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Impactos logísticos na qualidade das amostras biológicas de pacientes no

Brasil
Cristhian Roberto Torres Roiz*

Resumo
Objetiva-se por este artigo, dissertar sobre quais impactos ocorrem pela falha na
distribuição, armazenamento e processo de transporte terrestre e aéreo das amostras
de pacientes destinados para pesquisa, diagnósticos, investigação e tratamento de
doenças humanas. Para este artigo, os dados foram obtidos através de pesquisa
quali-quantitativa realizado em busca na internet, uso de questionário on-line com
questões fechadas assim como coleta de informações de material autoral, obtidas de
um público-alvo específico; além de levantamento bibliográfico de literatura científica
e legislação. Concluiu-se por este artigo científico que as amostras de pacientes
podem ser prejudicadas por falha de conhecimento pelos regulamentos impostos para
o transporte de materiais biológicos, falha da capacitação dos profissionais envolvidos
pelo armazenamento, distribuição e transporte destes materiais, assim como pela
falha do fluxo de informação entre as agências regulatórias e as áreas da saúde e
logística.

Palavras-chave: Processo de Transporte, Diagnóstico, Tratamento de Doenças, Fase


Pré-Analítica

Introdução
A logística, em qualquer setor atuante, é um fator de extrema relevância na
qualidade do produto a ser deslocado da origem até o destino, por possuir alta
complexidade e responsabilidade durante todo o processo, motivadas pela
necessidade em alcançar qualidade e custo x benefício pelos seus tomadores.
Na área da saúde investigativa, este serviço assume alta importância,
especialmente se levarmos em consideração que a carga transportada e armazenada
é “vida humana”. Trata-se de transporte de material biológico humano1 (GSTCO-
ANVISA, 2016) para detecção de doenças e pesquisas clínicas para o
desenvolvimento de tratamentos.

1
tecido ou fluido constituinte do organismo humano, tais como excrementos, fluidos corporais, células,
tecidos, órgãos ou outros fluidos de origem humana ou isolados a partir destes (MANUAL DE VIGILÂNCIA
SANITÁRIA PARA O TRANSPORTE DE SANGUE E COMPONENTES NO ÂMBITO DA HEMOTERAPIA – ANVISA
2016).
* Pós-Graduação em Administração Estratégica da Universidade Estácio de Sá, Bacharel em
Biomedicina, Especialista em Patologia Clínica. Organização Santamarense de Educação e Cultura –
OSEC, São Paulo (SP), Brasil. Especialista em Transporte de Material Biológico Humano. E-mail
contato@crisroiz.com.br.
Pela alta demanda e alta complexidade atual no processo logístico da área de
medicina laboratorial, principalmente devido ao aumento de laboratórios de grande
porte que prestam serviço de apoio a laboratórios de menor porte no país e o aumento
da distância entre estes dois elos refletindo em uma readequação logística portanto;
a terceirização deste serviço logístico possui grande procura.
Tendo esta área como foco principal deste artigo, há três fases do atendimento
ao paciente: a fase pré-analítica que se inicia com a solicitação das análises,
passando pela obtenção da amostra e finda ao se iniciar a análise propriamente dita;
a fase analítica sendo o conjunto de operações, com descrição específica, utilizada
na realização das análises de acordo com determinado método e a fase pós-analítica
que se inicia após a obtenção dos resultados válidos das análises e finda com a
emissão do laudo do paciente, para interpretação pelo solicitante.
Segundo a norma PALC (acreditação laboratorial da SBPC), o transporte está
incluso nos segmentos enquadrados como atividade crítica2.
Dos erros que ocorrem durante as três fases, 70% ocorrem na fase pré-analítica
(SBPC, 2018) e o transporte compõe esta fase.
Falhas neste processo podem ocasionar erros, perda da estabilidade e
integridade do material biológico, aumento do custo em relação ao benefício e
principalmente desconforto e perda de credibilidade pelos stakeholders que estão
diretamente envolvidos neste setor (pacientes, médicos, pesquisadores clínicos,
cientistas e laboratórios de análises e pesquisas clínicas).
Erros como tempo do transporte, temperatura e integridade dos materiais
transportados, falha de documentações obrigatórias para o transporte terrestre ou
aéreo, erro no processo de padronização das embalagens a serem utilizadas no
transporte e a capacitação dos condutores dos veículos que transportam este tipo de
carga, são alguns dos fatores geradores destas falhas neste processo do transporte
e geralmente influenciam fortemente no final do processo da fase pós-analítica: os
diagnósticos e as terapias médicas. (Lippi, et al., 2006)
Os erros ocorridos pela fase pré-analítica atualmente representam cerca de 60%
a 70% dos erros laboratoriais (AHUJA, 2019) (Barricor, 2016). Tal fase é representada
em sua totalidade por ações humanas, sem a presença de equipamentos no processo

