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BIOSSEGURANÇA EM SAÚDE:

Transportes em amostras biológicas


Ana Clara Fernandes Andrades
Jackeline Souza dos santos
Kayla Victória Teixeira dos Santos
Maria Beatriz Feitosa de Sales
Nágila Viana Campos Goes
Neuzilene Bezerra Ribeiro
Ghennitty Max Ferro Morais

RESUMO
O transporte de amostras biológicas é um processo crítico e desafiador que desempenha um
papel fundamental na pesquisa científica, diagnóstico médico e desenvolvimento de medicamentos.
Este artigo aborda os desafios enfrentados no transporte de amostras biológicas e apresenta as
melhores práticas para garantir a integridade e segurança dessas amostras durante todo o
processo. São discutidos aspectos como embalagem adequada, controle de temperatura,
documentação precisa e rastreabilidade, além da importância da colaboração entre diferentes
partes interessadas para um gerenciamento eficiente do transporte de amostras biológicas.
Palavras-chave: transporte de amostras biológicas, integridade das amostras, controle de
temperatura, embalagem adequada, rastreabilidade.

1. INTRODUÇÃO
O seguinte trabalho tem como foco refletir sobre as possíveis implicações no processo de
transporte adequado de amostras biológicas. Considerando que o transporte de amostras clínicas faz
parte da fase pré-analítica do processo de realização de exames laboratoriais.
A fase pré-analítica corresponde ao período entre a solicitação do clínico até a realização do
exame. Entretanto, uma das etapas mais críticas na fase pré-analítica para a manutenção da
integridade das amostras e a qualidade do processo analítico, até a liberação dos resultados dos
exames, é justamente o transporte. Pois as amostras estão sujeitas à influência da temperatura,
tempo entre outro.
Dessa forma, o efeito da temperatura dentro da embalagem e o tempo entre a coleta e o
processamento da amostra podem resultar na deterioração do material e acarretar possíveis erros nas
análises. Além disso, perdas na sensibilidade de testes para a detecção de microrganismos em geral
podem ocorrer em transportes inadequados, quando comparados a transportes realizados de
maneira.

1 Discentes de Biomedicina do Centro Universitário Leonardo da Vinci


2 Ghennitty Max Ferro Morais
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI - Curso : Biomedicina – Prática do Módulo I – 26/06/2023
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Biossegurança é o conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação
dos riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e
prestação de serviços. Estes riscos podem comprometer a saúde do homem e animais, o meio
ambiente ou a qualidade dos trabalhos desenvolvidos há ainda outros conceitos para a
biossegurança, como o que está relacionado à prevenção de acidentes em ambientes ocupacionais,
incluindo o conjunto de medidas técnicas, administrativas, educacionais, médicas e psicológicas. O
tema abrange ainda a segurança no uso de técnicas de engenharia genética e as possibilidades de
controles capazes de definir segurança e risco para o ambiente e para a saúde humana, associados à
liberação no ambiente dos organismos geneticamente modificados (OGMs).

Os OGMs foram desenvolvidos a partir do avanço da engenharia genética,


através da técnica de DNA recombinante. Esta técnica possibilita o
isolamento de um gene de um dado organismo e sua transferência para
outro organismo, transpondo barreiras de cruzamento entre as diversas
espécies de organismos. O resultado é um indivíduo semelhante ao
utilizado para receber a molécula de DNA recombinante, porém acrescido
de uma nova característica genética, proveniente de outro, que não é da
mesma espécie. Esse indivíduo é chamado transgênico (Azevedo et al.,
2000). A criação de OGMs deu origem a discussões científicas, éticas,
econômicas e políticas (Nodari; Guerra, 2003).

” É o nível exigido para o trabalho com agentes biológicos da classe de risco 2. O acesso ao
laboratório deve ser restrito a profissionais da área, mediante autorização do profissional
responsável.”
As manipulações de agentes microbianos muitas vezes patogênicos pelos trabalhadores de
laboratório faz da natureza do seu trabalho um perigo ocupacional. Uma melhor compreensão dos
riscos associados a manipulações desses agentes que podem ser transmitidos por diversas rotas tem
facilitado a aplicação de práticas de biossegurança apropriadas (COICO; LUNN, 2005).

