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Jornada através do Livro de Exercícios

Volume Quatro

Lições 121 a 150

Um Curso em Milagres

Kenneth Wapnick, Ph.D.

Foundation for A Course in Miracles


1
SUMÁRIO POR VOLUME

Volume Um

Prefácio
Agradecimentos
Prelúdio
Introdução
Nível Um
A Unicidade do Céu
A Trindade Profana do Ego
Nível Dois
O Sistema de Pensamento de Culpa e Ataque da Mente Errada do Ego
O Sistema de Pensamento de Perdão da Mente Certa do Espírito Santo

Introdução ao Livro de Exercícios


Lições 1 – 60

Volume Dois

Lições 61 – 90

Volume Três

Lições 91 – 120

Volume Quatro

Lições 121 – 150

Volume Cinco

Lições 151 – 180

Volume Seis

Lições 181 – 220

Volume Sete

Introdução à Parte II
Lições 221 – 365
Epílogo

Poslúdio

Volume Oito

Índice Completo de Referências ao Um Curso em Milagres

Foundation for A Course in Miracles

Material Relacionado
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LIÇÃO 121

O perdão é a chave da felicidade.

Nessa lição muito importante, encontramos o contraste entre o perdão e a falta de perdão
que o ego gostaria que praticássemos. O símbolo da chave é importante considerando o que o
ego faz com nossas mentes. Quando o tomador de decisões foi convencido pelo ego a
escolher a individualidade em vez da unicidade, persuadido no instante ontológico a escolher a
interpretação do ego sobre a diminuta e louca idéia em vez da interpretação do Espírito Santo,
e, portanto, a acreditar em sua mentira de individualidade, foi como se o Espírito Santo tivesse
sido trancado fora do caminho, na mente certa na qual Ele habita. A culpa na mente errada
então substituiu o amor e a Expiação da mente certa do Espírito Santo em nossa consciência.
Nesse ponto, o ego nos fez ver a culpa como tão intolerável que tivemos que deixar a mente
inteiramente e fazer um mundo, enclausurando-nos em um corpo. Conseqüentemente, não só
a mente certa se tornou separada da consciência, mas a mente errada também. Toda a mente
dividida, em certo sentido, passou a estar trancada em uma caixa ou tumba, com a chave
claramente oculta dentro do corpo.
O perdão, então, é a chave que abre nossas mentes. Esse é o nome que o Um Curso em
Milagres dá ao processo de perceber que o que nos transtorna não é o que está acontecendo
dentro do nosso próprio corpo ou no de outros. Nossa culpa nos transtorna. Essa compreensão
destranca a primeira parte de nossas mentes. Indo para a mente errada e olhando com Jesus
para sua culpa, percebemos que ela também foi inventada. Nosso reconhecimento faz com
que ela desapareça, o que destranca a mente certa, onde o princípio da Expiação espera por
nós.
O perdão, portanto, abre a mente que o ego trancou. Ele nos disse que a felicidade é
encontrada no mundo, atendendo nossas necessidades corporais. O Espírito Santo, por outro
lado, ensina que a felicidade real vem quando destrancamos a presença do amor que tínhamos
enterrado – aparentemente para sempre – em nossas mentes. Essa lição maravilhosa nos leva
ainda mais adiante em nossa jornada através da raiva e da culpa, para a impecabilidade que é
o nosso lar.

(1) Eis aqui a resposta para a tua busca de paz. Eis aqui a chave do significado em um
mundo que parece não fazer sentido. Eis aqui o caminho para a segurança nos perigos
aparentes que parecem ameaçar-te a cada esquina, trazendo a incerteza para todas as
tuas esperanças de jamais achar a quietude e a paz. Aqui, todas as perguntas são
respondidas, aqui está finalmente assegurado o fim de toda incerteza.

Mais uma vez nos é dito que vamos vivenciar problemas, perigo e inquietude aqui; e a
resposta para tudo isso repousa no perdão. A resposta nunca será encontrada por sermos
indulgentes com nosso especialismo, pois precisamos voltar à fonte do problema – o tomador
de decisões na mente, que escolheu errado. O perdão nos leva até lá, para desfazermos o
equívoco. Além disso, o perdão é o único conceito que provê qualquer “significado em um
mundo que parece não fazer sentido”. O mundo realmente não faz sentido quando visto
através da mente do especialismo e dos interesses separados. No entanto, o perdão corrige
gentilmente essa percepção da mente errada, mudando nosso pensamento para os interesses
compartilhados. Quando nosso auto-conceito estiver restaurado ao tomador de decisões,
estamos livres finalmente para fazer a única escolha certa e ver nosso irmão como nós
mesmos.
Os parágrafos 2 a 5 descrevem a natureza da mente que não perdoa. Embora a culpa
não seja especificamente discutida nesses parágrafos, ela está sob as palavras de Jesus que
apontam para a culpa na mente em relação às nossas ações pecaminosas contra Deus. O
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horror dessa culpa nos impele a projetá-la nos outros, julgando-os pelo pecado secreto que
acreditamos estar em nós mesmos. Eu não perdôo você porque preciso das mágoas para
torná-lo responsável pela minha infelicidade, vendo-o como o vitimador que injustamente colide
com minha face de inocência. O leitor pode se recordar desse termo importante de “Auto-
conceito versus Ser”; o auto-conceito que justifica o fato de nos tornarmos uma mente que não
perdoa, e alegremente permanecermos dessa forma:

Acredita [a face da inocência] que é boa dentro de um mundo mau... Esse aspecto
pode ter raiva, pois o mundo é ruim e não é capaz de prover o amor e o abrigo que a
inocência merece. E assim, freqüentemente, essa face se banha de lágrimas pelas
injustiças que o mundo faz para com aqueles que querem ser generosos e bons.
Esse aspecto nunca ataca em primeiro lugar. Mas a cada dia, uma centena de
pequenas coisas constituem pequenos ataques à sua inocência, provocando-a à
irritação e, afinal, abertamente ao insulto e ao abuso.
A face da inocência que o auto-conceito veste com tanto orgulho pode tolerar o
ataque em autodefesa, pois não é fato bem conhecido que o mundo trata com
dureza a inocência indefesa? Ninguém que faça um retrato de si mesmo omite essa
face, pois tem necessidade dela (T-31.V.2:9-4:2).

A mente que não perdoa, oculta por trás da face de inocência, portanto, tem sua base na
culpa, que também é a fonte de suas características, que Jesus agora descreve:

(2:1) A mente que não perdoa é cheia de medo e não oferece espaço ao amor para ser
ele mesmo, nenhum lugar onde ele possa estender as suas asas em paz e elevar-se
acima do tumulto do mundo.

Ela é cheia de medo porque o ódio e o assassinato que acreditamos estar dentro de nós,
projetamos nos outros. Assim, tudo o que mantemos contra nós mesmos – começando com a
crença em que assassinamos Deus para que pudéssemos viver – é visto em algum outro lugar.
Segue-se a isso, portanto, que ficamos aterrorizados porque vemos assassinos em todos os
lugares ao nosso redor, não percebendo que é o nosso sonho, e que nós somos os
verdadeiros assassinos, como essa declaração familiar do texto deixa claro:

O segredo da salvação é apenas esse: tu estás fazendo isso a ti mesmo. Seja qual
for a forma do ataque, isso ainda é verdadeiro. Seja quem for que se coloque no
papel do inimigo e do agressor, isso ainda é a verdade. Seja o que for que pareça
ser a causa de qualquer dor ou sofrimento que sintas, isso ainda é verdadeiro. Pois
não reagirias de forma alguma a figuras de um sonho que soubesses que estavas
sonhando. Que elas sejam tão odientas e más quanto puderem, não poderiam ter
nenhum efeito sobre ti, a não ser que tenhas fracassado em reconhecer que esse é
o teu sonho (T-27.VIII.10).

Portanto, a verdadeira fonte do meu medo é esquecer o sonho e suas origens. Uma vez
que mantenho mágoas contra você – me tornando uma mente que não perdoa -, esqueço que
o medo vem de mim, o sonhador do sonho. Tudo o que eu vejo é medo ao meu redor, pronto a
me golpear:

Tu vês a ti mesmo como vulnerável, frágil, facilmente destruído e à mercê de


inúmeros agressores mais poderosos do que tu (T-22.VI.10:6).

Uma vez que eu não sei que o ataque vem da minha mente, não existe maneira de
escapar do medo, exceto por continuar me defendendo, projetando e atacando de novo e de
novo.
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(2) A mente que não perdoa é cheia de medo e não oferece espaço ao amor para ser ele
mesmo, nenhum lugar onde ele possa estender as suas asas em paz e elevar-se acima
do tumulto do mundo. A mente que não perdoa é triste, sem esperança de descanso e de
liberar-se da dor. Ela sofre e habita na miséria, espreitando a escuridão sem ver, mas
certa do perigo que lá a ronda.

Jesus descreve um paranóico clássico: alguém que está aterrorizado, embora não exista
perigo objetivo. Tudo o que a pessoa paranóica vê é seus próprios pensamentos assassinos,
dirigidos pela culpa, projetados para fora. Ainda que o inimigo não possa ser visto, eles sabem
que o inimigo está lá. O inimigo não visto final, de quem temos um medo terrível, é o Deus da
projeção de culpa e vingança do ego, determinado a nos destruir pelos nossos pecados contra
Ele. Enquanto a culpa estiver em nossas mentes, será projetada e julgada em todos os outros.
O sofrimento, portanto, é inevitável, e a paz impossível. O ego nos assegura que nosso
sofrimento tem valor, porque ele prova que algo ou alguém mais fez isso conosco,
estabelecendo-nos como vítimas inocentes do pecado de outra pessoa. Em uma passagem
encontrada depois, na seção já citada, lemos essas linhas, tão devastadoras para todos os que
pensam que estão justificados em sua dor e sofrimento:

Ver um mundo culpado não é senão o sinal de que o teu aprendizado foi guiado pelo
mundo e tu olhas para ele assim como vês a ti mesmo. O auto-conceito engloba
tudo aquilo que contemplas e nada está fora dessa percepção. Se podes ser ferido
por qualquer coisa, vês um retrato dos teus desejos secretos. Nada mais do que
isso. E, em qualquer espécie de sofrimento que possas ter, vês o teu próprio desejo
escondido de matar (T-31.V.15:6-10).

Jesus consistentemente nos ajuda a ver nossos egos pelo que eles são. Só então
podemos escolher contra eles de forma significativa. Ele continua sua exposição sobre a falta
de perdão do ego:

(3:1) A mente que não perdoa é dilacerada pela dúvida, confusa a respeito de si mesma e
de tudo o que vê; medrosa e com raiva, fraca e ameaçadora, com medo de seguir
adiante, com medo de ficar; com medo de acordar ou de adormecer, com medo de
qualquer som, todavia com mais medo ainda do silencio; aterrorizada pela escuridão e
no entanto mais aterrorizada ainda com a aproximação da luz.

Essa é a condição de todos os que pensam estar nesse mundo. Nós lutamos para
esconder nosso medo, ódio e auto-dúvida, absolutamente certos de que sabemos o que é
verdadeiro, embora, bem dentro de nós, sabendo que Deus pensa de outra forma (T-23.I.2:7).
A fonte desse medo não está do lado de fora, mas vem do que tornamos real dentro de nós: a
crença em que assassinamos Deus e destruímos Seu Lar. Nós agora ficamos parados,
aterrorizados de que Deus se erga da tumba na qual O colocamos, e volte para nos punir.
Ninguém pode existir com tal medo, e nós agimos rapidamente para ocultá-lo, fazendo um
mundo e um corpo nos quais nos escondermos, e depois invocando nosso especialismo para
proteger nossas mentes aterrorizadas de tudo o que acreditamos que espreita lá, em malicioso
silêncio. Nós ingenuamente acreditamos no conto do ego de que tais defesas iriam nos
proteger do medo.
Lembrem-se de que nós trancamos e enterramos tanto a mente certa quanto a mente
errada. Nós não apenas tememos a escuridão da culpa, mas a luz da Expiação, em cuja
presença nossa individualidade desaparece. Isso transforma nosso medo da culpa em ataque,
em meras defesas que nos protegem da luz que ilumina e dissipa a escuridão do nosso ser. O
ódio do ego tem uma camada dupla de defesas que nos protege da luz da verdade interna: a
primeira é a culpa repleta de ódio, e a segunda é o ódio que projetamos em outra pessoa. A

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primeira reside na mente, a última no corpo, mas ambas compartilham o propósito de nos
manter trancados na escuridão que impede que escolhamos a luz.

(3:2-3) O que pode a mente que não perdoa perceber, senão a sua própria perdição? O
que pode contemplar, senão a prova de que todos os seus pecados são reais?

Eu observo minha danação porque projetei meus pecados no mundo, e vejo sua punição
condenatória em todos os lugares ao meu redor. O pecado final é o assassinato, que é o
motivo pelo qual acredito que todos lá fora querem meu sangue – de fato ou simbolicamente,
por roubá-lo de mim. Em outras palavras, nós merecemos ser punidos pelo pecado de termos
destruído o Céu, e nossa dor e sofrimento provam que os pecados são reais.

(4:1) A mente que não perdoa não vê equívocos, só pecados.

Os pecados não estão em mim, mas em todos os outros. Se eu realmente admitir que
eles estão em mim, será apenas porque o pecado de outra pessoa me tornou assim. No fim,
tentamos provar que não somos responsáveis, mas a face da inocência que acalentamos como
a nossa própria.

(4:2) Olha para o mundo com olhos que não vêem e grita ao ver as suas próprias
projeções erguerem-se para atacar a sua miserável paródia de vida.

Já vimos antes que os olhos do corpo realmente não vêem, mas simplesmente seguem
os ditames da mente egóica que vê separação, pecado, culpa, especialismo e morte. O manual
explica:

No entanto, com toda a certeza é a mente que julga o que os olhos contemplam. É a
mente que interpreta as mensagens dos olhos e lhes dá “significado”. E esse
significado não existe absolutamente no mundo lá fora. O que é visto como
“realidade” é simplesmente o que a mente prefere. A sua hierarquia de valores é
projetada para o que está fora... A mente classifica o que lhe trazem os olhos do
corpo de acordo com seus valores preconcebidos, julgando aonde cabe melhor cada
dado dos sentidos (MP-8.3:3-7; 4:3).

Nossos olhos “vêem” a loucura do ódio nos outros, em vez de reconhecerem sua culpada
presença em nós mesmos. Portanto, Jesus realmente descreve o ato de pegarmos nosso auto-
ódio de culpa, projetá-lo, e ver nossas próprias projeções prontas a nos atacar. Nossa culpa é
uma paródia do amor, e a “miserável paródia da vida” é o nosso corpo, porque é isso que
pensamos que nasce, vive e morre, e luta tão duramente para proteger o tempo todo sua vida
limitada. No entanto, é o corpo que é uma paródia da nossa verdadeira vida como espírito.

(4:3) Ela quer viver, mas deseja estar morta.

A mente que não perdoa deseja estar morta porque a dor aqui é muito esmagadora. No
entanto, o que é realmente extraordinário é com que perícia defendemos nossa dor. Não
estando mais no Céu, nós existimos em um estado de terror e agonia nesse mundo. Ainda pior,
nós acreditamos que estamos aqui porque acreditamos ter destruído o Céu, o que significa que
não apenas não estamos em casa, mas não existe mais qualquer lar para o qual retornar. Nós,
portanto, estamos para sempre condenados a vagar nesse mundo como forasteiros, sabendo
que ele não nos pertence, mas não sabendo aonde ir. É aí que a morte se torna preferível. Eu
mencionei que a primeira parte da Lição 182, “Eu me aquietarei por um momento e irei para
casa”, provê um registro maravilhoso do quanto nos sentimos mal, acreditando estar aqui.

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Implícito nisso, Jesus está nos dizendo para não fingirmos que somos felizes aqui. A
verdadeira felicidade vem de percebermos que ela não pode ser encontrada aqui, mas que
existe uma maneira de retornarmos a ela. É uma alegria que aprende que o mundo é um
sonho, e que realmente existe uma maneira de despertarmos do seu sofrimento e dor.

(4:4) Quer o perdão, mas não vê esperança alguma.

Todos nós dizemos que queremos ser perdoados, mas não estamos em contato com a
verdadeira fonte da falta de perdão: a decisão da mente de ser cheia de pecado. É por isso que
não vemos esperança. A igreja católica fez uma instituição desse desejo de perdoar, chamada
Sacramento da Penitência. No entanto, a mágica nunca funciona porque a causa do pecado –
nossa decisão de sermos separados de Deus – nunca é vista. É por isso que podemos dizer
que queremos ser perdoados, mas profundamente dentro de nós, isso nunca vai acontecer,
porque ainda desejamos a existência do pecado em vez da vida de Deus.

(4:5) Quer escapar, mas não pode conceber nenhuma saída, porque vê o pecado em toda
parte.

Nós queremos escapar, novamente, porque bem profundamente dentro de nós,


percebemos que não existe felicidade aqui. No entanto, sabemos que não existe escapatória
da natureza totalmente difundida do pecado, cuja característica assassina nós negamos e
tornamos real fora de nós. O que acontece quando você é confrontado por um assassino, de
quem escapar é impossível? Você morre. Na verdade, todos nesse mundo morrem. Ainda que
consigamos escapar dos assassinos do corpo – homo sapiens, microorganismos, ou as “leis da
natureza” –, no final, sabemos que o Assassino não-visto vai nos levar, o que é provado pela
“realidade” da morte. Essa é a falta de esperanças sobre não escaparmos que Jesus expressa
aqui. Lembrem-se de que em si mesmo, o sistema de pensamento do ego é à prova de tolos
(T-5.VI.10:6).

(5:1) A mente que não perdoa está em desespero, sem a perspectiva de um futuro que
possa lhe oferecer alguma coisa que não seja mais desespero.

O mesmo ponto reiterado: não pode haver esperança porque tudo morre. Foi assim que
fizemos o mundo das nossas vidas individuais. Todos nascem apenas para morrer, pois isso
prova que o pecado da separação é real e encontrou sua punição justificada. O ego triunfou
mais uma vez.

(5:2) No entanto, considera o seu julgamento do mundo como irreversível e não vê que
ela própria se condenou a esse desespero.

Essa é a “beleza” da negação e da projeção. Não estamos cientes do que estamos


fazendo; no entanto, estamos muito convencidos de que estamos certos, como o resto desse
parágrafo vai deixar claro. Nosso julgamento do mundo é irreversível. Eu sou a face da
inocência. Não foi minha escolha nascer, e veja quantas coisas terríveis aconteceram comigo,
e vão continuar a acontecer comigo e com aqueles a quem eu amo. Além disso, não existe
nada que eu possa fazer para mudar a inevitabilidade dessa sina dura e desesperadora. Em
outras palavras, nós não percebemos que somos os sonhadores do sonho. O sonho não está
me sonhando, eu – o tomador de decisões na mente – estou sonhando-o. No entanto, nós
esquecemos de que temos uma mente, estando conscientes apenas do que nossos órgãos
sensórios reportam e nosso cérebro interpreta. É a função do milagre restabelecer a relação
correta de causa-efeito, para que finalmente possamos desfazer a fonte do nosso desespero e
suas defesas, conhecidas como a face da inocência:

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O sonhador de um sonho não está desperto, mas não sabe que dorme. Ele vê
ilusões de si mesmo como estando doente ou bem, deprimido ou feliz, mas sem
uma causa estável com efeitos garantidos.
O milagre estabelece que tu estás sonhando um sonho, e que o seu conteúdo não é
verdadeiro. Esse é um passo crucial para se lidar com ilusões. Ninguém tem medo
delas quando percebe que as inventou. O medo mantinha-se em seu lugar porque
ele não havia visto que era o autor do sonho e não uma de suas figuras. Ele dá a si
mesmo as conseqüências que sonha ter dado a seu irmão... Assim, ele teme o
próprio ataque, mas o vê nas mãos de outrem. Como vítima, sofre em função dos
efeitos do ataque, mas não do que o causou. Ele não foi o autor do próprio ataque, e
é inocente em relação ao que causou. O milagre nada faz senão mostrar-lhe que ele
não fez nada (T-28.II.6:7-7:5,7,10).

(5:3) Pensa que não pode mudar, pois o que vê dá testemunho de que o seu julgamento
é correto.

Nós tentamos mudar e aperfeiçoar a nós mesmos, melhorando nossas vidas, etc., mas a
essência do homo sapiens é imutável – todos os corpos terminam no túmulo, porque o
pensamento da morte não muda. Não podemos mudar o pensamento na mente porque nem
mesmo sabemos que temos uma mente, para não dizer uma mente capaz de mudar. O
propósito de Jesus para o Um Curso em Milagres é nos fazer aprender que nós realmente
temos uma mente, e que a mudança no mundo é sem significado porque não mudamos nada
além de sombras. É apenas o sistema de pensamento da mente que precisa ser modificado.

(5:4-5) Não pergunta, porque pensa que sabe. Não questiona, pois tem certeza de que
está certa.

Nossa certeza é sobre a realidade do mundo físico e suas “leis”. Elas não precisam ser
questionadas porque obviamente são verdadeiras. Na realidade, os maiores pensadores da
história as afirmaram. Mas bem de vez em quando, um gênio muda uma lei aparentemente
imutável, como vimos, por exemplo, quando falamos sobre a visão do universo, de Ptolomeu a
Copérnico. No entanto, ainda falamos de um universo. Que diferença realmente faz se a Terra
gira ao redor do sol ou vice e versa? Ainda permanece um mundo lá fora para observar e
estudar, e pouquíssimas pessoas questionam essa presunção fundamental. Mesmo os físicos
quânticos, que realmente questionam a realidade do mundo material, não questionam os
pensamentos que fizeram o mundo material. Um Curso em Milagres, por outro lado, nos faz
questionar não apenas o mundo, mas seu sistema de pensamento subjacente de culpa. Assim,
Jesus diz:

Aprender esse curso requer disponibilidade para questionar todos os valores que
manténs. Nenhum pode ser mantido oculto e obscuro sem pôr em risco o teu
aprendizado. Nenhuma crença é neutra. Todas têm o poder de ditar cada decisão
que tomas. Pois uma decisão é uma conclusão baseada em todas as coisas nas
quais acreditas (T-24.in.2:1-5).

Ajudando-nos a trazer à tona o que realmente acreditamos, Um Curso em Milagres expõe


a causa da nossa aflição. Agora trazida ao questionamento, a até então oculta crença na
separação e na culpa pode ser examinada, desafiada e modificada.
Nos dois próximos parágrafos, Jesus se volta para o perdão, e a lição termina com um
exercício prático que implementa os princípios que ele discute agora nos parágrafos 6 e 7:

(6:1-2) O perdão é adquirido. Não é inerente à mente que pode pecar.

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Jesus começa falando sobre a verdadeira Mente, que não pode pecar. O perdão, por
outro lado, é a correção que tem que ser aprendida pela mente dividida para podermos
desaprender o que o ego tem ensinado. O ego fala primeiro, e está sempre errado, e o Espírito
Santo é a Resposta:

Lembra-te de que o Espírito Santo é a Resposta, não a pergunta. O ego sempre fala
em primeiro lugar. É caprichoso e não quer o bem do seu autor (T-6.IV.1:1-3).

O perdão é a técnica de ensino do Espírito Santo, e é algo que precisamos aprender e,


como já vimos muitas vezes, praticar. Nós, portanto, voltamos ao ponto que afirmamos ao
discutirmos a terceira revisão das lições – esses ensinamentos têm que ser praticados e
aplicados:

(6:3) Como o pecado é uma idéia que ensinaste a ti mesmo, o perdão também tem que
ser aprendido por ti, mas com um Professor diferente de ti, Aquele que representa o
outro Ser em ti.

Ensinando-nos a mudarmos nossas mentes, Jesus está nos ajudando a mudar nosso
professor. Nós – o tomador de decisões, identificado com o ego – temos ensinado a nós
mesmos que o pecado e a individualidade são reais, mas não são culpa nossa; alguém o
cometeu primeiro. Essa insanidade é reforçada pelo mundo, cujo propósito é ser um lugar que
diz: “Eu nasci, eu existo como um indivíduo, mas não fui eu que fiz isso”. Portanto, precisamos
de outro Professor que nos diga: “Sinto muito, mas foi você que fez isso. No entanto, as boas
novas é que você apenas pensa que fez. Na realidade, isso tudo é um sonho”. A prática do
perdão – perdoando aos outros pelo que eles não fizeram – nos permite entender a natureza
ilusória do mundo, e nossa parte ilusória em fazê-lo e sustentá-lo.

(6:4) Através Dele, aprendes a perdoar o ser que pensas que fizeste e a deixá-lo
desaparecer.

Nós primeiro temos que perceber que fizemos esse ser. Essa é a carga principal de
“Auto-conceito versus Ser”, uma seção que já citamos e vamos citar mais uma vez:

Um auto-conceito é feito por ti. Ele não tem absolutamente qualquer semelhança
contigo. É um ídolo feito para tomar o lugar da tua realidade como Filho de Deus (T-
31.V.2:1-3).

Nós pensamos que o mundo nos fez e que somos a face da inocência sobre a qual o
mundo pecador age, um mundo que é responsável por nossa infelicidade e merece
condenação:

“Eu sou essa coisa que fizeste de mim e olhando para mim tu és condenado devido
ao que eu sou” (T-31.V.5:3).

No entanto, estamos aprendendo que, uma vez que fizemos o ser inocente para
culparmos todos os outros, somos nós que podemos fazer algo a esse respeito.
Portanto, com o primeiro passo no perdão, nós destrancamos a porta para a mente errada
e percebemos que o assassino não está lá fora, mas que ele sou eu – meu falso ser.
Destrancando a porta e revelando o primeiro escudo, sou capaz de dar o próximo passo e ver
que meu ser culpado, assassino, também foi inventado. O segundo passo, portanto, é perceber
que eu só penso que fiz o ser; eu não apenas fiz você como o vitimador, mas fiz a mim mesmo
como vitimador também. No instante em que a segunda porta é aberta, eu percebo que foi tudo

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um sonho, e que minha realidade, como a de Jesus, permaneceu imutável: “Tu podes ser a
causa de um sonho, mas nunca dará a ele efeitos reais” (T-28.II.6:5).

(6:5) Assim, devolves a tua mente unificada Àquele Que é o teu Ser e Que jamais pode
pecar.

Com as duas portas destrancadas, toda a mente dividida desaparece e nós re-
despertamos para o nosso Ser como Cristo. O processo acima é lindamente resumido nesse
último parágrafo da seção da qual já citamos, “Revertendo causa e efeito”:

Esse mundo está cheio de milagres. Eles estão em silencio radiante ao lado de cada
sonho de dor e de sofrimento, de pecado e de culpa. Eles são a alternativa para o
sonho, a escolha de ser o sonhador ao invés de negar o papel ativo na invenção do
sonho. Eles são os efeitos felizes de trazer de volta a conseqüência da doença à sua
causa. O corpo é liberado porque a mente reconhece: “Isso não está sendo feito a
mim, mas eu estou fazendo isso”. E, desse modo, a mente está livre para fazer uma
outra escolha. Tendo aqui o seu início, a salvação procederá para mudar o curso de
cada passo na descida para a separação até que todos os passos tenham sido
retraçados, a escada tenha desaparecido e todo o sonhar do mundo tenha sido
desfeito (T-28.II.12).

No próximo parágrafo, Jesus fala especificamente sobre a necessidade de praticarmos o


princípio teórico do perdão:

(7:1) Cada mente que não perdoa te apresenta uma oportunidade para ensinar à tua
própria mente como perdoar a si mesma.

Jesus não está se referindo à minha mente que não perdoa, mas àquelas que eu percebo
ao meu redor. Enquanto eu perceber a falta de perdão em outro, começo minha prática ali. Isso
não é assim porque, na verdade, exista alguém lá fora para perdoar, mas, uma vez que existe
falta de perdão no meu sonho, preciso começar onde penso estar. Jesus me ajuda a perceber
que cada experiência que tenho com alguém que acredito estar me atacando é minha
oportunidade de olhar de forma diferente para mim mesmo; reconhecendo que meu mundo é
um “retrato externo de uma condição interna” (T-21.in.1:5); uma oportunidade de me reconectar
com meu tomador de decisões – o você dessa sentença -, para que eu possa escolher outra
vez.

(7:2-4) Cada uma delas espera a liberação do inferno por teu intermédio e se volta para ti
implorando-te o Céu aqui e agora. Ela não tem esperança, mas vens a ser a sua
esperança.

Todos nesse mundo estão pedindo ajuda, expressando a necessidade de liberação do


inferno. Nós compartilhamos a necessidade comum de aprender que estamos errados, e que
existe, de verdade, outro sistema de pensamento em nossas mentes que podemos escolher.
Você precisa de mim como um lembrete, pois meu exemplo de paz e amor demonstra que
existe outra escolha a ser feita. Assim, Jesus diz no texto que cada ataque é uma expressão de
medo, e o medo é um pedido do amor que foi negado:

Considera, então, o quanto te servirá a interpretação que o Espírito Santo dá aos


motivos dos outros. Tendo te ensinado a só aceitar nos outros pensamentos
amorosos e a considerar todas as outras coisas como um pedido de ajuda, Ele te
ensinou que o medo em si mesmo é um pedido de ajuda. É isso o que realmente
significa reconhecer o medo. Se não protegeres o medo, Ele vai re-interpretá-lo.
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Esse é o valor máximo que há em se aprender a perceber o ataque como um pedido
de amor. Nós já aprendemos que o medo e o ataque estão inevitavelmente
associados. Se apenas o ataque produz medo e se vês o ataque como o pedido de
ajuda que de fato é, a irrealidade do medo tem que despontar em ti. Pois o medo é
um pedido de amor, em reconhecimento inconsciente do que foi negado (T-12.I.8:6-
13).

Se eu estou em minha mente certa, usando os olhos de Jesus em vez dos meus, quando
você me ataca, vejo seu ataque como uma expressão de medo, e seu medo como uma
declaração que diz: “Por favor, mostre-me que estou errado; por favor, mostre-me que existe
outro sistema de pensamento que posso escolher”. Na extensão na qual eu posso ser sem
defesas e pacífico, testemunharei a escolha da mente certa para você; e, enquanto faço isso,
reforço-a em mim mesmo. É assim que somos ensinados a ver nossos relacionamentos
especiais, e é assim que eles se tornam santos.

(7:5) A mente que não perdoa tem que aprender através do teu perdão que foi salva do
inferno.

A razão é que existe uma escolha pelo Céu que você pode fazer. Eu não posso escolhê-
la para você, mais do que Jesus pode escolhê-la para nós. No entanto, eu posso servir como
um exemplo de alguém que fez – pelo menos no instante santo – essa escolha para si mesmo.
Nós precisamos uns dos outros para fortalecer nossa resolução de sermos curados.

(7:6-7) E, ao ensinares a salvação, aprenderás. No entanto, todo o teu ensino e o teu


aprendizado não virão de ti, mas do Professor Que te foi dado para mostrar-te o
caminho.

O ensino não é feito por nós, mas através de nós, pelo Espírito Santo. Além disso, não
sou eu como um indivíduo que aprendo, pois o aprendizado que penso empreender aqui reflete
um processo na minha mente: o tomador de decisões aprendendo com o Espírito Santo. Meu
ser pessoal não aprende nada aqui porque ele não está aqui. A mente, identificada com o ego,
não pode realmente aprender também. Só quando eu – o tomador de decisões – escolho um
novo Professor, o aprendizado realmente começa.
O resto da lição trata de um exercício em perdão, em uma forma que reaparece em outras
lições também. Jesus nos pede para imaginarmos um inimigo – nosso parceiro de ódio
especial – e depois vermos luz ali. A seguir, fazemos o mesmo com alguém em quem
pensamos como um amigo – nosso parceiro de amor especial. Jesus quer que aprendamos a
não ver diferenças entre as categorias de amor e ódio que tornamos tão reais e importantes.
Em conclusão, vamos incluir a nós mesmos nessa luz. O paradigma é então vermos todas as
pessoas – aquelas que amamos, aquelas que odiamos e a nós mesmos – com o mesmo, não
deixando ninguém de fora. Lembrem-se de que as diferenças são o lar do ego, enquanto a
unidade comum é o lugar de descanso do Espírito Santo. Agora, o exercício:

(8) Hoje praticaremos aprender a perdoar. Se estiveres disposto hoje podes aprender a
pegar a chave da felicidade e usá-la a favor de ti mesmo. Dedicaremos dez minutos pela
manhã e mais dez à noite ao aprendizado de dar o perdão e também de recebê-lo.

Jesus nos ensinou os princípios do perdão, e nos pede para os colocarmos em prática. A
lição provê a forma, mas isso não é algo feito apenas duas vezes durante o dia. Seguindo as
instruções, a meditação formal só precisa ser feita uma ou duas vezes, mas os princípios
deveriam ser trazidos à consciência durante o dia todo, sempre que formos tentados a formar
alianças e a nos identificarmos com um grupo contra outro.

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(9) A mente que não perdoa não acredita que dar e receber são a mesma coisa. Mas hoje
tentaremos aprender que são uma só, praticando o perdão em relação a alguém que
pensas ser um inimigo e a alguém que consideras como um amigo. E ao aprender a vê-
los como um só, estenderemos a lição a ti mesmo e veremos que no seu escape estava
incluído o teu.

Implícito aqui, e muito mais explícito em outros trechos, está o tema da unicidade, talvez o
tema mais crucial no Um Curso em Milagres. Nossa realidade é a de que nós somos um em
Cristo, Que é totalmente uno com Deus – a perfeita Unicidade que é o Céu:

O Céu não é um lugar nem uma condição. É meramente uma consciência da


perfeita unicidade e o conhecimento de que nada além disso existe, nada fora da
unicidade e nada mais dentro dela (T-18.VI.1:5-6).

Esse estado de unidade nunca pode ser alcançado no mundo dualista de corpos, mas
pode ser refletido aqui através do perdão. Ele vem por não vermos os outros com interesses
separados dos nossos. Nós diferimos em forma, mas não em conteúdo, pois compartilhamos o
mesmo sistema de pensamento ilusório no qual acreditamos ter assassinado Deus, e depois
escapado para o mundo. Nós, portanto, compartilhamos a mesma necessidade de escapar
dessas ilusões, e isso, mais uma vez, inclui aqueles que odiamos e aqueles que amamos.
Esse é o significado subjacente da lição: nós somos um em nossas mentes erradas, um em
nossas mentes certas, um em nossa habilidade de escolher, e, finalmente, um em Cristo.

(10) Dá início aos períodos de prática mais longos pensando em alguém de quem não
gostes, que pareça irritar-te ou que te cause contrariedade se vieres a encontrá-lo;
alguém que de fato desprezes ou apenas tentes ignorar. Não importa a forma que tome a
tua raiva. Provavelmente já o escolheste. Ele servirá.

Note que nessa categoria, Jesus inclui todos aqueles contra quem mantemos
pensamentos negativos. Quer essas mágoas sejam “grandes” ou “pequenas”, é irrelevante.
Não existe hierarquia de ilusões (T-23.II.2:3): uma leve irritação ou intensa fúria são o mesmo,
como vemos nessa passagem já citada, que fala da relativa intensidade das nossas reações
zangadas aos pensamentos mágicos:

Pode ser apenas uma leve irritação, pode também tomar a forma de intensa ira,
acompanhada de pensamentos de violência, fantasiados ou aparentemente
encenados. Não importa. Todas essas reações são a mesma. Elas obscurecem a
verdade, e isso nunca pode ser uma questão de grau. Ou a verdade é aparente, ou
não o é. Não pode ser parcialmente reconhecida. Aquele que não está ciente da
verdade não pode deixar de contemplar ilusões (MP-17.4:4-11).

Atribuir poder a outro de afetar a paz da nossa mente – um pouco ou muito – é suficiente
para justificarmos nossa reação negativa. Assim como todas as expressões de amor são
máximas (T-1.I.1:4), todas as expressões de ódio são máximas também. Se é verdadeiro para
um, tem que ser verdadeiro para o outro: não existe graduações na verdade ou na ilusão.

(11:1-3) Agora, fecha os olhos e vendo-o na tua mente, olha para ele por um momento.
Tenta perceber nele alguma luz em algum lugar, um pequeno lampejo que nunca havias
notado. Tenta perceber nele alguma luz em algum lugar, um pequeno lampejo que nunca
havias notado. Tenta achar uma pequena centelha de luz brilhando através do feio
retrato que manténs dele.

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Essa não é uma lição sobre as afirmações da Nova Era, onde vemos luz em todos. Se
nós lermos essa passagem cuidadosamente, poderemos ver Jesus dizendo que primeiro
precisamos ver o “feio retrato”, pois só então veremos a luz brilhando por trás dele. Esse feio
retrato inclui alguém em quem você pensa como seu amigo. Não é difícil notar a raiva quase
inevitável que surge quando esse “amigo” não diz ou faz mais o que você precisa, ou não está
mais lá para você. Você precisa, portanto, primeiro entrar em contato com esse feio retrato,
pois só então irá entender que perceber a feiúra nos outros é uma defesa que você escolheu
para ocultar a luz da verdade que está na sua mente, assim como nas dos outros. A próxima
mensagem a Helen e Bill esclarece a essência da prática do perdão: você não pode perdoar o
que não aceita em sua percepção, e você não pode se lembrar do amor até primeiro ter
reconhecido o ódio. Portanto, Jesus disse aos seus dois primeiros estudantes:

Vocês não têm idéia da intensidade do seu desejo de se livrarem um do outro. Isso
não significa que vocês não sejam intensamente impelidos um em direção ao outro,
mas realmente significa que o amor não é a única emoção... Vocês não percebem o
quanto odeiam um ao outro. Vocês não vão se livrar disso até que realmente o
percebam, pois até então, vão pensar que querem se livrar um do outro e manter o
ódio... Vocês realmente odeiam e temem um ao outro, e seu amor, que é muito real,
está totalmente obscurecido pelo ódio... Olhem tão calmamente quanto puderem
para o ódio, pois, se vamos negar a negação da verdade, primeiro precisamos
reconhecer o que estivemos negando (Ausência de Felicidade, p. 297, 298).

A última linha é uma referência direta à declaração familiar do texto: “A tarefa do


trabalhador de milagres é negar a negação da verdade” (T-12.II.1:5). Isso enfatiza a
necessidade de olharmos para a negação da verdade feita pelo ego - i.e., ódio – para poder
dizer de forma significativa, “Eu não quero mais isso”. Só então a decisão pelo amor pode ser
efetiva; só então podemos nos mover através da feiúra do pecado para a beleza de Cristo.
A forma da lição pede a prática com pessoas específicas, por causa da presunção auto-
evidente de que ainda nos identificamos com o corpo. Também precisamos entender que a luz
de Cristo brilhando em nossas mentes – ameaçadora porque significa o fim do nosso
especialismo – encobriu o feio retrato do pecado e da culpa. Isso, então, é encoberto pelo feio
retrato de outra pessoa. Antes de vermos a luz, precisamos primeiro ver a feiúra que criamos
erroneamente em nosso parceiro especial e em nós mesmos, e entendermos que fizemos isso
para proteger a nós mesmos da unicidade. Portanto, Jesus nos encoraja a olharmos para o
retrato, para o que significa o feio retrato.

(11:4) Olha para esse retrato até que vejas uma luz em algum ponto e em seguida tenta
deixar que essa luz se estenda até cobri-lo, fazendo com que o retrato seja bonito e bom.

Em “Os dois retratos”, Jesus diz de novo e de novo para olharmos para o retrato (T-
17.IV), a feia dádiva de morte do ego. Mais uma vez, nós fizemos o feio retrato externo para
ocultar a feiúra interior, que foi feita para ocultar a luz e beleza da nossa Identidade. Quando
olhamos com Jesus, a feiúra simplesmente desaparece porque ela era mantida no lugar por
um desejo de sermos separados dele. Quando esse desejo se vai, a defesa da feiúra não pode
permanecer, permitindo que a luz que sempre esteve lá brilhe. Portanto, não precisamos
desempenhar ginásticas mentais, por meio das quais transformamos um feio retrato em outro
bonito. Essa é a função do Espírito Santo, não a nossa, trazida pelo reconhecimento do
propósito de ver a feiúra em outros e em nós mesmos. Com os véus da ignorância removidos,
a beleza da luz brilha, dissipando a escuridão da feiúra da culpa, pois nosso propósito mudou
da feiúra da culpa para a beleza do perdão.

(12) Olha por um momento para essa percepção mudada e volta a tua mente para aquele
a quem chamas de amigo. Procura transferir para ele a luz que aprendeste a ver em
13
torno do teu antigo “inimigo”. Percebe-o agora como mais do que um amigo para ti, pois
nesta luz, a sua santidade te mostra o teu salvador, salvo e pronto a salvar, curado e
íntegro.

A segunda parte do exercício pede uma repetição do processo, mas agora com nosso
amigo especial. Aprendendo a lição da similaridade inerente do nosso amigo e inimigo, essa
pessoa escolhida se torna “mais do que um amigo”, pois ela transcendeu o especialismo da
nossa percepção da santidade, que está em todas as pessoas. Portanto, somos salvos
conforme salvamos, curados conforme curamos, tornados completos conforme vemos a
completeza. Que lindo nosso mundo se tornou!
Agora que vimos a linda luz da Filiação, e perdoamos tanto a escuridão do nosso
especialismo no nosso “inimigo” quando no nosso “amigo”, abraçamos a nós mesmos na luz
única do único Filho.

(13) Então, deixa que ele ofereça a ti a luz que vês nele e deixa que o teu “inimigo” e o
teu amigo se unam, abençoando-te com o que deste. Agora, és um com ele e eles
contigo. Agora foste perdoado por ti mesmo. Não esqueças, ao longo do dia, o papel que
o perdão desempenha em trazer felicidade a cada mente que não perdoa, incluindo entre
elas a tua. Dize a ti mesmo a cada hora:

O perdão é a chave da felicidade. Despertarei do sonho de


que sou mortal, falível e cheio de pecado, e saberei que sou
o Filho perfeito de Deus.

Durante o dia todo, sempre que você for tentado a ver qualquer pessoa amortalhada na
escuridão – em ódio especial ou amor especial – diga a si mesmo: Eu posso despertar desse
sonho de morte porque é o meu sonho e, portanto, minha mente tem o poder de fazer outra
escolha. A feiúra que vi fora de mim apenas mascarou a feiúra que tornei real dentro de mim,
embora seja ilusória. Agora o sonho do pecado está acabando, e a felicidade nascida do
perdão enche meu coração grato e alegre, conforme enche a Filiação como um Todo sem
pecado:

O perdão faz com que o mundo do pecado venha a ser um mundo de glória,
maravilhoso de se ver. Cada flor brilha na luz e cada pássaro canta a alegria do
Céu. Não existe tristeza e não existe separação aqui, pois todas as coisas são
totalmente perdoadas. E o que foi perdoado tem que se unir, pois nada se interpõe
entre eles para mantê-los separados e à parte (T-26.IV.2).

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LIÇÃO 122

O perdão oferece tudo o que eu quero.

Essa próxima lição e as poucas que se seguem estão centradas em temas positivos:
perdão aqui, e depois gratidão, unicidade, perdão novamente e amor. No Um Curso em
Milagres, alcançar o que é positivo é conseguido através do desfazer do que é negativo, com
talvez o exemplo mais claro sendo a Lição 126, onde Jesus contrasta o perdão com seu
oposto, o perdão-para-destruir; ainda que o termo em si mesmo nunca seja usado. Ao
atravessarmos as próximas cinco lições, portanto, estaremos examinando o que é positivo em
termos do que a lição está desfazendo. Nessa lição, “O perdão oferece tudo o que eu quero”,
Jesus fala sobre retirarmos nossos investimentos em tudo o que pensamos querer e que vai
nos trazer felicidade e paz, trocando as falsas metas do especialismo pelas verdadeiras do
perdão.

(1) O que poderias querer que o perdão não possa dar? Queres paz? O perdão a oferece.
Queres felicidade, uma mente serena, certeza acerca do teu propósito e um senso de
valor e beleza que transcende o mundo? Queres atenção, segurança e o calor da
proteção garantida para sempre? Queres uma quietude que não possa ser perturbada,
uma gentileza que jamais possa ser ferida, um consolo profundo e duradouro e um
descanso tão perfeito que jamais possa ser transtornado?

Todos diriam “sim” a essas perguntas, pelo menos conscientemente. O problema é que
nós estamos sempre tentando atender aos nossos desejos especiais ao invés disso. Nós
buscamos no mundo qualquer coisa que possa nos fazer felizes, trazer paz, oferecer
segurança, acabar com nossa dor, que o mundo está muito ansioso para nos oferecer. Por um
momento, as coisas aqui parecem trazer a ausência de dor, ansiedade e solidão, pois quando
conseguimos o que queremos ou precisamos, nos sentimos felizes, alegres e pacíficos. No
final, entretanto, nada no mundo funciona, algo cuja percepção anuncia o início do nosso
trabalho com o Um Curso em Milagres. Nós então pedimos ajuda, dizendo que tem que existir
outro caminho, outro professor dentro de nós. Só então Jesus pode nos ajudar, ensinando-nos
a desfazer nosso aprendizado passado através do perdão, o precursor da paz e felicidade
reais.
Quando iniciam o processo de perdão, os estudantes começam a perceber que isso não
encerra dizer “sim” a Jesus, mas, em vez disso, dizer “não” ao ego. Em linhas que já
examinamos parcialmente, lemos:

Pois respondeste “sim” sem perceber que esse “sim” necessariamente significa “que
não disseste não”. Ninguém se decide contra a sua própria felicidade, mas pode
fazê-lo quando não vê que é isso o que está fazendo. E se vê a tua felicidade como
alguma coisa em mudança constante, agora isso, agora aquilo, e agora uma sombra
fugidia que não está ligada a coisa alguma, ele de fato se decide contra a felicidade
(T-21.VII.12:4-13:2).

A constância da felicidade é nossa quando olhamos diretamente para a negação do ego


sobre a constância eterna de Deus, e dizemos: “Eu não quero mais isso”. Nesse ponto, para
citar uma das mensagens pessoais de Jesus a Helen: “... a ajuda de Deus e de todos os seus
anjos vai responder” (Ausência de Felicidade, p. 381). Nossa simples, embora inequívoca,
decisão contra o ego – o significado do perdão – permite que a quieta gentileza e felicidade
retornem à nossa consciência. Portanto, nós realmente descansamos em paz e conforto.

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(2) O perdão oferece tudo isso, e mais. Ele brilha nos teus olhos quando acordas e te dá
alegria para saudar o dia. Conforta a tua fronte enquanto dormes e repousa sobre as
tuas pálpebras para que não tenhas sonhos de medo e mal, malícia e ataque. E quando
acordas de novo, ele te oferece um outro dia de felicidade e paz. O perdão te oferece
tudo isso, e mais.

Estudantes do Um Curso em Milagres são constantemente solicitados a verem a conexão


entre causa e efeito: nossa infelicidade e culpa por termos escolhido o ego em vez do Espírito
Santo. Estamos aprendendo que se queremos mudar o efeito – miséria e dor para felicidade e
alegria -, precisamos mudar a causa. O perdão é o nome dado ao processo pelo qual isso
ocorre, mudando nossas mentes por mudarmos nosso professor.
Se nós realmente formos sérios sobre querermos voltar para casa, despertando desse
sonho de dor, precisamos também ser sérios sobre mudarmos a causa da infelicidade, dizendo
não para a negação do ego sobre o Sim de Deus. Isso significa que quando estamos
transtornados, entendemos que não é por quaisquer razões que pensamos, mas porque
teimosamente dizemos que estamos muito melhor tendo o ego como nosso professor. Ainda
afirmamos que nos agarrarmos a mágoas oferece tudo o que queremos, assim como a doença,
sofrimento e dor. Precisamos acreditar nisso porque ainda o escolhemos: nós continuamos
zangados e julgadores com coisas insignificantes; imploramos a satisfação daquele único
relacionamento especial glorioso. É por isso que não estamos em paz.
Mais uma vez, se quisermos a felicidade real, precisamos escolher o perdão. Pelo fato de
a maioria de nós, a maior parte do tempo, não estar feliz, escolhemos as mágoas, afirmando a
contraparte do ego a essa lição: pensamentos de ataque, doença e dor oferecem tudo o que
queremos. Admitir isso é a honestidade que Jesus nos pede: entender que nós conseguimos o
que queremos, e que não podemos atribuir nossa infelicidade a nada mais.
O próximo parágrafo provê uma declaração mais clara sobre o perdão. Ele não faz nada
positivo, mas remove o negativo. Nós já vimos como o perdão expressa o ato de darmos um
passo atrás com Jesus para olharmos através dos seus olhos para nossos egos. Esse olhar
sem julgamento – impossível sem o gentil amor de Jesus ao nosso lado – permite que os véus
de culpa, dor e miséria sejam erguidos. Assim, lemos:

(3:1-2) O perdão permite que seja erguido o véu que esconde a face de Cristo daqueles
que olham para o mundo com olhos sem perdão. Permite que reconheças o Filho de
Deus e limpes a tua memória de todos os pensamentos mortos, para que a lembrança do
teu Pai possa surgir no limiar da tua mente.

Os “pensamentos mortos” são os do ego, como os que encobrem nossa individualidade e


especialismo, nutrindo o pecado, culpa e medo, e abraçando as projeções desses
pensamentos nos outros. Tudo isso serve como véus que mantêm a memória de Deus oculta
em nossas mentes. O leitor pode se recordar da nossa discussão sobre o obstáculo final à paz:
o medo de Deus. O que desfaz esse medo e restaura a lembrança do Pai à nossa consciência
é o perdão ao nosso irmão especial. Ver a face de Cristo nele – o símbolo do perdão no Curso
– liberta a nós dois da prisão do ego de culpa e ódio, como lemos nas inspiradoras e familiares
palavras de “Erguendo o véu”, a culminação da nossa jornada através dos quatro obstáculos
do ego à paz:

Liberta o teu irmão aqui como eu te libertei. Dá-lhe a mesma dádiva e não olhes
para ele com qualquer espécie de condenação. Que o vejas tão sem culpa como eu
olho para ti e não vejas os pecados que ele próprio pensa ver dentro de si. Oferece
ao teu irmão a liberdade e a liberação completa do pecado, aqui, no jardim da
aparente agonia e morte. Assim nós iremos preparar juntos o caminho para a
ressurreição do Filho de Deus e permitir que ele mais uma vez ressuscite para a

16
lembrança feliz do seu Pai, Que não conhece o pecado, nem a morte, mas somente
a vida eterna.
Juntos nós desapareceremos na Presença além do véu, não para nos perdermos,
mas para nos acharmos; não para sermos vistos, mas conhecidos. E conhecendo,
nada no plano que Deus estabeleceu para a salvação ficará por fazer. Esse é o
propósito da jornada, sem o qual a jornada é sem significado. Aqui está a paz de
Deus, que te é dada eternamente por Ele. Aqui está o descanso e a quietude que
buscas, a razão da jornada desde o seu início. O Céu é a dádiva que deves ao teu
irmão, a dívida de gratidão que ofereces ao Filho de Deus em agradecimento pelo
que Ele é e pelo que o seu Pai o criou para ser (T-19.IV-D.18-19).

Portanto, se nós realmente queremos as dádivas do perdão, devemos estendê-las a cada


fragmento da Filiação sem exceção.

(3:3-5) O que poderias querer que o perdão não possa dar? Que outras dádivas além
destas são dignas de serem buscadas? Que valor imaginário, que efeito trivial, que
promessa fugaz que nunca será cumprida pode conter mais esperança do que aquilo
que o perdão traz?

Essa é a questão, repetida desde as lições iniciais, que Jesus continuamente coloca. Ele
contrasta as dádivas do ego com as dele; e, assim, ele pergunta: o que você quer? Um dos
pontos centrais do Um Curso em Milagres é o de que nós acalentamos o fato de sermos
miseráveis, pois isso garante nossa existência separada, pela qual algo ou alguém mais é
responsável. Nossa dor poderia ser qualquer coisa, desde que não venha da nossa decisão.
Se não estamos felizes, no entanto, é apenas porque escolhemos não ser felizes, e Jesus nos
ajuda a entender essa insanidade.

(4:1) Por que buscarias uma outra resposta, além da resposta que responde a tudo?

Esse, novamente, é o cerne de todos os relacionamentos especiais: buscar uma resposta


para a dor em qualquer lugar que não seja onde a resposta real pode ser achada. Jesus nos
pede para olharmos para como não pedimos demais, mas como pedimos tão pouco (T-
26.VII.11:7); que ficamos felizes em buscar as migalhas em vez do banquete, as partes da
canção em vez da Canção em si. Assim, como já vimos nas páginas iniciais de A Canção da
Oração, Jesus afirma muito especificamente esse ponto:

O segredo da oração verdadeira é esquecer das coisas que pensas que precisas.
Pedir o que é específico é quase a mesma coisa que olhar para o pecado, e depois
perdoá-lo. Da mesma forma, na oração passas por cima das tuas necessidades
específicas tal com as vês e entrega-as nas Mãos de Deus. Lá não queres ter outros
deuses diante Dele, nenhum Amor a não ser o d’Ele. O que poderia ser a Sua
resposta exceto que te lembres d’Ele? Isso pode ser negociado a favor de um
conselho sem importância sobre um problema que tem a duração de um instante?
Deus só responde a favor da eternidade. Mas, ainda assim todas as pequenas
respostas estão contidas nisso (C-1.I.4).

(4:2) Eis aqui a resposta perfeita, dada a perguntas imperfeitas, a pedidos sem
significado, à pouca disponibilidade para ouvir, a menos da metade do zelo que poderias
dar e a uma confiança parcial.

Isso simplesmente engloba tudo o que fazemos! Apesar do nosso pedido de ajuda, nunca
é ajuda o que realmente queremos. Se fosse, não estaríamos sofrendo, pois teríamos ido para
dentro e pedido ajuda ao Espírito Santo e mudado nossa percepção. Sem fazer isso, todos os
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nossos pedidos são sem significado, pois o único pedido significativo é pelo perdão, que
também é a única resposta significativa. O que poderia ser mais simples?

A oração é um modo de pedir alguma coisa. É o veículo dos milagres. Mas a única
oração significativa é a que pede o perdão, porque aqueles que foram perdoados
têm tudo. Uma vez que o perdão tenha sido aceito, a oração no sentido usual vem a
ser completamente sem significado. A oração pelo perdão não é nada mais do que
um pedido para que possas ser capaz de reconhecer o que já possuis (T-3.V.6:1-5).

O perdão torna possível o reconhecimento da nossa abundância como o Filho de Deus.


Nas palavras da famosa canção Gershwin: “Quem poderia pedir qualquer coisa mais?”.

(4:3-5) Eis aqui a resposta! Não a busques mais. Não acharás nenhuma outra em vez
dela.

As respostas do ego são vistas fora de nossas mentes, no mundo e no corpo, assim como
nossos problemas. No entanto, o verdadeiro perdão não é encontrado externamente, mas na
mente, o verdadeiro local do problema. Enquanto mantivermos nossas identificações
separadas, vamos ver problemas onde eles não existem, buscando soluções no mundo,
enquanto magicamente trazemos o Espírito Santo para nosso sonho, para nos ajudar lá. Como
vamos ver depois, essa dinâmica é conhecida como perdão-para-destruir.

(5:1-2) O plano de Deus para a tua salvação não pode mudar nem pode falhar. Sê grato
por ele permanecer exatamente como Deus o planejou.

Mais uma vez, o “plano de Deus” deve ser visto de forma metafórica, expressando o fato
de que a resposta, como um reflexo do Amor de Deus na Pessoa do Espírito Santo, é
encontrada em nossas mentes. Nada que acreditamos ter feito pode mudar esse fato da
Expiação, pois nada mudou o Céu. Aceitar essa correção feliz para a substituição de
separação do ego é o plano de Deus para a salvação.

(5:3) Imutável, ele está diante de ti como uma porta aberta, ele te chama de além do
umbral com boas-vindas calorosas, pedindo-te que entres e sinta-te em casa onde é o
teu lugar.

Jesus está falando da mente certa, onde a resposta é encontrada. A memória do Amor de
Deus espera aí de forma imutável, na sala que fechamos e selamos. Como vimos na lição
anterior, o perdão é a chave para a felicidade porque ele abre a porta para esse túmulo
lacrado, revelando a resposta verdadeira que nos dá boas-vindas. Escolher Jesus como nosso
professor nos permite usar sua chave amorosa para abrirmos a porta trancada. A motivação
para aceitarmos as calorosas boas-vindas vem de reconhecermos que esse mundo não é o
nosso lar, e que a vida aqui convida apenas à dor e à miséria. Assim, somos finalmente
capazes de nos unirmos ao amor que sempre esteve unido a nós:

Pois o que te atrai além do véu [i.e., a porta aberta] está também profundamente
dentro de ti, é inseparável da tua vontade e completamente uno (T-19.IV-D.7:7).

(6:1-2) Eis aqui a resposta! Preferirias ficar do lado de fora, quando o Céu inteiro espera
por ti do lado de dentro?

Mais uma vez, a resposta está em nossas mentes certas, pacientemente esperando
nossa decisão de nos unirmos a ela. Ficar do lado de fora dessa porta significa que preferimos
o lar de pecado, culpa e medo do ego – os sonhos secretos -, por trás do qual está o mundo de
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sonhos do corpo. A resposta amorosa do Espírito Santo espera do lado de fora de ambos,
convidando-nos a voltarmos e estarmos em paz.
(6:3-4) Perdoa e sê perdoado. Como dás, assim receberás.

Inerente a essas palavras está o tema da unicidade. Se eu mantiver algo contra você,
uma vez que as mentes são unidas, também estarei mantendo contra mim. De fato, foi por
mantê-lo contra mim que o projetei. No entanto, mudar minha mente sobre você – vendo a
face da inocência em vez da face da culpa – reflete a mesma mudança em mim. A forma com
que eu o vejo é a forma com que vejo a mim mesmo, porque somos figuras no sonho único de
pecado e culpa, concomitante com a esperança mágica de escapar da punição da culpa vendo
o pecado fora da mente. No entanto, nós realmente compartilhamos o sonho feliz do Espírito
Santo também, no qual perdoar e ser perdoado, dar e receber são um só.

(6:5-7) Não há outro plano senão esse para a salvação do Filho de Deus. Regozijemo-nos
hoje por ser assim, pois aqui temos uma resposta clara e simples, além do engano na
sua simplicidade. Todas as complexidades que o mundo teceu com frágeis teias de
aranha desaparecem diante do poder e da majestade dessa declaração extremamente
simples da verdade.

O texto nos diz que “a complexidade é do ego” (T-15.IV.6:2), e que seu sistema de
pensamento é mesmo extraordinariamente complicado, moldando a realidade para se encaixar
em suas necessidades, para que nos tornemos pecadores miseráveis, que alcançaram o
impossível. Além disso, Deus se torna tão insano quanto nós, pois Ele vai roubar de volta o que
roubamos d’Ele. Essa insanidade é projetada, fazendo um universo físico e um corpo que são
complexos, para dizer o mínimo. Continuar sustentando o corpo é uma tarefa incrivelmente
difícil, exigindo atenção constante. A isso é acrescentado o corpo psicológico, com suas
necessidades especiais, e nós vemos a desordem caótica que o ego fez. É um espanto que
consigamos atravessar o dia.
A resposta, no entanto, é muito simples: nada disso aconteceu – o mundo de sonho
continua sendo um sonho. O perdão significa dar um passo atrás, com o amor de Jesus ao
nosso lado, olhando para os dois sonhos – o do mundo e o da mente -, percebendo que eles
são apenas véus tênues e ilusórios, que ocultam a verdade e a luz de nós. No entanto, quando
olhamos para a culpa e seu mundo, eles desaparecem, e vemos que não tinham poder de
ocultar a luz do Amor de Deus. Nossa disponibilidade de des-investirmos nossa necessidade
de estarmos certos e mantermos a ilusão da nossa identidade permite que essas
complexidades desapareçam, conforme sorrimos para a tolice do que tentamos fazer. O
sistema de pensamento de culpa não é uma sólida parede de granito, mas uma frágil teia,
como essa passagem já citada explica:

Pois a realidade da culpa é a ilusão que parece fazer com que ela seja pesada,
opaca, impenetrável e um fundamento real para o sistema de pensamento do ego.
Sua transparência e pouca consistência não são evidentes até que vejas a luz por
trás dela. E então tu a vês como um frágil véu diante da luz.
Essa barreira aparentemente pesada, esse solo artificial que parece uma rocha, é
como um bloco de nuvens escuras e baixas que parece ser uma parede sólida
diante do sol. Sua aparência impenetrável é totalmente ilusória. Ela dá passagem
suavemente aos topos das montanhas que se erguem acima dela e não tem
qualquer poder para impedir qualquer pessoa disposta a escalá-las e ver o sol. Não
é forte o suficiente para impedir a queda de um botão, nem para segurar uma pluma.
Nada pode se basear nela, pois é apenas uma ilusão de um fundamento. Tenta
apenas tocá-la e ela desaparece, tenta agarrá-la e nada terás em tuas mãos (T-
18.IX.5:2-6:6).