2
Atividade crítica: Atividade que tem impacto direto na qualidade do resultado das análises, incluindo
atividades da fase pré-analítica (como exemplo: coleta, transporte e conservação das amostras biológicas).
e, seguindo esta lógica, falhas são mais susceptíveis a ocorrer. A falta de material
didático elucidando contexto normativo sobre o correto transporte de materiais
biológicos no intuito de manter-se a integridade e estabilidade destes materiais
durante o transporte, assim como padronizar todo o processo, representa um dos
principais fatores que ocasionam tais erros.
Este artigo irá elucidar como a dificuldade pelo acesso e a falta de conhecimento
das normas regulamentadoras vigentes das entidades nacionais e internacionais
(ANAC3, IATA4, ANTT5, ANVISA6) pelo transporte de materiais biológicos humanos,
podem ocasionar falhas na fase pré-analítica culminando com isto, erros nos laudos
laboratoriais.

Metodologia
A busca pela qualidade do conhecimento dos profissionais da área da saúde,
tais como médicos, enfermeiros, biomédicos, farmacêuticos e técnicos laboratoriais;
assim como profissionais do setor logístico que representam as empresas
terceirizadas do transporte, tais como gestores logísticos, profissionais do transporte
como motoristas e motofretistas pelas normas e padronização dos processos no
transporte e armazenamento de materiais biológicos foi base da pesquisa autoral
realizada através de questionamento contendo questões objetivas e específicas.
Foi considerado para este trabalho de conclusão de curso, estudos realizados
em artigos nacionais e internacionais (GSTCO-ANVISA, 2016) como fundamento do
conteúdo técnico no intuito de esclarecer e transcrever termos específicos contidos
nas plataformas de base de dados da NCBI (National Center for Biotechnology
Information) e Pubmed, assim como plataforma do Google e literatura específica da
área de medicina laboratorial.
Os resultados da pesquisa autoral realizada serão transcritos e a análise
estatística será feita a partir da transcrição dos dados obtidos em frequências e
proporções das respostas encontradas.
O questionário utilizado contém questões fechadas e objetivas ao tema deste
trabalho e foi realizado conforme modelo dos formulários do Google; sendo distribuído

3
Agência Nacional de Aviação Civil em representação das regulamentações internacionais do Transporte de
Materiais Biológicos
4
International Air Transport Association
5
Agência Nacional de Transporte Terrestre e ferroviário
6
Agência Nacional de Vigilância Sanitária
por redes sociais tais como grupos do Facebook, portal do LinkedIn atingindo público
específico que possui correlação com o tema.
Os participantes participaram, portanto, de forma voluntária tendo acesso a
pesquisa através de links citados nestas redes sociais os quais direcionavam os
envolvidos ao preenchimento do formulário.

