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Curso de

Alongamento Terapêutico

MÓDULO I

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descritos na Bibliografia Consultada.
SUMÁRIO

MÓDULO I
1. Tecido Muscular
1.1 Tecido muscular estriado esquelético
1.1.1 A fibra muscular
1.1.1.1 Subestruturas das fibras musculares
1.1.1.1.1 Sarcoplasma
1.1.1.1.2 Sarcolema
1.1.1.1.3 Mitocôndrias
1.1.1.1.4 Complexo de golgi
1.1.1.1.5 Retículo sarcoplasmático
1.1.1.1.6 Filamento de actina
1.1.1.1.7 Filamento de miosina
1.1.1.1.8 Filamentos de triponina e tropomiosina
1.1.1.2 Tipos de fibras musculares
1.1.1.2.1 Fibras do tipo I (contração lenta - CL)
1.1.1.2.2 Fibras do tipo II (contração rápida - CR)
2. Tecidos conjuntivos
2.1 Fibras colágenas
2.2 Fibras elásticas
2.3 Fibras reticulares
2.4 Tendões
2.5 Ligamentos
2.6 Comportamento mecânico do tecido não-contrátil
3. Classificação dos músculos
3.1 Origem e inserção muscular
3.2 Quanto à localização

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3.3 Quanto à forma
3.4 Quanto à direção
3.5 Quanto à organização das fibras
3.6 Classificação funcional dos músculos
3.6.1 Agonistas
3.6.2 Antagonistas
3.6.3 Sinergistas ou neutralizadores
3.6.4 Estabilizadores ou fixadores
4. Fisiologia da contração muscular
4.1 A unidade neuromuscular
4.2 Mecanismos da contração muscular
4.3 Energia para a contração muscular
4.4 Tipos de contração muscular
4.5 Fadiga Muscular
4.6 Tônus muscular
4.7 Adaptação à função: remodelagem
5. Glossário

MÓDULO II
1. Receptores sensoriais relacionados ao alongamento
1.1 Órgão tendinoso de golgi (OTG)
1.2 Fuso muscular (FNM)
1.3 Mecanorreceptores articulares
2. Adaptação do tecido muscular ao alongamento
2.1 Ajuste do comprimento muscular
3. Definições de termos fundamentais
3.1 Flexibilidade
3.2 Contraturas
4. Fatores limitantes da flexibilidade articular
5. Conceito de alongamento
6. Alongamento terapêutico
6.1 Benefícios dos alongamentos

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6.2 Objetivos
6.3 Indicações
6.4 Contra-indicações
6.5 Precauções do alongamento terapêutico
6.6 Métodos de alongamento
6.6.1 Alongamento estático
6.6.6.1 Alongamento passivo
6.6.6.2 Alongamento ativo
6.6.2 Alongamento por inibição ativa
6.6.2.1 Sustentar-relaxar (hold-relax)
6.6.2.2 Contrair-relaxar (hold-relax-contract)
6.6.2.3 Sustentar-relaxar com contração do agonista
6.6.2.4 Contração do agonista
6.6.3 Alongamento balístico
6.6.4 Alongamento dinâmico
7. Glossário

MÓDULO III
1. Avaliação da flexibilidade
1.1 Formas de medidas e avaliação da flexibilidade
1.1.1 Testes adimensionais
1.1.2 Testes lineares
1.1.3 Testes angulares
2. Exame físico funcional da flexibilidade
2.1 Anamnese e história clínica
2.2 Avaliação da mobilidade dos segmentos
2.2.1 Movimentação ativa
2.2.2 Movimentação passiva
2.2.3 Goniometria
3. Conceitos importantes para o estudo das amplitudes articulares
3.1 Posição anatômica

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3.2 Planos anatômicos
3.2.1 Planos seccionais
3.2.2 Planos tangenciais3.2.3 Movimentos articulares
4. Exame físico-funcional da amplitude de movimento
4.1 Ombro
4.1.1 Articulações do ombro
4.1.1.1 Articulação glenoumeral
4.1.1.2 Articulação acrômioclavicular e esternoclavicular
4.1.1.3 Articulação subacromial
4.1.1.4 Articulação escapulotorácica
4.1.2 Amplitude articular do ombro
4.1.2.1 Flexão do ombro
4.1.2.2 Extensão do ombro
4.1.2.3 Abdução do ombro
4.1.2.4 Adução do ombro
4.1.2.5 Rotação externa do ombro
4.1.2.6 Rotação interna do ombro
4.1.3 Movimentos do ombro e amplitudes articulares normais
4.2 Cotovelo
4.2.1 Articulações do cotovelo
4.2.1.1 Articulação úmero-ulnar ou troclear
4.2.1.2 Articulação úmero-radial
4.2.1.3 Articulação rádio-ulnar proximal
4.2.2 Amplitude articular do cotovelo
4.2.2.1 Flexão do cotovelo
4.2.2.2 Extensão do cotovelo
4.2.2.3 Supinação do cotovelo
4.2.2.4 Pronação do cotovelo
4.2.3 Movimentos do cotovelo e amplitudes articulares normais
4.3 Punho e mão
4.3.1 Articulações principais do punho

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4.3.1.1 Articulação rádio-ulnar distal
4.3.1.2 Articulação radiocarpal (punho)
4.3.1.3 Articulações intercarpais (articulação do carpo)
4.3.1.4 Articulação mediocárpica
4.3.1.5 Articulações carpometacarpais
4.3.1.6 Articulações IM/MC/IN
4.3.2 Amplitude articular do punho e mão
4.3.2.1 Flexão de punho
4.3.2.2 Extensão de punho
4.3.2.3 Desvio radial do punho (abdução)
4.3.2.4 Desvio ulnar do punho (adução)
4.3.3 Movimentos do punho e amplitudes articulares normais
4.4 Quadril e Pelve
4.4.1 Articulação do quadril
4.4.2 Amplitude articular do quadril
4.4.2.1 Flexão do quadril
4.4.2.2 Extensão do quadril
4.4.2.3 Abdução do quadril
4.4.2.4 Adução do quadril
4.4.2.5 Rotação interna do quadril
4.4.2.6 Rotação externa do quadril
4.4.3 Movimentos do quadril e amplitudes articulares normais
4.5 Joelho
4.5.1 Articulações do joelho
4.5.1.1 Articulação femorotibial
4.5.1.2 Articulação femoropatelar
4.5.1.3 Articulação tibiofibular-superior
4.5.2 Amplitude articular do joelho
4.5.2.1 Flexão do joelho
4.5.2.2 Extensão do joelho
4.5.3 Movimentos do joelho e amplitudes articulares normais

