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Curso Análises clinicas e saúde Pública

Ano: 2

Cadeira: Bioquímica clínica 1

Docente: Ndongala Garcia Sumbo

Aula nº 1

Unidade I: Introdução a bioquímica clínica

Sumário: Introdução a disciplina

Laboratório de bioquímica clínica

A bioquímica originou-se como um ramo da fisiologia humana,


que através da observação da urina, do sangue e de outros fluidos
naturais poderiam auxiliar no diagnóstico desta ou daquela doença. Nos
seus primórdios, a bioquímica foi consequentemente conhecida como
Química Fisiológica. Nos dias atuais, a Fisiologia, de acordo com
algumas literaturas é a “ciência das funções normais e dos fenômenos
que se passam nos seres vivos”. Se ocupa particularmente dos aspectos
químicos destas funções e destes fenômenos, sendo um dos meios pelos
quais pode ser estudada a fisiologia .

Já a bioquímica clínica, também chamada de química clínica, é


o ramo da medicina laboratorial que utiliza métodos químicos e
bioquímicos para o estudo das doenças. O ramo na bioquímica clínica
de forma geral, mas não exclusivamente, abrange os estudos não
morfológicos, como a pesquisa de alterações no sangue e na urina.
Além desses fluidos, ainda podem ser feitas análises de outros fluidos
corporais, como do líquor, das secreções da cavidade nasal e oral, das
secreções gástricas, entre outras. Os exames relacionados à bioquímica
abrangem cerca de um terço dos testes de um laboratório clínico.

Os laboratórios clínicos têm o papel de produzir e fornecer


informações diagnósticas no suporte às decisões clínicas.

A realização de exames laboratoriais ocorre em um ambiente


extremamente complexo, onde coexistem procedimentos,
equipamentos, tecnologia e conhecimento humano (SHCOLNIK,
2012), e que estão em constante modificações por questões
tecnológicas, científicas ou de mercado.

A qualidade dos laboratórios clínicos é de extrema importância,


e tem sido impulsionada por requisitos legais e de reconhecimento da
qualidade via programas de acreditação.

Os exames bioquímicos são utilizados para diagnóstico e para o


acompanhamento de um tratamento, e podem ser úteis na triagem de
doenças e no prognóstico, caso o diagnóstico já tenha sido realizado.
Há também uma outra vertente dos testes bioquímicos, a utilização dos
testes em pesquisa científica sobre a base das doenças e para o
desenvolvimento de novos fármacos (Figura 1) (TIETZ; BURTIS;
BRUNS, 2016).

Exames básicos e especializados

Os laboratórios clínicos e hospitalares oferecem serviços


bioquímicos básicos, entretanto, não necessariamente no mesmo nível,
ambos podem disponibilizar “análises básicas”, sendo testes requeridos
rotineiramente para vários pacientes e com frequência (TIETZ;
BURTIS; BRUNS, 2016). Os exames especializados referem-se a uma
variedade de especialidades dentro da bioquímica clínica.

O laboratório clínico pode não ser totalmente equipado para a


realização dos exames bioquímicos solicitados pelo médico, portanto,
para o diagnóstico, por exemplo, de alguma doença rara que requer a
utilização de exame bioquímico, pode-se encaminhar a amostra do
paciente para centros de referências que realizarão os testes específicos
(TIETZ; BURTIS; BRUNS, 2016).

Exames básicos

 Sódio
 potássio
 Ureia
 Creatinina
 Cálcio
 Proteínas totais
 Albumina
 Bilirrubina
 TGO
 TGP

Exames especializados

 Hormônios
 Proteínas específicas
 Vitaminas
 Drogas
 Lipídeos e lipoproteínas
Existem duas formas básicas para realizar a análise do material
coletado para o exame: análises automatizadas e análises manuais. A
última pode ser realizada através de kits comerciais ou reagentes
preparados no laboratório. A forma com que um exame será realizado
varia de acordo com a demanda, o tipo de laboratório, entre outras
circunstâncias. Um critério para a adoção de determinados
procedimentos de análise é a frequência com que um exame é
solicitado. Exames que são realizados em grande quantidade e
diariamente por um laboratório (por ex., perfil lipídico e glicêmico
sanguíneo, bilirrubinas ) são, muitas vezes, automatizados. Já exames
cuja demanda não é tão alta, comumente são feitos de forma não
automatizada, tanto através de kits comerciais previamente prontos
como a partir de reagentes preparados dentro do próprio laboratório.
Aula n: 2