Cenário atual
Em tempos que a necessidade de maior entendimento da complexa ação
logística necessária pelo atual cenário em medicina laboratorial e pesquisas clínicas,
como dito anteriormente, os talentos empresarias tornam-se também diferenciados.
Empresas do setor terciário como logística e medicina laboratorial passam a ter
a necessidade de correlacionarem e trocarem conhecimentos.
Em nada adiantaria o transporte de materiais biológicos em prazos estendidos
entre 12 a 48 horas, por exemplo, sem a empresa da saúde transmitir as
consequências que podem ocorrer na falta de observância dos requisitos biológicos
pela empresa logística, assim e por sua vez, não seria eficaz a logística não explanar
antecipadamente para empresa da saúde sobre as situações adversas que podem
ocorrer durante o transporte para que antecipadamente sejam adotadas medidas
preventivas evitando assim, falhas no processo e demanda de solicitação de novas
coletas (considerando como exemplo um laboratório de análises clínicas).
Para se contextualizar a questão técnica abordada neste trabalho; há a
necessidade de total atenção entre normas técnicas do setor de transporte e a do
setor sanitário, para que se estabeleça a garantia da preservação do material quanto
a sua integridade e estabilidade conforme a carga que esteja sendo armazenada ou
transportada no contexto de medicina laboratorial.
A inobservância ocorrida desta relatividade citada, pode ocasionar ~12,5% de
erros laboratoriais e podem afetar a saúde do paciente (Bonini, et al., 2002).
Dentre os requisitos da qualidade observáveis pela fase pré-analítica em
medicina laboratorial, a correlação entre o tempo do transporte e armazenamento com
a temperatura ideal da amostra é um dos principais fatores que podem acarretar tal
problemática, caso não haja um claro esclarecimento técnico entre os setores logístico
e diagnóstico.
Como exemplo pode-se citar o tempo e a temperatura ideal para um transporte
de sangue após a coleta realizada da amostra, até a realização do teste laboratorial
para a pesquisa da diabetes considerando-se como diabetes ou glicose alterada em
jejum quando os valores forem ≥126mg/dl ou ≥110 e <126mg/dl, respectivamente.
(Gross, et al., 2002). A glicólise7 ocorrida em uma amostra de sangue total (amostra
colhida sem presença de anticoagulantes) possui velocidade considerável de 7 mg/dl
por hora quando conservada na temperatura ambiente (18-25°C). O atraso no
processamento desta amostra (> que 1 hora) ou a oscilação desta temperatura ideal,
irão ocasionar esta degradação da glicose da amostra com consequente resultado
laboratorial contendo valores não fidedignos aos valores reais desta amostra podendo
levar a uma interpretação possivelmente equivocada pela equipe médica. Ações
conjuntas adotadas pelos talentos de cada empresa (logística e saúde) são eminentes
neste atual cenário e para isto, precisam sair de suas “zonas de conforto” de seus
conhecimentos e ações individuais para promoverem melhorias constantes no
processo. Isto demonstra a necessidade de as empresas definirem e determinarem
as responsabilidades de cada, além das informações técnicas como temperatura,
tempo e cuidados para se preservar a integridade das amostras durante o transporte.
Esta falha de comunicação não irá promover a garantia da qualidade desta amostra
e, pela ausência de informação de temperatura ideal durante o transporte assim como
o tempo necessário que irá decorrer entre os pontos logísticos (retirada e entrega)
poderá ser causa raiz desta não conformidade no resultado laboratorial citado
anteriormente destacado como exemplo.
Ocorre que não existe atualmente este cenário ideal ocorrendo, devido a
extensas e novas normas vigentes para o transporte deste tipo de carga biológica,
além da falha na adequação das empresas que prestam serviços logísticos perante
as suas capacitações e licenças perante os órgãos regulamentadores impostas por
estas mesmas normas, colocando um risco maior no processo.
Conforme pesquisa realizada (Roiz, 2019) através de questionário direcionado
pela internet a um público envolvendo pesquisadores clínicos, Biomédicos, Médicos,
Farmacêuticos, gestores de logística, condutores de veículos de transporte de cargas
e motofretistas, através de formulário do Google, observou-se que 92,72% dos 55
participantes não possuem conhecimento que esteja em conformidade com as
regulamentações sanitárias, de transporte terrestre e aéreo citadas anteriormente,
assim como instruções complementares impostas pela Secretaria do Meio Ambiente

