasileira abrange outros atos mas não contém previsão sobre
livros e registros de contas como a FCPA, cabe ao Decreto 8.420/2015 especificar
que os registros contábeis são um dos parâmetros de avaliação do programa de
integridade. Algumas autoridades nacionais, como a CGU (Controladoria Geral da
União) e o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) também emitiram
algumas diretrizes sobre o que as empresas devem implementar para ter um
programa de integridade robusto.
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A FCPA e a lei anticorrupção do Brasil não exigem que as empresas implementem
um programa de conformidade robusto e eficaz, mas é fortemente encorajado. Com
um programa, as chances de uma empresa detectar e resolver um ato impróprio são
muito maiores, assim como as chances de chegar a acordos com as autoridades
que permitem a redução da pena.
Foi uma lei promulgada pelo Reino Unido em abril de 2010, que abrange o direito
penal relacionado ao suborno e à luta contra a corrupção. Entrou em vigor em 1º de
julho de 2011 e difere bastante da FCPA. Especialistas consideram a legislação
mais rigorosa do mundo sobre o assunto. Dá autonomia para que os juízes e
promotores combatam a corrupção de forma efetiva, mas para isso precisou
reformar o direito penal do Reino Unido.
O ato estabelece penas que podem chegar a até 10 anos de prisão e multas
ilimitadas aos indivíduos, empresas e sociedades, além de proibir pagamentos
indevidos, tanto para agentes públicos, quanto para os agentes privados.
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agentes estrangeiros. Responsabiliza ainda objetivamente as empresas pela falha
na prevenção de atos de corrupção por parte de seus agentes.
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Monitoramento e Revisão: A organização monitorará e revisará os procedimentos
em vigor para evitar suborno por pessoas associadas à organização e fará melhorias
quando necessário.
Figura
Evolução Histórica Compliance
Regramento e Legislação Objetivos
Prudential Securities Empresa americana que
estabeleceu a contratação de
advogados que o acompanhamento e
monitoramento de atividades com
valores mobiliários.
Secure and Exchange Commission Marca oficialmente o início do
Compliance ao determinar a
contratação de compliance officers
que criam procedimentos de
controles internos, cujo objetivo é
auxiliar áreas de negócios em seu
funcionamento supervisionado.
Foreign Corrupt Practices Act Lei federal americana, foi pioneira em
punir as empresas nacionais que
mantinham relações com agentes
públicos estrangeiros. Após a
experiencia do escândalo
Whatergate, surge como uma
necessidade de proteção do mercado
nacional evitando a concorrência
desleal. A lei estabelece regras
claras de competição para empresas
norte-americanas no exterior,
classifica todos os atos de corrupção
cometidos por pessoas físicas ou
jurídicas, americanas ou não,
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estabelecidas nos EUA ou listadas na
bolsa de valores norte-americana.
Cabe ao departamento de Justiça
dos Estados Unidos junto com a SEC
a sua aplicação, com penalidades
criminais e civis. A lei foi alterada em
1988, elevando o padrão de prova
para a descoberta de suborno.
The Bribery Act Promulgado em 2010 pelo Reino
Unido, trata do direito penal
relacionado ao suborno e combate à
corrupção. Foi reconhecido como a
legislação mais rígida do mundo
sobre o tema. Estabelece penas de
até dez anos de prisão e multas
ilimitadas tanto pessoas físicas como
jurídicas, além de responsabilidade
objetiva por falta ou falha na
prevenção do ato de corrupção.
GOVERNANÇA CORPORATIVA
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“Governança corporativa é o sistema pelo qual as empresas e demais
organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os
relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de
fiscalização e controle e demais partes interessadas. As boas práticas de
governança corporativa convertem princípios básicos em recomendações
objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o
valor econômico de longo prazo da organização, facilitando seu acesso a
recursos e contribuindo para a qualidade da gestão da organização, sua
longevidade e o bem comum.” Fonte: IBGC, Código das Melhores Práticas de
Governança Corporativa, 2015.
Governança não pode ser confundida e nem restrita ao governo. É tanto o processo
de direção e controle que ocorre quando o governo dirige politicamente o Estado,
quanto as empresas direcionam seus funcionários ou parceiros em rede para
estabelecer regras para deliberar e implementar suas decisões (RHODES, 1996).