Sumário : fases dos exames laboratóriais

Didaticamente, os processos que envolvem desde o pedido de


exame, até entrega do resultado ao paciente podem ser divididos em três
fases: pré-analítica, analítica e pós analítica. A fase pré-analítica
consiste na preparação do paciente, coleta, manipulação e
armazenamento do espécime diagnóstico, antes da determinação
analítica. A fase pré analítica, portanto, engloba todas as atividades que
precedem o ensaio laboratorial, dentro ou fora do laboratório de análises
clínicas (MOTTA, 2009). A fase analítica inicia-se com a validação do
sistema analítico, através do controle da qualidade interno na amplitude
normal e patológica, e se encerra quando a determinação analítica gera
um resultado. Já a fase pós-analítica inicia-se após a geração do
resultado analítico, quantitativo e/ou qualitativo, sendo finalizada após
a entrega do laudo (MOTTA, 2009).

Cada fase é de suma importância em um laboratório clínico. Erros


que ocorram na fase inicial, média ou final vão consequentemente
alterar o resultado final da análise.
Precisamos levar em consideração as variações nos ensaios
laboratoriais, dentre elas a variação biológica. As variações dos
componentes biológicos presentes nos fluídos orgânicos apresentam
oscilações constantes de seus níveis. Por exemplo, temos um ritmo
circadiano, que influencia as diversas secreções fisiológicas. Assim,
para a maior parte dos exames é necessária a padronização de horários,
para que os valores obtidos possam ser comparados aos valores de
referência. A interpretação dos analitos de uso diagnóstico pode ser
alterada através dessas oscilações presentes no componente biológico
(GIRELLI et al., 2004). Podemos então classificar essas variáveis em
pré-analíticas, analíticas e biológicas, as quais podem ser descritas .

IMPORTÂNCIA DOS EXAMES LABORATORIAIS

Os exames laboratoriais estão assumindo uma posição


importante e crescente no processo de diagnóstico e monitoramento na
medicina moderna. Os serviços laboratoriais vêm obtendo um
crescimento substancial nos últimos anos. Em uma pesquisa realizada
no Reino Unido observa-se um crescimento das requisições na
assistência primária de 83% entre os anos de 2000 e 2004, e tendência
semelhante é verificada internacionalmente (PLEBANI, 2007). O
laboratório clínico integra a cadeia de assistência à saúde,
desempenhando um papel vital e contribui para mais de 70% das
decisões médicas, como admissão de pacientes em unidades de saúde,
diagnóstico e prognóstico de doenças, seleção da terapia mais
adequada, avaliação da resposta aos tratamentos e avaliação de critério
de cura ou de altas hospitalares. O laboratório clínico contribui ainda
para a determinação de fatores de risco e de estados biológicos, como a
avaliação da eficácia de imunização e iniciativas de prevenção de
doenças e promoção da saúde .
AULA Nº 3