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4.6 Tornozelo e pé
4.6.1 Articulações do tornozelo e pé
4.6.1.1 Retropé
4.6.1.1.1 Articulação talocrural (tornozelo)
4.6.1.1.2 Articulação subtalar (talocalcânea)
4.6.1.1.3 Articulação tibiofibular
4.6.1.2 Mediopé
4.6.1.2.1 Articulação transversa do tarso
4.6.1.3 Antepé
4.6.1.3.1 Articulações tarsometatarsais e intermetatarsais
4.6.1.3.2 Articulações metatarsofalângicas
4.6.1.3.3 Articulações interfalângicas
4.6.2 Amplitude articular do tornozelo
4.6.2.1 Dorsiflexão da articulação do tornozelo
4.6.2.2 Flexão plantar do tornozelo
4.6.2.3 Supinação mediotársica-subtalar (inversão)
4.6.2.4 Pronação mediotársica-subtalar (eversão)
4.6.3 Movimentos do tornozelo e amplitudes articulares normais
4.7 Coluna vertebral
4.7.1 Articulações
4.7.1.1 Articulação atlantoccipital (C0-C1)
4.7.1.2 Articulação atlantoaxial mediana (C1-C2)
4.7.1.3 Demais articulações cervicais
4.7.1.4 Articulações torácicas
4.7.1.5 Articulações lombares
4.7.2 Amplitude articular da coluna vertebral
4.7.2.1 Flexão da coluna cervical
4.7.2.2 Extensão da coluna cervical
4.7.2.3 Inclinação lateral da coluna cervical
4.7.2.4 Rotação da coluna cervical
4.7.2.5 Flexão da coluna lombar

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4.7.2.6 Extensão da coluna lombar
4.7.2.7 Inclinação lateral da coluna lombar
4.7.3 Movimentos da coluna e amplitudes articulares normais
5. Glossário

MÓDULO IV
1. Componentes de um programa de alongamento terapêutico
1.1 Avaliação do indivíduo
1.2 Progressão de intensidade
1.3 Posicionamento correto
1.4 Periodicidade
1.5 Escolha da técnica adequada
2. Séries de alongamentos ativos
3. Séries de exercícios passivos
4. Alongamentos com bola
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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MÓDULO I

ANATOMOFISIOLOGIA DO TECIDO MUSCULAR

1. Tecido Muscular
O tecido muscular é de origem mesodérmica, sendo caracterizado pela
propriedade de contração e distensão de suas células, o que determina a
movimentação dos membros e das vísceras. É composto por células alongadas,
mais ou menos paralelas, com grande quantidade de filamentos citoplasmáticos
responsáveis pela sua contração. Pode ser dividido em três tipos, que se
diferenciam pela sua estrutura macroscópica, distribuição, inervação e variedade da
função realizada: músculo liso, músculo estriado esquelético e músculo cardíaco.
O músculo liso está presente em diversos órgãos internos (tubo digestivo,
bexiga, útero) e na parede dos vasos sanguíneos. As células musculares lisas são
uninucleadas e os filamentos de actina e miosina se dispõem em hélice em seu
interior, sem formar padrão estriado como no tecido esquelético. A contração dos
músculos lisos é normalmente involuntária, ao contrário da contração dos músculos
esqueléticos.
O músculo estriado esquelético é inervado pelo sistema nervoso central e,
como este se encontra em parte sob controle consciente, também se denomina
músculo voluntário. As contrações do músculo esquelético estabilizam e permitem
os movimentos dos diversos ossos e cartilagens do esqueleto. O músculo cardíaco é
o tipo de tecido muscular que forma a maior parte do coração dos vertebrados. Ao
microscópio, apresenta estriação transversal. Suas células são uninucleadas e têm
contração involuntária.

Figura 01 – Tipos de tecido muscular

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Fonte: VILELA, 2008.

1.1 Tecido muscular estriado esquelético


Os músculos esqueléticos são os “motores vivos” que proporcionam
movimento ativo para o esqueleto articulado e a manutenção da postura. Cerca de
40 a 50% do corpo é formado por músculos esqueléticos. O músculo esquelético é o
mais abundante do organismo humano e possui contração rápida e voluntária.

Figura 02 – Músculos esqueléticos

Fonte: WEB CIÊNCIA, 2008.

Apresenta, sob observação microscópica, faixas alternadas transversais,


claras e escuras. Essa estriação resulta do arranjo regular de microfilamentos
formados pelas proteínas actina e miosina, responsáveis pela contração muscular.

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Figura 03 – Fibras estriadas dos músculos esqueléticos

Fonte: MUNDO EDUCAÇÃO, 2008.

O músculo estriado recebe o nome de músculo esquelético por estar


inserido nos ossos e ser responsável pelos movimentos articulares. Os músculos
esqueléticos são ligados aos ossos por tendões, sendo organizados em feixes
envoltos por uma membrana externa de tecido conectivo, que se denomina epimísio
e envolve todo o músculo. Do epimísio, partem prolongamentos que circundam os
feixes de fibras musculares denominados de fascículos, originando o perimísio, e
por fim cada fibra muscular é envolvida por uma camada fina, constituída por uma
lamina basal, fibras colágenas e fibroblastos, formando uma fina camada de tecido
conjuntivo, o endomísio. É através do tecido conjuntivo que a contração muscular é
transmitida a outras estruturas como tendões, aponeuroses, ligamentos e ossos.
As principais funções dos músculos esqueléticos são:
- produzir movimento;
- manter postura e posições;
- estabilizar articulações;
- suportar e proteger os órgãos viscerais e os tecidos internos de lesão.
Tensão do tecido muscular pode alterar e controlar pressões dentro das cavidades.
O músculo esquelético também contribui para a manutenção da temperatura
corporal pela produção de calor. Os músculos controlam as entradas e saídas do
corpo pelo controle voluntário da deglutição, defecação e eliminação da urina.

Figura 04 – Envoltórios dos músculos esqueléticos

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Fonte: AFYD, 2008.

Os vasos sangüíneos que irrigam o músculo esquelético correm pelos


tabiques de tecido conjuntivo e ramificam-se para formar uma abundante rede
capilar em torno de cada uma das fibras musculares. Os capilares são
suficientemente tortuosos para se adaptarem às alterações de comprimento das
fibras, estirando-se durante o alongamento muscular e tornando-se tortuosos
durante a contração.

