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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI – CSL

INTRODUÇÃO A CIÊNCIA DO SOLO: MINERALOGIA

INTEMPERISMO

Gilma Alves da Silva


Matrícula: 176150008

Sete Lagoas
Junho/2017
SUMÁRIO

1 INTEMPERISMO....................................................................................................................2

2 TIPOS DE INTEMPERISMO.................................................................................................3

2.1 Intemperismo Físico..........................................................................................................3

2.1.1 Intemperismo Físico-Termal......................................................................................4

2.1.2 Intemperismo Físico Mecânico..................................................................................4

2.2 Intemperismo Químico......................................................................................................5

2.2.1 Principais Agentes do Intemperismo Químico...........................................................5

2.2.2 Principais Reações do Intemperismo Químico...........................................................7

2.3 Intemperismo Biológico....................................................................................................9

3 SUSCEPTIBILIDADE DAS ROCHAS AO INTEMPERISMO..........................................11

3.1 Composição mineralógica...............................................................................................11

3.2 Cor...................................................................................................................................13

3.3 Textura............................................................................................................................13

3.4 Estrutura..........................................................................................................................14

4 INTEMPERISMO X CLIMA................................................................................................15

4.1 Climas do Brasil..............................................................................................................15

4.2 Diagrama Intemperismo Versus Clima...........................................................................17

5 REFERÊNCIAS.....................................................................................................................18
1 INTEMPERISMO

Intemperismo é o conjunto de processos físicos, químicos e biológicos que promovem a


quebra física e a alteração química das rochas próximas da, ou, na superfície da crosta
terrestre. Por meio de uma complexa interação de processos, o fenômeno transforma as rochas
e seus minerais em produtos em equilíbrio mais estável com condições físico-químicas
prevalecentes no ambiente.

O termo intemperismo deriva do latim intempérie, que significa os rigores das variações das
condições atmosféricas (temperatura, chuva, vento e umidade). Meteorização é termo
sinônimo e, algumas vezes, empregado na literatura, proveniente da palavra “meteoro”, que se
refere a qualquer fenômeno que ocorre na atmosfera terrestre: chuva, granizo, neve, vento,
aurora boreal, relâmpago, trovão, estrela cadente, etc.

O intemperismo, processo geológico exógeno, é o primeiro passo para inúmeros outros


processos geológicos, geomorfológicos e biogeoquímicos e é especialmente importante em
dois outros processos de dinâmica externa do globo: a formação de rochas sedimentares e a
gênese do solo. Com relação as rochas sedimentares, o intemperismo inicia o processo
sedimentar com a produção dos sedimentos, tanto solúveis quanto sólidos, que são
formadores destas rochas. Em termos de gênese de solos, o intemperismo e o responsável pela
decomposição e degradação das rochas, transformando-as de materiais compactos em
materiais desagregados, sobre os quais atuaram os fatores e processos de formação de solos.
Assim o intemperismo pode ser visto como um processo intermediário em transformações do
tipo rocha → sedimento → rocha, na formação das rochas sedimentares, ou rocha saprólito
→ solo, na gênese e desenvolvimento dos solos. Em ambos dos casos, o intemperismo é um
processo essencialmente geológico, mas, no segundo caso, ele também se torna pedológico,
sendo de particular importância para a vida na terra.

O intemperismo relaciona-se diretamente com diversas características dos saprólitos e dos


solos formados na superfície da crosta, conforme a sua intensidade de atuação e natureza das
rochas e dos minerais envolvidos, com isto ele é um processo que pode, parcialmente, desde
controlar a fertilidade natural dos solos, pelo suprimento de nutrientes, até atuar como agente
tamponante, contra diversos problemas ambientais preocupantes nos dias de hoje, como:
impacto da chuva ácida nos solos, relação entre níveis de CO2 na atmosfera e intemperismo de

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minerais silicatados ricos em Ca, interações de metais pesados e contaminantes orgânicos
com produtos do intemperismo. Ainda em termos de meio ambiente, o intemperismo tem
influência significativa em drenagem ácida, que é um problema ambiental relativamente sério,
capaz de comprometer a qualidade dos recursos hídricos de uma região. O processo inicia-se
quando minerais, como a pirita e outros sulfetos, são expostos ao ar atmosférico, e na
presença de oxigênio e água, sofrem oxidação e produzem soluções de reação fortemente
solubilizados nas águas de drenagem. Na área da mineração, o intemperismo tem papel
preponderante na gênese das bauxitas brasileiras, que são formadas por intenso intemperismo
tropical de diversos tipos de rochas, assim como nos depósitos lateríticos, em geral, que
aparecem em 75% do território nacional, produzindo jazidas que contribuem com cerca de
30% da produção mineral brasileira, excluindo o carvão e o petróleo.

Depósitos Lateríticos é uma nomenclatura utilizada em geologia para designar depósitos


supergênicos ou de ambiente superficial, formados por remobilização química, com acúmulo
residual de diversos elementos como Al, Fe, Mn, Ni, Nb, etc.

Em síntese, o intemperismo em muito ultrapassou as fronteiras da dinâmica externa do globo


terrestre para se firmar como um fenômeno com implicações na agricultura, na mineração e
nas ciências ambientais, qualificando-se, atualmente, como importante processo merecedor de
mais estudos nas Ciências da Terra.

