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Impactos laboratoriais de biossegurança que afetam a saúde individual e

coletiva

Samuel marques moura da silva1

Resumo
Na rotina laboratorial existem algumas fases que devem ser percorridas até a emissão
de um laudo, que impactará diretamente na rotina do paciente, e na fase pré analítica
encontramos a maior parte dos erros que leva a resultados insatisfatórios e até mesmo
erros graves que podem ser fatais em determinados casos. Neste artigo mostrarei os
principais erros que acontecem na fase pré analítica e a prevalência destes que leva
a um grande número de recoletas no laboratório clínico e um diagnóstico inconclusivo
na maior parte dos casos.

Palavras-chave: Laboratório. Análises. Analítico. Erros. Fase.

Abstract
In the laboratory routine there are some phases that must be followed before issuing
a report, which will directly impact the patient's routine, and in the pre-analytical
phase we find most of the errors that lead to unsatisfactory results and even serious
errors that can be fatal. in certain cases. In this article I will show the main errors that
occur in the pre-analytical phase and their prevalence, which leads to a large number
of re-collections in the clinical laboratory and an inconclusive diagnosis in most
cases.
Keywords: Laboratory. Analyzes. Analytical. Errors. Phase

Introdução
Qualidade tem a sua origem no século XVIII junto aos artesãos, que tinham o
principal objetivo de produzir peças do mais alto nível para assim atender as
necessidades dos clientes, com o passar do tempo, os modos produtivos foram
alcançando lugares maiores, revisitando o que conhecemos como Revolução
Industrial, onde o trabalho dos artesãos foi substituído por trabalhos mecânicos
produção em massa. E justamente aqui surge os primeiros passos da era da inspeção,
uma das primeiras escolas da Gestão da Qualidade. Porém, uma das principais

1 Pós-graduação em biossegurança e saúde pública .FAAL. E-mail: samuelmarques2@hotmail.com


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críticas a essa era é que o foco era o produto acabado, e não a qualidade em si, já
que a premissa era encontrar os produtos defeituosos e eliminá-los. Após muitos
estudos, surge a era do controle estatístico, associada ao conceito de produção em
massa, onde foram aplicadas as primeiras técnicas de análise por amostragem,
sempre focando na inspeção dos produtos acabados. Contudo, essa visão só foi
transformada a partir da década de 50, onde a preocupação deixou de ser os produtos
e sim os métodos e processos utilizá-los para produzi-los. Sendo assim, podemos
dizer que a partir daqui, os conceitos passaram a ser amplamente gerenciais, trazendo
a ideia de que esta ciência é uma espécie de filosofia, que deve ser aplicada
continuamente para ter resultado. Além disso, foi aqui que surgiu a premissa desta
ciência como parte do todo, indo muito além de um único departamento, gerando
resultados em todas as operações.
As atividades desenvolvidas em um laboratório de análises clínicas são
desempenhadas em fases que servem de indicadores para a qualidade e a
quantificação de erros cometidos e com isso uma melhor gestão dentro do laboratório,
pois a implantação dessas fases ajuda na correção e servem como indicadores de
prevalência de erros já tratados.
Dentro do ²LAC conhecemos as fases pré analíticas, analítica e pós analítica;
a) Fase pré analítica; A fase pré-analítica é o período entre a solicitação do clínico até a
realização do exame no laboratório e inclui a requisição do exame, a orientação sobre
a coleta, a preparação e a coleta do material ou amostra do paciente, o transporte até
o laboratório clínico e o cadastramento.
b) Fase analítica; corresponde à etapa de execução do teste propriamente dita.
c) Fase pós analítica; última etapa dos exames laboratoriais, inclui a verificação das
análises realizadas na fase analítica, o envio dos resultados ao médico e, por fim, a
tomada de decisão.
Na primeira fase é onde se encontra a maior parte dos erros, pois é nessa fase em que é
recebido o paciente onde é orientado todos os procedimentos de coleta, acondicionamento
correto de materiais trazidos por ele, onde há a identificação do paciente e de suas amostras
biológicas e registradas em sistema.
Na fase analítica esses materiais são recebidos já identificados para serem analisados, seja
manualmente ou automaticamente por meio de máquinas com as metodologias corretas de
acordo com cada material e análise solicitado.
na fase pós analítica é onde o laudo fica pronto de acordo com o que foi feito nas fases
anteriores
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Erros cometidos no balcão de atendimento