1.1.1. A Fibra Muscular


A célula muscular estriada chamada fibra muscular, possui inúmeros
núcleos e pode atingir comprimentos que vão de 1mm a 60 cm. Cada fibra muscular
é composta de várias unidades pequenas denominadas miofibrilas. Estas são
agrupadas em feixes e seguem a extensão da fibra muscular, sendo que cada uma
dessas miofibrilas é composta de um filamento longo e fino de sarcômeros ligados
em série. Os sarcômeros são a unidade funcional do músculo.

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Figura 05 – A fibra muscular

Fonte: AFYD, 2008

Dentro dos sarcômeros há dois tipos de filamentos contrátil sendo um mais


fino contendo actina, e outro mais espesso contendo miosina. Quando contraído ao
máximo, um sarcômero pode encurtar 20% a 50% do comprimento de repouso e,
quando alongado passivamente pode estender-se cerca de 120% de seu
comprimento normal.
Cada sarcômero é delimitado nas extremidades por uma linha Z. A partir da
linha Z saem numerosos filamentos finos constituídos por actina. Esses filamentos
finos se intercalam paralelamente com filamentos grossos formados por outra
proteína, a miosina. A região onde esses filamentos se sobrepõem – região mais
densa do sarcômero – é denominada banda A. A porção mais clara, no centro da
banda A, composta somente pelos filamentos grossos é chamada banda H. A
porção clara entre as duas bandas A é denominada banda I, sendo composta
somente por filamentos de actina. No centro da banda H pode-se observar a linha M,
que contém enzimas importantes no metabolismo energético (ex: creatina-cinase).
Resumindo:
 Faixa I – filamentos de actina.

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 Faixa A – filamentos de miosina e extremidades dos filamentos de actina.
 Faixa H - filamentos de miosina.
 Disco Z – filamentos de actina (extremidade inicial).

Figura 06 – Micro-estrutura das fibras musculares

Fonte: AFYD, 2008.

1.1.1.1 Subestruturas das fibras musculares

1.1.1.1.1 Sarcoplasma
O sarcoplasma de uma fibra muscular corresponde ao citoplasma dos
outros tipos de células e pode definir-se como o conteúdo do sarcolema quando se
excluem os núcleos. É, portanto, constituído por uma matriz citoplasmática típica, as
organelas e inclusões comuns, e também pelas miofibrilas tão peculiares do

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músculo. As organelas sarcoplasmáticas mais comuns não se diferenciam
estruturalmente das encontrados em outros tipos celulares.
O sarcoplasma do músculo vivo contém ainda, além destas inclusões, uma
proteína fixadora de oxigênio - a mioglobina. No músculo em repouso mantém-se,
provavelmente, ligada ao oxigênio, mas quando a necessidade aumenta, dissocia-se
e fica disponível para as oxidações.

1.1.1.1.2 Sarcolema
É a membrana celular da fibra muscular. Consiste de uma membrana celular
verdadeira, a membrana plasmática, e de uma fina camada de material
polissacarídico similar ao da membrana basal que circunda os capilares sangüíneos;
finas fibrilas colágenas também estão presentes na camada mais externa do
sarcolema. Nas extremidades das fibras musculares, essas camadas superficiais
do sarcolema se fundem com as fibras tendinosas.

1.1.1.1.3 Mitocôndrias
As mitocôndrias são abundantes junto aos pólos dos núcleos,
imediatamente por baixo do sarcolema, aparecendo em maior número no interior da
fibra onde se distribuem em fileiras longitudinais, entre as miofibrilas. Apresentam
muitas cristas e a sua íntima associação com os elementos contráteis permite a sua
rápida utilização como fonte de energia química (ATP).

1.1.1.1.4 Complexo de golgi


Localiza-se nas proximidades dos pólos nucleares e, aparentemente, não
desenvolve uma grande atividade.
1.1.1.1.5 Retículo sarcoplasmático
Organela cuja presença foi comprovada pela microscopia eletrônica. É um
sistema contínuo de sarcotúbulos limitados por membranas, que se estende por todo
o sarcoplasma formando uma rede canalicular de malha fina em volta de cada
miofibrila. Possui um sistema de túbulos que envolvem e penetram as fibras
profundamente, fazendo com que o potencial de ação atinja completamente a fibra,

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acarretando a liberação de grande quantidade de íons Ca++ ao longo de todas as
miofibrilas (acoplamento excitação-contração). Estendem-se desde a membrana
celular, penetram toda a espessura da fibra de um lado a outro, ramificando-se entre
si.
Os túbulos longitudinais distribuem-se a intervalos regulares ao longo das
miofibrilas, confluindo em canais orientados transversalmente e de calibre maior,
chamados túbulos transversos (cisternas terminais). Pares paralelos de cisternas
terminais correm transversalmente por entre as miofibrilas em relação íntima com
um elemento intermédio de menor diâmetro - o túbulo T. Estas três estruturas
transversais associadas constituem as chamadas tríades do músculo esquelético.
No músculo dos mamíferos existem duas tríades por sarcômero, situadas na
transição das bandas I-A adjacentes. A membrana limitante do túbulo T continua-se
com o sarcolema e a sua luz comunica-se com o espaço extracelular na superfície
da célula, sendo por isso considerado uma invaginação tubular do sarcolema que
penetra profundamente para o interior da fibra. Para destacar a sua natureza
distinta, denominam-se coletivamente por sistema T da fibra muscular. Os túbulos
longitudinais e as cisternas terminais do reticulo sarcoplasmático estão intimamente
relacionados com a libertação dos íons cálcio.

1.1.1.1.6 Filamento de actina


Os filamentos de actina são filamentos finos, formados pela proteína
muscular actina (estrutura de suporte do filamento). Sua função é interagir com a
miosina durante o acoplamento excitação-contração. O filamento de actina pode ser
comparado a dois colares de contas “enrolados” um em volta do outro em dupla
hélice. Cada “conta” desse colar é uma molécula de actina G que, juntas, formam a
longa dupla hélice chamada actina F. Nos sulcos da dupla hélice de actina se
encontram moléculas filamentosas de tropomiosina.

