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UM PADRE SUI GENERIS1

1 Chamou-se António Vieira e conquistou um lugar entre os grandes escritores


portugueses de sempre. Mas a escrita foi apenas um aspeto da sua ação.

Luís de Camões, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, Fernão Lopes e… o Padre António
Vieira. Sim, o lugar deste Jesuíta é mesmo aqui, entre os gigantes incontestados das
5 letras portuguesas, ou seja, aqueles que são aceites por todos como tal, sem a menor
polémica.

Só que o Padre António Vieira, um lisboeta que viveu quase toda a sua longa vida de 89
anos no Brasil, foi muito mais do que o escritor que compôs peças oratórias
inesquecíveis, como o Sermão de Santo António aos Peixes. Homem de ação, diplomata,
2
10 paladino dos direitos dos índios e dos judeus, autor de teses inovadoras e defensor de
posições desassombradas, viveu mesmo à frente do seu tempo. Sempre coerente com o
seu voto de pobreza que fizera em novo, era porém um homem da Igreja que vivia no
mundo, nunca deixando de criticar quem o merecia, fosse leigo ou eclesiástico. A
Inquisição, como é natural, tinha-o debaixo de olho e perseguiu-o, não obstante ele ser
15 padre.
Chamado por D. João IV a Portugal após a Restauração, foi agente do rei nas principais
cortes europeias e contactou com figuras de destaque da política internacional, como o
poderoso Cardeal Richelieu, Ministro de Luís XIII de França. Depois voltou ao Brasil, para
continuar a defender os índios, explorados pelos colonos e pela Coroa. Entretanto, teve
20 ainda a oportunidade de recusar o convite para confessor particular que lhe fora dirigido
pela rainha Cristina da Suécia […]. Vieira tinha mais em que pensar do que nos pecados
de uma mulher, por mais fascinante que ela fosse.

Martins, L. (2011). 365 dias com histórias da História de Portugal. Lisboa: Esfera dos Livros. pp. 227-228

1
Especial, peculiar.
2
Defensor.
COMPREENSÃO DE LEITURA

Para responderes a cada um dos itens, seleciona a opção correta.

1. Com a utilização do advérbio de afirmação na linha 4, o autor


A. atesta a caracterização de P.de António Vieira apresentada no título.
B. dá resposta a uma hipótese levantada anteriormente.
C. antecipa possíveis dúvidas sobre a associação de P.de António Vieira aos
escritores portugueses mais reconhecidos e conforma essa associação.
D. confirma a diversidade da obra de Vieira, de que “a escrita foi apenas um
aspeto” (l.2).

2. De acordo com o sentido global do texto, a relevância de P.de António Vieira


A. prende-se apenas com “as peças oratórias” (l.8) que compôs.
B. associa-se essencialmente à dimensão crítica da sua obra.
C. decorre do seu empenhamento nos domínios literário, cívico e político.
D. relaciona-se, acima de tudo, com o seu papel interventivo no contexto político
nacional e europeu da sua época.

3. Com a introdução do segmento “um lisboeta que viveu quase toda a sua longa vida de
89 anos no Brasil” (ll.7-8), o enunciador introduz
A. um modificador restritivo do nome.
B. um modificador apositivo do nome.
C. um complemento do nome.
D. um modificador do grupo verbal.

4. No contexto em que é utilizada, a palavra “desassombradas” (l.11) significa


A. corajosas.
B. públicas.
C. incompreendidas.
D. ofensivas.

5. A marcação em itálico da palavra “mesmo” (l.11) destaca


A. o valor preciso do advérbio.
B. a interpretação literal do determinante.
C. a leitura subjetiva do advérbio.
D. o sentido figurado do pronome.

6. Relativamente às afirmações anteriores, “não obstante” (l.14) introduz um nexo


A. causal.
B. consecutivo.
C. adversativo.
D. concessivo.
7. Considerando os dados biográficos de Vieira apresentados no texto, justifica a sua
apresentação como “um homem da Igreja que vivia no mundo” (ll.12-13).
8. Explicita as relações de sentido entre o título e o conteúdo do texto.
Retirado de Silva, P. (2016). Outras Expressões 11. Porto: Porto Editora. pp. 30-31

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