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Dos resultados emerge que o uso de AINEs está globalmente associado à PC, sendo
esta associação significativa em relação ao Diclofenac (Odds Ratio OR=1,50,
intervalo de confiança de 95% de 1,23 a 1,82) e ao Ibuprofeno (OR=1,31, de 1,14 a
1,51) e não significativo em relação ao Naproxeno (OR=1,29, de 0,77 a 2,16) e
inibidores da COX-2: Celecoxib (OR=1,13, de 0,74 a 1,70) e Rofecoxib (OR=1,28, de
0,74 a 1,70).
Estes resultados são interessantes, no entanto são muito controversos por várias
ordens de razões:
1 – Trata-se de um estudo observacional e descritivo. Um estudo observacional não
pode, pela sua natureza, definir nexo de causalidade;
2 – Não há aleatorização dos doentes a fazer AINEs, pelo que pode haver grande
enviesamento de dados e consequentemente de resultados;
3 – Para tentar evitar enviesamentos nos 2 grupos, cada doente, enquanto são, é
controlo de si próprio, após PC. Este procedimento evita diferenças de género, de
fatores de risco, etc, mas não pode corrigir as flutuações da doença.
Faz sentido que se tomem mais medicamentos, nomeadamente quando se tem mais
queixas ou quando se está mais doente. Em última análise, poderemos aceitar que
há mais paragens cardíacas quando há mais queixas dolorosas ou quando se está
mais doente, o que pode nada ter a ver com a toma de AINEs.
4 – A toma de AINEs foi assumida pela prescrição destes medicamentos, e não pela
efetiva toma dos mesmos, que não foi avaliada.
Devo referir que parte destas limitações são reconhecidas e referidas no artigo em
questão.
Conclusão
O Ibuprofeno é um AINE utilizado a nível Mundial por milhões de pessoas.
Como com todos os medicamentos, o seu uso deve ser criterioso, ponderando os
seus benefícios com os riscos. Obviamente só deve ser utilizado quando os primeiros
suplantam claramente os segundos.
No caso do Ibuprofeno, aconselha-se o seu uso por períodos curtos e em dose baixas,
para se conseguir o máximo de benefício com o mínimo de risco. Por isso, em OTC,
só existe em doses até 400 mg, sendo esta dose de dispensa exclusiva em farmácia
(de salientar o facto de a dose referida no estudo ser a de 200 mg)
A vigilância da adequação dos vários medicamentos está a cargo dos
Comercializadores, que mantêm a Farmacovigilância contínua dos eventuais efeitos
adversos associados ao uso dos medicamentos, bem como de entidades nacionais
(INFARMED) e internacionais (EMEA), que recebem e avaliam os reportes das várias
origens e que, caso detectem uma alteração do perfil de efeitos adversos que
considerem significativa, ordenam que sejam submetidas alterações à informação
relativa à sua utilização (Resumo das Características do Medicamento e Folheto
Informativo).
A possibilidade de haver efeitos adversos com o uso de AINEs em geral, e de Brufen(
Ibuprofeno) em particular, estão referidos no Resumo das Caraterísticas do
Medicamento, aprovado pelo INFARMED, que refere, textualmente:
A dose total não deve exceder 1200 mg de ibuprofeno num período de 24 horas.
…
Efeitos cardiovasculares e cerebrovasculares:
Deve tomar-se precaução (consultar o médico ou farmacêutico) antes de iniciar o tratamento
em doentes com antecedentes de hipertensão ou insuficiência cardíaca, uma vez que foram
notificados casos de retenção de líquidos e edema em associação com a terapêutica com
AINEs.
Os estudos clínicos sugerem que a utilização de ibuprofeno, particularmente com uma dose
alta (2400 mg/ dia), pode estar associada a um pequeno risco aumentado de episódios
trombóticos arteriais (por exemplo, enfarte do miocárdio ou acidente vascular cerebral (AVC)).
De uma forma geral, os estudos epidemiológicos não sugerem uma associação entre a
utilização de doses baixas de ibuprofeno (p.ex., ≤ 1200 mg/ dia) e um risco aumentado de
episódios trombóticos arteriais.
Os doentes com hipertensão não controlada, insuficiência cardíaca congestiva (Associação
Cardíaca de NYHA II-III), cardiopatia isquémica estabelecida, arteriopatia periférica e/ou
doença cerebrovascular apenas devem ser tratados com ibuprofeno após uma ponderação
cuidadosa e as doses altas (2400 mg/dia) devem ser evitadas.
Também se recomenda uma ponderação cuidadosa antes de iniciar o tratamento a longo
prazo de doentes com fatores de risco para episódios cardiovasculares (p. ex., hipertensão,
hiperlipidemia, diabetes mellitus, tabagismo), particularmente se forem necessárias doses
altas de ibuprofeno (2400 mg/dia).
…
Por todas estas razões, acreditamos que a Saúde Pública está protegida e que o uso
de Ibuprofeno, nas doses preconizadas, continua a constituir uma alternativa
terapêutica válida nas suas indicações, quando não há contraindicações.