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Resumo
Este artigo objetiva uma análise na estrutura didático-metodológica da
disciplina Introdução ao Desenho dos cursos de Engenharia da UFPE
focando no desenvolvimento da inteligência viso-espacial dos alunos
através da habilidade de comunicação e expressão gráfica. Nessa
disciplina os conteúdos ministrados são a perspectiva cavaleira, o desenho
isométrico e o sistema mongeano. Estudando a problemática pela
psicologia cognitiva, principalmente nas teorias de Jean Piaget e Howard
Gardner, observa-se que as dificuldades surgem desde a ausência da
disciplina na educação básica e o não desenvolvimento da habilidade na
infância. Para assim, sugerir exercícios de habilidades espaciais e uma
revisão dos conceitos geométricos básicos.
Abstract
This paper aims an analysis in the methodological and educational
structure of the discipline “Introduction to Drawing of the Engineering
graduation” from the Course Expressão Gráfica of the Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE). It is focused on the development of the
visual and spatial intelligence through the abilities of graphic expression
and communication. In this discipline, the content includes the oblique
perspective, the isometric drawing and orthogonal views. Studying the
issue by the cognitive psychology, mainly in Jean Piaget and Howard
Gardner theories, it was observed that the difficulties rises because of the
absence of the discipline in basics education and the non-development of
the skill in the childhood. Therefore, it suggests spatial abilities exercises
and a review of the basics geometrics concepts.
1 Introdução
Este trabalho enfoca uma análise da estrutura didático-metodológica da disciplina
“Introdução ao Desenho” do ciclo básico dos cursos de Engenharia da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE), visando o desenvolvimento da percepção viso-
espacial dos alunos através da habilidade de interpretação e expressão gráfica. Os
conteúdos dessa disciplina compreendem o estudo da perspectiva cavaleira, o
desenho isométrico e o sistema mongeano. Procedendo metodologicamente nessa
sequência, observa-se que há barreiras na aprendizagem desses conteúdos, de
ordem psico-cognitiva e epistemológica.
Segundo o Art. 4º e 6º da resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE,
2002), a formação do bacharel em engenharia, independente de sua modalidade, deve
versar sobre algumas competências e conteúdos básicos. Um dos tópicos foca a
competência na comunicação e expressão gráfica como parte da formação básica do
engenheiro para, só então, desenvolver uma das habilidades fundamentais para a
formação do bacharel em Engenharia: a inteligência espacial.
A teoria piagetiana descreve o desenvolvimento cognitivo como uma
transformação que acontece do interior para o exterior pela interação entre o indivíduo
e o meio. Para Piaget, o desenvolvimento da inteligência espacial – e qualquer outro
tipo de inteligência – acontece através do processo de maturação, experiência e
transformação social. Conforme essa teoria (BISHOP, 1978 apud SORBY, 1999), esse
desenvolvimento acontece em três estágios. Em primeiro lugar, desenvolvem-se as
habilidades topológicas, ou seja, a capacidade de distinguir e relacionar objetos
bidimensionais; em segundo, desenvolvem-se habilidades espaciais projetivas, ou
seja, a capacidade de visualizar objetos tridimensionais de diferentes pontos de vista;
por fim, em terceiro lugar, desenvolvem-se relações entre habilidades projetivas com
conceitos de medidas, ou seja, a capacidade de visualizar volume, área, distância,
rotação, translação e reflexão.
Conforme Sorby (1999), alguns estudos acerca do desenvolvimento da percepção
visual concluem que em diversas carreiras a inteligência espacial interpreta um papel
de grande importância. Profissões da área tecnológica e das ciências, como
engenharia, necessitam tanto dessa habilidade quanto as profissões ligadas às artes.
O programa curricular da disciplina “Introdução ao Desenho” da UFPE aplica um
procedimento didático adequado para o desenvolvimento da inteligência espacial, isto
é, parte de uma representação de fácil intelecção espacial, como a perspectiva
cavaleira e o desenho isométrico, para uma representação de interpretação mais
complexa como o sistema mongeano, contrariando o cânone literário da área cujo
tópico inicial é o sistema mongeano para depois estudar as perspectivas. Entretanto,
observa-se que ainda há dificuldades enfrentadas por parte de alguns discentes em
relação à percepção espacial que persistem devido a diversos fatores. Contudo,
apenas dois são adequados ao nosso estudo. O primeiro refere-se ao não
desenvolvimento da inteligência espacial durante a infância. Dessa forma, grande
parte dos alunos encontra-se estacionada no primeiro estágio do desenvolvimento
cognitivo, quando deveria estar no terceiro estágio. O segundo é a não familiaridade
com os conteúdos estudados – que muitas vezes são vistos pela primeira vez nessa
disciplina – os quais deveriam ser estudados pelos alunos antes do ingresso à
universidade, como os bacharelados em Arquitetura e Urbanismo e Design e os
alunos de Licenciatura em Expressão Gráfica, que realizam uma prova específica de
Geometria Gráfica que envolve esses conteúdos.
Como uma forma de suprir essa necessidade, este estudo analisará a origem
dessas dificuldades para sugerir estratégias metodológicas e didáticas que ajudarão
no desenvolvimento da habilidade viso-espacial desses alunos.
Esse tipo de atividade pode ser ministrada como uma introdução da disciplina
para familiarização dos instrumentos (que serão utilizados até o fim da disciplina) e
dos conceitos básicos geométricos (figuras planas, sólidos, curvas cônicas, etc.).
A visualização espacial tem um papel fundamental em diversas carreiras
profissionais de diferentes áreas do conhecimento, não apenas para as áreas de
Arquitetura e Artes, mas também para a Engenharia. De acordo com Ferguson (1992
apud Sorby, 1999), os primeiros engenheiros começaram como artistas no
Renascimento (como Leonardo da Vinci, Francesco di Giorgio e Georg Agricola).
Ferguson afirma ainda que os currículos atuais dos cursos de engenharias se apoiam
muito nos métodos analíticos, distanciando-se do uso da percepção visual e que as
falhas mais recentes da engenharia (a explosão do ônibus espacial Challenger, a
queda da ponte Tacoma Narrows e a falha do cruzador USS Vincennes) são
decorrentes da ausência de percepção visual, tátil e sensorial do currículo de
bacharelado em Engenharia.
5 Conclusão
Com o não desenvolvimento da percepção espacial devido a falhas na educação
básica, os alunos ingressam na universidade sem um conhecimento prévio. Portanto,
seria interessante a aplicação de uma prova de habilidade específica ou a prova de
geometria gráfica, como ocorre na seleção para os cursos de Arquitetura, Design e
Expressão Gráfica, para que exista uma preparação antes do ingresso à universidade
e para que as dificuldades enfrentadas pelos discentes na disciplina “Introdução ao
Desenho” sejam minimizadas.
Na busca por melhores resultados para os alunos, exercícios de visualização
espacial e desenho geométrico nas primeiras aulas da disciplina seriam uma maneira
de ajudá-los na percepção visual. Deste modo, o rendimento ao longo do período seria
melhor e mais satisfatório. Além disso, prepararia o aluno, que não teve suas
habilidades exploradas previamente, para qualquer desafio visual ao longo de sua vida
acadêmica, pessoal e profissional, bem como melhoraria sua aprendizagem em outras
áreas do conhecimento.
Referências