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Ilusões não têm o poder de deter a simples verdade da Expiação.

(7:1) Eis aqui a resposta!

Isso precisa ser repetido, porque o ego nos diz que a resposta é encontrada em algum
outro lugar – em nosso especialismo. Portanto, Jesus confronta o super-aprendizado do ego
com sua repetição da correção.

(7:1-5) Não vires as costas para novamente vagar sem rumo. Aceita a salvação agora. É
a dádiva de Deus e não do mundo. O mundo não pode oferecer nenhuma dádiva de
qualquer valor à mente que tenha recebido como seu o que Deus lhe deu.

Se essa declaração for verdadeira, como é, eu só preciso rejeitar Deus e meu ego ficará
bem. No entanto, uma vez que deixei Jesus entrar na minha vida e experimentei seu amor,
ainda que por um instante, não posso justificar qualquer crença em que esse mundo tem valor
para mim. Para assegurar que isso não aconteça, somos continuamente impelidos pelo
sistema de pensamento do nosso ego a julgar, manter mágoas, e ficar doentes, inventando
problemas inexistentes, para os quais buscamos soluções inexistentes. A compulsão
esmagadora de levar adiante esse “vagar sem rumo” – do amor para a culpa, para o corpo –
nasce do pensamento de que se permitirmos que a luz entre em nossas mentes e
vivenciarmos seu amor, não mais poderemos justificar o pensamento de que existe qualquer
coisa importante aqui. O Espírito Santo gentilmente nos lembra de que é nossa escolha
permanecermos no inferno ou voltarmos para casa, pois Sua Presença é a prova de que o
Amor do Céu não desapareceu. Em nossa insanidade, nós escolhemos desaparecer com ele,
mas agora escolhemos retornar.

(7:6) É Vontade de Deus que a salvação seja recebida hoje e que os labirintos dos teus
sonhos não mais escondam de ti que nada são.

Não vamos perceber que nossos sonhos não são nada até olharmos para eles. É por isso
que o perdão pode ser definido muito simplesmente como olhar para o ego sem julgamento, o
que é impossível se olharmos sozinhos; daí a ênfase do Um Curso em Milagres em
escolhermos um professor diferente. O ego nos faria acreditar que mesmo que realmente
merecêssemos salvação, suas dádivas estarão no futuro, dessa forma, tornando o tempo linear
e sua fonte – pecado, culpa e medo – reais também. Jesus nos ensina em vez disso que a
salvação é imediata – o passado pecaminoso que foi a causa do futuro nunca aconteceu:

O único problema que permanece para ti é o fato de veres um intervalo entre o


momento em que perdoas e o momento em que vais receber os benefícios de
confiar em teu irmão... A salvação é imediata. A não ser que a percebas assim, terás
medo da salvação... A salvação iria apagar o espaço que ainda vês entre vós e
permitiria que viésseis a ser um instantaneamente. E é aqui que temes que a perda
possa estar... O teu medo não é a perda futura. Ao contrário, o que te aterroriza é a
união presente. Quem poderia sentir desolação a não ser agora? Uma causa futura
ainda não tem efeitos. E, portanto, se tens medo é preciso que exista uma causa
presente. E é isso o que necessita de correção, não um estado futuro... Não te
contentes com a felicidade futura. Ela não tem significado e não é a recompensa
justa para ti. Pois tens uma causa para ser liberada agora... Não olhes para o tempo,
mas para o pequeno espaço que ainda está entre vós, do qual ambos têm que ser
libertados... O propósito do Espírito Santo agora é o teu. A Sua felicidade não
deveria ser tua também? (T-26.VIII.1:1; 3:1-2,4-5; 4:3-8; 9:1-3,7,9-10).

20
O perdão nos traz essa verdade, liberando-nos para a felicidade, conforme nos libera do
medo de perdermos nossa identidade presa ao tempo. Nós, portanto, podemos aceitar a
salvação agora – não na próxima semana, próximo ano, no pós-vida, ou na próxima vida, mas
nesse exato instante. As dádivas de Deus são “redimidas” no instante santo; as nossas quando
escolhemos nos unir a elas. Essas lições aceleram esse dia feliz.

(8:1) Abre os teus olhos hoje, e olha para um mundo feliz, de segurança e paz.

Isso significa que nossos olhos estão fechados, e estão, porque vemos o que não está lá.
Nós pensamos que estamos vendo, mas Jesus continua nos dizendo que os olhos do corpo
não vêem, assim como os ouvidos não ouvem, e o cérebro não pensa. O que vemos é apenas
uma parte do sonho. Essa abertura dos olhos é a mesma coisa que segurar a mão de Jesus e
ver o mundo através dos seus olhos, visão na qual o perigo e os conflitos do mundo do ego são
alegremente trocados por “um mundo feliz, de segurança e paz”.

(8:2) O perdão é o meio pelo qual ele vem tomar o lugar do inferno.

Esse mundo feliz, como vamos ver no parágrafo 12, é o mundo real, o estado mental no
qual nossos pecados são perdoados. A linda seção no texto chamada “O espaço que o pecado
deixou” descreve esse mundo que o perdão traz. Aqui está o parágrafo inicial:

O perdão é o equivalente que existe nesse mundo para a justiça no Céu. Ele traduz
o mundo do pecado em uma simples palavra, onde se pode ver o reflexo da justiça
que vem de além da porta atrás da qual está a ausência total de limites. Nada no
amor sem limites poderia necessitar de perdão. E o que é caridade dentro desse
mundo cede lugar à simples justiça depois da porta que se abre para o Céu.
Ninguém perdoa a não ser que tenha acreditado no pecado e ainda acredite que tem
muito a ser perdoado. O perdão assim vem a ser o meio pelo qual ele aprende que
nada fez que precise ser perdoado. O perdão sempre está naquele que o oferece,
até que ele se veja como não tendo mais necessidade de ser perdoado. E deste
modo ele é devolvido à sua função real de criar, que o seu perdão lhe oferece de
novo (T-26.IV.1).

(8:3) Na quietude, ele surge para saudar os teus olhos abertos e encher o teu coração de
profunda tranqüilidade, à medida que verdades antigas, eternamente recém-nascidas
surgem na tua consciência.

Essas “verdades antigas” – a separação de Deus nunca aconteceu, e nós continuamos


sendo Seu Filho – estão sempre dentro de nossas mentes. Uma vez que as ocultamos, nossa
função é removermos as barreiras à sua lembrança. O perdão é o meio, e a consciência
renascida da paz de Deus é o fim.

(8:4-5) O que vais lembrar nesse momento nunca poderá ser descrito. No entanto, o teu
perdão te oferece isso.

Como Jesus já explicou muitas vezes, nossa consciência renascida não pode ser
compreendida, pois o Amor de Deus transcende nossa capacidade de compreensão. No
entanto, nós podemos entender os meios que o perdão proveu para nossa lembrança.
O parágrafo 9 começa com as instruções para os períodos de prática, que, assim como
todos os outros, são destinados a nos ajudarem a alcançar esse novo nível de compreensão:

(9) Lembrando-nos das dádivas do perdão, empreendemos a nossa prática de hoje com
esperança e fé de que esse será o dia em que a salvação será nossa. Nós a buscaremos
21
hoje com ardor e alegria, cientes de que seguramos a chave em nossas mãos, aceitando
a resposta do Céu ao inferno que fizemos, mas no qual não mais queremos permanecer.

Se não formos ardorosos e alegres em nossa prática, poderíamos muito bem não fazer os
exercícios. Essas características são cruciais para nosso avanço no currículo, pois, sem elas,
nós iríamos alegremente continuar escravizados ao ardor do ego de manter a separação.
Reconhecer que a individualidade é o inferno e a unicidade é o Céu provê a motivação para
aprender uma lição diferente, de um professor diferente. Alegremente, então, pegamos a chave
que é a dádiva do perdão, de mãos que sempre a estenderam para as nossas. Unidos agora a
Jesus, possuímos os meios para abrimos o portão do Céu e voltarmos para casa.

(10) De manhã e à noite, oferecemos com alegria um quarto de hora à busca na qual o
fim do inferno está garantido. Começa com esperança pois alcançamos o ponto de
mutação, em que a estrada vem a ser muito mais fácil. E agora o caminho que ainda
temos que percorrer é curto. De fato, estamos bem próximos do final estabelecido para o
sonho.

Nosso ardor recém-encontrado dá alegres boas-vindas a cada período de prática, pois ele
anuncia nossa decisão de terminarmos a jornada e despertarmos do pesadelo do ego.
Confrontados pela “bifurcação na estrada”, fizemos a escolha que constitui o ponto de
mutação, dessa forma, suavizando nosso caminho. Essa decisão é descrita na seguinte
passagem do texto:

Quando chegas ao local onde a bifurcação na estrada é bem evidente, não podes ir
adiante. Tens que ir por um caminho ou por outro. Pois agora se fores em frente
pelo caminho que seguias antes de chegar à bifurcação, não irás à parte alguma.
Todo o propósito de vires até aqui era decidir qual o rumo que tomarás agora. O
caminho por onde vieste já não importa mais. Não pode mais servir. Ninguém que
tenha chegado até esse ponto pode tomar a decisão errada, embora ele possa
adiar. E não há trecho da jornada que pareça mais sem esperança e fútil do que
estar onde a estrada se bifurca sem decidir que caminho tomar (T-22.IV.1).

(11) Mergulha na felicidade ao começar estes períodos de prática, pois oferecem as


infalíveis recompensas de perguntas respondidas e do que resulta da tua aceitação da
resposta. Hoje te será dado sentir a paz que o perdão oferece e a alegria que o levantar
do véu descortina para ti.

Como estamos felizes em praticar os exercícios que vão nos levar para casa! Como
estamos repletos de alegria conforme nossos questionamentos foram trazidos à única
Resposta, na qual é encontrada a fonte da nossa paz! Nós continuamos com “A bifurcação da
estrada”, e quase podemos sentir a alegria de Jesus conforme seu perdão nos desperta para
nossa alegria:

E assim, tu e o teu irmão estais aqui nesse lugar santo, diante do véu do pecado que
pende entre vós e a face de Cristo. Permite que ele seja erguido! Levanta-o junto
com o teu irmão, pois é apenas um véu que está entre vós... No entanto, isso está
quase no fim em tua consciência e a paz te alcançou mesmo aqui, diante do véu.
Pensa no que acontecerá depois. O amor de Cristo iluminará a tua face e brilhará a
partir dela sobre um mundo escurecido que necessita de luz. E deste lugar santo,
Ele retornará contigo, sem deixar o mundo e sem deixar-te. Tu virás a ser o
Seu mensageiro, devolvendo-O a Si Mesmo.
Pensa na beleza que verás, tu que caminhas com Ele! E pensa como tu e teu irmão
parecereis belos um para o outro! Como estareis felizes por estardes juntos, após
22
uma jornada tão longa e tão solitária na qual cada um caminhou sozinho. Os portões
do Céu agora estão abertos para ti e irás abri-los agora para os pesarosos. E
ninguém que contemple o Cristo em ti deixará de regozijar-se. Como é belo o que
viste além do véu e trarás para iluminar os olhos cansados daqueles que agora
estão exaustos como tu já estiveste uma vez. Como ficarão agradecidos ao ver-te
chegar entre eles oferecendo-lhes o perdão de Cristo para dissipar a sua fé no
pecado (T-22.IV.3:1-3,5-9; 4).

Quem, uma vez tendo experimentado essa alegria, iria jamais, exceto em insanidade,
escolher restaurar o véu do julgamento que mantém dois irmãos separados e obscurecidos
para tal felicidade? E como é alegre deixar que a resposta do perdão se estenda para tocar
todos aqueles que ainda não a aceitaram!

(12:1) Diante da luz que receberás hoje, o mundo se desvanecerá até desaparecer...

Quando trazemos as complexidades do nosso sistema de pensamento – nossos


pensamentos de culpa e ataque – à luz, ela simplesmente os ilumina, dissipando-os. O mundo
que se desvanece parece ser físico, mas é apenas uma sombra da culpa. Portanto, quando
uma pessoa perdoa, o mundo não vai literalmente se desvanecer – como o que nunca foi pode
se desvanecer? -, mas o que realmente se desvanece são os pensamentos de culpa na mente,
o objeto do perdão. Nós precisamos sempre manter isso em mente, pois, de outra forma,
vamos sair dos trilhos muito rapidamente.
Portanto, conforme eu levo a escuridão da minha culpa à luz do amor de Jesus, olhando
para ela com ele, a culpa desaparece porque ela nasce da minha crença de que sou separado
dele e de Deus. Conforme eu me uno a Jesus, desfaço a própria causa da escuridão – a
separação, da qual o mundo é apenas uma sombra. Assim, ele só pode se desvanecer na
presença da unicidade.

(12:1-2) ... e verás surgir um outro mundo e não terás palavras para retratá-lo.
Caminhamos agora diretamente para a luz e recebemos as dádivas que nos foram
reservadas desde o início dos tempos, à espera do dia de hoje.

Esse é o mundo real. Uma vez que ele não é um lugar físico, a lição não quer dizer, por
exemplo, que se ele estiver escuro e nublado antes de você fazer a lição, o sol vai subitamente
emergir quando completá-la. Tal expectativa é mágica; arrogante e irrelevante. É a escuridão
da mente que desaparece, permitindo que a luz da Expiação, a base do mundo real,
simplesmente brilhe. Vamos ver novamente as palavras inspiradoras no fim do texto, conforme
Jesus descreve o mundo indescritível para o qual está nos levando, junto com nossos irmãos:

Meus irmãos na salvação, não deixem de ouvir a minha voz e de escutar as minhas
palavras. Eu nada peço senão a tua própria liberação. Não existe lugar para o
inferno dentro de um mundo cuja beleza pode ainda ser tão intensa e tão
abrangente que apenas um passo o separa do Céu. Aos teus olhos cansados, eu
trago a visão de um mundo diferente, tão novo, tão limpo e fresco, que esquecerás a
dor e a tristeza que viste antes. Entretanto, essa é uma visão que tens que
compartilhar com todas as pessoas que vês, pois, de outro modo, não a
contemplarás. Dar essa dádiva é a forma de fazê-la tua. E Deus determinou, em
benignidade amorosa, que ela fosse tua (T-31.VIII.8).

(13) O perdão oferece tudo o que queres. Hoje, todas as coisas que queres te são dadas.
Não deixes que as tuas dádivas sumam da tua vista durante o dia, quando voltares a
encontrar um mundo de mudanças passageiras e aparências desoladoras. Conserva as

23
tuas dádivas na tua consciência com clareza ao ver o imutável no coração da mudança,
a luz da verdade por trás das aparências.

Tenho enfatizado repetidamente, porque o livro de exercícios enfatiza repetidamente,


que essas lições não têm significado se você não aplicá-las à sua vida diária. Isso é crucial
para entender esse importante parágrafo. Não é suficiente ter uma experiência meditativa
maravilhosa, na qual você vê a escuridão da culpa desaparecer em sua mente, e Jesus
brilhando em glória, com você brilhando junto com ele, se, quando você dá um passo atrás,
para o mundo, tudo isso se vai, e você fica zangado, impaciente, doente, aborrecido e
preocupado. Jesus está nos pedindo para prestarmos atenção cuidadosa ao que acontece em
nossas vidas diárias ao encontrarmos “um mundo de mudanças passageiras e aparências
desoladoras”, e, ao fazermos isso, levarmos a luz da verdade, do perdão e do amor conosco.
Então, não importando o que está acontecendo ao nosso redor, vamos permanecer em paz.
Portanto, o propósito dessas lições não é simplesmente nos fazer vivenciar momentos
santos logo cedo, pela manhã, ou duas vezes ao dia, ou tarde da noite, quando estamos
completamente sozinhos. O propósito é trazer sua verdade às nossas experiências diárias, e
ver “o imutável no coração da mudança”. Tudo aqui muda. O que nos agrada em um dia, não
vai nos agradar em outro. Uma pessoa de quem gostamos hoje, não vamos gostar amanhã. No
entanto, o que é imutável é o Amor de Deus, representado para nós por Jesus e pelo Espírito
Santo. Portanto, ele nos pede para mantermos o pensamento diário em mente, conforme
atravessamos nosso dia, aceitando o desafio de trazermos o mutável ao imutável, e a
aparência à realidade, para que possamos ver a luz da verdade por trás das aparências.

(14) Não sejas tentado a deixar que as tuas dádivas passem despercebidas e caiam no
esquecimento, mas mantêm-nas com firmeza em tua mente através das tuas tentativas
de pensar nelas pelo menos por um minuto a cada quarto de hora que passa. Lembra-te
do quanto estas dádivas são preciosas com esse lembrete, que tem o poder de mantê-
las na tua consciência ao longo do dia:

O perdão oferece tudo o que eu quero.


Hoje, aceitei isso como verdadeiro.
Hoje, recebi as dádivas de Deus.

Jesus, portanto, nos pede – pelo nosso próprio bem – que apliquemos seus ensinamentos
com tanta freqüência quando pudermos através do dia, a cada quinze minutos se possível; na
verdade, ainda mais do que isso. Se nós esquecermos, deveríamos estar atentos para nos
lembrar que é o medo em nossas mentes que tem nos motivado, não a perda da função
cerebral. Assim, podemos voltar nossas mentes ao ponto de escolha, quando escolhemos a
dor e o sofrimento como o preço que queríamos pagar para sustentar nosso ser individual,
separado. Agora cientes da nossa escolha, podemos escolher novamente, lembrando que o
que realmente queremos é o fim da dor e alcançar a paz. Com essa dádiva como nossa meta,
nós alegre e determinadamente escolhemos perdoar. E então, um sorriso substitui uma
lágrima, uma bênção remove uma maldição, e o amor bane o ódio:

Um milagre antigo veio para abençoar e para substituir um inimigo antigo que veio
para matar (T-26.IX.8:5).

24
LIÇÃO 123

Agradeço ao meu Pai por Suas dádivas para mim.

Essa lição é sobre gratidão. Implícita aqui, como mencionei no início da Lição 122, está a
correção para a ingratidão que sentimos. Enquanto acreditarmos que somos indivíduos,
acalentando nossos seres físicos e psicológicos, tendo o especialismo como nosso maior valor,
não existe maneira de podermos ser gratos a Deus porque Ele é a maior ameaça à nossa
existência separada. Desnecessário dizer, é o verdadeiro Deus que é ameaçador, porque a
versão do ego é parte do sonho, diferente do Próprio Deus Que nem mesmo sabe da sua
existência. Lembrar de Deus é lembrar Quem somos como parte d’Ele. Como um com Ele,
nossa existência individual não significa nada. De fato, ela é nada – apenas uma invenção da
nossa imaginação iludida.
Essa lição, então, expressa a correção, nascida do pensamento de que tem que existir
outra maneira de olhar para mim mesmo, para não mencionar olhar para o mundo. Eu
reconheço que minha individualidade não me fez feliz, nem minha busca pelo especialismo me
trouxe a paz, o amor e a alegria que quero. Em outras palavras, somos gratos por estarmos
errados e por Deus estar certo. No entanto, enquanto pensarmos que estamos certos sobre
nossa existência e compreensão do mundo, a gratidão é impossível. Quem poderia ser grato
por um Deus, curso e professor que acredita estarem errados?

(1:1-3) Hoje, sejamos gratos. Chegamos a atalhos mais suaves e a estradas mais planas.
Não pensamos em voltar atrás e não há nenhuma resistência implacável à verdade.

Nós encontramos discursos de incentivo como esse através de todo o livro de exercícios.
Obviamente, Jesus sabe que isso não é totalmente verdadeiro para nós, porque ele continua
com as lições, mas ele apela para nossas mentes certas, para que caminhos gentis sejam
nossa meta. Claramente, isso não é um julgamento contra nós pelo fato de sermos resistentes
à verdade, termos pensamentos de voltar atrás, e freqüentemente desejarmos fechar o livro –
permanentemente. Jesus não quer nossa culpa, mas nossa compreensão de que esses
pensamentos não nos fazem felizes. Portanto, ele se dirige à parte de nós que realmente quer
viajar nos gentis caminhos do perdão, e busca reforçá-la.
Deveríamos apreciar essa próxima sentença, reconhecendo o quanto a perspectiva de
Jesus é diferente da nossa:

(1:4) Um pouco de indecisão permanece, algumas pequenas objeções e um pouco de


hesitação, mas podes muito bem ser grato pelos teus ganhos, que são muito maiores do
que reconheces.

No parágrafo inicial de “O sonho feliz”, Jesus diz, com efeito, que não temos idéia do que
está acontecendo conosco:

... pois não podes distinguir entre progresso e retrocesso. Alguns dos teus maiores
progressos julgaste como fracassos e alguns dos piores retrocessos avaliaste como
sucesso (T-18.V.1:5-6).

Em outras palavras, não podemos entender, apreciar ou avaliar nosso progresso no


caminho espiritual. Uma vez que estamos sobrecarregados pela força do ego, pensamos que
não existe maneira de jamais podermos ir além dele, e então, pensamos que o pouco que já
fizemos não é muito, afinal. Jesus está nos dizendo aqui que fizemos muito mais do que
percebemos. Podemos não ter subido ao topo da escada, mas por meio do nosso
25
comprometimento com ele e empenho em termos sucesso em aprender suas lições, ganhamos
muito.

(2:1) Agora, um dia dedicado à gratidão acrescentará o benefício de algum


discernimento acerca da real extensão de tudo o que tens ganho, das dádivas que tens
recebido.

Esses ganhos vêm da minha seriedade sobre voltar para casa, e do meu estudo e prática
do Curso. Eu já estou na Lição 123, então, passei pelo menos cento e vinte e três dias nisso.
Afinal, eu poderia ter parado no primeiro dia, ou nem ter começado os exercícios de forma
alguma. O fato de eu ter praticado – não importando o quanto meus esforços possam ter sido
tíbios algumas vezes, não importando o quanto tenham sido cheios de especialismo – significa
que existe uma parte de mim que quer aprender essas lições e ficar com elas. É para isso que
precisamos olhar em nós mesmos, em vez de julgarmos nossas falhas e resistências. Portanto,
vamos nos sentir gratos pelo nosso professor, suas lições e por nós mesmos termos escolhido
aprender com elas.

(2:2) Fica contente hoje em gratidão amorosa, o teu Pai não te abandonou a ti mesmo,
nem te deixou a vagar sozinho no escuro.

Isso desfaz a projeção do ego de que não abandonamos Deus; Ele nos abandonou. Além
disso, mesmo que o tivéssemos feito, Ele deveria ter nos impedido, estendendo Seu braço
eterno para a escuridão e nos puxando de volta. Do ponto de vista do ego, é sempre culpa de
Deus. A gratidão real vem da compreensão de que Deus não nos salvou porque Ele não pode.
Se Ele de fato estendesse Seu braço para a escuridão, isso significaria que ela era real, e a
salvação seria necessária diante da separação fatual. Nossa gratidão a Deus é porque Ele não
sabe do nosso estado separado, e então, não tenta nos salvar. Seu Ser imutável permanece
nossa única esperança. Portanto, Jesus nos diz no texto que precisamos perdoar Deus por Ele
não ser um conosco. Ele não se une a nós em nosso jogo de pecado, culpa e medo, o que
significa que não existe pecado e, portanto, nenhum ser separado que precise ser punido:

Perdoa teu Pai por não ter sido Sua Vontade que tu fosses crucificado (T-
24.III.8:13).

Uma vez que perdoamos nosso Criador, vivenciamos gratidão pelo fato de que Ele é, e
que em Seu Ser descansamos seguros, como Seu Filho. Mesmo durante nosso sono de
esquecimento, Sua memória repousa segura também, sua própria presença gentilmente nos
chamando para despertarmos e sermos felizes. Quem poderia então não ser grato a tal luz
brilhando na escuridão da nossa culpa e medo?

(2:3-4) Sê grato por Ele te ter salvo do ser que pensaste ter feito para ocupar o Seu lugar
e o da Sua criação. Hoje, dá-Lhe graças.

Para repetir, Deus nos salva simplesmente sendo ele Mesmo. Daí a linha que vem depois
no livro de exercícios, “Nós dizemos ‘Deus é’, e então deixamos de falar” (LE-pI.169.5:4). Nada
mais pode ser dito sobre Deus, e esse é o motivo e a forma com que Ele nos salva – Ele não
muda, torna o erro real, estabelece ilusão como realidade, ou vê Seu Filho como separado
d’Ele. A realidade em si mesma é a salvação da ilusão.

(3) Dá-Lhe graças por Ele não ter te abandonado e pelo Seu Amor permanecer para
sempre brilhando sobre ti, para sempre imutável. Dá-Lhe graças também por seres
imutável, pois o Filho que Ele ama é tão imutável quanto Ele próprio. Sê grato por
estares salvo. Fica contente por teres uma função a ser cumprida na salvação. Sê grato
26
por teu valor transcender em muito as tuas parcas dádivas e os teus julgamentos
mesquinhos sobre aquele que Deus estabeleceu como Seu Filho.

A gratidão é impossível enquanto pensarmos que estamos aqui. Somos gratos apenas
quando tiramos nosso investimento em nossa identidade individual e especialismo. Em outras
palavras, nós damos graças por Deus estar certo e nós errados. Esse é o significado da
humildade, a pré-condição para a gratidão, trazida pelo cumprimento da nossa função de
perdão.

(4) Hoje, em gratidão elevamos os nossos corações acima do desespero e erguemos os


nossos olhos agradecidos que não olham mais para baixo, para o pó. Hoje, entoamos a
canção do agradecimento em honra ao Ser Que segundo a Vontade de Deus é a nossa
verdadeira Identidade Nele. Hoje, sorrimos para todos aqueles que vemos e caminhamos
com passos leves ao fazermos o que nos foi designado fazer.

“O que nos foi designado fazer” é perdoar, o que significa que eu primeiro me torno
consciente do quanto não quero liberar meus julgamentos e especialismo, do quanto não quero
sorrir para todos os que vejo. Na verdade, eu só quero sorrir para aqueles de quem quero algo;
um desejo que é seletivo, específico e especial. Meu primeiro passo ao aprender a perdoar,
portanto, é estar ciente do quanto não quero fazê-lo, do quanto não quero mudar minhas
percepções. É só quando me torno consciente do meu ato de negar um sorriso ou uma palavra
gentil a você, que posso ver que estou negando isso a mim mesmo. Portanto, não apenas não
estou interessado em estar com você, mas com Jesus também, e certamente não estou
interessado em voltar para Deus. Precisamos ver a conexão causal entre o efeito, como somos
em relação aos outros – separados, insensíveis e especiais – e a causa, não querermos voltar
para casa e nos lembrar do Filho de Deus. Nós olhamos para esse desejo sem julgamento,
dessa forma perdoando a nós mesmos – nossa função na Terra. Como alguém poderia não
sentir gratidão por tal unção, pois só através do perdão nossos corações podem se elevar
acima do desespero, para compartilhar a visão da Filiação de Deus: o Ser que Deus criou um
com Ele.

(5:1-2) Não vamos sozinhos. E damos graças porque na nossa solidão um Amigo veio
para nos falar do Verbo salvador de Deus.

Nosso Amigo é o Espírito Santo, e o “Verbo salvador de Deus” é uma expressão da


Expiação: correção, perdão, essa lição. A esperança, portanto, estará presente em nossas
mentes, se nós apenas nos utilizarmos dela. Nossa gratidão não conhece limites, pois esse
Amigo e Seu Verbo curador são a saída do inferno.

(5:3-5) E agradecemos a ti por tê-Lo ouvido. O Verbo de Deus não tem som, se não for
ouvido. Ao agradeceres a Ele, os agradecimentos são teus também.

O princípio da Expiação, por toda sua verdade, radiância, e amor, não tem relevância até
que escolhamos nos unir a ele, o que fazemos por nos separarmos das interferências do ego a
ele. Nós aceitamos a Expiação para nós mesmos quando liberamos tudo o que fizemos para
ocultar sua verdade. Nós, portanto, precisamos olhar para nossos investimentos nos mundos
interno e externo do especialismo. Sem o Espírito Santo ao nosso lado, isso é impossível, mas
com Ele, somos conduzidos ao nosso Ser. Nossos agradecimentos a Ele são os d’Ele a nós.
Seus agradecimentos a nós são os nossos a Ele, pois a canção da gratidão não tem início nem
fim, refletindo a Canção de Deus, como está nessa maravilhosa passagem, mais pra frente no
livro de exercícios:

27
O nosso Amor nos espera quando vamos a Ele e anda ao nosso lado mostrando-
nos o caminho. Ele não falha em nada. Ele é o fim que buscamos e o meio pelo qual
vamos a Ele (LE-pII.302.2).

(5:6) Uma mensagem que não é ouvida não salvará o mundo, por mais poderosa que
seja a Voz que a diz, por mais amorosa que a mensagem possa ser.

Jesus não pode me salvar até eu escolher me unir a ele. “A salvação é um


empreendimento de colaboração” não apenas por que vejo meu irmão como um comigo, mas
porque colaboro com ele, que representa a salvação. Assim, a mensagem de perdão de Jesus
é aceita e oferecida como uma:

Ao aproximar-te de um irmão, tu te aproximas de mim e ao afastar-te dele, eu venho


a estar distante para ti. A salvação é um empreendimento de colaboração. Não pode
ser empreendida com sucesso por aqueles que se desengajam da Filiação, porque
estão se desengajando de mim. Deus só virá a ti na proporção em que tu O deres a
teus irmãos. Aprende primeiro com eles e estarás pronto para ouvir a Deus. Isso é
assim porque a função do Amor é uma (T-4.VI.8).

E então, nós voltamos juntos, como o Filho único de Deus.

(6:1) Graças sejam dadas a ti que ouviste, pois vens a ser o mensageiro que traz consigo
a Sua Voz e a deixa ecoar por todo o mundo.

A mensagem ecoa por todo o mundo por a termos escolhido. Quando, no instante santo,
escolhemos Jesus como nosso professor e a Expiação como nosso princípio orientador, nós
nos unimos à Filiação, pois não existe mais qualquer separação em nossas mentes. Além
disso, uma vez que o mundo físico é a sombra da mente separada do Filho, o mundo é curado
também.
Mais uma vez, essa não é uma mensagem que espalhamos pelo mundo de forma
comportamental, mas uma que automaticamente se estende através de nós. Isso significa que
a mensagem permanece dentro da mente do Filho de Deus no instante em que ele a escolhe,
e o milagre permite que ela se estenda sem esforço, como nos recordamos:

Ainda podes pensar que é impossível compreender a santidade, porque não podes
ver como ela pode ser estendida para incluir todas as pessoas. E te foi dito que ela
tem que incluir todas as pessoas para ser santa. Não te preocupes com a extensão
da santidade, pois não compreendes a natureza dos milagres. Nem és tu quem os
faz. É a sua extensão, muito além dos limites que percebes, que demonstra que tu
não os fazes (T-16.II.1:1-5).

(6:2-3) Hoje recebe os agradecimentos de Deus ao dar graças a Ele. Pois Ele quer te
oferecer os agradecimentos que Lhe dás, já que Ele recebe com amorosa gratidão as
tuas dádivas e as devolve mil vezes, cem mil vezes maiores do que quando foram dadas.

Esses números são obviamente simbólicos, mas sua magnitude expressa a magnitude da
cura que ocorre quando escolhemos liberar nossa culpa e olhar para nossos julgamentos sem
julgamento ,aceitando a gratidão de Deus mesmo quando a estendemos a Ele.

(6:4-5) Ele abençoará as tuas dádivas compartilhando-as contigo. E assim elas crescem
em poder e força até que encham o mundo com contentamento e gratidão.

28
A linguagem poética reflete a verdade de que a consciência da nossa abundância como
Filho de Deus aumenta conforme liberamos nosso apego à culpa e especialismo. Conforme o
poder que investimos neles diminui, o poder e a força naturais do Amor de Deus têm permissão
para ser o que são. Assim, nossas mentes ficam cheias de alegria e gratidão, conforme nos
tornamos conscientes de que a noite terminou e a luz de Cristo raiou. Nossas mentes se
enchem dessa luz, assim como a mente da Filiação – uma mente é todas as mentes -, pois o
poder e a força do Filho de Deus não excluem ninguém; de outra forma, não seriam
verdadeiros.

(7) Recebe o Seu agradecimento e oferece-Lhe o teu durante quinze minutos duas vezes
hoje. E compreenderás a Quem ofereces a tua gratidão e a Quem Ele agradece quando
estás Lhe agradecendo. Essa santa meia-hora dada a Ele te será devolvida na proporção
de anos para cada segundo e poder para salvar o mundo com rapidez aumentada de
muitas eras graças ao teu agradecimento a Ele.

A verdadeira gratidão reflete a Unicidade do Céu – um círculo sem separação. Isso é


desconhecido na terra, e não somos solicitados a entender como trinta minutos nos poupa
eons, mas somos solicitados a deixar que aconteça. Isso nós fazemos quando, através da
nossa gratidão, expressamos nossa unidade com Deus e com o Espírito Santo, que emanam
do perdão ao nosso irmão e a nós mesmos.

(8) Recebe os Seus agradecimentos e compreenderás o quão amorosamente Ele te


guarda na Sua Mente, quão profundo e ilimitado é o Seu cuidado para contigo, quão
perfeita é a Sua gratidão a ti. Lembra-te de pensar Nele a cada hora e dá-Lhe graças por
tudo o que Ele deu ao Seu Filho para que ele possa erguer-se acima do mundo
lembrando-se do seu Pai e do seu Ser.

Novamente, e de uma vez por todas, Deus não sente gratidão a nós. Ele não tem um ser
separado que pode experienciar outro; em gratidão ou em ódio. Essa adorável passagem,
assim como essa adorável lição, meramente expressa o Amor de Deus na forma específica
que a correção precisa para desfazer o conto de pecado e culpa, punição e dor, ódio e morte
do ego. Conforme nos permitimos vivenciar gratidão – de e para Deus -, as correntes de ódio e
medo caem de lado. Não mais presos ao mundo sombrio de desespero do ego, nossos
corações e mentes são elevados acima do mundo para a luz, conforme o Céu canta sua
canção de gratidão.

29
LIÇÃO 124

Que eu me lembre que sou um com Deus.

Aqui nós encontramos o tema da unicidade, cuja compreensão significa reconhecer o


quanto não queremos liberar a separação. Para fazer a afirmação novamente, o que é positivo
no Um Curso em Milagres é desfazer o que é negativo, porque esse não é um curso sobre o
Céu, onde a única verdade Positiva pode ser encontrada. O sistema de pensamento de
separação é a causa de todos os nossos problemas, e seu desfazer nos leva a relembrar de
quem Nós somos. O processo, como faz essa lição, inicia com uma expressão de gratidão:

(1:1) Hoje, damos graças mais uma vez pela nossa Identidade em Deus.

Damos graças na extensão em que queremos dizer: eu não quero mais ser quem
pensava ser – uma pessoa única e especial, separada do Criador; não quero mais estar certo.

(1:2-5) A nossa casa está em segurança, a proteção nos é garantida em tudo o que
fazemos, o poder e a força estão ao nosso alcance em todos os nossos
empreendimentos. Não podemos falhar em nada. Tudo o que tocamos se reveste de uma
luz brilhante que abençoa e cura. Em unidade com Deus e com o universo continuamos
o nosso caminho, regozijando-nos com o pensamento de que o próprio Deus vai
conosco a toda parte.

Ao fazermos essa lição e lermos as lindas e inspiradoras palavras de Jesus, precisamos


estar cientes de uma parte dentro de nós que não acredita nele. Além disso, existe uma parte
que não quer acreditar nele. Nós fizemos um mundo no qual nos sentimos vulneráveis a cada
mudança, e, no entanto, é um mundo no qual conseguimos um estranho e perverso conforto.
Nosso aprendizado, portanto, nos leva para longe daqui, conforme escolhemos a força de
Cristo em vez da nossa fraqueza (T-31.VIII.2:3). Conforme a jornada continua, nós acabamos
sabendo que não falhamos em nada por causa de Quem caminha conosco e de Quem somos.
As lindas palavras de Jesus, portanto, deixam de ser meras palavras, mas os símbolos da
nossa realidade.

(2:1) Como são santas as nossas mentes!

Nossas mentes obviamente não são muito santas se pensarmos que existimos como
indivíduos. A culpa não é santa, mas nos lembramos da santidade da mente quando
reconhecemos que o Amor de Deus é a única coisa que queremos. A santidade é encontrada
em nossas mentes certas, para a qual voltamos quando perdoamos. Portanto, nos recordamos
das nossas mentes certas por perdoarmos nossas projeções profanas sobre os outros. Uma
das linhas mais adoráveis no Um Curso em Milagres afirma:

O mais santo de todos os locais da terra é aquele onde um antigo ódio veio a ser um
amor presente (T-26.IX.6:1).

(2:2) E tudo o que vemos reflete a santidade dentro da mente que está em unidade com
Deus e consigo mesma.

Isso é assim, pois tudo o que vemos com nossos olhos reflete a não-santidade da mente
em acreditar que não é uma com Deus ou consigo mesma, uma vez que escolhemos ser um
indivíduo e reforçamos a crença na separação; a mente repleta da escuridão da culpa. O
30
mundo surgiu desse pensamento como uma sombra cujo propósito era ocultá-lo. Quando nós
mudamos nosso professor, nos unimos à luz, e tudo o que vemos através da visão a reflete.
Continuando a passagem acima citada, lemos como Deus e Cristo retornam ao templo do
perdão que Lhes deu boas-vindas, conforme o mundo se enche da luz refletida do Amor e
gratidão do Céu:

E Eles vêm rapidamente para o templo vivo, onde um lar para Eles foi preparado.
Não há lugar mais santo no Céu. E eles vieram para habitar dentro do templo que
Lhes foi oferecido, para que esse seja um lugar de descanso para Eles assim como
para ti. Aquilo que o ódio liberou para o amor vem a ser a luz mais brilhante na
radiância do Céu. E todas as luzes no Céu são mais brilhantes agora, em gratidão
pelo que foi restaurado (T-26.IX.6:2-6).

(2:3) Como os erros desaparecem com facilidade e a morte dá lugar à vida que dura para
sempre.

Jesus não está falando da vida eterna no corpo, apenas em pensamento, que é tudo
sobre o que ele sempre falou. Portanto, quando escolhemos o ego, tornamos real o
pensamento de morte; quando escolhemos o Espírito Santo, a irrealidade desse pensamento é
aparente, e a memória da nossa vida eterna como Cristo se torna a única coisa com a qual nos
identificamos.

(2:4) As marcas brilhantes dos nossos passos indicam o caminho para a verdade, pois
Deus é o nosso Companheiro enquanto caminhamos pelo mundo ainda um pouco mais.

Na extensão em que eu caminhar com Jesus, me torno um lembrete. As marcas dos


meus passos iluminam o caminho para os outros, conforme eu sou o exemplo da escolha da
mente certa. Na verdade, escolher o perdão para mim mesmo é minha única função no mundo,
permitindo que eu me torne o símbolo da verdade que Jesus se tornou. Pela paz e amor que
as pessoas experimentam em mim, elas ouvem a mensagem: “A mesma escolha que eu fiz
está disponível para você porque nossas mentes são uma”.

(2:5) E aqueles que vêm para nos seguir reconhecerão o caminho, pois a luz que
carregamos fica atrás de nós, embora também permaneça conosco à medida que
caminhamos.

A luz permanece atrás, na extensão em que ela ainda está na mente do Filho de Deus –
dentro de mim, mas dentro de todos os outros também. Ela é um lembrete, para repetir esse
ponto importante, que diz que a escolha que eu fiz você também pode fazer. Isso acontece
dentro da mente, embora pareça estar dentro do sonho de corpos. Na verdade, podemos ter
muitos símbolos – Jesus entre os mais proeminentes – a quem apontamos como modelos para
a escolha certa. Nós olhamos para eles, entendendo que, pelo fato de eles terem escolhido
corretamente, e as mentes serem uma, podemos fazer a mesma escolha. De fato, nós já
fizemos!
Você precisa ser cauteloso, no entanto, para não se identificar com o comportamento das
outras pessoas, pois é com suas mentes que você quer se identificar. É sem sentido emular
aparências externas; e.g., como as pessoas agem, se vestem, falam ou se alimentam. É o
processo de escolher com a mente certa que é o único foco apropriado. Quando Jesus nos diz
para escolhê-lo como nosso modelo de aprendizado (e.g., T-6.in.2:1), não está realmente se
referindo à vida bíblica com a qual as pessoas o associam, mas à sua escolha na mente pela
verdade em vez de pela ilusão – a separação nunca aconteceu, pois o Espírito Santo é a
verdadeira Voz da mente.

31
(3:1) O que recebemos é a nossa dádiva eterna para aqueles que nos seguem, para
aqueles que foram antes de nós, ou que ficaram algum tempo conosco.

Em outras palavras, o passado, presente e futuro são um. Quando escolho o instante
santo, aprendo que a ilusão da separação não teve efeito – nenhum pecado, culpa ou medo, e,
portanto, nenhum tempo linear. Na unicidade do instante santo, portanto, sou um com a
Filiação: passado, presente e futuro.

(3:2-4:1) E Deus Que nos ama a todos com amor igual, aquele no qual fomos criados,
sorri para nós e nos oferece a felicidade que demos.
Hoje, não duvidemos do Seu Amor por nós, nem questionaremos a Sua proteção e
o Seu cuidado.

Essa aceitação é possível apenas quando percebermos o quanto duvidamos do Seu


Amor e não confiamos em Sua proteção ou cuidado. Afinal, como Ele poderia cuidar de mim ou
me proteger, para não dizer me amar, se eu sou aquele que O traiu? É por isso que
precisamos perceber que a forma de vivenciarmos o Amor do Deus é por liberarmos as
interferências à Sua Presença. Desnecessário dizer, Jesus fala conosco em símbolos – Deus
não sorri literalmente para nós, no entanto, Seu Amor transcende o amor especial (ou desigual)
do ego que iria nos fazer acreditar, por exemplo, que Ele sorri para alguns na Filiação, mas não
para todos, ou para alguns na Filiação, algumas vezes, mas não o tempo todo.

(4:2-6) Nenhuma ansiedade sem significado pode vir para interferir na nossa fé e na
nossa consciência da Sua Presença. Somos um com Ele, hoje, em reconhecimento e
lembrança. Nós O sentimos em nossos corações. Nossas mentes contêm os Seus
pensamentos, nossos olhos contemplam a Sua beleza em tudo o que olhamos. Hoje,
vemos o que é amoroso e amável.

Nós precisamos primeiro estar cientes das ansiedades antes de percebermos que elas
não têm poder. Nós primeiro removemos as interferências antes de podermos ver, a estática,
antes de podermos ouvir. Reconhecendo nossa fé no ego, corrigimos os equívocos e nos
lembramos da Presença da verdade. Identificando-nos, então, com Pensamentos de paz, os
pensamentos de conflito se dissolvem na nulidade. Em vez de guerra, “vemos o que é amoroso
e amável” conforme a memória de Deus alvorece em nossas mentes quietas e santas.
Para reafirmar esse ponto importante, não usamos as declarações como afirmações, para
encobrirem o sistema de pensamento do ego, mas como afirmações da verdade à qual
levamos o sistema de pensamento do ego. O próximo parágrafo descreve esse processo:

(5) Vemos isso nas aparências da dor e a dor dá lugar à paz. Vemos isso nos frenéticos,
nos tristes e nos aflitos, nos solitários e nos medrosos que são restaurados à
tranqüilidade e à paz da mente na qual foram criados. É o que vemos nos moribundos e
nos mortos também, restaurando-os à vida. Vemos tudo isso porque o vimos primeiro
dentro de nós mesmos.

Esse é o mesmo pensamento expresso na Lição 122, que fala de vermos o “imutável no
cerne da mudança”. Ao atravessarmos nosso dia, não negamos as aparências de dor em nós
mesmos e nos outros, nem negamos o que é aflitivo – medo, solidão e morte. Vemos as
percepções do nosso ego, mas percebemos que elas vêm de um pensamento que primeiro
vimos dentro de nós mesmos. A projeção faz a percepção ainda é o cerne dos ensinamentos
de Jesus: eu olho para dentro, escolho o ego ou o Espírito Santo como meu professor, a culpa
ou o perdão como minha verdade, e dessa escolha um mundo surge. Se a culpa for a minha
escolha, vejo o mundo que Jesus descreve aqui – um lugar de dor, aflição e morte. Eu o terei
tornado real porque tornei o pensamento de culpa real. Nesse ponto, tudo o que está descrito
32
acima tem que ser assim; o efeito segue-se à causa. Se, por outro lado, eu escolher o perdão,
desfaço a separação, porque me uni ao Amor de Deus, o que quer dizer que não pode haver
pecado, culpa ou medo. Portanto, não pode haver dor, solidão ou morte. Uma vez que a causa
é removida, os efeitos são removidos também.
A sentença final é a chave: “Vemos tudo isso porque o vimos primeiro dentro de nós
mesmos”. Quando Jesus diz: “é o que vemos nos moribundos e nos mortos também,
restaurando-os à vida”, ele não está falando de ressurreição física, nem nos encorajando a ir
aos velórios ou tumbas, dizendo palavras como essas e esperando que as pessoas se
levantem. Tudo isso não tem nada a ver com o corpo, porque a morte é apenas um
pensamento de culpa. A morte termina quando escolhemos contra o pensamento em nós
mesmos: a culpa do ego.
Quando sua mente caminha com Jesus, portanto, você não vê a morte como real, porque
você sabe que o corpo é uma ilusão, uma mera figura em um sonho. Além disso, você percebe
que a pessoa aparecendo como essa figura de sonho é uma com você na mente; não apenas
na separação, mas na Expiação. Além disso, é claro, a pessoa é uma com você na Mente de
Cristo, na qual não existe morte, solidão ou dor. Existem dois trechos no Um Curso em
Milagres onde Jesus nos instrui a reconhecermos qual professor e lições escolhemos. No texto:

Sempre que sentires medo, sob qualquer forma – e tu estás amedrontado se não
sentes um profundo contentamento, uma certeza de seres ajudado, uma calma
segurança de que o Céu vai contigo – estejas certo de que fizeste um ídolo e
acreditas que ele vai trair-te. Pois, por trás da tua esperança de que ele vá salvar-te,
estão a culpa e a dor da auto-traição e da incerteza, tão profundas e amargas que o
sonho não é capaz de ocultar completamente todo o teu sentimento de perdição. A
tua auto-traição tem que resultar em medo, pois o medo é julgamento, levando com
certeza à busca frenética de ídolos e da morte (T-29.IX.9).

E, do livro de exercícios, em uma lição que devemos examinar depois:

Como podes saber e estás vendo de forma errada ou quando alguém não está
percebendo a lição que deveria aprender? A dor parece real na percepção? Se
parece, podes ter certeza de que a lição não foi aprendida. E lá, escondida no
interior da mente, existe ainda uma falta de perdão que vê a dor com olhos dirigidos
pela mente (LE-pI.193.7).

Essas passagens enfatizam que os problemas do medo e da dor têm sua causa na auto-
percepção. Se você vê a dor como real em si mesmo ou nos outros, vivenciando medo ou
perda de paz, é porque você primeiro tornou a culpa real em sua mente. Os mortos se
levantam e os doentes são curados não por uma intervenção física, mas por uma mudança em
você: A projeção faz a percepção. Se só existe um pensamento de amor na sua mente, que
Jesus representa, não poderia mais haver percepções de dor, sofrimento e morte. Isso não
significa que os olhos do seu corpo não as vêem mais, mas que você não vai dar a elas o
poder de afetá-lo.
Para repetir, Jesus não está falando sobre o que os olhos do nosso corpo vêem, mas de
nossa interpretação dos dados sensórios. Duas breves passagens, por exemplo, expressam a
função interpretativa da percepção:

Todas as tuas dificuldades brotam do fato de que não reconheces a ti mesmo, ao


teu irmão, ou a Deus. Reconhecer significa “conhecer de novo”, implicando que
antes conhecias. Podes ver de muitas maneiras, porque a percepção envolve
interpretação e isso significa que ela não é integra ou consistente (T-3.III.2:1-3).

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Tem havido muita confusão a respeito do que significa a percepção, porque a
palavra é usada para ambas, a consciência e a interpretação, pois o que percebes é
a tua interpretação (T-11.VI.2:5-6).

Para resumir, não existem dados objetivos lá fora para serem vistos. É apenas a maneira
com que vemos que é importante. Portanto, os olhos dos nossos corpos continuam a ver o que
os outros olhos vêem; mas nossas mentes, unidas a Jesus, não vão mais dar a interpretação
que prova a realidade da individualidade e do pecado. Nossas mentes vêem tudo aqui como
uma defesa do ego para negar a verdade dos nossos interesses compartilhados com o mundo,
a pedra fundamental para nos lembrarmos da nossa realidade compartilhada no Céu. Assim os
doentes são curados e os mortos erguidos dos seus sonhos de separação.

(6) Nenhum milagre jamais pode ser negado àqueles que sabem que são um com Deus.
Nenhum dos seus pensamentos deixa de ter o poder de curar todas as formas de
sofrimento em qualquer pessoa, nos tempos que já passaram e nos tempos que ainda
estão por vir, com a mesma facilidade com que curam aqueles que atualmente
caminham ao seu lado. Os seus pensamentos são intemporais e estão à parte da
distancia e à parte do tempo.

Como acabamos de dizer, quando os pensamentos de pecado, culpa e medo são


projetados, fazem surgir um mundo de passado, presente e futuro. O mundo do tempo,
portanto, não é nada além da expressão na forma da trindade profana do ego. Quando eu me
uno a Jesus e me lembro que sou um com Deus, esses pensamentos desaparecem – os
pensamentos mutuamente excludentes da Expiação e pecado, unicidade e separação, não
podem coexistir. Portanto, se não existe um sistema de pensamento do ego, não existe tempo;
da mesma forma, se não existe separação, não existe corpo; se não existe corpo, não existe
dor – a unicidade não pode sofrer.
Essa passagem expressa o primeiro princípio dos milagres: não há ordem de dificuldade
em milagres (T-1.I.1:1). Isso é assim porque todo problema é o mesmo – a escolha pelo ego –
assim como sua solução – a escolha por Jesus. Quando escolho o ego, tudo o que meus olhos
vêem será verdadeiro: dor, sofrimento, especialismo, corpos que vivem e morrem – e tudo é
igualmente ilusório. Quando escolho Jesus, no entanto, fico fora dos sonhos, e, olhando com
ele, gentilmente sorrio diante da tolice de acreditar que qualquer coisa aqui possa ser real. É
assim que a dor desaparece e o sorriso de Deus enxuga todas as lágrimas. A seguinte
passagem do texto nos chama a testemunharmos a inocência compartilhada do Filho de Deus,
em vez do atormentado retrato corporal do pecado, culpa e medo:

Agora, nas mãos que se fizeram gentis pelo Seu toque, Ele coloca um retrato
diferente de ti. É ainda o retrato de um corpo, pois o que realmente és não pode ser
visto nem retratado. Entretanto, esse não foi usado com o propósito de atacar e,
portanto, nunca sofreu nenhuma dor. Ele testemunha a verdade eterna de que não
podes ser ferido e aponta para além de ti mesmo, para a tua inocência e a sua.
Mostra isso ao teu irmão, que verá que todas as cicatrizes estão curadas e todas as
lágrimas foram enxugadas com riso e com amor. E lá ele olhará para o seu próprio
perdão e com olhos curados olhará além do perdão para a inocência que ele
contempla em ti. Aqui está a prova de que ele nunca pecou, de que nada do que a
sua loucura pediu que ele fizesse jamais foi feito nem jamais teve efeitos de
qualquer espécie. Aqui está a prova de que nenhuma reprovação que ele tenha
posto em seu próprio coração jamais foi justificada e nenhum ataque jamais pode
atingi-lo com a seta envenenada e incansável do medo (T-27.I.5).

Assim, somos curados como um, porque somos um em nosso Criador e Fonte:

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(7:1) Nós nos unimos nesta consciência ao dizermos que somos um com Deus.

Dizer “somos um com Deus” significa que precisamos primeiro dizer que não somos um
com o ego. Novamente, esse não é, obviamente, um curso em afirmações, mas em negar a
negação da verdade (T-12.II.1:5) – a negação do ego que diz que não somos um com Deus,
pois existimos como indivíduos únicos e especiais.

(7:2) Pois, nestas palavras, também estamos dizendo que estamos salvos e curados e
como conseqüência podemos salvar e curar.

Somos salvos da nossa crença na culpa, e curados das conseqüências dolorosas da


decisão de sermos separados. Não salvamos ou curamos ativamente, porque não existe nada
a salvar ou curar. No entanto, quando nossas mentes estão salvas e curadas através da nossa
decisão modificada, a Filiação é salva e curada como uma. Não há nada que precisemos
aceitar a não ser esse fato feliz.

(7:3-7) Aceitamos e agora queremos dar. A razão disso é que queremos conservar as
dádivas que nosso Pai nos deu. Hoje queremos vivenciar a nós mesmos em unidade
com Ele para que o mundo possa compartilhar o nosso reconhecimento da realidade.
Em nossa experiência, o mundo é libertado. Ao negarmos a nossa separação do nosso
Pai, o mundo é curado junto conosco.

Para repetir, dizer que eu sou um com Deus é negar que sou separado do meu Pai.
Vemos aqui no fim do parágrafo a explicação para o que Jesus disse no início: eu primeiro
nego o que pensei ser, percebendo alegremente que estava errado. O que permanece é a
simples verdade de que Deus está certo. Só então posso verdadeiramente aceitar Suas
dádivas de amor e vida eterna. No entanto, não as aceito só para mim mesmo, mas em minha
liberdade das dádivas amedrontadoras do ego é encontrada a liberdade do mundo.
Do parágrafo 8 até o final, estão as instruções para o dia. Elas são particularmente
bonitas, como realmente todas as lições são agora:

(8:1-4) Que a paz esteja contigo hoje. Assegura a tua paz praticando a consciência de
que és um com o teu Criador, assim como Ele é um contigo. Em algum momento, hoje,
quando te parecer melhor, dedica meia-hora ao pensamento de que és um com Deus.
Essa é a nossa primeira tentativa de empreender um período prolongado de prática para
o qual não damos regras nem palavras especiais para guiar a tua meditação.

Uma vez que aceitamos a paz como nossa meta, também aceitamos os meios que Jesus
nos oferece para atingi-la. Ele nos pede agora para estendermos nossos períodos de prática
para trinta minutos completos; um período no qual ele gostaria que pensássemos sobre a
unicidade do nosso Ser, em unidade com Seu Criador. Tente ver quantas palavras e
pensamentos sem sentido você traz para a meditação, o quanto é difícil sentar quietamente
sem instruções específicas. Quando você se vir tendo dificuldade, não se repreenda
severamente, não se julgue ou pressione a si mesmo. Simplesmente diga: “Eu estou com
medo da unicidade, pois se estivesse realmente quieto, o pensamento de amor iria penetrar
minhas barreiras e eu iria desaparecer. Para proteger a mim mesmo do silêncio do Amor de
Deus, devo ser barulhento e inquieto: uma mosca vai perturbar minha concentração, minha
orelha vai começar a coçar, um compromisso posterior vai subitamente me preocupar – dúzias
de outros pensamentos irrelevantes vão cruzar minha mente também”. Não lute com esse
medo e distração; simplesmente observe calmamente o que você está fazendo. Isso será
suficiente para atender aos requisitos do período de prática.

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(8:5-7) Confiaremos que hoje, a Voz de Deus falará assim como Ele achar melhor, certos
de que Ele não falhará. Permanece com Ele durante essa meia-hora. Ele fará o resto.

Nós começamos esse exercício em confiança de que, se fizermos nossa parte – olhar
para nossos egos sem julgamento -, o Espírito Santo fará a Dele. Na verdade, Ele não pode
falhar em fazer Sua parte, porque Ele é a Sua parte. Decidindo-nos contra as barreiras que
construímos contra a Presença do Espírito Santo, Sua Voz de Amor pode ser ouvida – não em
palavras, mas na experiência de um amor não-dualista que se estende através da mente para
guiar nossos atos e palavras.

(9:1-2) O teu beneficio não será menor se acreditares que nada acontece. Podes não
estar pronto para aceitar o que ganhaste no dia de hoje.

Jesus novamente está dizendo para você não se sentir culpado se não “aceitar o que
ganhou”, deixando-o saber que é muito provável que você não vá aceitá-lo. Você pode se
recordar das suas palavras a Helen:

Depois de ter passado pelo curso, você vai aceitá-lo, mantê-lo e usá-lo. Esse é o
exame final, no qual você não terá problemas em passar. As notas médias não
entram no registro permanente (Ausência de Felicidade, p. 219).

Jesus não está graduando sua performance, pois ele sabe que o resultado do seu retorno
é tão certo quanto Deus (T-4.II.5:8).

(9:3) Entretanto, em algum momento, em algum lugar, isso virá a ti e não deixarás de
reconhecê-lo quando despontar com certeza na tua mente.

Não fique transtornado, Jesus diz, se você não tiver sucesso no exercício de hoje. Com o
tempo, você o fará. Se você se agarrar aos pensamentos de quando isso vai acontecer, ou
pensar que nunca vai acontecer, só voltará ao equívoco de dar ao ego um poder que ele não
tem. Lembre-se, você faz o livro de exercícios de forma apropriada na extensão em que o faz
“miseravelmente”, mas sem julgamento. Não pressione a si mesmo a ser perfeito, pois isso
meramente reforça a crença amedrontadora de que você é imperfeito.

(9:4-5) Essa meia-hora será emoldurada em ouro e cada minuto será como um diamante
cravado em volta do espelho que esse exercício te oferecerá. E nele verás a face de
Cristo refletindo a tua.

O simbolismo aqui é similar àquele em “Os dois retratos” (T-17.IV). No entanto, enquanto
lá a moldura cravada de diamantes serviu para ocultar o retrato de morte do ego, aqui, a
moldura lindamente cravejada de jóias simboliza nossa prática, que nos revela a inocência da
face de Cristo, irradiando seu amor de volta para nós, conforme o aceitamos. Assim, nossa
meditação de trinta minutos realmente se torna a moldura que nos leva diretamente à
lembrança da nossa Identidade. Podemos até mesmo descobrir que nossa meditação abre a
porta para a intemporalidade, na qual todo senso de ser desaparece:

A moldura se desvanece gentilmente e Deus surge na tua lembrança, oferecendo-te


a totalidade da criação... (T-17.IV.15:5).

Nesse instante santo intemporal, nos unimos a todos os nossos irmãos, criação em
unidade com seu Criador:

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O instante santo brilha igualmente sobre todos os relacionamentos, pois nele todos
são um. Pois aqui está apenas a cura, já completa e perfeita. Pois aqui está Deus e
onde Ele está só o que é perfeito e completo pode estar (T-17.IV.16:8-10).