Ao receber o paciente o atendente deve estar calmo e bem treinado para
conferir os dados do paciente com documentos oficiais de identificação, pois se uma
letra do nome ou um número na data de nascimento, por exemplo, pode levar o cliente
a desconfiar do resultado entregue pelo laboratório na fase pós analítica, após
constatar que dos dados estão de fato coretos, informar ao paciente informações
importantes sobre jejum, consumo de bebidas alcoólicas, uso de determinados
alimentos, e acondicionamento correto de materias como fezes e urina, tais como
recipientes e temperatura adequada;
Se o cliente tiver se alimentado fora dos padrões de jejum, alguns exames
darão valor aumentado em desacordo com as regras recomendadas, a mesma regra
vale para bebidas alcóolicas dentro de um intervalo de mínimo de 72h, alguns
eletrólitos como colesterol aumentado também. Se necessário o paciente poderá
voltar posteriormente para realizar os exames.
Resumidamente os grandes erros do balcão de atendimento são identificação
incorreta do paciente e falta de informações para realização de procedimentos
necessários

No box de coleta

As principais funções do box de coleta são: atendimento e orientação de


pacientes para a coleta necessária aos diversos tipos de procedimentos, identificação
e recebimento de materiais biológicos, a dessoração de sangue e o armazenamento
adequado de todos os fluidos biológicos para posterior transporte, liberação e entrega
de laudo. Para uma adequada integração de serviços, deve-se considerar as
características topográficas que representam fatores críticos, uma vez que estas
podem interferir diretamente na manutenção da qualidade e integridade do material
biológico durante o transporte entre o box de coleta e o laboratório. O estudo dessas
características deverá ser utilizado como um importante parâmetro de decisão para a
implantação de determinantes de biossegurança.

Nesta fase é onde ocorrem os mais graves erros que impactam no resultado final do
laudo analítico. Erros que muitas vezes podem colocar até a vida do paciente e do
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profissional em risco, desde uma antissepsia inadequada até um acidente com perfuro
cortante.
Lembrando que em todos os setores e em todas as práticas é imprescindível seguir
os modelos de biossegurança e as diretrizes alçadas pelo técnico em sst³, pois este
profissional juntamente com sua equipe elaborará um plano de análise de risco de
acordo com a estrutura de sua empresa.

Aqui citarei alguns dos mais comuns erros que ocorrem no box de coleta, logo após
do primeiro contato que o paciente teve com a recepcionista no balcão de atendimento

• Erros de cadastro: dentro do box o paciente/cliente deve mostrar um


documento de identificação oficial com foto para atestar que é ele mesmo que
irá realizar os exames e para conferência de dados pessoais como o nome
completo, rg e data de nascimento para que não haja nenhuma divergência dos
dados apresentados na recepção.
• Triagem de amostras colhidas pelo paciente: é mais comum do que se pensa
a entrega de materiais de fezes e urina em locais não apropriados para
determinado fim, como por exemplo: lata de leite, potes de margarina,
garrafinha de suco industrializado, etc. Quando isso ocorrer deve-se informar
ao paciente os potenciais erros que podem acontecer com seu material,
descartá-los e fornecer os recipientes adequados para cada fim e as devidas
orientações de coleta adequadas.
• Assepsia incorreta: nada mais é que método, ou o conjunto de métodos,
utilizados para impedir a invasão de germes patogênicos no organismo,
visando-se prevenir infecções e com isso uma assepsia inadequada em um
local de punção ao invés de deixar o local limpo, podemos infectar ainda mais
nosso paciente ao abrir uma porta de entrada através da punção para vírus
fungos e bactérias.
• Garrote prolongado: é muito comum o uso do garrote prolongado no braço do
paciente, principalmente quando o mesmo tem dificuldade de acesso, mas
quando o garrote ultrapassa o tempo de 1 minuto além do risco de hemólise 4,
ocorre também o aumento da pressão intravascular, resultando no
extravasamento de água e eletrólitos do plasma para o espaço extravascular
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levando ao aumento da concentração de células, enzimas, proteínas e outros