2 TIPOS DE INTEMPERISMO

Usualmente são reconhecidos três tipos de intemperismo: físico, químico e biológico. A


atuação conjunta destas três formas de intemperismo faz com que seja difícil separá-los e
individualizar seus efeitos completamente. Assim, esta divisão entre esses tipos tem um cunho
mais didático.

2.1 Intemperismo Físico

O intemperismo físico é aquele que faz com que a rocha original desintegre-se em tamanhos
menores, sem que haja mudança apreciável na sua composição química ou mineralógica.
Teoricamente, uma rocha pode ser subdividida em tamanhos menores, passando por
matacões, calhaus, cascalhos, do que se tem um conjunto de minerais primários, e atingir o
tamanho das frações areia e silte, do que se têm minerais primários, individualizados apenas
por um processo de quebra física.
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O intemperismo físico pode ser subdividido em termal e mecânico e caracteriza-se por
englobar todos os processos que promovem os esforços suficientes para quebrar as rochas.

2.1.1 Intemperismo Físico-Termal

Intemperismo físico termal e aquele que se caracteriza pelas flutuações diurnas e noturnas de
temperatura, que provocam a fratura superficial ou a desintegração dos grãos das rochas. Em
tese, cada vez que a temperatura eleva-se, os minerais componentes das rochas expandem-se,
para, em seguida, contraírem-se, em virtude da diminuição da temperatura. Como diferentes
minerais tem diferentes coeficientes de dilatação volumétrica, eles expandem e contraem em
diferentes taxas, o que faz com que, com o tempo, os esforços produzidos sejam suficientes
para enfraquecer as ligações entre os minerais e, eventualmente, provocar ruptura da rocha.

Características das rochas que influem neste tipo de intemperismo são a composição mineral,
a textura e cor. A composição mineral influi, fazendo com que as rochas têm maior número de
minerais sejam mais susceptíveis a este intemperismo. Uma rocha ígnea com diversos
minerais primários, como quartzo, feldspato e micas, por exemplo, sofrerá maior influência
do intemperismo físico termal, comparada com o argilito, no qual os processos de expansão e
contração atuaram basicamente sobre um tipo de mineral, essencialmente em bloco, não
causando rupturas. A textura é outro fator importante, pois minerais maiores se expandem e se
contraem com mais intensidade e, com isto, rochas mais grosseiras tem maior possibilidade
de desintegração. O granito, rocha fanerítica, será mais facilmente atacado pelo intemperismo
físico-termal que seu correspondente afanítico, riólito. A cor é também característica que
influi na atuação do intemperismo termal, observando-se que as rochas mais escuras sofrem
mais este tipo de intemperismo, comparadas com as rochas claras. A radiação solar que atinge
uma rocha é totalmente absorvida e transformada em calor, ao passo que a mesma radiação,
atingindo uma rocha clara, tem boa parte refletida, não produzindo energias calorífica. Assim,
rochas melanocráticas, ou seja, rochas máficas, em geral, são mais intensamente atacadas que
as rochas leucocráticas ou félsicas.

2.1.2 Intemperismo Físico Mecânico

Este é um tipo de intemperismo no qual é considerado quaisquer esforço mecânico que levam
à fragmentação da rocha. Exemplos importantes destas forças são:

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 Exposição superficial da rocha: os blocos de rochas, quando estão ainda debaixo da
superfície da crosta terrestre, onde foram formados, estão sujeitos a grandes pressões
confinantes, que são liberadas quando estas rochas são expostas a superfície pela erosão.
A libertação da pressão na parte superficial do bloco de rochas leva a sua ruptura,
caracterizando-se um intemperismo físico mecânico importante, principalmente nos
locais onde as temperaturas não permitem o congelamento/fusão da água.
 Congelamento/fusão da água: a água, ao se congelar, pode gerar pressão suficiente para
desintegrar a maioria das rochas. Com o congelamento, ela aumenta de volume na ordem
de 9%, ao passar da forma líquida para a sólida (gelo). Assim, onde exista umidade
suficiente para que a água penetre em frestas e poros das rochas e a temperatura diminua
suficiente para seu congelamento, as pressões internas criadas são grandes o suficiente
para fragmentar a rocha. Esse processo pode ser mais eficiente em ambientes onde a
temperatura flutue em torno de 0ºC várias vezes ao ano.
 Cristalização de sais: soluções salinas podem penetrar em fendas e poros em rochas e, a
partir daí, fragmentá-la de diferentes maneiras. A primeira e mais comum é a
cristalização do sal dissolvido nesta solução, com o consequente aumento da pressão
interna e posterior quebra da rocha. Outra maneira é a expansão térmica dos sais que
tenham coeficiente de expansão maiores que aqueles das rochas mais comuns. Algumas
vezes, a própria hidratação de sais cristalizados pode provocar expansão e causar quebras
e rupturas nas rochas.

2.2 Intemperismo Químico

O intemperismo químico é aquele no qual a composição química e, ou, mineralógica da rocha


original sofre mudanças marcantes. Ele é caracterizado por uma transformação química dos
minerais primários, oriundos da rocha original, para minerais secundários, formados pelo
intemperismo. Essa transformação química realiza-se por meio da ação individualizada ou
conjunta dos agentes do intemperismo, por meio de uma série de reações químicas inerentes
ao processo.