2.1 TRANSPORTES DE AMOSTRAS BIOLOGICAS


Realizar o transporte de material biológico requer uma série de cuidados específicos e
regras bem definidas. Para isso, a Anvisa publicou em 2014 a RDC 20, que estabelece os padrões
sanitários para o manuseio desse tipo de material de origem humana feito pelas empresas
transportadoras.
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No entanto, as normas também se aplicam a todos os envolvidos no processo: remetente,


transportador de diferentes modais e destinatário. Assim, os capítulos da RDC 20 tratam das
responsabilidades, embalagens, rotulagem e acondicionamento das amostras. Além disso, a
conservação adequada é imprescindível para manter as características e oferecer os resultados
corretos, em caso de exames.
Conforme a RDC 20, cabe ao transportador garantir a infraestrutura necessária para o
transporte de material biológico, de acordo com seu tipo de classificação de risco. Inclusive
portando documentos e sistemas que permitam a rastreabilidade da carga.
Nesse sentido, entender essa importância é tarefa tanto dos gestores de laboratórios, quanto
das empresas transportadoras e suas equipes. Nas duas pontas, desde a coleta do material até a
entrega ao destinatário, é fundamental manter o processo dentro das boas práticas recomendadas
pelos órgãos reguladores.
No Brasil, existem pelo menos quatro modais de transporte, divididos em três categorias:
terrestre (rodoviário e ferroviário); aquaviário; aéreo. Cada um deve obedecer, além da RDC 20, à
legislação aplicada pelas agências nacionais, sendo respectivamente ANTT, ANTAQ e ANAC. O
que torna ainda mais criterioso e difícil todo o processo
Os recipientes e materiais utilizados para guardar as amostras devem ser escolhidos e
manuseados de forma adequada. Isso evita a contaminação ou mesmo a perda do material. Por isso,
todas as embalagens, instrumentos e demais equipamentos devem estar de acordo com a
especificidade do tipo de material e da modalidade de transporte.
A partir da classificação dos materiais e da determinação de regras, laboratórios,
transportadoras e receptoras precisam estar alinhados dentro de cada ponto estabelecido.
De acordo com a RDC 20, o material biológico deve ser classificado como:
substâncias infecciosas – Categoria A;
substâncias biológicas – Categoria B;
espécime humano de risco mínimo;
materiais biológicos isentos.
A partir de cada categoria, são definidas as especificações para rotulagem, embalagem e
transporte. De acordo com o tipo de material, sua classificação de risco e critérios de conservação, a
RDC 20 determina quais embalagens devem ser utilizadas e de que forma deverá ser feita sua
rotulagem.
O primeiro passo para o transporte seguro de material biológico é o seu correto
acondicionamento em embalagens adequadas, além de seguir adequadamente processo de
empacotamento: IATA PI 602 (substâncias pertencentes à categoria A) e PI 650 (substâncias
pertencentes à categoria B).
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O sistema de tripla embalagem (Figura 1) é padronizado pela International Air Transport


Association (IATA) e pela ONU, sendo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
visando garantir o transporte seguro deste tipo de material.
A embalagem externa deve conter a simbologia internacional (Figura 2) para indicar o tipo
de substância transportada e a posição obrigatória da caixa de transporte.

Figura 1 – Exemplo do sistema de tripla embalagem para transporte de material biológico


Fonte: Adaptado de Associação Internacional de Transportes Aéreos, 201110

A: Substâncias infecciosas; B: Rótulo de risco; C: Substâncias perigosas diversas; D: Posição obrigatória da caixa de transporte.
Figura 2 – Simbologias usadas em embalagens externas para transporte de material biológico
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2.2 TRANSPORTE INADEQUADO

O transporte inadequado pode causar alteração no resultado consequentemente gerando


alteração direta no resultado, podendo comprometer sobre a qualidade, confiabilidade e a
integridade, sujeitando o paciente e o laboratório a um transtorno.

Após uma denúncia feita pelo Sindicato dos Motociclistas Profissionais do


Espírito Santo, sobre o transporte irregular de amostras de sangue na região
Metropolitana, a Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC) confirmou
que o deslocamento em condições inadequadas pode alterar resultados de
exames. No flagrante, motoboys mostraram o material biológico sendo
carregado nos baús das motocicletas, sem proteção ou higiene.

Imagem 1 -Amostras de sangue, fezes e urina são armazenadas na mesma caixa térmica
Fonte: D’ Oliveira, Rafael (2023).
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Imagem 2 - Amostras de sangue misturadas com exames de urina e fezes.


Fonte: D’ Oliveira, Rafael (2023).

Imagem 3 - Amostras de sangue são transportadas irregularmente, segundo Sindicato dos Motociclistas
Profissionais do ES.
Fonte: G1 (2020)

Fonte: D’ Oliveira, Rafael (2023).


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“Os motoristas são obrigados a buscar as vacinas na Secretaria de Saúde e transportar o


material no carro, sem segurança nenhuma e sem equipamentos necessários.”
Podemos destacar também neste tópico a importância dos órgãos públicos em fiscalizar e sociedade
em denunciar, caso venha flagrar algum transporte ou manuseio inadequado de amostras biológicas.