Nessa perspectiva, o governo é exercido por meio de um processo interativo que
reconhece que nenhum ator da sociedade - governo ou sociedade civil - tem
recursos e capacidade para resolver unilateralmente problemas públicos
. A governança é exercida por esses inúmeros atores envolvidos ou partes
interessadas (stakeholders) por meio de instituições formais e informais – processos,
regulamentos, normas, costumes, leis, redes – que regulam o processo de tomada
de decisão e implementação em prol do alcance de seus objetivos (criação de valor).
A coordenação social geralmente é alcançada por meio de um dos três modos
ideais: hierarquias, mercados ou redes (BEVIR, 2012, p.16).
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A hierarquia é a coordenação social baseada na autoridade e no controle
centralizado. O modo de mercado baseia-se em preços e concorrência. A rede é o
modo que privilegia a confiança estabelecida entre os parceiros.
As hierarquias são organizadas racionalmente por lei de tal forma que uma
autoridade central é capaz de subordinar unidades para desempenhar funções
especializadas. Assim, a unidade inferior se reporta à próxima unidade superior em
uma cadeia direta de comando e controle. As unidades que compõem as hierarquias
trabalham de forma verticalizada, cabendo às unidades superiores realizar sua
coordenação estabelecendo decisões e regras impactam as unidades inferiores.
As redes, por sua vez, operam a coordenação social por meio da interação contínua
entre múltiplos atores que comercializam recursos de forma autônoma, mas
interdependente. As redes são um tipo de governança baseada na confiança entre
parceiros que fazem conexões para benefício mútuo e compartilham recursos
continuamente. Com o tempo, as relações de confiança solidificam as interações em
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redes colaborativas. Tal modo de governança se diferencia dos mercados e das
hierarquias, pois as redes substituem:
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inovação e adaptação devido à complexa interdependência estabelecida entre
múltiplos parceiros.
Portanto, as decisões sobre a forma ou combinação de formas de governança
corporativa mais adequadas dependem das características e propósitos dos
sistemas a serem controlados.
A governança corporativa
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corporativos inerentes às atividades do empreendimento societário (excetuando os
casos em que existe deliberada má fé dos gestores). A segunda iniciativa visa
profissionalizar a gestão corporativa ao especializar a função gerencial em face do
direito de propriedade (BERLE; MEANS, 1932).
O controle corporativo está nas mãos dos gestores que operam cotidianamente a
organização em favor dos proprietários /acionistas (shareholders). Os proprietários
não atuam individualmente na gestão das corporações, cuja propriedade é
compartilhada. Sua atuação consiste principalmente na expectativa do recebimento
de lucros e dividendos como contrapartida do investimento do capital realizado na
compra de parte da propriedade por meio da aquisição de ações (remuneração do
capital). Por outro lado, os gestores corporativos dispõem de liberdade de gestão e
recebem salários e bônus em troca de seu trabalho (remuneração do trabalho).
● O modelo de agência
No cerne do debate sobre a governança corporativa reside o problema do conflito de
agência: como desenhar instituições que incentivam adequadamente os agentes a
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cumprir os objetivos acordados e a agir com responsabilidade? (KLEIN, 1985;
JENSEN; MECKLING, 1976).
A separação entre propriedade e gestão cria uma situação de potencial conflito de
interesse entre os proprietários e demais atores interessados e os gestores.
(WILLIAMSON, 1985).
Em termos analíticos, o interesse recai sobre a teoria dos contratos firmados em
contexto de assimetria de informação que analisa as características dos contratos e
as variáveis que influenciam suas características, de acordo com a informação, o
comportamento (a racionalidade limitada – capacidade limitada dos indivíduos em
acumular, processar e transmitir informação) e o contexto de incerteza no qual as
partes envolvidas interagem (SIMON, 1961; LAFFONT, 1989; PÉREZ-CASTRILLO;
MACHO-STANDLER, 1997).