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Figura 07 – Pontes cruzadas

Fonte: UFMT, 2008

1.1.1.1.7 Filamento de miosina


O filamento grosso, miosina, é formado por duzentas ou mais moléculas
individuais de miosina. A porção central é a união das caudas unidas em feixes para
formar o corpo do filamento. Parte da molécula se projeta para o lado, junto com a
cabeça para formar as pontes cruzadas. A miosina tem a função de fracionar o ATP.
Suas cabeças atuam como enzimas ATPase e antes da contração fixam o ATP e se
estendem em direção à actina. Milhares de filamentos de miosina estão localizados
ao longo dos filamentos de actina em uma fibra muscular. Um filamento de miosina é
limitado por seis filamentos mais finos de actina. A posição dessas duas proteínas
no sarcômero resulta em uma superfície entrelaçada dos dois filamentos.

1.1.1.1.8 Filamentos de troponina e tropomiosina


Outros dois componentes importantes na estrutura helicoidal da actina são a
tropomiosina e troponina. Essas proteínas regulam os contatos provisórios entre os
filamentos durante a contração muscular. A tropomiosina se distribui ao longo do
filamento de actina com um sulco formado pela dupla hélice e quando em repouso,
fica por cima dos sítios ativos dos filamentos de actina, impedindo a ocorrência de
atração entre os filamentos de actina e miosina. A troponina é uma proteína mais
complexa e possui ampla afinidade pelos íons cálcio e induz as miofibrilas a
interagirem e deslizarem umas sobre as outras. Quando a fibra é estimulada, as
moléculas de troponina sofrem uma alteração e exercem pressão sobre o fio
protéico de tropomiosina. Isso desloca a tropomiosina mais profundamente para
dentro do sulco entre os dois filamentos e permite a contração muscular.

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1.1.1.2 Tipos de fibras musculares
O músculo esquelético é um agregado de fibras, que podem ser controladas
individual e coletivamente. A multiplicidade de padrões de movimentos realizados
pelo ser humano demonstra o complexo controle que o sistema nervoso exerce
sobre os músculos, e indica as diversas características das fibras musculares. Um
mesmo músculo, ou grupo muscular, pode responder e adaptar-se a um movimento
de elevada coordenação, a um esforço curto e intenso, ou ainda a uma atividade
prolongada.
As fibras musculares podem ser classificadas através de suas
características contráteis e metabólicas. São elas: fibras do tipo I (contração lenta)
e fibras do tipo IIA e IIB (contração rápida). A classificação em fibras brancas e
vermelhas está em desuso porque foi idealizado com base em amostras modificadas
por corantes, o que altera a cor original da fibra.
A velocidade de contração está diretamente relacionada à inervação da fibra
muscular. Quanto maior a freqüência de disparo dos potenciais de ação sobre a
sarcolema, maior a velocidade de contração. A freqüência natural de disparo para
recrutamento de fibras lentas situa-se na faixa dos 10 a 30 Hz; para fibras rápidas,
na ordem de 80 a 100 Hz.
A maioria dos músculos contém uma mistura de todos os tipos de fibras,
porém, sempre há o predomínio de um tipo de fibra muscular. A existência dessa
variabilidade entre as fibras ajuda a explicar de que modo as estruturas e as funções
musculares se adaptam ao treinamento. A maioria dos músculos são compostos por
aproximadamente 50% de fibras tipo I, 25% de fibras de tipo IIa e os 25% restantes
são representados por fibras de IIb, sendo que há também a presença das fibras
intermediárias ou mistas de característica rápida, oxidativa e glicolítica.

1.1.1.2.1 Fibras do tipo I (contração lenta - CL)


Também denominadas de fibras tônicas, encurtam-se com relativa lentidão e
geram energia predominantemente através do metabolismo aeróbico. São mais
resistentes à fadiga e bem apropriadas para o exercício aeróbio prolongado e que

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exijam maior resistência, como corrida em distância, ciclismo ou natação. São
encontradas em maiores quantidades nos músculos posturais do corpo, como os
músculos das costas. As fibras são avermelhadas devido ao alto conteúdo de
mioglobina no músculo.

1.1.1.2.2 Fibras do tipo II (contração rápida - CR)


Também chamadas de fibras fásicas. Nas fibras deste tipo, a energia é
gerada através de processos anaeróbicos para contrações rápidas e vigorosas. São
rotuladas como fibras de grande velocidade de encurtamento e altas propriedades.
Importantes contribuintes para o sucesso na execução de manobras que exijam
contração muscular rápida e forte, como correr em velocidade ou saltar.
Possuem um número reduzido de mitocôndrias, uma capacidade limitada de
metabolismo aeróbio e poucos capilares. Esses fatores contribuem para que essas
fibras possuam baixa resistência à fadiga, se comparadas com as fibras do tipo I. No
entanto, são ricas em enzimas glicolíticas, que proporcionam uma grande
capacidade anaeróbia, requerida em atividades que necessitam de uma fonte de
energia rápida. Podem ser subdivididas em dois tipos: tipo IIA – fibra que possui
características intermediárias (aeróbias e anaeróbias) e tipo IIB – fibra que possui
maior potencial anaeróbio do que aeróbio.

Quadro 1 – Resumo geral das características das fibras musculares


TIPO DE FIBRAS
CARACTERÍSTICAS
I IIA IIB
Velocidade de contração Lenta Rápida Rápida

ATPase miofibrilar Baixa Alta Alta

Diâmetro da fibra Pequeno Médio Grande


Suprimento capilar Rico Rico Escasso
Atividade de enzimas oxidativas Alta Meio-alta Baixa
Conteúdo mitocondrial Alto Alto Baixo

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Atividade das enzimas glicolíticas Baixa Alta Alta
Conteúdo de glicogênio Baixo Alto Alto
Conteúdo de mioglobina Alto Alto Baixo

2. Tecidos conjuntivos
Os tecidos conjuntivos caracterizam-se por apresentar tipos diversos de
células separadas por abundante material intercelular, que é sintetizado por elas e
representado pelas fibras do conjuntivo e pela substância fundamental amorfa.
Banhando este material e também as células, há uma pequena quantidade de fluido,
o líquido intersticial. É formado por células conjuntivas (blastos), que têm como
função excretar colágeno e elastina. O conjuntivo forma o arcabouço que sustenta
as partes moles, apoiando e ligando os outros tipos de tecido. É responsável pela
síntese das seguintes fibras:

2.1 Fibras colágenas


Tipo de fibra mais freqüente do tecido conjuntivo, sendo constituída por uma
escleroproteína denominada colágeno. O colágeno é a proteína mais abundante do
corpo humano e tem como função fornecer resistência e integridade estrutural a
diversos órgãos e tecidos. Os tipos de colágeno mais freqüente são: o tipo I, que é o
mais abundante, encontrado nos tendões, ligamentos, derme, cápsula de órgãos,
ossos e outros. É sintetizado pelos fibroblastos, odontoblastos e osteoblastos; o tipo
II, encontrado nas cartilagens hialina e sintetizado pelas células cartilaginosas; o tipo
III, que forma as fibras reticulares e é produzido pelos fibroblastos e células
reticulares; o tipo IV, presente nas lâminas basais e no tecido epitelial; o tipo V que
se associa ao colágeno do tipo I para formar as fibrilas e é sintetizado pelos
fibroblastos e o tipo VI, encontrado junto com o colágeno do tipo II e produzido pelos
condroblastos.