2.2.1 Principais Agentes do Intemperismo Químico

● Água

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A água é, sem sombra de dúvida, o principal agente do intemperismo químico, atuando de
duas maneiras principais. Primeiramente, a água atua como solvente da maioria das reações
que se processam no ambiente de intemperismo, sendo conhecida, por isso, como solvente
universal. Outra atuação importante da água é como reagente em uma das principais reações
do intemperismo. A água pode também carregar agentes químicos, tais como exsudatos de
raízes e prótons (H+), que podem promover a quelatação e a acidificação do meio,
aumentando a taxa de intemperismo. Além de tudo isto, a água é o meio de transporte e
retirada dos produtos do intemperismo, pois os elementos solubilizados e solvatados durante o
processo de intemperismo são por ela removidos dos locais de reação, e lixiviados do perfil e
carregados pelas águas dos riachos, ribeirões e rios até os oceanos.

Como solvente universal e participante da maioria das reações do intemperismo, a água


começa a sua atuação ao chegar no solo na forma de chuva. Neste momento, provavelmente,
ela apresenta um pH neutro, mas em sua descida para a terra, ela passa pela atmosfera, o que
faz que ela seja alterada pelos gases nela contidos. Esta interferência dos gases é importante.

● Temperatura

A temperatura influencia a velocidade das reações químicas. Praticamente, todas as reações


são aceleradas quando a temperatura é aumentada. Existe uma regra consensual de que as
reações não são instantâneas sofrem um acréscimo de 2 a 3 vezes em sua velocidade com o
aumento de 10ºC da temperatura.

Assim sendo, a temperatura torna-se importante agente do intemperismo químico, pois atua
em todas as suas reações, de maneira generalizada, aumentando a velocidade, à medida que
aumenta a temperatura média do ambiente onde ocorre o intemperismo. Além do efeito
direto, a temperatura influencia indiretamente algumas reações, pois maiores temperaturas
promovem maior dissociação da água, fazendo com que a concentração hidrogeniônica
aumente e a reação seja mais intensa.

● Gases

Os gases desempenham papel importante no intemperismo químico, participando da


composição química da água da chuva e tendo participação essencial em algumas reações
químicas, especialmente a oxidação. O principal gás que se combina com a água, quando a

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chuva passa pela atmosfera, é o CO 2, que faz com que o pH final da água da chuva seja
ligeiramente ácido.

A dissolução do gás carbônico na água da chuva faz com que seja formado o ácido carbônico,
que é um ácido fraco, cuja primeira constante de dissociação ácida (K a) é igual a 4,37x10-7.
Com os equilíbrios atingidos e com pressão de CO2 na atmosfera igual a 0,03%, calcula-se o
pH da água da chuva em aproximadamente 5,65, nas condições atmosféricas usualmente
encontradas na Terra.

Atmosferas mais poluídas, que apresentam gases como SO2, SO3, NO2, dentre outros, podem
manifestar o fenômeno conhecido como chuva ácida, pois, por equilíbrios semelhantes, serão
formados ácidos, tais como: H2SO4 (Ka=10+3), H2SO3 (Ka=1,3x10-2), HNO3 (Ka=3,98x10-2),
dentre outros, que, por serem ácidos fortes, provocarão maior concentração de H + proveniente
de suas dissociações ácidas e um consequente decréscimo muito maior no pH. Nessas
situações, o intemperismo químico pode ser muito intensificado pela chuva ácida. Mas, em
geral, as condições mais frequentemente encontradas nos mais diversos ambientes terrestres
são aquelas nas quais as águas da chuva têm apenas o CO 2 nela dissolvido. Essas condições
fazem com que o abaixamento do pH provocado seja apenas suficiente para tornar a água da
chuva mais ativa, em termos de atuação no intemperismo.

Outro gás importante no intemperismo químico é o O 2, pela sua abundância e pela forma
química que aparece na atmosfera. O elemento oxigênio é o segundo mais eletronegativo da
tabela periódica e ocorre, na atmosfera, na forma molecular O2, com dois átomos ligados por
duas ligações covalentes. A sua configuração eletrônica é 1s22s22p4, com dois dos seus três
orbitais p ocupados com um elétron cada. Então, o oxigênio pode completar o octeto de
elétrons em sua camada de valência pela aquisição de dois elétrons e a formação do ânion O 2-.
Essa característica faz dele um elemento ávido por receber elétrons, sendo por isso
reconhecido como “receptor universal de elétrons” e participante da maioria das reações de
oxidação que ocorrem naturalmente na superfície da crosta terrestre.

2.2.2 Principais Reações do Intemperismo Químico

As principais reações do intemperismo que promovem a alteração química e,


consequentemente, alteração estrutural e mineralógica dos minerais são a dissolução, a
hidrólise e a oxidação. Estas reações podem ser caracterizadas por serem congruentes ou

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incongruentes. Congruente é aquela na qual a reação processa-se e o mineral é completamente
dissolvido ou solubilizado, enquanto incongruente é aquela na qual algum ou todos os íons
liberados na reação precipitam-se formando novos minerais. No intemperismo, em se tratando
de uma reação incongruente de um mineral, a quantidade de substâncias em solução não
corresponde à fórmula do mineral que está sendo intemperizado.

 Dissolução

Normalmente, a dissolução caracteriza-se por ser uma reação congruente. Sais como NaCl,
CaSO4 e CaCO3 são exemplos de minerais dissolvidos completamente pela água.