De acordo com o jornal G1, veículo foi flagrado transportando amostras


biológicas de forma irregular em Navegantes no litoral Norte catarinense,
através de informações da Secretaria Municipal de Segurança. Veículo foi
parado, no intuito de tentar conter uma possível transmissão do novo
Coronavírus. Tanto o motorista quanto o laboratório confirmaram que
exames se tratava de Covid-19.

2.3 MANEIRA INCORRETA DE TRANSPORTE:


• Dano no Embalagem / Aberto / Soltas
• Exposição / Contato
• Embalagem inapropriada
• Exposição (Calor / Frio / Radiação / Umidade)
• Exposição a tempo Excessivo
• Indivíduo comum / Sem treinamento
• Transporte não licenciado.
• Sem EPIs
• Sem sinalização / Identificação / Informações

Desta forma podemos identificar o grau da importância de um transporte adequado das amostras
biológicas, e o risco exposto tanto ao transportador quanto para sociedade em geral, quando uma
amostra biológica é transportada de forma irregular.

2.4 – GERENCIAMENTO DE CRISE


O transporte de amostras biológicas desempenha um papel crucial. No entanto, esse
processo está sujeito a uma série de riscos, incluindo a possibilidade de danos às amostras durante o
transporte, a exposição a condições inadequadas de temperatura e a ocorrência de acidentes ou
desastres naturais. Portanto, é essencial implementar estratégias eficazes de gerenciamento de crise
para minimizar esses riscos e garantir a segurança das amostras biológicas.
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O transporte de amostras biológicas enfrenta vários desafios, como a necessidade de manter


condições específicas de temperatura, a fragilidade das amostras e a possibilidade de contaminação.
Esses desafios aumentam o risco de perda de amostras e deterioração da qualidade dos resultados
obtidos a partir delas.
Uma abordagem eficaz para o gerenciamento de crise em transporte de amostras biológicas
envolve a identificação prévia dos riscos, o desenvolvimento de planos de contingência e a
implementação de medidas preventivas. Além disso, é fundamental treinar a equipe envolvida no
transporte para lidar com situações de emergência de forma adequada e segura.

No caso de acidentes durante o transporte de material biológico, como


vazamentos, por exemplo, é necessário que se tome decisões rapidamente,
levando em consideração a maior quantidade de informações possíveis,
como o tipo de material envolvido, a gravidade e tipo da exposição e a
possibilidade de identificação ou não do paciente-fonte e de sua condição
sorológica.

Em caso de derramamentos e acidentes com material potencialmente infectante, o local


precisa ser imediatamente identificado com alerta de risco e isolado.

A área atingida deve ser completamente coberta com material absorvente,


seguida da aplicação do agente mais adequado para inativação do agente
biológico (deve-se verificar o tempo de exposição e produto a ser usado
para cada tipo de agente biológico, garantindo sua completa inativação ou
redução de carga infecciosa).

Para realizar esta atividade deve-se usar EPI adequado, como luvas resistentes, avental,
proteção facial, proteção para os calçados com material impermeável e descartável.
Se o derramamento contiver vidro quebrado ou outros objetos, estes devem ser recolhidos
com o auxílio de pinças, folhas rígidas de cartão ou pás de lixo plásticas, e descartadas em um
recipiente para recolhê-los.

Se o derramamento contiver vidro quebrado ou outros


objetos, estes devem ser recolhidos com o auxílio de
pinças, folhas rígidas de cartão ou pás de lixo plásticas, e
descartadas em um recipiente resistente (apropriado para
material com risco biológico, à prova de perfurações)
para recolhê-los.
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Todo indivíduo exposto deve ser encaminhado para avaliação médica o


mais rápido possível, para que sejam avaliadas as possibilidades de
contaminação e para serem tomadas as condutas preventivas ou terapêuticas
quando indicadas, assim como deve ser procedida a rápida notificação à
chefia imediata e à instituição.

Após a coleta do material, a área ou superfície onde houve o derramamento deve receber
novamente solução descontaminaste adequada à inativação do agente biológico. Quando há risco
biológico ao meio ambiente ou à comunidade é preciso comunicar imediatamente aos responsáveis
da instituição para que acionem o Corpo de Bombeiros, o qual possui um Grupamento de
Operações com Produtos Perigosos.
No ato do comunicado serão recebidas instruções a serem tomadas até a chegada do
agrupamento.