7
reações metabólicas cujo resultado, dentre outros, é a degradação da glicose
(IBAMA) para a preservação do meio ambiente. Tal desconhecimento induz erros que
corroboram para erros da fase pré-analítica, ocasionando perda da qualidade dos
materiais biológicos por eventos ocorridos durante o transporte, ocasionando aumento
do tempo de transporte e temperatura das embalagens contendo material biológico.
Estes eventos estão representados como exemplo, pela retenção das cargas
realizadas por agentes da polícia rodoviária ao fiscalizarem veículos durante o
transporte federal, estadual ou municipal, assim como agentes fiscais da ANAC, por
observarem não conformidades8 pelas simbologias afixadas na parte externa das
embalagens que contém as amostras, inespecificidade ou falha de informações no
documento de transporte que sempre deve ser preenchido para cada transporte aéreo
ou terrestre, falta de capacitação evidenciável na documentação de Cadastro Nacional
de Habilitação (CNH) dos condutores ou motofretistas, conforme determinado pela
ANTT, dentre outros.

Estatísticas
Gráfico 1 - Conhecimento individual de cada participante quanto às normas e
regulamentos da ANVISA, ANTT, ANAC/OACI e IBAMA

Figura 1 https://docs.google.com/forms/d/1zwf-3SaZMa3eyvAB9FBx5kN3JMSDXukzHS7iBqj3mqI/edit#responses

8
Não atendimento a um requisito especificado; processos estão ocorrendo de maneira errada (ISO 9001)
Gráfico 2 - Facilidade pelo acesso às informações normativas e
regulamentadoras da ANTT, ANVISA e ANAC referente ao transporte de materiais
biológicos

Figura 2 https://docs.google.com/forms/d/1zwf-3SaZMa3eyvAB9FBx5kN3JMSDXukzHS7iBqj3mqI/edit#responses

Gráfico 3 - Segurança individual de cada participante pelo conhecimento


pessoal quanto as normas e regulamentações no transporte de materiais biológicos

Figura 3 https://docs.google.com/forms/d/1zwf-3SaZMa3eyvAB9FBx5kN3JMSDXukzHS7iBqj3mqI/edit#responses
Análise dos resultados
Os gráficos demonstram que embora os participantes relatem em 70,9% ter
segurança pelo conhecimento individual quanto as normas e regulamentos, assim
como em 78,2% em terem facilidade pelo acesso a tais informações; o resultado
obtido e demonstrado no gráfico 1 aponta divergência em referência às demais
questões, pois em mais de 99% dos entrevistados houve erro na resposta.
Esta discrepância traduz, pelo resultado obtido neste questionário, a
coparticipação das classes da saúde e logística na manutenção dos erros da fase pré-
analítica. Ainda na análise se destaca que este público não estaria sendo
impulsionado a uma revisão de suas capacitações pois, segundo eles, sentem-se bem
informados e seguros quanto ao conhecimento pessoal das normas e
regulamentações.

Discussão

Regulamentação do setor
Para que o processo de armazenamento e transporte ocorram em conformidade
com as boas práticas laboratoriais, as agências regulamentadoras ANVISA, ANTT e
ANAC regulamentam o setor do transporte de materiais biológicos humanos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) determina as normas sanitárias do
transporte necessárias para a preservação da integridade e estabilidade de materiais
biológicos humanos destinados a pesquisas clínicas ou laboratoriais. No Brasil, a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), através da resolução do colegiado
RDC 20 de 2014, fiscaliza e padroniza o setor conforme determinado pela OMS.
Nesta resolução, há empiricamente obrigatoriedades quanto a documentação
conforme o tipo do material transportado que deve acompanhar a carga; a capacitação
dos envolvidos pelo processo de transporte; em especial os condutores, sendo esta
capacitação realizada por profissionais da saúde; a prática periódica da higienização 9
das embalagens e dos veículos utilizados, dentre outras.