A dissolução congruente dos carbonatos, especialmente os de Ca, é uma reação que pode
acontecer pela capacidade que tem o carbonato de ser dissolvido pela água, ou a reação pode
ser acelerada pela presença de CO 2 dissolvido na água da chuva, algumas vezes é chamada de
“carbonatação”. Esta dissolução das rochas calcáreas produz exemplos notáveis de depressões
circulares fechadas, características dos relevos cársticos em várias regiões do Brasil. Nestas
regiões, os solos formados das rochas calcárias, na maioria das condições brasileiras, estarão
diretamente relacionados com as impurezas da rocha, pois os carbonatos serão, em princípio,
completamente solubilizados e lixiviados pelas águas percolantes.

● Hidrólise

A hidrólise é uma reação química na qual os reagente são o H + ou o OH-, provenientes da


quebra ou da ionização da molécula da água. Ela é, sem dúvida, a mais importante reação de
alteração dos minerais silicatados, principalmente dos feldspatos. A hidrólise é influenciada
pela dissolução do CO2 nas águas da chuva, que faz com que a atuação desta reação seja mais
intensa pelo aumento de concentração protônica na água. Nas regiões onde ocorrem as chuvas
ácidas, esta reação atua muito mais intensamente. A hidrólise pode ser congruente, quando
todos os produtos são solúveis.

O formato H+OH é consistentemente utilizado para indicar que a dissociação de moléculas de


água é que produz os reagentes que dão nome a esta reação. As formas iônicas de Ca e Mg
indicam que estes elementos estão na forma solúvel, assim como a forma H 4SiO40 indica a
presença de sílica solúvel como produto da reação. A presença de prótons é também
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importante e sua principal fonte é a dissociação do CO 2 atmosférico em água, como já
abordado, mas outras possíveis fontes de H + são a hidrólise do Al e do Fe, produzidos durante
o próprio intemperismo, e uma grande variedade de ácido orgânicos, produzidos na área de
influência da biosfera.

A hidrólise pode ser uma reação incongruente quando entre os produtos da reação, são
formados novos minerais. Talvez esta seja uma das principais reações do intemperismo
químico, com diversos e variados exemplos. Destaca-se como uma das mais importantes
reações do intemperismo a reação de hidrólise dos feldspatos, em geral especialmente a dos
potássicos.

● Oxidação
A oxidação é a reação na qual um dos reagentes perde elétrons e, por consequência, outro
reagente te de ganhar elétrons. Nas condições de intemperismo prevalecentes na superfície da
terra, o O2 atmosférico está sempre presente e, pelo seu comportamento, está sempre apto a
receber elétrons para completar o octeto em sua última camada eletrônica. Assim, a oxidação,
em termos de reação e intemperismo, pode ser definida como uma reação entre diferentes
elementos químicos e o oxigênio. O resultado final da reação é a remoção de um ou mais
elétrons de um elemento formador do mineral, causando a sua instabilidade estrutural. Assim,
como o O2 é um receptor universal de elétrons, o Fe é o elemento mais comumente envolvido
nas reações de oxidação como o elemento doador de elétrons. Esta é uma reação de relevância
no intemperismo dos minerais ferromagnesianos, gerando minerais secundários importantes.
Normalmente, a reação de oxidação que altera os principais minerais primários é precedida
pela hidrólise, o que leva à denominação comum de reação hidrolítica e oxidativa na
alteração dos minerais ferromagnesianos.

A reação de oxidação é de importância singular no intemperismo das regiões tropicais, por ser
responsável pela formação do par de óxidos de Fe hematita-goethita. Estes minerais são
típicos da fração argila da grande maioria dos solos brasileiros e responsáveis por diversos
atributos por eles apresentados. Os óxidos de Fe possuem sua superfície específica alta e, por
sua natureza química, podem adsorver ânions, como fosfatos ou arsenatos, ou podem adsorver
metais pesados, como Cd, Cu, Ni, Zn, Pb etc., o que os torna de muita importância agrícola e
ambiental. Os óxidos de ferro também influem na estrutura dos solos, ajudando na formação

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de agregados pequenos extremamente estáveis, como na estrutura forte muito pequena
granula (“pó de café”) dos Latossolos brasileiros.

2.3 Intemperismo Biológico

O intemperismo biológico é aquele em que os organismos vivos, que podem variar desde
bactérias e fungos até plantas superiores e animais. As ações de quebra ou de alteração de
minerais e rochas pelos organismos podem ser físicas ou químicas, mas, como elas são
provenientes da ação dos organismos, pode-se diferenciar adicionalmente mais este tipo de
intemperismo.

As ações físicas de quebra de minerais e rochas são de natureza mecânica e podem ser
ativadas pelo simples fracionamento de partículas, por pequenos animais, ou pelo crescimento
e penetração de raízes em fendas de solos e rochas, provocando sua ruptura.

As ações químicas de alterações de minerais e rochas são variadas. A respiração dos


organismos produz CO2, que se dissolve na água, diminuindo seu pH. A absorção de
nutrientes básicos, na forma de metais alcalinos e alcalinos-terrosos, com consequente
extrusão de prótons, também provoca diminuição do pH. Todas estas são ações que
aumentam a concentração de H+ no meio, intensificando a atuação da hidrólise, que é uma das
principais reações do intemperismo químico.