(10) Talvez hoje, talvez amanhã, verás a tua própria transfiguração no vidro que essa
santa meia-hora te oferecerá para que contemples a ti mesmo. Quando estiveres pronto,
o acharás lá dentro da tua mente, esperando para ser achado. Então, lembrarás o
pensamento ao qual deste essa meia-hora e estarás ciente, com gratidão, de que nunca
o tempo foi melhor aproveitado.

Ao praticar esse exercício, fique ciente do seu medo e resistência. Olhe no espelho e veja
sua face, a “amigável” face do especialismo, dor e abuso, que você prefere à face de Cristo.
Você não quer ver uma face sem passado doloroso, nem um futuro antecipado com esperança
mágica ou apreensiva. Essa lição, portanto, será útil, se você sair dela com uma compreensão
ampliada de quanto medo existe em olhar para dentro e ver a face sem pecado e atemporal
que brilha com o amor de Jesus. Você também pode reconhecer a referência à transfiguração
de Jesus, nas escrituras, como foi testemunhado pelos discípulos no monte Tabor (Mateus
17:1-8).
Esse próximo parágrafo começa com a mesma frase do anterior, esclarecendo a natureza
musical dessas lições:

(11:1) Talvez hoje, talvez amanhã, olharás para este vidro e entenderás que a luz sem
pecado que vês pertence a ti, que a beleza que contemplas é a tua própria.

Se tal beleza for verdadeira, tudo o mais que você pensa sobre si mesmo é falso. Tal
reconhecimento é amedrontador, e essa lição o ajuda a ver o quanto você tem sido devotado a
essas odiosas auto-imagens que refletem a dinâmica do ódio especial. Você também verá
como encobre essas imagens terríveis com outras belas – expressões do amor especial. De
qualquer forma, essas são as faces com as quais você se definiu, usando-as como cobertura
para a face da verdadeira inocência, que simboliza a luz sem pecado que você compartilha
com a Filiação.

(11:2-3) Conta essa meia-hora como uma dádiva tua para Deus, na certeza de que o que
Ele devolverá será um senso de amor que não podes entender, uma alegria por demais
profunda para a tua compreensão, uma vista por demais santa para que os olhos do
corpo a vejam. Entretanto, podes ter certeza de que algum dia, talvez hoje, talvez
amanhã, tu entenderás, compreenderás e verás.

Ao praticar durante essa meia hora, tente não aplicar pressão a si mesmo para ficar
quieto e sereno. Você vai ter sucesso se apenas observar sua mente, vendo o quanto está
amedrontado de liberar essas imagens, e reconhecer seu conforto em ver sua face em vez da
de Cristo. A aceitação desse medo se torna a fundação da confiança em seu novo Professor
que vai, com o tempo, levá-lo gentilmente além do ego para a alegria que espera de forma feliz
por todos nós. Talvez hoje, talvez amanhã. Mas com toda certeza!

(12) Adiciona outras jóias à moldura dourada que enquadra o espelho que te é oferecido
hoje, repetindo para ti mesmo a cada hora:

Que eu me lembre que sou um com Deus, em unidade com


todos os meus irmãos e com o meu Ser, na santidade e
na paz que duram para sempre.

37
Pelo menos uma vez por hora, então, tente estar ciente do quanto você não quer falar
essas palavras. Para dizer mais uma vez – sem pressionar a si mesmo, focalize-se no que
você não quer fazer ou liberar. Tornar-se consciente desses pensamentos egóicos vai permitir
que você perceba que outra parte da sua mente, de fato, quer tornar essas palavras as suas
próprias. Isso vai fazer o dia significativo, pois você vai ter aprendido o quanto está
comprometido em relação a você mesmo e à Filiação. Você vai perceber que seu medo de
lembrar a cada hora não o torna feliz, no entanto, outro pensamento dentro da sua mente vai
trazer a você a paz que vem de saber que você é um com Deus e com o seu Ser.

38
LIÇÃO 125

Em quietude recebo hoje o Verbo de Deus.

Nessa linda lição, Jesus fala sobre ser sereno, uma reminiscência da linha: “A memória
de Deus vem à mente quieta” (T-23.I.1:1). Se formos realmente sérios sobre nosso desejo de
nos lembrarmos de Deus e voltarmos para casa, nossas mentes precisam ser quietas. O
problema é que nós as enchemos de estática dos gritos estridentes do ego – seu sistema de
pensamento de separação e individualidade; pecado , culpa e medo; especialismo e ataque – o
que torna impossível ouvir o Espírito Santo nos lembrar da nossa Identidade. Se formos
quietos e recebermos o Verbo de Deus – o princípio da Expiação – precisamos olhar para as
interferências do nosso ego sem julgamento, dessa forma liberando-as.

(1:1-4) Que esse dia seja um dia de serenidade e de silenciosa escuta. Hoje, é Vontade
de teu Pai que ouças o Seu Verbo. Ele te chama das profundezas da tua mente onde Ele
habita. Ouve-O, hoje.

Profundamente lá dentro está a mente certa, que tentamos esconder, e da qual tentamos
nos esconder. Se nós quisermos atingir o lugar quieto no qual habita a Voz do nosso Pai,
temos que voltar e revelar o que mantivemos oculto. No texto, encontramos essa linda e
evocativa passagem sobre a canção esquecida, cuja magnífica melodia é ouvida novamente,
na extensão em que podemos ficar quietos e escutar:

Escuta – talvez possas captar um indício de um estado antigo, não totalmente


esquecido; vago talvez, mas não completamente estranho, como uma canção cujo
nome há muito foi esquecido e as circunstâncias nas quais a ouviste estão
completamente apagadas. Nem toda a canção ficou em ti, mas apenas um pequeno
trecho da melodia, sem ligação com qualquer pessoa ou local ou com qualquer coisa
em particular. Mas te lembras, apenas a partir deste pequeno trecho, como era bela
a canção, como era maravilhoso o cenário em que a ouviste e como amavas
aqueles que ali estavam e escutaram contigo.
As notas nada são. No entanto, tu as mantiveste contigo, não por elas mesmas, mas
como uma suave lembrança de algo que te faria chorar se te lembrasses como te foi
caro. Poderias lembrar-te, mas tens medo, acreditando que perderias o mundo que
aprendeste desde então. E apesar disso, sabes que nada no mundo que aprendeste
tem nem sequer a metade do valor daquilo para ti. Ouve e vê se te lembras de uma
canção antiga que conheceste há muito tempo e da qual gostaste mais do que
qualquer melodia que tenhas ensinado a ti mesmo a apreciar desde então (T-21.I.6-
7).

Nós, portanto, nos dedicamos hoje a estar quietos e a ouvir, recebendo o Verbo de Deus
da Expiação que nos tem chamado desde antes do tempo até mesmo parecer existir. Nesse
ouvir quieto, nós ouvimos a canção sem som do Amor do nosso Pai (As dádivas de Deus, p.
76), e nós estamos em paz.

(1:5) Nenhuma paz é possível até que o Seu Verbo seja ouvido por todo o mundo, até
que a tua mente, escutando silenciosamente, aceite a mensagem que o mundo tem que
ouvir para introduzir o quieto tempo da paz.

Quando Jesus fala do mundo, ele não se refere ao lar externo do corpo, mas ao mundo
que existe na mente. Uma vez que idéias não deixam sua fonte, a idéia de um mundo
39
separado nunca deixou sua fonte na mente. Quando, portanto, somos curados do pensamento
de separação por liberarmos nosso investimento no especialismo, o Verbo de Deus pode ser
ouvido ao redor do mundo, pois a Filiação é uma. O mundo – não sendo nada além da
projeção de separação da mente – foi curado, e então, Jesus não defende que preguemos seu
santo verbo a um mundo que já foi salvo, mas que apenas a aceitemos – a Expiação – dentro
de nossas mentes.

(2:1) Esse mundo mudará através de ti.

Repetindo a idéia central, se o mundo é uma projeção do pensamento de separação, e


esse pensamento é curado, o mundo é curado também. Mudança externa é irrelevante, pois
apenas a mudança do pensamento na mente é importante. De outra forma, não haveria
esperança. Essa é a premissa subjacente às palavras de Jesus nas páginas iniciais do manual
para professores:

À essa situação de aprendizado fechada e sem esperança, que nada ensina além
de desespero e morte, Deus envia Seus professores. E à medida em que ensinam
as Suas lições de alegria e esperança, o seu aprendizado finalmente vem a ser
completo.
Exceto pelos professore de Deus haveria pouca esperança de salvação, pois o
mundo do pecado pareceria para sempre real (MP-in.4:7-5:1).

Entretanto, é só o tempo que se desenrola exaustivamente e o mundo está muito


cansado agora. Está velho e gasto e sem esperança. O resultado nunca esteve em
questão, pois o que pode mudar a Vontade de Deus? Mas o tempo, com suas
ilusões de mudança e morte, exaure o mundo e todas as coisas dentro dele. O
tempo, porém, tem um fim e é isso que os professores de Deus são designados para
trazer. Pois o tempo está em suas mãos. Tal foi a escolha que fizeram e ela lhes foi
dada (MP-1.4:4-10).

Todos nós somos chamados a sermos um professor de Deus e a aceitarmos a Expiação


e, através da nossa cura, o mundo é curado. O que até então esteve cansado, exausto e sem
esperança, agora está radiante na gentil luz do perdão, e empolgado com a esperança de
salvação. Esse excerto do poema já citado de Helen, “Transformação”, expressa essa
mudança ou transformação do mundo:

Isso acontece subitamente,


E todas as coisas mudam. O ritmo do mundo
Muda para um concerto. O que foi duro antes
E parecia falar de morte, agora canta sobre a vida,
E se une ao coro para a eternidade.
Olhos que estavam cegos começam a ver, e ouvidos
Há muito tempo surdos à melodia começam a ouvir.
Na súbita quietude, renasce
O cantar antigo da canção da criação,
Há muito silenciada, mas agora relembrada.
(As Dádivas de Deus, p. 64)

(2:2) Nenhum outro meio pode salvá-lo, pois o Plano de Deus é simplesmente esse: O
Filho de Deus é livre para salvar-se; o Verbo de Deus lhe foi dado para ser o seu Guia,
para estar sempre na sua mente e ao seu lado para conduzi-lo com segurança à casa de
seu Pai pela sua própria vontade, para sempre tão livre quanto a de Deus.

40
O “plano de Deus” – a expressão metafórica que já discutimos – é a liberdade de
mudarmos nossas mentes. A estratégia do ego, culminando na feitura do mundo e do corpo, é
nos convencer de que não temos uma mente. Não podemos mudar o que não temos, e nosso
estado de ausência de mente assegura a imutabilidade da decisão anterior do ego. Isso não
nos deixa outra opção além de perseguirmos os objetos de amor especial como nossos
salvadores, dos quais os mais significativos historicamente têm sido Deus e Seus
representantes. Mas o verdadeiro plano de Deus – em oposição ao plano bíblico - é que não
somos salvos da “realidade” do pecado através do sacrifício – nosso ou de outro -, mas por
percebemos que estávamos errados sobre o pecado. De forma similar, o mundo não é salvo
através da nossa expiação sacrificial, nem por pregarmos o Um Curso em Milagres, mas por
mudarmos nossas mentes em relação ao ego. Nesse instante, a mente curada da Filiação é
salva da sua escolha equivocada.

(2:3-4) Ele não é conduzido pela força, mas só pelo amor. Ele não é julgado, apenas
santificado.

A presença contínua do amor de Jesus em nossas mentes nos leva a fazer a escolha
correta. Ele é como um farol irradiando sua luz de amor nos espaços escurecidos de nossas
mentes. Uma vez que vagamos para longe da luz, precisamos voltar. O amor de Jesus
continuamente nos chama, não no sentido de literalmente nos chamar de volta, pois sua
simples presença é o chamado. No momento em que percebemos nosso erro, ou pelo menos
podemos considerá-lo, estamos prontos para mudar a atenção para nossas mentes e
mudarmos de professores. Não existe coerção ou força da parte de Jesus, pois, se houvesse,
ele seria tão insano quanto nós, acreditando que existe um problema real a ser resolvido, e que
exige solução imediata. Felizmente, ele não é louco, mais do que nosso Pai seria louco, e
então, seu amor – além do tempo e do espaço – simplesmente é. Sua própria existência é sua
“força”.

(3:1) Em serenidade hoje, ouviremos a Voz de Deus sem a intrusão de nossos


pensamentos mesquinhos, sem nossos desejos pessoais e sem qualquer julgamento do
Seu santo Verbo.

Nós experienciamos o Espírito Santo e nos lembramos do Seu Amor por liberarmos todas
as coisas que interferem com ele. Aqui, Jesus se refere àqueles bloqueios como “pensamentos
mesquinhos”, “desejos pessoais” e “qualquer julgamento”. Isso significa nos tornarmos
conscientes deles, pois, de outra forma, não poderemos escolher contra eles. Nós aprendemos
sobre essas defesas do ego conforme vemos suas manifestações: nossos relacionamentos
especiais uns com os outros expressando o relacionamento especial da mente com o ego.
Conforme ficamos cada vez mais conscientes da culpa e do ódio expressos em nossos corpos
– amor e ódio especial -, aprendemos que o que estamos experimentando fora é a sombra do
que primeiro tornamos real em nossas mentes. Essa é a primeira pista de que existe uma
mente, que nos permite estar cientes de que são os nossos pensamentos que têm que mudar,
não qualquer coisa externa.

(3:2) Não nos julgaremos hoje, pois o que somos não pode ser julgado.

Nossa Identidade como Cristo precisa apenas ser aceita, não julgada. O julgamento inicial
do ego foi o que de nossa individualidade era algo horrível e pecaminoso, o que foi reforçado
pela culpa. Antes de percebermos, nos vimos em um mundo de julgamento, cada um
justificado por uma miríade de percepções equivocadas. O tempo todo, a visão da nossa
santidade coletiva como o Filho de Deus permanece oculta por trás dos nossos julgamentos e
de pecado e culpa, medo e ataque.

41
(3:3-5) Estamos à parte de todos os julgamentos que o mundo impôs sobre o Filho de
Deus. O mundo não o conhece. Hoje, não escutaremos o mundo, mas esperaremos em
silêncio pelo Verbo de Deus.

Se nós pararmos um minuto para pensar sobre essas linhas, devemos ficar bem
ansiosos. O mundo nos diz que o Filho de Deus – nós mesmos – é um corpo, nascido em um
determinado momento, destinado a viver um certo período de anos, apenas para morrer no
final; sua existência governada por diversas leis. Nós precisamos examinar essas leis,
reconhecendo que elas são verdadeiras da perspectiva do mundo, mas não da de Deus – Ele
pensa de outra forma (T-23.I.2:7). Jesus reflete a verdade de Deus de que nossa realidade é
espírito, não tendo nada a ver com o mundo. No entanto, precisamos primeiro estar
conscientes do quanto nos identificamos com o ensinamento do mundo. Só então poderemos
entender que o mundo nos ensina porque nós primeiro ensinamos ao mundo. Nós
reconhecemos nossa identificação com o ser físico e psicológico, e então aprendemos que ela
precisa mudar através do questionamento de seus pensamentos, valores, metas e
julgamentos.

(4:1-2) Ouve, santo Filho de Deus, o teu Pai falar. A sua Voz quer te dar o Seu santo
Verbo, para espalhar pelo mundo as boas-novas da salvação e do tempo santo da paz.

Para repetir, Jesus não está falando sobre nada externo. Seu ponto de vista é o de que o
mundo existe apenas em nossas mentes. Quando aceitamos Jesus como nosso professor –
não importando o quanto esse período seja breve -, essa decisão é tomada por toda a Filiação,
porque o Filho de Deus é um. Isso se torna um tema cada vez mais importante conforme
prosseguimos: a Voz da Unicidade fala apenas pela unicidade.

(4:3) Reunimo-nos hoje no trono de Deus, o sereno lugar no interior da mente em que Ele
habita para sempre, na santidade que Ele criou e que nunca deixará.

Trono é usado da mesma forma que altar – para denotar o lugar em nossas mentes onde
escolhemos ou adorar o ego ou nos lembrar de Deus. Quando pedimos ajuda a Jesus para
remover as interferências do nosso ego, estamos no lugar santo da mente certa, onde nos
lembramos da nossa Identidade como o Filho único de Deus – um lugar de quietude e
descanso. Assim, o trono do Deus do ego, de separação e ódio, se rende ao Deus de amor,
paz e santidade. Esse trono, como já vimos, é o mais santo de todos os lugares na terra,
porque um ódio antigo se transformou em um amor presente (T-26.IX.6:1).

(5:1) Ele não esperou até que tu Lhe devolvesses a tua mente para te dar o Seu Verbo.

A salvação tradicionalmente tem sido vista como fazermos nossa parte, antes de Deus
fazer a Sua. Se nós sofrermos, nos sacrificarmos, rezarmos, obedecermos a rituais, e formos
bons meninos e meninas, Deus vai nos recompensar. Em outras palavras, Deus espera que
expiemos por nossos pecados. Aqui, nos é dito o oposto exato – Deus já nos deu o Verbo
amoroso do Seu plano de Expiação, e nós apenas voltamos as nossas mentes para aceitá-lo.
Deus não faz nada além de amar, um Amor que não é condicional a qualquer coisa que
façamos ou pratiquemos. Nossa falta de consciência era o problema, e nós relembramos Seu
Verbo quando o escolhemos.

(5:2) Ele não Se escondeu de ti, enquanto passaste algum tempo vagando longe Dele.

A verdade é que nós escondemos Deus. Ele não fez nada. Sua presença através do
Espírito Santo está totalmente presente na mente de todos. Implícito através de tudo isso está

42
o fato de que a responsabilidade está sobre nossos ombros, não nos de Deus ou de Jesus.
Nós vagamos para longe; nós vagamos de volta. O que poderia ser mais simples?

(5:3-4) Ele não alimenta as ilusões que tu manténs sobre ti mesmo. Ele conhece o Seu
Filho e a Sua Vontade é que esse permaneça como parte Dele, a despeito dos seus
sonhos, a despeito da loucura de achar que a sua própria vontade não lhe pertence.

Pensamentos como esses são a base para dizer que deveríamos ser gratos por Deus não
saber nada sobre nós. Nós queremos que Deus saiba sobre o ser individual que existe como
um corpo, e então o ame especificamente. A verdade é que Ele conhece Seu Filho apenas
como o espírito que ele é: uma parte indivisível do Seu amor. Esse não é o conhecimento
dualista de sujeito e objeto, pois Deus não compartilha nossas acalentadas ilusões sobre a
separação. Nosso pequeno ser não é Aquele que Ele conhece; agradeça a Deus:

Perdoa a ti mesmo a tua loucura... Não podes escapar do que tu és. Pois Deus é
misericordioso e não deixou que o Seu Filho O abandonasse. Se grato pelo que Ele
é, pois nisso está o teu escape da loucura e da morte. Em lugar nenhum, a não ser
onde Ele está, podes tu ser encontrado (T31.IV.11:1,3-6).

Somos encontrados apenas no Ser além das ilusões. Lembrem-se dessas palavras da
Lição 93:

O ser que tu fizeste não é o Filho de Deus. Portanto, esse ser não existe de forma
alguma. E tudo o que ele parece fazer ou pensar nada significa. Não é nem bom,
nem mau. É irreal, nada mais. Não luta contra o Filho de Deus. Não o fere, nem
ataca a sua paz. Ele não mudou a criação, nem reduziu a eterna impecabilidade ao
pecado e o amor ao ódio. Que poder esse ser que tu fizeste pode possuir se ele
quer contradizer a Vontade de Deus? (LE-pI.93.5).

(6:1) Hoje, Ele fala contigo.

A verdade é que Deus fala o tempo todo. O problema é que nós não ouvimos, pois, se o
fizéssemos, iríamos perder nosso especialismo. É isso o que nos amedronta.

(6:2) A Sua Voz aguarda o teu silêncio, pois o Seu Verbo não pode ser ouvido enquanto a
tua mente não se aquietar por um momento e os teus desejos sem significado não se
calarem.

O ônus está em nós, e nós precisamos estar cientes de que tudo o que pensamos é parte
da estática do ego, que busca abafar a Voz de Deus e manter Seu Amor oculto. Portanto,
temos que prestar atenção cuidadosa ao que sentimos através do dia, nos tornando
conscientes dos nossos desejos mesquinhos, julgamentos e esperanças. Lembrem-se dessa
importante passagem do texto, sobre o poder do especialismo para silenciar a quieta Voz de
Deus:

Que resposta que o Espírito Santo te dê pode alcançar-te, quando é ao teu


especialismo que escutas e é ele que pergunta e responde? Tudo o que tu escutas é
a sua resposta diminuta, que não tem nenhum som na melodia que transborda de
Deus para ti eternamente louvando com amor o que tu és. E essa imensa canção de
honra e amor pelo que tu és parece silenciosa e inaudível diante da sua
“magnificência”. Tu te esforças para que teus ouvidos ouçam a sua voz sem som e,
no entanto, o Chamado do próprio Deus é insonoro para ti (T-24.II.4:3-6).

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Dado o fato do “poder” do especialismo, como nossos egos poderiam resistir à tentação
de escolher seu amor especial em vez do amor de Jesus?

(6:3-7:1) Espera pelo Seu Verbo em quietude. Há em ti a paz a ser invocada hoje, para
ajudar a aprontar a tua mente mais santa para ouvir a Voz pelo Criador.
Três vezes hoje, nos momentos mais adequados para o silêncio, dá dez minutos
que estarão à parte do tempo em que escutas o mundo, e ao invés disso, escolhe
escutar gentilmente o Verbo de Deus.

Somos solicitados a ficar cientes do quanto ouvimos o mundo, e entendemos que isso
significa ouvir nosso sistema de pensamento projetado. É por isso que precisamos escolher
contra o ego, o que não podemos fazer se não estivermos cientes disso. Daí nossa vigilância
diária ser tão crucial para ouvirmos a voz de Deus. Esse ponto precisa de constante reiteração,
como nessa declaração do texto:

Podes perguntar a ti mesmo porque é tão crucial que olhes para o teu ódio e
reconheças toda a sua extensão. Podes também pensar que seria bastante fácil
para o Espírito Santo mostrá-lo a ti e dissipá-lo sem a necessidade de que o
erguesses à tua consciência por ti mesmo (T-13.III.1:1-2).

Exercícios como o de hoje ajudam a nos levar através do nosso ódio para o amor que
está além do mundo, refletido em nossas mentes divididas pelo Verbo de Deus. Sua Voz, que
fala em quietude e paz pela Expiação.

(7:2-4) Ele te fala de um lugar mais próximo de ti do que o teu coração. A Sua Voz está
mais perto do que a tua mão. O Seu Amor é tudo o que tu és e o que Ele é, o mesmo que
tu e tu o mesmo que Ele.

Estamos ouvindo mais sobre o tema importante da unicidade: nossa unicidade com Deus,
o Espírito Santo e uns com os outros. Reconhecer essa unidade com nossos irmãos é o pré-
requisito para nos lembrarmos de nossa unicidade como Cristo.

(8:1-2) É a tua voz que escutas quando Ele te fala. É o teu Verbo que Ele diz.

Na mente certa, nossa voz e a do Espírito Santo são uma. Assim como Jesus era a
manifestação do Espírito Santo, somos solicitados a ser Sua manifestação também. Quando
estamos na mente errada, no entanto, precisamos de uma experiência de amor que está fora
do nosso ser. Liberar a interferência a esse amor permite que nos unamos a ele, e assim,
percebamos que nosso ser e o amor não são separados. A Voz de Deus fala apenas um
Verbo, e esse Verbo é Quem nós somos.

(8:3-4) É o Verbo da liberdade e da paz, da unidade da vontade e de propósito, sem


nenhuma separação ou divisão na Mente única do Pai e do Filho. Em quietude escuta o
teu Ser hoje e deixa-O dizer-te que Deus nunca deixou o Seu Filho e que tu nunca
deixaste o teu ser.

Em outras palavras, Deus e Seu Filho são um – nenhuma individualidade nem distinção
entre Eles. Na realidade, não existe outra voz, falando palavras de separação, que vem entre
nós e nosso Ser. Como podemos não encontrar o que nunca perdemos? Como nosso Pai pode
ser sem Seu Filho?

Ele não deixou os Seus Pensamentos! Ele não poderia separar-Se deles, assim
como eles não poderiam mantê-Lo de fora. Em unidade com Ele todos vivem, e na
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sua unicidade Ambos se mantêm completos. Não existe nenhuma estrada que
conduza para longe Dele. Uma jornada para fora de ti não existe. Como é tolo e
insano pensar que poderia existir uma estrada com tal objetivo!... Em lugar nenhum,
a não ser onde Ele está, podes tu ser encontrado (T-31.IV.10:1-6; 11:6).

(9:1-3) Apenas fica quieto. Não precisarás de nenhuma regra, a não ser essa: deixar que
a tua prática de hoje te eleve acima do pensamento do mundo e liberte a tua visão dos
olhos do corpo. Apenas aquieta-te e escuta.

Essa é a única regra de que precisamos; não apenas nesse dia, mas em todos os dias.
Precisamos estar quietos, o que significa, mais uma vez, nos tornarmos conscientes do barulho
na mente ao escolhermos abafar a quieta e pequena Voz que nos diz que nossos sonhos,
pensamentos e sentimentos foram inventados – parte de uma única ilusão, cujo propósito é
nos impedir de lembrarmos de nossa Identidade como o Filho de Deus:

Esse curso não tenta ensinar mais do que o fato de que o poder de decisão não
pode estar na escolha de diferentes formas daquilo que ainda é a mesma ilusão e o
mesmo equívoco (T-31.IV.8:3).

Assim, somos solicitados a fazer a simples escolha entre uma ilusão de separação e uma
verdade refletida de perdão.

(9:4) Tu ouvirás o Verbo no qual a Vontade de Deus Filho se une à Vontade de seu Pai,
em unidade com ela, sem ilusões que se interpõem entre o que é totalmente indivisível e
verdadeiro.

Para repetir essa simples verdade: nossa realidade é unicidade, da qual nos lembramos
olhando para como mantemos nossos seres separados uns dos outros. Tal vigilância constitui
a prática diária do Um Curso em Milagres – tornar-se consciente das sutis, e algumas vezes
não tão sutis, maneiras de colocarmos barreiras entre nós mesmos e os outros, tanto através
do amor especial quanto do ódio especial: julgando, guardando mágoas, construindo alianças e
tendo certeza de que estamos certos. Nós reconhecemos a importância de mudar do mundo
da percepção de interesses separados – meu ganho é sua perda – para a percepção do
Espírito Santo de interesses compartilhados. Assim, aprendemos que não pode acontecer que
nós e nossos irmãos sejamos diferentes – somos um na perda ou no ganho, dependendo da
nossa decisão:

Todas as escolhas no mundo dependem disso: tu escolhes entre tu e o teu irmão e


ganharás tanto quanto ele perderá, e o que perdes é o que é dado a ele. Como isso
é totalmente oposto à verdade, quando todo o propósito da lição é ensinar que o que
o teu irmão perde tu perdeste e o que ele ganha é o que é dado a ti (T-31.IV.8:4-5).

Assim, escolhemos por todos os Filhos de Deus, reconhecendo sua similaridade inerente.

(9:5) Hoje, à passagem de cada hora, aquieta-te por um momento e lembra a ti mesmo de
que tens um propósito especial para esse dia: receber em quietude o Verbo de Deus.

Você deveria fazer isso não apenas a cada hora, mas com toda a freqüência que puder,
especialmente quando estiver ciente das suas tentativas de dizer: “Meu irmão e eu não somos
um”. É seu propósito especial hoje se lembrar do propósito do ego e escolher contra ele, a
favor da Voz que fala o quieto Verbo do perdão e da verdade. Essa mudança do falso perdão
do ego para o verdadeiro perdão do Espírito Santo é o tema da próxima lição.

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LIÇÃO 126

Tudo o que dou é dado a mim mesmo.

*******************************************************************
Essa é outra lição importante, um dos poucos lugares no Um Curso em Milagres onde
Jesus fala sobre o perdão-para-destruir, o termo de A Canção da Oração (C-2.II). Existem três
trechos onde ele faz isso: aqui, na Lição 126; novamente, na Lição 134, “Que eu perceba o
perdão tal como ele é”, e em “A justificativa para o perdão”, no Capítulo 30 (T-30.VI). Nesses
três lugares, Jesus discute – sem usar os termos – o falso perdão e o perdão-para-destruir, que
o ego usa para nos aprisionar ainda mais em seu próprio especialismo.
O tema-chave dessa lição atual é duplo: dar é da mente, e a mente do Filho de Deus é
uma. É por isso que dar e receber são o mesmo. Tudo o que dou é dado a mim mesmo porque
não existe ninguém fora de mim. Meu irmão e eu somos um. Se eu der amor a ele, estarei
estendendo amor a mim mesmo; se eu atacá-lo, estarei fazendo isso comigo mesmo também.
Dar e receber acontecem apenas na mente, e, uma vez que a mente do Filho de Deus é uma,
eles são um. O perdão-para-destruir reflete a crença do ego em que não somos um, mas dois,
e então, seu sistema de pensamento de separação é reforçado, para não mencionar sua
justificativa para o ataque.

(1:1) A idéia de hoje, completamente alheia ao ego e ao pensamento do mundo, é crucial


para a reversão de pensamento que esse curso trará.

A reversão do sistema de pensamento de separação do ego desfaz, através do perdão, a


crença em interesses separados, o que nos lembra de que nossa identidade é uma. Em outras
palavras, como o texto nos lembra: “... tu só podes interagir contigo mesmo” (T-31.V.15:5). O
que eu der a você, dou a mim mesmo; culpa ou amor, ódio ou perdão. É por isso que nossos
interesses são compartilhados: eles são um.

(1:2-3) Se acreditasses nesta declaração, o perdão completo, a certeza da meta e a


orientação segura não seriam nenhum problema. Compreenderias o meio pelo qual a
salvação vem a ti e não hesitarias em usá-la agora.

Nós não acreditamos nisso porque tememos suas implicações de que não existiremos
mais como indivíduos separados. A separação começou com o pensamento de que Deus e eu
somos separados. De fato, somos tão separados e diferentes que eu existo e Ele não, a crença
que é a origem do ego. Nós já vimos a quarta lei do caos: “Eu tenho o que tomei”. Deus não
tem vida e eu tenho; além disso, eu me sento no Seu trono da criação. É assim que somos
diferentes. O princípio de um ou outro continua sendo a pedra fundamental do sistema de
pensamento de separação, ódio e assassinato do ego.
Portanto, questionar esse pensamento significa questionar nossa própria existência, que é
o motivo pelo qual escolhemos não fazê-lo. No entanto, mesmo estando inconscientes da
nossa unidade com Deus, ainda podemos aprender com Ele através dos nossos
relacionamentos. Aceitando os meios do perdão, reconhecemos que realmente desejamos sua
finalidade: salvação e o Amor de Deus.

(2:1) Vamos considerar o que acreditas no lugar dessa idéia.

Voltamos ao perdão-para-destruir, um conceito baseado na idéia de que você e eu somos


separados, em propósito e em ser. Nossos interesses são diferentes: você quer o que eu

46
quero, eu quero o que você quer. Portanto, nos encontramos no campo de batalha do
relacionamento especial.
(2:2-3) Parece-te que as outras pessoas estão à parte de ti e que são capazes de
comportarem-se de maneira que não tem relação com os teus pensamentos, e nem os
seus com os teus. Portanto, as tuas atitudes não têm nenhum efeito sobre ela e os seus
pedidos de ajuda não têm nenhuma relação com os teus.

Isso é assim porque somos separados. Nossos corpos nos mantêm dessa maneira, e, se
soubéssemos que somos mentes, iríamos acreditar que elas são separadas também. O ego
depende, para sua proteção, que nós projetemos o pecado, inventando figuras percebidas
como pecadoras e diferentes de nós: essa pessoa é uma pecadora; eu sou sem pecado.
Portanto, acredito que você tem um efeito sobre meu corpo, mas meus pensamentos sobre
você permanecem privados, impermeáveis à mudança.
Portanto, se você estiver com problemas, meu ego estará exultante, porque isso significa
que você está sendo punido e eu estou fora da mira. De forma alguma eu me vejo relacionado
à sua situação. Posso escolher ajudá-lo, mas essa é minha decisão, que não tem efeitos sobre
mim, pois eu estou ajudando você – aquele que está em dificuldades. Essa é a culminação da
estratégia do ego: você tem o problema em vez de mim; você é o pecador que Deus vai
destruir, não eu, o inocente. É mandatório que eu mantenha essa percepção, pois, de outra
forma, ficarei horrorizado com a enormidade do meu pecado e aterrorizado com a punição de
Deus. É uma parte intrínseca do plano do ego para nossa (leia-se: dele) salvação que
pratiquemos o perdão-para-destruir, sua arma por excelência, para provar que as diferenças
são a realidade, e a similaridade é a ilusão:

O perdão-para-destruir tem muitas formas, sendo uma arma do mundo da forma.


Nem todas são óbvias e algumas são cuidadosamente escondidas embaixo do que
parece ser caridade. No entanto, todas as formas que ele pode parecer tomar têm
apenas essa meta simples: seu propósito é separar e tornar aquilo que Deus criou
igual, diferente (C-2.II.1:1-3).

(2:4) Pensas também que elas podem pecar sem que isso afete a tua percepção de ti
mesmo, enquanto podes julgar o seu pecado e ainda assim permanecer à parte da
condenação e em paz.

É a esse ponto que o ego sempre nos leva: Uma vez que você tem o problema, eu estou
livre. Além disso, minha “inocência” me dá o direito de julgar seu pecado, porque eu não me
lembro mais da sua origem. Estou ciente apenas do que percebi fora de mim – o que inventei -,
esquecendo que eu sou o sonhador do sonho. Crucial aqui é o princípio do ego, idéias não
deixam sua fonte: eu sou capaz, meu ego me diz, de projetar meus culpados pensamentos de
pecado em você, e assim escapar da punição. Uma vez que não estamos conectados, o ego
continua, não importa o que está em você, ou até mesmo que eu coloque o pecado aí. Você
não me contamina, nem eu contaminei você. Na verdade, seu pecado prova minha inocência,
como essa passagem do texto, que começa com uma linha familiar a todos os estudantes do
Curso:

Que estejas atento para a tentação de perceberes a ti mesmo sendo tratado


injustamente. Nessa perspectiva, buscas achar uma inocência que não é Deles, mas
apenas tua e ao custo da culpa de alguma outra pessoa. É possível que a inocência
seja comprada se deres a tua culpa a uma outra pessoa? E é a inocência que o teu
ataque a ela tenta obter? Não é a punição pelo teu próprio ataque ao Filho de Deus
que buscas? Não é mais seguro acreditares que és inocente em relação a isso e
estás sendo vitimado apesar da tua inocência? Qualquer que seja a forma na qual é
jogado o jogo da culpa, tem que haver perda. Alguém tem que perder a própria
47
inocência para que alguma outra pessoa possa tirá-la dele, fazendo com que seja
tua (T-26.X.4).
Esse princípio de um ou outro – sua culpa ou minha – caracteriza o relacionamento
especial, o lar de culpa do ego e sua barricada contra o amor.

(3) Quando “perdoas” um pecado, não há nenhum ganho para ti diretamente. Fazes
caridade para alguém que é indigno, apenas para indicar que tu és melhor e que te achas
num plano superior ao daquele a quem estás perdoando. Ele não ganhou a tua tolerância
caridosa, que concedes a alguém que não é digno da dádiva, pois os seus pecados o
reduziram a uma condição abaixo da verdadeira igualdade contigo. Ele não tem direito
ao teu perdão. Esse oferece a ele uma dádiva, mas nada para ti mesmo.

Isso é auto-explicativo. Nós precisamos estar vigilantes durante o dia todo para como
continuamente encenamos esse ataque patente. As descrições de Jesus sobre essa dinâmica
– quer seja aqui, em A Canção da Oração, ou em outro lugar – desvelam a natureza destrutiva
desse “perdão”. Estamos inconscientes, no entanto, do quão sutilmente exibimos isso o tempo
todo. Nós julgamos alguém mais, por exemplo, e soltamos a acusação sob o disfarce de
perdão, tudo aquilo que nos coloca em posição superior. Essa é a distorção do perdão do ego,
na qual parece que você é aquele que recebe o perdão, que eu graciosamente concedo a
você. Assim, você recebeu minha “inocência” mesmo que não a mereça. A Canção da Oração
descreve de forma irrefutável a arrogância e o ódio que são mascarados como benigno perdão:

Nesse grupo, em primeiro lugar, estão as formas nas quais uma pessoa ‘melhor’ se
digna a rebaixar-se para salvar uma ‘mais baixa’ daquilo que ela verdadeiramente é.
O perdão aqui se baseia numa atitude de graciosa aristocracia tão distante do amor
que a arrogância nunca poderia ser desalojada. Quem pode perdoar e contudo,
desprezar? E quem pode dizer a um outro que ele está mergulhado no pecado e
ainda assim percebê-lo como o Filho de Deus? Quem faz de alguém um escravo
para ensinar-lhe o que é a liberdade? Não há união aqui, apenas tristeza. Não há
realmente misericórdia. Isso é morte (C-2.II.2).

(4:1) Dessa forma, o perdão é basicamente falho; é um capricho caridoso, benevolente,


mas imerecido, uma dádiva ora concedida, ora negada.

Em outras palavras, se eu pensar que você o merece, vou perdoá-lo; de outra forma, não
vou. Mas sou eu que determino isso; uma decisão baseada em satisfazer meus próprios
interesses.

(4:2) Como ele é imerecido é justo negá-lo e não é justo que devas sofrer quando ele é
negado.

É você quem deveria sofrer quando eu nego o perdão, não eu, porque você não o
merece, e isso justifica minhas mágoas, para não dizer que convence os outros do quanto
estou certo. A grande projeção dessa dinâmica é a Deidade bíblica, Que sozinha julga quem
deveria receber o Amor do Céu, e a quem ele deveria ser negado.

(4:3) O pecado que perdoas não é o teu próprio.

Pelo fato do ponto de partida do ego ser tornar o pecado real, visto em qualquer lugar,
menos em nós mesmos, mantemos nossa existência individual; assim, o pecado de outro não
apenas é responsável por tudo, como vai pagar seu preço.

48
(4:4-5) Alguém à parte de ti o cometeu. E se fores indulgente para com ele, dando-lhe o
que ele não merece, a dádiva não é tua, assim como não era teu o seu pecado.

Para o ego, eu não tenho que receber a dádiva do perdão porque não sou pecador; você
é, e então, eu o perdôo. Subjacente ao meu perdão está a percepção de que eu sou diferente,
justificando essa prática. Considere onde estaríamos sem diferenças. Afinal, foi a união do
esperma com o óvulo – duas células diferentes – que nos deu a “vida”. Novamente, nossa
separação é comprovada pelo fato de que seu pecado não é o meu, e que o perdão que você
recebeu tão generosamente não é o meu próprio também, uma vez que não preciso dele. No
entanto, praticando o perdão-para-destruir, asseguramos que o perdão do Espírito Santo será
negado a nós também.

(5:1) Se isso for verdadeiro, o perdão não tem base em que se apoiar com confiança e
segurança.

Se essa versão de perdão fosse verdadeira, iria se apoiar em uma fantasia, o que eu
acho que deveria acontecer. Mais uma vez, o exemplo mais claro do sistema de pensamento
do ego em ação é a forma com que Deus tem sido percebido através dos séculos, e
certamente Seu retrato na Bíblia. O Deus do perdão e do Amor certamente pode ser
caracterizado, ser benigno, ou cheio de caprichos; algumas vezes, Ele é misericordioso e
perdoa os pecados, enquanto em outros momentos, destrói as pessoas que os cometeram.
Jesus não é diferente. Um exemplo não tão conhecido da ira de Deus em ação vem no livro do
Genesis (38:1-10), onde Deus está contrariado – sem que a razão seja declarada – com Er, o
primeiro filho de Judá:

Mas Er... ofendeu Yahweh [Deus] imensamente, então, Yahweh provocou sua
morte.

Esse crime divino é então repetido com o próximo filho de Judá, Onan, a quem seu pai
pediu que dormisse com sua cunhada viúva para produzir uma criança para seu irmão
assassinado. No entanto, sabendo que a criança não seria dele, Onan praticou o coito
interrompido, e:

O que ele fez foi ofensivo para Yahweh, então, ele provocou sua morte também.

Nunca sabemos se Deus levantou com o pé esquerdo ou não naquele dia até ser tarde
demais. Sua própria existência depende do Seu humor, ou do humor do Seu Filho. O amor
divino, como praticado na Bíblia, dificilmente é consistente, diferente do amor de Jesus,
presente para nós em seu curso.

(5:2-3) É uma excentricidade na qual tu, às vezes, escolhes dar indulgentemente uma
trégua imerecida. Entretanto, ficas com o teu direito de não deixar que o pecador escape
ao pagamento que é justificado pelo seu pecado.

Dentro da igreja católica, o padre tem o poder de perdoar ou não perdoar pecados, a
menos que o pecado seja mortal, o que nunca pode ser perdoado. Mais uma vez, é o mutável
Deus do ego Que é a fonte desse perdão não-inclusivo, reservando a Si Mesmo o direito de
julgar, quer de forma justa quer injusta. Desnecessário dizer, esse falso Deus foi feito à nossa
própria imagem e semelhança, pois Ele mimetiza a prática do perdão-para-destruir.

(5:4-5) Pensas que o Senhor do Céu permitiria que a salvação do mundo dependesse
disso? O Seu cuidado por ti não seria, de fato, pequeno, se a tua salvação se baseasse
num capricho?
49
A perfeita Unicidade do verdadeiro Amor de Deus é o que perdoa, porque ela expressa a
verdade de que nada aconteceu. Portanto, quando eu perdôo você, percebo que o que
mantinha contra você era uma projeção do meu próprio pecado, e tanto o seu pecado quanto o
meu eram defesas contra nossa unidade inerente. Prenunciando uma lição posterior, lemos:

A tua única função aqui na terra é a de perdoá-lo, para que possas aceitá-lo de volta
como a tua Identidade. Ele é como Deus o criou. E tu és o que ele é. Perdoa-lhe os
seus pecados agora e verás que tu és um com ele (LE-pI.192.10:6-8).

(6:1-2) Tu não compreendes o perdão. Tal como o vês, ele é apenas uma repressão do
ataque aberto, sem exigir correção na tua mente.

Eu tento deter você em relação ao ataque aberto das suas ações pecaminosas. Nada
mudou em mim porque eu não sou o problema; você é. No entanto, uma vez que idéias não
deixam sua fonte, o ataque encoberto em minha mente permanece não notado, protegido pela
projeção, o pensamento que não perdoa, descrito nessa passagem da Parte II do livro de
exercícios:

Um pensamento que não perdoa é um pensamento que faz um julgamento que ele
não questionará, embora não seja verdadeiro. A mente está fechada e não será
liberada. O pensamento protege a projeção, apertando as suas correntes de modo
que as distorções se tornem mais veladas e mais obscuras; menos acessíveis à
dúvida e mais afastadas da razão (LE-pII.1.2:1-4).

(6:3-6) Tal como o percebes, ele não pode te dar paz. Não é um meio para liberar-te
daquilo que vês em alguém que não é o que tu és. Não tem o poder de restaurar a tua
unidade com ele na tua consciência. Não é o que Deus pretendia que fosse para ti.

“O que Deus pretendia que fosse para ti” – através do Espírito Santo – é que o perdão a
outro seja o perdão a mim mesmo. No perdão-para-destruir, no entanto, a percepção é sempre
de separação. O perdão não pode me dar paz porque eu rejeitei a resposta em outra pessoa, e
assim, minha inquietude interior permanece, continuamente se fazendo presente nas sombras
do conflito encontrado em minha vida diária. Assim, nossa função de perdão é negada, uma
função descrita dessa forma no manual para professores:

E essa é a função dos professores de Deus: não ver nenhuma vontade como se
fosse separada da sua própria e nem a sua da de Deus (MP-5.III.3:9).

Jesus prossegue agora para o perdão verdadeiro, o meio de cumprirmos nossa função:

(7:1) Não tendo Lhe dado a dádiva que Ele te pede, não podes reconhecer as Suas
dádivas e pensas que Ele não as deu.

A forma de eu me lembrar da dádiva do Amor de Deus – imutável, apesar dos meus


sonhos insanos – é perceber que o que estou vendo em você foi inventado. Eu não sei que o
fiz até primeiro reconhecer minhas percepções projetadas. Portanto, preciso me tornar
consciente dos meus julgamentos, de cujos pecados eu o acuso. Jesus me ajuda, mostrando-
me que o que eu percebo em você é o que secretamente percebo em mim, o que agora posso
mudar. Assim, somos instruídos no texto:

Se percebes ofensa em um irmão, arranca a ofensa da tua mente, pois estás sendo
ofendido por Cristo e estás enganado a respeito Dele... Se o que percebes te
50
ofende, estás ofendido em ti mesmo e estás condenando o Filho de Deus, a quem
Deus não condena. Permite que o Espírito Santo remova todas as ofensas do Filho
de Deus a si mesmo e não percebas ninguém a não ser através da Sua orientação,
pois Ele te salvará de toda condenação T-11.VIII.12:1,3-4).

Uma vez desapontados pelo Filho de Deus – nós e nossos irmãos –, a dinâmica da
projeção faz com que acreditemos que Deus tem nos negado suas dádivas, como a seguinte
passagem familiar explica:

Cristo está no altar de Deus, esperando para dar as boas-vindas ao Seu Filho. Mas
venhas totalmente sem condenação, de outro modo acreditarás que a porta está
bloqueada e não poderás entrar (T-11.IV.6:1-2).

A forma de saber que fomos nós que bloqueamos a porta é reconhecer nosso próprio
julgamento e ataque.

(7:2-3) Mas, pedir-te-ia Ele uma dádiva a menos que ela fosse para ti? Poderia Ele
contentar-Se com gestos vazios e avaliar essas dádivas tão mesquinhas como dignas do
Seu Filho?

Esses “gestos vazios” e “dádivas tão mesquinhas” são as formas de perdão no mundo:
e.g., você fez algo terrível, mas dessa vez vou deixá-lo fora da mira. Eles são baseados na
idéia de que os pecados separados que vejo em você são reais e demonstráveis. No entanto,
Deus não poderia ficar satisfeito com os planos de perdão do ego, porque ele não sabe nada a
respeito da separação e, portanto, não poderia saber nada além da perfeita Unicidade do Seu
Filho.

(7:4-6) A salvação é uma dádiva melhor do que essa. E o verdadeiro perdão, como o
meio pelo qual é obtida, tem que curar a mente que dá, pois dar é receber. Aquilo que
permanece sem ser recebido não foi dado, mas o que foi dado, não pode deixar de ser
recebido.

Em outras palavras, o que é estendido através de mim para você, me cura, porque o você
que penso estar fora de mim é uma parte dividida de mim mesmo. Mudando minha percepção
em relação a você, mudo minha percepção sobre mim mesmo. Além disso, qualquer coisa que
eu der a você, dou a mim mesmo – a dádiva da salvação.

(8:1-2) Hoje, tentamos compreender a verdade segundo a qual o doador e o receptor são
o mesmo. Precisarás de ajuda para fazer com que isso seja significativo, por ser tão
alheio aos pensamentos aos quais estás acostumado.

Jesus nos mostra que isso é difícil. Seria maravilhoso se pudéssemos aceitar a verdade
dessa declaração, mas não podemos. A Unicidade do Filho de Deus é estranha demais para o
nosso ser separado para que seja significativa, pois se a declaração “dar e receber são o
mesmo” fosse verdadeira, tudo o que acredito sobre mim mesmo seria falso. Sempre
chegamos a isso: se, por segurar a mão de Jesus, eu perdôo, então, todos os meus auto-
conceitos estão errados. Isso naturalmente inclui o pensamento de separação, a fundação da
crença de que dar e receber são diferentes.

(8:3-4) Mas a Ajuda de que precisas está aqui. Hoje, dá-Lhe a tua fé e pede-Lhe que
compartilhe da tua prática da verdade.

51
O ponto-chave é pedir ajuda ao Espírito Santo. Não vamos fazê-lo a menos que
pensemos que temos um problema. Portanto, o encargo de Jesus como nosso professor está
em ensinar que sempre que percebermos problemas externos que pedem uma solução,
precisamos reconhecer que esse é o nosso problema. Permitir que nossa paz e amor sejam
afetados por qualquer coisa externa é uma projeção do nosso pecado, o ponto por trás dessa
passagem sobre reações aos pensamentos mágicos dos outros:

Como lidar com a mágica vem a ser, então, uma lição fundamental para o professor
de Deus dominar. Sua primeira responsabilidade nisso é não atacá-la. Se um
pensamento mágico faz surgir qualquer forma de raiva, o professor de Deus pode
estar certo de que está dando força à sua própria crença no pecado, tendo
condenado a si mesmo. Também pode estar certo de que está pedindo a depressão,
a dor, o medo e o desastre para que venham a ele (MP-17.1:4-7).

Pensamentos mágicos – reações do ego em qualquer nível – alegremente servem como o


espelho refletindo de volta para nós nossa crença oculta na mágica e no pecado: o poder do
ego de suprir nossa necessidade de amor e sustentação. Essa consciência do pecado nos
motiva a ter fé na ajuda do Espírito Santo: para nós mesmos. Uma vez que percepção é
interpretação, não é o que meus olhos percebem que é o problema, mas minha interpretação
do que eu vejo – alguma versão de acreditar que existe um problema sério o suficiente para
tirar a paz de Deus de mim. Mais uma vez, eu preciso de ajuda para aprender que meu
problema está dentro, onde minha Ajuda também está.

(8:5) E se apenas captares um diminuto vislumbre da liberação que há na idéia que


praticamos hoje, esse será um dia de glória para o mundo.

Jesus não está dizendo que temos que saber disso durante vinte e quatro horas, todos os
dias. Ele ficará contente se tivermos um instante de compreensão da verdade do seu
ensinamento e da falsidade do nosso próprio; realmente um instante de glória para nós e para
o mundo dentro de cada um de nós.

(9) Dá quinze minutos duas vezes hoje à tentativa de compreender a idéia deste dia. É o
pensamento através do qual o perdão toma o seu lugar entre as tuas prioridades. É o
pensamento que liberará a tua mente de todas as barreiras contra o significado do
perdão e deixará que reconheças o seu valor para ti.

Ao atravessarmos nosso dia, nossa prioridade não deveria estar em cumprir as tarefas
que “precisamos” fazer, mas em aprender o perdão. Isso significa aprender que a separação
do nosso irmão nunca é justificada. No entanto, ainda não temos que aceitar a unicidade da
nossa realidade compartilhada, mas apenas que nossas percepções sobre a separação estão
erradas, especialmente quando significam dar poder a algo fora de nós para tirar a nossa paz.
Para repetir esse ponto importante, se você não usar esses princípios em sua prática
diária, não haverá esperança de aprender esse curso. Você precisa reconhecer que não
importando o que está acontecendo durante seu dia, a única coisa importante é deixar Jesus
ensiná-lo a maneira apropriada de perceber seus relacionamentos. Você, portanto, gentilmente
monitora sua mente para ver com que rapidez se esquece dele e eleva o especialismo como
seu valor máximo.

(10:1) Em silêncio, fecha os olhos sobre o mundo que não compreende o perdão e busca
o santuário no lugar quieto em que os pensamentos são mudados e as falsas crenças
postas de lado.

52
Esse quieto santuário é o tomador de decisões que escolheu o Espírito Santo em vez do
ego. Nós trazemos as ilusões das nossas percepções equivocadas à Sua verdade, o que nos
lembra de que estamos errados. Esse estado alegre e repleto de gratidão converte nossas
mentes em um altar santo – o silencioso espaço onde o Amor do Céu limpa nossos sonhos
febris de ódio e dor. Nas adoráveis palavras do segundo parágrafo do poema de Helen,
“Conversão”:

Existe um silêncio no qual o Verbo de Deus


Emitiu um significado ancestral, e é quieto.
Nada permanece não-dito nem não-recebido.
Sonhos estranhos foram lavados pela água dourada
Do silêncio ardente da paz de Deus.
E o que era mau subitamente se torna
A dádiva de Cristo para aqueles que chamam por Ele.
Sua dádiva final não é nada além de um sonho,
No entanto, nesse único sonho o sonhar é desfeito.
(As Dádivas de Deus, p. 61)

(10:2-3) Repete a idéia de hoje e pede ajuda para compreenderes o que ela realmente
significa. Que estejas disposto a ser ensinado.

Essa última sentença é crucial. Você tem que “estar disposto a ser ensinado”, o que não
pode acontecer até primeiro aceitar que você tem ensinado a si mesmo de forma incorreta.
Lembre-se novamente dessas duas declarações do texto, colocadas juntas:

Renuncia agora como teu próprio professor... pois tem sido mal ensinado (T-
12.V.8:3; T-28.I.7:1).

Você tem que estar disposto a dizer que está errado. Sempre que se sentir fortemente
tentado em relação a qualquer coisa – boa ou má –, saberá que escolheu o ego. A força da paz
de Deus repousa em sua quietude – calma, constante e imutável. Suas reações de julgamento,
raiva, antecipação, ansiedade ou preocupação mostram que você soltou a mão de Jesus e
segurou a do ego. No momento em que você é enfático em relação a algo, não está mais em
quietude. Mais uma vez, a paz é quieta e serena, e não vai e vem. É por isso que Jesus
empresta o termo bíblico “pequena voz” (1 Reis 19:12) para se referir à Voz do Espírito Santo,
e afirma:

A memória de Deus vem à mente quieta (T-23.I.1:1).

Nessa quietude, nós encontramos a força para sermos ensinados pela Voz que fala pela
Quietude em Si Mesma.

(10:4) Fica contente por ouvir a Voz da verdade e da cura falar contigo e compreenderás
as palavras que Ele diz e reconhecerás que Ele te diz as tuas próprias palavras.

Essa idéia foi expressa no final da última lição também: como a Voz do Espírito Santo é
nossa voz, Suas palavras são as nossas palavras. Não é apenas que você e eu não somos
separados, mas que o Espírito Santo, Jesus e eu não somos separados também. Realmente
somos separados dentro do sonho, onde ainda temos necessidade de um Professor, Cujas
palavras permitimos que substituam as nossas próprias. No entanto, unidos a Eles,
percebemos que existe apenas uma Voz e um Verbo por trás de todas as palavras.

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(11) Lembra-te sempre que puderes que hoje tens uma meta, um objetivo que faz com
que esse dia seja especialmente valioso para ti e para todos os teus irmãos. Não deixes
a tua mente esquecer-se dessa meta por muito tempo, mas dize a ti mesmo:

Tudo o que dou é dado a mim mesmo. A Ajuda que preciso


para aprender que isso é verdadeiro está comigo agora. E
confiarei Nele.

Em seguida, passa um momento em quietude, abrindo a tua mente para a Sua correção e
o Seu Amor. E o que ouvires Dele, tu acreditarás, pois o que Ele dá será recebido por ti.

Nós encerramos a lição com ainda mais uma exortação de Jesus para mantermos o
objetivo do perdão em primeiro lugar em nossas mentes. Ao atravessarmos nosso dia –
tentados a ver interesses separados em vez de compartilhados, a acreditar que dar encerra
sacrifício e perda: lembretes silenciosos do nosso pecado de roubar – buscamos nos lembrar
de Quem vai conosco, e Cujo Amor nos ajuda a escolher outra vez. Tão logo nos lembrarmos,
vamos para dentro, para aquietarmos nossas mentes turbulentas e silenciarmos nossos
pensamentos repletos de ódio. A Presença do Espírito Santo é o farol, Cuja luz do perdão
ilumina todos os pensamentos de culpa e separação. Nós agora alegremente recebemos o que
Ele nos deu, como a dádiva que brilha através de nossas mentes para conceder a mesma
dádiva ao mundo. Ao dar, sabemos que recebemos, e o que recebemos agora alegremente
deixamos ser dado através de nós. Como é realmente adorável a salvação!

54
LIÇÃO 127

Não há nenhum amor exceto o de Deus.

Aqui vemos o contraste entre o que é positivo (amor) e o que é negativo (amor especial).

(1:1-2) Talvez penses que diferentes tipos de amor são possíveis. Talvez penses que há
um tipo de amor para isso, outro para aquilo, um modo de amar uma pessoa e ainda
outro modo de amar uma outra.

O tema é o amor especial. Por exemplo, o amor entre esposos ou amantes é diferente do
amor entre pais e filhos, ou entre amigos; o amor por um animal ou planta não é o mesmo
amor por um ser humano; e o amor por Jesus e por Deus difere de todas as outras formas. Os
muitos tipos de amor provam que o ego está certo: existe realmente uma hierarquia de ilusões,
como a primeira lei do caos proclama (T-23.II.2:3). Além disso, entre os diferentes tipos de
amor, alguns são considerados superiores a outros. Assim, dizemos que o Amor de Deus
existe em um plano superior ao amor sexual ou romântico; ou que nada é mais puro do que o
amor de uma mãe, deixando de lado o amor por um animal de estimação, planta ou causa.

(1:3-7) O amor é um. O amor não tem partes separadas nem intensidades diferentes, nele
não há tipos ou níveis, divergências ou distinções. Ele é como ele mesmo, inteiramente
imutável. Nunca se altera com uma pessoa ou uma circunstância. Ele é o Coração de
Deus e também o de Seu Filho.

O amor no sonho é expresso de formas diferentes, pois, como acabamos de ver, ele tem
muitas formas diferentes. No entanto, se nosso amor aqui realmente refletisse o do Céu, seria
imutável, não afetado por coisas que os seres amados fazem ou deixam de fazer. No entanto,
quando você ama algumas vezes e não ama em outras, não importando o quanto seu amor
pareça ser santo, ele tem que estar vindo do seu ego e não da sua mente certa. O reflexo do
amor verdadeiro reflete a Unicidade e imutabilidade de Deus.
Essas declarações não estão destinadas a nos fazerem sentir culpados, no entanto,
quando olhamos para nossos relacionamentos amorosos e percebemos o quanto são variáveis
e mutáveis. Não podemos mudar nossos equívocos a menos que primeiro percebamos que os
fizemos. Portanto, é útil ver o quanto somos não-amorosos durante o dia: nós amamos as
pessoas quando são benignas conosco; se não forem, nosso amor muda. Portanto,
precisamos ver nossos sentimentos mutáveis, para que possamos pedir a Jesus para no ajudar
a perceber que estamos refletindo nossa crença no pecado, a origem de toda mudança. Assim,
vemos em outro o que escolhemos não reconhecer em nós mesmos: a separação pecaminosa
de Deus e de Seu Coração de Amor.
O pecado do qual nos acusamos é termos amado Deus uma vez, mas depois termos
decidido que Seu Amor não era suficiente; queríamos nosso especialismo e individualismo em
vez disso. Nós, portanto, acusamos a nós mesmos de um amor mutável, e à maneira
característica do ego, projetamos o pecado, acusando os outros de serem infiéis e inconstantes
em seu amor. Na verdade, queremos que as pessoas sejam infiéis e inconstantes, porque isso
nos permite vestir a face de inocência do ego.

(2:1-3) O significado do amor é obscuro para aquele que pensa que o amor pode mudar.
Ele não vê que um amor mutável tem que ser impossível. E assim, pensa que pode amar
às vezes e às vezes odiar.

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Nós sempre tentamos justificar nosso ódio: “Eu não sou sempre assim; você me deixou
desse jeito’. “Eu nasci inocente e bom, mas o mau tratamento dos meus pais me fez odiar a
todos. Não foi minha culpa”. Nós nos identificamos com algo que justifica nosso ódio,
permitindo-nos evitar a responsabilidade pelo nosso amor mutável. Assim, essas palavras
falam da face da inocência:

Acredita [a face da inocência] que é boa dentro de um mundo mau.