2.2 Fibras elásticas


Fibras delgadas, sem estriações longitudinais, que se ramificam
irregularmente. É amarelada e tem como componente principal a elastina, uma

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escleroproteína muito mais resistente que o colágeno, e a microfibrila elástica,
formada por uma glicoproteína especializada. Essas fibras cedem facilmente a
trações, porém retornam facilmente à sua forma original quando cessam as forças
deformantes. Suportam grandes trações.

2.3 Fibras reticulares


Fibras anastomosadas umas às outras, que se dispõem formando uma
estrutura semelhante a uma rede. Formam o arcabouço interno das glândulas,
através do qual as células epiteliais que formam o corpo das glândulas permanecem
unidas. São fibras curtas, finas e inelásticas, constituídas principalmente por um tipo
de colágeno denominado reticulina. Os fibroblastos são responsáveis pela sua
produção na maioria dos tecidos conjuntivos.

2.4 Tendões
O tendão é um feixe inelástico de fibras de colágeno arranjadas
paralelamente na direção da aplicação de força do músculo. Os tendões são
arranjados em série ou são alinhados com os músculos; conseqüentemente, o
tendão suporta a mesma tensão que o músculo. A interação mecânica entre o
músculo e tendão depende da quantidade da força que está sendo aplicada ou
gerada, da velocidade de ação muscular, e da folga no tendão.

Figura 08– Tendão muscular

Fonte: ANATOMIA ON LINE, 2008.

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2.5 Ligamentos
Um ligamento é um feixe de tecido fibroso, formado por tecido conjuntivo, e
é mais ou menos comprido, largo e robusto, de forma aplanada ou arredondada, que
une entre si duas cabeças ósseas de uma articulação (ligamento articular) ou
mantém no seu local fisiológico habitual um órgão interno (ligamento suspensor).

Figura 09 – Ligamento Iliofemural

Fonte: FISIONET, 2008.

2.6 Comportamento mecânico do tecido não-contrátil


É determinado pela proporção de fibras de colágeno e elastina e pela
orientação estrutural das fibras. O colágeno é o elemento estrutural que absorve a
maior parte da sobrecarga de tensão por alongar-se rapidamente sob cargas leves.
O tecido com maior proporção de colágeno proporciona maior estabilidade. Nos
tendões, as fibras de colágeno ficam paralelas e podem resistir a maior carga de
tensão. Na pele, as fibras de colágeno são casuais e mais fracas para resistir à
tensão. Nos ligamentos, cápsulas articulares e fáscias, as fibras de colágeno variam
entre os dois extremos.

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3. Classificação dos músculos

3.1 Origem e inserção muscular


O músculo tipicamente liga-se ao osso pelas duas pontas. A ligação mais
próxima ao centro do corpo (tronco), ou mais proximal, é denominada origem. A
ligação mais afastada do corpo ou da linha média ou mais distal é denominada de
inserção.
Há três maneiras para o músculo inserir-se no osso: diretamente no osso,
por um tendão e por uma aponeurose. Diretamente no periósteo do osso por uma
fusão entre o epimísio e a superfície do osso ou pode inserir-se por um tendão ou
aponeurose que se funde com a fáscia muscular.

3.2 Quanto à localização


Podem ser superficiais quando situados logo abaixo do tegumento, e
apresentarem no mínimo uma de suas inserções na camada profunda da derme.
Localizados na cabeça, pescoço e na mão; ou profundos quando apresentam
inserções na camada profunda da derme, inserindo-se na maioria das vezes em
ossos.

3.3 Quanto à forma


Podem ser longos, quando o comprimento predomina sobre a largura e
espessura; largos, quando duas medidas se equivalem, comprimento e largura
predominam sobre a espessura; curtos, quando as três medidas se equivalem; em
leque, quando possui fibras em leque ou mistos, quando não são classificados como
longos, largos ou curtos.

3.4 Quanto à direção


Podem ser retilíneos, quando convergem somente numa direção. Podem ser
paralelos, oblíquos, transversos ou reflexos, quando mudam sua direção durante
seu trajeto.

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3.5 Quanto à organização das fibras
Há dois tipos principais de disposições das fibras musculares: fusiformes,
quando as fibras musculares se encontram distribuídas de modo longitudinal,
paralelas, e percorrem o músculo em toda sua extensão, permitindo aos músculos
um grau máximo de movimento, estendendo-se de um tendão ao outro e
peniformes, quando apresentam diversas disposições. Os peniformes podem ser
unipenados, quando o músculo se encontra num lado do tendão; bipenados, quando
o músculo converge nos dois lados do tendão ou multipenados, quando o músculo
apresenta vários tendões.

3.6 Classificação funcional dos músculos:


Funcionalmente os músculos podem ser classificados de acordo com o papel
que exercem em um dado movimento.

3.6.1 Agonista
Músculo ou grupo de músculos principais agentes de um movimento.
Também pode ser conhecido como motor primário. O agonista sempre se contrai
ativamente para produzir uma contração concêntrica, excêntrica ou isométrica.

3.6.2 Antagonista
Músculo ou grupo de músculos que executa ação oposta à do agonista.
Serve para coordenar, moderar ou “frear” o movimento.
São os antagonistas que precisam relaxar-se para permitir que ocorra o
movimento ou precisam contrair-se simultaneamente aos agonistas para controlar ou
reduzir a rapidez de um movimento articular.

3.6.3 Sinergistas ou neutralizadores


Músculos que auxiliam no movimento. O músculo irá contrair-se para
eliminar uma ação articular indesejada causada por outro músculo.

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3.6.4 Estabilizadores ou fixadores
Age estabilizando um segmento do corpo, para que outro músculo ativo
tenha base firme sobre a qual possa exercer uma função. A estabilização é muito
importante, por exemplo, na cintura escapular que precisa ser suportada de modo
que os movimentos do braço possam ocorrer de forma homogênea e eficiente.