3. CONCLUSÃO

O transporte de amostras biológicas desempenha um papel crucial na pesquisa científica,


diagnóstico médico e desenvolvimento de medicamentos. Neste estudo, abordamos o
gerenciamento de crise nesse processo, destacando a importância de estratégias eficazes para
mitigar os riscos associados ao transporte de amostras biológicas. Com base na revisão da literatura
e nas melhores práticas discutidas, podemos concluir que a implementação de medidas preventivas
e o desenvolvimento de planos de contingência são fundamentais para garantir a segurança e a
integridade das amostras durante o transporte.
Durante a pesquisa, identificamos diversos desafios enfrentados nesse contexto, como a
necessidade de manter condições específicas de temperatura, a fragilidade das amostras e o risco de
contaminação. É imprescindível selecionar embalagens adequadas e utilizar materiais de isolamento
térmico eficientes para minimizar os riscos de danos e garantir a estabilidade das amostras. Além
disso, é crucial estabelecer procedimentos padronizados e treinar a equipe envolvida no transporte,
para que estejam preparados para lidar com situações de emergência de forma segura e eficaz.
Ao longo do estudo, encontramos evidências de que o transporte inadequado de amostras
biológicas pode comprometer a integridade do material genético, resultando em dados imprecisos
nos testes laboratoriais. Portanto, é necessário adotar medidas rigorosas de controle de qualidade,
incluindo registros precisos e rastreáveis de todas as etapas do processo de transporte, desde a coleta
até a entrega final.
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É importante ressaltar que o gerenciamento de crise em transporte de amostras biológicas


deve ser abordado de maneira multidisciplinar, envolvendo profissionais da área de logística,
embalagem, controle de temperatura e equipe laboratorial. A colaboração entre essas diferentes
áreas é essencial para garantir a eficiência e a segurança do transporte, evitando perdas de amostras
e garantindo resultados confiáveis.
Diante disso, é fundamental que as instituições e empresas envolvidas no transporte de
amostras biológicas adotem políticas e diretrizes claras de gerenciamento de crise, baseadas nas
melhores práticas e normas estabelecidas. A implementação dessas medidas contribuirá
significativamente para a preservação da qualidade das amostras, bem como para a confiabilidade
dos resultados obtidos, fortalecendo assim a pesquisa científica e o avanço do conhecimento na área
da saúde.

4. REFERÊNCIAS

ANVISA. (12 de julho de 2013). Fonte:


http://portal.anvisa.gov.br/wps/content/Anvisa+Portal/Anvisa/Inicio/Medicamentos/
Assunto+de+Interesse/Produtos+Biologicos

Barbosa LEP, Fonseca JP, Pereira AD, Morgado ALT, Simas Junior CA, Conceiçao Junior LM, et
al. Manual básico de operações com produtos perigosos [Internet]. Rio de Janeiro: Secretaria de
Estado da Defesa Civil; [2003] [citado 2014 mar 20].

BRASIL. Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Transporte Aéreo de Artigos Perigosos –
Substâncias Infecciosas. Centro de Treinamento – Anac, 2012.

BRASIL. (17 de agosto de 2005). RDC n° 234. Dispõe sobre a importação de produtos biológicos
em sua embalagem primária e o produto biológico terminado sujeito ao regime de vigilância
sanitária.

BRASIL. (16 de Dezembro de 2010). RDC n° 55. Dispõe sobre o registro de produtos biológicos
novos e produtos biológicos e dá outras providências

BRASIL. (16 de abril de 2010). RDC n° 17. Estabelece os requisitos mínimos a serem seguidos na
fabricação de medicamentos.
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CARRO é flagrado transportando material biológico de forma irregular em Navegantes, diz


prefeitura. G1, Santa Catarina, 21 março 2020.

COICO, R.; LUNN, G. Biosafety: guidelines for working with pathogenic and infectious
microorganisms. Current Protocols in Immunology, cap.1A, unid.1A, 2005.

D’ Oliveira, Rafael ‘Vacinas transportadas de maneira irregular colam população de BH em risco’


BHAZ, Belo horizonte MG, p online, 06 dezembro 2019 às 18:18. BH.

International Air Transport Organization. Dangerous goods regulations [Internet]. 52nd ed.
Montreal: IATA; 2011 [cited 2015 Mar 20]. p. 127-30. Available from:
http://dgitraining.com/content/pdf/ iataaddendumjan2011.pdf.

Manual de Vigilância Sanitária Sobre o Transporte de material Biológico Humano para fins de
Diagnóstico Clínico. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR
14785. LABORATÓRIO CLÍNICO-REQUISITOS de SEGURANÇA.2001.

MARTINS AUGUSTO. C “et al”. Biossegurança em transporte de material biológico no âmbito


nacional. Laboratório de pesquisa em Infecção Hospitalar, Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro.

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