Esse aspecto pode ter raiva, pois o mundo é ruim e não é capaz de prover o amor e
o abrigo que a inocência merece. E assim, freqüentemente, essa face se banha de
lágrimas pelas injustiças que o mundo faz para com aqueles que querem ser
generosos e bons. Esse aspecto nunca ataca em primeiro lugar. Mas a cada dia,
uma centena de pequenas coisas constituem pequenos ataques à sua inocência,
provocando-a à irritação e, afinal, abertamente ao insulto e ao abuso.
A face da inocência que o auto-conceito veste com tanto orgulho pode tolerar o
ataque em autodefesa, pois não é fato bem conhecido que o mundo trata com
dureza a inocência indefesa? (T-31.V.2:9-4:1).

Dessa forma, nosso ódio é mascarado como amor, e o nosso auto-ódio permanece
protegido pelo escudo da inocência indefesa.

(2:4) Ele também pensa que o amor pode ser dado a um e negado a outros e ainda assim
permanecer sendo o que é.

Nesse mundo é impossível amar a todos do mesmo jeito na forma. No entanto, o foco de
Jesus nunca está no comportamento, mas apenas no conteúdo – o pensamento que nega o
amor a certas pessoas ou grupos, ou a algumas pessoas em certos momentos. Nessa incisiva
passagem do texto, Jesus nos instrui sobre a natureza totalmente inclusiva do amor, a
correção para o pensamento de exclusão do ego:

Não podes amar partes da realidade e compreender o que o amor significa. Se


queres amar de modo diferente de Deus, Que não conhece amor especial, como
podes compreender o amor? Acreditar que relacionamentos especiais, com amor
especial podem te oferecer a salvação é acreditar que a separação é salvação. Pois
é na completa igualdade da Expiação que está a salvação. Como podes decidir que
aspectos especiais da Filiação podem te dar mais do que outros? ((T-15.V.3:1-5).

Nas instruções nas lições iniciais do livro de exercícios, Jesus disse que nossos olhos não
devem abranger tudo no quarto, e que nem podemos pensar sobre tudo. No entanto, ele foi
claro sobre não excluirmos especificamente qualquer coisa, pois a idéia de não-exclusão é
crucial para o seu currículo. As declarações que encontramos aqui fazem eco às primeiras
instruções de Jesus. As formas são diferentes, mas seu conteúdo é o mesmo: tornamos-nos
conscientes do quanto somos tentados a excluir. Não é tão importante se você exclui uma
imagem conforme seus olhos vagueiam pelo quarto, mas realmente se torna importante se
você exclui certas pessoas do seu amor.

(2:5) Acreditar nessas coisas sobre o amor é não compreendê-lo.

O amor é conteúdo. Nas seções do texto sobre os relacionamentos especiais, Jesus é


enfático sobre o especialismo ser o triunfo da forma à custa do conteúdo. Aqui está uma
passagem representativa:

Sempre que uma forma qualquer de relacionamento especial te tentar a buscar o


amor em um ritual, lembra-te de que o amor é conteúdo e não forma de espécie
56
alguma. O relacionamento especial é um ritual de forma, com o objetivo de elevar a
forma para que ela tome o lugar de Deus, às custas do conteúdo. Não há nenhum
significado na forma e nunca haverá (T-16.V.12:1-3).

Uma vez que estamos quase que exclusivamente identificados com a forma – nossos
corpos -, é inconcebível para nós que a forma do amor seja irrelevante. Portanto, não
entendemos sua natureza completamente inclusiva, e acreditamos que podemos realmente
amar algumas partes da Filiação, mas não toda ela.

(2:6) Se o amor pudesse fazer tais distinções, teria que julgar entre o justo e o pecador e
perceber o Filho de Deus em partes separadas.

Isso exemplifica a diferença decisiva entre Deus e Jesus na Bíblia, e o Um Curso em


Milagres. Fica claro através de todo o Velho e Novo Testamento que os justos são salvos e os
pecadores condenados ao inferno. Não importando qual livro ou epístola leiamos, a mensagem
é a mesma: o Filho de Deus não é um, mas existe em partes separadas; alguns são bons e
serão recompensados por Deus, e outros são maus e serão condenados por Ele. O Filho
continua a insanidade do Pai, como é visto se alguém é um escriba ou fariseu. Esses grupos
infortunados não estão incluídos na parte “boa” da Filiação, e no evangelho de João, nem
mesmo os judeus nem outros indesejáveis. Seria realmente inacreditável pensar que esse
especialismo é uma característica do Amor de Deus, exceto por continuamente demonstrarmos
seu ódio durante todas as nossas vidas.

(3:1-2) O amor não pode julgar. Sendo um em si mesmo, ele olha para tudo como um só.

Assim, Deus não sabe nada sobre o Filho separado que existe nos fragmentos. O Ser que
Ele conhece é Cristo, em unidade Consigo Mesmo. É por isso que o amor não pode julgar, pois
apenas na separação o julgamento é possível. Na verdade, o julgamento é um dos temas mais
importantes no Um Curso em Milagres, e desistir dele é a essência da Expiação, o currículo
que Jesus gostaria que aprendêssemos:

Na medida em que o professor de Deus avança no seu treinamento, aprende uma


lição com profundidade cada vez maior. Ele não toma as suas próprias decisões;
pergunta ao seu Professor qual a Sua resposta, e é isso que ele segue com sua guia
de ação. Isso vem a ser cada vez mais fácil à medida em que o professor de Deus
aprende a abrir mão do seu próprio julgamento. Abrir mão do julgamento, o pré-
requisito óbvio para se ouvir a Voz de Deus, é usualmente um processo
razoavelmente lento, não por que seja difícil, mas porque pode ser percebido como
um insulto pessoal. O treinamento do mundo está dirigido no sentido da consecução
de uma meta diretamente oposta à do nosso currículo. O mundo treina visando a
confiança no próprio julgamento como critério de maturidade e força. Nosso currículo
treina visando o abandono do julgamento como condição necessária da salvação
(MP-9.2).

(3:3) O seu significado está na unicidade.

Quando eu amo você em parte, isso não pode ser amor, cujo significado reside em sua
perfeita unidade, não excluindo nada nem ninguém. O amor especial do ego, portanto, ataca a
Unicidade do Céu, tornando-o o lar da culpa:

Nós temos dito que limitar o amor a uma parte da Filiação é trazer a culpa para os
teus relacionamentos e assim fazer com que sejam irreais. Se buscas separar certos
aspectos da totalidade e olhar para eles de forma que satisfaçam as tuas
57
necessidades imaginárias, estás tentando usar a separação para salvar-te. Como,
então, poderia a culpa não entrar? Pois a separação é a fonte da culpa e apelar para
ela em busca de salvação é acreditar que estás sozinho. Estar sozinho é ser
culpado. Pois sentir-se sozinho é negar a Unicidade do Pai e de Seu Filho e assim
atacar a realidade (T-15.V.2:2-7).

(3:4) E tem que eludir a mente que o considera parcial ou em partes.

Esse é outro daqueles trocadinhos felizes, para ser visto novamente em uma lição
posterior. Ser parcial significa fazer um julgamento; e.g., somos parciais com um grupo em
relação a outro. Quando demonstramos tal parcialidade, estamos vendo a Filiação em partes.
Existe uma parte boa e uma parte má, e nossa parcialidade é em relação a uma ou a outra.
Uma vez que o amor não pode ser conhecido em parte, dentro desse sistema de pensamentos
parcial, o amor nunca será conhecido.

(3:5-8) Não há outro princípio que domine onde o amor não está. O amor é uma lei sem
opostos. A sua integridade é o poder que mantém todas as coisas unas, o elo entre o Pai
e o Filho que mantém a Ambos para sempre como o mesmo.

O princípio que queremos manter dentro do nosso sonho – o lugar onde o amor não está
– é o da perfeita unicidade. Isso é refletido em nosso aprendizado do perdão. É impossível
experimentarmos a unicidade no mundo, no entanto, ela é relembrada por percebemos que
nós e nossos irmãos não somos separados, mas compartilhamos o mesmo propósito e
objetivo. Assim, nos tornamos o reflexo da santidade do amor, como a seguinte passagem tão
belamente nos lembra:

Nesse mundo, tu podes vir a ser um espelho sem mancha, no qual a santidade do
teu Criador se irradia a partir de ti para tudo à sua volta. Podes refletir o Céu aqui...
Tu só tens que deixar o espelho limpo, isento de todas as imagens de escuridão que
escondeste e atraíste para ele. Deus brilhará nele por Si Mesmo. Só o claro reflexo
de Deus pode ser percebido nele... Só precisas limpar o espelho e a mensagem se
irradia daquilo que o espelho apresenta para que todos vejam, ninguém deixará de
compreender (T-14.IX.5:1-2,5-7; 6:5).

Esses exercícios, portanto, são destinados a nos ajudarem a limpar o espelho que é a
nossa mente, para que a poderosa impecabilidade reflita a unicidade amorosa do Céu para que
toda a Filiação se lembre. Assim, nós finalmente chegamos ao lugar curativo da Expiação,
onde deixamos de ser o reflexo do amor, para nos tornarmos o Próprio Amor:

Lá [no Céu], a santidade não é um reflexo, mas ao invés disso, a condição vigente
daquilo que aqui era apenas um reflexo para eles. Deus não é uma imagem e as
Suas criações, enquanto parte Dele, O mantêm em si na verdade. Elas não apenas
refletem a verdade, são a verdade (T-14.IX.8:5-7).

(4) Nenhum curso cujo propósito seja o de te ensinar a lembrar-te do que realmente és,
poderia falhar em enfatizar que nunca poderia haver nenhuma diferença entre o que
realmente és e o que é o amor. O significado do amor é o teu próprio, e é compartilhado
pelo próprio Deus. Pois o que tu és, é o que Ele é. Não há nenhum amor a não ser o de
Deus e o que Ele é, é tudo o que há.

Isso significa que qualquer coisa que pareça estar fora do amor e da unicidade não pode
existir, porque não é de Deus. Essa é outra forma de entender por que Deus não apenas não
poderia ter criado esse mundo, mas não sabe nada sobre ele:
58
As tentativas sem fim do ego para ganhar o reconhecimento do espírito e assim
estabelecer a própria existência são inúteis. O espírito no seu conhecimento não
está ciente do ego (T-4.II.8:5-6).

O mundo está fora da Mente de Deus, e assim, não tem realidade. Nossa realidade como
o Filho de Deus, no entanto, não pode estar fora da Sua Mente, pois somos parte do amor
ilimitado. Na verdade, nós somos o amor, cujo significado é a unicidade sem limites que unifica
toda a criação com seu Criador.

(5) Nenhuma lei que o mundo obedeça pode ajudar-te a aprender o significado do amor.
O que o mundo acredita foi feito para esconder o significado do amor e para mantê-lo no
escuro e secreto. Não há nenhum princípio que o mundo defenda que não viole a
verdade do que é o amor e também do que tu és.

Essas são declarações fortes, e sua verdade reside no fato de que o que todas as leis do
mundo, e o próprio mundo, ensinam está relacionado à realidade aparente da separação. Tudo
o que o mundo ensina é falso. Cada partícula quântica, em última instância, termina na mesma
armadilha do ego, pelo menos da perspectiva do Um Curso em Milagres. Ele diz que o mundo
material é uma ilusão, no entanto, ainda torna real o pensamento subjacente ao universo. Esse
curso ensina que o pensamento é separação e, portanto, ilusório também. Sempre mantenha
em mente o não-dualismo que é a espinha dorsal do Um Curso em Milagres. Existe a verdade
da perfeita e absoluta unicidade, e nada mais. O conteúdo dessa verdade é sucintamente
expresso no início do texto:

Esse curso, portanto, pode ser resumido muito simplesmente dessa forma:

Nada real pode ser ameaçado.


Nada irreal existe.

Nisso está a paz de Deus (T-in.2).

No entanto, Um Curso em Milagres faz mais do que proclamar a irrealidade do mundo.


Ele supre a motivação por trás da sua feitura: “para esconder o significado do amor e para
mantê-lo no escuro e secreto”. A próxima passagem do texto, já citada, elabora o propósito do
ego para sua culpa:

O círculo do medo está exatamente abaixo do nível que o corpo vê e parece ser
todo o fundamento no qual o mundo se baseia. Aqui estão todas as ilusões, todos os
pensamentos distorcidos, todos os ataques insanos, a fúria, a vingança e a traição
que foram feitos para manter a culpa no lugar de forma que o mundo pudesse surgir
dela e mantê-la oculta. Sua sombra ergue-se à superfície, apenas o suficiente para
manter as suas manifestações mais externas na escuridão e para trazer desespero
e solidão a ele, mantendo-o sem alegria. Entretanto, sua intensidade é velada por
suas pesadas cobertas e mantida à parte do que foi feito para mantê-la oculta (T-
18.IX.4:1-4).

Como alguém poderia ter fé em um mundo cujo propósito é proteger a culpa e atacar
Deus? (LE-pII.3.2:1). Como alguém poderia acreditar em suas mentiras e ser levado por suas
ilusões? Essas são as questões que Jesus está nos pedindo para considerar.

(6:1-2) Não busques achar o teu Ser dentro desse mundo. O Amor não pode ser achado
na escuridão e na morte.

59
Jesus nos diz mais uma vez que esse mundo é um lugar de morte e escuridão;
dificilmente um lugar de luz, vida, amor ou esperança. Ele não pode ser assim, uma vez que o
mundo é a sombra de um pensamento de escuridão e morte. Nós existimos porque
acreditamos ter destruído a luz, a vida, e o amor. Esse pensamento de destruição está sob o
mundo, que continuamente reflete sua escuridão de volta para nós. Jesus, portanto, está nos
dizendo para não olharmos dentro do mundo ou do corpo em busca de ajuda, pois nunca
vamos encontrá-la ali. Lembrem-se de que nós fizemos especificamente o mundo sombrio dos
corpos para manter a luz do amor oculta nos véus de pecado e culpa do ego. Como, então,
poderia fazer sentido buscar amor no próprio lugar feito para ocultá-lo? Vocês podem se
recordar das nossas discussões anteriores sobre a importante seção perto do fim do texto,
“Não busques fora de ti mesmo” (T-29.VII), que expressa esse tema chave no Um Curso em
Milagres: buscar a verdade do nosso Ser apenas onde nós podemos encontrá-la – em nossas
mentes.

(6:3) No entanto, ele é perfeitamente aparente aos olhos que vêem e aos ouvidos que
ouvem a Voz do amor.

Quando pedimos ajuda a Jesus e usamos seus olhos para olhar para o mundo,
percebermos corretamente e nos lembramos do amor. Nós aprendemos que o mundo do
perdão, sendo o “retrato externo de uma condição interna” (T-21.in.1:5), reflete o amor em
nossas mentes, transmitido a nós através da Voz da Expiação e da paz.

(6:4-5) Hoje, praticamos fazer com que a tua mente seja livre de todas as leis que pensas
ter que obedecer, de todos os limites sob os quais vives e de todas as mudanças que
pensas serem parte do destino humano. Hoje, vamos dar o maior passo que esse curso
requer no teu avanço em direção à meta que ele estabelece.

Se formos nos lembrar de quem somos como o Filho de Deus, a criança do Seu amor,
precisamos libertar nossas mentes das leis que pensamos serem verdadeiras. Isso significa
que precisamos estar cientes delas, questionando cada pequeno valor que mantemos (T-
24.in.2:1). Isso inclui as mudanças “positivas” que pensamos terem acontecido, estarem
acontecendo, ou que vão acontecer no mundo como “parte do destino humano”. Isso, em
última instância não tem a ver com nada, porque tem a ver com separação. O amor não muda,
mas nossa crença em que o amor mudou pode mudar. Portanto, nós abandonamos nosso
sistema de pensamento de culpa, com suas concomitantes leis de ataque, especialismo e
morte, passando das leis limitadoras para as leis sem limites do perdão, o reflexo no sonho da
lei de amor do Céu.
Ao rever esse parágrafo e também a lição, mantenha em mente que Jesus não está
preocupado com leis externas, pois elas apenas refletem a lei interna de separação do ego.
Essa última é a preocupação de Jesus, pois ela vem da escolha equivocada na mente. O foco
do seu curso está sempre em mudar o conteúdo (a mente), não a forma (o corpo).

(7) Hoje, se conseguires o menor vislumbre que seja do que o amor significa, terás
percorrido uma distância imensurável e avançado no tempo mais do que se pode contar
em anos para a tua liberação. Vamos juntos, então, ficar contentes em dar algum tempo
a Deus hoje, e compreender que o tempo não pode ser melhor utilizado.

Jesus está nos dizendo que se tivermos apenas um instante, isso será suficiente, pois nos
poupa milhares de anos. Esse é um ponto que já discutimos antes, assim como é uma idéia à
qual Jesus repetidamente retorna. No entanto, é uma idéia que não faz sentido para nós, que
somos criaturas do tempo e do espaço, até nos unirmos a ele no instante santo. Tudo então
parece diferente, porque nossa experiência não é mais medida através de dimensões

60
temporais e espaciais. Na verdade, o uso que o Espírito Santo faz do tempo é transformá-lo em
sem significado, deixando o significado do amor eterno tomar seu lugar.

(8:1-2) Hoje por duas vezes, durante quinze minutos, escapa de todas as leis nas quais
acreditas agora. Abre a tua mente e descansa.

Isso implica em que nossas mentes estão fechadas, o que precisamos aceitar antes de
pedirmos a ajuda de Jesus para abri-las. No manual, Jesus explica que é o julgamento que
fecha nossas mentes à verdade, e então, elas se abrem conforme liberamos nossos
julgamentos em relação aos outros e a nós mesmos. Só então podemos encontrar a paz e o
descanso que ele nos promete:

A mentalidade aberta vem com a ausência de julgamento. Assim como o julgamento


fecha a mente contra o Professor de Deus, assim a mentalidade aberta O convida a
entrar. Assim como a condenação julga como mau o Filho de Deus, a mentalidade
aberta permite que ele seja julgado pela Voz por Deus a Seu favor. Assim como a
projeção da culpa sobre ele o mandaria ao inferno, a mentalidade aberta deixa que a
imagem de Cristo seja estendida a ele. Só quem tem a mente aberta pode estar em
paz, pois só eles vêem razão para isso (MP-4.X.1:2-6).

Certamente vale a pena darmos quinze minutos, duas vezes no dia, em troca da paz que
Jesus nos oferece.

(8:3-4) O mundo que parece manter-te prisioneiro não pode prender todo aquele que não
lhe dá valor. Retira todo o valor que tens dado às suas parcas oferendas e às suas
dádivas sem sentido, e deixa que a dádiva de Deus substitua a todas.

Nas próximas três lições, Jesus discute o mundo e nosso investimento nele. Não é o
mundo, o corpo, ou as leis que nos mantêm prisioneiros, mas nossa identificação com elas, o
que preserva a identificação da nossa mente com o ego. Assim, não é nossa identificação com
o corpo separado que é o problema, mas com a mente separada. Devemos discutir isso com
mais detalhes nas próximas lições.

(9:1-3) Chama pelo teu Pai, certo de que a Sua Voz responderá. Ele próprio prometeu
isso. E Ele próprio depositará uma centelha de verdade no interior da tua mente toda vez
que desistires de uma crença falsa, de uma ilusão escura a respeito da tua própria
realidade e do que o amor significa.

A centelha de amor que é a Presença do Espírito Santo espera que desistamos de


encobrir essa verdade. Precisamos liberar nossas falsas crenças, o que não podemos fazer até
primeiro reconhecermos que as temos. Assim, voltamos à necessidade contínua de
monitorarmos nossas mentes durante o dia todo, em busca de todos os pensamentos escuros
de especialismo e julgamento – as muitas formas de negarmos a benignidade aos outros e a
nós mesmos. Vistos com o Espírito Santo, esses pensamentos escuros desaparecem na luz do
perdão, refletindo a verdade maior da Expiação, na qual é encontrada a memória do nosso Ser.

(9:4-6) Ele brilhará hoje através dos teus pensamentos vãos e ajudar-te-á a compreender
a verdade do amor. Com amorosa gentileza Ele habitará contigo à medida em que
permitires que a Sua Voz ensine o significado do amor à tua mente limpa e aberta. E ele
abençoará a lição com o Seu Amor.

Mais uma vez, isso significa que nossas mentes foram atravancadas com pensamentos
tolos e fechadas à verdade. Uma vez que nós somos aqueles que entulham nossas mentes,
61
somos aqueles que precisam abri-las. No entanto, não podemos fazer isso sem Jesus, e ele
não pode fazê-lo sem nós. Nossas mentes, assim, esperam a escolha de pedirmos a ajuda de
Jesus para liberarmos nosso apego à culpa, para que possamos segurar sua mão de amor.
Essa adorável passagem de “As Dádivas de Deus” descreve esse processo de abrirmos
nossas mãos para Jesus, liberando as dádivas do nosso ego para que possamos aceitar as
suas e voltarmos para casa:

Como você pode ser libertado de todas as dádivas que o mundo lhe ofereceu?Como
você pode trocar essas pequenas e cruéis oferendas por aquelas que o Céu dá, e
Deus gostaria que você guardasse? Abra suas mãos, e dê para mim todas as coisas
que você tem mantido contra sua santidade e conservado como uma calúnia ao
Filho de Deus... Dê-me essas coisas sem valor no instante em que as vir através
dos meus olhos e compreender seu custo...
Eu as pego de você alegremente, deixando-as diante das dádivas de Deus, que Ele
colocou no altar ao Seu Filho. Essas eu dou a você para tomar o lugar daquelas que
você me deu, em misericórdia de si mesmo. Essas são as dádivas que eu peço, e
apenas essas. Pois, conforme você as deixa de lado, estende-se até mim, e eu
posso então vir como um salvador para você. As dádivas de Deus estão em minhas
mãos, para dar a qualquer um que queira trocar o mundo pelo Céu. Você só precisa
chamar o meu nome e pedir que eu aceite a dádiva da dor, de mãos desejosas que
iriam depositá-las nas minhas, com os espinhos deixados de lado e as os pregos há
muito jogados fora, conforme as pesarosas dádivas da terra são, uma a uma,
abandonadas. Em minhas mãos está tudo o que você quer e precisa e espera
encontrar entre os brinquedos esfarrapados da terra. Eu os pego todos e eles se
vão. E, brilhando no lugar onde uma vez estiveram, está o portão para outro mundo,
através do qual entramos no Nome de Deus (As Dádivas de Deus, p. 118-119).

(10) Hoje, a legião dos futuros anos de espera pela salvação desaparece diante da
intemporalidade do que aprendes. Vamos dar graças hoje, por estarmos sendo
poupados de um futuro como o passado. Hoje, deixamos o passado para trás, para
nunca mais ser lembrado. E erguemos os olhos para um presente diferente, no qual
desponta um futuro diverso do passado em todos os aspectos.

Jesus está nos pedindo para liberarmos o passado, o presente e o futuro, as projeções
sombrias do pecado, culpa e medo. No instante santo, quando pedimos ajuda a Jesus,
estamos fora do tempo linear e do sistema de pensamento do ego, e, portanto, não estamos
mais presos às leis do mundo. Sua visão libera a crença no passado pecaminoso, no presente
culpado, e no futuro amedrontador, permitindo que a inocência do Filho de Deus renasça em
um claro e brilhante futuro, a extensão do atual instante santo de amor.

(11:1) Na infância o mundo é recém-nascido.

Essa é uma imagem evocativa que Jesus usa através de todo o Um Curso em Milagres.
Ele diz que a salvação e o relacionamento santo são como uma criança pequena (T-19.IV-
C.9:3; 10:4; T-22.I.7:3), e Cristo renasce como uma pequena Criança (LE-pI.182.10:1). Aqui ele
descreve nosso processo como um bebê tentando voltar para casa. No entanto, essa escolha
de retornar é ameaçadora conforme a praticamos, pois o ego não vai caminhar gentilmente
para o seu boa-noite (com um pedido de desculpa a Dylan Thomas). É a diligência constante
com Jesus que capacita esse recém-nascido a crescer, pois nossa decisão pela mudança
precisa ser fortalecida, nutrida pela prática diária e confiança em nosso novo professor, mesmo
quando os mais velhos tentam tirar nosso progresso do trilho certo.

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(11:2-4) E vigiaremos para que ele cresça em saúde e força, para distribuir a sua bênção
a todos aqueles que vêm aprender a pôr de lado o mundo que pensavam ter sido feito no
ódio para ser o inimigo do amor. Agora, todos eles são libertados junto conosco. Agora,
todos são os nossos irmãos no Amor de Deus.

O mundo interno da infância é recém-nascido porque ainda estamos com medo. No


entanto, a criança cresce até se tornar adulta conforme liberamos nosso medo e percebemos
que estamos mais felizes quando estamos com Jesus do que quando estamos sozinhos e
separados. Essa imagem de uma criança em crescimento tem sua expressão consumada na
Lição 182, “Eu me aquietarei por um momento e irei para casa”, e devemos retardar os
comentários mais profundos até lá.
As sentenças 3 e 4 expressam que fazendo isso com Jesus, estamos fazendo-o por todos
os nossos irmãos, porque existe apenas um único Filho. Quando estamos com Jesus, estamos
além do ego, porque ele está. E todos os nossos irmãos estão lá também:

Quando te unes a mim, estás te unindo sem o ego, porque eu renunciei ao ego em
mim mesmo e, portanto não posso me unir ao teu. Nossa união é, assim, o caminho
para renunciares ao ego em ti. A verdade em nós dois está além do ego. Nosso
sucesso em transcendê-lo é garantido por Deus e eu compartilho essa confiança por
nós dois e por todos nós. Eu trago de volta a paz de Deus para todas as Suas
crianças, porque eu as recebi Dele para todos nós. Nada pode prevalecer contra as
nossas vontades unidas, pois nada pode prevalecer contra a vontade de Deus (T-
8.V.4).

Assim, um mundo velho e cansado, concebido em uma maldição de ódio, realmente se


transforma em um lugar de bênçãos e de amor.

(12:1) Lembrar-nos-emos deles ao longo do dia, pois não podemos deixar uma parte de
nós fora do nosso amor se quisermos conhecer o nosso Ser.

Tente reconhecer, durante o dia, o quanto você exclui os outros, tanto nas maneiras
óbvias quanto sutis. Lembre-se de que isso não é sobre forma ou comportamento, mas sobre
nossos pensamentos que iriam separar as pessoas especiais para o ódio e para o amor.
Portanto, aqueles a quem nos é pedido para lembrar ao longo do dia refere-se a todos que
escolhem ser libertados, como Jesus mostrou no parágrafo anterior.

(12:2) Pelo menos três vezes a cada hora, pensa em alguém que faz a jornada contigo e
que veio para aprender o que tu tens que aprender.

Esse “alguém” é qualquer pessoa que tenha capturado a atenção do seu ego naquele
momento: alguém com quem você vive ou com quem trabalha, ou sobre quem simplesmente
pense; alguém a quem você se sente tentado a ver como especial, porque ele ou ela é alguém
de quem você depende, ou alguém que você escolheu odiar. Qualquer um, portanto, é um
objeto adequado para nossa prática.
Jesus conclui a lição dando-nos as palavras para dizermos a esse alguém especial:

(12:3-5) E quando ele vier à tua mente, dá a ele essa mensagem do teu Ser:

Eu te abençôo, irmão, com o Amor de Deus, que eu quero


compartilhar contigo. Pois eu quero aprender a lição feliz
de que não há nenhum amor a não ser o de Deus e o teu
e o meu e o de todos.

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Nós, portanto, concluímos com o feliz e salvador pensamento da nossa unicidade com
aqueles de quem tentamos nos separar, e em unidade com Deus e conosco. Assim, realmente
aprendemos a lição feliz de que o Amor de Deus é tudo o que há, no qual somos um com todos
que uma vez acreditamos estarem separados de nós.

64
LIÇÃO 128

O mundo que vejo não contém nada do que eu quero.

As próximas três lições formam uma unidade. Essa aqui trata do mundo: “O mundo que
vejo não contém nada do que eu quero”; a Lição 129, “Além desse mundo há um mundo que
eu quero”, é uma discussão sobre o mundo real, que é nosso pela nossa escolha; e a Lição
130, “É impossível ver dois mundos”, reforça nossa necessidade de escolhermos entre os dois.
É difícil entender essa lição sem reconhecer a diferença entre forma e conteúdo. O mundo
(a forma) é a projeção do pensamento de culpa (o conteúdo). Essa lição, portanto, não deveria
ser vista como apoiando o asceticismo ou o sacrifício – desistir do mundo ( forma) -, mas, ao
invés disso, como encorajando-nos a desistir da culpa da mente (conteúdo), a fonte do mundo.
Pode ser tentador para os estudantes, no entanto, se sentirem culpados porque desejam
coisas terrenas, acreditando que Jesus exige que isso seja sacrificado. Mais uma vez, esse
não é um curso em negar o corpo, mas apenas em liberarmos nossos pensamentos sobre o
corpo. Esses pensamentos refletem a culpa subjacente, que contém o desejo secreto de
manter a separação intacta. O valor final do ego para o mundo, portanto, é como um lugar no
qual mantemos nossa identidade especial através da culpa, mas tornando alguém mais
responsável por ela. Vamos voltar a essa idéia conforme atravessarmos a lição.

(1:1-2) O mundo que vês não te oferece nada do que precisas, nada que te possa ser de
algum modo útil a ti e absolutamente nada que sirva para te dar alegria. Acredita nesse
pensamento e serás salvo de anos de miséria, de inúmeros desapontamentos e de
esperanças que se tornam amargas cinzas de desespero.

Ainda outra referência aos relacionamentos especiais: nossa necessidade de


acreditarmos que existem coisas, substâncias e pessoas no mundo que nos satisfazem, nos
dão prazer, nos fazem sentir bem a respeito de nós mesmos, e suprem a falta que acreditamos
ser a nossa realidade. Em vez de nos voltarmos ao Espírito Santo em busca do que está nos
faltando – a memória de Quem somos como Cristo -, negamos Sua Presença, projetamos a
culpa que se segue a essa negação, e buscamos fora alívio para a dor que inevitavelmente
resulta de empurrarmos o amor para longe. Essa é a base para sentir que o mundo contém o
que queremos, um valor radicado na crença em que somos corpos, com necessidades que têm
quer ser atendidas, do contrário, nos sentiremos solitários e em privação. Portanto, nossa
percepção do mundo é a de que ele existe para atender às nossas expectativas e
necessidades.

(1:3) Ninguém pode deixar de aceitar esse pensamento como verdadeiro, se quiser
deixar o mundo para trás e elevar-se acima de suas mesquinhas dimensões e de seus
caminhos curtos.

Através de todo o Um Curso em Milagres, e aqui novamente, Jesus nos lembra de que as
dádivas do mundo não são nada comparadas às dele. Em “As Dádivas de Deus”, do qual já
citamos, Jesus contrasta os dois, querendo que vejamos com que rapidez buscamos as
migalhas – as dádivas do ego, baseadas no medo, de “mesquinhas dimensões e caminhos
curtos” – em vez do banquete do Amor de Deus. Nós já discutimos esse tema importante em A
Canção da Oração, onde Jesus nos incita a não buscarmos um eco da Voz de Deus, mas Sua
canção total (C-1.I.2:809). Ele nos pede aqui para buscarmos apenas uma experiência do
Amor de Deus, e para repudiarmos os substitutos esfarrapados que o mundo nos oferece em
seu lugar.

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(2:1-2) Aqui, cada coisa que valorizas não passa de uma corrente que te prende ao
mundo e não servirá a nenhum outro fim senão esse. Pois tudo não pode deixar de
servir ao propósito que tu lhe dás, até que vejas lá um propósito diferente.

O conceito de propósito é crucial para compreender essa lição. Não são as coisas do
mundo que são valiosas, mas o propósito que damos a elas. Nós pensamos que somos
atraídos para uma pessoa, objeto, substância ou idéia específica, mas, na verdade, é a culpa
que nos instiga. Isso prova que nós pecamos, somos indivíduos separados, e estamos certos,
enquanto o Espírito Santo está errado. Provar isso é o propósito que valorizamos aqui, e
cumprir esse propósito é a única necessidade do nosso ego.
A maioria das correntes espiritualistas – e infelizmente, muitos estudantes do Um Curso
em Milagres concordam – vê nossos problemas como enraizados no mundo material de
pecado. Isso leva à conclusão inevitável de que deveríamos deixar o mundo para trás para
encontrarmos felicidade. No entanto, se não liberarmos o propósito da mente de manter a
culpa, vamos simplesmente substituí-lo por outra forma do que até então serviu àquele
propósito. A formulação de Freud sobre sintoma substituto é o modelo psicodinâmico para esse
padrão de comportamento.

(2:3-5) O único propósito digno da tua mente que o mundo contém é o de que passes por
ele sem te deteres para perceber alguma esperança onde não há nenhuma. Não te
enganes mais. O mundo que vês não contém nada do que queres.

Nosso único propósito para estarmos em um mundo de tempo e espaço, em aguda


distinção em relação ao do ego, é nos ensinar que não existe mundo de tempo e espaço:

É evidente que a percepção que o Espírito Santo tem do tempo é exatamente


oposta à do ego. A razão disso está igualmente clara, pois eles percebem a meta do
tempo de maneiras diametralmente opostas. O Espírito Santo interpreta o propósito
do tempo como o de tornar a necessidade do tempo desnecessária. Ele considera
função do tempo como temporária, servindo apenas à Sua função de ensinar, que é
temporária por definição. A Sua ênfase, portanto, recai sobre o único aspecto do
tempo que pode se estender até o infinito, pois o agora é a noção mais próxima de
eternidade que esse mundo oferece (T-13.IV.7:1-5).

Assim, o único propósito do mundo é nos prover com a oportunidade de escolher o


instante santo, o agora no qual escolhemos contra o sistema de pensamento do ego, e
ouvimos a única Voz por Deus. A primeira linha de defesa do ego – o mundo e o corpo – é
deixada de lado conforme percebemos que o valor não está no que vemos com nossos olhos,
mas na culpa na mente. Quando deixamos o mundo de lado, portanto, ficamos cara a cara com
nossa culpa, a segunda linha de defesa do ego. Por trás dessa defesa, está nossa decisão de
sermos um indivíduo, e por trás disso está o Amor de Deus.
Nós pedimos ajuda a Jesus não para liberarmos nossos apegos às pessoas, objetos e
substâncias, mas para nos ajudar a entender seu propósito. Assim, ele nos diz – duas vezes –
que o Espírito Santo não vai tirar de nós nossos relacionamentos especiais, mas vai
transformar seu propósito da culpa para o amor:

O Espírito Santo sabe que ninguém é especial. No entanto, Ele também percebe
que fizeste relacionamentos especiais, que Ele quer purificar e não deixar que
destruas. Não importa quão pouco santa seja a razão pela qual tu os fizeste, Ele
pode traduzi-los em santidade removendo tanto medo quanto tu Lhe permitires.
Podes colocar qualquer relacionamento sob os Seus cuidados e estar seguro de que
não resultará em dor, se Lhe ofereces a tua disponibilidade para que o
relacionamento não sirva à necessidade alguma que não seja a do Espírito Santo.
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Toda culpa no relacionamento surge do uso que fazes dele. Todo o amor, do uso do
Espírito Santo. Não tenhas, portanto, medo de abandonar as tuas necessidades
imaginárias que iriam destruir o relacionamento. A tua única necessidade é a do
Espírito Santo (T-15.V.5).

Eu tenho dito repetidas vezes que o Espírito Santo não quer privar-te dos teus
relacionamentos especiais, mas apenas transformá-los. E tudo o que isso significa é
que Ele vai devolver-lhes à função que lhes foi dada por Deus. A função que tu lhes
deste, claramente, não é a de fazer feliz. Mas o relacionamento santo compartilha o
propósito de Deus ao invés de ter como objetivo substituí-lo (T-17.IV.2:3-6).

Essas duas passagens são vitais para compreender essa lição. Para afirmar mais uma
vez, Jesus não remove as diversas formas das nossas vidas, mas nos ajuda a transformar o
propósito da mente para elas. Dados a ele, os veículos do ego para reforçar seu sistema de
pensamento se tornam os meios pelos quais mudamos nossas mentes. Depois, no livro de
exercícios, nos é dito que nossos corpos são neutros (LE-pII.294), pois eles meramente
executam os desejos da mente. Qual sistema de pensamentos escolhemos? Nossa decisão
repousa no valor que damos a ele.

(3:1) Hoje, escapa das correntes que colocas na tua mente quando percebes a salvação
aqui.

Crucial a essa sentença é a palavra você (NT: na tradução em português, apenas implícita) , que
se refere ao tomador de decisão tendo escolhido fazer o mundo como um meio de
aprisionamento. No entanto, a prisão não é os relacionamentos especiais do mundo, mas o
poder da mente de escolhê-los; as correntes representando a necessidade de provarmos que
nossa individualidade está viva e bem. A chave que destranca essas correntes é o tomador de
decisões mudando a si mesmo, escolhendo a liberdade da salvação no lugar da prisão da
culpa.

(3:2) Pois aquilo que valorizas, fazes com que seja parte de ti na tua percepção de ti
mesmo.

O exemplo mais claro disso é o corpo. Nós o valorizamos porque ele é algo específico no
qual projetamos a culpa inconsciente da mente, dessa forma não guardando memória da nossa
identidade como uma mente, e certamente não como Cristo. O corpo, assim, tem grande valor;
e ao valorizá-lo, nós nos tornamos ele, pelo menos na consciência: nós nos tornamos o que
valorizamos, uma reminiscência da famosa linha dos anos sessenta: “Você é o que come”. Se
você valorizar algo, dando a ele um significado que ele não tem em e por si mesmo, você se
torna esse significado. Essa passagem do manual exemplifica esse princípio:

A lição central é sempre essa: seja para o que for que o corpo sirva para ti, é isso
que ele virá a ser para ti. Usa-o para o pecado ou para o ataque, que é o mesmo
que pecado, e o verás como pecaminoso. Por que é pecaminoso é fraco e, sendo
fraco, sofre e morre. Usa-o para trazer o Verbo de Deus àqueles que não o têm e o
corpo vem a ser santo. Por ser santo, não pode adoecer nem pode morrer (MP-
12.5:1-5).

A decisão da mente está baseada no sistema de pensamento que ela valoriza: o do ego
ou o do Espírito Santo.

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(3:3) Todas as coisas que buscas para fazer com que o teu valor seja maior aos teus
olhos te limitam ainda mais, escondem de ti o teu próprio valor e acrescentam mais um
obstáculo diante da porta que conduz à verdadeira consciência do teu Ser.

Esses obstáculos são os escudos de esquecimento do ego, uma frase da Lição 136 (LE-
pI.136.5:2) que já examinamos. O mundo e o corpo resguardam o escudo interno de culpa, o
que nos leva para fora das nossas mentes (literal e figurativamente), assegurando que nosso
tomador de decisões nunca vai mudar sua mente. Valorizando as coisas no mundo e
acreditando que elas vão nos ajudar ou ferir – tanto a fonte dos nossos problemas quanto sua
solução -, reforçamos o obstáculo final à verdade. Enquanto acreditarmos que o mundo é real,
nunca vamos retornar aos pensamentos na mente que são a questão real.

(4) Não deixes que nada que se relacione com pensamentos do corpo detenha o teu
progresso em direção à salvação, nem permitas a tentação de acreditar que o mundo
contém algo que queiras a fim de deter-te. Não há nada aqui para apreciar. Nada que vale
um instante de atraso e de dor, um momento de incerteza e de dúvida. Aquilo que não
tem valor nada oferece. A certeza acerca do que tem valor não pode ser achada onde
não há valor algum.

Nós vemos repetidamente que tudo nesse mundo não vale nada. De fato, o mundo não é
literalmente nada, sendo uma projeção de um pensamento em nossas mentes que é
inerentemente nada. Lembre-se, o sistema de pensamento do ego foi totalmente inventado,
começando com nossa crença na realidade da diminuta e louca idéia, em vez de compartilhar a
percepção do Espírito Santo sobre sua nulidade. Nós defendemos nossa crença por erigirmos
uma camada de defesa após a outra, todas as quais não são nada, porque vêm do nada e
defendem o nada. Apenas através do reconhecimento desse fato, nos sentiremos motivados a
desistir da nulidade inata do mundo, conforme somos relembrados mais uma vez da felicidade
que vem a nós quando cruzamos a ponte para o mundo real:

E irás pensar, em feliz espanto, que por tudo isso a nada renunciaste! (T-16.VI.11.4).

É importante não nos sentirmos culpados por mantermos pensamentos corporais. Quer
eles sejam bons, santos e curadores, ou maus, feios e pecaminosos é irrelevante. Não
podemos evitar pensamentos corporais enquanto estivermos aqui, mas podemos escolher o
professor que vai nos ajudar a olhar para eles de forma diferente. Assim, Jesus nos conforta
para não ficarmos transtornados com os pensamentos sombrios do ego que trouxemos
conosco para o mundo:

... não te perturbes pelas sombras que a cercam. É por isso que vieste. Se pudesses
vir sem elas, não terias necessidade do instante santo (T-18.IV.2:4-6).

No manual, Jesus gentilmente nos lembra de que nossa função aqui não encerra
estarmos sem limitações, mas estarmos sem os julgamentos de culpa que colocamos sobre
elas:

Não te desesperes, portanto, por causa das limitações. É a tua função escapar
delas, mas não existir sem elas (MP-4:1-2).

Jesus nos ajuda a entender que nossos julgamentos, preocupações com nosso corpo ou
os corpos dos outros são os meios que ele usa para nos ensinar sobre nossa necessidade
subjacente de termos o problema e sua solução fora das nossas mentes. Preocupação
corporal, portanto, nos distrai para que não olhemos para dentro, pois nossa culpa agora é
percebida em alguma outra pessoa. Acabamos entendendo que o problema a ser resolvido não
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é encontrado nos pensamentos corporais, nem em diversas atrações externas, mas no
propósito da mente de reforçar a culpa, um propósito claramente servido por esses
pensamentos distrativos.

(5:1-2) Hoje praticamos abandonar todos os pensamentos acerca dos valores que temos
dado ao mundo. Vamos deixá-lo livre dos propósitos que demos aos seus aspectos,
suas fases e seus sonhos.

Jesus enfatiza de novo e de novo que o problema reside nos “valores que temos dado ao
mundo”, o valor final sendo provar que estamos certos e ele errado.
Como vemos aqui, Jesus ocasionalmente usa o termo aspectos para denotar partes
diferentes da Filiação. Assim, por exemplo, falando da unidade da cura, ele diz no texto:

Ele se estende a todos os aspectos da Filiação ao mesmo tempo e assim os


capacita a alcançarem uns aos outros (T-13.VI.6:4).

E depois, sobre os relacionamentos especiais:

Se buscar separar certos aspectos da totalidade e olhar para eles de forma que
satisfaçam as tuas necessidades imaginárias, estás tentando usar a separação para
salvar-te (T-15.V.2:3).

Assim cada um dos nossos fragmentos aparentemente separados constitui um aspecto


da Filiação. Na lição, Jesus fala sobre as diversas partes da nossa experiência mundana: os
valores que damos às pessoas; nossos corpos, ou partes deles; alimentos e substâncias; e as
múltiplas coisas que o mundo nos oferece, prazerosas e também dolorosas. Para repetir esse
ponto evidente, não liberamos as coisas, mas o propósito que colocamos sobre elas. Dessa
forma, o mundo é libertado, e tem permissão para que outro propósito seja dado a ele, como
vemos agora:

(5:3-4) Vamos mantê-lo sem propósito dentro de nossas mentes e soltá-lo de tudo o que
desejamos que fosse. Assim erguemos as correntes que obstruem a porta pela qual
temos que passar para que possamos nos libertar do mundo e vamos além de todos os
pequenos valores e metas menores.

Quando retiramos o propósito que demos ao mundo, ele se torna sem propósito,
permitindo que o Espírito Santo o supra com o Seu. O mundo dos nossos relacionamentos
especiais agora se torna uma sala de aula na qual aprendemos nossas lições de perdão, e,
conforme as aprendemos, as correntes de aprisionamento são erguidas, sem qualquer
mudança externa. Na verdade, nós não fizemos nada, o que é o ponto central.

(6:1) Aquieta-te e fica em paz por um momento, e vê o quanto te ergues acima do mundo
quando liberas a tua mente das correntes e as deixas buscar o nível em que se acha em
casa.

O você, mais uma vez, é o tomador de decisões escolhendo o perdão do Espírito Santo
em vez da culpa do ego, dessa forma, liberando a mente das suas correntes, colocadas lá pelo
agente aprisionador – nosso ser tomador de decisões. Nossas mentes são libertadas para
buscarem e encontrarem seu verdadeiro lar: o lugar da mente certa, onde habita o Espírito
Santo, a pedra fundamental para nossa volta para casa. A frase inicial é tirada do início do
salmo quarenta e seis, freqüentemente citado no Curso. Aqui está uma referência dessas, que
enfatiza a importância do propósito conforme nos elevamos acima do mundo, deixando um

69
espaço vazio em nossas mentes para que a Expiação do Espírito Santo se eleve à
preponderância em nossa consciência:

Vamos ficar quietos por um instante e esquecer todas as coisas que já aprendemos,
todos os pensamentos que tivemos e todo preconceito que guardamos quanto ao
que significam as coisas e qual é o seu propósito. Não nos lembremos das nossas
próprias idéias a respeito de qual é o objetivo do mundo. Nós não sabemos.
Soltemos todas as imagens que guardamos de todas as pessoas e que sejam
varridas das nossas mentes (T-31.I.12).

(6:2-5) Ela ficará agradecida por ser livre por algum tempo. Ela conhece o seu lugar.
Apenas liberta as suas asas e voará na certeza e na alegria para unir-se ao seu santo
propósito. Deixa-a descansar no seu Criador para que seja restaurada à sanidade, à
liberdade e ao amor.

A memória do nosso Criador e Fonte está em nossas mentes certas, onde Jesus tem
esperado pacientemente por nós. Para descansarmos em seu amor, nós primeiros temos que
liberar nosso investimento na culpa, o que significa liberar nossos investimentos no mundo, o
que é alcançado pela compreensão – através da ajuda de Jesus – do propósito ao qual eles
servem. Assim, se formos ser livres da nossa infelicidade, miséria e dor, precisamos pedir
ajuda a Jesus para olharmos de modo diferente para o mundo. Nós não mudamos o mundo,
nem o que fazemos lá, mas, em vez disso, mudamos a maneira de olhar para ele. Isso muda
seu propósito da culpa para o perdão, e nós somos restaurados à sanidade, liberdade e amor.

(7:1-3) Dá-lhe [i.e., o tomador de decisões em nossas mentes] dez minutos de descanso por
três vezes hoje. E depois quando os teus olhos se abrirem, não valorizarás coisa alguma
do que vires tanto quanto da última vez que olhaste para ela. Toda a tua perspectiva do
mundo se deslocará um pouco mais a cada vez que deixares a tua mente escapar de
suas correntes.

O que muda é nossa perspectiva, não necessariamente o mundo ou o nosso


comportamento. Nossa atitude muda porque não valorizamos mais o mundo como antes. A
chave para essa lição – assim como em muitas outras – é que passemos um tempo quietos
durante o dia com Jesus, pensando em sua mensagem. Assim, trazemos a experiência do
amor e paz de Jesus de volta conosco para o mundo, conforme novamente interagimos com
ele. Se tivermos feito isso corretamente, haverá uma mudança – mesmo que pequena –
porque nós agora vamos nos lembrar de que temos outro professor para interpretar para nós
os eventos do dia. Essa é a perspectiva que muda, como a seguinte passagem sobre a ponte
para o mundo real explica:

A ponte em si mesma nada mais é do que uma transição na perspectiva da


realidade. Desse lado, tudo o que vês é grosseiramente distorcido e completamente
fora de perspectiva. O que é pequeno e insignificante é engrandecido e o que é forte
e poderoso reduzido à pequenez... Esse quadro de referencias é feito em torno do
relacionamento especial. Sem essa ilusão, não poderia haver significado algum que
ainda buscasses aqui (T-16.VI.7:1-3,6-7).

Essa é uma abordagem muito mais gentil à nossa jornada espiritual, pois não somos
solicitados a abrir mão dos nossos relacionamentos especiais, mas apenas a mudarmos nossa
perspectiva da culpa do ego para o perdão de Jesus.

(7:4) O mundo não é o seu lugar.

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O lugar da nossa atenção não é no mundo, mas em nossas mentes, onde está a correção
do Espírito Santo. Esse era o ponto de vista de Jesus, quando preveniu Helen sobre a
divagação da sua mente:

Tu és tolerante demais com as divagações da tua mente (T-2.VI.4:6).

Nós permitimos que nossas mentes vagueiem pelo mundo - o resultado da projeção –
acreditando que é aí que o problema está, e a verdade também. Nosso foco, então, vagueia
para o corpo – que nós agora acreditamos que é o nosso ser – com suas necessidades
prementes, que exigem que os outros as atendam. Jesus, portanto, está nos pedindo para
darmos um passo atrás com ele e observarmos nossas mentes e corpos, e olharmos para seu
mundo de forma diferente.

(7:5-8) E o teu lugar é aonde ela quer estar, aonde vai descansar quando a liberas do
mundo. O teu Guia é seguro. Abre a tua mente para Ele. Aquieta-te e descansa.

Em outras palavras, você não pertence ao corpo, mas à mente, o lugar de descanso que
reflete a verdade do Céu dentro do sonho. Em um nível prático, isso significa que, conforme
você atravessa seu dia e é tentado a ficar transtornado, perceba com tanta rapidez quanto
puder, que você colocou um valor em algo no mundo. Isso, em última instância, significa
reforçar seu especialismo e individualidade; uma forma de provar que você está certo e Jesus
errado. Tão logo você se torne ciente da sua escolha pelo ego, vá para o lugar quieto de
descanso em sua mente – pode ser apenas por poucos segundos, se você não dispuser de
dez minutos – e diga a Jesus: “Por favor, ajude-me a olhar para isso de forma diferente”. Esse
é o ponto de partida, e é o que Jesus quer dizer no parágrafo final:

(8) Protege a tua mente ao longo do dia também. E quando pensares que vês algum valor
em um aspecto ou em uma imagem do mundo, recusa-te a colocar essa corrente sobre a
tua mente, mas dize a ti mesmo com serena certeza:

Não serei tentado a me atrasar por isso.


O mundo que vejo não contém nada
do que eu quero.

Mais uma vez, o você é o tomador de decisões escolhendo reforçar e preservar sua
individualidade, colocando uma corrente de culpa ao redor da sua mente. A culpa existe para
ser projetada, resultando em nós valorizando o mundo. Devemos ver em outras lições, como já
vimos, que nossas palavras, para não falar nas de Jesus, não significam nada se não as
praticarmos todos os dias, dia sim e outro também.

71
LIÇÃO 129

Além desse mundo há um mundo que eu quero.

Além desse mundo há o mundo real, o lugar da verdade na mente certa. Jesus apela aqui
ao poder de nossa mente de escolher entre os dois: o mundo sombrio de culpa e ódio do ego;
ou o mundo repleto de luz de Expiação do Espírito Santo, que reflete o Seu Amor.

(1:1-2) Esse é o pensamento que se segue àquele que praticamos ontem. Tu não podes
deter-te na idéia de que o mundo é sem valor, pois se não vires que existe algo mais por
que esperar, só ficarás deprimido.

Não é suficiente que nos seja dito que o mundo é sem valor, sem o próximo passo.
Inerente à declaração acima está olhar com Jesus, o que significa estar com ele. Isso nos
lembra de que existe outra escolha que fizemos por outro professor. Se olharmos para nosso
mundo através dos olhos do ego, vamos ficar deprimidos, e, em última instância, homicidas e
suicidas. A seguinte passagem expressa esse resultado infeliz de termos adotado a conclusão
errada do ego sobre os fatos certos:

Todas as suas estradas só levam ao desapontamento, ao nada e à morte... As


estradas que esse mundo pode oferecer parecem ser muitas em número, mas tem
que vir o tempo em que todas as pessoas começarão a ver como são semelhantes
umas às outras. Homens morreram ao ver isso, porque não viram outro caminho
exceto as trilhas oferecidas pelo mundo. E ao aprender que não levavam a lugar
nenhum, perderam sua esperança. E apesar disso, era esse o momento em que
eles poderiam ter aprendido sua maior lição. Todos necessariamente atingem esse
ponto e vão além. É verdade, de fato, que não existe escolha alguma dentro do
mundo. Mas essa não é a lição em si mesma. A lição tem um propósito e nele vens
a compreender para quê ela serve... Seu propósito é a resposta à busca que todos
têm que empreender quando ainda acreditam que existe uma outra resposta a ser
achada. Aprende agora, sem desespero, que não existe nenhuma esperança de
resposta no mundo... Não procures mais esperança onde não existe nenhuma.
Apressa agora o teu aprendizado e compreende que apenas perdes tempo, a não
ser que vás além do que aprendeste para o que ainda está por ser aprendido. Pois
deste ponto mais baixo o aprendizado conduzirá aos píncaros da felicidade, onde
vês o propósito da lição brilhando clara e perfeitamente dentro da tua capacidade de
aprender (T-31.IV.2:3; 3:3-10; 4:2-3,6-8).

Olhando através dos olhos de Jesus, aprendemos a sorrir diante de tudo o que acontece
– pessoal e coletivamente. Esse sorriso é impossível, a menos que seus olhos sejam os
nossos, e nós fiquemos ao lado do seu amor. Só então, teremos alegre e verdadeiramente
escolhido ver outro mundo além desse aqui.

(1:3-4) A nossa ênfase não está em desistir do mundo, mas em trocá-lo pelo que é muito
mais satisfatório, cheio de alegria e capaz de te oferecer paz. Pensas que esse mundo
pode te oferecer isso?

Jesus não fala de um mundo físico, tangível, mas de um mundo existente em nossos
pensamentos. Assim, trocar o mundo significa trocar os pensamentos do ego que fizeram o
mundo – especialismo e culpa – pelos pensamentos de perdão e amor do Espírito Santo, a
fundação do mundo real. Assim, a pergunta de $64 (NT: The $64,000 Question foi um show de televisão
muito popular nos EUA entre 1955 e 1958, onde pessoas respondiam perguntas por dinheiro) de Jesus a nós é

72
se nós realmente acreditamos que nosso mundo pode oferecer a satisfação, a alegria e a paz
que ele pode.

(2:1-2) Talvez valha a pena dedicares um breve período de tempo para pensar uma vez
mais sobre o valor desse mundo. Talvez admitas que não há perda em abandonar
qualquer pensamento de valor aqui.

Jesus está nos dando pelo menos esse tanto de crédito – nesse ponto, percebemos que o
mundo não conta nada do que queremos.

(2:3-6) O mundo que vês é de fato sem misericórdia, instável, cruel, indiferente a ti,
rápido na vingança e implacável em ódio. Ele só dá para tirar e leva embora todas as
coisas que te foram caras por um momento. Nenhum amor duradouro é encontrado, pois
não há nenhum aqui. Esse é o mundo do tempo, em que todas as coisas chegam ao fim.

A sentença final é importante, pois ajuda os estudantes a evitarem a armadilha de pensar


que quando Jesus diz, por exemplo, “o mundo que vês é de fato sem misericórdia”, ele se
refere à nossa forma de vê-lo, não ao mundo em si mesmo. Essa linha deixa claro que ele está
falando do mundo de percepção e tempo. Tudo aqui fenece e em última instância morre, pois
nada no mundo é eterno. Não importando o quanto as coisas pareçam maravilhosas, elas não
duram: “Esse é o mundo do tempo, em que todas as coisas chegam ao fim”. Existem muitas
passagens através do Um Curso em Milagres que afirmam esse mesmo ponto, falando do
mundo que percebemos – um lugar de forma, corpos, mudança e finalmente morte. Logo no
início desse livro, nós citamos talvez a declaração mais poética do Curso sobre essa idéia. Nós
a repetimos agora:

O que parece ser eterno, tudo isso terá um fim. As estrelas desaparecerão e a noite
e o dia não mais existirão. Todas as coisas que vêm e vão, as marés, as estações e
as vidas dos homens; todas as coisas que mudam com o tempo, que florescem e
murcham não retornarão. Onde o tempo estabeleceu um fim, não é onde o eterno
pode ser encontrado. O Filho de Deus nunca pode mudar em função daquilo que os
homens fizeram dele. Ele será o mesmo, ontem e hoje, pois o tempo não designou o
seu destino, nem estabeleceu a hora do seu nascimento e da sua morte (T-
29.VI.2:7-12).

Uma das maiores contribuições do Um Curso em Milagres é desnudar as ilusões das


noções do mundo sobre verdade e falsidade, vida e morte, espírito e matéria, amor e ódio:

O mundo foi feito para que não se pudesse escapar dos problemas (T-31.IV.2:6).

Encobrir nossa dor com pensamentos e percepções de beleza, bondade, verdade e amor
não nos leva a escapar da nossa culpa. Pelo contrário. Apenas o perdão traz o verdadeiro
escape, devolvendo-nos à ausência de tempo, e à beleza, bondade, verdade e amor que estão
além de todas as formas. Elas estão refletidas no mundo real, o passo final antes do nosso
retorno ao Céu e ao nosso Ser.

(3:1-2) Será uma perda achar, ao invés desse, um mundo em que é impossível perder?
Em que o amor dura para sempre, o ódio não pode existir e a vingança não tem
significado?

Esse é o mundo real, que não é um lugar, mas o pensamento de cura perfeita. Quando
escolhemos o sistema de pensamento do Espírito Santo de uma vez por todas, nos
73
identificamos com Seu princípio de Expiação – o reflexo do Amor eterno do Céu, que nunca
pode ser perdido. Nossas mentes então são curadas, e o sistema de pensamento do ego –
separação, pecado, culpa, medo, dor, ódio e morte – desaparece, pois era mantido no lugar
apenas por nossa identificação com ele. Quando mudamos nossa identidade, e a colocamos,
em vez disso, no Amor de Deus, o ego se vai, junto com seu ódio e vingança, crueldade e dor.

(3:3) Será uma perda achar todas as coisas que realmente queres e saber que elas não
têm fim e que permanecerão exatamente como as queres através do tempo?

Jesus nos diz: “É claro que você não vai perder coisa alguma; olhe para a dádiva eterna
que eu ofereço em lugar disso”. No entanto, enquanto nos identificarmos com nossos corpos e
especialismo, vamos acreditar que desistir das coisas nesse mundo envolve sacrifício e perda.
Assim, precisamos de um professor para nos instruir de modo diferente. O seguinte poema de
Helen, “As Dádivas do Céu”, foi escrito para mim quando o presente de Helen - uma medalha
do Espírito Santo - foi roubado. Ele expressa docemente a mensagem de Jesus a todos nós
sobre a impossibilidade de perda real, a reconfortante mensagem da Expiação. Nós já citamos
parte dele, mas seu encanto merece outra leitura completa:

Ninguém pode roubar a infinitude. Pois quando


Algo é levado, os anjos juntam suas asas
E fecham o espaço tão rapidamente que isso parece
Ser ilusão: não acontecido, desfeito.

Ninguém pode tirar do todo.


Sua própria completeza é uma garantia de que
Ele é completo para sempre. Não pode haver
Perda que não seja restaurada mesmo antes de acontecer.

Ninguém pode diminuir o amor. Esse é o sinal


De que a perda é impossível. Parecia
Que isso tinha ido embora. No entanto, os anjos rapidamente vieram
E prometeram que iriam trazê-lo de volta para você.
(As Dádivas de Deus, p. 80).

(3:4) Porém, até mesmo estas coisas [as dádivas do mundo real] serão finalmente trocadas
por algo de que não podemos falar, pois daí em diante vais para um lugar em que as
palavras fracassam inteiramente, para um silencio no qual a linguagem não é falada mas
certamente compreendida.

Essa lição se refere a três mundos: o mundo do ego, que é sem misericórdia, instável e
cruel; o mundo real, que corrige o ego, suas dádivas amorosas refletindo o Amor do Céu e se
tornando a ponte que permite que Deus dê o último passo, no qual Ele se abaixa e nos ergue
até o Céu (ET-4.9:3). Como Jesus diz, não existem palavras para descrevê-lo, no entanto,
temos esses parágrafos iniciais de “A morada imutável” para refletir para nós sua quietude e
paz:

Existe um lugar em ti onde todo esse mundo foi esquecido, onde nenhuma memória
de pecado e nenhuma ilusão ainda paira. Existe um lugar em ti que o tempo deixou,
no qual os ecos da eternidade são ouvidos. Existe um lugar de descanso tão quieto
que nenhum som, a não ser um hino ao Céu, se eleva para alegrar Deus Pai e Deus
Filho. Onde Ambos habitam, Eles são lembrados. E onde Eles estão, está o Céu e a
paz.

