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Esplendor na Relva

“Apesar de a luminosidade
outrora tão brilhante
Estar agora para sempre afastada do meu olhar,
Ainda que nada possa devolver o momento
Do esplendor na relva,
da glória na flor…”
William Wordsworth

O filme “Esplendor na relva” de 1961 do diretor Elia Kanza, apresenta-nos um retrato opressivo e
puritano da época em que se passa, tudo isso contando uma história a partir do ponto de vista de
um jovem e típico casal americano que tem seus desejos, mais especificamente sexuais, oprimidos
pela sociedade em que vivem.

O filme se inicia com uma cena um tanto chocante para aquela época, dois jovens aos beijos em
um carro a beira de uma cachoeira, ainda na cena podemos logo de cara ver que o rapaz quer ir
alem das caricias, mas é interrompido pela rapariga, o que acaba por deixá-lo irritado. O casal em
questão é Wilma Dean “Daennie” Loomis e Bud Stamper. Logo em sequência, o jovem Bud leva
sua namorada para casa e depois segue para a sua. Chegando em casa, ambos são recebidos por
seus pais, e nisso somos apresentados a duas figuras importante para o desenvolvimento destes
jovens, a mãe de Daennie e o pai do jovem Bud.

Ao chegar em sua casa Daennie é recebida por sua mãe que conversa com a rapariga de forma
seria sobre “perder a sua pureza”, contando que só perdeu a sua apos o casamento e que esse é o
certo, e que “os rapazes querem uma boa moça como esposa”. Tudo isso causa um certo medo na
rapariga, já que sempre lhe é cobrado a perfeição em tudo para que seja um exemplo de moça
pura. No desenrolar do filme, percebemos quê por conta desta pressão e opressão, a jovem acaba
passando por maus bocados, desde uma revolta a um colapso mental (desencadeado por uma
descoberta de traição) e uma tentativa de suicídio que acaba por levá-la um hospício. Daennie, ao
passar do filme é vista usando diferentes cores que refletem a sua evolução como personagem: de
inicio somos remetidos ao branco representando a sua pureza; depois o vermelho que representa o
desejo, a paixão, a excitação e a sua raiva; apos todo o seu colapso e a sua internação no
hospício, Daennie é vista usando o azul que representa a sua estabilidade; por ultimo voltamos a
cor inicial, mas agora com outro significado, paz.

Por outro lado, temos o rapaz protagonista, Bud, que ao chegar em casa é recebido por seu pai
que conversa com o rapaz sobre seus desejos e, diferente do que foi dito a Daennie sobre o sexo,
é aconselhado pelo pai a libertar-se de seus desejos com outra mulher, o que inicial mente é uma
ideia rejeitada pelo rapaz por conta do amor que sente por Daennie, mas tudo muda quando Bud
resolve realizar o ato sexual com outra jovem, colega de classe de sua namorada, o que acaba
levando ao surto de Daennie e deixando-o doente. Vale ressaltar também que, no filme, não é
apenas Daennie que sofre de pressões por parte dos pais, mas também Bud, já que seu pai poe
nele expectativas sobre um futuro em que o filho estuda em Yale, torna-se um atleta e herda a
empresa do mesmo, quando na verdade o rapaz apenas quer viver de uma forma tranquila e
simples em uma fazenda. Alem de seu pai, também somos apresentados a outra figura importante
para a história, irmã de Bud, Ginny Stamper, uma jovem libertina, alegre que vai contra toda a
moral conservadora da sociedade e é o oposto do que se é esperado para uma jovem de família, o
que acaba por desencadear a raiva de seu (hipócrita) pai que rejeita a própria filha, ao fim a jovem
acabar por ter um fim trágico. Vale mencionar também que á no filme uma homenagem a Freud,
com o complexo de Édipo que Ginny tem. Bud acaba indo para Yale, mas não se interessa pelo
estudo, seu pai suicida-se por conta do Crash na bolsa de valores (A Grande Depressão), e Bud
apaixona-se por uma jovem filha de italianos chamada Angelina com quem passa a morar em uma
fazenda com seus 2 filhos enquanto Angelina esta gravida de outro. No último ato do filme,
Daennie volta para a sua casa “curada” e noiva de um “rapaz de Cincinnati”, mas ainda sente que
precisa resolver um assunto pendente para poder prosseguir, seu relacionamento com Bud.
Daennie reencontra Bud, agora casa e com filhos, e após conhecer sua nova vida questiona-o se
ele é feliz e o jovem responde que não pensa muito sobre isso, e quando faz a mesma pergunta a
Daennie, a jovem responde igual.

Por fim, uma das amigas de Daennie pergunta se a mesma ainda sente algo por Bud, mas a jovem
apenas relembra o poema que leu em sala de aula anos atrás, e passa a entendê-lo de outra forma
de acordo com a sua história.

Após todos esses acontecimentos, podemos voltar ao início do filme, aquela cena do casal
apaixonado aos beijos em um carro com uma cachoeira ao fundo, esta cachoeira representa uma
força da natureza assim como o desejo entre Daennie e Bud, mas infelizmente seus desejos foram
reprimidos o que por consequência acabou por levá-los a um fim “trágico”.

“Apesar de a luminosidade
outrora tão brilhante
Estar agora para sempre afastada do meu olhar,
Ainda que nada possa devolver o momento
Do esplendor na relva,
da glória na flor,
Não nos lamentaremos, inspirados
no que fica para trás;
Na empatia primordial
que tendo sido sempre será;
Nos suaves pensamentos que nascem
do sofrimento humano;
Na fé que supera a morte,
Nos tempos que anunciam o espírito filosófico.”
William Wordsworth

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