4. Fisiologia da contração muscular

4.1 A unidade neuromuscular


Todos os músculos esqueléticos são controlados por fibras nervosas que
têm origem na medula espinhal. Nas pontas anteriores da substância cinzenta da
medula espinhal existem de 3 a 10 milhões de grandes células neurais, chamadas
de motoneurônios anteriores. Cada uma delas brota uma única fibra nervosa que
trafega por um tronco nervoso periférico, juntamente com centenas ou milhares de
fibras nervosas semelhantes. Essas fibras, após percursos variáveis, distribuem-se
para um ou mais músculos esqueléticos. A porção terminal de cada fibra nervosa
que controla o músculo forma de 3 a 1.000 ramificações, e cada uma dessas
ramificações termina em fibra muscular única. A junção entre a ramificação terminal
neural e a fibra muscular é chamada de placa motora.

Figura 10 – Unidade neuromuscular

Fonte: ROCHA, 2008

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Todas as fibras musculares inervadas por uma só fibra nervosa motora
formam a chamada “unidade motora” (UM). Cada fibra nervosa após penetrar no
ventre muscular, normalmente ramifica-se e estimula de três a várias centenas de
fibras musculares esqueléticas, sendo que, o fator determinante da quantidade de
fibras inervadas, deve-se exclusivamente ao tipo de músculo em questão. Músculos
grandes que não precisam de controle muito exato, podem ter unidades motoras
com centenas de fibras musculares.
A quantidade de força que pode ser gerada pelo sistema músculo-
esquelético, depende da integridade dos elementos contráteis e não-contráteis
(endomísio, epimísio e perimísio) das unidades motoras. Todas as fibras musculares
inervadas pelo mesmo nervo motor se contraem e relaxam ao mesmo tempo,
funcionando como uma unidade.
A contração ou o relaxamento muscular depende do somatório de muitos
impulsos recebidos pelo UM em um determinado momento. A UM é ativada e as
suas fibras motoras somente se contraem quando os impulsos excitatórios aferentes
ultrapassam os impulsos inibitórios e o limiar é atingido. Se a estimulação for inferior
a esse limiar, não ocorre a ação da fibra muscular. Em outros termos, um estímulo
mínimo produz contração de cada fibra muscular exatamente como o faria um
estímulo mais forte. Esse fenômeno é conhecido como lei do tudo ou nada
Embora essa lei da fisiologia seja verdadeira para cada fibra muscular e UM,
ela não se aplica ao músculo como um todo. Portanto, é possível que o músculo
exerça forças de intensidades gradativas, indo desde uma contração quase
imperceptível até o tipo mais vigoroso de contração.
Em geral, cada fibra muscular esquelética possui apenas uma placa motora.
A fibra nervosa se ramifica próximo ao seu término para formar uma rede de
terminais axônicos. Cada um desses terminais mergulha em uma invaginação,
formado pela membrana da célula muscular. A invaginação da membrana é
chamada de sulco sináptico, e o espaço entre o terminal axônico e a membrana da
fibra muscular, é a fenda sináptica. No fundo dessa goteira existem numerosas
pregas, que formam as fendas subneurais, que aumentam a área da superfície
sobre a qual pode atuar o transmissor sináptico. No terminal axônico existem muitas

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mitocôndrias que fornecem energia, principalmente para a síntese, do transmissor
excitatório acetilcolina que excita as fibras musculares. A acetilcolina é sintetizada no
citoplasma do terminal axônico, mas é rapidamente absorvida por pequenas
vesículas sinápticas, normalmente presentes, em todos os terminais de uma única
placa motora. Na superfície das fendas subneurais existem agregados de
colinesterase, capazes de destruir a acetilcolina.
Figura 11 – Junção neuromuscular

Fonte: WIKIPEDIA, 2008


A acetilcolina atua, então, sobre a membrana muscular cheia de pregas para
aumentar sua permeabilidade aos íons sódio. Essa permeabilidade aumentada, por
sua vez, permite a passagem instantânea de sódio para o interior da fibra muscular,
o que acarreta o fluxo de cargas positivas para o citoplasma muscular,
despolarizando imediatamente essa área, produzindo um potencial de ação que se
propaga nas duas direções, ao longo da fibra. Por sua vez, o potencial ao passar ao
longo da fibra provoca sua contração. Se a acetilcolina secretada pelos terminais
neurais permanecesse indefinidamente em contato com a membrana da fibra
muscular, essa fibra transmitiria sucessão ininterrupta de impulsos.
Entretanto, a colinesterase fraciona a acetilcolina em ácido acético e em
colina. Portanto, quase que imediatamente após a acetilcolina ter estimulado a fibra
muscular, ela é destruída. Isso permite que a membrana repolarize e fique pronta
para um novo estímulo, conforme outro potencial de ação chegue ao terminal
axônico.

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4.2 Mecanismos da contração muscular
A contração muscular inicia-se com o potencial de ação disparado a partir da
fibra nervosa. O espaço entre o acoplamento da terminação nervosa à fibra
muscular é chamado fenda sináptica. Tendo o potencial de ação atingido a
terminação nervosa, abrem-se os canais de cálcio voltagem-dependentes, e a
entrada de cálcio faz com que as vesículas de acetilcolina sejam liberadas na fenda,
através da fusão destas vesículas à membrana plasmática e subseqüente exocitose,
transmitindo o impulso nervoso para a sarcolema. Após a propagação do potencial
através dos túbulos T, a liberação de cálcio viabiliza a contração muscular devido à
ligação do íon à troponina C.
A ação do cálcio fundamenta-se sobre a alteração conformacional da
molécula protéica: uma vez ligado à troponina C, esta deformação molecular
decorrente faz com que os sítios para a conexão actina-miosina fiquem expostos.
Assim, dá-se o acoplamento entre os filamentos contráteis, onde a ponte cruzada da
molécula de miosina se liga ao local adequado da molécula de actina. A partir deste
ponto, ocorre o deslizamento. Para viabilizar este fenômeno, no entanto, é
fundamental a hidrólise do ATP (trifosfato de adenosina), liberando energia, que é
convertida em energia mecânica.
A seguir, uma nova molécula de ATP é necessária para que ocorra o
desligamento entre os filamentos contráteis; esta molécula não é hidrolisada neste
momento, pois sua simples ligação à cabeça da miosina altera a conformação da
molécula e reduz a afinidade entre as proteínas contráteis. Deste modo, o ATP é
essencial tanto para a contração, quanto para o relaxamento. O fator central para a
afinidade entre a actina e a miosina é o cálcio; a função do ATP é a liberação de
energia para a ocorrência do movimento, entre outras ações.
Enquanto há cálcio ligado à troponina, há ciclagem de pontes cruzadas e
contração muscular. A fim de cessar a contração, o cálcio tem de ser removido do
sítio de ligação à troponina C e transportado de volta ao retículo sarcoplasmático;
este transporte é ativo, sendo viabilizado pelo ATP. Portanto, o ATP possui 3
funções primordiais na contração muscular, fornecendo energia para o encurtamento
do sarcômero, viabilizando o desligamento acto-miosínico por interação físico-