elementos ligados a proteínas que alteram significativamente no resultado.
• Tubo incorreto: cada tubo pode conter ou não um determinado aditivo que
serve para coagular o sangue mais rápido (tubos com ativados de coágulo) e
tubos com anticoagulantes que devem preservar o material assim como suas
características celulares. Identificar um tubo errado ou trocar essa lógica além
do acondicionamento incorreto e a quantidade do material colhido ser menor
do que o recomendado, pode fazer o paciente retornar ao laboratório para
repetir o teste causando desconforto e desconfiança em relação à qualidade
do laboratório.
• Ordem dos tubos de coleta: como falado anteriormente, cada tudo tem um
determinado aditivo para determinado fim, então deve haver uma oredem
correta de coleta de acordo com os aditivos, por exemplo: tubo para metais,
tubo com citrato de sódio, tubo seco (com ou sem gel separador), tubo com
heparina, tubo com edta e por fim tubo com fluoreto de sódio. Ao inverter essa
ordem ou coletar esses tubos aleatoriamente haverá uma contaminação
cruzada5 dessas substâncias que existem dentro dos tubos impactando a
análise adequada de certos eletrólitos6.
• Centrifugação inadequada: A centrifugação prévia serve para separar o soro 7
ou o plasma8 das células sanguíneas. Então, para a centrifugação antes do
tempo recomendado, não balancear os tubos adequadamente, não respeitar a
temperatura adequada de cada amostra pode causar hemólise e até quebrar o
tubo dentro da centrifuga gerando uma perca do material e uma nova
solicitação de coleta.

Considerações Finais

Então, meu principal objetivo é mostrar através desse trabalho científico, que erros
rotineiros que aparentemente parecem ser simples, não são tão simples assim e que
impactam diretamente na vida do paciente que muitas vezes precisa desse
diagnóstico para tomar uma medicação ou não, submeter-se a uma cirurgia ou não.
Um processo errado por pequena falha pode gerar um resultado grave dentro de um
ambiente institucional ocasionando até a morte de pessoas que necessitam desse
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serviço, por isso, como citado antes, deve-se seguir as orientações do técnico em sst
e da equipe da qualidade que cuida da biossegurança organizacional dentro da
empresa de atuação para que a equipe possa oferecer um melhor serviço e com
menos impacto no laudo final.

Referências

XAVIER, Ricardo M., DORA, José Miguel, BARROS, Elvino. Laboratório na Prática
Clínica, 3rd edição. ArtMed, 2016.
SILVA, Paulo da, ALVES, Hemerson Bertassoni, COMAR, Samuel Ricardo,
HENNEBERG, Railson, MER. Hematologia Laboratorial. ArtMed, 2015
FURTADO, ET.al. Utilidade dos indicadores de qualidade na gestão de laboratórios
clínicos: Universidade de São Paulo: scielo, 2011.
SANTOS, Paulo Caleb Júnior Lima. Hematologia – Métodos e Interpretação – Série
Análises Clínicas e Toxicológicas. Roca, 2012.
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Plebani M. Quality Indicators to Detect Pre-Analytical Errors in Laboratory Testing. The


Clinical Biochemist Reviews. 2012;33(3):85-88.

ANVISA, Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. RDC no 302, de 13 de outubro de


2005. [S. l.], v. p. 1–9, 2005.
ARAUJO, Roseana Neves Silva. Gestão pela qualidade: os reflexos na fase pré-
analítica dos laboratórios clínicos. 2013. 14 p. – Trabalho de Conclusão de Curso MBA
em Gestão Hospitalar, Atualiza Cursos, Salvador, 2013.

CHAVES, Carla D. Controle de qualidade no laboratório de análises clínicas. Jornal


Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, [S. l.], v. 46, n. 5, p. 2010, 2010. DOI:
10.1590/s1676-24442010000500002.
OLIVEIRA, C. F., & FERNANDES, T. R. L. (2016). Analysis of the pre-analytical phase
in a private pathology laboratory of Maringá city-PR, Brazil. Jornal Brasileiro de
Patologia e Medicina Laboratorial, 52(2), 78–83. https://doi.org/10.5935/1676-
2444.20160016
UGOLINI MUGNOL, Katia Cristina; FERRAZ, Marcos Bosi. Sistema de informação
como ferramenta de cálculo e gestão de custos em laboratórios de análises clínicas.
Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, [S. l.], v. 42, n. 2, p. 95–102,
2006. DOI: 10.1590/S1676-24442006000200006.

glossário
²Laboratorio de análises clinicas
³Saude e segurança do trabalho
4
A hemólise pode ser definida como uma ruptura das membranas das hemácias e a
consequente liberação de hemoglobina
5
é a transferência de substâncias ou microrganismos patogênicos entre um objeto e
outro
6
Ajudam a regular as funções dos nervos e músculos e manter um equilíbrio ácido-
base.
7
O soro é a parte liquida sem fibrinogênio e fatores de coagulação
8
O plasma é parte liquida com os fatores de coagulação

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