9
Processo composto de 3 etapas, sendo limpeza, desinfecção e descontaminação com material desinfetantes
como álcool 70%, para a completa eliminação de microrganismos potencialmente patogênicos
Todas estas ações devem ser registradas para posterior melhoria nos
processos, bem como elegibilidade em casos de fiscalizações de agentes sanitários
e auditorias internas de qualidade.
Ainda dentro desta regulamentação da ANVISA, há a indicação do correto
acondicionamento das amostras dentro das embalagens utilizadas no transporte as
quais devem ser obrigatoriamente higienizáveis e resistentes conforme o protocolo da
ANVISA exige, devem ser térmicas e conter lacre para se manter a estabilidade do
material transportado e com isto, garantir a qualidade das amostras para que se tenha
resultados que condizem com a clínica do paciente.
Quanto ao transporte terrestre de produtos perigosos10, a ANTT é responsável
pela fiscalização do setor no Brasil através da resolução 5232 de 2016. O material
biológico humano é classificado como produto perigoso pelo Comitê de Peritos em
Transporte de Produtos Perigosos das Nações Unidas (ONU) qual a ANTT faz parte.
Nesta classificação, existe nove categorias e dentre estas, o material biológico
humano representa a categoria 6 (substâncias tóxicas e infectantes). Por esta
resolução, a ANTT padroniza, de acordo com cada tipo de material transportado, o
tipo de embalagem, simbologias anexas, documentações e tipo de veículos
específicos são determinados para cada tipo de material, além de determinar quais
capacitações são necessárias para os condutores deste setor.
Quando o transporte ocorre através do modal aéreo, a padronização e
fiscalização ocorre através da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). O objetivo
desta agência é estabelecer orientações quanto aos procedimentos para a expedição
de substâncias biológicas e infectantes em aeronaves civis baseadas nos requisitos
presentes no RBAC nº 175 e no Doc. 9284 da Organização da Aviação Civil
Internacional – OACI – para identificar, classificar, embalar, marcar, etiquetar,
documentar, aceitar, manusear e transportar esses artigos perigosos, sem prejuízo do
disposto em outras normas vigentes peculiares ao transporte desses materiais
(ANAC, 2017).

10
Produto que represente risco para a saúde das pessoas, para a segurança pública ou para o meio ambiente,
podendo ser de origem química, biológica (ANTT, resolução 5232 de 2016).
Parâmetros biológicos
Para que se tenha garantida a especificidade dos metabólitos11 contidos nos
materiais biológicos humanos nos processos de armazenamento e transporte, há a
necessidade em se preestabelecer qual a temperatura ideal para cada tipo de
material. Existem três tipos de temperaturas que necessariamente devem ser
adotados e garantidos durante o processo do transporte e armazenamento para se
manter a integridade e estabilidade destes materiais: temperatura ambiente,
temperatura refrigerada e temperatura congelada.
Pelo conceito da Metabolômica12 , atrasos para a realização da análise
laboratorial, repetidos ciclos de congelamento / descongelamento são um dos fatores
que podem ocasionar erros de interpretação nos laudos laboratoriais, pois contribuem
pela perda da qualidade das amostras biológicas ocasionada pela alteração da
especificidade dos metabólitos que constituem as amostras biológicas (Stevens, et al.,
2019).
Tal fato evidenciável em vários artigos e literaturas científicas podem ser
explicadas pois “...as células sanguíneas e enzimas ainda são metabolicamente ativas
no interior do tubo de amostra, resultando na captação e liberação de metabólitos”
(Ferreira, et al., 2019).
Tendo como base os dados utilizados neste trabalho, incrementado pela
pesquisa realizada, algumas ações corretivas a médio e longo prazo poderiam ser um
início para reversão deste claro cenário.
A divulgação do conhecimento técnico científico atualizado conforme as
determinações das agências regulamentadoras nacionais e internacionais do setor da
aviação, transporte terrestre e sanitarismo, entre o pessoal envolvido tanto pela
prática laboratorial assim como pela logística, contudo, contendo em um único
contexto as normas e procedimentos e as boas práticas pela área da saúde assim
como pela área logística, ter-se-ia uma ação efetiva com foco na diminuição dos erros
pré-analíticos causados na medicina diagnóstica.
Podemos utilizar como hipótese no intuito de exemplificar esta linha de
pensamento, um transporte de materiais biológicos com percurso logístico pré-