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Não penses que és capaz de mudar a Sua morada. Pois a tua Identidade habita
Neles, e onde Eles estão tu tens que estar para sempre. A imutabilidade do Céu
está em ti, tão profundamente interiorizada que tudo nesse mundo apenas passa ao
largo, despercebido e sem ser visto. A infinidade serena da paz sem fim te cerca
gentilmente em seu abraço suave, tão forte e quieta, tão tranqüila no poder do seu
Criador, que nada é capaz de invadir o sagrado Filho de Deus no seu interior (T-
29.V.1-2).

Dito de forma sucinta, a seqüência é do mundo do ego para o mundo real, e de lá para o
Céu. Na verdade, é claro, não existe seqüência nem mundos separados; estamos em “uma
jornada sem distância” (T-8.VI.9:7). Como poderíamos viajar para o lugar Total, quando nunca
o deixamos?

(4:1-3) A comunicação sem ambigüidade e clara como o dia, permanece ilimitada por
toda a eternidade. E o próprio Deus fala com o Seu Filho como o Seu Filho fala com Ele.
A Sua linguagem não tem palavras, pois o que dizem não pode ser simbolizado.

A passagem inicial em “A Canção da Oração” expressa lindamente esse nível de


comunicação: a canção que o Pai canta para o Filho e o Filho canta para o Pai (C-1.in.I.3).
Essa canção não tem notas, intervalos, harmonia musical, partes ou forma. Na verdade, ela
está inteiramente além da forma, e sua inefabilidade revela a si mesma como o Céu – o estado
de perfeita Unicidade e Amor além de todas as palavras, porque está além de todos os
símbolos:

... não há nenhum símbolo para a totalidade. A realidade é conhecida, em última


instância, sem forma, sem retrato e sem ser vista... Dá boas-vindas ao Poder que
está além... do mundo dos símbolos e das limitações... Ele quer meramente ser e
assim meramente é (T-27.III.5:1-2; 7:8-9).

(4:4-6) O Seu conhecimento é direto, totalmente compartilhado e totalmente uno. Como


tu, que permaneces preso a esse mundo, estás longe disso! E, no entanto, como estás
perto quando o trocas pelo mundo que queres.

Nenhuma individualidade existe no estado de perfeita Unicidade do Céu. No entanto, não


vamos das nossas experiências corporais diretamente para casa, mas do mundo do corpo para
o mundo real da mente. Esse passo intermediário nos faz olhar para a culpa e perceber que ela
foi inventada, assim, dissolvendo sua existência. Quando a culpa se vai, tudo o que resta é o
amor em nossas mentes certas – o mundo real. Nós, portanto, ficamos parados diante da porta
do Céu, trazida pelo perdão ao nosso irmão, que é transformado em nosso ser:

Perdoa o passado e deixa-o ir, pois ele já se foi. Tu já não te encontras na terra que
está entre os dois mundos. Foste adiante e alcançaste o mundo que está na porta
do Céu. Não existe nenhum obstáculo para a Vontade de Deus, nem existe
necessidade alguma de que mais uma vez repitas a jornada que terminou há tanto
tempo atrás. Olha gentilmente para o teu irmão e contempla o mundo no qual a
percepção do teu ódio foi transformada em um mundo de amor (T-26.V.14).

(5:1-2) Agora, o último passo é certo, agora, estás a um instante da intemporalidade.


Daqui só podes olhar para frente, nunca mais para trás, para ver de novo o mundo que
não queres.

Você não pode olhar para trás porque o mundo contra o qual você escolheu já
desapareceu. Quando despertamos do sonho, não há nada a se lembrar, porque despertar é
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entender a partir de dentro: não uma ciência intelectual, mas um saber que a separação nunca
aconteceu. Isso significa que o mundo nunca aconteceu, e então, não há nada a se lembrar:

E quando a memória de Deus tiver vindo a ti no lugar santo do perdão, não te


lembrarás de nenhuma outra coisa e a memória será tão inútil quanto o aprendizado,
pois o teu único propósito será criar. Entretanto, não podes ter o conhecimento disso
enquanto todas as percepções não forem limpas e purificadas e finalmente
removidas para sempre. O perdão apenas remove o que não é verdadeiro, erguendo
as sombras do mundo e carregando-o são e salvo dentro da sua gentileza para o
mundo resplandecente da percepção nova e limpa. Lá está o te propósito agora. E é
lá que a paz te espera (T-18.IX.14).

O perdão cumpriu sua função de remover os bloqueios à consciência da presença do


amor (T-in.1:7). A paz de Deus permanece, para ser instantaneamente substituída pela Paz de
Deus em Si Mesmo, em Seu último passo, a mudança final do mundo real, através da qual
despertamos do sonho.

(5:3-5) Aqui está o mundo que vem tomar o lugar do outro, à medida que soltas a tua
mente das pequenas coisas que o mundo apresenta para manter-te prisioneiro. Não lhes
dês valor e desaparecerão. Estima-as e te parecerão reais.

As coisas que percebemos no mundo são simplesmente sombras dos pensamentos de


separação, pecado e culpa na mente. É só a partir desses pensamentos que poderemos liberar
a nós mesmos. O tomador de decisões olha para o ego com Jesus e diz: “Eu cometi um
equívoco. Não quero mais o sistema de pensamento de individualidade, mas seu amor. Não
preciso mais do mundo como uma defesa para proteger e preservar minha identidade
separada, mantendo minha mente oculta”.
Lembrem-se de que o propósito do ego para o mundo é sem mente, o que é alcançado
inculcando o medo de mudarmos nossas mentes e escolhermos um Professor diferente.
Quando não tememos mais Seu amor, valorizando o Amor de Deus mais do que o
especialismo do ego, deixamos de tentar proteger a nós mesmos da mente, o que se torna a
ajuda para escolhermos a Única Vontade que vai nos levar para casa. Assim, não temos
necessidade de um mundo, porque não temos necessidade de nos manter sem mente.
O ponto principal, mais uma vez, é que não libertemos nossas mentes das coisas do
mundo, mas da culpa que dá o propósito ao mundo. Uma vez livres da nulidade da culpa,
nossas mentes estão livres para retornarem ao Espírito Santo, Que alegremente nos leva
através da ponte para o mundo real, o lugar da verdade e da beleza:

O que a culpa tem formado é feio, amedrontador e muito perigoso. Não vejas nisso
qualquer ilusão de verdade e beleza. E sê grato porque há um lugar onde a verdade
e a beleza esperam por ti. Vai em frente para encontrá-las com contentamento e
aprende o quanto te espera pela tua simples disponibilidade para renunciar ao nada
porque é nada (T-16.VI.10:4-7).

(6:1-2) Tal é a escolha. O que podes perder ao escolheres não dar valor ao nada?

Jesus nos assegura que não vamos perder nada por escolhermos contra o nada. No
sistema de pensamento do ego, no entanto, sacrifício e perda são os fatores principais: eu
desisto de algo para conseguir algo em troca – se eu for ter o especialismo, preciso sobreviver,
preciso prestar atenção a ele; se vou ser redimido por Deus pelo que roubei Dele, tenho que
recompensá-Lo. Além disso, o ego ensina que sempre existe perda se eu segurar a mão de
Jesus. No entanto, nós ensinamos de modo diferente:

76
É necessário um grande aprendizado para reconhecer e aceitar o fato de que o
mundo não tem nada para dar. O que pode significar o sacrifício do nada? Não pode
significar que tenhas menos por causa disso. Não há sacrifício, nos termos do
mundo, que não envolva o corpo. Pensa um pouco sobre o que o mundo chama de
sacrifício. Poder, fama, dinheiro, prazer físico; quem é o “herói” a quem todas essas
coisas pertencem? Poderiam significar alguma coisa a não ser para um corpo? No
entanto, um corpo não é capaz de avaliar. Ao buscar essas coisas, a mente se
associa ao corpo, obscurecendo sua identidade e perdendo de vista o que realmente
é.
Uma vez ocorrida essa confusão, vem a ser impossível para a mente compreender
que todos os “prazeres” do mundo não são nada. Mas que sacrifício – e é sacrifício,
de fato! – tudo isso acarreta. Agora a mente condenou-se a buscar sem jamais
achar, a ser para sempre insatisfeita e descontente, a não saber o que realmente
quer achar (MP-13.2:1-3:3).

Incidentalmente, os quatro valores terrenos enumerados em 2:6 são tirados da famosa


declaração de Freud em seu trabalho Leituras Introdutórias sobre Psicanálise, falando sobre o
artista:

Ele está oprimido por necessidades instintivas excessivamente poderosas. Ele


deseja ganhar fama, poder, dinheiro, e o amor de uma mulher...

Assim aprendemos que nossa escolha pelo mundo real do Espírito Santo, em vez do
mundo de separação e dor do ego não acarreta perda, mas ganho da nossa Identidade, cuja
consciência nós aparentemente perdemos em um único instante de insanidade:

Professor de Deus, não te esqueças do significado do sacrifício e lembra-te do que


cada decisão que tomas necessariamente significa em termos de custo. Decide-te
por Deus, e todas as coisas te são dadas sem qualquer custo. Decide-te contra Ele,
e escolhes o nada ao preço da consciência de tudo (MP-13.8:1-3).

(6:3-5) Esse mundo não contém nada do que realmente queres, mas o que escolhes em
seu lugar é o que, de fato, queres! Deixa que ele te seja dado hoje. Ele só está à espera
de que o escolhas, para tomar o lugar de todas as coisas que buscas, mas não queres.

Jesus está apelando mais uma vez à nossa sanidade e razão para fazermos a escolha
certa, o que não é realmente uma escolha de forma alguma, uma vez que as duas alternativas
são cuidadosamente pesadas:

Os professores de Deus não podem sentir nenhum arrependimento em abrir mão


dos prazeres do mundo. É sacrifício abrir mão da dor? Algum adulto se ressente
quando desiste dos brinquedos de criança? Uma pessoa, cuja visão já vislumbrou a
face de Cristo, por acaso olha para trás com saudade de um matadouro? Ninguém
que tenha escapado do mundo e de todos os seus males olha de volta para ele com
condenação... Quem, em sua mente sã, escolhe nada em substituição a tudo? (MP-
13.4:1-5,10).

(7:1) Pratica a tua disponibilidade para fazer essa troca durante dez minutos pela manhã
e à noite e uma vez mais entre uma e outra.

A recomendação é praticar por trinta minutos, mas Jesus claramente gostaria que
pensássemos durante o dia todo sobre o que realmente queremos, especialmente quando nos
sentirmos tentados a esquecer.
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(7:2-4) Começa com isso:
Além desse mundo há um mundo que eu quero. Escolho
ver esse outro mundo ao invés desse, pois aqui não há
nada do que eu realmente quero.

Você não pode dizer essas palavras com significado enquanto tentar preservar seu
especialismo. Assim, você precisa prestar atenção cuidadosa a esse desejo, de outra forma,
essas serão só palavras vazias, que não significam nada. Os exercícios não vão funcionar, e
você vai acreditar que fez sua parte, mas Jesus e seu curso falharam com você. Tente entrar
em contato com o pensamento que diz: “Eu valorizo minha individualidade, especialismo e
estar certo mais do que o Amor de Deus”. Agora, você pode fazer uma escolha significativa,
como essa passagem explica, descrevendo a futilidade de buscar o que queremos no mundo:

Quem estaria disposto a ser afastado de todas as estradas do mundo, a não ser que
compreendesse a sua real futilidade? Não é necessário que ele comece com isso
para buscar um outro caminho em lugar delas? Pois enquanto vê uma escolha onde
não existe nenhuma, que poder de decisão pode ele usar? A grande liberação do
poder tem que começar com o aprendizado do lugar aonde ele tem realmente
utilidade. E que decisão tem poder se é aplicada à situações sem escolha? (T-
31.IV.5).

A escolha é simples tão logo vemos as duas escolhas uma ao lado da outra.
Agora vem essa linda sentença:

(7:5) Em seguida, fecha os teus olhos sobre o mundo que vês e na escuridão silenciosa
observa as luzes que não são desse mundo iluminarem-se, uma por uma, até que o lugar
onde uma começa e a outra termina perca todo o significado à medida que elas se
fundem em uma só.

Com o tempo, conforme você praticar, verá luz em outra pessoa – não uma luz física -,
porque você a terá visto em si mesmo. Ao fazer isso de forma mais consistente, dia após dia,
vai perceber que a luz é a mesma em todos. Então, a declaração “onde uma [luz] começa e a
outra termina” se torna sem significado, porque você percebe que a luz em seu irmão e em
você mesmo é uma só, assim como é em Jesus. Essa é a única luz na sua mente, pois é a luz
de Deus: uma simples presença unificada, sem início nem fim. No entanto, você precisa
praticar com todas as circunstâncias e relacionamentos, incluindo você mesmo, nas quais for
tentado a ver apenas escuridão e aspectos do especialismo. Assim, seus olhos vão se fechar
para a separação e se abrir para a unidade:

A não ser que percebas a Sua criação verdadeiramente, não podes conhecer o
Criador, pois Deus e Sua criação não são separados. A unicidade do Criador e da
criação é a tua integridade, a tua sanidade e o teu poder sem limites. Esse poder
sem limites é a dádiva de Deus para ti, pois ele é o que tu és (T-7.VI.10:3-5).

(8:1-2) Hoje, as luzes do Céu se inclinam para ti, para brilhar sobre as tuas pálpebras
enquanto descansas além do mundo da escuridão. Aqui está a luz que os teus olhos não
podem contemplar.

A referência não é à luz física ou a auras, mas à luz da Expiação, que brilha em nossas
mentes. Mesmo que experienciemos esse pensamento curativo de luz fisicamente, precisamos
nos lembrar que ele é apenas um reflexo simbólico do pensamento de luz na mente. Também
é importante irmos além do encanto poético dessas palavras até o seu significado real: não

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existe luz externa que brilhe sobre nós, pois a luz está dentro. Na verdade, a luz somos nós, e
é restaurada à consciência no instante em que repudiamos a escuridão.

(8:3) E, no entanto, a tua mente pode vê-la com clareza e pode compreender.

Seus olhos não podem vê-la, porque seus olhos não foram feitos para ver e conhecer a
luz da mente. De fato, os olhos foram feitos para não verem a escuridão da culpa também. No
entanto, quando você escolhe Jesus como seu professor, olha para o mundo lá fora e vê
apenas expressões ou pedidos de amor (T-14.X.7:1), percebendo que a expressão e o pedido
são um. A culpa fecha nossa visão a essa única verdade: o perdão a liberta.

(8:4-5) Hoje, um dia de graça te é dado e nós agradecemos. Nesse dia reconhecemos
que aquilo que temias perder era apenas a perda.

O que você “temia perder” era o pensamento de individualidade do ego, que não é nada.
Esse ser individual representa a perda da nossa Identidade como Cristo, que é tudo. Nosso
perdão nos permite reconhecer a diferença entre a falta de valor do nada, e o valor de tudo. E
nós nos lembramos do que realmente queremos:

Podes acreditar que esse curso exige o sacrifício de tudo aquilo que realmente
aprecias. Em um certo sentido, isso é verdadeiro, pois aprecias as coisas que
crucificam o Filho de Deus e o objetivo desse curso é libertá-lo. Mas não te enganes
a respeito do que significa o sacrifício. Significa, sempre, abrir mão do que queres. E
o que é, Oh professor de Deus, que tu queres? Foste chamado por Deus e
respondeste. Sacrificarias agora esse Chamado? (MP-13.6:1-7).

Quem, em sua mente certa, iria jamais escolher sacrificar aquele Chamado, uma vez que
tenha se lembrado que ele era o seu próprio, chamando-o para a graça que dissolve todos os
pensamentos de perda e sacrifício?

(9) Agora compreendemos que não há perda. Pois enfim vimos o seu oposto e estamos
gratos porque foi feita a escolha. Lembra-te da tua decisão a cada hora e reserva um
momento para confirmar a tua escolha, deixando de lado quaisquer pensamentos que
tenhas e considerando brevemente apenas isso:

O mundo que vejo não contém nada do que quero.


Além desse mundo há um mundo que eu quero.

Não apenas é importante se lembrar da sua decisão a cada hora, mas durante o dia todo
também. Quando você se tornar consciente dos pensamentos do ego – julgamento, ataque e
especialismo -, não se sinta culpado, mas vá rapidamente a Jesus pedindo ajuda para olhar
para a situação de forma diferente. Isso significa olhar para o propósito que você deu à
situação, que é uma defesa contra seu propósito de perdão que você agora está pronto para
aceitar. Crucial a esse processo é o reconhecimento de que parte da sua mente não quer o
mundo de luz e amor, mas a outra parte sim; de outra forma você não estaria fazendo essas
lições. Tornar-se consciente dessa divisão permite que você peça ajuda a Jesus para mudar
sua mente, dessa forma dizendo, com real intenção:

O mundo que vejo não contém nada do que quero.


Além desse mundo há um mundo que eu quero.

Estamos prontos agora para passarmos à lição final nessa série, que reforça o poder de
escolha de nossas mentes, que é a única coisa que vai nos tornar felizes.
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LIÇÃO 130

É impossível ver dois mundos.

Nessa última lição da série, Jesus mais uma vez enfatiza nosso poder de decisão,
deixando claro que o que vemos do lado de fora não está fora de forma alguma, mas é
simplesmente uma sombra ou reflexo do que primeiro tornamos real na mente. Essa lição,
portanto, elabora o princípio a projeção faz a percepção: nós vemos dentro primeiro,
escolhendo ou a escuridão do pecado do ego ou a luz do perdão do Espírito Santo; nós então
olhamos para fora e percebemos ou uma sombra de culpa ou o reflexo do amor. Assim, o
problema nunca está no que percebemos fora, mas no professor que escolhemos dentro. Essa
decisão é o assunto temático dessa lição.

(1:1-3) A percepção é consistente. O que vês reflete o teu pensamento. E o teu


pensamento apenas reflete a tua escolha do que queres ver.

Não é o que percebemos fora que é consistente, porque isso sempre muda. O ponto de
Jesus é o de que nossa percepção é consistente com nossos pensamentos, assim como é
consistente com o professor que escolhemos – nossa escolha do que queremos ver.
Encontramos a mesma idéia em “As características dos professores de Deus”, na subseção
“Honestidade”, onde Jesus define honestidade como consistência: o que fazemos ou dizemos
é consistente com o que pensamos (MP-4.II). Assim, a honestidade não é definida pela forma,
a verdade da forma de nossas palavras, mas pela sua consistência com o conteúdo – o que
tornamos real em nossas mentes: o amor de Jesus ou o ódio do ego.

(1:4) Os teus valores são determinantes disso, pois não podes deixar de querer ver o
que valorizas, acreditando que o que vês existe realmente.

O que está sob nossos valores é valorizar nosso ser individual: nós queremos provar que
a separação de Deus é real e que nós existimos. Uma vez que esse é o nosso valor, nós
escolhemos o ego como nosso professor. Lembre-se, no início, nós, como um Filho, fomos
apresentados a duas escolhas com relação à diminuta e louca idéia: vê-la através dos olhos do
ego ou do Espírito Santo. Nós valorizamos nossa separação, então, escolhemos a primeira
opção. A partir daí, escolhemos o sistema de pensamento de culpa e ódio do ego para proteger
nossa existência, e isso fez surgir um universo perceptual de materialidade. Por outro lado, se
escolhemos valorizar a perfeita Unicidade do Amor de Deus, escolhemos Jesus como nosso
professor, e tudo vai mudar de acordo com isso. Quando essa mudança é total, estamos no
mundo real.

(1:5-6) Ninguém pode ver um mundo ao qual a sua mente não tenha dado valor. E
ninguém pode falhar em contemplar aquilo que acredita querer.

Se eu quiser separação, individualidade e especialismo, é isso que vou perceber no


mundo. Se eu quiser voltar para casa e desaparecer no Coração de Deus, quando olhar para o
mundo lá fora, vou em última instância perceber que não existe nada lá. Essa é a experiência
do mundo real, o lugar da verdade em nossas mentes, que está fora do sonho do mundo. Olhar
para o sonho do lado de fora significa que eu não levo nada aqui a sério porque sei que é
ilusório. Eu entendo o propósito do sonho, e, uma vez que não o compartilho mais, não
compartilho mais a crença em sua realidade. Você pode se lembrar dessa declaração do
Sermão da Montanha:

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Pois onde está o vosso tesouro, lá também estará vosso coração (Mateus 6:21).

O que nós acreditamos, vemos: “E ninguém pode falhar em contemplar aquilo que
acredita querer”. É por isso que Jesus coloca tal ênfase sobre o propósito, em seu curso.
Nosso propósito escolhido, baseado na crença, determina o que nós queremos, o que por seu
lado determina o que vemos: a projeção faz a percepção.

(2:1) Mas quem pode realmente odiar e amar ao mesmo tempo?

Lembre-se de que dissociação é um termo psicológico que descreve como mantemos


dois pensamentos mutuamente excludentes ao mesmo tempo:

Dissociação é um processo distorcido de pensamento pelo qual dois sistemas de


crenças que não podem coexistir são mantidos (T-14.VII.4:3).

O ego nos faz acreditar que podemos amar e odiar ao mesmo tempo. Eu separo o amor
em minha mente certa e o escondo, identificando-me apenas com o ódio do ego. Quando os
trago ao mesmo lugar, no entanto – ilusão trazida à verdade -, a escuridão do nosso ódio tem
que desaparecer:

Se são reunidos, a aceitação dos dois conjuntamente é impossível. Mas se um deles


é mantido longe do outro nas trevas, a sua separação parece manter ambos vivos e
iguais em sua realidade (T-14.VII.4:4-5).

Jesus fala aqui de nossa necessidade de fazermos uma escolha. Eu não posso escolher
tanto o amor quanto o ódio, e esse é o medo do ego: se nós escolhermos o amor, o ódio se
vai, e com ele, o ser que foi concebido no ódio e nutrido pela culpa:

A sua união vem a ser, assim, a fonte do medo, pois se eles se encontram, é preciso
retirar a aceitação de um dos dois. Não pode ser ambos, pois um nega o outro.
Mantidos à parte esse fato não é visto, pois pode-se dotar cada um com uma crença
sólida se estão em locais separados. Reúna-os e o fato da sua completa
incompatibilidade fica instantaneamente evidente. Um deles irá embora porque o
outro está sendo visto no mesmo lugar (T-14.VII.4:6-10).

Assim, escolhemos viver na escuridão do ódio e julgamento, medo e culpa. Dessa forma,
o ser individual e especial tem existência garantida, preservado pelas sombras corporais de
separação e protegido da luz do perdão, à custa da nossa unicidade viva:

O mundo que vês é baseado no “sacrifício” da unicidade. É um retrato da desunião


completa e da total falta de encontro. Em torno de cada entidade é construída uma
muralha aparentemente tão sólida, que se tem a impressão de que o que se
encontra do lado de dentro nunca poderá alcançar o que está do lado de fora e o
que está fora jamais poderá alcançar e se unir ao que está trancado lá dentro. Cada
parte tem que sacrificar a outra para manter-se completa. Pois se elas se unissem,
cada uma perderia a sua própria identidade e os seus seres são preservados
através da sua separação (T-26.I.2).

Jesus continua, explicando esse estranho sistema de pensamento de medo que luta para
manter seu ser individual intacto, separado do nosso Ser:

(2:2-3) Quem pode desejar o que não quer que tenha realidade? E quem pode escolher
ver um mundo do qual tenha medo?
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Se eu temo o mundo real porque ele ameaça minha individualidade, não vou vê-lo, pois
vejo apenas o que o ego programou meus olhos, ouvidos e cérebro para verem, tornar real e
entender. Temos medo do amor de Jesus porque ele prova que nosso especialismo é uma
mentira, e então, vemos apenas o especialismo dos interesses separados. A projeção faz a
percepção é o princípio que está sob nossa compreensão das experiências aparentemente
reais em um mundo perceptual.

(2:4-5) O medo necessariamente cega, pois essa é a sua arma: aquilo que tens medo de
ver, tu não podes ver. Assim o amor e a percepção vão de mãos dadas, mas o medo
obscurece o que existe com a escuridão.

O Amor de Deus está em minha mente, representado pelo princípio de Expiação do


Espírito Santo. O ego está com medo de que eu escolha o Espírito Santo como meu Professor,
e então, ele mantém o amor oculto, mantendo-o na escuridão com a individualidade e a culpa
como sua cobertura. O ego me ensina que eu deveria ter medo da minha culpa, seu inteligente
subterfúgio. No entanto, eu realmente tenho medo de escolher o amor, e assim, o medo me
deixa cego. Tipicamente, no Um Curso em Milagres. A culpa é descrita como um agente que
cega:

A culpa te cega, pois enquanto vires uma única mancha de culpa dentro de ti, não
verás a luz. E ao projetá-la, o mundo parece ser escuro e estar amortalhado na tua
culpa. Jogas um véu escuro sobre ele e não podes vê-lo porque não podes olhar
para dentro (T-13.IX.7:1-3).

Assim, a culpa e o medo nos dizem para não olharmos para dentro, pois, se o
fizéssemos, veríamos nossa pecaminosidade. Nós olhamos apenas para fora, em auto-
preservação, e inevitavelmente percebemos um mundo que é real para nós. Na verdade, no
entanto, se tivéssemos olhado para dentro, iríamos perceber que não havia nada lá –
literalmente! A próxima passagem é talvez a expressão mais clara no Um Curso em Milagres
sobre a razão do ego para nos manter sem mente e em um estado corporal de medo. Suas
razões são realmente sem fundamento, pois não existe nada dentro da mente que possa nos
ferir. Na verdade, não existe nada dentro da mente exceto a luz do Amor do Céu:

Em alto e bom som o ego te diz que não olhes para dentro, pois se o fizeres, os teus
olhos tocarão o pecado e Deus te trespassará, cegando-te. Acreditas nisso e assim
não olhas. No entanto, esse não é o medo que o ego esconde, nem o teu, que
serves a ele... Atrás do seu medo de olhar para dentro por causa do pecado, existe
ainda um outro medo, medo esse que faz o ego tremer.
O que aconteceria se olhasses para dentro e não visses pecado algum? Essa
questão “amedrontadora” é algo que o ego nunca pergunta. E tu, que a perguntas
agora, estás ameaçando todo o sistema defensivo do ego de modo por demais
grave para que ele se incomode em fingir que é teu amigo (T-21.IV.2:3-5,8; 3:1-3).

O propósito do Um Curso em Milagres é nos ajudar a colocar essa própria pergunta para
o ego, pois nela repousa nossa salvação e o retorno da escuridão para a luz.

(3:1-2) Assim sendo, o que pode o medo projetar sobre o mundo? O que pode ser visto
na escuridão que seja real?

O que o medo projeta sobre o mundo é a nulidade, porque ele projeta o sistema de
pensamento do ego – separação, individualidade, culpa, ataque, sofrimento e morte – o que é
inerentemente nada. O ego nos diz que seus pensamentos são reais, e dentro deles está
nossa identidade, seguramente protegida pelos nossos amigos. Ao mesmo tempo, nos é dito
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que esses “amigos” são tão horríveis que não podemos olhar para eles, sob pena de
aniquilação. Nós novamente vemos a dissociação em funcionamento: por um lado, nós damos
boas-vindas ao pecado, a culpa e ao mesmo como nosso ser; por outro, escapamos dos seus
“dedos afiados e ossudos” de morte (LE-pI.189.5:4). Assim, precisamos negar esses
pensamentos, projetá-los para fora de nossas mentes, para que possamos vê-los do lado de
fora. No entanto, tudo o que estamos realmente vendo é a sombra da nossa culpa, que é
inerentemente nada. Alucinação seria um termo mais apropriado para esse fenômeno
perceptual de ver o que não está lá:

O que aconteceria se reconhecesses que esse mundo é uma alucinação? O que


aconteceria se compreendesses realmente que o inventaste? O que aconteceria se
te desses conta de que aqueles que parecem perambular sobre ele, para pecar e
morrer, atacar e assassinar e destruir a si mesmos, são totalmente irreais? Poderias
ter fé no que vês, se aceitasses isso? E queres ver isso? (T-20.VIII.7:3-7).

“O que pode ser visto na escuridão que seja real?”. Nada. Só o que é real é a luz, que
pacientemente aguarda a remoção das coberturas de culpa que a mantêm oculta.

(3:3) A verdade é eclipsada pelo medo e o que permanece é apenas imaginado.

A verdade não é destruída pelo medo, mas é oculta por ele. De forma análoga, quando o
sol se esconde por trás da lua durante um eclipse, o sol não é destruído; apenas não está
visível por aqueles poucos momentos. Assim, não vemos o amor por causa do medo da mente
e sua subseqüente projeção no mundo. Mas o fato de que pensamos ver o medo não o torna
real, pois ele permanece apenas um produto estéril da nossa imaginação insana, como
descreve a seguinte passagem:

Quando fizeste com que fosse visível o que não é verdadeiro, o que é verdadeiro
veio a ser invisível para ti. No entanto, não pode ser invisível em si mesmo, pois o
Espírito Santo o vê com perfeita clareza. É invisível para ti porque estás olhando
para uma outra coisa. No entanto, não cabe a ti decidir o que é visível e o que é
invisível, como não cabe a ti decidir o que é a realidade. O que pode ser visto é o
que o Espírito Santo vê. A definição da realidade é de Deus e não tua (T-12.VIII.3:1-
6).

É apenas a arrogância do ego que faz com que ele acredite que algo está lá
simplesmente porque ele o “vê”. É apenas nossa insanidade que nos capacita a acreditar no
que o ego nos diz ser a nossa realidade, como já vimos:

Não perguntes a esse estranho transeunte: “Quem sou eu?”. Ele é a única coisa em
todo o universo que não sabe. No entanto, é a ele que perguntas e é à sua resposta
que queres te ajustar. Esse único pensamento selvagem, feroz em sua arrogância e
ao mesmo tempo tão diminuto e tão sem significado que passa despercebido pelo
universo da verdade, vem a ser o teu guia. Tu te voltas para ele para perguntar o
significado do universo. E à única coisa cega em todo o universo vidente da
verdade, perguntas: “Como devo eu olhar para o Filho de Deus?” (T-20.III.7:5-10).

No entanto, apesar dos nossos medos e realidade imaginada, a verdade permanece


seguramente dentro de nós, esperando o retorno da nossa sanidade.

(3:4-6) Mas o que pode ser real nas cegas imaginações nascidas do pânico? O que
poderias querer para que isso te seja mostrado? O que poderias desejar conservar em
tal sonho?
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Assim como em muitos outros trechos, Jesus apela a nós, dizendo: “Olhe para o que você
está dando a si mesmo; olhe para o que aceitou como o débil substituto para a dádiva
maravilhosa da lembrança do Céu que eu ofereço a você”. Ele pergunta: “Por que você poderia
querer que isso fosse mostrado a você? O que você iria querer manter em um sonho desses?”.
Ele nos ajuda a perceber que o que estamos escolhendo e desejando manter não é nada; além
disso, um nada que nos torna muito infelizes. Não é o mundo, no entanto, que nos entristece,
mas a nulidade que escolhemos em nossas mentes. No entanto, antes de escolhermos contra
ela e pelo amor de Jesus, temos primeiro que estar cientes da irrealidade do que escolhemos e
do que percebemos, como Jesus continua a nos instruir:

(4:1) O medo tem feito tudo o que pensas ver.

Os olhos do nosso corpo o vêem; mas o que eles vêem não está lá. De fato, os olhos do
nosso corpo não podem ver coisa alguma. Olhos cegos pelos sombrios véus de culpa do medo
não podem ver, ao contrário da luz da visão:

A visão depende da luz. Não podes ver na escuridão. Apesar disso, na escuridão, no
mundo privado do sono, tu vês em sonhos, embora os teus olhos estejam fechados.
E é aqui que vês o que tu mesmo fizeste. Mas deixa que as trevas desapareçam e
tudo o que fizeste tu não mais verás, pois enxergar isso depende da negação da
visão... Quando vem a luz, os sonhos desaparecem e podes ver.
Não busques a visão através dos teus olhos, pois fizeste um modo de ver para que
pudesses ver na escuridão e nisso estás enganado. Além dessa escuridão e ainda
dentro de ti, está a visão de Cristo Que olha para tudo na luz. A tua “visão” vem do
medo, assim como a Sua vem do amor (T-13.V.8:1-5,9; 9:1-3).

Nós sabemos se o que vemos vem do medo se tivermos tornado as diferenças reais, pois
a visão vê apenas a similaridade que reflete a unidade da Filiação:

(4:2-3) Toda separação, todas as distinções e a multidão de diferenças que fazem o


mundo segundo as tuas crenças. Elas não existem.

Jesus não apenas está afirmando que Deus não criou acidentes de avião, AIDS, câncer
ou miséria; Ele não criou separação, distinções ou diferenças. O princípio do Céu é Unicidade
não-dualista. Tudo que é externo não existe e não pode existir, porque está fora da Mente de
Deus. A unicidade não vê separação e diferenças, que são o domínio do insano mundo de
percepção do ego. A seguinte passagem do manual descreve esse mundo inerentemente
ilusório:

A crença em ordens de dificuldades é a base da percepção do mundo. Fundamenta-


se em diferenças; o que passou não está nivelado, há alterações no que virá, as
alturas são desiguais e os tamanhos diversos, há graus variados de escuridão e luz
e milhares de contrastes nos quais cada coisa vista compete com todas as outras
para ser reconhecida... O que os olhos do corpo contemplam é apenas conflito...
Ilusões sempre são ilusões de diferenças. Como poderia ser de outra forma?...
Achando a saúde uma carga, retira-se [a mente] para sonhos febris. E nesses
sonhos, a mente está separada, diferente de outras mentes, com interesses próprios
diferentes e é capaz de gratificar as suas necessidades às custas dos outros (MP-
8.I.1:2-6; 2:1-2,7-8).

O que está na mente que causa essas diferenças? A próxima sentença nos diz:

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(4:4-5) O inimigo do amor as inventou. Mas o amor não pode ter nenhum inimigo e assim
elas não têm causa, não são nada nem têm conseqüências.

Tudo no mundo – sua separação, distinções e diferenças – não tem causa, porque vem
do medo – o “inimigo” do amor -, que não existe. Sem uma causa, não existe efeito, e sem
efeito, as coisas do mundo não têm existência. No mundo real, você está fora do sonho do
mundo. Você olha para ele – dor, sofrimento e morte -, mas estando além dele, você sabe que
o que vê não é real: a causa do mundo é um pensamento que já foi desfeito – de fato, ele
nunca existiu -, e se não há causa, o que você observa “não é nada e nem tem
conseqüências”.

(4:6-8) Podem ser valorizadas, mas permanecem irreais. Podem ser buscadas, mas não
podem ser achadas. Hoje não as buscaremos, nem desperdiçaremos esse dia em busca
do que não pode ser achado.

Nós buscamos felicidade, paz e alegria, mas nunca vamos encontrá-las porque o mundo
foi feito para manter sua fonte oculta: o Amor de Deus em nossas mentes certas. Estamos
livres dentro do sonho para valorizar qualquer coisa que escolhermos, mas não temos o poder
de tornar esses valores reais:

Só o que Deus criou é irreversível e imutável. O que fizeste sempre pode ser
mudado, porque quando não pensas como Deus, não estás realmente pensando em
absoluto. Idéias delusórias não são pensamentos reais, muito embora possas
acreditar nelas. Mas está errado. A função do pensamento vem de Deus e está em
Deus. Como parte do Seu Pensamento, não podes pensar à parte Dele (T-5.V.6:11-
16).

Esse fato feliz é a Expiação.


Outra clara afirmação se segue do poder da escolha da mente:

(5) É impossível ver dois mundos que não coincidem de modo algum. Busca um deles, o
outro desaparece. Mas um permanece. Eles constituem o raio de escolha, além do qual a
tua decisão não pode ir. Só há o real e o irreal entre os quais escolher e nada mais.

Essa é a lei da mente dividida: o tomador de decisões precisa escolher entre o ego e o
Espírito Santo. Ele não pode escolher ambos, nem não escolher nenhum. Um ou outro sempre
tem que ser escolhido.

... não és capaz de tomar decisões por ti mesmo. A única questão realmente é: com
que ajuda escolhes tomá-las. Isso é tudo na realidade. A primeira regra, então, não
é a coerção, mas uma simples declaração de um simples fato. Não tomarás
decisões por conta própria seja o que for que venhas a decidir. Pois elas são
tomadas com ídolos ou com Deus. E pedes ajuda ao anticristo ou ao Cristo, e
aquele que escolheres unir-se-á a ti e te dirá o que fazer (T-30.I.14:3-9).

Esse parágrafo da lição reflete essa mesma idéia. Nós escolhemos entre a verdade e a
ilusão, o real e o irreal. Uma vez tendo visto o conflito desses dois mundos, a solução é fácil:

A saída do conflito entre dois sistemas de pensamento que se opõem está


claramente em escolher um e abandonar o outro. Se tu te identificas com o teu
sistema de pensamento e não podes escapar disso e se aceitas dois sistemas de
pensamento que estão em completo desacordo, é impossível ter a mente em paz.
Se ensinas ambos, coisa que certamente farás, na medida em que aceitas ambos,
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estás ensinando o conflito e aprendendo-o... Não pode haver conflito entre sanidade
e insanidade. Só uma é verdadeira e, portanto, só uma é real (T-6.V-B.5:1-3;6:1-2).

(6:1) Hoje tentaremos não fazer transigências onde nenhuma é possível.

A transigência do ego, como vamos ver perto do final da lição, traz um pouco do inferno
ao Céu, ou vice e versa. É a tentativa de trazer Deus ao mundo, dizendo que a verdade, a
alegria e a esperança existem aqui. Isso torna o mundo real, comprometendo a realidade não-
dualista do Céu que não contém separação, distinções ou diferenças. É por isso, como já
notamos, que Jesus ensina que a salvação é sem transigência. Ele fala aqui especificamente
dentro do contexto do perdão, mas o princípio geral certamente se aplica:

A salvação não é uma transigência de maneira alguma. Fazer transigências é


aceitar apenas parte do que queres, levar um pouco e renunciar ao resto. A
salvação não renuncia a nada. Ela é completa para todos... pois a transigência é a
crença em que a salvação é impossível... Esse curso é fácil exatamente porque não
faz nenhuma transigência (T-23.III.3:1-4,6; 4:1).

Quando nós acreditamos que algo aqui tem valor, ou quando esperamos um resultado
mais brilhante – ainda que seja algo tão nobre quanto a paz mundial, ou tão puro quanto a
saúde e felicidade da família -, estamos tentando efetivar essa transigência. E isso nunca vai
funcionar. Nossas esperanças vão falhar porque a verdadeira esperança está apenas em
convidar Jesus para olhar conosco para a desesperança do ego, dessa forma liberando-o.

(6:2-5) O mundo que vês é uma prova de que já fizeste uma escolha tão abrangente
quanto o seu oposto. O que queremos aprender hoje é mais do que apenas a lição de
que não podes ver dois mundos. Ela também ensina que o mundo que vês é bastante
consistente do ponto de vista do qual o vês. Todo ele é uma peça única pois brota de
uma única emoção e reflete a sua fonte em tudo o que vês.

Jesus está refletindo o princípio idéias não deixam sua fonte. A maneira de aprendermos
qual professor escolhemos em nossas mentes é por prestarmos atenção ao mundo que
fizemos. É um mundo de especialismo, dor e perda, bem e mal, que é a prova – uma vez que
idéias não deixam sua fonte – de que escolhemos o ego. O único valor do mundo é refletir de
volta para nós a escolha da mente. Como eu já disse, a Lição 193 nos fala que se a dor é real
em nossa percepção, escolhemos o professor errado (LE-pI.193.7). Isso é assim porque a dor
vem da separação, distinções e diferenças, do fato de termos tornado o corpo real. A lição não
é apenas que não podemos ver dois mundos, mas que o mundo que vemos é consistente com
o professor que escolhemos em nossas mentes: idéias não deixam sua fonte. Tendo entendido
isso, o mundo pode servir a um propósito diferente.

(7:1) Hoje, por seis vezes, em agradecimento e gratidão, damos com contentamento
cinco minutos ao pensamento que põe fim a toda transigência e toda dúvida e vamos
além de todas elas como se fossem uma só.

Nossa gratidão não é pela dor e sofrimento, mas pelo professor dentro de nossas mentes,
que nos ajuda a entender de onde eles vieram. Quaisquer que sejam as circunstâncias em
nossas vidas, somos gratos por causa das lições que podemos aprender de nosso professor.
Sob a orientação gentil de Jesus, chegamos a ver que cada situação, não importando o quanto
seja diferente em forma, contém a única lição que vai nos salvar da nossa dor. Por essa
oportunidade de sermos curados, nós alegremente damos graças.
Percebam que Jesus ainda está falando sobre trinta minutos. Nas lições anteriores, eram
dez minutos, três vezes no dia; agora são cinco minutos, seis vezes em um dia. Seu propósito
86
é nos tornar cada vez mais atentos, e que pensemos na lição com freqüência cada vez maior.
É tentador, uma vez que deixamos nossos lares pela manhã, entrarmos no mundo e
esquecermos de tudo o mais. Ele parece tão premente. Como Wordsworth disse: “O mundo é
demais para nós”1. Se nós “dermos com contentamento cinco minutos ao pensamento que põe
fim a toda transigência e toda dúvida e vamos além de todas elas como se fossem uma só”,
vamos perceber que todos os problemas no mundo são apenas um só, e esse reconhecimento
nos permite escolher sua única solução.

(7:2) Não faremos mil distinções sem significado, nem tentaremos trazer conosco uma
pequena parte da irrealidade ao dedicarmos as nossas mentes a achar apenas o que é
real.

Distinções tais como: isso é uma coisa boa que aconteceu comigo hoje, essa é uma coisa
ruim; essa é uma boa pessoa com a qual estou, essa é uma pessoa má – nascem do medo do
ego. Em vez disso, querermos aprender que tudo é o mesmo, porque temos um professor que
interpreta os Filhos de Deus – sem exceção – como compartilhando o conteúdo comum da
necessidade de perdão. Esse desejo de ver um único conteúdo dentro da ilusão abre caminho
para encontrarmos a única coisa que é real: a Unicidade do Ser, o Cristo que Deus criou em
unidade com Ele.

(8) Dá início à tua busca do outro mundo pedindo uma força além da tua e reconhecendo
o que é que buscas. Não queres ilusões. E os tesouros mesquinhos desse mundo. Tu
esperas que Deus te ajude, ao dizeres:

É impossível ver dois mundos. Que eu aceite a força que


Deus me oferece e não veja nenhum valor nesse mundo
para que eu possa achar a minha liberdade e liberação.

Nosso foco está em desistirmos da pequenez que escolhemos em lugar da magnitude de


Deus. Mais uma vez, precisamos estar cientes do que estamos buscando, lembrando-nos de
que nosso problema não é que pedimos demais, mas pouco demais (T-26.VII.11:7). É a
verdadeira força de águia de Cristo que buscamos, não a fraqueza do pardal do ego (MP-
4.I.2:2). Assim, trazemos a essa força nossos insignificantes tesouros, para que lá esvaziemos
nossas mãos e permitamos que o Amor de Deus nos preencha. Nossos valores mundanos
sem significado do especialismo, levados ao valor do mundo real, são rapidamente substituídos
pela verdadeira liberdade e libertação.

(9:1-3) E Deus estará presente. Pois invocaste o grande Poder infalível Que dará esse
passo gigantesco contigo em gratidão. E não falharás em ver os Seus agradecimentos
expressos em tangível percepção e verdade.

Esse é o reflexo do mundo real. Enquanto acreditamos estar aqui, não podemos conhecer
a verdade como realmente é: abstrata, não-específica e transcendente. No entanto, podemos
perceber o reflexo da verdade na forma de perdão: ver os interesses de outros como os nossos
próprios. O reflexo em si não é santo, pois a santidade pertence apenas ao que ele simboliza.
Jesus faz essa afirmação logo no início do texto, quando discute visão, um reflexo do
conhecimento do Céu.

A visão verdadeira é a percepção natural da vista espiritual, mas ainda é uma


correção ao invés de um fato. A vista espiritual é simbólica e, portanto, não é um
1
A passagem completa diz: “O mundo é demais para nós; cedo ou tarde,/ Obtendo e gastando, devastamos
nossos poderes/ Pouco vemos na Natureza que seja nosso;/ Mandamos nossos corações embora, um sórdido
benefício! (“O Mundo é Demais para Nós” [1807], l.1).
87
instrumento para o conhecimento. Contudo, é um meio de percepção certa, que a
traz ao domínio próprio do milagre. Uma “visão de Deus” seria mais um milagre do
que uma revelação. O fato de que a percepção esteja envolvida nisso, de qualquer
maneira, remove a experiência da esfera do conhecimento. É por isso que as visões,
por mais santas que sejam, não duram (T-3.III.4).

Assim, queremos manter em mente que, no final, é Deus e Seu Amor que queremos, não
as formas específicas nas quais Eles estão refletidos. Jesus enfatiza esse ponto no próximo
parágrafo.

(9:4-5) Não duvidarás daquilo que contemplares, pois embora seja percepção, não é do
tipo que os teus olhos jamais tenham visto antes por si mesmos. E saberás que a força
de Deus te amparou quando fizeste essa escolha.

Em outro trecho, isso é chamado de visão de Cristo: a visão que vem quando pedimos
ajuda a Jesus para olharmos para o mundo de forma diferente. A força dele, não a nossa
própria, é a que pedimos; como o texto diz: vamos sempre escolher entre nossa fraqueza e a
força de Cristo em nós (T-31.VIII.2). É importante entender que estamos errados e não
reconhecemos o que tornamos real. Além disso, não entendemos o que nos deixa
transtornados, mas pensamos que sabemos. No entanto, o fato de pensamos que sabemos e
colocarmos a culpa pelo nosso transtorno em algo externo nos diz que não sabemos nada.
Assim, nós humildemente precisamos pedir a força real interior, capacitando-nos a olhar de
forma diferente para o que estava nos aborrecendo. Dessa forma, a visão, ainda dentro do
reino da percepção, estabelece o cenário para a transformação em conhecimento.

(10:1) Hoje descarta a tentação com facilidade toda vez que ela surgir simplesmente
lembrando-te dos limites da tua escolha.

Nós mais uma vez somos solicitados a ser atentos em relação a qualquer coisa em
nossos mundos pessoais que possa nos tentar a esquecer o que sabemos ser a verdade.
Sempre mantenha em mente essa significativa sentença do texto:

Nada cega tanto quanto a percepção da forma (T-22.III.6:7).

Pedir ajuda a Jesus significa querer ir além da forma do especialismo, para seu
pensamento em nossas mentes. É isso o que a sentença já mencionada significa, na seção
final do texto:

A tentação tem uma lição a ensinar em todas as suas formas, sempre que ocorre.
Ela quer persuadir o santo Filho de Deus de que ele é um corpo, nascido no que tem
que morrer, incapaz de escapar à sua fragilidade e limitado ao que o corpo ordena
que ele sinta (T-31.VIII.1:1-2).

Nós queremos ir além da tentação de ver o corpo como real, para a mente, que é o único
lar da escolha. É, portanto nossa única esperança de uma mudança significativa. O mundo real
é, portanto, alcançado não pelos atos, mas por uma simples mudança na mente, conforme
mudamos da culpa para a santidade, do irreal para o real, do falso para o verdadeiro, como
agora vemos:

(10:2-3) O irreal ou o real, o falso ou o verdadeiro, é o que vês e só o que vês. A


percepção é consistente com a tua escolha e o inferno ou o Céu vem a ti em unidade
com ela.

88
É um ou outro, e você precisa estar vigilante para como tenta fundir os dois, trazendo o
Espírito Santo ao mundo. Em vez disso, você quer trazer seu mundo à mente, onde Ele está. A
situação do mundo não tem que ser corrigida ou curada; a percepção faltosa da mente é o
problema. A percepção começa com um pensamento de separação, e é isso que precisa ser
curado: a escolha pelo inferno em vez do Céu. É instrutivo reconhecer que o ego é um sistema
de pensamento de 100% de ódio, e o Espírito Santo é um sistema de pensamento de 100% de
amor. Ali não existe nada intermediário, o que é o significado das palavras de Jesus de que o
inferno e o Céu vêm a nós como um, o que é ecoado no manual:

Não te esqueças de que o sacrifício é total. Não existem sacrifícios pela metade.
Não podes abrir mão do Céu parcialmente. Não podes estar um pouquinho no
inferno. O Verbo de Deus não tem exceções. É isso o que faz com que ele seja
santo e além do mundo (MP-13.7:1-6).

A simplicidade dessa escolha torna a salvação simples, e aí repousa nossa esperança e o


verdadeiro poder da mente.

(11:1) Aceita uma pequena parte do inferno como real e terás condenado os teus olhos e
amaldiçoado a tua vista e o que contemplarás é, de fato, o inferno.

Isso não tem nada a ver com a forma externa. Eu “aceito uma pequena parte do inferno
como real” quando aceito o sistema de pensamento do ego como real. Qualquer coisa que eu
veja do lado de fora é uma sombra desse inferno, não importando o quanto sua forma pareça
bela ou atraente: ilusão é ilusão; ódio é ódio. Aquilo em que escolhemos acreditar é o que
vamos perceber, e o que percebemos é o que acreditamos ser real. Nossa escolha pelo Céu
se torna significativa apenas quando reconhecemos nossa escolha anterior pelo inferno, e
ativamente escolhemos contra ele. Assim, nossa maldição de Deus e de nós mesmos se torna
uma bênção:

Um milagre antigo veio para abençoar e para substituir uma inimizade antiga que
veio para matar (T-26.IX.8:5).

(11:2-5) Mas a liberação do Céu ainda permanece dentro do teu raio de escolha, para
tomar o lugar de tudo o que o inferno quer te mostrar. Tudo o que precisas dizer a
qualquer parte do inferno, seja qual for a forma que tome, é simplesmente isso:

É impossível ver dois mundos. Busco a minha liberdade e


liberação, e isso não faz parte do que eu quero.

Nós encerramos com a consciência de que existe uma parte de nós que quer estar no
inferno. É só esse desejo que nos torna infelizes, não o que qualquer um diga ou faça. Se nós
formos realmente sérios sobre querermos a paz de Deus, vamos ser sérios sobre olhar para o
inferno pessoal que nutrimos e trazemos ao nosso mundo. Felizmente, podemos sempre
escolher outra vez, e nessa escolha nós e a Filiação somos libertados.

LIÇÃO 131

Aquele que busca alcançar a verdade não pode falhar.


89
Em um sentido, essa lição é um comentário sobre a famosa passagem no Sermão da
Montanha sobre buscar e encontrar: “... busca e acharás;... aquele que busca, encontrará”
(Mateus 7:7b,8b) -, a passagem bíblica mais freqüentemente citada no Um Curso em Milagres.
Assim, encontramos anunciado aqui o tema importante de que o que buscamos,
encontraremos: se buscamos felicidade no mundo, teremos a ilusão de encontrá-la ali; no
entanto, se buscamos por ela em nossas mentes, vamos realmente encontrá-la.

(1:1) O fracasso está em tudo à tua volta quando buscas metas que não podem ser
conseguidas.

Essa declaração expressa a máxima fundamental do ego: busque, mas não ache (T-
16.V.6:5). Ela nos diz que o problema está no mundo, a sua solução também está lá. A
orientação do ego, assim, almeja nos distrair da fonte real do problema: o tomador de decisões
na mente escolhendo o ego em vez do Espírito Santo. Portanto, a solução também está em
nossas mentes: reverter nossa decisão equivocada. O ego camufla esse fato, nos fazendo
acreditar em vez disso, que vivemos em um corpo. Uma vez que todos nós vivenciamos
problemas e desconforto físico, nossa felicidade está relacionada a minimizar a dor e
maximizar o prazer. Portanto, buscamos a felicidade aqui, e nossa existência como criaturas do
mundo é estabelecida para que nunca a encontremos realmente, no entanto, continuamente a
busquemos. Frustração, desapontamento e desespero são inevitáveis, como essas duas
passagens deixam claro:

O teu aprendizado passado não pode deixar de ter te ensinado coisas erradas
simplesmente porque não te fez feliz. Com base nisso apenas, o seu valor deve ser
questionado. Se o aprendizado almeja a mudança e é sempre esse o seu propósito,
estás satisfeito com as mudanças que o teu aprendizado te trouxe? A insatisfação
com os resultados do aprendizado é um sinal seguro do fracasso do dito
aprendizado, pois significa que não conseguiste o que querias (T-8.I.4).

Não há nada tão frustrante para um aprendiz do que um currículo que ele não pode
aprender. O seu sentimento de adequação sofre e ele não pode deixar de ficar
deprimido. Confrontar-se com uma situação de aprendizado impossível é a coisa
mais deprimente do mundo. De fato, em última instancia, é por esse motivo que o
próprio mundo é deprimente. O currículo do Espírito Santo nunca é deprimente,
porque é um currículo de alegria. Sempre que a reação ao aprendizado é a
depressão, isso acontece porque se perdeu de vista a verdadeira meta do currículo
(T-8.VII.8).

Portanto, apenas quando escolhemos o Espírito Santo como nosso Professor, podemos
voltar à fonte do nosso descontentamento – a escolha equivocada na mente, que nós agora
alegremente corrigimos.
O próximo parágrafo continua a discussão de olhar para algo que nunca vamos encontrar.

(1:2) Procuras permanência no impermanente, o amor onde não há nenhum, a segurança


em meio ao perigo, a imortalidade dentro da escuridão do sonho da morte.

Tudo isso se focaliza no corpo. A ciência moderna nos ajuda a estender fisicamente a
vida, refletindo a esperança prevalente de que um dia vamos nos tornar imortais – a prova final
de que estamos certos e Deus errado. Além disso, nós fizemos um Deus melhor. Não apenas
seremos imortais na eternidade, mas no corpo também – o próprio corpo (e o mundo) onde
Deus não tem permissão para entrar: “O mundo foi feito como um lugar onde Deus não
90
pudesse entrar...” (LE-PII.3.2:4). Nossa permanência como egos, então, iria demonstrar o
triunfo final sobre o Criador. No entanto, para o grande desapontamento do ego, vamos falhar:
“A eternidade é a única função que o ego tem tentado desenvolver, mas tem sistematicamente
falhado em alcançar” (T-4.V.6:2). Na verdade, como o ego poderia ter sucesso em seu plano
insano, e como poderíamos ter sucesso em tentar segui-lo? Jesus se dirige especificamente a
isso na próxima sentença:

(1:3) Quem poderia ter sucesso onde a contradição é o cenário da sua busca e o lugar
aonde vem para achar estabilidade?

Tudo nesse mundo encerra contradição. Na verdade, uma forma de reconhecer que esse
mundo não é de Deus e, portanto não é real, é que esse é um lugar de opostos; isso foi feito
intencionalmente para ser um oposto ao Céu. Nosso estado natural é a unicidade, o estado
não-dualista no qual existe apenas Deus. Revisando essa importante declaração, lemos:

Não há nada fora de ti. Isso é o que tens que aprender em última instância, pois é o
reconhecimento de que o Reino do Céu foi restaurado para ti. Pois Deus criou
apenas isso e não foi embora nem te deixou separado de Si Mesmo. O Reino do
Céu é a morada do Filho de Deus, que não deixou o seu Pai e nem habita à parte
Dele. O Céu não é um lugar nem uma condição. É meramente uma consciência da
perfeita unicidade e o conhecimento de que nada além disso existe, nada fora dessa
unicidade e nada mais dentro dela (T-18.VI.1).

Em nosso mundo dualista, tudo tem opostos e é reconhecido em contraste. Nós


entendemos o amor como o oposto ao ódio ou ao medo, e vivemos por conceitos dualistas tais
como alto e baixo, gordo e magro, velho e jovem, masculino e feminino, e vida e morte. Tudo
isso emana das nossas tentativas inconscientes de provar que a Unicidade não-dualista do
Céu é uma mentira, e a individualidade dualista do ego é a verdade. No entanto, o sucesso do
ego é possível quando a verdade da unicidade repousa além das ilusões que buscamos?

(2:1) Metas sem significado não são atingidas.

Esse é o segredo que o ego nunca nos deixa ver. Nossas vidas – física e
psicologicamente – são programadas para falharem, e em cada uma, somos motivados a lutar
ainda mais duro para que nossas próximas tentativas aconteçam de outra forma: nosso
próximo emprego seja recompensador; nosso próximo relacionamento seja satisfatório; nosso
próximo carro tenha um desempenho melhor do que todos os outros; e assim por diante. Tais
tentativas, no entanto, são inerentemente sem significado porque não vão funcionar. É isso o
que Jesus quer dizer com nosso envolvimento com as questões tangenciais (ou sem
significado):

Passando a envolver-se com assuntos tangenciais, espera esconder a questão real


e mantê-la fora da mente. A ocupação característica do ego com coisas que não são
essenciais é precisamente para esse propósito. As preocupações com problemas
colocados para serem insolúveis são os instrumentos favoritos do ego para impedir
o progresso do aprendizado (T-4.V.6:4-6).

Assim, nós lutamos para encontrar algo que vá nos dar satisfação; e nada vai, embora
continuemos tentando e tentando. Por trás de nossas tentativas, no entanto, está a maliciosa
risada do ego que diz: “É claro, isso não vai funcionar porque você não merece ser feliz”. Esse
pensamento se torna uma das testemunhas finais para a realidade da nossa culpa, e é a força
primária por trás do ato de buscarmos e nunca encontrarmos.

91
(2:2-5) Não há nenhum modo de alcançá-las, pois os meios pelos quais lutas por elas
são tão sem significado quanto elas próprias. Quem pode usar tais meios sem sentido e
esperar ganhar alguma coisa através deles? Aonde podem conduzir? E o que poderiam
conseguir que oferecesse qualquer esperança de ser real?

Esse é o segredo, mais uma vez, que o ego nunca nos deixa olhar. Um Curso em
Milagres, como já vimos, arranca o véu que esconde a estratégia do ego, capacitando-nos a
olhar para nossas mentes e entender no que o ego está empenhado. O parágrafo inicial de “As
leis do caos”, expressa o objetivo de Jesus de mostrar o propósito do ego para seu insano
sistema de pensamento:

As “leis” do caos podem ser trazidas à luz, embora nunca possam ser
compreendidas. Leis caóticas dificilmente têm significado e estão, portanto, fora da
esfera da razão. No entanto, elas parecem ser um obstáculo à razão e à verdade.
Vamos então, olhá-las calmamente para que possamos olhar para o que está além
delas, compreendendo o que são e não o que elas querem manter. É essencial que
se compreenda para o que servem, porque o propósito que têm é fazer com que a
verdade seja sem significado e atacá-la. Aqui estão as leis que regem o mundo que
fizeste. E, no entanto, nada governam e não é preciso quebrá-las, simplesmente
olhar para elas e ir além (T-23.II.1).

Se nunca escolhermos Jesus como nosso professor, não teremos meios de identificar a
estratégia do ego e, portanto, vamos continuar buscando e nunca encontrando. O meio da
nossa busca é o corpo, buscando significado lá. No entanto, uma vez que entendemos –
olhando para o ego através dos olhos de Jesus – o propósito oculto por trás da insanidade do
mundo, e a nossa de acreditarmos nele, facilmente nos movemos além da falta de significado
para a verdade.

(2:6) A procura do imaginado conduz à morte, porque é a busca do nada e enquanto


buscas a vida pedes a morte.