Importante ação biológica dá-se pelo fenômeno da quelatação, responsável por considerável
intemperismo de minerais e rochas. Quelatação é um processo biológico no qual os
organismos produzem substâncias conhecidas como quelatos, que têm a habilidade de
aprisionar cátions metálicos por uma ou mais de suas ligações químicas. Esta capacidade de
agarrar os cátions metálicos faz com que eles possam ser mais facilmente removidos da
estrutura cristalina, tornando os minerais e rochas mais fáceis de decompor. Dados da
literatura mostram que os liquens excretam agentes quelantes e que estes são responsáveis por
extensiva alteração das rochas em que eles estão.

Outra forma importante de ação química provocada por organismos, caracterizando o


intemperismo biológico é a que acontece nas florestas de coníferas, principalmente de clima
temperados e frios. Nesta situação, a literatura caracteriza-se por uma decomposição
incompleta da matéria orgânica, produzindo quantidades grandes de ácidos orgânicos, que

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promoverão uma acidez elevada. Esta acidez solubiliza praticamente todos os minerais
primários, deixando apenas aqueles muito resistentes ao intemperismo, principalmente, o
quartzo. A reação química é, às vezes, chamada de acidólise e é característica da formação
dos solos classificados como Espodossolos. Em ambientes tropicais brasileiros, processos
similares ocorrem nas áreas de restinga, em áreas próximas ao rio Negro (Amazônia) e,
possivelmente, no rio Taquari (Pantanal) e em áreas altimontanas.

3 SUSCEPTIBILIDADE DAS ROCHAS AO INTEMPERISMO

As rochas sofrem intemperismo em diferentes velocidades e a variação de sua resistência ao


intemperismo depende de certas características, ou atributos, que as tornam mais ou menos
susceptíveis aos ataques intempéricos. Atributos importantes na susceptibilidade das rochas
ao intemperismo são: composição mineralógica, cor, textura e estrutura.

3.1 Composição mineralógica

Os minerais variam em sua resistência ao intemperismo, alguns se intemperizam muito


rapidamente (10³ anos), enquanto outros o fazem bem devagar (a anos) de modo que
persistem por vários ciclos sedimentares. A resistência dos minerais ao intemperismo
depende, essencialmente, da composição química, tamanho e estrutura. Os minerais primários
formadores de rochas mais comuns e de tamanho areia e silte exibem diferentes graus de
estabilidade. Ele concluiu que olivina intemperiza-se muito facilmente e que sua taxa de
decomposição é maior do que a de qualquer outro mineral silicatado ferromagnesiano. Augita
(piroxênio), relativamente mais estável que a olivina, decompõe-se mais rapidamente que
hornblenda, que, por sua vez, é mais estável que biotita. Feldspatos potássicos são mais
resistentes que plagioclásios cálcio-sódicos e, dentre estes, plagioclásio sódico é o mais
resistente. Dos silicatados de Al, a muscovita tende a ser a mais resistente ao intemperismo.
Os minerais máficos são menos estáveis que os minerais félsicos e, por esta razão, torna-se-ia
evidente que os minerais deveriam ser arranjados em duas séries, em ordem de estabilidade
frente ao intemperismo.

Assim, a sequência de estabilidade dos minerais frente ao intemperismo postula que os


primeiros minerais formados são os mais susceptíveis ao intemperismo, enquanto os últimos a
se formarem são os mais resistentes. Os menos estáveis frente ao intemperismo são os
primeiros a desaparecer das frações areia e silte, enquanto os mais resistentes tendem a

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permanecer, mesmo em níveis bastante intensos de intemperismo. A razão deste
comportamento está fundamentalmente ligada à composição química e estrutura dos minerais
primários. Os minerais que se formam primeiro cristalizam-se sob condições magmáticas de
maior riqueza em metais e sua estrutura tem, então, maior número de ligações de caráter
iônico. Aqueles que se formam por último cristalizam-se de soluções magmáticas mais ricas
em Si e O, fazendo com que existam maior polimerização dos tetraedros de Si e maior
número de ligações de caráter mais fortemente covalente.

Quando em tamanho muito pequeno, os minerais primários têm uma estabilidade muito
menor. Mesmo o quartzo e a muscovita, extremamente resistentes ao intemperismo nas
frações silte e areia, tornam-se mais facilmente intemperizáveis do que todos os minerais
secundários na fração argila. Daí a dificuldade de encontrar-se estes minerais, nesta fração, na
maioria dos solos. Ainda assim, é mais fácil encontrar ilita ou muscovita na fração argila de
alguns solos, pois, nesta fração, o quartzo e a muscovita trocam de lugar na sequência de
estabilidade, com o quartzo tornando-se menos resistente ao intemperismo que a muscovita e
os minerais a ela assemelhados.

Outro ponto interessante na discussão da sequência de estabilidade dos minerais da fração


argila frente ao intemperismo diz respeito a uma discordância com relação à presença dos
plagioclásios cálcicos nesta sequência. A anortita (plagioclásio cálcio – CaAl 2Si2O8) é um dos
minerais do estádio 5 de sua sequência de estabilidade.

Seguindo a lógica do que foi discutido até agora, esperar-se-ia a presença dos plagioclásios
cálcios logo após a olivina-hornblenda e antes mesmo da biotita, pela grande susceptibilidade
destes minerais frente ao intemperismo.