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química ao filamento espesso e suportando a bomba de cálcio, o que encerra a
ciclagem das pontes cruzadas. Esta teoria da contração muscular é a teoria dos
filamentos deslizantes de Houxlley.
Em resumo, as contrações de todos os músculos são disparadas por
impulsos elétricos. O sinal elétrico inicia uma série de eventos que levam ao ciclo de
pontes cruzadas entre a miosina e actina, que, por sua vez, gera força.

1. Um sinal elétrico (potencial de ação) viaja por uma célula nervosa, fazendo
com que ela libere uma mensagem química (neurotransmissor) em uma
pequena lacuna entre a célula nervosa e a célula muscular (sinapse);
2. O neurotransmissor cruza a lacuna, liga-se à proteína (receptor) da
membrana da célula muscular e causa um potencial de ação na célula
muscular;
3. O potencial de ação se espalha rapidamente pela célula muscular e entra na
célula através do túbulo T;
4. O potencial de ação abre as portas do estoque de cálcio do músculo;
5. Íons de cálcio fluem para dentro do citoplasma, o local onde se encontram os
filamentos de actina e miosina;

Figura 12 – Potencial de ação

Fonte: VILELA, 2008

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6. Os íons de cálcio se ligam às moléculas do complexo troponina-tropomiosina,
localizadas nos sítios de ligação dos filamentos de actina. Normalmente, a
molécula de tropomiosina cobre os sítios da actina com os quais a miosina
pode formar pontes cruzadas;
7. Ao ligar íons de cálcio, a troponina altera sua forma e desliza a tropomiosina
para fora, expondo os sítios de ligação actina-miosina;
8. A miosina interage com a actina em ciclos de pontes cruzadas, como descrito
anteriormente. O músculo, então, cria força e se contrai;

Figura 13 - Processo de contração muscular

Fonte: ROCHA, 2008

9. Após o potencial de ação cessar, os canais de cálcio se fecham e as bombas


de cálcio localizadas no retículo sarcoplasmático removem o cálcio do
citoplasma;
10. Conforme o cálcio é bombeado de volta ao retículo sarcoplasmático, os íons
de cálcio saem da troponina;
11. A troponina retorna à sua forma natural e permite que a tropomiosina cubra os
sítios de ligação actina-miosina do filamento de actina;
12. Já que não há mais nenhum sítio de ligação disponível agora, nenhuma ponte
cruzada pode ser formada, fazendo com que o músculo relaxe.

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4.3 Energia para a contração muscular
A energia utilizada a partir do ATP não é utilizada somente para suprir o
mecanismo de contração muscular, mas também para bombear Ca++ do
sarcoplasma para o retículo sarcoplasmático (ao término da contração) e bombear
íons Na+ e K+, através da membrana da fibra muscular (para a propagação dos
potenciais de ação). Porém, a concentração de ATP só é suficiente para manter a
contração durante 1 a 2 segundos. Quando o ATP libera sua energia, é liberado um
radical de ácido fosfórico e formado o difosfato de adenosina (ADP). Em seguida a
energia liberada dos nutrientes celulares faz com que o ADP e o ácido fosfórico se
recombinem para gerar novo ATP. Esse processo se repete continuamente. Para
essa refosforilação, existem três fontes de energia principal:
à Fosfocreatina: contém uma ligação fosfato de alta energia semelhante à
do ATP. A Fosfocreatina é clivada e a energia gerada provoca a ligação do
fosfato ao ADP para convertê-lo em ATP. Essa fonte adicional mantém a
contração por mais 5 a 8 segundos.
à Glicogênio: rápida degradação do glicogênio – previamente armazenado
nas células musculares – em ácido lático e ácido pirúvico, libera energia,
que é utilizada para converter ADP em ATP. Sendo assim, esse
mecanismo de “glicólise”, mantém a contração por até 1 minuto (sem a
necessidade de oxigênio); forma ATP duas vezes mais rápido do que
quando nutrientes celulares reagem com oxigênio.
à Metabolismo oxidativo: mais de 95% de toda a energia utilizada pelos
músculos em contrações de longa duração. Consiste na combinação e
utilização de diferentes nutrientes celulares para formar ATP (carboidratos;
gorduras; proteínas).

4.4 Tipos de contração muscular


O termo contração refere-se à ativação da capacidade de gerar força das
fibras. Contração não implica, necessariamente, em encurtamento muscular. De
fato, o comprimento do músculo tanto pode diminuir, como permanecer inalterável,
ou mesmo aumentar durante a contração muscular, dependendo da relação que

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estabelece entre a grandeza da carga externa a ultrapassar e a quantidade de força
que os músculos recrutados conseguem gerar.
A contração muscular pode ser de dois tipos: dinâmica ou estática.
A contração isotônica, também conhecida por contração dinâmica, é a
contração muscular que provoca um movimento articular. Há alteração do
comprimento do músculo sem alterar sua tensão máxima. Possui alto consumo
calórico e geralmente é de rápida duração. Divide-se em dois tipos: concêntrica
(ocorre quando ao realizar um movimento o músculo aproxima suas inserções, com
encurtamento dos seus sarcômeros) e excêntrica (ocorre quando ao realizar o
movimento o músculo alonga-se, ou seja, as inserções se afastam, com aumento do
comprimento dos seus sarcômeros).
A contração isométrica também conhecida por contração estática, é a
contração muscular que não desencadeia movimento articular. O momento motor é
igual ao momento de resistência, portanto não há movimento.