Esse é outro tema comum no Um Curso em Milagres, sua afirmação mais clara
aparecendo logo no início do texto, onde Jesus descreve o conflito básico entre o que fazemos
e o que pensamos (T-2.VI). Por exemplo, se estamos motivados a ser úteis, mas
profundamente dentro de nós odiamos aqueles que tentamos ajudar, tem que existir um
conflito. Em um nível mais amplo, se buscamos felicidade e paz aqui – “a procura do
imaginado” -, mas ao mesmo tempo existe um pensamento que nos diz que não a merecemos,
tem que haver conflito. Esse é o foco de Jesus aqui: o conflito inerente do qual estamos
inconscientes, que nos impele ainda mais para dentro do mundo, assegurando que nunca
vamos ter sucesso em nosso objetivo. Na verdade, a própria mente dividida é o conflito: o ego
versus o Espírito Santo, morte versus vida, ódio versus perdão. Ambos os sistemas de
pensamento estão na mente, assegurando que nossas vidas reflitam esse conflito, até
escolhermos o instante santo e permitirmos que o Espírito Santo seja nosso único Professor.

(2:7) Procuras estar a salvo e em segurança, enquanto em teu coração rezas pelo perigo
e pela proteção do pequeno sonho que fizeste.

Essa é outra granada explosiva, se nós pensarmos sobre seu significado. Externamente,
nosso ser consciente acredita que estamos buscando estar a salvo e em segurança, felizes e
em paz. Simultaneamente, no entanto, nosso ego inconsciente nos faz buscar o perigo, porque
isso significa que somos vítimas de forças além do nosso controle: algo lá fora pode nos ferir, e
nosso sofrimento prova isso. Se, portanto, somos vítimas inocentes de forças destrutivas
externas, Deus não vai punir a nós, mas aos perpetradores do nosso sofrimento. Isso afirma
92
nossa face de inocência, o que requer que todos ao nosso redor sejam pecadores, culpados e
mereçam punição.
Por um lado, portanto, buscamos felicidade e segurança, mas por outro, escolhemos o
ego como nosso professor e guia. Uma escolha que inevitavelmente nos leva a nos
identificarmos com seu sistema de pensamento de culpa e ódio. Projetando essa culpa, a
vemos em todos os lugares menos em nós mesmos, e a odiamos. Nosso problema se torna a
ameaça percebida do lado de fora, mas nunca o problema dentro de nós. A proteção para o
pequeno sonho que fizemos do mundo reforça o pequeno sonho do sistema de pensamento do
ego que nutrimos em nossas mentes. Isso é similar à distinção que Jesus faz no texto entre o
sonho do mundo sobre o corpo e o sonho secreto da mente:

A brecha entre a realidade e os sonhos não está entre o sonhar do mundo e o que
sonhas em segredo. Essas coisas são uma só. O sonhar do mundo não é senão
uma parte do teu próprio sonho que deste para os outros, e viste como se fosse o
início e o fim do teu. No entanto, o sonhar do mundo teve início com o teu sonho
secreto, que não percebes, embora ele tenha causado a parte que vês e não
duvidas que seja real (T-27.VII.11:4-7).

Mais uma vez, nessa lição, Jesus está usando o termo pequeno sonho para denotar o
sonho secreto que mantemos oculto em nossas mentes. Se ele está oculto, nós obviamente
não estamos conscientes dele, e então, nunca podemos lembrar que o escolhemos. Não nos
lembrando, nunca podemos mudar nossa decisão. Em outras palavras, enquanto buscarmos
reforçar o sistema de pensamento ilusório do ego, nunca vamos encontrar a verdade. No
entanto, quando percebermos que o que temos buscado é um equívoco, e a verdade que
buscamos do lado de fora está do lado de dentro, tudo vai mudar, pois vamos finalmente ter
encontrado o que realmente buscamos.

(3:1-2) No entanto, a busca é inevitável aqui. Foi para isso que vieste e certamente farás
o que é a razão da tua vinda.

A busca pela qual viemos aqui – na verdade, o motivo pelo qual nascemos – é encontrar
felicidade, o que para o ego significa sacrificar outra pessoa. Uma vez que nossos problemas
são percebidos do lado de fora, nossos julgamentos e ataques são justificados – o cerne do
sistema de pensamento do ego de um ou outro, matar ou ser morto. Se eu existo, Deus tem
que ser destruído. Se eu vou ser inocente e escapar da Sua ira, outro alguém precisa ser o
pecador. Essa é a natureza da nossa busca, tornando a verdade e a felicidade o efeito de
encontrar falta em outra pessoa. Isso nos deixa fora da mira do pecado, como a seguinte
passagem explica:

Que estejas atento para a tentação de perceberes a ti mesmo sendo tratado


injustamente. Nessa perspectiva, buscas achar uma inocência que não é Deles, mas
apenas tua e ao custo da culpa de alguma outra pessoa... Qualquer que seja a
forma na qual é jogado o jogo da culpa, tem que haver perda. Alguém tem que
perder a própria inocência para que alguma outra pessoa possa tirá-la dele, fazendo
com que seja sua.
Pensas que o teu irmão é injusto para contigo porque pensas que alguém tem que
ser injusto para fazer com que o outro seja inocente (T-26.X.4:1-2,7-5:1).
Agora, segue-se outra declaração importante:

(3:3) Mas o mundo não pode ditar a meta que buscas, a menos que lhe dês o poder de
fazê-lo.

93
Na verdade, o mundo não tem poder e não pode nos ferir, pois seu poder aparente está
alojado no tomador de decisões na mente – o você ao qual Jesus se refere. Se o mundo, suas
pessoas e doenças têm o poder de tirar nossa paz e nos privar do Amor de Deus, é apenas
porque nós primeiro – como o sonhador do sonho na mente – demos esse poder a elas.
Lembrem-se, a dor e o ataque representam o sonho que estabelecemos para evitar a
responsabilidade pela situação na qual nos encontramos. No entanto, o problema nunca está
em algo externo, mas sempre em nossas mentes. O poder de nos causar dor – na verdade,
todos os pensamentos de ataque – repousa apenas em nós. Lembrem-se dessa importante
declaração do texto:

Não tenhas medo do ego. Ele depende da tua mente e como tu o fizeste por
acreditares nele, da mesma forma podes dissipá-lo retirando a tua crença nele. Não
projetes a responsabilidade pela tua crença nele em mais ninguém, ou preservarás a
crença. Quando estiveres disposto a aceitar sozinho a responsabilidade pela
existência do ego, terás deixado de lado toda a raiva e todo o ataque pois esses
vêm de uma tentativa de projetar a responsabilidade pelos teus próprios erros (T-
7.VIII.5:1-4).

(3:4) Caso contrário, ainda és livre para escolher uma meta que esteja além do mundo e
de todo pensamento mundano e que te venha de uma idéia que abandonaste, mas que
ainda é lembrada, uma idéia velha e no entanto nova, um eco de uma herança esquecida,
mas que contém tudo o que realmente queres.

Ainda que escolhamos contra o Espírito Santo e Sua Expiação, a memória de Deus
permanece dentro de nossas mentes. Precisamos apenas escolhê-la, e a verdadeira liberdade
repousa em não darmos ao mundo o poder de nos aprisionar. O cerne do currículo de Jesus é
nosso aprendizado em escolher um professor diferente, o significado de mudarmos nossas
mentes. Nosso único problema – datando do instante original – é que nós escolhemos o ego
em vez do Espírito Santo. Uma vez que estamos certos de que esse único equívoco é a fonte
da nossa infelicidade, a solução é obvia: nós escolhemos outro professor. Nesse ponto, nossa
meta muda da ilusão da individualidade para a verdade da nossa unicidade como o Filho de
Deus, conforme ouvimos a canção esquecida, o “eco de uma herança esquecida”:

Escuta, - talvez possas captar um indício de um estado antigo, não totalmente


esquecido; vago talvez, mas não completamente estranho, como uma canção cujo
nome há muito foi esquecido e as circunstâncias nas quais a ouviste estão
completamente apagadas. Nem toda a canção ficou em ti, mas apenas um trecho da
melodia, sem ligação com qualquer pessoa ou local ou com qualquer coisa em
particular. Mas te lembras, apenas a partir deste pequeno trecho, como era bela a
canção, como era maravilhoso o cenário em que a ouviste e como amavas aqueles
que ali estavam e escutaram contigo (T-21.I.6).

O propósito de Jesus é nos convencer de que queremos ouvir o eco da canção, cujo som
amoroso nos chama de “além do mundo e de todo pensamento mundano” para a Fonte de
todas as canções.

(4:1-2) Fica contente por teres que buscar. Fica contente também por aprenderes que
estás em busca do Céu e que não podes deixar de achar a meta e alcançá-la no final.
Buscar é o próprio cerne na nossa natureza como o tomador de decisões. Nós buscamos
a individualidade e tentamos assegurá-la, reforçando o sistema de pensamento do ego e seu
mundo; ou percebemos que cometemos um equívoco e buscamos a verdade, o que significa
que escolhemos o professor que vai nos levar lá. Esse é o significado de “Fica contente por
teres que buscar” – fique contente por você ter um tomador de decisões que pode buscar.
94
Assim, Jesus nos impele a buscarmos a verdade em vez de ilusões, pois “ninguém que busca
pode deixar de alcançar a verdade”.

(4:3-6) Ninguém pode falhar ao querer essa meta e alcançá-la no final. O Filho de Deus
não pode buscar em vão, embora ele tente forçar um atraso, enganar a si mesmo e
pensar que é o inferno que ele busca. Quando está errado, ele acha a correção. Quando
se desvia, é conduzido de volta à tarefa que lhe foi designada.

Jesus uma vez disse a Helen que quando ela fizesse sua vontade, ele iria apoiá-la, e
quando ela não fizesse, ele iria corrigi-la 2. Ela não podia perder. Esse é o ponto de Jesus aqui:
quando cometemos um equívoco, não é um pecado pelo qual seremos punidos, mas
meramente uma tentativa de esconder a resposta que já está lá. Quando tivermos tido nossa
quota de dor e desapontamento, estaremos motivados a pedir ajuda a Jesus, o que nunca
podemos deixar de receber. Ele nos lembra de que tudo o que colocamos em nossas mentes é
ilusório e então, não existe. Esse reconhecimento restaura o Céu à nossa consciência. Para o
ego, isso é o inferno, no entanto, o céu que o ego diz que será nosso é na verdade o inferno do
especialismo.

(5:1) Ninguém permanece no inferno, pois ninguém pode abandonar o Seu Criador, nem
afetar o Seu Amor perfeito, intemporal e imutável.

Isso reafirma o princípio da Expiação: a separação de Deus nunca aconteceu. Nós somos
livres para sonhar que nos separamos e vivemos no inferno, mas isso não muda a realidade.
Ainda permanece a Presença do Espírito Santo na mente certa, que reflete o “Seu Amor
perfeito, intemporal e imutável” que une nossa vontade à de Deus:

O plano de Deus para a tua salvação não poderia ter sido estabelecido sem a tua
vontade e o teu consentimento. Ele tem que ter sido aceito pelo Filho de Deus, pois
o que é a Vontade de Deus para ele não pode deixar de ser recebido. Pois a
Vontade de Deus não determina nada à parte dele e nem espera no tempo para ser
realizada. Portanto, o que se uniu à Vontade de Deus tem que estar em ti agora,
sendo eterno. Tens que ter reservado um loca no qual o Espírito Santo pode habitar
e onde Ele está (T-21.V.5:1-5).

(5:2-5) Acharás o Céu. Tudo o que buscas se perderá, menos isso. Mas não por ter sido
tirado de ti. Desaparecerá porque não o queres.

Esse é outro princípio central no Um Curso em Milagres: Jesus não tira as coisas de nós,
Ele nos diz no texto, como já vimos, que o Espírito Santo transforma nossos relacionamentos
especiais. Assim, as coisas que buscarmos à parte do Céu vão cair de lado porque essa terá
sido nossa decisão. Como Jesus diz no texto, implorando a nós para fazermos outra escolha:

Abre mão do mundo! Mas não para o sacrifício. Tu nunca o quiseste. Que felicidade
buscaste aqui que não tenha te trazido dor? Que momento de contentamento não foi
comprado ao preço amedrontador de moedas de sofrimento? A alegria não tem
nenhum custo. Ela é o teu direito sagrado, e aquilo que tu pagas não é felicidade (T-
30.V.9:4-10).

Jesus não pode fazer essa escolha por nós, no entanto. Ele pode apenas nos lembrar da
escolha disponível dentro de nós de aceitar o Céu, que não apenas está dentro de nós, mas é
nós mesmos. Nós alegremente escolhemos contra o inferno do ego, percebendo que ele não é

2
Ausência de Felicidade, p. 455.
95
mais o que queremos. Quem poderia escolher o sacrifício e o sofrimento em vez da alegria e
da felicidade, uma vez que a escolha entre eles esteja clara?
O problema, novamente, é que as pessoas acreditam que realmente querem a verdade.
No entanto, se o fizessem, não estariam aqui. As pessoas negam inteligentemente o medo,
conflito e culpa que secretamente sentem, porque querem estar por conta própria e não voltar
para casa. Um Curso em Milagres ensina que enquanto você sustentar que quer voltar para
casa e ao mesmo tempo não quiser, o verdadeiro desejo de voltar permanece oculto sob o
desejo de existir aqui e provar que Jesus está errado. É por isso que é essencial que Jesus
ensine a você não apenas que está percebendo o mundo erroneamente, mas que suas más
interpretações são projeções do pensamento básico na mente: “Eu quero existir e estar certo”.
Você precisa olhar para esse pensamento, e quando mudar sua mente, ele vai desaparecer.

(5:6) É tão certo que alcançarás a meta que realmente queres, quanto é certo que Deus
te criou na impecabilidade.

Em dois trechos já citados no texto, Jesus diz que o resultado é tão certo quanto Deus (T-
2.III.3:10; T-4.II.5:8). No fim, vamos voltar para casa, porque na verdade nunca partimos. Como
poderíamos não retornar ao lugar no qual já estamos?

(6:1-3) Por que esperar pelo Céu? Ele está aqui hoje. O tempo é a grande ilusão, ele é
passado ou futuro.

A Lição 188 começa com a linha: “A paz de Deus está brilhando em mim agora” (LE-
pI.188). O tempo, o artifício do ego por excelência, nos diz que o Céu está no passado porque
nós o jogamos fora – o significado do pecado. Ele também diz que embora o tenhamos jogado
fora, se sofrermos e nos sacrificarmos o suficiente, pagando a Deus pelo que fizemos a Ele no
passado, vamos recuperar o Céu no futuro.

(6:4-6) Mas isso não pode ser assim, se é onde a Vontade de Deus determina que o Seu
Filho esteja. Como poderia a Vontade de Deus estar no passado ou ainda por acontecer?
O que a Vontade de Deus determina é agora, sem um passado e totalmente sem futuro.

A janela para essa experiência é o instante santo. Quando escolhemos estar com Jesus,
não pode haver separação do Amor de Deus porque ele é o Amor de Deus. Se não existe
separação, não existe pecado, culpa ou medo, sem os quais não existe projeção em um
mundo que se submete a um passado, presente e futuro. Assim, o instante santo é o caminho
de volta para a consciência de “onde a Vontade de Deus determina que o Seu Filho esteja” no
eterno presente do Seu Amor. O início de “A morada imutável” expressa lindamente esse lugar
onde Deus “espera” por Seu Filho:

Existe um lugar em ti onde todo esse mundo foi esquecido, onde nenhuma memória
de pecado e nenhuma ilusão ainda paira. Existe um lugar em ti que o tempo deixou,
no qual os ecos da eternidade são ouvidos. Existe um lugar de descanso tão quieto
que nenhum som, a não ser um hino ao Céu, se eleva para alegrar Deus Pai e Deus
Filho. Onde Ambos habitam, Eles são lembrados. E onde eles estão, está o Céu e a
paz.
Não penses que és capaz de mudar a Sua morada. Pois a tua Identidade habita
Neles, e onde Eles estão tu tens que estar para sempre. A imutabilidade do Céu
está em ti, tão profundamente interiorizada que tudo nesse mundo apenas passa ao
largo, despercebido e sem ser visto. A infinidade serena da paz sem fim te cerca
gentilmente em seu abraço suave, tão forte e quieta, tão tranqüila no poder do seu
Criador, que nada é capaz de invadir o sagrado Filho de Deus no seu interior (T-
29.V.1-2).
96
(6:7) Está tão distante do tempo quanto a distância que há entre uma diminuta vela e
uma estrela longínqua ou entre o que escolheste e o que realmente queres.

Essa morada imutável – nosso verdadeiro lar – está tão longe do tempo quanto seja
concebível. É a luz do Céu, totalmente desconhecida para todos, menos para o Pensamento
que Deus criou em unidade com Ele:

Os Pensamentos de Deus estão muito além de qualquer mudança e brilham para


sempre. Eles não esperam por nascer. Esperam boas-vindas e serem lembrados. O
Pensamento que Deus mantém de ti é como uma estrela, imutável no Céu eterno.
Tão elevada no Céu está ela, que aqueles que estão fora do Céu não sabem que ela
está lá. Entretanto, quieta, branca e bela, ela brilhará através de toda a eternidade.
Não houve tempo algum em que ela não estivesse lá, nenhum instante em que a
sua luz tenha diminuído ou se mostrado menos perfeita.
Quem conhece o Pai conhece essa luz, pois Ele é o firmamento eterno que a
mantém a salvo, para sempre elevada e ancorada em segurança. Sua pureza
perfeita não depende de ser vista na terra ou não. O firmamento a abraça e
suavemente a mantém em seu lugar perfeito, que está tão distante da terra quanto a
terra do Céu (T-30.III.8:1-9:3).

No resto dessa maravilhosa lição, Jesus contrasta as escassas e infinitesimais dádivas do


ego com as magníficas dádivas da nossa criação: a grandeza de Cristo.

(7) O Céu permanece como a tua única alternativa para esse estranho mundo que fizeste
e todos os seus caminhos, os seus padrões mutáveis e suas metas incertas, seus
prazeres dolorosos e suas alegrias trágicas. Deus não fez nenhuma contradição. Aquilo
que nega a própria existência e ataca a si mesmo não vem Dele. Ele não fez duas
mentes, com o Céu como o feliz resultado de uma delas e a terra a triste conseqüência
da outra, que é em tudo o oposto do Céu.

Essa é uma declaração clássica da não-dualidade do Céu. Deus não criou opostos – o
bom e o mau, o Céu e o mundo. Essas são nossas criações equivocadas, nossa forma de
tentarmos combinar o Céu e o inferno. A frase “prazeres dolorosos e suas alegrias trágicas”
resume a natureza dos nossos relacionamentos especiais. O que pensamos que nos traz
alegria é trágico; o que pensamos que nos traz prazer é doloroso. Não existe transigência a
esse respeito. Lembrem-se da explicação de Jesus no manual:

Não te esqueças de que o sacrifício é total. Não existem sacrifícios pela metade.
Não podes abrir mão do céu parcialmente. Não podes estar um pouquinho no
inferno. O Verbo de Deus não tem exceções. É isso o que faz com que ele seja
santo e além do mundo. É a sua santidade que aponta para Deus (MP-13.7:1-7).

As más notícias para o nosso ser da mente errada é que a verdade é tudo ou nada.

(8:1-3) Deus não sofre nenhum conflito. A Sua criação tampouco está dividida em duas.
Como poderia o Seu Filho estar no inferno, se o próprio Deus o estabeleceu no Céu?

O inferno é o sistema de pensamento de separação do ego e a dualidade, para não


mencionar o pecado, culpa e medo. Quando esse sistema é projetado, ele se torna o mundo.
Portanto, não é o mundo que é o inferno, mas o sistema de pensamento do qual o mundo é a
sombra projetada. Além disso, Deus não apenas não sofre o conflito, Ele não percebe o mal ou
o pecado; Ele nem mesmo percebe equívocos. Ele não percebe nada, porque nada existe fora
97
da Sua Mente. Assim, Ele certamente não pode experienciar “Sua criação dividida em duas”,
como o ego nos faria acreditar. O Filho de Deus é Um, indivisível em uma unidade que é
negada quando atacamos outra pessoa, como a seguinte passagem explica:

Ele [o Mundo de Deus] é negado se atacas qualquer irmão por qualquer coisa. Pois
é aí que ocorre o rompimento com Deus. Um rompimento que é impossível. Um
rompimento no qual certamente vais acreditar porque estabeleceste uma situação
que é impossível. E nessa situação, o impossível pode parecer estar acontecendo
(MP-13.7:9-14).

(8:4) Poderia ele perder o que a Vontade Eterna lhe deu para ser o seu lar para sempre?

Esse, novamente, é o princípio da Expiação, que diz que o Filho de Deus nunca se
separou da Sua Fonte. É por isso que, como já discutimos, quando Jesus fala da Resposta de
Deus à separação ou do Seu plano de salvação, está usando uma metáfora. Se suas palavras
fossem literalmente verdadeiras, Deus teria perdido Seu Filho para o pecado, exatamente o
que o ego quer que acreditemos.

(8:5-6) Não tentemos mais impor uma vontade alheia ao propósito único de Deus. Ele
está aqui porque é Sua Vontade estar e aquilo que é a Vontade de Deus está presente
agora, além do alcance do tempo.

Onde Deus está, o mundo não está, nem a mente dividida. No entanto, Sua memória está
em nossas mentes como o Espírito Santo, e unir-se a Ele leva ao reconhecimento de que tudo
é um sonho. Assim, não é realmente que Deus está conosco, mas que nós estamos com Ele,
e, na verdade, sempre temos estado com Ele. Nossos sonhos de separação não têm efeitos
sobre a realidade.

(9:1-2) Hoje não escolheremos um paradoxo em lugar da verdade. Como poderia o Filho
de Deus fazer o tempo para afastar a Vontade de Deus?

Mais uma vez, estudantes do Um Curso em Milagres freqüentemente dizem que Jesus
quer dizer que apenas nossas interpretações sobre o mundo são ilusórias. Não é assim. O
mundo ilusório é o universo do tempo e espaço, materialidade e mudança. Isso não pode ser o
mundo eterno e infinito de Deus, como o leitor pode se recordar dessas tocantes linhas no
texto:

O que parece ser eterno, tudo isso terá um fim. As estrelas desaparecerão e a noite
e o dia não mais existirão. Todas as coisas que vêm e vão, as marés, as estações e
as vidas dos homens; todas as coisas que mudam com o tempo, que florescem e
murcham, não retornarão. Onde o tempo estabeleceu um fim, não é onde o eterno
pode ser encontrado. O Filho de Deus nunca pode mudar em função daquilo que os
homens fizeram dele. Ele será o mesmo, ontem e hoje, pois o tempo não designou o
seu destino, nem estabeleceu a hora do seu nascimento e da sua morte. O perdão
não o mudará. Entretanto, o tempo aguarda o perdão para que as coisas do tempo
possam desaparecer porque não têm nenhuma utilidade (T-29.VI.2:7-14).

(9:3-4) Assim, ele nega a si próprio e contradiz aquilo que não tem opostos. Ele pensa
que fez um inferno em oposição ao Céu e acredita que habita no que não existe,
enquanto o Céu é o lugar que ele não pode achar.

Não vamos encontrar o Céu enquanto pensarmos que o Céu é aqui, ou que suas
qualidades – amor e imortalidade – são atingíveis nesse mundo. Nós precisamos dizer ao
98
nosso novo professor: “Obrigado, Deus, eu estou errado sobre tudo e você está certo. Como
eu poderia ter pensado habitar em um mundo que não existe, e não no mundo no qual já
estou? Estou mesmo feliz e grato por estar errado”.

(10:1) Hoje, deixa para trás pensamentos tolos como esses e, em vez disso, volta a tua
mente para idéias verdadeiras.

Pensamentos tolos são qualquer coisa que tornem esse mundo real em nossa
experiência – aspectos do especialismo. Idéias verdadeiras levam embora do mundo –
expressões de perdão. Note que nos voltarmos para o perdão encerra deixamos para trás
nossos pensamentos de especialismo.

(10:2) Aquele que busca alcançar a verdade não pode falhar, e é a verdade que
buscamos alcançar nesse dia.

Embora não afirmado aqui, está implícito que não podemos buscar a verdade se
escolhermos um professor que represente uma antítese. A verdade pode ser encontrada
apenas nas mãos de um Professor Que vai nos levar até lá. Assim, o ponto de partida é
escolher o Professor certo:

Não podes aprender simultaneamente de dois professores que estão em total


discordância a respeito de tudo. O currículo conjunto dos dois apresenta uma tarefa
de aprendizado impossível. Eles estão te ensinando coisas inteiramente diferentes,
de formas inteiramente diferentes, o que poderia ser possível, exceto que ambos
estão te ensinando sobre ti mesmo. A tua realidade não é afetada por nenhum dos
dois, mas se escutares os dois a tua mente ficará dividida em relação ao que é a tua
realidade (T-8.I.6:2-5).

Apenas um Professor fala a verdade sobre nossa realidade. Quem poderia escolher um
que não sabe Quem nós somos?

(10:3) Dedicaremos dez minutos a essa meta por três vezes hoje, e pediremos para ver a
ascensão do mundo real substituir as tolas imagens que valorizamos por idéias
verdadeiras que se erguem no lugar de pensamentos que não têm significado, nem
qualquer efeito e nem sequer fonte ou substância na verdade.

A ponte entre vivenciar esse mundo e o Céu é o mundo real, atingido por renunciarmos às
tolas imagens acalentadas que mantemos em seu lugar. Esse objetivo certamente vale darmos
trinta minutos do nosso tempo hoje.

(11:1-4) Reconhecemos isso ao iniciarmos os nossos períodos de prática. Começa com


isso:

Peço para ver um mundo diferente e ter um tipo de pensamento


diferente daqueles que fiz. Não fiz sozinho o mundo que
busco, os pensamentos que quero ter não são os meus.

Refletida aqui, está a idéia de que não podemos “pedir para ver um mundo diferente, e
pensar um tipo diferente de pensamento”, a menos que estejamos conscientes dos
pensamentos do nosso ego. É por isso que é essencial pedir ajuda a Jesus para não encobri-
los – não nos sentirmos culpados ou amedrontados em relação a eles -, mas para expormos
sua tolice por os levarmos até ele. Conforme aprendemos a fazer isso, nos tornamos
conscientes de que o Filho de Deus é um, tanto dentro da ilusão quanto no Céu: a declaração
99
“não fiz sozinho o mundo que busco” é verdadeira tanto do ponto de vista do ego quanto do
ponto de vista do Espírito Santo.
Esse mundo que realmente buscamos é o mundo real. Uma passagem no texto se refere
ao Espírito Santo como o fazedor do mundo – o mundo real -, e Jesus usa “Fazedor” em vez
de “Criador” porque Seu mundo é uma ilusão também. O mundo real não é um lugar, mas um
sistema de pensamento que é o oposto total ao do ego, e, na verdade, representa seu
desfazer. Escolher um é alcançado por liberarmos o outro. Um ou outro continua sendo o único
princípio que governa nossa decisão: a escuridão do ego ou a luz do Espírito Santo; ilusão ou
verdade; erro ou sua correção. Aqui está a passagem:

Há um outro Fazedor do mundo, Aquele Que simultaneamente corrige a crença


louca em que alguma coisa possa ser estabelecida e mantida sem algum elo que a
retenha dentro das leis de Deus;... O erro corrigido é o fim do erro. e assim Deus
protegeu Seu Filho mesmo no erro.
Há um outro propósito no mundo feito pelo erro, porque ele tem outro Fazedor, Que
é capaz de conciliar a sua meta com o propósito do Seu Criador...
Cada um aqui entrou na escuridão, no entanto, ninguém entrou sozinho. Nem
precisa ficar mais do que um instante. Pois veio com a Ajuda do Céu dentro de si,
pronta para conduzi-lo para fora da escuridão rumo à luz a qualquer momento, pois
a ajuda está lá, apenas esperando pela sua escolha (T-25.III.4:1-5; 6:1-4).

(11:5) Durante alguns minutos, vigia a tua mente e vê, embora os teus olhos estejam
fechados, o mundo sem sentido que pensas ser real.

O leitor sem dúvida se lembra dessa forma de instrução das primeiras lições. A próxima
lição explica a premissa dessa declaração: quer nossos olhos estejam abertos ou fechados, é
irrelevante. Como o mundo não é nada mais do que nossos pensamentos de separação e
culpa projetados, ainda podemos estar cientes dele com os olhos fechados.

(11:6) Revê também os pensamentos que são compatíveis com tal mundo, os quais
pensas serem verdadeiros.

Nós revemos não apenas circunstâncias ou relacionamentos, mas os pensamentos de


culpa e especialismo que estão sob eles. Afinal, esses pensamentos são o mundo que
pensamos ver.

(11:7-8) Então, abandona-os e mergulha abaixo deles, em um lugar santo aonde não
podem entrar. Abaixo deles há uma porta na tua mente que não podes trancar por
completo para esconder o que está além.

A porta leva à mente certa, que o perdão abre como a chave para a felicidade. É a porta
que atravessamos com a ajuda de Jesus, abrindo-a quando somos capazes – com Jesus ao
nosso lado – de olharmos para o mundo do ego, tanto para seus pensamentos quanto para
suas projeções na forma. Esses pensamentos tolos de especialismo têm usado camadas de
culpa e ódio para encobrirem o lugar santo onde é encontrado o que é compatível: os
pensamentos da mente certa que vão nos levar para casa.

(12:1-3) Busca essa porta e acha-a. Mas antes de tentar abri-la, lembra-te de que aquele
que busca alcançar a verdade não pode falhar. E é esse o pedido que fazes hoje.

Nós precisamos nos lembrar de que Jesus vai nos levar através da porta, mesmo que o
ego nos diga que seremos destruídos. Assim, precisamos dessa reafirmação adicional de que
as conseqüências de passar através da porta são felizes. Como a primeira lição diz: “Pensas
100
que serás destruído, mas serás salvo” (LE-pI.93.4:4). Passar através realmente significa o fim
do ego, mas não o nosso fim, e somos motivados a buscar e encontrar a porta por
percebermos que nada aqui funciona. Absolutamente nada, pois nunca vamos encontrar a
verdadeira felicidade, paz ou alegria nesse mundo. É por isso que Jesus nos pede para
confiarmos Naquele Que é o nosso Professor. Como ele nos lembra, em uma mensagem que
já nos proveu conforto:

No entanto, Deus pode levar-te até lá, se estiveres disposto a seguir o Espírito Santo
através de aparente terror, confiando em que Ele não te abandonará e não te
deixará lá. Pois não é o Seu propósito amedrontar-te, mas apenas o teu. Tu és
profundamente tentado a abandoná-Lo no primeiro círculo do medo, mas Ele quer
conduzir-te em segurança através disso e muito além (T-18.IX.3:7-9)

Uma vez conscientes do guia que escolhemos para nos levar através do círculo do medo,
não devemos hesitar um instante mais para escolhermos outro Guia Que não pode deixar de
nos ajudar a alcançar a verdade.

(12:4) Nada além disso tem qualquer significado agora, nenhuma outra meta tem valor
ou é buscada, nada há antes da porta que tu realmente queiras e só buscas o que está
depois dela.

Jesus nos lembra do que realmente queremos, porque, nesse ponto, a tentação para
voltarmos para o mundo de corpos é forte. Quando nosso auto-ódio se ergue diante de nós,
nos tornamos doentes ou queremos tornar os outros doentes; os julgamentos vêm, e o
especialismo mais uma vez se torna um feio fantasma ocultando a verdade. Tudo isso são
defesas contra dar esses passos com Jesus. Ao nos aproximarmos da porta, a voz do ego se
torna mais insistente; no entanto, é uma voz que não faz nada mais do que expressar nosso
desejo pela individualidade. Nossa identidade separada é tudo o que é ameaçado, e
reconhecer o significado último desse ser é o que nos capacita a valorizar a meta que Jesus e
seu curso mantêm para nós.

(13:1) Estende a tua mão e vê como essa porta se abre facilmente, apenas com a tua
intenção de ir além.

Em outras palavras, não existe nada aqui. No texto, Jesus fala sobre o pecado como
sendo uma parede aparentemente sólida de granito, através da qual nunca poderemos passar.
No entanto, com um objetivo e professor diferentes, a porta do pecado facilmente se abre. De
fato, conforme ela faz isso e nós a atravessamos, percebemos que não era uma porta – a porta
e a sala onde entramos desapareceram, pois, na verdade, nunca existiram. Apenas em nossos
sonhos alucinatórios de pecado elas parecem sólidas, uma “realidade” gentilmente dissipada
pelo raciocínio do Espírito Santo:

O pecado é um bloqueio colocado como um pesado portão trancado e sem chave no


meio da estrada para a paz. Ninguém que olhe para ele sem o auxílio da razão
tentaria passar por ele. Os olhos do corpo o contemplam como granito sólido, tão
espesso que seria loucura tentar ultrapassá-lo. No entanto, a razão vê através disso
com facilidade, porque é um erro. A forma que toma não pode esconder seu vazio
aos olhos da razão (T-22.III.3:2-6).

(13:2) Anjos iluminam o caminho de modo que a escuridão se desvanece e tu te achas


numa luz tão brilhante e clara que podes compreender todas as coisas que vês.

101
Conforme entendemos todas as coisas que vemos, esquecemos todas as coisas que uma
vez vimos. Nesse ponto, novamente, não existe nada a lembrar porque o ego desapareceu. Os
anjos do perdão iluminaram as figuras sombrias do pecado e do julgamento:

Em torno de ti anjos pairam amorosamente para manter distantes todos os


pensamentos escuros de pecado e manter a luz aonde ela penetrou. As marcas dos
teus passos iluminam o mundo, pois onde caminhas, o perdão vai alegremente
contigo (T-26.IX.7:1-2).

(13:3) Talvez um momento diminuto de surpresa fará com que pares antes de reconhecer
que o mundo que vês na luz, diante de ti, reflete a verdade que conhecias e não
esqueceste totalmente nas tuas divagações em sonhos.

Isso lembra a adorável seção que já vimos, “A canção esquecida”, que lindamente
descreve a memória que nos leva de volta para a verdade que nunca realmente esquecemos.
Nós sempre estivemos em casa em Deus, meramente sonhando com o exílio (T-10.I.2:1):

Tu não habitas aqui, mas na eternidade. Viajas apenas em sonhos, enquanto estás
seguro em casa (T-13.VII.17:6-7).

(14:1-4) Hoje não podes falhar. Lá, o Espírito [o Espírito Santo] que o Céu te enviou para
que pudesses aproximar-te dessa porta algum dia, caminha contigo e com a Sua ajuda,
podes passar por ela sem esforço para a luz. Hoje esse dia veio. Hoje Deus cumpre a
Sua antiga promessa feita a Seu Filho santo, assim como o Seu Filho lembra-Se daquela
que fez a Ele.

Perto do final de “Os votos secretos”, Jesus fala sobre a promessa do Filho ao Seu Pai:

E agora o conhecimento de Deus, imutável, certo, puro e totalmente compreensível,


entra no seu reino. A percepção se foi, tanto a falsa como a verdadeira. O perdão se
foi, pois sua tarefa está cumprida. E se foram os corpos na luz resplandecente sobre
o altar ao Filho de Deus (ET-4.7:1-4).

(15:1) Lembra-te com freqüência que hoje deve ser um dia de especial contentamento e
evita pensamentos sombrios e lamentações sem significado.

Ao atravessarmos nosso dia, Jesus nos pede para estar cientes dos nossos
“pensamentos sombrios e lamentações sem significado”, e dos véus de amor especial que
usamos para ocultá-los. Só quando identificamos esses pensamentos egóicos – os “amorosos”
e os de ódio – que Jesus pode nos ajudar a liberá-los. No entanto, não podemos liberar algo
que não pensamos estar ali; a negação dificilmente é uma prática espiritual. Essas lições,
portanto, identificam a pálida ausência de significado dos nossos lamentos, para que possamos
escolher outro refrão para substituir o coro fúnebre do ego. Tal escolha, por exemplo, é o meio
para curar o paciente de psicoterapia:

A cura acontece quando um paciente começa a ouvir a lamentação fúnebre que


canta e questiona a sua validade. Até que ele a ouça, não pode entender que é ele
mesmo que canta para si próprio. Ouvi-la é o primeiro passo na recuperação.
Questioná-la tem que ser a sua escolha (P-2.VI.1:5-8).

(15:2-7) O tempo da salvação veio. O próprio Céu estabeleceu o dia de hoje como um
tempo de graças para ti e para o mundo. Se te esqueceres deste fato feliz, lembra a ti
mesmo com isso:
102
Hoje, busco e acho tudo o que eu quero.
O meu único propósito me oferece isso.
Aquele que busca alcançar a verdade
não pode falhar.

Para reafirmar a orientação freqüentemente repetida, o que dá significado à nossa prática


é aprender o quanto não tencionamos aceitar as palavras da lição, aceitando que parte de nós
não quer a verdade aterrorizante de que nos libertaremos do nosso especialismo. Portanto,
antes de dizermos com real intenção essas palavras, primeiro precisamos estar cientes da
verdade do ego, precisando da ajuda de Jesus para perdoarmos esses pensamentos especiais
que preferem o ego a ele. Em outras palavras, antes da verdade poder alvorecer em nossas
mentes, precisamos perdoar a nós mesmos por empurrá-la para longe. Assim, aprendemos o
fato feliz de que empurrar Jesus para longe não teve efeitos: ele não foi a lugar algum e,
felizmente, nem nós. Sem um efeito, o pecado da separação não é uma causa, e nada existe
que não seja causativo. Portanto, o pecado não existe e não existe nada a perdoar. Essa é a
verdade e, por escolhermos perdoar, escolhemos buscar o que realmente queremos encontrar.
Nosso propósito único garante que vamos conseguir, pois aquele que busca atingir a verdade
não pode falhar.

LIÇÃO 132

Libero o mundo de tudo aquilo que eu pensava que fosse.

Essa é uma das lições mais importantes no livro de exercícios, pois provê uma declaração
explícita sobre a natureza ilusória do mundo e sua conexão com nossos pensamentos. As
103
primeiras lições do livro de exercícios, como vocês se recordam, estão centradas na relação
entre nossos pensamentos e as imagens que vemos no mundo. As mesmas idéias são citadas
aqui, mas de uma maneira mais sofisticada, que nos leva ainda mais fundo dentro da verdade
da nossa realidade.

(1:1) O que mantém o mundo acorrentado senão as tuas crenças?

Nosso sentimento de aprisionamento e vitimação não vêm do mundo, mas de uma crença
em nossas mentes. Como todos devemos ver, se o mundo não é nada, como pode nos
aprisionar? É a mente que dá ao mundo o seu poder, pois é aí que o aprisionamento acontece.
Essa primeira sentença, com efeito, anuncia o tema que a lição agora vai desenvolver.

(1:2) E o que pode salvar o mundo, exceto o teu Ser?

Nosso Ser não está nesse mundo. Ele está em nossas mentes, e através do Espírito
Santo, o símbolo do Ser, vamos aprender a nos lembrar da nossa Identidade. Assim, o mundo
não é salvo por pessoas individuais, mas por nos lembrarmos da Unicidade de Cristo, o Ser
unificado e sem forma. O perdão é o meio pelo qual nos lembramos e é, portanto, o
instrumento da salvação do mundo.

(1:3-4) A crença é, de fato, poderosa. Os pensamentos que manténs são poderosos e as


ilusões são tão fortes em seus efeitos quanto a verdade.

A Lição 16 disse: “Eu não tenho pensamentos neutros” (LE-pI.16), e podemos ver
novamente Jesus recordando um tema proeminente nas primeiras lições. Pensamentos têm
poder dentro do sonho, onde eles podem nos manter adormecidos e nos fazer acreditar que o
sonho é realidade. Como o texto afirma:

Os pensamentos, então, são perigosos? Para os corpos sim! (T-21.VIII.1:1-2).

Enquanto nos identificarmos com nossos corpos, portanto, nossos pensamentos têm um
poder tremendo: de escolher o inferno ou o Céu. E o que escolhermos vai se tornar realidade
para nós.

(1:5-6) Um louco pensa que o mundo que vê é real e não duvida disso. Ele não pode ser
influenciado pelos questionamentos dos efeitos de seus pensamentos.

Jesus não quer dizer apenas os clinicamente insanos, aqueles aos quais atestamos o
estado doentio e hospitalizamos, mas todos nós, uma vez que acreditamos que o mundo é
real. Apesar do que nossos intelectos nos dizem a partir do nosso estudo do Um Curso em
Milagres, ou de qualquer outro sistema espiritual, ainda vamos acreditar que nossos corpos
são reais e importantes, com necessidades que exigem satisfação de um mundo que não está
realmente ali. Nós já examinamos uma passagem sobre alucinações (T-20.VIII.7:3-7).
Considerem agora essa passagem:

Se decides que alguém está realmente tentando atacar-te, abandonar-te ou


escravizar-te, reagirás como se ele, de fato, o tivesse feito, pois fizeste com que o
seu erro seja real para ti. Interpretar o erro é dar-lhe poder e tendo feito isso, tu não
verás a verdade... uma tentativa clara de demonstrar a tua própria capacidade de
compreender o que percebes. Isso é comprovado pelo fato de que reages às tuas
interpretações como se elas fossem corretas (T-12.I.1:7-8; 2:2-3).

104
Nós, portanto, realmente acreditamos que nossas percepções sobre os outros, para não
falar sobre o mundo, são verdadeiras, simplesmente porque nós dizemos que são. No entanto,
é nosso ego insano que faz essa afirmação, oculto por trás de nossa atitude arrogante.
Qualquer um que tenha trabalhado com os clinicamente psicóticos vai lhe dizer que não
existe maneira de convencê-los de que seu sistema de pensamento é irreal. Tais tentativas
meramente fazem com que eles se agarrem às suas ilusões com tenacidade ainda maior. Isso,
então, transforma você em outra forma de inimigo, que já é uma parte integral do sistema
ilusório. No entanto, é a mesma situação com o resto da população do mundo. Nós não
queremos que nos seja dito que nossos pensamentos são a causa de tudo o que
experienciamos, nem que a razão pela qual estamos agora mesmo aqui é para demonstrar
simplesmente o oposto. Se eu estivesse ciente dos efeitos dos meus pensamentos, iria mudá-
los. Estando inconsciente, posso ser a vítima inocente do que o mundo me fez. Portanto, não
existe esperança de mudança e meu ego está a salvo.

(1:7) A esperança de liberdade só lhe vem quando finalmente a fonte de seus


pensamentos é posta em questão.

Essa é a liberdade que Jesus nos traz no Um Curso em Milagres, e o que ele nos pede
para trazer ao mundo. Isso recorda o grande filósofo Sócrates, que levou os atenienses antigos
a questionarem o que acreditavam. Ele não forneceu respostas, mas pediu às pessoas para
questionarem suas presunções. Quando as pessoas foram instigadas por essa pessoa
filosoficamente irritante, as conseqüências foram desastrosas, conforme as autoridades tiveram
sucesso em silenciar definitivamente seu questionamento e voz inquisitiva.
Na Introdução ao Capítulo 24, Jesus nos diz que “aprender esse curso requer
disponibilidade para questionar cada valor que tu manténs” (T-24.in.2:1). Ele não quer que nós
renunciemos aos nossos valores, incluindo nosso especialismo, mas realmente nos pede para
questionarmos nosso pensamento de que estamos certos sobre tudo, e que consideremos que
talvez exista alguém dentro de nós que saiba melhor. Desnecessário dizer, não podemos levar
nossos egos a questionarem se não pensarmos que somos responsáveis por eles. Se
acreditarmos que somos os efeitos do que outros fizeram a nós, não vamos aceitar a parte que
desempenhamos no sonho que chamamos de nossas vidas. Conseqüentemente, o primeiro
passo em aprender esse curso é perceber que tudo se origina em nossas mentes, e em
nenhum outro lugar. Assim, é em nossas mentes que esse questionamento precisa acontecer;
o primeiro passo para o perdão, em última instância nos capacitando a estar presentes para os
outros, chamando-os a questionarem como nós questionamos, a escolherem como nós
escolhemos. Lembrem-se:

O professor de Deus vem a eles para representar uma outra escolha, aquela que
haviam esquecido. A simples presença de um professor de Deus é um lembrete. Os
seus pensamentos solicitam o direito de questionar o que o paciente aceitou como
verdadeiro (MP-5.III.2:1-3).

Nesse questionamento, nossa cura começa, e a liberdade finalmente se torna possível.

(2:1) No entanto, a salvação pode ser conseguida com facilidade, pois qualquer um é
livre para mudar a sua mente e com ela mudar todos os seus pensamentos.
Mudar nossas mentes é mudar nosso professor, permitindo que nossos pensamentos
mudem também. Com o ego, esses pensamentos consistem de pecado, culpa, medo,
sofrimento, ataque e morte. Com Jesus, eles são de perdão, paz e cura, o que desfaz o ego.
Qualquer um pode fazer essa escolha, porque o processo não depende de nada externo. É
irrelevante se você vive em um campo de concentração, numa prisão ou em um gueto, ou
como um membro da classe privilegiada; você pode mudar sua mente e perdoar enquanto está
deitado na cama de um hospital e morrendo. O estado do seu corpo ou do mundo ao seu redor
105
é irrelevante para a salvação, que tem a ver apenas com sua mente. Mais uma vez, essa
mudança nasce do reconhecimento de que talvez, apenas talvez, você esteja errado. Você
nem mesmo tem que ser definitivo sobre isso; apenas admitir que tal possibilidade existe.

(2:2-4) Agora a fonte do pensamento foi deslocada, pois mudar a tua mente significa que
mudaste a fonte de todas as idéias que pensas ou jamais pensaste ou ainda pensarás.
Liberta o passado daquilo que pensavas anteriormente. Liberta o futuro de todos os
antigos pensamentos de busca do que não queres achar.

Lembrem-se de que a fonte última da nossa liberdade é o professor que escolhemos, a


culpa do ego ou o perdão do Espírito Santo. Ambos estão em nossas mentes, o que significa
que o passado é libertado aqui: o foco único do currículo do Curso.
Essas linhas se referem à lição anterior, e Jesus nos diz que o que está acontecendo
nesse momento é parte de um pensamento antigo que ainda está aqui no presente, porque o
tempo linear é uma ilusão. Em um nível individual, nós sentimos o fragmento sombrio do que
todos nós, como um único Filho, sentimos naquele instante original. Não existe diferença
porque não existe tempo. O mundo de tempo e espaço do ego – passado, presente e futuro, e
corpos separados – foi especificamente feito para colocar uma brecha entre o original e
contínuo sistema de pensamento de separação, e nossas experiências no mundo. O propósito
do Um Curso em Milagres é diminuir essa brecha, que é o motivo pelo qual logo no início do
texto, Jesus diz que economiza tempo, colapsando o intervalo de tempo por diminuir o espaço
entre a causa – o instante ancestral no qual escolhemos o ego em vez do Espírito Santo – e o
efeito – o sofrimento que experienciamos agora, no corpo: a mesma brecha que introduzimos
para nos manter separados uns dos outros. Essa passagem importante justifica uma segunda
citação, pois esclarece a confiança central do Curso nos milagres, que nos desobriga da
miséria sem fim da nossa própria culpa:

O milagre minimiza a necessidade de tempo... acarreta uma passagem repentina da


percepção horizontal para a vertical. Isso introduz um intervalo do qual ambos, tanto
o doador como quem recebe, emergem mais adiante no tempo do que teriam estado
de outra forma. O milagre tem então a propriedade única de abolir o tempo, na
medida em que torna desnecessário o intervalo de tempo que atravessa. Não há
relação entre o tempo que leva um milagre e o tempo que ele cobre. O milagre
substitui um aprendizado que poderia ter levado milhares de anos. Faz isso através
do reconhecimento subjacente da perfeita igualdade entre quem dá e quem recebe
na qual o milagre se baseia. O milagre encurta o tempo, colapsando-o, assim
eliminando certos intervalos dentro dele. Faz isso, porém, dentro de uma seqüência
temporal mais ampla (T-1.II.6:1,3:10).

É essencial ler as palavras do Um Curso em Milagres cuidadosamente, pois elas com


freqüência têm uma intenção evocativa. Assim, o uso que Jesus faz da palavra ancestral é
proposital, esperando nos desalojar da nossa própria estreita faixa de experiência, como
criaturas no tempo e no espaço, e de volta para aquele estado ancestral – e atual – da mente.
Existem, de fato, dois estados ancestrais: ódio, quando acreditamos ter destruído o Céu para
que pudéssemos existir; e Expiação, o desfazer do ódio.

(3:1-2) Agora o único tempo que resta é o presente. É aqui, no presente, que o mundo é
posto em liberdade!

O mundo é mantido em cativeiro por nossa identificação com o sistema de pensamento


de pecado, culpa e medo do ego. Uma vez projetado, ele faz surgir o tempo linear: passado,
presente e futuro. No instante santo – o significado de “o único tempo que resta é o presente” –

106
não estamos no mundo, significando que nossa atenção não está firmemente presa em corpos
- no nosso ou nos dos outros -; nós acompanhamos apenas nosso novo Professor:

É evidente que a percepção que o Espírito Santo tem do tempo é exatamente


oposta à do ego. A razão disso está igualmente clara, pois eles percebem a meta do
tempo de maneira diametralmente opostas. O Espírito Santo interpreta o propósito
do tempo como o de tornar a necessidade do tempo desnecessária... a Sua ênfase,
portanto, recai sobre o único aspecto do tempo que pode se estender até o infinito,
pois o agora é a noção mais próxima de eternidade que esse mundo oferece (T-
13.IV.7:1-3,5).

Quando estamos com o Espírito Santo, não mais estamos separados do Amor de Deus.
Portanto, não existe o sistema de pensamento de pecado, culpa ou medo do ego, e nenhum
mundo poderia surgir como proteção para esse sistema de pensamento. No agora do instante
santo, o mundo é libertado, porque o mundo naquele instante não existe: “em nenhum único
instante o corpo existe de forma alguma” (T-18.VII.3:1). No instante santo, não existe corpo,
porque, mais uma vez, o corpo é a incorporação do pensamento de separação do ego (LE-
pI.72.2:2), que se foi. Em nenhum único instante, o mundo existe também, porque o mundo e o
corpo são o mesmo, unidos no propósito único da separação.

(3:3) Pois, quando deixas que o passado se dissipe e liberas o futuro de todos os teus
antigos medos, achas um modo de escapar e o dás ao mundo.

Nós agora estamos familiarizados com a idéia de que não há mundo ao qual darmos
qualquer coisa, e então, nós não desistimos literalmente do mundo. O mundo é simplesmente
parte de nossas mentes, e a mente do Filho de Deus é uma. Assim, o Verbo de Jesus em Um
Curso em Milagres não tem que ser pregado, ensinado ou disseminado, e certamente não
precisa que uma igreja seja construída ao seu redor. Seu Verbo é destinado a apenas uma
pessoa: você, o leitor. Quando você se identifica com o Verbo do princípio da Expiação, você é
a Filiação, e o mundo é curado. Assim, o mundo é salvo, e então, quando você é curado, não é
curado sozinho; o tema de uma Lição (137) que vamos explorar em breve.
Em resumo então, Jesus não quer dizer literalmente que você dá escapatória ao mundo,
o que seria diretamente oposto a tudo o que seu curso ensina. A escapatória é dada ao mundo
no sentido de que ele existe em sua mente, e na extensão em que você se identificar com o
ego, o mundo existe em uma mente perturbada, que é o motivo pelo qual existe um mundo
perturbado. No entanto, quando você escolhe o Professor da cura e seu mundo é curado, a
Filiação é curada com você. Se não existe separação, não existe mundo. Assim, o mundo é
libertado, o pré-requisito para sua cura e gentil desaparecimento:

É possível que o que não tem começo realmente tenha um fim? O mundo terminará
em uma ilusão, como começou. Porém, seu fim será uma ilusão de misericórdia. A
ilusão do perdão, completo, sem excluir ninguém, sem limites em gentileza, cobrirá o
mundo escondendo todo o mal, ocultando todo o pecado e pondo fim à culpa para
sempre. Assim termina o mundo que foi feito pela culpa, pois agora ele não tem
nenhum propósito e se foi... O mundo chegará ao fim quando o seu sistema de
pensamento for completamente revertido (MP-14.1:1-5; 4:1).

E então, o mundo termina em alegria, paz, riso e com uma bênção (MP-14.5:1-8).

(3:4-5) Escravizaste o mundo com todos os teus medos, as tuas dúvidas e misérias, a
tua dor e as tuas lágrimas e todos os teus pesares pressionam e mantêm o mundo
prisioneiro de tuas crenças. A morte o ataca de todos os lados, porque manténs
amargos pensamentos de morte dentro da tua mente.
107
O foco novamente está em nossos pensamentos – medo, dúvida, miséria e dor existem
apenas dentro da mente. Eles vêm, sem exceção, da crença de que nós existimos, o que
significa que Deus teve que ser destruído. Minha existência individual foi mais importante e
minha única preocupação, e então, eu alegremente matei, já que isso significava que minha
existência iria continuar. Esse egoísmo é o significado real do pecado, e o pensamento de
termos matado para alcançar a individualidade é a fonte das nossas lágrimas e pesares.
O início e o fim desse sistema de pensamento é a morte: eu matei Deus, e agora temo
que Ele vá me matar em troca. Lembre-se de que uma vez que esse é o mito do ego, o mundo
da mente errada surge das regras do ego, o que significa que qualquer coisa é possível,
incluindo o retorno de Deus dos mortos. A enxurrada atual de filmes de terror exemplifica bem
esse fenômeno. Pelo fato da morte ser a consumação do sistema de pensamento do ego, ela é
a consumação da existência de todos. Precisa ser assim, pois o mundo não é nada além da
projeção dos nossos pensamentos, como é afirmado nessa lição. Uma vez que os
pensamentos na mente são de separação, pecado, culpa, medo e morte, o mundo de tempo e
espaço é, da mesma forma, um lugar de separação, pecado, culpa, medo e da morte. É assim
que uma passagem descreve o uso cruel que o ego faz do tempo, culminando na morte do
corpo e da condenação da alma eterna ao inferno:

A crença no inferno é inescapável para aqueles que se identificam com o ego. Seus
pesadelos e seus medos estão todos associados com ele. O ego ensina que o
inferno está no futuro, pois é para isso que todo o seu ensino é dirigido... Como é
desolador e desesperador o uso que o ego faz do tempo! E como aterroriza! Pois
sob a sua insistência fanática para que o passado e o futuro sejam a mesma coisa,
jaz escondida uma ameaça muito mais insidiosa à paz... a crença na culpa
necessariamente leva à crença no inferno e sempre o faz. A única maneira na qual o
ego permite que o medo do inferno seja vivenciado é trazendo o inferno para cá,
mas sempre como um antegosto do futuro. Pois ninguém que se considere
merecedor de inferno pode acreditar que a punição terminará em paz (T-15.I.4:1-3;
6:1-3,5-7).

Dentro desse sistema de pensamento insano e cruel de pecado e punição, culpa e morte,
não há escapatória. A esperança repousa apenas fora dele, na mente certa que transcende
tanto o sistema de pensamento do ego quanto o seu mundo.

(4:1-3) O mundo em si não é nada. A tua mente tem que dar significado a ele. E o que
contemplas nele são os teus desejos encenados para que possas olhar para eles e
pensar que são reais.

Uma declaração muita clara. O mundo não é nada em si mesmo, sendo apenas uma
projeção de um pensamento que não existe. Assim, um pensamento sobre nada faz surgir um
mundo de nada. Nada disso vai fazer sentido, a menos que você dê um passo atrás com um
professor que permaneça fora da nulidade, um professor que represente o Tudo de Deus. Um
corpo insano olhando para um sistema de pensamento insano só pode julgá-lo como são, pois
ele não conhece a realidade. É por isso que Jesus continuamente nos pede para nos unirmos a
ele em nossa jornada além do ego:

Quando te unes a mim, estás te unindo sem o ego, porque eu renunciei ao ego em
mim mesmo e, portanto não posso me unir ao teu. Nossa união é, assim, o caminho
para renunciares ao ego em ti. A verdade em nós dois está além do ego (T-8.V.4:1-
3).

108
(4:4-5) Talvez penses que não fizeste o mundo, mas que vieste contra a tua vontade ao
que já havia sido feito, dificilmente esperando que os teus pensamentos pudessem lhe
dar significado. Entretanto, na verdade, achaste exatamente aquilo que procuravas
quando vieste.

Nossa experiência quando nascemos – que é o motivo pelo qual chegamos como bebês
inocentes, desamparados e vulneráveis – é: “O que estou fazendo aqui? Isso não é escolha
minha”. Desde o momento em que somos concebidos, um véu de amnésia cai sobre nossas
mentes, e nos esquecemos da real origem da nossa concepção – o desejo de existirmos, mas
de não sermos responsáveis por isso. Esse é o pensamento que concebe a si mesmo como
uma entidade física separada. O mundo, parte do mesmo sistema de pensamento de
separação, reforça essa experiência, pois ele é percebido como pré-existente ao nosso
nascimento, uma realidade fora de nossas mentes.
Apesar da experiência comum de que viemos para esse mundo contra a nossa vontade, a
verdade é que encontramos exatamente o que procuramos quando viemos: um lar para nosso
especialismo individual e, acima de tudo, um lar onde poderíamos escapar de toda
responsabilidade por estarmos aqui. Assim, podemos dizer a Deus: “Sim, eu existo, mas não é
minha culpa. Minha vida não se originou quando me separei de Você pela decisão da minha
mente, mas com meus pais”. No entanto, a verdade, mais uma vez, é que nós encontramos no
mundo a prova desejada da nossa inocência e da culpa do nosso irmão: nossos desejos
encenados para que pudéssemos olhar para eles e pensar que são reais.
O livro de exercícios em geral não provê uma discussão metafísica profunda no texto, por
causa do seu propósito diferente. Essa lição, no entanto, reflete o fundamento do sistema de
pensamento do Curso, e mostra por que Jesus afirma, no início do livro de exercícios, que é a
fundação teórica do texto que torna as lições significativas (LE-in.1:1). Essa fundação é o que
encontramos aqui, embora declarada de forma um pouco elíptica.

(5:1) Não há outro mundo à parte daquele que desejas e nisso está a tua liberação
suprema.

O mundo nos diz que nossa liberação vem de dentro do próprio mundo, mas ela só pode
vir do reconhecimento de que o mundo emanou de pensamentos que representam nossos
desejos. Lembre-se dessas palavras importantes sobre o mundo da percepção: “Ele é um
retrato externo de um desejo interno; uma imagem do que tu querias que fosse verdade” (T-
24.VII.8:10). Portanto, é dos nossos pensamentos que precisamos nos libertar, pois o poder de
mudar repousa em nós. Nesse mundo, nós raramente temos poder sobre o que nossos corpos
ou os dos outros fazem conosco, no entanto, só nós temos poder sobre nossos pensamentos.
Na verdade, esse é nosso único poder:

O poder de decisão é tua única liberdade restante como um prisioneiro desse


mundo. Podes decidir vê-lo de forma certa (T-12.VII.9:1-2).

A decisão de ver o mundo direito é a decisão de vê-lo como a projeção do nosso desejo
secreto.

(5:2) É só mudar a tua mente quanto ao que queres ver e todo o mundo tem que mudar
em conseqüência.

Novamente, Jesus não fala do mundo externo, mas de sua fonte na mente. A seguinte
passagem escreve o mundo aterrorizante da nossa percepção, que se segue à escolha da
mente de se identificar com a culpa:

109
O resultado certo da lição segundo a qual o Filho de Deus é culpado é o mundo que
vês. É um mundo de terror e desespero. Tampouco existe nele esperança de
felicidade. Não existe nenhum plano que possas fazer para a tua segurança que
jamais venha a ter sucesso. Não existe alegria que possas buscar aqui e esperar
achá-la (T-31.I.7:4-8).

Se, por outro lado, nos identificarmos com o pensamento de impecabilidade,


perceberemos um mundo no qual não existe culpa, ataque ou dor.

O resultado da lição segundo a qual o Filho de Deus não tem culpa é um mundo no
qual não existe medo e onde todas as coisas são iluminadas com esperança e
cintilam com uma gentil amizade (T-31.I.8:1).