De acordo com os conceitos de Bowen, rochas provenientes de magmas mais escuros, ou


mais pobres em formarão maiores quantidades de minerais que se cristalizarão em altas
temperaturas e serão mais ricas em minerais máficos e plagioclásicos cálcicos. Por outro lado,
rochas provenientes de magmas mais claros terão maior quantidade de minerais que se
cristalizarão em temperaturas mais baixas e serão mais ricas em minerais félsicos.

Aliando estas informações com a sequência de estabilidade de Goldich, pode-se predizer a


relativa estabilidade das rochas frente ao intemperismo. Rochas magmáticas ou ígneas
semelhantes em suas texturas e estruturas, mas com maior quantidade de minerais primários
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facilmente intemperizáveis, minerais máficos, decompor-se-ão mais rapidamente do que
aqueles com maior quantidade de minerais primários resistentes ao intemperismo, os minerais
félsicos. Por exemplo, o gabro intemperizar-se-á mais rapidamente que o granito, assim como
o basalto (equivalente afanítico do gabro) intemperizar-se-á mais rapidamente que o riólito
(equivalente afanítico do granito), tudo mais permanecendo constante.

Por outro lado, utilizando a sequência proposta por Jackson e colaboradores, podemos
predizer que rochas sedimentares formadas por minerais mais susceptíveis ao intemperismo,
ou seja, aquelas que aparecem no topo da sequência de estabilidade, serão mais facilmente
intemperizadas que aquelas que possuem minerais mais abaixo na sequência. Por exemplo,
rocha calcária sofre intemperismo químico ou decomposição mais rapidamente que um
argilito caulinítico, e assim por diante.

Além disso, as inferências de atuação maior ou menor do intemperismo podem se estender


aos solos. Assim, solos originários de material de origem, com presença de minerais como
olivina, hornblenda, plagioclásio cálcico ou biotita, por exemplo, e que na fração silte fino ou
argila ainda apresentam estes minerais são, sem dúvida, solos mais jovens. Porém, solos
originários destes mesmos materiais de origem, que tenham em suas frações silte fino e argila,
apenas minerais secundários mais resistentes ao intemperismo, como caulinita, hematita,
goethita ou gibbsita, por exemplo, são, definitivamente, solos mais desenvolvidos ou mais
velhos.

3.2 Cor

A cor é uma característica ou atributo da rocha que está intimamente ligada à composição
química e mineralógica e que influencia, de modo significativo, o intemperismo das rochas,
especialmente o intemperismo físico. Rochas mais pobres em SiO 2, consequentemente, mais
rica em minerais máficos, são mais escuras e mais susceptíveis ao intemperismo, enquanto
rochas mais ricas em SiO2, ácidas e de coloração clara, são mais resistentes. Assim, espera-se
que gabro e basalto, rochas de coloração escura, se todas as outras condições forem
semelhantes.

3.3 Textura

A textura das rochas tem um efeito significativo na susceptibilidade que a rocha apresenta ao
intemperismo, tanto físico quanto químico. Em geral, as rochas de textura mais grossa
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intemperizam-se mais rapidamente que rochas de textura mais fina. Maiores grãos são
responsáveis por maiores dilatações e contrações quando da atuação do intemperismo físico.
Tão longo o intemperismo químico começa, maiores expansões/ contrações irão significar
maiores espaços entre os minerais, facilitando a penetração de água, calor e gases. Embora
similares em mineralogia, rochas com diferentes texturas respondem diferentes aos ataques
intempéricos e que aqueles de granulação mais fina são mais resistentes à desintegração. A
autora observou que nos solos derivados de basalto, rochas de granulação fina, ainda existiam
pedaços da rocha com apenas a parte externa alterada, enquanto, para as rochas de granulação
média, os solos eram extremamente friáveis, esboroava-se com facilidade, quando úmido, ao
longo do perfil.

3.4 Estrutura

A estrutura das rochas é atributo importante quanto à resistência que elas apresentam ao
intemperismo. As rochas metamórficas e sedimentares, em geral, apresentam estruturas
típicas como xistosidade, foliação gnáissica, estratificação, etc., que, usualmente, provocam
menor resistência ao intemperismo. Nestas rochas, estas estruturas são como que linhas de
fraquezas naturais por onde a penetração da água e dos gases é facilitada e as reações do
intemperismo são aceleradas.

Um exemplo desta linha de raciocínio ocorre em algumas áreas da região dos cerrados
brasileiros, onde a orientação das camadas de rochas metapelíticas pobres condiciona a
existência de classe distinta de solos. Em situação que tal orientação é horizontalizada,
dificultando a infiltração da água e condicionando uma drenagem mais restrita, predominam
os Latossolos Amarelos. Onde a orientação das camadas é inclinada, facilitando a infiltração
da água e propiciando melhor drenagem, aparecem os Latossolos Vermelhos, com maior
espessura do solum (horizonte A+B).

Normalmente, as rochas ígneas apresentam uma estrutura maciça, na qual os minerais são
distribuídos de uma maneira aleatória, o que, de certa forma, dificulta a atuação do
intemperismo. As estruturas maciças típicas das rochas ígneas tendem a se quebrar,
inicialmente pelo intemperismo físico, em blocos mais ou menos isodimensionais menores, o
que favorece o ataque do intemperismo químico de modo semelhante por todas as direções,
caracterizando a chamada de “esfoliação esferoidal”.

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Nos saprólitos destas rochas, a meteorização química transforma inteiramente a rocha e os
minerais, mas a feição característica da esfoliação permanece impressa. Nestas situações, a
feição que se denomina vulgarmente de “cebolinhas” aparece nos horizontes C de rochas
escuras.