Sumário: Noções de coleta, separação e armazenamento do


material

Para realizar os exames gerais e bioquímicos é essencial que o


laboratório receba a amostra correta para o teste requisitado,
juntamente com informações para assegurar que o teste ideal seja
realizado, fazendo com que o resultado retorne ao médico requisitante
no prazo. É importante a inclusão do máximo de detalhes no formulário
de requerimento a fim de auxiliar tanto a equipe do laboratório quanto
o médico na interpretação dos resultados. Essa informação pode ser
muito importante ao se avaliar o progresso de um paciente ao longo de
um período, ou ao se reavaliar um diagnóstico. Inúmeras amostras são
utilizadas nas análises bioquímicas, tais como: sangue arterial,venoso e
capilar; urina; LCR; expectoração e saliva; fluido pleural, ascite
Coleta de amostra de sangue
A forma da coleta de uma amostra de sangue é fundamental para
a viabilização das análises. As amostras de sangue podem ser coletadas
em tubos comuns ou em tubos com anticoagulantes. Quando coletado em
tubos comuns, o sangue coagula; assim, após a centrifugação do material
(sangue coagulado) obtém-se uma amostra de soro. Já quando o sangue é
coletado em tubos com anticoagulantes, como a heparina, EDTA o
sobrenadante obtido é o plasma.
FIGURA – TUBOS DE COLETA SOB VÁCUO UTILIZADOS EM
LABORATÓRIO CLÍNICO E EM HOSPITAIS

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/32FUARD>. Acesso em: 30


nov. 2020.
Coleta de amostra de urina

Frascos de amostra de urina, para análises de rotina não possuem


conservantes e devem ser refrigerados, entretanto, alguns frascos podem
conter conservante para inibir o crescimento bacteriano, ou ácido para
estabilizar certos metabólitos. Eles devem ser grandes o suficiente,
normalmente frascos de um litro, para coletar uma amostra completa de
24 horas. Amostras de urina aleatórias são coletadas em frascos “universais”
(MOTTA, 2009).

Outros tipos de amostras

Para alguns testes, fluidos ou tecidos específicos podem ser


necessários. Há protocolos específicos para a manipulação e
transporte dessas amostras para o laboratório. Cada laboratório local
apresenta um protocolo de coleta de amostras específicas (MOTTA,
2009).
Análise da amostra

Inicialmente, as amostras devem estar devidamente etiquetadas e


identificadas. Todos os procedimentos de análise devem passar pelo
controle de qualidade, buscando sempre a confiabilidade da análise
laboratorial.

Análise de resultados variáveis

As medidas bioquímicas podem variar pelo analito ou por


condições biológicas. A analítica está relacionada a uma variação da
performance do exame, já as biológicas estão relacionadas a alterações
reais que ocorrem nos líquidos corporais dos seres humanos ao longo
do tempo.

Vários termos podem definir a performance dos resultados


bioquímicos, dentre eles temos, precisão e exatidão; sensibilidade e
especificidade; garantia de qualidade e intervalos de referência.
Precisăo e exatidăo.

A precisão é um indicador da reprodutibilidade de um analito. A


exatidão nos mostra qual a proximidade do valor mensurado está para o
real, garantindo assim a confiabilidade do método analítico utilizado.
Podemos fazer uma analogia ao jogo de dardos (Figura 2) a dispersão de
resultados que podem ser obtidos por um indivíduo com pouca técnica,
em comparação aos resultados de alguém com boa precisão, em que os
resultados estão agrupados. Mesmo quando os resultados estão todos
próximos, eles podem não estar no centro do alvo. Nesse caso, não há
exatidão, como se a mira estivesse desalinhada. O objetivo de todo
método bioquímico é prover precisão e exatidão. A automação das análises
melhorou a precisão na maioria dos casos (TIETZ; BURTIS; BRUNS,
2016).
FIGURA 2 – CARACTERÍSTICAS REPRODUTIBILIDADE E
CONFIABILIDADE NOS EXAMES CLÍNICOS

FONTE: O autor

Sensibilidade e especificidade (testes)

A sensibilidade e a especificidade são caracterizadas como as


propriedades de um teste. A sensibilidade nos indica a capacidade de um
teste em identificar, dentre as pessoas com suspeita da doença, aquelas
realmente doentes. Já a especificidade é a capacidade do mesmo teste
ser negativo nos indivíduos que não apresentam a doença que está sendo
investigada.
Quando pensamos no melhor cenário para um teste no laboratório clínico, o
ideal seria que aquele teste apresentasse 100% de sensibilidade e de
especificidade. Assim, teríamos apenas dois resultados: negativo (a pessoa
não estaria doente) ou positivo (o indivíduo estaria doente), e assim, não
teríamos o falso-negativo ou o falso-positivo. Mas infelizmente, isso
raramente ocorre na prática.

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