4.5 Fadiga Muscular


A contração forte e prolongada de um músculo leva ao estado bem
conhecido de fadiga muscular. Essa fadiga resulta, principalmente, da incapacidade
dos processos contráteis e metabólicos da fibra muscular em produzir a mesma
quantidade de trabalho. O nervo continua a funcionar normalmente, e os impulsos
nervosos, na maioria dos casos, passam pela placa motora para a fibra nervosa e
até mesmo potencial de ação normal, passam ao longo das fibras musculares. Mas
a contração fica gradualmente cada vez mais fraca, pela depleção da ATP nas
próprias fibras musculares.

4.6 Tônus muscular


Os músculos mantêm-se normalmente em um estado de contração parcial, o
tônus muscular, que é causado pela estimulação nervosa, e é um processo
inconsciente que mantém os músculos preparados para entrar em ação. Quando o
nervo que estimula um músculo é cortado, este perde tônus e se torna flácido.
Estados de tensão emocional podem aumentar o tônus muscular, causando a

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sensação física de tensão muscular. Nesta condição, gasta-se mais energia que o
normal e isso gera a fadiga

4.7 Adaptação à função: remodelagem


Os músculos são constantemente remodelados no organismo de acordo
com a exigência de suas funções (diâmetro; comprimento; força; suprimento
vascular; tipos de fibras), num processo que dura poucas semanas.
A hipertrofia ocorre quando a massa total de um músculo é aumentada.
Normalmente ocorre por aumento do número de filamentos de actina e miosina em
cada fibra muscular. Paralelamente, os sistemas enzimáticos que proporcionam
energia também aumentam. A atrofia ocorre quando o músculo não é utilizado por
período prolongado; o ritmo de decomposição das proteínas é maior que o de
reposição.

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3. Glossário

Acetilcolina: neurotransmissor mais abundante nas junções neuromusculares, nos


gânglios autonômicos, nas junções efetoras parassimpáticas, em algumas junções
efetoras simpáticas e em muitas regiões no sistema nervoso central.

Ácido acético: líquido claro, viscoso, solúvel em água. Quando resfriado abaixo de
16,7ºC sofre solidificação formando cristais brilhantes, incolores e transparentes com
aspecto de gelo.

Aeróbia: descreve um processo bioquímico que necessita ou que ocorre na


presença de oxigênio gasoso (02).

Anaeróbias: descreve um processo bioquímico que não necessita da presença de


oxigênio gasoso (02).

Aponeuroses: fibra que substitui um tendão no músculo e serve para aderir o


músculo ao osso.

Cartilagem hialina: tipo de tecido cartilaginoso cuja substância fundamental, de


aparência amorfa, é muito resistente e elástica. A cartilagem hialina é a mais
abundante dos tecidos cartilaginosos. Constitui o anel da traquéia e dos brônquios,
assim como as partes cartilaginosas do nariz e das costelas, e recobre as
superfícies ósseas articulares (joelho, cotovelo, punho, etc.).

Citoplasma: fluido de aparência gelatinosa, rico em moléculas orgânicas e


organelas, presente no interior das células e que circunda o núcleo celular.

Colina: amina muito difundida na natureza, que no organismo humano, tem como
funções fazer parte da lecitina e de outros fosfolipídeos, participar do metabolismo

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de carboidratos, gorduras e proteínas e é um elemento precursor da formação da
acetilcolina.

Condroblastos: célula cartilaginosa jovem, de origem conjuntiva, mergulhada na


substância fundamental da cartilagem em vias de formação, da qual deriva o
condrócito.

Creatina-quinase: transferase que catalisa a reação de ATP + creatina para dar


ADP + fosfocreatina. É ativada por Mg(2+). A reação armazena a energia do ATP
como fosfocreatina no músculo e no tecido cerebral, e mantém constante a
concentração muscular de ATP durante o início do exercício.

Deglutição: ato de engolir.

Derme: camada de tecido conjuntivo vascularizado abaixo da epiderme. A superfície


da derme contém papilas sensitivas. Inseridas na derme ou abaixo desta, localizam-
se glândulas sudoríparas, folículos pilosos e glândulas sebáceas.

Enzimas: moléculas biológicas que possuem atividade catalítica. Podem ocorrer


naturalmente ou serem criadas sinteticamente.

Escleroproteína: nome genérico das proteínas de consistência dura, insolúveis na


água, com alto peso molecular. Suas funções principais são estrutura e suporte.

Exocitose: processo pelo qual a maioria das moléculas é secretada de uma célula
eucariótiea.

Fibrilas: pequenas fibras rearranjadas.

Fibroblastos: células do tecido conjuntivo que secretam uma matriz extracelular rica
em colágeno e outras macromoléculas.

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Glicogênio: polissacarídeo composto exclusivamente por unidades de glicose,
usados para armazenar energia nas células animais.

Glicoproteína: compostos conjugados proteína-carboidrato incluindo glicoproteínas


mucinas, mucóides e amilóides.

Invaginação: dobramento de um órgão cavo sobre si mesmo.

Membrana celular: componente que delimita todas as células vivas. Ela estabelece
a fronteira entre o meio intracelular e o meio exterior. É uma “porta” seletiva que a
célula usa para captar os elementos do meio exterior que lhe são necessários para o
seu metabolismo e para libertar as substâncias que a célula produz e que devem ser
enviadas para o exterior.

Mesoderma: tecido que forma folheto embrionário que se localiza entre a ectoderme
e endoderme.

Neurotransmissor: moléculas sinalizadoras endógenas que modificam o


comportamento de neurônios ou de células efetoras.

Odontoblastos: célula responsável pela síntese ou produção da dentina, a camada


situada na parte de baixo do esmalte.

Organelas: estrutura envolta por membrana lipoprotéica presente nas células


eucariontes e que realiza funções especializadas.

Osteoblastos: células de revestimento responsáveis pelos constituintes da matriz


óssea, como o colágeno e a camada básica de proteoglicanos e glicoproteinas. Seu
principal produto é o colágeno tipo 1.

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Periósteo: membrana fibrosa que envolve a superfície externa dos ossos em quase
toda a sua extensão.

Polissacarídio: polímeros de condensação que geralmente contêm centenas de


moléculas de monossacarídeos interligadas por pontes oxídicas.

Substância cinzenta: estrutura que corresponde aos centros nervosos, com sua
coloração determinada pela presença de células nervosas, ocupando a parte central
da medula e do tronco cerebral, núcleos cinzentos do cerebelo e cérebro, córtex
cerebelar e cerebral.

Tegumento: Tecido que tem a função de revestimento do corpo.

Vertebrados: ordem dos animais dotados de coluna vertebral ou espinha.

-----------FIM DO MÓDULO I -----------

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