A dificuldade de meteorização de algumas rochas ígneas, como função de sua estrutura


maciça, pode ser vista em algumas situações. Não é incomum encontrar, em regiões onde
existe a ocorrência de gnaisse com intrusões de diabásio, a tendência de que o gnaisse já
esteja quase totalmente intemperizado e o diabásio ainda se encontre em blocos maiores.
Claramente, existe influência marcante da estrutura, pois, mineralogicamente, espera-se-ia
maior facilidade de intemperização para o diabásio.

A estrutura em foliação gnáissica na rocha encaixante permitiu maior intemperização,


principalmente química, ao passo que a estrutura maciça do corpo plutônico de diabásio
ofereceu resistência suficiente para que a atuação do intemperismo fosse muito menos
intensa. O que se observa hoje, então, é a rocha diabásio presente na soleira quase, intacta,
enquanto a rocha encaixante gnaisse já está alterada formando um profundo manto de
intemperismo.

Por outro lado, também nas rochas ígneas, a presença de estrutura do tipo vesículas, muito
comuns em basalto, pode tornar a rocha mais susceptíveis ao intemperismo.

Em geral, estruturas típicas das rochas podem ser observadas nossa saprólitos nos horizontes
C dos mais diversos solos.

4 INTEMPERISMO X CLIMA

O clima é o fator individual mais importante na definição do tipo e intensivo de atuação do


intemperismo, sendo esta influência dependente dos efeitos combinados da temperatura, das
precipitações e da vegetação. Nos climas mais frios, as temperaturas mais baixas não
favorecem o intemperismo químico e, assim, o intemperismo físico, especialmente o
mecânico, é o que mais atua. Nas regiões temperadas, as condições climáticas variam de
subúmidas a subáridas e as temperaturas variam de frias e quentes. Nestas condições, ambos
os tipos de intemperismo podem atuar, dependendo as condições locais. Nos desertos de baixa
latitude, tanto no Norte quanto ao sul do equador, o intemperismo físico é um pouco mais

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evidente. As condições climáticas dos trópicos úmidos são tais que o intemperismo químico é
muito intenso, como consequência das altas precipitações e temperaturas, que proporcionam
os reagentes e aceleram as reações do intemperismo. Estas condições são as mais encontradas
no Brasil e uma descrição sumária dos diferentes tipos de climas brasileiros tornam-se
importantes neste ponto.

4.1 Climas do Brasil

A maior parte do território brasileiro localiza-se na zona entre os tópicos e as baixas altitudes
do relevo explicam a predominância de climas quentes, com médias de temperatura
superiores a 20ºC. Os climas do Brasil são: equatorial, tropical, semiárido e subtropical, com
alguns deles apresentando variedades regionais.

Clima Equatorial (Af, Am): Os climas do tipo equatorial correspondem ao grupo A de


Köppen, isto é, climas quentes e úmidos, que não têm estação fria, a temperatura mensal é
uniforme e as médias térmicas mensais são superiores a 18ºC. É o clima predominante na
porção norte do Brasil, compreendida pelos estados do Amazonas, Pará, Acre, Rondônia,
Amapá, parte do Mato Grosso e Tocantins, áreas que consiste com a Floresta Amazônica.
Caracteriza-se por temperaturas médias entre 24 e 26ºC, ocorrendo no mês mais frio
temperaturas superiores a 18ºC, com amplitude térmica anual de 3ºC. Nas áreas leste e oeste,
a precipitação pluvial anual está acima de 3000 mm, enquanto, nas noroeste e sudoeste, não
passa de 1600mm.

Clima Tropical (Aw): Os climas do tipo tropical são climas de chuva de verão e climas de
savanas, com uma estação seca e uma chuvosa de totais elevados entre dezembro e maio. O
clima tropical, que recebe também denominações tropical-equatorial, tropical úmido-seco ou
tropical do Brasil Central, encontra-se em grandes áreas do Planalto Central Brasileiro e em
boa parte das regiões Nordeste e Sudeste. Suas temperaturas médias são superiores a 20ºC,
com amplitude térmica anual de até 7ºC e precipitação de 1.000 a 1.500 mm ano¯¹.

Uma das diversificações do Clima Tropical é o Clima Tropical Atlântico (Aw’, Aw”, As,
As’). Ele já recebeu diversas denominações, tendo como ponto comum sua área de influência
na faixa litorânea, especialmente a que vai do Rio Grande do Norte ao Paraná. As
temperaturas variam entre 18 e 26ºC e a precipitação pluvial anual fica em torno de 1.500
mm. No litoral do Nordeste, até algumas centenas de quilômetros em direção ao interior, as

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chuvas intensificam-se no outono e no inverno, ao passo que mais ao sul as chuvas são mais
fortes no verão.

Outra variedade regional importante do Clima Tropical de Altitude (Cwa, Cwb). O Tropical
de Altitude predomina nas partes altas do Planalto Atlântico do Sudeste, estendendo-se pelo
Norte do Paraná e sul do Mato Grosso do Sul. No Sudoeste, conservam-se as características
tropicais modificadas pela altitude. As médias mensais de temperatura deste clima variam de
18 a 22ºC, com amplitudes térmicas anuais de 7 a 9ºC. As precipitações médias anuais
situam-se entre 1.000 e 2.000 mm.