11
Micro ou macromoléculas contidas nas amostras que serão analisadas em laboratórios clínicos ou pesquisas
clínicas, podendo ser espécies iônicas, carboidratos hidrofólicos, álcoois e cetonas, lipoproteínas, albuminas
entre outros (Wikipédia).
12
Estudo científico que visa identificar e quantificar o conjunto de metabólitos (Wikipédia).
estimado em ocorrer no prazo de 1 hora. A equipe logística, contendo claro
conhecimento do conteúdo transportado, sendo este material biológico humano com
finalidade diagnóstica e sendo necessária a temperatura estar estável entre 2°C e 8°C
durante todo o trajeto, poderia antecipadamente alertar a equipe remetente do
laboratório quanto a adição suficiente de elementos refrigerantes em se garantir este
range de temperatura até mesmo para suportar um tempo maior do que 1 hora, caso
intercorrências ocorram durante o transporte.
Da mesma forma, a equipe remetente do laboratório contendo claro
conhecimento pelas normas rodoviárias da ANTT, poderia antecipadamente a entrega
do material para a equipe do transporte, cobrar as documentações necessárias de
transporte para esta carga, revisando desta forma as simbologias que identificam
externamente a embalagem térmica de transporte evitando assim, a apreensão da
embalagem caso ocorresse uma blitz rodoviária e nesta, fosse evidenciado a falta das
informações externas da embalagem ou a falta/falha no preenchimento do documento
de transporte.
Sustentando tal possibilidade citado no parágrafo anterior quanto à retenção do
veículo de transporte de materiais biológicos, os quais são classificados como
produtos perigosos conforme anteriormente destacado, o artigo 50 da resolução 3665
de 2011 da ANTT, dispõe:
Art. 50. Observada qualquer infração ao que preceitua este Regulamento que
configure situação de grave e iminente risco à integridade física de pessoas,
à segurança pública ou ao meio ambiente, a autoridade com circunscrição
sobre a via deve reter o veículo.... (ANTT, 2011)
Tendo ainda o acesso pelas normas como prática dentre as empresas da saúde,
em caso de decisão pela terceirização logística, haveria a possibilidade em ocorrer a
correta avaliação das empresas concorrentes quanto às suas habilitações específicas
para este transporte e a capacitação dos seus profissionais transportadores para
saberem agir em casos de adversidades ocorridas durante o transporte. Manter-se o
desconhecimento da equipe laboratorial, acarretaria na continuidade de contratação
de empresas incapacitadas e não licenciadas para o transporte específico, mantendo-
se os riscos em ocorrer falhas causadas por estas empresas durante o transporte,
como não evitar a oscilação da temperatura ou aumento do tempo de transporte e
com isto, perder a estabilidade do material e consequentemente ocasionar a alteração
dos valores reais dos metabólitos contidos no material, conforme anteriormente
explanado.