Esse é o ponto de Jesus aqui. Não é que o mundo externo necessariamente mude – com
freqüência, ele não o faz -, mas minha percepção do mundo definitivamente muda, porque a
percepção vem do professor que eu escolhi. A projeção faz a percepção. Eu olho para dentro
primeiro, e o que vejo do lado de fora é o que eu projetei. Se eu escolher o ego como meu
professor – o professor da culpa -, vou perceber um mundo de julgamento: pecado,
repreensão, culpa, sofrimento e morte. Se Jesus for meu professor – o professor da
impecabilidade -, vou perceber um mundo no qual não existe repreensão ou punição. O Filho
de Deus, portanto, é visto como um, e cada um de nós, fragmentos aparentemente separados,
é compreendido como compartilhando a mesma necessidade e propósito. A percepção do ego
de interesses separados muda para a visão de Jesus do propósito único da Expiação.

(5:3-4) Idéias não deixam sua fonte. Esse tema central é declarado com freqüência no
livro texto e tem que ser mantido em mente se quiseres compreender a lição para o dia
de hoje.

Jesus está nos lembrando desse princípio central do Um Curso em Milagres. Entender
essa lição, para não mencionar o próprio Curso, repousa em uma compreensão apropriada do
seu princípio. A idéia de um mundo no qual existe sofrimento e morte nunca deixou sua fonte: a
culpa em nossas mentes. O ego nos diz que a idéia de culpa não deixa sua fonte e faz um
mundo real de culpa, que é separado e independente da mente. Jesus, no entanto, pensa de
outra forma (T-23.I.2:7). O mundo que percebemos do lado de fora é apenas uma projeção do
mundo que tornamos real do lado de dentro. Uma vez que o que é projetado nunca deixa sua
fonte na mente, literalmente não existe mundo externo. Assim, não pode haver mundo a ser
salvo. O princípio similar a idéias não deixam sua fonte é a projeção faz a percepção, explicado
em uma passagem agora familiar:

A projeção faz a percepção. O mundo que vê é o que deste ao mundo, nada mais do
que isso... Ele é a testemunha do teu estado mental, o retrato externo de uma
condição interna. Como um homem pensa, assim ele percebe. Portanto, não
busques mudar o mundo. A percepção é um resultado e não uma causa (T-
21.in.1:1-2,5-8).

(5:5-6:1) Não é o orgulho que te diz que fizeste o mundo que vês e que ele muda à
medida que mudas a tua mente.
Mas é o orgulho que argumenta que vieste a um mundo que é bastante separado de
ti mesmo, impermeável àquilo que pensas e bem à parte do que possas pensar que ele
seja.

Humildade e arrogância são temas centrais no Um Curso em Milagres, e pareceria o


máximo da arrogância afirmar que fizemos o mundo, e uma marca de humildade afirmar que
110
não o fizemos. No entanto, como ele freqüentemente faz, Jesus pega o que comumente
pensamos e o vira de cabeça para baixo para ensinar o oposto exato do sistema de
pensamento do mundo (i.e., do ego). Assim, Jesus diz que não é arrogância (orgulho), mas
humildade reconhecer que fizemos o mundo, e que ele existe apenas como um pensamento.
Uma vez que idéias não deixam sua fonte, seu pensamento de um mundo separado, mais uma
vez, nunca deixou sua fonte em nossas mentes. Conforme nossas mentes mudam da culpa do
ego para o perdão do Espírito Santo, o mundo muda de acordo.
A arrogância nos diz que existe um mundo fora de nós, porque ela afirma que estamos
certos e Deus errado; nós fizemos um mundo fora do Céu, e estamos orgulhosos dele. Se isso
fosse verdade, realmente teríamos o poder de destruir a verdade. No entanto, não há nada fora
da Mente de Deus, e então, um universo separado é impossível. Apesar disso, acreditamos
que um mundo externo é anterior à nossa vinda, e não é afetado por nossos pensamentos, e
vai continuar depois que partirmos. Isso é baseado no modelo newtoniano do universo físico,
em oposição ao dos físicos quânticos, que também conclui que o mundo é um produto do
pensamento. Como já vimos, Um Curso em Milagres acrescenta que esse pensamento
fundamental é nossa culpa ilusória.

(6:2-3) Não há nenhum mundo! Esse é o pensamento central que o curso tenta ensinar.

Jesus é explícito – por virtude do ponto de exclamação e da própria declaração – sobre o


fato de que esse pensamento é crucial para entendermos, praticarmos e aprendermos seu
curso. Provavelmente, não existe conceito mais importante em seus ensinamentos, nem um
que seja mais mal compreendido. Estudantes do Um Curso em Milagres – em uma tentativa
mágica de auto-preservação – com freqüência buscam distorcer essa declaração sobre a
irrealidade do mundo, para minimizarem sua natureza radical. Eles afirmam que Jesus quer
dizer que o mundo que vemos é ilusório, em outras palavras, as interpretações equivocadas do
ego sobre ele. No entanto, eles sustentam, o universo material em si é real; em outras
palavras, uma extensão de Deus. Embora através de todo o Curso Jesus certamente se
focalize em nossas percepções equivocadas, a fundação subjacente na qual ele apresenta seu
sistema de pensamento – “o pensamento central que o curso tenta ensinar” – é a de que o
mundo físico, significando todo o cosmos, é uma defesa do ego, cujo propósito é encontrar um
esconderijo no qual Deus não pudesse entrar (LE-pII.3.2:4). Além disso, o mundo não
corresponde à natureza imutável, perfeita e eterna da realidade. O universo físico do tempo e
espaço, sendo o oposto do Céu em cada aspecto, tenta provar que a realidade não-dualista é
ilusão, e a ilusão dualista é a realidade. Muitas passagens no Um Curso em Milagres ilustram
isso. Aqui estão as três mais representativas, que já vimos antes:

O mundo que vês é uma ilusão de mundo. Deus não o criou, pois o que Ele cria tem
que ser eterno como Ele próprio. No entanto, não há nada no mundo que vês que vá
durar para sempre. Algumas coisas durarão no tempo um pouco mais do que outras.
Mas virá o tempo no qual todas as coisas visíveis terão um fim (ET-4.1).

O que parece ser eterno, tudo isso terá um fim. As estrelas desaparecerão e a noite
e o dia não mais existirão. Todas as coisas que vêm e vão, as marés, as estações e
as vidas dos homens; todas não retornarão. Onde o tempo estabeleceu um fim, não
é onde o eterno pode ser encontrado (T-29.VI.2:7-10).

As leis de Deus não prevalecem diretamente em um mundo no qual a percepção


domina, pois tal mundo não poderia ter sido criado pela Mente para a qual a
percepção não tem significado (T-25.III.2:1).

Por que, então, os estudantes iriam negar o que o Um Curso em Milagres deixa tão claro?
As dinâmicas do ego provêem a resposta: se o mundo é uma ilusão, então, nossos corpos
111
também são, o que significa que os seres que pensamos ser – física e psicologicamente –
também têm que ser ilusórios. É por isso que Jesus levanta a questão em relação a quem é o
eu que está lendo o Um Curso em Milagres ou aplicando esses princípios: “Quem é o “tu” que
está vivendo nesse mundo?” (T-4.II.11:8). A resposta certa, é claro, é que não é o eu que
normalmente identificamos como nós mesmos, mas o tomador de decisões na mente; o
sonhador do sonho, não uma figura dentro dele que chamamos pelo nosso nome. Uma vez
que não há mundo, não pode haver nenhum você vivendo aqui. Assim, o ego tenta preservar
sua identidade, argumentando que o mundo realmente existe. Além disso, é um mundo no qual
Deus, nossa Fonte e Criador, está diretamente envolvido. Dada a “realidade” da materialidade
– de outra forma, como Deus poderia saber algo sobre ela: -, nossos seres individuais
precisam ser “reais” também. Assim, o ego mais uma vez parece ter triunfado sobre Deus.

(6:4-5) Nem todos estão prontos para aceitá-lo [esse pensamento] e cada um tem que ir
tão longe quanto possa se permitir ser conduzido ao longo da estrada para a verdade.
Ele voltará e irá ainda mais adiante, ou talvez recue por um momento para retornar outra
vez.

Isso parece sugerir reencarnação: algumas das nossas experiências são positivas e
outras negativas, e assim, voltamos de novo e de novo até aprendermos as lições. Na verdade,
existem muitos exemplos dentro do Um Curso em Milagres, onde Jesus deixa implícito que
estamos reencarnados; e ele discute explicitamente a questão no manual, no entanto, sem
tomar uma posição (MP-24). O ponto de partida, no entanto, é que, uma vez que o tempo linear
é uma ilusão, assim como o corpo e o mundo, não há mundo no qual poderíamos entrar – uma
ou mais vezes. Próximo da verdade está o modelo da mente como holográfica, na qual tudo é
visto com tendo acontecido em um único instante, e ainda acontecendo em um instante.
Portanto, o que vivenciamos em nossas vidas individuais são simplesmente aspectos
diferentes do mesmo sonho ilusório. Para o propósito do nosso caminho de Expiação, não
importa se esses aspectos diferentes acontecem dentro de uma vida ou de muitas. Nossa
função continua sendo escolher o instante santo no presente, focalizando-nos nas lições de
perdão que a sala de aula de nossa experiência imediata provê para aprendermos – agora.

(7:1) Mas a cura é a dádiva daqueles que estão preparados para aprender que não existe
nenhum mundo e que podem aceitar a lição agora.

Isso constitui a cura, porque se não há mundo, não pode haver pensamento de
separação. Assim, voltamos ao princípio de que idéias não deixam sua fonte: a idéia de um
mundo separado nunca deixou sua fonte na mente que a pensou. No entanto, se não há
mundo, ele tem que ter vindo do nada, uma vez que algo precisa produzir algo. Isso significa
que o pensamento de separação tem que ser nada, uma vez que ele “produziu” o nada. Toda
doença, como nos é dito através de todo o Um Curso em Milagres, vem da crença na
separação. Se não há separação, não pode haver doença:

Nenhuma mente é doente enquanto outra mente não concorda que elas estão
separadas. E assim, a decisão que tomam de serem doentes é conjunta. Se não dás
o teu acordo e aceitas o papel que desempenhas para fazer com que a doença seja
real, a outra mente não pode projetar a própria culpa sem a tua ajuda em permitir a
ela que se perceba como separada e à parte de ti. Assim, o corpo não é percebido
como doente por ambas as mentes, de pontos de vista separados. A união com a
mente de um irmão impede a causa da doença e os efeitos percebidos. A cura é o
efeito de mentes que se unem, assim como a doença vem de mentes que se
separam (T-28.III.2).

112
A cura então, desfaz o sistema de pensamento do ego, mantido seguramente no lugar
pela crença de que esse mundo e nossas experiências aqui são reais. Portanto, nós
perdoamos nosso irmão pelo que ele não fez, pois nada jamais acontece em um sonho.
Doenças reforçam essa ilusão; cura a desfaz. Como a Lição 80 disse: “Um problema, uma
solução” (LE-pI.80.1:5).

(7:2) A sua prontidão para isso lhes trará a lição sob alguma forma que possam
compreender e reconhecer.

Isso significa que você não tem que aprender essa lição através desse curso. Qualquer
caminho espiritual que enfatize o perdão em vez do ataque, a unidade em vez da separação,
ensina a mesma lição no final. Uma declaração no início do manual marca esse importante
ponto não-especial:

Há um curso para cada professor de Deus. A forma do curso varia muito. Assim
como os recursos específicos envolvidos no ensino. Mas o conteúdo do curso nunca
muda. Seu tema central sempre é: “O Filho de Deus não tem culpa e na sua
inocência está a sua salvação”. Ele pode ser ensinado por ações ou pensamentos,
em palavras ou sem som algum, em qualquer língua ou em língua nenhuma, em
qualquer lugar, tempo ou modo (MP-1.3:1-6).

(7:3-4) Alguns a vêem subitamente, à beira da morte, e erguem-se para ensiná-la. Outros
acham-na em uma experiência que não é desse mundo, que lhes mostra que o mundo
não existe porque o que contemplam tem que ser a verdade e, no entanto, contradiz
claramente o mundo.

Existem formas diferentes de experimentar essa verdade. Algumas pessoas têm o que é
comumente chamado de experiência mística, quando são subitamente transportadas por suas
mentes para além desse mundo e de sua experiência aqui. Naquele instante, elas reconhecem
a irrealidade do mundo, e sabem que a Filiação unificada nunca deixou sua Fonte. Não
importando o medo que possa acarretar, essa experiência se torna um padrão contra o qual
tudo o mais é avaliado, capacitando-as a não levarem esse mundo tão a sério quanto antes.
Uma vez que você tenha permitido que a luz da verdade entre em sua mente – mesmo que por
um instante – percebe que tudo o mais é uma defesa contra a experiência do perfeito amor.
No entanto, existe uma grande resistência a permitir que a luz entre, pois fazer isso
significa o fim da escuridão do ego. Como o texto nos lembra, confirmando nossa experiência:

À medida em que a luz vem para mais perto, correrás para a escuridão encolhendo-
te com medo da verdade, às vezes recuando para as formas menos intensas do
medo e às vezes para o terror mais absoluto (T-18.III.2:1).

O terror absoluto algumas vezes toma a forma de suicídio, uma vez que tenhamos visto
que o mundo não é o que pensamos:

As estradas que esse mundo pode oferecer parecem ser muitas em número, mas
tem que vir o tempo em que todas as pessoas começarão a ver como são
semelhantes umas às outras. Homens morreram ao ver isso, porque não viram outro
caminho exceto as trilhas oferecidas pelo mundo. E ao aprender que não levavam a
lugar nenhum, perderam sua esperança (T-31.IV.3:3-5).

No entanto, se permanecermos com a luz do nosso Professor, Seu Amor nos capacitará a
atravessarmos a escuridão do desespero até o mundo real de vida e verdade.

113
(8:1-2) E alguns achá-la-ão nesse curso e os exercícios que fazemos hoje. A idéia de
hoje é verdadeira, porque o mundo não existe.

Mais uma vez, Um Curso em Milagres não é o único caminho para vivenciar e aprender
essa verdade: “alguns achá-la-ão nesse curso”. Além disso, conforme tenho enfatizado
repetidamente, Jesus literalmente quer dizer que não há mundo. Ele não quer dizer
simplesmente um mundo de dor, sofrimento ou doença, mas absolutamente tudo no mundo da
percepção, uma vez que toda materialidade tem forma, muda, e finalmente morre. A idéia de
hoje – “Libero o mundo de tudo aquilo que eu pensava que fosse” – é verdadeira porque o
mundo não existe. E se existisse, eu não teria o poder de libertá-lo, o que posso fazer porque
ele é mantido em cativeiro apenas pelo tomador de decisões na minha mente.

(8:3) E se, de fato, o mundo for a tua própria imaginação, então podes soltá-lo de todas
as coisas que jamais pensaste que ele fosse, apenas mudando todos os pensamentos
que lhe deram essas aparências.

Em um nível prático – não precisamos ser metafísicos –, enquanto eu me identificar com


o ego e escolher aprender com ele, vou me sentir separado e culpado. Uma vez que a culpa
exige punição, sou impelido pelo medo a projetá-la para fora do meu ser, em uma forma mal-
adaptada de me livrar dela. Eu então acredito que minha culpa – agora presente em outros na
forma de pecado e vitimação – está em suspenso para me atacar, pois essa é a natureza do
pecado. Eu então não posso deixar de perceber um mundo no qual sou vulnerável, e no qual a
ameaça existe em todos os lugares ao meu redor. Quase sempre, existe muito pouco que eu
possa fazer a esse respeito.
Uma vez que troco de professores, no entanto, libero minha culpa por retirar suas
projeções. Também posso estar em paz porque o amor de Jesus está comigo, em vez do ódio
do ego. Para afirmar mais uma vez, quando nossos pensamentos mudam, é nossa percepção
do mundo que muda, não o mundo em si. Por exemplo, as pessoas não vão mais ser
percebidas como inimigas, mas como amigas que são tão insanas quanto nós. Assim, todos
nós fazemos a mesma jornada para casa, ainda que uma parte de nós não acredite que
merecemos voltar a um lugar no qual nem mesmo acreditamos estar. No entanto, nossas
mentes certas não vêem mais o mundo como nosso inimigo, como Jesus nos diz depois, no
livro de exercícios, pois escolhemos ser seus amigos (LE-pI.194.9:6).

(8:4) Os doentes são curados quando abandonas todos os pensamentos de doença e os


mortos ressuscitam quando deixas pensamentos de vida substituírem todos os
pensamentos de morte que jamais tiveste.

Jesus não está literalmente sugerindo que saudemos os mortos que, por causa de nossas
mentes curadas, vão se levantar dos túmulos e nos agradecer. Ao invés disso, ele está usando
o simbolismo da Bíblia – na qual curar os doentes e ressuscitar os mortos são considerados
como sinais da volta de Jesus (Mateus 10:1,8) – para falar da Segunda Vinda de Cristo (não de
Jesus); o despertar do Filho do seu sonho de doença e morte. O ponto de Jesus é sobre meus
pensamentos curados. Quando aceito seu amor como única realidade da minha mente
dividida, vejo a doença e a morte como expressões da insanidade do ego, da qual eu não faço
mais parte. Posso voltar à insanidade, mas nesse instante santo, sabendo que Jesus está
comigo, desfiz todos os pensamentos de separação, doença e morte.
Mais uma vez, se idéias não deixam sua fonte, a idéia de doença e de um corpo que
morre nunca deixou sua fonte, o doente pensamento de separação na mente. Quando eu me
uno a Jesus, esse pensamento é desfeito, e não pode mais ser expresso como um corpo
doente ou moribundo. Meus olhos físicos podem perceber a doença e a morte, mas minha
mente curada percebe que essas são apenas figuras em um sonho, e minha realidade e a de
todos os outros está fora dele. Esse é o significado de cura. Para repetir, Jesus não está
114
falando sobre qualquer coisa específica ou externa. Suas palavras sugerem isso, mas, uma
vez que o mundo e os corpos são ilusões, a doença e a morte têm que ser ilusória também.
Não podemos enfatizar com freqüência suficiente que Jesus fala apenas de pensamentos.
Como ele diz no texto: “Esse é um curso em causa, não em efeito” (T-21.VII.7:8) – o efeito é o
corpo; a causa, nossos pensamentos.

(9:1-2) Uma lição anterior já repetida uma vez tem que ser novamente enfatizada agora,
pois contém o sólido fundamento para a idéia de hoje. Tu és como Deus te criou.

Unindo-nos a Jesus, isso se torna não apenas meras palavras, mas nossa realidade.
Assim, não levamos nada em nosso mundo pessoal ou coletivo a sério. Para repetir as linhas
do texto:

Portanto, aprende o hábito feliz de responder a toda tentação de perceber a ti


mesmo como fraco e miserável com estas palavras:

Eu sou como Deus me criou. O Filho de Deus nada


pode sofrer. E eu sou Seu Filho (T-31.VIII.5:1-4).

Essas palavras apontam para a realidade do nosso Ser, o “lugar” interior que desmente o
que o ego nos disse que era verdadeiro. Elas refletem o pensamento da verdade, a cuja
presença a separação e o sofrimento, o tempo e o espaço, não podem vir. Como Jesus
alegremente nos lembra:

Juntos, nós podemos rir... e podemos compreender que o tempo não pode invadir a
eternidade. É uma piada pensar que o tempo pode vir a lograr a eternidade, que
significa que o tempo não existe.
Uma intemporalidade na qual o tempo torna-se real, uma parte de Deus que pode
atacar a si mesma, um irmão separado como inimigo, uma mente dentro de um
corpo, são todas formas circulares cujo fim tem início no seu começo, terminando na
sua causa (T-27.VIII.6:4-7:1).

Assim, nós alegremente permanecemos como Deus nos criou.

(10:1) O que é a lição para o dia de hoje, senão um outro modo de dizer que conhecer o
teu Ser é a salvação do mundo?

Se eu conhecer o meu Ser, terei dito “não” ao ego, assim salvando minha mente do seu
sistema de pensamento de culpa. Uma vez que mentes são unidas e o mundo é um produto da
mente, o mundo é salvo também. Esse ponto freqüentemente repetido vai ao cerne dos
ensinamentos de Jesus em seu curso.

(10:2-3) Libertar o mundo de todo tipo de dor é apenas mudar a tua mente sobre ti
mesmo. Não existe nenhum mundo à parte das tuas idéias porque as idéias não deixam
a sua fonte e tu manténs o mundo dentro da tua mente em pensamento.

Isso é quase exatamente o que vimos no parágrafo 5, onde Jesus disse: “Não há outro
mundo à parte daquele que desejas”, continuando com “Idéias não deixam a sua fonte”. Aqui,
ele diz: “Não existe nenhum mundo à parte das tuas idéias porque idéias não deixam a sua
fonte”. Deveria estar claro que o mundo é libertado da dor e curado do sofrimento – incluindo a
crença na morte – por você mudar a sua mente, porque seus pensamentos são a causa da sua
percepção de dor. Mude seu pensamento e a dor se vai. Essa mudança constitui trazer de
volta a projeção, reconhecendo que o problema da dor não é externo (no corpo), mas interno
115
(na mente). Deixem-me repetir esse importante parágrafo do texto, explicando como
escapamos de todo sofrimento:

Agora está sendo mostrado a ti que podes escapar. Tudo o que é necessário é
olhares para o problema assim como é, e não do modo como o tinhas colocado.
Como poderia existir uma outra forma de se resolver um problema que é muito
simples, mas foi obscurecido por escuras nuvens de complicação feitas para manter
o problema sem solução? Sem as nuvens, o problema emergirá em toda a sua
simplicidade primitiva. A escolha não será difícil, porque o problema é absurdo
quando visto com clareza. Ninguém tem dificuldade de tomar uma decisão para
permitir que um problema simples seja resolvido, se esse problema é visto como
algo que está ferindo-o e é muito fácil de ser removido (T-27.VII.2).

Assim, o problema do sofrimento – o problema no mundo – não é nada mais do que um


projeto do ego, designado a obscurecer a simplicidade da resposta: mudar nossas mentes.
É impossível entender declarações como essas da perspectiva do corpo. Elas só podem
ser entendidas de um ponto fora do sonho – acima do campo de batalha. Só então você
poderá olhar para baixo, para o mundo e o corpo, e sorrir com gentileza diante do que até
então parecia tão sério. De dentro do mundo, o sorriso que não leva nada a sério é um ataque
e dificilmente amoroso, equivalente às pessoas batendo na cabeça de outras com o curso,
dizendo, por exemplo: “Por que você está transtornado? Você não sabe que esse mundo é
uma ilusão?”. No entanto, se você realmente soubesse que o mundo era uma ilusão, nunca
poderia dizer isso para alguém que está sofrendo. Essas declarações deveriam ser expressas
apenas quando você tem verdadeiramente claro – de uma posição de fora do sonho – que o
mundo e o corpo são ilusórios. De outra forma, mais uma vez, esses ensinamentos gentis e
curativos acabam se tornando ataques.

(11:1-4) No entanto, se és tal como Deus te criou, não podes pensar à parte Dele, nem
fazer o que não compartilhe da Sua intemporalidade e do Seu Amor. Estas coisas são
inerentes ao mundo que vês? Esse mundo cria como Ele? Se não o fizer, não é real e
não pode ser em absoluto.

O que não “compartilha da Sua intemporalidade e Amor” é o corpo e o mundo que


fizemos. Em nossos sonhos febris, nós realmente acreditamos ter feito isso, mas na verdade,
foi apenas faz-de-conta. Na próxima lição, Jesus cita a intemporalidade como um dos critérios
para avaliar nossas escolhas. Esse também é um dos argumentos que Jesus utiliza, como já
vimos, para provar que o eterno e perfeito Deus não poderia ter criado algo totalmente
diferente Dele. Ele continua na mesma veia:

(11:5) Se tu és real, o mundo que vês é falso, pois o mundo não é como a criação de
Deus em todos os seus aspectos.

Esse é o critério que Jesus nos pede para aplicarmos: o mundo é uma expressão do
perfeito Amor de Deus, intemporal e eterno? Esse padrão, então, forma a base para concluir
que esse mundo imperfeito de tempo e morte não pode ser criação de Deus. Uma vez que
Deus pode apenas criar como Ele Mesmo, qualquer coisa que Ele crie tem que ser perfeita,
imutável e eterna como Ele. Isso é verdadeiro apenas em relação ao espírito – não ao corpo -,
então, essa lição é crucial para entendermos a fundação não-dualista do Curso.

(11:6) E do mesmo modo como foste criado pelo Seu Pensamento, foram os teus
pensamentos que fizeram o mundo e têm que libertá-lo para que possas conhecer os
Pensamentos que compartilhas com Deus.

116
Assim como Deus é o Criador do Céu e de Cristo, nós somos os criadores equivocados
desse mundo. Portanto, não é responsabilidade de Deus libertá-lo, mas a nossa própria. Tudo
o que Deus faz – através do Espírito Santo, Sua memória em nossas mentes – é nos lembrar
de que o mundo realmente está em má forma, e que não há esperança de salvação aqui. No
entanto, pelo fato de ser uma situação que nós fizemos, podemos desfazê-la, dessa forma nos
lembrando da verdade da nossa realidade como o único Pensamento de Deus.

(12:1) Libera o mundo!

Mais uma vez, Jesus não está falando sobre qualquer coisa externa, pois o mundo não é
nada além de um epifenômeno dos nossos pensamentos. Nós liberamos o mundo por
liberarmos esses pensamentos, o que é alcançado por escolhermos o Professor dos
pensamentos de perdão.

(12:2-3) As tuas criações reais esperam por essa liberação para te dar a paternidade, não
de ilusões, mas como Deus na verdade. Deus compartilha a Sua Paternidade contigo,
que és o Seu Filho, pois Ele não faz distinções entre o que é Ele Mesmo e o que ainda é
Ele.

“O que ainda é Ele” é Cristo, porque Cristo e Deus são um único Ser. Como Deus é o
Criador de Cristo, nós - como Cristo – da mesma forma estendemos o Amor do Céu e criamos
como nosso Pai. Nossas criações são o produto dessa extensão e estabelecem nossa
paternidade, inerente à nossa Identidade como o Filho de Deus:

A Vontade do Pai e do Filho são uma só, por Sua extensão. A Sua extensão é o
resultado da Sua unicidade, e a Sua unidade é mantida pela extensão da Sua
Vontade conjunta. Isso é criação perfeita pelos que são perfeitamente criados, em
união com o Criador Perfeito. O Pai tem que dar paternidade a Seu Filho, porque a
Sua própria Paternidade tem que ser estendida para fora. Tu, cujo lugar é em Deus,
tens a função santa de estender a Sua Paternidade não impondo limites a ela (T-
8.III.3:1-5).

(12:4) O que Ele cria não está à parte Dele, e em lugar algum o Pai chega ao fim para dar
início ao Filho como algo separado de Si Mesmo.

Essa maravilhosa declaração é outra expressão da Unicidade do Céu, onde não existe
separação entre Deus e Cristo; nenhuma distinção entre “o que é Ele Mesmo e o que ainda é
Ele”. Em nossa linguagem dualista, nos referimos a Deus como a Fonte ou Causa Primeira, e a
nós, Cristo, como o Efeito; mas no Céu, não existem dois seres separados. Apenas Um.

(13:1) Não existe nenhum mundo porque ele é um pensamento à parte de Deus, feito
para separar o Pai e o Filho e arrancar uma parte do próprio Deus para assim destruir a
Sua Integridade.

Essa é ainda outra declaração da fundação não-dualista do Curso. A Expiação estabelece


que enquanto somos livres dentro da ilusão para acreditar que alcançamos o impossível, não
somos livres na verdade para mudarmos a imutabilidade da realidade. Nenhuma nota na
canção do Céu jamais poderia ser perdida (T-26.V.5:4). A completeza permanece completa; a
Totalidade permanece total; Deus permanece Deus.

(13:2-4) Um mundo vindo dessa idéia pode ser real? Pode estar em algum lugar? Nega
as ilusões, mas aceita a verdade.

117
Outro tema-chave no Um Curso em Milagres: somos solicitados não a afirmar a verdade,
mas a “negar a negação da verdade” (T-12.II.1:5). Jesus está nos pedindo para olharmos com
ele para o sistema de pensamento do ego – a negação da verdade – e dizer que essa não é
mais a nossa escolha. Se olharmos honestamente para o mundo separado através dos olhos
de Jesus, reconheceremos como, vindo do pensamento ilusório de separação, ele não pode
deixar de ser irreal.

(13:5) Nega que sejas uma sombra deixada por um momento sobre um mundo
agonizante.

Isso é o corpo: uma sombra que quando parece nascer é “deixada por um momento sobre
um mundo agonizante”. É um mundo agonizante porque vem de um pensamento de morte, e o
que veio da morte só pode ser como ela mesma: idéias não deixam sua fonte. O pensamento
do ego, também, tem que ser um pensamento de morte porque é o oposto da vida. Lembre-se,
o sistema de pensamento do ego começa com a declaração: “Eu existo porque destruí Deus, e
sobre Seu corpo morto eu permaneço supremo”. Incidentalmente, essa sentença da lição é
uma reminiscência das famosas linhas de MacBeth, exprimida um pouco antes da sua morte:

Extinga-se, extinga-se breve vela!


A vida é somente uma sombra que se move; um pobre ator,
Que se pavoneia e exaure sua hora sobre o palco,
E então, não é mais ouvido... (V,5,21).

(13:6) Libera a tua mente e contemplarás um mundo liberado.

Tua e tu nessa sentença se referem ao tomador de decisões, e Jesus está nos dizendo
para fazermos outra escolha: “Libere sua mente da tirania do ego, sob a qual você a colocou, e
escolha meu amor em vez disso. Você então vai olhar para um mundo libertado da sua crença
no pecado e nas projeções da sua culpa, pois em sua liberdade, está a liberdade do mundo”.

(14:1) O nosso propósito hoje é o de libertar o mundo de todos os pensamentos vãos


que jamais mantivemos a respeito dele e de todas as coisas vivas que vemos sobre ele.

O foco é inequivocamente claro – Jesus está nos falando sobre nossos pensamentos, não
sobre nossos corpos ou nosso comportamento.

(14:2-4) Não podem estar aí [as chamadas coisas vidas que acreditamos estarem aqui]. E
nós também não podemos. Pois estamos no lar que o nosso Pai estabeleceu para nós,
junto com elas.

O Filho de Deus é um. Quando seguro a mão de Jesus e caminho com ele para fora do
sonho, não caminhamos sozinhos, pois caminhamos com toda a Filiação para a casa que
nunca verdadeiramente deixamos: Como nossa realidade poderia estar em qualquer outro
lugar além de com o Criador da realidade?

(14:5) E nós, que somos como Ele nos criou, nesse dia queremos liberar o mundo de
cada uma das nossas ilusões para que possamos ser livres.

O que nos liberta não é fazermos algo com nossos corpos ou com os dos outros, mas
liberarmos nossos pensamentos: “Libero o mundo de tudo aquilo que eu pensava que fosse”.

(15:1-3) Começa os períodos de quinze minutos nos quais hoje praticamos por duas
vezes com isso:
118
Eu, que permaneço tal como Deus me criou, quero liberar o mundo
de tudo o que eu pensei que ele fosse. Pois sou real porque
o mundo não o é, e quero conhecer a minha própria realidade.

Note o princípio de um ou outro do Um Curso em Milagres: Ou Deus ou o mundo é real;


eles não podem coexistir como realidade. Uma vez que Deus e o Céu são reais, tudo nesse
mundo – incluindo meu corpo e personalidade – tem que ser ilusório.

(15:4) Em seguida, apenas descansa, atento, mas sem tensão, e deixa a tua mente ser
mudada em quietude para que o mundo seja libertado junto contigo.

Se lermos cuidadosamente, essa passagem permanece como uma das mais significativas
no Um Curso em Milagres. Primeiro, somos solicitados a descansar, a estarmos “atentos, mas
sem tensão”. Em outras palavras, essa lição não deveria produzir tensão, nem deveríamos
lutar para fazê-la perfeitamente, impondo a nós mesmos a crença de que não estamos
realmente aqui – uma coisa muito tola a se fazer. Lembrem-se do aviso de Jesus logo no início
do texto:

O corpo é meramente parte da tua experiência no mundo físico. As capacidades do


corpo podem ser e, com freqüência são, super-valorizadas. Todavia, é quase
impossível negar a sua existência nesse mundo. Aqueles que o fazem estão
engajando-se em uma forma de negação particularmente indigna (T-2.IV.3:8-11).

Jesus nos pede para deixarmos que nossa mente seja “mudada em quietude”, significado
que o tomador de decisões decide estar quieto, e em quietude, silencia o sistema de
pensamento do ego. Isso não é responsabilidade de Jesus. Uma vez que eu sou a fonte dos
gritos estridentes do ego que abafam a Voz pelo Amor, eu sou o único que pode dizer que não
quero mais ser aprisionado. Essa é a mudança da mente efetuada em quietude. Uma vez que
estou quieto, minha mente é mudada pelo Espírito Santo, tendo eu levado minhas ilusões a
Ele. Nesse ponto, sua escuridão desaparece na luz da Sua verdade.
Nessa única sentença, portanto, encontramos encapsulado o processo de cura do Curso:
levar a escuridão da ilusão à luz da verdade. Portanto, nossos pensamentos são curados; não
por nós, mas pelo Amor de Deus. O mundo é libertado também das garras da nossa culpa,
desfeito finalmente pela Expiação.
Para concluir essa lição, Jesus volta ao tema da Unicidade do Filho de Deus:

(16:1) Não precisas reconhecer que a cura vem a muitos irmãos do outro lado do mundo,
assim como àqueles que vês por perto quando envias estes pensamentos para abençoar
o mundo.

Você não envia literalmente esses pensamentos, porque não existe lado de fora para o
qual enviar esses pensamentos. Uma vez que você escolhe o amor de Jesus, seu amor
naturalmente se estende através de você, o que significa estender através da mente da
Filiação. Não existe nada mais. A linguagem do Um Curso em Milagres com freqüência parece
sugerir que existe um dentro e fora, o primeiro se estendendo para o último. O conteúdo por
trás dessas palavras, no entanto, é bem diferente porque não existe lado de fora. Uma vez que
você se une a Jesus como seu professor, terá se unido à Filiação; um processo que encontra
expressão na declaração de que você envia seus pensamentos para o mundo.

(16:2) Mas sentirás a tua própria liberação, embora ainda não possas compreender
inteiramente que nunca poderias ser liberado sozinho.

119
Jesus não está nos pedindo para entender, por exemplo, que “quando sou curado, não
sou curado sozinho” (LE-pI.137), ou que quando abençôo o mundo, estou abençoando a mim
mesmo (LE-pI.187). Mas vamos experimentar o amor, paz e alegria que vêm quando liberamos
os julgamentos e mágoas, e aceitamos que o amor de Jesus é tudo o que queremos. Há uma
adorável oração anônima que diz: “Eu não tenho nada, eu não quero nada, eu não sou nada,
além do amor de Jesus”. Em seu amor, a Filiação é liberada como uma, da sua carga de
separação.

(17) Ao longo do dia, aumenta a liberdade transmitida a todo o mundo através das tuas
idéias e dize sempre que te sentires tentado a negar o poder da simples mudança da tua
mente:

Libero o mundo de tudo o que eu pensava que fosse, e


em vez disso escolho a minha própria realidade.

Jesus termina a lição impelindo você a aplicar a idéia para o dia quando nos sentirmos
tentados a negar o poder da sua mente. Sem essa aplicação, dia a dia, esses princípios não
terão significado. Você, portanto, será tentado, quando se vir como vítima de algo ou de
alguém fora de você, a acreditar que mudou de humor devido a qualquer coisa além do poder
da sua mente. Você então buscará algo que não esteja na mente para consertar a situação e
fazê-lo se sentir melhor. Não apenas você nega o poder da sua mente de torná-lo transtornado
ou inquieto, mas também nega seu poder para torná-lo pacífico. O poder da mente é devolvido
a você quando você simplesmente diz que estava errado e que Jesus está certo, que ele é o
professor que você quer. Você, portanto, não apenas libera o mundo de tudo o que pensava
que ele fosse, mas libera o ego de tudo o que você pensou que ele fosse também.

LIÇÃO 133

Não darei valor àquilo que não tem valor.

Essa é outra lição importante, que contrasta – como a anterior – a realidade do Céu
(verdade e o Amor de Deus) com a natureza ilusória de tudo nesse mundo. Assim, apenas o
120
que é de Deus ou iria nos levar de volta a Ele tem valor, enquanto tudo o que nos enraíza
ainda mais nesse mundo é sem valor. A lição também provê a fundação para a discussão no
manual sobre os estágios no desenvolvimento da confiança, particularmente os três primeiros,
que tratam da diferença entre o que é valioso e o que não é (MP-4.I-A).

(1) Às vezes, no ensino há benefício em trazer o aluno de volta a interesses práticos,


particularmente depois de teres ensinado o que parece ser teórico e distante do que o
aluno já aprendeu. É o que faremos hoje. Não falaremos de elevadas idéias que
abrangem o mundo, mas, ao invés disso, nos deteremos nos benefícios para ti.

Ao ler essa lição, você vai rapidamente perceber que Jesus contou um pouco de lorotas
nessa declaração inicial. É impossível para ele discutir as aplicações práticas do seu curso sem
voltar à sua base metafísica. Essas “elevadas idéias que abrangem o mundo” incluem: o
mundo é uma ilusão, e nada aqui tem qualquer valor porque não existe nada aqui. Isso é
instrutivo porque não existe maneira de você realmente aprender, entender, praticar ou ensinar
o Um Curso em Milagres sem entender essas premissas metafísicas. A razão pela qual o
perdão é curativo é que não existe nada a perdoar, e essa declaração seria sem significado
sem uma compreensão do que discutimos na lição anterior: não há mundo, porque o mundo
vem de um sistema de pensamento que não existe.

(2:1) Tu não pedes muito da vida, mas pouco demais.

Essa linha deveria ser familiar, pois já citamos sua referência quase textual do texto duas
vezes antes, e agora vamos fazê-lo mais uma vez: “Aqui, o Filho de Deus realmente não pede
demais, mas muito pouco” (T-26.VII.11:7). Nós pedimos dádivas sem valor da nulidade do ego,
enquanto rejeitamos como desagradáveis as valiosas dádivas do tudo de Deus.

(2:2) Quando deixas que a tua mente seja atraída para o que concerne ao corpo, as
coisas que compras, por prestígio tal como é valorizado pelo mundo, estás pedindo o
pesar e não a felicidade.

É tentador para você, quando lê uma passagem como essa, sentir-se esmagado pela
culpa por causa das coisas que gosta de comprar quando faz compras, que gosta de fazer
para o seu corpo se sentir melhor – evitando a dor e maximizando o prazer -, ou por gostar da
aprovação dos outros. A culpa não é o ponto de Jesus, entretanto. Mantenha em mente que
esse é um curso em conteúdo, não em forma; em causa (a mente), não em efeito (o corpo) (T-
21.VII.7;8). Em vez de nos sentirmos culpados por causa dos nossos relacionamentos
especiais – com as pessoas, substâncias, objetos ou comida -, deveríamos perceber do que
desistimos quando escolhemos nosso especialismo. "Assim, Jesus não quer que julguemos a
nós mesmos ou a qualquer outra pessoa, mas que demos um passo atrás com ele e vejamos
que quando escolhemos as preocupações do corpo – físico ou psicológico -, o fazemos porque
estamos com medo, e o medo não é um pecado. Além disso, perseguir o especialismo vai nos
trazer pesar, não felicidade, o que significa que é tolo persegui-lo. Quanto mais cientes
pudermos estar de que nossa busca por felicidade fora da mente não vai nos dar o que
queremos, mais motivados estaremos para liberar esses apegos especiais.
(2:3-5) Esse curso não tenta tirar de ti o pouco que tens. Não tenta substituir as
satisfações que o mundo contém com idéias utópicas. Não há nenhuma satisfação no
mundo.

Essa declaração não pode fazer sentido sem entender a lição anterior. Embora o foco de
Jesus nessa lição possa ser mais prático, ainda depende de princípios metafísicos subjacentes
- suas “elevadas idéias que abrangem o mundo”. O papel de Jesus como nosso professor não
é nos dizer: não vá fazer compras, evite essa comida ou esse relacionamento. Ele
121
simplesmente nos lembra de que as coisas do mundo não vão nos trazer a paz de Deus.
Portanto, por que investir tempo e energia nelas? No entanto, ele não rotula tais diligências de
erradas ou pecaminosas, e esse é o seu ponto. Em uma passagem instrutiva do texto, Jesus
discute a natureza não-maligna da medicação:

Todos os meios materiais que aceitas como remédios para enfermidades corporais
são reafirmações de princípios mágicos... Contudo, não decorre daí que o uso de
tais agentes com propósitos corretivos seja mau. Às vezes, a enfermidade tem um
controle que é suficientemente forte sobre a mente para tornar a pessoa
temporariamente inacessível à Expiação. Nesse caso, pode ser sábio usar uma
abordagem de transigência para com a mente e o corpo, na qual por algum tempo
se acredita que a cura venha de alguma coisa de fora. Isso é assim porque a última
coisa que pode ajudar aquele que tem a mente disposta ao que não é certo, ou o
doente, é fazer algo que aumente o seu medo. Esses já estão em um estado
debilitado pelo medo. Se são prematuramente expostos a um milagre podem ser
precipitados ao pânico. É provável que isso ocorra quando a percepção invertida
induziu à crença em que milagres são assustadores (T-2.IV.4:1,4-10).

Assim, o uso de qualquer coisa no mundo para ganhar prazer ou evitar a dor – definido no
Um Curso em Milagres como mágica – se torna santo se o seu propósito for reduzir o medo. O
propósito do Espírito Santo para as atividades mundanas é nos ajudar a aprender a única lição
de que não há mundo nem satisfações a serem encontradas aqui. Como o nada poderia
satisfazer?

(3:1-2) Hoje, vamos enumerar os critérios reais pelos quais pode-se testar tudo aquilo
que pensas querer. Se não preencherem esses requisitos básicos, não são dignos de
serem desejados de forma alguma, pois só podem ocupar o lugar daquilo que oferece
mais.

Como vamos ver, Jesus nos provê com quatro critérios para avaliarmos se o que
queremos é valioso ou sem valor. “Aquilo que oferece mais” são as dádivas que Jesus nos diz
que são nossas se simplesmente segurarmos sua mão.

(3:3) Não podes fazer as leis que governam a escolha, da mesma forma que não podes
inventar alternativas entre as quais escolher.

Existe apenas uma única escolha: Deus ou o ego, o valioso ou o sem valor, tudo ou nada.

(3:4-5) O que podes fazer é escolher, aliás, é o que tens que fazer. Mas é sábio aprender
as leis que põe em movimento ao escolheres e as alternativas entre as quais escolhes.

Jesus vai nos apresentar duas leis, seguidas por quatro critérios. Nós escolhemos entre o
tudo do Amor do Céu e o nada do especialismo do ego. Note mais uma vez que o você ao qual
Jesus se dirige é o tomador de decisões que escolhe entre o sistema de pensamento de
ataque, culpa e ódio da mente errada, e o sistema de pensamento de perdão, amor e paz da
mente certa.

(4:1-2) Já enfatizamos que só existem duas alternativas, independente de quantas


pareçam haver. O raio de ação foi estabelecido e isso nós não podemos mudar.

Essa é uma característica inerente à mente dividida – a primeira lei – que escolhe apenas
entre o ego e o Espírito Santo. Lembrem-se dessa citação anterior de “Regras para decisão”:

122
Não tomarás decisões por conta própria seja o que for que venhas a decidir. Pois
elas são tomadas com ídolos ou com Deus. E pedes ajuda ao anticristo ou ao Cristo,
e aquele que escolheres unir-se-á a ti e te dirá o que fazer (T-30.I.14:7-9).

Não existem outras alternativas entre as quais seja possível escolher:

(4:3) Seria muito pouco generoso para contigo deixar que as alternativas fossem
ilimitadas e, assim, protelar a tua escolha final até que tivesses considerado todas elas
no tempo, ao invés de seres trazido de forma tão clara ao lugar onde só há uma escolha
que não pode deixar de ser feita.

O “lugar” é o lar do tomador de decisões, e Jesus diz que não seria justo da parte dele
ajudá-lo a fazer escolhas aqui, onde elas são múltiplas e ilusórias. Ele nos impele, em vez
disso, não a o trazermos a esse sonho de multiplicidade, mas a nos unirmos a ele na parte
tomadora de decisões da mente, onde ele nos ajuda a ver que a única escolha significativa é
se vamos permanecer adormecidos ou se vamos despertar. O leitor pode se recordar das
nossas referências anteriores à “A alternativa real”, onde Jesus discute o mesmo tema (T-
31.IV). Essa também é a base para suas observações sobre o medo, originalmente destinadas
a Helen, que também já consideramos antes. Sua relevância justifica uma revisão resumida:

A correção do medo é tua responsabilidade. Quando pedes a liberação do medo,


estás deduzindo que não é. Deverias pedir, ao invés disso, ajuda nas condições que
trouxeram o medo. Essas condições sempre acarretam uma disponibilidade para
estar separado. Nesse nível podes evitar isso (T-2.VI.4:1-5).

Eu sei que o medo não existe, mas tu não sabes. Se eu interviesse entre os teus
pensamentos e os seus resultados, estaria adulterando uma lei básica de causa e
efeito, a lei mais fundamental que existe. Dificilmente eu poderia te ajudar se
depreciasse o poder do teu próprio pensamento. Isso estaria em oposição direta ao
propósito deste curso. É muito mais útil lembrar-te de que não vigias os teus
pensamentos com suficiente cuidado (T-2.VII.1:3-7).

Uma vez que a salvação pode ser alcançada apenas através da nossa mudança em
nossas mentes, Jesus nos lembra de exercitar esse poder de decisão. Na verdade, o propósito
do Curso é nos ajudar a fazer exatamente isso.

(5:1) Outra lei benigna relacionada a isso, é que não há transigências naquilo que a tua
escolha necessariamente traz.

A versão do ego para essa segunda lei de um ou outro é matar ou ser morto. O Espírito
Santo nos diz, no entanto, que apenas o que Ele nos ensina é verdadeiro, e nada que seja do
ego o é:

Tu estás apenas tomando equivocadamente a interpretação pela verdade. E estás


errado. Mas um equívoco não é um pecado, nem a realidade foi tirada de seu trono
pelos teus equívocos. Deus reina para sempre, e só as Suas leis prevalecem sobre
ti e sobre o mundo. Seu Amor permanece sendo a única coisa que existe. O medo é
ilusão, pois tu és como Ele (MP-18.3:7-12).

Nós escolhemos ou Deus ou o ego, sem nada intermediário, como Jesus reafirma:

123
(5:2-4) Ela não pode te dar só um pouco, pois não há meio termo. Cada escolha que
fazes te traz tudo ou nada. Portanto, se aprenderes os testes pelos quais podes
distinguir o tudo do nada, farás a melhor escolha.

Agora chegamos aos quatro testes ou critérios para avaliar se o que escolhemos é valioso
ou sem valor, verdadeiro ou ilusório. Nossa escolha reflete o tudo de Deus, ou se torna um
fragmento sombrio da nulidade do ego? O parágrafo acima também ecoa o ensinamento de
Jesus de que não podemos trazer um pouco do Céu ao inferno, ou um pouco do inferno ao
Céu – é sempre um ou outro. Nós já dissemos que muitos estudantes do Um Curso em
Milagres, e das religiões em geral, tentam trazer Deus ao mundo, magicamente esperando que
essa combinação Céu-inferno possa aliviar nossa dor e sofrimento:

O primeiro critério:

(6:1) Primeiro, se escolheres uma coisa que não vá durar para sempre, o que escolhes
não tem valor.

Isso nos faz voltar à Lição 132: o mundo não compartilha da eternidade do Céu, e então,
não pode ser real. Se você, portanto, escolher algo que não vá durar para sempre, ele tem que
ser sem valor, uma vez que não pode ser do Deus eterno. Quase tudo o que valorizamos aqui
não dura, tal como objetos materiais ou coisas que nos deixam em estado de êxtase pelas
quais possamos lutar. Na verdade, nossos prazeres são estabelecidos para não durarem, pois
nossa frustração continuamente nos impele a voltarmos em busca de mais. Dessa forma, o ego
nos convenceu a procurar fora de nós mesmos por prazer e paz, em vez de pelo Amor de Deus
presente em nossas mentes. Cada fracasso meramente reforça nossa necessidade de
continuarmos procurando até encontrarmos nosso “tesouro”.

(6:2-3) Um valor temporário não tem nenhum valor. O tempo nunca poderia tirar um valor
que é real.

A resposta do ego é que o tempo pode tirar o valor que é real, à qual Jesus diz o
contrário: “É uma piada pensar que o tempo pode vir a lograr a eternidade, que significa que o
tempo não existe” (T-27.VIII.6:5). No entanto, quando valorizamos o transitório nesse mundo,
estamos dizendo que o mundo do tempo e espaço não é uma piada, mas uma séria realidade:
o tempo pode interromper a eternidade, para não mencionar destruí-la; assim, seu valor para
nossos seres individuais, criaturas do tempo.

(6:4-5) Aquilo que murcha e morre nunca existiu e não faz nenhuma oferenda àquele que
o escolhe. Ele é enganado pelo nada sob uma forma da qual pensa gostar.

Se você pensar sobre “Os dois retratos”, ao qual vamos voltar agora, encontramos uma
idéia similar. O ego nos atormenta, atrai e seduz com a moldura brilhante do especialismo,
dentro da qual ele esconde seu retrato de morte, aqui descrito como nada. O brilho da moldura
nos atrai porque ele preserva nosso ser especial, enraizado em um mundo no qual tudo
murcha e morre. Mais uma vez, Jesus não está nos pedindo para nos sentirmos culpados
conforme examinamos nossas escolhas pela temporalidade do nada, mas ele realmente quer
que entendamos que preferimos a moldura ao retrato, porque valorizamos nossa
individualidade, da qual pensamos gostar.

O segundo critério:

(7:1) Em seguida, se escolheres tirar alguma coisa de alguém, não ficarás com nada.

124
Esse é um corolário à nossa familiar quarta lei do caos: “tu tens o que tiraste de outros”
(T-23.II.9:3). Se eu quiser algo que me falta, posso consegui-lo apenas tirando-o de você, o
que significa que você agora está sem ele. Não pode acontecer, então, que essa seja uma
dádiva verdadeira – o reflexo do amor -, que expressa o direito que todos têm de terem tudo.
Sob as leis do especialismo, no entanto, quando eu consigo o tesouro necessário, isso significa
que é apenas o meu direito, mais um fragmento sombrio da nulidade do ego. Assim, não é uma
dádiva compartilhada por todos, tornando-a sem valor, pois não é baseada no Amor total de
Deus.

(7:2) Isso porque ao negares o seu direito a todas as coisas, negaste o teu próprio.

Se eu acreditar que tenho algo que você não tem, nossa diferença torna o sistema de
pensamento de separação do ego vivo e bem em nossas mentes. Tal negação da verdade da
nossa unicidade inerente nega tudo e não afirma nada.

(7:3) Portanto, não reconhecerás as coisas que realmente tens, negando que elas
existam.

As coisas que eu realmente tenho são as dádivas que Deus me deu, refletidas no meu
sonho como perdão, paz e cura. Nada disso é possível, no entanto, a menos que seja
compartilhado por todos:

Aos teus olhos cansados eu trago a visão de um mundo diferente, tão novo, tão limpo
e fresco, que esquecerás a dor e a tristeza que viste antes. Entretanto, essa é uma
visão que tens que compartilhar com todas as pessoas que vês, pois de outro modo,
não a contemplarás. Dar essa dádiva é a forma de fazê-la tua. E Deus determinou,
em benignidade amorosa, que ela fosse tua (T-31.VIII.8:4-7).

(7:4-5) Aquele que busca tirar foi enganado pela ilusão de que a perda pode oferecer o
ganho. Mas a perda não pode deixar de oferecer perda, e nada mais.

Assim, eu tenho isso e você não; eu ganho e você perde. Agora, eu aprendo que perdi
também, pois o que é valioso não pode encerrar perda para ninguém. Se existe perda,
portanto, ela precisa ser sem valor. O Amor de Deus é dado a todos os Seus Filhos em igual
medida, e é impossível que um tenha mais ou menos:

Quando a Expiação tiver sido completada, todos os talentos serão compartilhados


por todos os Filhos de Deus. Deus não é parcial. Todas as Suas crianças têm Seu
Amor total e todas as Suas dádivas são dadas livremente a todas por igual... O
especialismo dos Filhos de Deus não brota da exclusão, mas da inclusão. Todos os
meus irmãos são especiais. Se acreditam que são privados de alguma coisa, sua
percepção vem a ser distorcida. Quando isso ocorre, toda a família de Deus, ou a
Filiação, tem seus relacionamentos prejudicados (T-1.V.3:1-3,5-8).

No entanto, se eu acreditar em perda e escassez, esse pensamento, nascido da idéia de


que eu existo por roubar de Deus, significa que a perda do Céu se tornou o meu ganho.

O terceiro critério:

(8:1-4) A tua próxima consideração é aquela em que se baseiam as outras. Por que a
escolha que fazes tem valor para ti? O que atrai a tua mente para ela? A que propósito
ela serve?

125
O propósito subjacente do ego é preservar minha individualidade, a motivação para ter
escolhido o ego em primeiro lugar. Buscar coisas nesse mundo prova que eu existo. Além
disso, minhas necessidades demonstram que existe realmente um eu separado, e eu sou
atraído ao princípio para que esse ser continue; alguém tem que ser tornado responsável pelo
meu estado separado. Portanto, a quarta e a quinta leis do caos vêm para o resgate (T-23.II.8-
12). Se me falta algo que você tem, é porque você o tirou de mim. Isso o estabelece como o
pecador e eu como a vítima inocente. Meu estado de falta é a prova de que você pegou o que
eu precisava, dessa forma, me privando dele. Assim, venho ao mundo valorizando o que vai
provar minha impecabilidade, atraído pela culpa de outro e vivendo para cumprir o propósito de
manter minha inocência à custa de outra pessoa.

(8:5-7) É aqui que se é mais facilmente enganado. Pois o ego falha em reconhecer o que
quer. Ele nem diz a verdade tal como a percebe, pois precisa manter a auréola que usa
para proteger as suas metas, não deixando que fiquem manchadas e enferrujadas para
que possas ver o quanto ele é “inocente”.

Isso me lembra de como os políticos mentem para nós. Eles dizem que sua meta é ajudar
o país e melhorar nossas vidas, mas sua meta, dificilmente um segredo, é serem eleitos. Eles
querem que suas necessidades especiais sejam atendidas: fama, poder, riqueza. O
interessante é que todos nós estamos cientes disso, mas a maior parte do tempo, nos
permitimos ser enganados. Nós realmente pensamos, de forma bem ingênua, que existe uma
diferença entre os dois candidatos, ou entre os dez candidatos. No entanto, todos eles querem
a mesma coisa: a glorificação do seu especialismo. O que realmente acontece, refletido acima,
é que eles se tornam tão bons em sua encenação que acabam acreditando nela eles mesmos;
tornam-se tão envolvidos com sua auréola auto-criada que se esquecem do que a auréola
esconde. Da mesma forma, estamos tão interessados no brilho de especialismo da moldura,
que perdemos a consciência do retrato em si: culpa e morte – o retrato do nada. A perpetuação
dessa culpa é o objetivo secreto do ego, pois isso prova que a separação está viva e bem.
Essa meta é protegida pela face da inocência, a auréola de ódio que nos rodeia com “luz”,
mesmo enquanto amortalha o mundo na escuridão da nossa culpa.

(9:1) No entanto, a sua camuflagem é um verniz fino que só pode enganar àqueles que
se contentam em ser enganados.

Portanto, quando somos enganados por um político, amigo ou negociante, só pode ser
porque queremos ser enganados, e estamos contentes por ser assim. Por quê? Porque seus
objetivos secretos são os nossos objetivos secretos também. Todos nós queremos que nosso
especialismo seja glorificado e nossa individualidade firmemente estabelecida. Assim, estamos
contentes, por escolha, por sermos atraídos pela moldura, cobiçada para ocultar o retrato de
culpa do ego; sua meta secreta que reforça nossa individualidade e o pensamento de que
destruímos Deus e o amor. Ninguém quer reconhecer esses pensamentos, e então, vamos nos
permitir ser seduzidos pelo mundo, assim como nós o seduzimos.

(9:2) As suas metas são óbvias para qualquer um que se dê ao trabalho de procurá-las.
O propósito do Curso é que aprendamos sobre essas metas secretas. Jesus nos ensina
como nunca deixamos de ser enganados pelo que é sem valor no mundo. Não importando
quantas vezes estudemos esse curso e memorizemos suas passagens, ainda seremos
atraídos pelo brilho do externo: não queremos aprender o que iria nos ensinar o oposto exato
de tudo o que nossos egos querem que aprendamos. Em outras palavras, Um Curso em
Milagres ameaça a individualidade e o especialismo que constitui nossa existência. Não vemos
o que ele está ensinando, escolhendo procurar nossa salvação em outro lugar.

126
(9:3-4) Aqui, o engano é duplo, pois aquele que é enganado não perceberá que apenas
falhou em ganhar. Ele acreditará que serviu às metas ocultas do ego.

Em outras palavras, nós experimentamos a perda e o desapontamento no mundo


enquanto acreditarmos estar aqui. No entanto, nós não reconhecemos que o ego estabeleceu
nossas situações para que falhassem, culpando outros por nosso sofrimento. Esse é o seu
propósito oculto, que nós alegremente cumprimos por manter a culpa no lugar. O fato de que
eu estou desanimado, desencorajado e deprimido é a prova de que eu existo, o que significa
que alcancei as metas do ego, servindo a elas com sucesso enquanto mantenho minha
identidade especial. Eu alegremente sofro o desapontamento de valorizar o que não tem valor
porque isso assegura minha existência separada, e prova que estou certo e Deus errado. É
buscando o sem valor que eu demonstro que não sou responsável, pois o mundo é visto como
me negando a felicidade e a paz que eu mereço; e.g., essa pessoa me trata mal ou abusa de
mim, coisa sem a qual eu seria feliz. Em outras palavras, existe sempre algo ou alguém me
causando sofrimento e transtorno, me capacitando a usar a face da inocência que diz que os
outros são pecadores culpados, mas não eu.

(10:1) Mas, embora ele tente manter a auréola do ego com clareza na própria visão, não
pode deixar de perceber as suas bordas manchadas e o seu núcleo enferrujado.

Existe algo em nós que sabe que nossa vida de ódio e amor especial é uma fraude,
porque a culpa nunca vai embora. Em outras palavras, a face de inocência não funciona
realmente, pois uma parte de nós está ciente das suas “bordas manchadas e o seu núcleo
enferrujado”. A culpa, portanto, permanece em nossas mentes, e gera com sucesso a
necessidade de especialismo para que não tenhamos que ver que o problema é o nosso
próprio.

(10:2) Os seus equívocos sem efeito lhe parecerão pecados, pois olha para essa mancha
como se fosse sua, e para a ferrugem como um sinal de uma profunda falta de valor
dentro de si mesmo.

Isso descreve sua culpa. Você tenta estar em paz, buscar a felicidade no mundo e tenta
tornar o que é sem valor valioso. No entanto, a busca é fútil, e o ego atribui seu fracasso à sua
pecaminosidade. Você se sente terrível, não porque não consegue o que queria, mas porque é
lembrado da crença ontológica de que matou Deus para conseguir o que queria. No entanto,
você nunca vai encontrar paz, segurança, e alegria porque olha para o lugar errado. A culpa
lança sua feia sombra de fracasso e falta de valor, não importando o quão desesperadamente
você tente polir a moldura e manter o alo brilhante.

(10:3-4) Aquele que ainda preserva as metas do ego e as serve como suas, não comete
equívocos segundo os ditames do seu guia. Esse guia ensina que é um erro acreditar
que pecados não passam de equívocos, pois quem sofreria pelos seus pecados se
assim fosse?