Clima Semiárido (Bsh): O Clima Semiárido, também chamado de clima tropical-equatorial,


com sete a onze meses secos, caracteriza-se pela escassez de chuva. O clima semiárido
predomina nas depressões entre os planaltos do sertão nordestino, alcança o litoral do Rio
Grande do Norte e atinge o trecho baiano do Vale do Rio São Francisco. Suas características
são temperaturas médias elevadas, em torno de 27ºC, e amplitude térmica em torno de 5ºC.
As chuvas, além de irregulares, não excedem as médias anuais de 800 mm, provocando
longos períodos de estiagem, o que leva às chamadas “secas do Nordeste” e à demarcação de
uma área denominada Polígono das Secas para a região.

Clima Subtropical (Cfa, Cfb): Ocorre na maior parte do Planalto Meridional englobando
praticamente a região sul do País. O clima subtropical, também denominado subtropical, e
mesotérmico superúmido do tipo temperado, caracteriza-se por temperaturas médias
inferiores a 18ºC, com amplitude térmica anual entre 9 e 13ºC. Nas áreas mais elevadas, o
verão é brando e o inverno acentuado, com geadas constantes e nevascas ocasionais. Uma
característica que distingue os climas da porção Sul do restante do país é a sua maior
regularidade na distribuição anual de pluviometria (1.250 a 2.000 mm), associada às baixas
temperaturas do inverno.

4.2 Diagrama Intemperismo Versus Clima

Com o intuito de entender a atuação do clima, principalmente na forma das chuvas e das
temperaturas no intemperismo, Peltier elaborou uma série de diagramas para enfatizar a
importância das condições climáticas na atuação do intemperismo. O mais famoso de seus
gráficos, o de “Regiões de Intemperismo” aparece em várias publicações.

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A atuação do intemperismo foi diferenciada em quatro intensidades, conforme a combinação
da temperatura e da precipitação. Assim altas temperaturas e elevadas precipitações produzem
o intemperismo forte, típico das regiões tropicais úmidas. Menores precipitações
acompanhadas de uma gama bastante ampla de temperaturas fazem aparecer o intemperismo
moderado, ao passo que menores temperaturas, em áreas sujeitas a geadas constantes e
nevascas ocasionais e com grande amplitude de variação da precipitação, fazem manifestar o
intemperismo fraco. Finalmente, taxas de precipitações bem baixas, mesmo com amplitude
total de variação da temperatura, condicionam o intemperismo muito fraco.

Peltier assume que baixas temperaturas e altas precipitações não podem ocorrer
conjuntamente e, consequentemente, uma linha diagonal no diagrama isola esta combinação
improvável. Para as condições brasileiras, foi necessário afastar para a direita a linha de
combinação improvável de temperaturas x precipitação, pois não é incomum encontrar de 22-
23ºC, ou em que chove mais de 2250 mm com temperatura média de 12-14ºC.

Em linhas gerais, observa-se, para a região Norte, Brasil Central, Sudeste, parte do Nordeste e
quase todo o litoral, uma forte atuação do intemperismo. Em parte da região Sul e do Sudeste,
especialmente nas partes mais elevadas, o intemperismo tem uma atuação muito fraca. Assim,
é de se esperar solos mais intensamente lixiviados e mais desenvolvidos nas regiões de
intemperismo forte, com formação principalmente de Latossolo e Argissolos, enquanto, nas
regiões de clima tropical de altitude, haverá uma gama maior de classes de solos, além dos
Latossolos e Argissolos. Na região do Nordeste Semiárido, predomina o intemperismo muito
fraco, caracterizado por solos mais jovens, pelo fato de o intemperismo ser retardado nas
regiões mais secas. Contudo, a ação contínua dos processos intempéricos fracos por um longo
tempo pode produzir solos característicos de pouca profundidade de solum (horizonte A + B).

É conveniente salientar que esta é uma primeira aproximação do relacionamento do clima, na


forma de temperatura e precipitação, para as condições brasileiras e, por isto, ainda é
genérica, não contemplando as especificidades locais, mas procurando dar uma visão mais
regional que engloba a País inteiro. Aproximações regionais devem ser iniciadas para se
estabelecer um mapa mais detalhado da atuação do intemperismo nas condições brasileiras.
Além disso, em se trabalhando no aprofundamento desse enfoque, é importante ter em mente
que a paisagem brasileira é resultado da modelagem morfoclimática do relevo em um
território relativamente estável. A completa explicação para a atuação do intemperismo pode,

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também, estar ligado à influência de paleoclimas, que, por sua vez, podem ter seu
entendimento melhorado a partir do estudo de paleossolos. Paleossolos podem fornecer
informações e evidências valiosas em estudo de reconstituições paleoambientais,
principalmente quando o registro fossilífero é raro ou inexistente, na caracterização de antigas
atmosferas e paleoclimas. Neste caso, a importância dos paleossolos nos estudos
paleoclimáticos pode tornar seu estudo uma ferramenta interessante para a interpretação de
variações paleoclimáticas e de como elas poderiam interferir na atuação pretérita do
intemperismo, na modelagem da paisagem e na gênese de solos.

5 REFERÊNCIAS

KER, João Carlos; CURI, Nilton; SCHAEFER, Ernesto; TORRADO, Pablo Vidal.
Pedologia: Fundamentos. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2012.

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