Os cursos técnicos ou de nível superior do Brasil, na área logística e da saúde,


caso complementassem a grade curricular com conteúdo normativo e regulamentar
das agências regulamentadoras, estariam com esta prática, formando profissionais
capacitados e capazes de promoverem a melhoria deste cenário atual, colaborando
pela diminuição do percentual representativo de cerca de 70% dos erros ocorridos na
fase pré-analítica anteriormente citado neste trabalho.
Ainda por este raciocínio da capacitação, ter-se-ia uma diminuição pelo erro de
interpretação dos laudos, pois a estabilidade dos materiais biológicos durante o
transporte seria mantida.
O contexto sobre capacitação assim como o claro entendimento das funções
entre as partes envolvidas está bem destacado pelas normas da ANVISA, quais pode-
se evidenciar tal afirmação pela resolução específica ao transporte de materiais
biológicos humanos, RDC 20, em seu art. 7° do capítulo 2, segundo parágrafo, onde:
O prestador de serviço terceirizado deve possuir infraestrutura, conhecimento
e treinamento adequado de pessoal, sob a supervisão técnica de profissional
comprovadamente capacitado para desempenhar satisfatoriamente o serviço
solicitado pelo contratante e atender aos requisitos. (ANVISA, 2014)
A taxa de convocação dos pacientes para realizarem nova coleta de material
como consequência dos erros ocorridos antes da análise laboratorial seria reduzida,
contudo não existe bibliografia que referencie a atual taxa de novas coletas
ocasionadas pelos erros logísticos da fase pré-analítica, para se estabelecer
comparação e quantificação desta taxa de melhoria. Os estudos atualmente apontam
estatística referente ao conjunto dos erros da faze pré-analítica com relação aos
profissionais da saúde, tal como erro na coleta, erro na identificação dos materiais,
atraso no tempo da centrifugação do material, dentre outros (Lippi, et al., 2006).

Conclusão
As falhas cometidas pelo setor logístico na área da saúde, especificamente para
o transporte e armazenamento de materiais biológicos, em se tratando da fase inicial
do processo do ciclo do sangue, possibilitam a falha na interpretação dos laudos e
com isto, falha pela assertividade do tratamento terapêutico.
As normas e regulamentos das agências nacionais e internacionais do setor, nas
áreas sanitária, transporte aéreo e terrestre, padronizam o processo logístico, porém,
tal padronização não está adequadamente divulgada no território nacional.
Como agravante, tais normas estão constantemente sendo revistas para que as
adaptações necessárias quanto às nomenclaturas, orientações ao setor regulado,
assim como pela adição de novos requisitos.
Setas atualizações e revisões por vezes, ficam retidas em locais de acesso
confuso mesmo eletronicamente, pois os mecanismos de buscas não possuem
palavras-chaves definidos e direcionados para tais temas.
Somado a isto, as próprias agências regulamentadoras também possuem
grande dificuldade em disseminar o contexto para os setores regulados, haja vista a
pouca quantidade de profissionais confiados a realizar esta divulgação e capacitação
do pessoal envolvido.
É necessário que ocorra a interação entre estas normas com os setores
terciários da saúde e logística, a fim de se estabelecer padrões de qualidade e
confiabilidade pelas decisões terapêuticas tomadas com base nos laudos
laboratoriais.
É fato que a necessidade da terceirização logística, atualmente, se faz
necessária, contudo, a capacitação dos profissionais envolvidos pelo transporte em
saber dos requisitos normativos do setor da saúde ainda estão carentes de eficiência.
Os erros cometidos pela fase pré-analítica em medicina laboratorial,
desencadeiam aumento dos custos logístico, haja vista a necessidade sempre
eminente da reconvocação dos pacientes em coletarem novamente os materiais
inicialmente colhidos.
Estabelecendo-se a capacitação do setor da saúde pelas normas de transporte,
tal qual a capacitação do setor logístico pelos requisitos de qualidade exigidos e
necessários para a manutenção da qualidade dos materiais biológicos transportados,
traria ganhos pela confiabilidade terapêutica, redução dos custos operacionais e
padronização dos processos logísticos para a saúde.
Este artigo, se futuramente seguir para sua publicação estando assim, acessível
aos atores principais deste cenário, servirá como contribuição para a conscientização
da importância das atualizações de seus conhecimentos. Isto seria um início de uma
ação corretiva tendo em vista a escassez e dificuldade pelo acesso de material
bibliográfico e referencial neste tema de suma importância da cadeia logística para a
saúde.

Referências

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