Como o principal shareholder ou stakeholder não pode supervisionar completamente
o agente (gestor), existem riscos de agência (estratégias oportunistas podem ser
adotadas pelo agente em detrimento do interesse do principal) e custos de agência
(relativos à supervisão dos agentes pelos principais, a prestação de contas dos
agentes aos principais e a assimilação das perdas residuais que ainda resultarem
das atitudes oportunistas não mitigadas) que são inerentes a essas relações e são
comumente observadas não só em sociedades empresárias (corporativa).
As relações de agência também existem em outras formas de delegação, como
aquela que ocorre quando os cidadãos delegam o poder político aos governantes
por meio de eleições (política-democrática), os governantes nomeiam burocratas
para implementar as políticas públicas (burocrática) ou ainda quando os indivíduos
contratam profissionais que prestam serviços (advogados, médicos, mecânicos,
professores etc.).
Por essa razão, o principal precisa instituir estruturas de governança que permitam
dirigir e controlar essas relações ou sistemas de forma a garantir que os agentes
atuem de acordo com seu interesse (mitigando o conflito de
agência, garantindo a conformidade e o melhor desempenho possível do agente
frente o interesse do principal).
É por meio da estrutura de governança que são confiados os recursos e definidas as
responsabilidades dos agentes da organização, tornando-os responsivos
(accountable) perante os principais (shareholders / stakeholders). Os agentes
operam dentro de estruturas de governança que geram incentivos (positivos e
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negativos) para que os objetivos dos principais sejam efetivamente alcançados. No
ambiente das sociedades empresariais isso significa instituir mecanismos para
incentivar os gestores a observar os interesses dos proprietários diminuindo os
riscos de fraudes.
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somada à realização de uma auditoria externa independente que permita aferir os
resultados e avaliar o desempenho do conselho e dos diretores também são
consideradas boas práticas de governança corporativa que contribuem para
melhores resultados de gestão.
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resultados de gestão para a remuneração de conselheiros e diretores. Essas
medidas preveem:
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A Responsabilidade Social Corporativa (RSC) geralmente abarca essas relações em
rede que influenciam as decisões e as iniciativas corporativas, combinando a
promoção do bem-estar social com os benefícios econômicos de uma boa reputação
social nas redes em que a organização opera. No médio e longo prazo, as
corporações se beneficiam de relações colaborativas, baseadas na confiança,
estabelecidas com seus fornecedores, clientes, credores, governantes etc. A
reputação é sem dúvida um dos maiores ativos de uma corporação. Por isso, são
estabelecidas medidas para:
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econômico-financeiro, contemplando também os demais fatores (inclusive
intangíveis) que norteiam a ação gerencial e que conduzem à preservação e à
otimização do valor da organização.
• Equidade: Caracteriza-se pelo tratamento justo e isonômico de todos os sócios e
demais partes interessadas, levando em consideração seus direitos, deveres,
necessidades, interesses e expectativas.
• Prestação de Contas (accountability): Os agentes de governança devem prestar
contas de sua atuação de modo claro, conciso, compreensível e tempestivo,
assumindo integralmente as consequências de seus atos e omissões e atuando com
diligência e responsabilidade no âmbito dos seus papéis.
• Responsabilidade Corporativa: Os agentes de governança devem zelar pela
viabilidade econômico-financeira das organizações, reduzir as externalidades
negativas de seus negócios e suas operações e aumentar as positivas, levando em
consideração, no seu modelo de negócios, os diversos capitais (financeiro,
manufaturado, intelectual, humano, social, ambiental, reputacional etc.) no curto,
médio e longo prazos.
Referencias bibliográficas
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BERLE, Adolph; MEANS, Gardiner. The modern corporation and private property.
New York: The Macmillan Company, 1932.
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and the constitution. Baltimore: John Hopkins University Press, 2006.
BESLEY, Timothy; PERSSON, Torsten. Pilars of prosperity: state capacity and
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The Sage handbook of governance. Thousand Oaks: SAGE, 2010.
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2012.
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Disponível em: <https://www.britannica.com/topic/governance>. Acesso em: 5
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BOVAIR, Tony; LÖEFFLER, Elke. Public management and governance. New York:
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BRASIL. Lei 12.846 de 1º de agosto de 2013. Dispõe sobre a
responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de
atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira, e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasíla, DF.
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