O ego diz que sua dor e miséria provam que você pecou, porque o pecado exige punição:
se você fosse sem pecado, não iria sofrer. Uma variação dessa idéia é encontrada na terceira
lei do caos do ego, onde Deus é compelido a acreditar no pecado do Seu Filho, porque o Filho
disse a Ele que isso é assim:

A arrogância em que se baseiam as leis do caos não pode ser mais evidente do que
aqui. Aqui está um princípio que pretende definir o que o Criador da realidade tem
que ser, o que Ele tem que responder acreditando nisso. Nem mesmo se considera
necessário perguntar-Lhe acerca da verdade do que foi estabelecido para que Ele
127
creia. Seu Filho pode dizer-lhe e Ele não tem senão a escolha de aceitar a sua
palavra ou estar equivocado... Ele tem que aceitar a crença do Seu Filho acerca do
que ele é e odiá-lo por isso (T-23.II.6:1-4,6).

Assim, o pecado é tornado real e além da correção.


Essa é uma variação do famoso argumento do John Calvin de que você pode reconhecer
a elite – aqueles que Deus ama e, portanto, iria salvar – por suas vidas prósperas e felizes.
Suas famílias não ficariam seriamente doentes, não haveria crises ou dificuldades financeiras,
e tudo iria funcionar. Para Calvin, esses seriam os critérios para identificar a ausência de
pecado e saber que Deus amava você, enquanto o sofrimento demonstrava sua
pecaminosidade.

(11:1) E assim, vimos ao critério de escolha mais difícil de se acreditar, pois a sua
evidencia está encoberta por muitos níveis de obscuridade.

Esses níveis de obscuridade são as molduras dos retratos do especialismo; nossas


tentativas de vermos no mundo do lado de fora o que não queremos reconhecer que está
dentro de nós.

O quarto critério:

(11:2-3) Se sentes qualquer culpa pela tua escolha, permitiste que as metas do ego se
interpusessem entre as alternativas reais. E, assim, não reconheces que só há duas e a
alternativa que pensas ter escolhido te parece amedrontadora e por demais perigosa
para ser o nada que, de fato, é.

A culpa é o critério final para distinguir o que é valioso do que não é. Sua presença prova
que você escolheu o sem valor, pois se você valorizar qualquer coisa nesse mundo como uma
fonte de felicidade, paz, ou amor, vai se sentir culpado. Jesus precisa que percebamos o
quanto realmente somos culpados, e que a culpa é a fonte de toda miséria. Nós encobrimos
nossa culpa com camadas de obscuridade para negar sua presença em nossas mentes, dessa
forma protegendo nosso pecado secreto. Assim, sempre que buscamos algo aqui como uma
fonte de alegria, reencenamos o momento original em que pecaminosamente escolhemos a
individualidade do ego contra o Amor de Deus; dizendo, com efeito: “O Amor de Deus não é
suficiente. Quero meu especialismo em vez disso, e em vez de ser uma parte da criação de
Deus, quero ser a Primeira Causa que se senta no trono da criação como o criador”.
Em outras palavras, todos nós, como um Filho, demos as costas a Deus e escolhemos o
ego. Aquele instante de insanidade é recordado sempre que buscamos o especialismo. A
mensagem aqui, mais uma vez, não é que nós deveríamos nos sentir culpados quando
buscamos o que é sem valor, mas que deveríamos reconhecer o que estamos fazendo. Se não
entendermos que nossa miséria vem da culpa adormecida, não vamos nos sentir motivados a
mudar nossas mentes. Pelo fato de encobrirmos nossa culpa, Jesus nos conta sobre o plano
do Espírito Santo para desencobrir nossa miséria, para que possamos reconhecer sua causa:

O Espírito Santo precisa de um aprendiz feliz, em quem a Sua missão possa ser
realizada com felicidade. Tu, que és firmemente devotado à miséria precisas, em
primeiro lugar, reconhecer que és miserável e não és feliz. O Espírito Santo não
pode ensinar sem esse contraste, pois acreditas que a miséria é felicidade. Isso te
confundiu a tal ponto... tu não reconheces que o fundamento do qual depende essa
meta... não significa absolutamente nada... tem fé no nada e acharás o “tesouro” que
buscas... Acreditarás que o nada tem valor e valoriza-lo-ás. Um pedacinho de vidro,
um montinho de poeira, um corpo ou uma guerra são um só para ti. Pois se valorizas

128
algo feito do nada, acreditas que o nada pode ser precioso e que podes aprender a
fazer com que o falso seja verdadeiro (T-14.II.1:1-5,7,9-11).

Reconhecer nossa miséria nos permite ser ensinados sobre a nulidade da nossa culpa
valorizada. Assim, escolhemos a verdade do mundo que é a única coisa que tem valor: o
perdão que nos leva da ilusão do medo para a realidade do amor.
Jesus leva a lição a um encerramento por resumir:

(12:1-3) Todas as coisas têm ou não valor, são ou não são dignas de serem buscadas
seja como for; são inteiramente desejáveis ou não valem o menor esforço para obtê-las.
Escolher é fácil só por causa disso. A complexidade nada mais é do que um véu de
fumaça que esconde o fato muito simples de que nenhuma decisão pode ser difícil.

O universo físico, para não mencionar o corpo individual, é incrivelmente complicado por
definição: para ocultar a simples escolha que nossas mentes fizeram. Nós escolhemos errado
uma vez, e antes de podermos mudar nossas mentes, o ego fez um mundo complexo, nos
levando a esquecer de que havia uma escolha, esquecendo até mesmo o retrato errado que
escolhemos. Nós, em vez disso, nos identificamos com a moldura – o corpo do nosso
especialismo – que impediu o reconhecimento da escolha da mente entre a verdade e a ilusão,
o valioso e o sem valor, e tornando o retorno à mente quase impossível. Lembre-se dessa
passagem do texto, detalhando como as nuvens de complicação do ego obscurecem a
simplicidade da resposta:

Como poderia existir uma outra forma de se resolver um problema que é muito
simples, mas foi obscurecido por escuras nuvens de complicação feitas para manter
o problema sem solução? Sem as nuvens, o problema emergirá em toda a sua
simplicidade primitiva. A escolha não será difícil, porque é absurdo quando visto com
clareza (T-27.VII.2:3-5).

(12:4-5) O que ganhas aprendendo isso? Muito mais do que apenas te permitires fazer
tuas escolhas com facilidade e sem dor.

O ganho real é nosso retorno ao Céu. Uma vez que percebermos que essa decisão
contém nossa felicidade, a escolha por Deus é inevitável, pois quem poderia escolher contra a
alegria?
Jesus volta ao tema importante de alcançar Deus por escolher contra o ego:

(13:1) O próprio Céu é alcançado com mãos vazias e mentes abertas, que vêm sem nada
para tudo achar, reivindicando tudo como seu.

Essa declaração antecipa uma adorável passagem na Lição 189: a maneira de atingirmos
o Céu é esvaziarmos nossas mentes de todos os pensamentos egóicos; desfazendo o que é
negativo (LE-pI.189.7). Lembre-se de que Um Curso em Milagres não se focaliza no positivo, o
Amor de Deus, mas em vez disso, em liberar as interferências à lembrança desse Amor. Nós
abandonamos o sistema de pensamento do ego, ao qual nos agarramos tanto, e nossas mãos
vazias ficaram livres para receberem a dádiva do Céu.

(13:2) Hoje tentaremos alcançar esse estado, deixando o auto-engano de lado, com uma
honesta disponibilidade para só dar valor ao que é verdadeiramente valioso e real.

Nós somos solicitados a praticarmos a auto-honestidade, deixando de lado a auto-ilusão


de que queremos voltar para casa, pois continuamente valorizamos o que é sem valor:
individualidade, especialismo e julgamento. Observe a si mesmo conforme atravessa o dia,
129
vendo como o ego tenta estabelecer sua sabedoria em julgar o que é melhor, e como ele tenta
provar que você não pode confiar em ninguém, pois as pessoas estão sempre falhando com
você. Uma vez que nada funciona direito, nossos julgamentos sobre os outros e o mundo são
justificados.
Para repetir, observe como você busca o que é sem valor, em oposição ao que é valioso,
a honesta disponibilidade de que Jesus fala. Praticar essa honestidade significa pedir a ele
para ser nosso guia através do dia. Você vai saber que escolheu contra ele quando ficar
zangado, culpado, deprimido, e julgador. Você vai saber que o escolheu quando liberar esses
pensamentos egóicos.

(13:3-4) Os nossos dois períodos de prática prolongados, de quinze minutos cada um,
começam com isso:

Não darei valor àquilo que não tem valor, e só busco


o que tem valor pois é só isso que desejo achar.

Antes de articularmos essa declaração e dizê-la com real significado, precisamos primeiro
reconhecer como não o fazemos. Precisamos examinar nossas mentes o dia todo – nossa
disponibilidade honesta – para como buscamos continuamente o que não tem valor. Qualquer
coisa envolvendo um julgamento contra os outros, ou até uma sugestão de especialismo, é
inerentemente sem valor. Portanto, pedir ajuda a Jesus para olhar para tudo de forma diferente
nos permite mudar do sem valor para o valioso. Tendo pedido ajuda para buscar o que tem
valor verdadeiro, nós temos a garantia de encontrá-lo.

(14) E então recebe aquilo que espera por todo aquele que alcança, sem cargas, a porta
do Céu que se abre à medida que ele vem. Se começares a te permitir colecionar alguns
fardos inúteis, ou acreditar que vês algumas decisões difíceis à tua frente, sê rápido em
responder com esse simples pensamento:

Não darei valor àquilo que não tem valor, pois


o que tem valor pertence a mim.

Você pode se recordar dessa declaração anterior, do texto:

Tu não tens idéia da tremenda liberação e paz profunda que vêm de encontrar a ti
mesmo e a teus irmãos totalmente sem julgamento (T-3.VI.3:1).

Julgamentos são as cargas desnecessárias às quais Jesus se refere. Quando você


começar a fazer julgamentos sobre si mesmo e os outros, pare tão rapidamente quanto puder e
pergunte se você realmente quer as conseqüências de tais pensamentos sem valor. Decisões
difíceis, também, resultam de termos valorizado o que é sem valor, no entanto, nenhuma
decisão pode ser difícil aqui porque não existe “aqui”. A única decisão verdadeira é a escolha
da mente entre o ego e Jesus. O que poderia ser mais simples? Escolher Jesus libera o
investimento do ego em estar certo, e, quando você volta sua atenção à decisão no nível da
forma, automaticamente vai saber a coisa mais amorosa a se fazer.
Nós certamente precisamos tomar decisões enquanto estamos no corpo, mas nossos
professores amorosos as tornam sem esforço, pois elas gentilmente seguem da decisão da
mente certa. Portanto, quando tais decisões são problemáticas, e a ansiedade, depressão e
culpa as rodeiam, você sabe que escolheu o professor errado. O pedido de Jesus é simples
nesse ponto: solte a mão do ego e segure a minha. A dificuldade se segue apenas quando
você resiste ao seu simples pedido. Esse é o seu sinal de que você mais uma vez viu o mundo
como sem valor ou com valor, útil ou prejudicial – uma percepção realmente sem valor!
Reconhecendo a necessidade de voltar para a mente, você se lembra de que só o que tem
130
valor nesse mundo é aprender a escolher Jesus como seu professor e guia – perdoar em vez
de condenar -, uma escolha que você agora alegremente faz.

LIÇÃO 134

Que eu perceba o perdão tal como é.

Tenho falado ocasionalmente sobre a natureza sinfônica do texto, no qual Jesus introduz,
reintroduz, e desenvolve seus temas da salvação. O mesmo pode ser dito sobre o livro de
exercícios. Com certeza, sua estrutura difere do texto, mas, conforme você lê as lições, pode
reconhecer sua organização sinfônica: temas introduzidos, discutidos, descartados, e depois
131
trazidos de volta para serem desenvolvidos ainda mais profundamente. Essas próximas três
lições ilustram essa estrutura, pois são centradas em um tema que vimos nas Lições de 68 a
72: o plano do ego para a salvação. Esse plano, citado no texto como o plano de perdão do
ego, consiste de agarrar-se às mágoas.
Como uma introdução à Lição 134, deixem-me revisar esse plano engenhoso. A
estratégia do ego pede que tornemos real o pensamento de pecado da mente, e depois nos
convençamos de que nossa culpa é tão horrível que nunca poderá ser vista, para que o terror
não exploda em nossos corações. Em outras palavras, o pecado leva à culpa, que por seu lado
exige punição. O ego, portanto, estabelece a “realidade” dolorosa do pecado, e nos diz que se
nós permanecermos dentro da mente e confrontarmos sua culpa, vamos cair direto na fúria de
um Deus furioso, determinado em nos destruir, recuperando a vida que roubamos Dele. O ego
nos aconselha que a única maneira de podermos ser salvos do nosso pecado é negar sua
presença e projetá-lo, fazendo-nos acreditar que ele agora existe em um corpo; quer seja o
corpo de outra pessoa ou o nosso próprio é irrelevante do ponto de vista do ego, enquanto o
pecado é percebido fora da mente; a definição do ataque. Incidentalmente, quando projetamos
o pecado em nossos próprios corpos, chamamos o ataque de doença, o tema de Lição 136, “A
doença é uma defesa contra a verdade” (LE-pI.136).
A Lição 134 começa com uma discussão do plano do ego de ver o pecado como real,
mas em outra pessoa. No panfleto A Canção da Oração, Jesus chama essa dinâmica de
ataque justificado de perdão-para-destruir (C-2.II), como o leitor pode se recordar.

(1) Revisemos agora o significado do “perdão”, pois esse pode ser distorcido e
percebido como algo que implica o sacrifício indevido de uma ira justa, uma dádiva
injustificada e imerecida e a negação completa da verdade. Sob esse ponto de vista, o
perdão tem que ser visto como uma mera loucura excêntrica e esse curso parece basear
a salvação num capricho.

Nós começamos com nossa miserável pecaminosidade, acreditando que existimos à


custa de Deus. Como já expliquei, o pecado que merece a culpa não é realmente o
assassinato de Deus e a crucificação do Seu Filho, mas nosso próprio egoísmo interesseiro,
que assume tais proporções monstruosas que acabamos dizendo: “Eu quero que minha
individualidade e necessidades especiais sejam atendidas, e não me importo com o custo.
Mesmo que isso implique em destruir um outro – ou até mesmo um Outro! -, eu alegremente
faço isso para existir. O sacrifício do amor é um preço pequeno na verdade, para se pagar pela
sobrevivência do meu ser especial”.
Esse é o pecado que nós negamos, e projetando-o para fora, dizemos afirmamos que
está em outra pessoa. Se isso for verdade, como a percepção certamente testemunha, eu sou
inocente e os outros merecem julgamento. Assim, nós dizemos aos nossos relacionamentos
especiais: “Você, o objeto da minha ira justificada e íntegra, merece ser punido”. Para
enobrecer a mim mesmo ainda mais e reforçar minha inocência auto-proclamada, assumo um
manto de espiritualidade, afirmando que, apesar do pecado, na bondade do meu coração
misericordioso, eu ofereço perdão e absolvição. Assim, minha ira justificada é sacrificada para
servir a uma verdade espiritual “mais elevada”. Esse, então, é o perdão-para-destruir: eu
perdôo você, ainda que seus pecados não mereçam isso. Eles, portanto, não são perdoados,
mas condenados. Como Jesus explica:

Enquanto o consideras como uma dádiva que não é devida, ele não pode deixar de
sustentar a culpa que queres “perdoar”. O perdão não justificado é ataque. E isso é
tudo o que o mundo jamais poderá dar. Ele perdoa os “pecadores” algumas vezes,
mas permanece consciente de que pecaram. E assim eles não merecem o perdão
que ele lhes dá.
Esse é o falso perdão que o mundo emprega para manter vivo o senso de pecado
(T-30.VI.3:4-4:1).
132
Em A Canção da Oração, Jesus afirma o mesmo ponto, mas ainda mais fortemente:

Nenhuma dádiva do Céu foi mais mal interpretada do que o perdão. Ele, de fato,
virou um flagelo, uma praga onde deveria abençoar, uma zombaria cruel da graça,
uma paródia da paz santa de Deus... A benignidade do perdão é obscurecida a
princípio porque a salvação não é compreendida nem verdadeiramente buscada. O
que deveria curar é usado para ferir porque o perdão não é querido. A culpa passa a
ser salvação e o remédio para ela parece ser uma alternativa terrível para a vida (C-
2.I.1:1-2,4-6).

Antes de podermos aprender o significado do verdadeiro perdão, precisamos primeiro


entender a versão distorcida do ego, que é o motivo pelo qual a lição começou como começou.
Jesus continua agora com sua mensagem de perdão, a benção do Espírito Santo que substitui
a maldição do ego:

(2:1-3) Essa perspectiva distorcida do que significa o perdão é facilmente corrigida


quando podes aceitar o fato de que o perdão não é pedido para o que é verdadeiro. Ele
tem que se limitar ao que é falso. É irrelevante em relação a tudo, exceto ilusões.

A palavra pardon (perdão) aparece com pouca freqüência no Um Curso em Milagres, e é


um sinônimo de forgiveness (perdão). Seu uso freqüentemente é determinado pela métrica:
pardon tem duas sílabas, e forgiveness três. Idênticas em significado, as palavras, portanto,
são usadas de forma intercambiável.
No perdão-para-destruir, eu perdôo o que acredito ser verdadeiro: seu pecado. Eu sei que
você é o pecador porque eu existo. Minha existência como um indivíduo único e separado foi
pecaminosamente alcançada à custa de Deus, uma vez que a individualidade e a Unicidade
não podem coexistir. Portanto, destruí Deus para que eu pudesse viver, e minha existência
prova que a perfeita Unicidade é uma mentira. O próprio fato de eu pensar estar aqui, portanto,
existindo em um corpo com uma personalidade, significa que não apenas eu sou um individuo,
mas um pecador cujo pecado é palpavelmente real, assim como meu corpo percebido.
A defesa do ego contra a culpa que inevitavelmente se segue à minha crença no pecado
é uma projeção: o pecado não está em mim, mas em você. Essa é a verdade do ego, para não
ser negada. No entanto, somos ensinados nessa lição, e em outros lugares também, que não
podemos perdoar um pecado que acreditamos ter realmente ocorrido (e.g., T-27.II.1-5; T-
30.Vi.1-4), mas o pecado que vemos como um pensamento equivocado de percepção, o
produto de uma escolha equivocada pela separação – tudo o que é perdoado pela correção do
erro na mente. Nós falamos aqui, a propósito, apenas de um erro que julgamos merecedor de
condenação. Todos nesse mundo fazem coisas a partir do sistema de pensamento da mente
errada. De fato, simplesmente respirar é um produto do sistema de pensamento original de
separação e necessidade. O ponto não é que deveríamos nos sentir culpados por respirarmos,
mas que olhemos para o equívoco de condenarmos outra pessoa pelo que julgamos ser
pecaminoso.
Ver o pecado como uma ilusão significa que ele não tem efeitos. Quando acreditamos que
fomos feridos pelos outros, e demonstramos nossas feridas como prova dos seus pecados de
insensibilidade, negamos o amor, etc., dizemos a eles que seus pecados tiveram um efeito, e
que são, portanto, reais. O verdadeiro perdão, assim, é impossível, e o ego se regozija mais
uma vez em triunfo. Jesus descreve essa dinâmica de ataque na forma de doença, designada
a provar a culpa de outra pessoa, e, assim, não merecedora de perdão:

Tu, doente e sofredor, representa apenas a culpa do teu irmão; o testemunho que
envias para que não seja possível ele esquecer os males que te infligiu, dos quais
juras que ele nunca escapará. Esse retrato doente e triste tu aceita, se apenas servir
133
para puni-lo. Os doentes não têm misericórdia para com ninguém e buscam matar
por contágio. A morte lhes parece um preço fácil a ser pago, se eles puderem dizer:
“Contempla-me, irmão, em tuas mãos eu morro”. Pois a doença é o testemunho da
sua culpa e a morte quer provar que os seus erros não podem deixar de ser
pecados... O retrato amargo e desolado que enviaste ao teu irmão, tu contemplas
com amargura. E tudo o que ele mostrou ao teu irmão tu acreditaste, porque
testemunhou a culpa nele que percebeste e amaste (T-27.I.4:3-7,10-11).

(2:4) A verdade é a criação de Deus e perdoá-la nada significa.

Isso é assim porque você perdoa uma ilusão ou um equívoco, e não existem equívocos
no Céu. O amor não precisa ser perdoado, apenas aceito, pois é a rejeição do amor que o ego
julga alegremente como pecaminosa. Quando você recusa amor, empurra Jesus para longe,
ou constrói uma cobertura contra alguém, seu ego pula para frente e grita “pecado!”. Então
vem a culpa, que você nega por projetá-la em outra pessoa, atacando ainda mais. No entanto,
empurrar o amor para longe não é um pecado, mas apenas o louco resultado do medo de
perder sua individualidade e especialismo. Mais uma vez, não é um pecado que merece ser
punido, mas um equívoco que precisa de correção.

(2:5-7) Toda a verdade pertence a Ele, reflete as Suas leis e irradia o Seu Amor. E isso
precisa de perdão? Como podes perdoar àqueles que não têm pecado e que são
eternamente benignos?

O reflexo das leis de Deus nesse mundo é o perdão, que reconhece que ilusões não são
a realidade e, portanto, só elas precisam ser perdoadas. Deus e Cristo não precisam, nem
nossos irmãos como são na verdade, pois perdoamos apenas a projeção do nosso pecado em
outra pessoa. Assim, não é a outra pessoa que precisa de perdão, mas nós mesmos, por
projetarmos nosso desejo equivocado de que o pecado seja real. Jesus nos pede para
olharmos para nossos irmãos através dos seus olhos, aprendendo que nossos equívocos não
tiveram efeitos no impecável e eternamente benigno Filho de Deus:

O Filho de Deus é perfeito, ou ele não pode ser o Filho de Deus. Tampouco o
conhecerás, se pensas que ele não merece escapar da culpa em todas as suas
conseqüências e suas formas. Não existe nenhum outro modo de pensar nele a não
ser esse, se quiseres conhecer a verdade sobre ti mesmo.

Pai, eu Te dou graças pelo Teu Filho


perfeito e, na sua glória, eu verei a minha.

Eis aqui a alegre declaração de que não existem formas de mal que possam
prevalecer sobre a Vontade de Deus; o feliz reconhecimento de que a culpa não
teve sucesso no teu desejo de fazer com que as ilusões fossem reais. E o que é isso
senão uma simples declaração da verdade? (T-30.VI.9).
(3:1) A tua principal dificuldade em achar um perdão genuíno da tua parte é que ainda
acreditas ter que perdoar a verdade e não ilusões.

Em outras palavras, eu perdôo o que você não fez. Mais uma vez, não estamos nos
referindo a comportamento. Lembre-se de que Um Curso em Milagres ensina que a percepção
não é objetiva, pois eu olho para você através dos olhos ou do ego ou de Jesus. Se for com o
ego, tenho que atacar, porque isso é tudo o que o ego faz. Se for com Jesus, no entanto,
entendo que o que ataco em você é uma projeção do que não quero ver em mim mesmo –
uma ilusão, tanto quanto o que vejo em você. Tem que ser assim, uma vez que idéias não

134
deixam sua fonte; seus pecados são os meus; os meus são os seus. E, portanto, perdôo uma
ilusão, por trás da qual está oculta a verdade imutável do Filho de Deus:

Não te esqueças, então, de que os ídolos têm que manter oculto o que tu és, não da
Mente de Deus, mas da tua própria (T-30.III.11:8).

(3:2) Concebes o perdão como uma vã tentativa de passar por cima do que existe,
ignorar a verdade num esforço injustificado de enganar-te fazendo com que uma ilusão
seja verdadeira.

De forma importante, Jesus não está dizendo que deveríamos negar o que nossos olhos
vêem. Nesse mundo, as pessoas fazem coisas irracionais, porque, estar no mundo é uma
coisa irracional. Lembre-se de que Jesus está falando sobre interpretação. Nossa interpretação
– o que acreditamos ser fato – é a de que as pessoas são más pelo que fazem, e nós
demonstramos seu pecado através do nosso ser ferido. Essa interpretação precisa ser
modificada, não o que nossos olhos físicos contemplam. Assim, voltamos à questão central:
Qual professor vamos escolher para nos instruir a perceber o mundo?

(3:3) Esse ponto-de-vista distorcido reflete apenas o domínio que a idéia do pecado
ainda tem sobre a tua mente, do modo como tu te consideras.

Esse não é o ser com o qual nos identificamos como um corpo ou personalidade. Jesus
fala apenas sobre o que o tomador de decisões tornou real na mente: eu sou um pecador
miserável, culpado de destruir o Amor do Céu e crucificar Cristo, e mereço punição. O plano do
meu ego para escapar dessa carga terrível é apontar alguém ao meu lado como o pecador.
Como uma lição posterior do livro de exercícios diz: “Assim, o específico foi feito” (LE-
pI.161.3:1). Nós fizemos um mundo de especificidade que enchemos de pessoas que iriam se
tornar nossos bodes expiatórios – para que vejamos o pecado nelas e não em nós mesmos.
No entanto, o que vemos reflete para nós o que não queremos ver, mas já tornamos real em
nossas mentes.

(4:1) Por acreditares que os teus pecados são reais, olhas para o perdão como um
engano.

Perdoar você é parte do plano do ego para negar minha pecaminosidade, vê-la em você,
mas ignorá-la, e assumir o manto santo da espiritualidade. Em meu estado de “santidade
avançada”, eu perdôo e até amo, não importando o quanto você tenha agido mal em relação a
mim (ou a outros com os quais me identifico). Essa abordagem significa que nós secretamente
queremos que as pessoas se comportem de forma abusiva, que nos traiam e rejeitem, para
que possamos adotar essa postura mais-santo-do-que-ti, nos elevarmos acima da nossa
miséria e olharmos para baixo, para os pecadores, dizendo: “Você é uma pessoa miserável,
mas com o amor de Jesus em meu coração, eu o perdôo”. Assim, somos aparentemente
perdoados e os outros condenados, embora na superfície, isso se pareça com perdão.

(4:2-3) Pois é impossível pensar que o pecado é verdadeiro e não acreditar que o perdão
é uma mentira. Assim realmente o perdão não passa de um pecado, como todo o resto.

O perdão nesse sentido é um subterfúgio, outra forma de atacar, no entanto parecendo


que é amoroso. É por isso que o perdão-para-destruir é um termo tão descritivo; não
particularmente bonito, mas expressando bem o propósito oculto do ego: Deus vai destruir
você, o pecador que roubou Dele, e eu sou perdoado; portanto, eu vou para o Céu, e você para
o inferno. Em palavras que já vimos, Jesus pinta um retrato cauterizante dos nossos motivos
secretos em relação àquele que acusamos de pecado:
135
Seguras um retrato da tua crucificação diante dos seus olhos de tal modo que ele
possa ver que os seus pecados estão escritos no Céu, com o teu sangue e a tua
morte e vão à frente dele, fechando a porta e condenando-o ao inferno. No entanto,
isso está escrito no inferno e não no Céu, onde estás além do ataque e comprovas a
sua inocência (T-27.I.3:2-3).

(4:4-6) Ele [o “perdão-para-destruir”] diz que a verdade é falsa e sorri para os corruptos
como se fossem tão irrepreensíveis quanto a grama, tão brancos quanto a neve. Ele é
delusório naquilo que pensa poder realizar. Ele quer ver o que é claramente errado como
certo, o desprezível como bom.

Outra forma assumida pelo perdão-para-destruir é ser “abençoadófilo”, o estado de ver o


mundo como maravilhoso, repleto de pessoas boas, fazendo coisas boas. Com certeza, esse
estado afirma, todos fazem algo errado de vez em quando, mas existe tanto amor e
espiritualidade aqui, uma presença palpável de Deus, que tudo é uma parte miraculosa, ainda
que inescrutável, do plano do nosso Criador. A verdade, no entanto, é que não há nada
maravilhoso aqui. No Céu sim, mas o que pode ser maravilhoso sobre a crença de que
destruímos Deus, fugimos de casa, e nunca vamos achar o caminho de volta? E mesmo que
pudéssemos, o céu estaria perdido, ou pelo menos, nosso retorno estaria barrado.
Jesus, então, descreve um dos estratagemas mais sutis do ego para defender nossa
crença real e secreta no pecado, por pintar suas projeções com uma face feliz e inocente –
quer seja alguém cometendo um crime hediondo contra nós que vamos ignorar, ou
simplesmente o mundo em si mesmo. É essencial que falemos francamente: “O mundo foi feito
como um ataque a Deus” (LE-pII.3.2:1), e o ataque é a sua natureza. Idéias não deixam sua
fonte, e o pensamento de ataque original de separação nunca pode deixar a mente, apesar da
sua projeção na forma: o mundo permanece para sempre unido à sua fonte, em unidade com o
pensamento de ataque na mente. Portanto, o medo, o ódio e o ataque são características
definidoras desse mundo, enquanto o amor, a paz e a vida eterna definem o Céu – não existe
nada intermediário, nenhuma transigência entre a ilusão e a verdade. O melhor que podemos
fazer aqui – uma grande coisa, no entanto – é desfazer nossa crença na realidade do mundo: o
propósito do perdão.

(5:1-2) Desse ponto de vista, o perdão não é um modo de escapar. É apenas mais um
sinal de que o pecado é imperdoável; na melhor das hipóteses a ser escondido, negado
ou chamado por outro nome, pois o perdão é uma traição à verdade.

Nós tornamos o pecado real, e agora tentamos ignorá-lo ou negá-lo – em nós mesmos,
em outra pessoa, ou no mundo como um todo. Uma vez que a mente errada consiste de
pecado, e idéias não deixam sua fonte, o universo físico, como uma projeção do pecado,
também é um lugar de pecado, assim como o lar do ataque. O que é o pecado além de uma
declaração de que eu existo e Deus foi destruído, honrando meu desejo de individualidade,
especialismo, e preenchimento das minhas necessidades egoístas à custa de outros?
Assim, o pensamento pecaminoso que nós nutrimos dentro de nossas mentes é o
pensamento que governa o mundo. Um Curso em Milagres nos ajuda a dar um passo atrás –
com Jesus guiando nossa visão – e ver. Só então, poderemos sorrir gentilmente e dizer que as
ilusões não são verdadeiras, dessa forma desfazendo o que nunca foi – a essência do perdão.
No entanto, não podemos desfazer o que acreditamos estar aqui se não reconhecermos que
acreditamos que isso está aqui. Experimentar a nós mesmos em um corpo reflete a crença de
que o pecado é real. Sem olharmos para isso, o pecado vai permanecer real para sempre, e o
perdão uma insensatez excêntrica e ameaçadora à verdade.

(5:3-4) A culpa não pode ser perdoada. Se pecas, a tua culpa é eterna.
136
A culpa vai permanecer enquanto você acreditar que o seu pecado é real. Portanto,
enquanto você desejar ser um indivíduo – separado, autônomo e independente -, precisará
acreditar que sua culpa merece punição, e seu pecado está além do perdão.

(5:5) Aqueles que forem perdoados a partir do ponto de vista de que os seus pecados
são reais, são deploravelmente ridicularizados e duplamente condenados; primeiro, por
si mesmos, pelo que pensam terem feito e mais uma vez por aqueles que os perdoam.

Se você tiver feito algo terrível contra mim, vai se sentir culpado. É assim que você é
primeiro escarnecido e condenado. A crença no seu próprio pecado – que o meu sofrimento
atesta – lhe diz que você não merece ser perdoado. Em segundo lugar, se eu protesto que o
amo e o perdôo, o visito na prisão, por exemplo, e lhe digo que criança maravilhosa de Deus
você é, parte de você vai se sentir ainda mais condenada e escarnecida, conforme eu olho de
cima de você de forma condescendente, concedendo em perdoar um pecador tão miserável.
Não pode haver amor nessa prática, na qual...

... uma pessoa “melhor” se digna a rebaixar-se para salvar uma “mais baixa” daquilo
que ela verdadeiramente é. O perdão aqui se baseia numa atitude de graciosa
aristocracia tão distante do amor que a arrogância nunca poderia ser desalojada.
Quem pode perdoar e contudo desprezar? E quem pode dizer a um outro que ele
está mergulhado no pecado e ainda assim percebê-lo como o Filho de Deus? Quem
faz de alguém um escravo para ensinar-lhe o que é a liberdade? Não há união aqui,
apenas tristeza. Não há realmente misericórdia. Isso é morte (C-2.II.2:1-8).

Jesus volta agora ao perdão verdadeiro:

(6) É a irrealidade do pecado que faz com que o perdão seja natural e totalmente são, um
profundo alivio para aqueles que o oferecem e uma bênção serena aonde é recebido. Ele
não favorece ilusões, apenas as recolhe despreocupadamente, com um pequeno sorriso
e as deposita gentilmente aos pés da verdade. E lá elas desaparecem por completo.

Se você ler esse parágrafo cuidadosamente, vai perceber que Jesus está lhe dizendo
para não ser “abençoadófilo”: “Não negue o pecado”, ele nos diz; “olhe para ele”. Reúna as
ilusões e as deposite “aos pés da verdade”. Jesus então articula o princípio básico do seu
curso de trazer a escuridão da ilusão à luz da verdade. Trazendo a ilusão do pecado a ele, nós
nos unimos ao seu riso gentil, o pequeno riso no qual deixamos o instante santo, unidos aos
nossos irmãos junto com ele (T-27.VIII.9:8).
Totalmente implicado aqui está o ato de tomarmos cuidado para não pularmos degraus.
Trazer as ilusões à verdade significa olhar para elas, não jogar os pensamentos equivocados
em um saco, amarrando-os em um pacote que levamos a Jesus, magicamente esperando que
ele então os tire de nós sem termos que lidar com eles nós mesmos. Em vez disso, Jesus nos
impele a examinarmos o ódio, julgamento e egoísmo em nossos corações, como vemos
nessas linhas importantes que já citamos:

Podes perguntar a ti mesmo porque é tão crucial que olhes para o teu ódio e
reconheças toda a sua extensão. Podes também pensar que seria bastante fácil
para o Espírito Santo mostrá-lo a ti e dissipá-lo sem a necessidade de que o
erguesses à tua consciência por ti mesmo (T-13.III.1:1-2).

Nós precisamos fazer nossa parte para permitir que Jesus faça a dele. Quando o
fizermos, essa passagem da lição de hoje vai fazer sentido perfeito para nós, e o processo do

137
perdão vai realmente ser iluminado, acompanhado pelo riso gentil que nos eleva além do
mundo e para o Coração de Deus.

(7:1-2) O perdão é a única coisa que representa a verdade nas ilusões do mundo. Ele vê
a sua nulidade e olha através das milhares de formas nas quais podem aparecer.

Quando você olha para o pecado através dos olhos de Jesus, olha diretamente através
dele para a verdade. Jesus não quer dizer para fingirmos que não existe nada lá, mas que,
conforme você olha com ele para a ilusão do julgamento, vai olhar além dele. Em vez de negar
o que o seu corpo ou o de outra pessoa fez, você muda sua interpretação sobre o corpo, por
mudar de professores; o que parecia ser uma sólida parede de granito – a crença no pecado –
se torna um fino véu que não pode impedir a luz de brilhar além dele, agora claramente vista.
No entanto, você não vai ver se olhar através dos olhos do julgamento. Apenas a visão do
perdão rompe o véu:

A visão ou o julgamento são a tua escolha, mas nunca ambos (T-20.V.4:7).

Em resumo, você olha para seus julgamentos e crença no pecado, percebendo que eles
não são o que você pensava. Suas formas diferentes – aparentemente maiores ou menores –
vão desaparecer em sua própria nulidade, conforme a luz do perdão liberta você.

(7:3) Ele olha a mentira, mas não é enganado.

O perdão e o milagre olham para as mentiras da destruição e devastação, mas não são
enganados por sua realidade aparente:

Um milagre é uma correção. Ele não cria e realmente não muda nada. Apenas olha
para a devastação e lembra à mente que o que ela vê é falso (LE-pII.13.1:1-3).

Qualquer coisa de que eu acuse a mim mesmo ou a você não tem nenhum impacto sobre
o nosso Ser – um em Cristo e no Amor de Deus. No entanto, não posso conhecer Sua
Unicidade até perceber que você e eu também somos um na mente dividida: compartilhando o
sistema de pensamento insano de separação e ataque, e a correção sã do perdão e do
milagre. Um professor mente, outro Professor vê o reflexo da verdade.

(7:4-5) Não atende aos gritos auto-acusadores de pecadores enlouquecidos pela culpa.
Ele olha para eles com olhos serenos e lhes diz apenas: “Meu irmão, o que pensas não é
a verdade”.

Esse tipo de declaração – “Meu irmão, o que pensas não é a verdade” – é encontrado
através de todo o texto, livro de exercícios e manual, em formas diferentes. É-nos dito, por
exemplo:

Filho de Deus, tu não pecaste, mas tens estado muito equivocado (T-10.V.6:1).

Tu estás apenas tomando equivocadamente a interpretação pela verdade. E estás


errado. Mas um equívoco não é um pecado, nem a realidade foi tirada de seu trono
pelos teus equívocos (MP-18.3:7-8).

Não faz sentido que Jesus nos diga, “Meu irmão, o que pensas não é a verdade”, até
sabermos o que pensamos. Isso não pode ser enfatizado o suficiente. Precisamos estar
cientes da nossa crença em que o pecado da separação é real: eu existo porque pequei, mas
nego sua presença por percebê-lo em você. Assim, estou firmemente decidido – literalmente! –
138
a provar que todos em minha vida são os pecadores e merecem julgamento. Dessa forma,
nossos olhos penetrantes e honrados procuram o pecado e a culpa nos outros para atacá-los:

Os mensageiros do medo são treinados através do terror e tremem quando o seu


patrão os chama para servi-lo. Pois o medo não tem misericórdia nem mesmo para
com os seus amigos. Seus culpados mensageiros saem às escondidas em busca
sedenta de culpa, pois são mantidos no frio e famintos e seu patrão, que só lhes
permite festejar em cima do que devolvem a ele, faz com que sejam cruéis. Nenhum
pequeno farrapo de culpa escapa de seus olhos famintos. E, em sua selvagem
busca do pecado, lançam-se sobre qualquer coisa viva que vêem e carregam-na aos
gritos a seu patrão para ser devorada (T-19.IV-A.12:3-7).

Nós identificamos esses mensageiros famintos de medo por olharmos para dentro, com
Jesus ao nosso lado, dizendo: Meu irmão, o que você pensa sobre si mesmo e os outros não é
verdadeiro.

(8:1) A força do perdão está na honestidade que lhe é própria, tão incorrupta que vê as
ilusões como ilusões e não como verdade.

A honestidade no perdão vê a verdade sobre o ego. Uma vez que seu sistema de
pensamento é pecado e ódio, é isso o que acreditamos sobre nós mesmos. Assim, a
honestidade olha além do que acreditamos ser a verdade, para ver a verdade real: ilusões são
ilusões – minhas ilusões. Lembre-se dessa linha freqüentemente citada:

O segredo da salvação é apenas esse: Tu estás fazendo isso a ti mesmo (T-


27.VIII.10:1).

(8:2-5) É por isso que ele vem a ser aquele que desfaz o engano diante das mentiras, o
grande restaurador da simples verdade. Através da sua capacidade de não ver o que não
existe, ele abre o caminho para a verdade que havia sido bloqueado por sonhos de
culpa. Agora és livre para seguir no caminho que o teu verdadeiro perdão abre para ti.
Pois, se um irmão recebe essa dádiva tua, a porta está aberta para ti mesmo.

É por isso que o foco do Um Curso em Milagres está no relacionamento especial, pedindo
a ajuda de Jesus para olhar para essa pessoa de forma diferente, o que significa nossa
disponibilidade de olharmos para nós mesmos de forma diferente. Mantenha em mente que
não podemos ignorar o que não está lá até primeiro reconhecermos que nós realmente
acreditamos que ele está lá. Olhando além – ignorando – os pecados do nosso irmão, estamos
olhando além dos nossos próprios, uma vez que eles são um. O perdão, portanto, se torna a
chave que abre a porta através da qual passamos para o mundo real, e além dele, para o Céu.
Esse próximo parágrafo importante nos provê uma forma prática de direcionarmos nosso
dia:

(9) Há uma maneira muito simples de achar a porta do perdão verdadeiro e percebê-la
aberta de par em par para dar boas-vindas. Quando te sentires tentado a acusar alguém
de haver pecado em qualquer forma que seja, não deixes a tua mente se deter sobre o
que pensas que ele fez, pois isso é um auto-engano. Ao invés disso, pergunta: “Eu me
acusaria por fazer isso?”.

O “me” que eu acuso não é o ser que penso que sou, pois eu acuso a mente, na qual
repousa a crença no pecado. É essencial que eu entenda o custo tremendo para mim de
acusar você de qualquer coisa – significativa ou insignificante – pois, quando o faço, acuso a
mim mesmo do mesmo pecado. Isso significa que sou eu que sou condenado, não você. A
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idéia do pecado nunca deixou sua fonte na minha mente. Além disso, eu coloquei você no meu
sonho para que eu pudesse escapar da carga terrível do pecado. Portanto, em minhas
acusações, eu dei a mim mesmo uma dádiva maravilhosa, se eu apenas pedir ajuda a Jesus
para ver que não estou acusando você, mas a mim mesmo. Meus julgamentos sobre você,
então, são salas de aula que me permitem expor o plano do ego por reverter o seu curso,
recordando o pecado que eu projetei em você.
Essas lições, portanto, me ajudam a ver a sutileza do ego em manter o pecado, mas sem
que eu tenha consciência de que ele está na minha mente. O ego me capacitou a manter
minha existência individual e especial, mas magicamente culpar outra pessoa, que vai pagar o
preço do sacrifício, em vez de mim. Portanto, parece que eu tenho o bolo de separação do ego
e o aprecio também. Apesar disso, sou eu que pago o preço, e é insano acreditar que eu
poderia sofrer alegremente com o efeito do pecado de outro, que é um pecador pior do que eu.
A insanidade do sistema do ego é que todos nós sofremos alegremente como vítimas
inocentes, até e incluindo nossa morte, enquanto pudermos dizer:

“Contemple-me, irmão, em tuas mãos eu morro” (T-27.I.4:6).

Nós não apenas vemos a crueldade do plano do ego, mas sua insanidade. Em acréscimo,
isso não funciona, nem nos torna felizes. No entanto, esses relacionamentos, tão cheios de
julgamento e ódio, podem se tornar amorosas salas de aula quando mudamos de professores.
Essa mudança capacita Jesus a nos ensinar como transformar o ataque em um apelo por
ajuda e um pedido de amor (T-12.I.8:6-13); um pedido que existe igualmente em todos nós, um
apelo que o Espírito Santo não pode deixar de responder se O convidarmos.

(10:1) Dessa forma, verás as alternativas para a escolha em termos que a tornam
significativa e que mantêm a tua mente tão livre de culpa e dor quanto o próprio Deus
pretendia que fosse, e como é na verdade.

A verdadeira alternativa não é o matar ou ser morto do ego: ou você ou eu sou o


pecador; um vive e outro morre. Nossa escolha significativa é: Qual professor eu quero? O uso
que Jesus faz da palavra mente aqui é importante, pois isso me diz que o problema não é o
meu corpo, mas o sistema de pensamento que eu escolhi. A culpa não está em você como um
corpo, nem em mim. Está na minha mente, onde eu a coloquei. Por ter colocado a culpa lá,
posso mudar minha mente sobre ela. Essa é a única maneira de podermos ficar realmente
livres dela.

(10:2-4) Só as mentiras querem condenar. Na verdade, a inocência é a única coisa que


existe. O perdão está entre as ilusões e a verdade, entre o mundo que vês e o que está
além, entre o inferno da culpa e a única coisa que existe. O perdão está entre as ilusões
e a verdade, entre o mundo que vês e o que está além, entre o inferno da culpa e a porta
do Céu.

O perdão nos traz ao mundo real, a porta além da qual está o próprio Céu. Embora seja
em si mesmo uma ilusão, o perdão permanece entre as ilusões do ego e a verdade de Deus. É
a ilusão que fiz que desfaz a crença em todas as outras. Em uma passagem que vimos
parcialmente, lemos:

O perdão poderia ser chamado de uma espécie de ficção feliz, um caminho no qual
aqueles que não conhecem podem fazer uma ponte sobre a brecha entre sua
percepção e a verdade... O perdão é um símbolo também, mas como símbolo da
Sua Vontade apenas não pode estar dividido. E assim a Unidade que ele reflete vem
a ser a Sua Vontade. É a única coisa que ainda está em parte no mundo e mesmo
assim é a ponte para o Céu (ET-3.2:1;5).
140
O perdão, portanto, é o reflexo da verdade, desfazendo as mentiras do pecado e
separação que iriam condenar. Uma vez desfeitos, eles desaparecem na verdade que espera
por nós além do mundo real, a adorável porta do Céu na qual a Unicidade do nosso Ser é
restaurada finalmente à nossa consciência.

(11:1) Através dessa ponte, tão poderosa quanto o Amor que depositou sobre ela a
própria bênção, todos os sonhos do mal, de ódio e de ataque são silenciosamente
trazidos à verdade.

Nessa passagem, a ponte é o perdão. Em outro trecho, é o Espírito Santo ou o mundo


real. O uso que Jesus faz dos símbolos é flexível, mas seu conteúdo de trazer as ilusões à
verdade permanece consistente. Aqui, o perdão faz uma ponte sobre a brecha entre as ilusões
do ego e o mundo real.

(11:2-4) Eles não são mantidos para se expandirem, provocarem tumultos e


aterrorizarem o tolo sonhador que acredita neles. Esse foi gentilmente despertado do
seu sonho pela compreensão de que o que ele pensava ter visto, nunca existiu. E agora
não pode sentir que todas as possibilidades de escapar lhe foram negadas.

Agora, temos a esperança verdadeira na qual escapar se torna um pensamento


significativo. No plano do ego, escapar significa esconder nosso pecado, mas vivenciando-o
em outro, dessa forma acreditando que estamos livres dele. O escapar verdadeiro desfaz a
crença da mente no pecado, que é o início do sonho, e o perdão é o meio gentil de Jesus de
nos despertar dos pesadelos do ego, como nos recordamos:

Tão amedrontador é o sonho, tão aparentemente real, que ele não poderia despertar
para a realidade sem o suor do terror e um grito de medo mortal, a não ser que um
sonho mais gentil precedesse o seu despertar e permitisse que a sua mente mais
calma desse boas-vindas à voz Que chama com amor para que ele desperte ao
invés de temê-la; um sonho mais gentil, no qual o seu sofrimento foi curado e seu
irmão veio a ser seu amigo. A Vontade de Deus é que ele espere gentilmente e com
alegria e deu-lhe o meio para despertar sem medo (T-27.VII.13:4-5).

Mais uma vez, o meio feliz e gentil é o perdão, nossa única esperança duradoura de
escapar do sonho do ego de ódio e medo.

(12) Ele não tem que lutar para se salvar. Não tem que matar os dragões que o
perseguiam em seus pensamentos. Ele pode retirar a pesada e inútil armadura feita para
acorrentar a sua mente ao medo e à miséria. O seu passo é leve e quando levanta o pé
para avançar mais um passo, deixa uma estrela para trás, para indicar o caminho
àqueles que o seguem.
Esse também é um parágrafo importante. Nós acreditamos que temos que lutar contra o
pecado, o que significa lutar contra a hostilidade em outras pessoas, práticas injustas no
mundo, ou os pecados dos nossos próprios corpos. Muitos sistemas religiosos, por exemplo,
ensinam seus seguidores a lutarem contra o pecado em si mesmos: desejos por sexo, comida
ou qualquer forma de prazer. Assim, o pecado é localizado no corpo, não na mente; e quer o
pecado esteja localizado no seu corpo ou no meu, estamos justificados em lutar contra ele.
Essa necessidade de se opor ao pecado está enraizada na crença inconsciente de que o
pecado está na minha mente - eu matei, e vou continuar a matar para preservar minha
existência. Eu projeto esse pensamento de assassinato e o vejo em você, transformando-o à
minha própria imagem e semelhança. Assim, eu ouço você dizer que para preservar a si
mesmo, precisa me matar. Agora, estou justificado em me defender, o que é o tema principal
141
da próxima lição, “Se eu me defendo, sou atacado” (LE-pI.135). Eu, a face da inocência, não
tenho outra escolha além de lutar para preservar minha existência, uma justificativa para o
ataque, que vimos Jesus descrever:

Esse aspecto pode ter raiva, pois o mundo é ruim e não é capaz de prover o amor e
o abrigo que a inocência merece. E assim, freqüentemente, essa face se banha de
lágrimas pelas injustiças que o mundo faz com aqueles que querem ser generosos e
bons. Esse aspecto nunca ataca em primeiro lugar. Mas a cada dia, uma centena de
pequenas coisas constituem pequenos ataques à sua inocência, provocando-a à
irritação e, afinal, abertamente ao insulto e ao abuso (T-31.V.3).

Assim, estamos lutando continuamente contra o pecado: contra os poluentes do mundo,


por exemplo, para protegermos nossos corpos físicos; contras as coisas terríveis que as
pessoas fazem contra nós, para protegermos nossos corpos físicos; ou contra o pecado que
acreditamos estar dentro de nós, precisando ser rígidos, estritos e disciplinados para estarmos
em guarda contra os pensamentos e comportamentos pecaminosos. Tudo isso cai lindamente
dentro do plano do ego, porque torna o pecado real, o que estabelece a realidade do ser
separado que precisa ser defendido por uma vida de luta e batalha.
Na primeira regra para decisão, Jesus diz: “Não lutes contra ti mesmo”, colocado em
itálico para enfatizar (T-30.I.1:7). Em outras palavras: esteja consciente do seu ego, mas não
lute contra ele. Não apenas você não precisa lutar contra os pensamentos egóicos de outra
pessoa, Jesus aconselha, mas também não precisa lutar contra os seus próprios. No manual,
ele se refere a isso como pensamentos mágicos, e esclarece a importância de como lidamos
com essas tentativas ilusórias e mal-adaptadas de preservar nossa identidade egóica:

Como lidar com a mágica vem a ser, então, uma lição fundamental para o professor
de Deus dominar. Sua primeira responsabilidade nisso é não atacá-la. Se um
pensamento mágico faz surgir qualquer forma de raiva, o professor de Deus pode
estar certo de que está dando força à sua própria crença no pecado, tendo
condenado a si mesmo. Também pode estar certo de que está pedindo a depressão,
a dor, o medo e o desastre para que venham a ele. Que ele se lembre, então, de
que não é isso o que quer ensinar, já que não é isso o que quer aprender (MP-
17.1:4-8).

Portanto, você é solicitado apenas a estar consciente desses pensamentos mágicos e


necessidades pecaminosas. Não se sinta culpado sobre eles, Jesus diz, nem os julgue como
pecaminosos, pois isso leva à projeção que constrói uma barreira entre você mesmo e outra
pessoa, que então se torna o repositório do seu pecado. Jesus pede a você que, em vez disso,
aceite sua ajuda em olhar para o seu medo dele, porque é esse medo do amor que você
rotulou de pecado. Além disso, é sua necessidade de se defender contra o pecado que o tem
forçado a lutar contra todos os outros no mundo. Como sempre, Jesus o impele a voltar à fonte
do problema – a parte tomadora de decisões da sua mente que disse: estou melhor por conta
própria, fora do amor de Deus:

A tua parte é meramente fazer voltar o teu pensamento ao ponto no qual o erro foi
feito e entregá-lo em paz à Expiação (T-5.VII.6:5).

O princípio de Expiação do Espírito Santo reflete o Amor de Deus, Que é o Tudo em Tudo
(1 Coríntios 15:28; citado no Um Curso em Milagres também [e.g., T-7.IV.7:4]), que reforça sua
realidade em nossas mentes iludidas. Nesse Amor, meu ser não é nada, mas no meu reino,
Deus é o nada e eu o tudo: eu sou o tudo em tudo. Essa usurpação é o nosso pecado e, no
entanto, não é nada mais do que um tolo equívoco que não teve efeitos no Tudo, Que é o
Tudo, fora do qual nada existe. E, portanto, não tenho que lutar contra os dragões do ego, quer
142
no mundo como um todo, quer nos meus relacionamentos especiais, ou, acima de tudo, em
mim mesmo. Se eu lutar, os torno reais. A famosa declaração bíblica é apropriada aqui: “não
resista ao mal” (Mateus 5:39). Quando você resiste ao mal, reforça sua presença, uma vez que
você não se opõe a algo que primeiro não tenha julgado como uma ameaça. É uma vergonha
que o Deus bíblico nunca tenha prestado atenção a essa linha, porque a Bíblia em sua
totalidade é baseada em Sua resistência ao mal, reagindo ao pecado percebido do Seu Filho.
Portanto, tudo o que você precisa fazer com o mal é sorrir gentilmente e perceber que
isso não é assim, sendo meramente um pensamento tolo sem efeitos. Isso é importante
entender, conforme você fica cada vez mais consciente do seu ego; um risco ocupacional de
qualquer estudante do Curso. É tentador se desesperar pelo fato do ego nunca parecer mudar
e estar sempre com você. Você não precisa se desesperar: ele nunca muda! O que muda é o
professor com quem você escolhe olhar para o seu ego. Nós vimos que desde o início, o ego
tem sido 100% assassino e cruel: egoísta, auto-centrado e preocupado com seu próprio
especialismo. Isso é uma constante. O que muda é como olhamos para isso – com gentileza e
benignidade em vez de culpa e julgamento. Assim, Jesus nos impele a nos focalizarmos na
correção, não na sombra do problema aparente:

Concentra-te apenas nela [sua disponibilidade] e não te perturbes pelas sombras


que a cercam. É por isso que vieste. Se pudesses vir sem elas, não terias
necessidade do instante santo. Vêm a ele, não em arrogância, presumindo que tens
que conseguir o estado que ele traz com sua vinda. O milagre do instante santo está
na tua disponibilidade para permitir que ele seja o que é. E na tua disponibilidade
para isso está também a tua aceitação de ti mesmo tal como foste criado (T-
18.IV.2:4-9).

Nós aceitamos a nós mesmos tal como fomos criados através da nossa disponibilidade de
olharmos para o ser sombrio do ego, feito como um substituto para o Ser glorioso que Deus
criou. Lutar contra a sombra reflete nossa perturbação em relação a nada, levando a diminuta e
louca idéia a sério (T-27.VIII.6:2-3), o que reforça sua realidade em nossas mentes iludidas. No
entanto, olhar gentilmente para o ego com o amor de Jesus ao nosso lado nos assegura que
suas “pesadas paredes e portas de ferro” vão desaparecer suavemente em sua própria
nulidade. Mais uma vez, nós não lutamos contra os egos nos outros, e certamente não lutamos
contra ele em nós mesmos. Nós olhamos com o amor de Jesus, e, naquele ponto, “uma estrela
é deixada para trás”. A estrela simboliza o perdão, apontando o caminho para que os outros
sigam, dizendo que nossa escolha pelo perdão do Espírito Santo também é deles, porque o
mesmo Professor está neles. Nós, portanto, nos tornamos um exemplo brilhante – como Jesus
é nosso exemplo brilhante – de como se parece alguém que fez a escolha correta. Nós
podemos não fazer isso o tempo todo, mas, nesse instante, liberamos nossos julgamentos
contra os outros e nós mesmos. Nosso relacionamento com Jesus nos permite escolher sua
estrela de perdão, como o poema de Helen “A forma da estrela” reflete para nós:

O mundo pode ser para nós uma estrela brilhante,


Porque representa um Pensamento de Deus...
Seu Filho habita onde Ele quer que ele habite.
E nenhuma nota na canção do Céu é perdida
Dentro do brilho quieto da estrela
Que é a Resposta silente à busca
Que o mundo estabeleceu, mas que não existe.
(As Dádivas de Deus”, p. 66)

(13:1) O perdão tem que ser praticado...

143
Essa é uma linha que precisa ser esclarecida, e lida de novo e de novo. Entender a teoria
de perdão do Um Curso em Milagres não significa nada se você não praticá-la e – voltando ao
parágrafo 9 – observar a si mesmos acusando os outros, perguntando-se: “Eu acusaria a mim
mesmo por fazer isso?”. A resposta certa seria “sim” – eu certamente me acusaria, pois isso
significa que eu existo e minha identidade permanece segura. Eu finjo que não estou acusando
a mim mesmo, assim como finjo que estou acusando você, mas, de forma inconsciente,
alegremente acuso a mim mesmo de pecado porque isso, mais uma vez, prova minha
realidade. Se eu for impecável e inocente, eu, como um ego, não existo mais. Eu não conheço
minha Identidade, no entanto, conheço meu ser separado e pecador que é testemunhado pelos
meus julgamentos, nascido do tratamento injusto que sofri nas mãos de outra pessoa. Assim,
Jesus diz que as seguintes palavras são aterrorizantes para o mundo separado:

Eu não sei o que sou, e, portanto, não sei o que estou fazendo, onde estou, ou como
olhar para o mundo ou para mim mesmo (T-31.V.17:7).

É por isso que precisamos aprender a dizer com real intenção essas palavras:

Entretanto, nesse aprendizado nasce a salvação. E o Que tu és vai te falar de Si


Mesmo (T-31.V.17:8-9).

O custo do seu “sim” é a salvação – lembrando do Que nós somos.

(13:1) O perdão tem que ser praticado, pois o mundo não pode perceber o seu
significado, nem prover um guia para te ensinar as suas beneficências.

O perdão tem que ser praticado porque o aprendizado do mundo – a projeção do que
queremos aprender com ele – é oposto a ele. O mundo diz que o pecado é real, demonstrado
pelo corpo vitimado. O objetivo de todos é manter o ser separado, mas recusando o pecado
associado a ele. Nós colocamos a face da inocência para justificar a validação do auto-conceito
de um ser prejudicado, pelo qual o mundo é responsável:

O que se aprende desse mundo é construído em cima de um auto-conceito que é


ajustado à realidade do mundo. Ele cabe bem nele. Pois essa é uma imagem
apropriada a um mundo de sombras e de ilusões. Aqui ela caminha em casa, onde o
que vê é uno com ela. O aprendizado do mundo serve para construir um auto-
conceito. Esse é o seu propósito? Que venhas sem um auto-conceito e o faças à
medida em que segues adiante. E na época em que atingires a “maturidade”, tu o
terás aperfeiçoado para enfrentar o mundo em termos iguais, em unidade com as
suas exigências.
Um auto-conceito é feito por ti... O auto-conceito que o mundo quer ensinar não é o
que aparenta ser. Pois ele é feito para servir a dois propósitos, apenas um dos quais
a mente é capaz de reconhecer. O primeiro apresenta a face da inocência, o
aspecto que é encenado. É essa face que sorri e cativa, e até mesmo parece amar
(T-31.V.1:1-2:1,4-7).

A segunda face, como a seção vai discutir, é a face oculta do ódio, o sonho secreto no
qual somos os assassinos pecadores (T-27.VII.11:6-12:2), que é o que a face da inocência
tenta esconder. O disfarce é tão efetivo que nós precisamos de um Guia para nos ensinar o
oposto exato de tudo o que o mundo tem nos ensinado, e, de fato, o oposto exato do que
muitas espiritualidades ensinaram. Portanto, o perdão requer muita prática – para desfazer a
resistência a reconhecer a verdade do nosso Ser, e a falsidade do nosso ser. Lembre-se dessa
adorável linha resumidora:

144
Que eu não me esqueça de que o meu ser é nada, mas meu Ser é tudo (LE-
pII.358.1:7).

(13:2-4) Não existe em todo o mundo nenhum pensamento que conduza à menor
compreensão das leis que ele segue e do Pensamento que ele reflete. Ele é tão alheio ao
mundo quanto a tua própria realidade. E, no entanto, une a tua mente à realidade em ti.

O perdão não é nossa realidade, mas ele forma o laço entre as ilusões do pecado e a
verdade da Expiação – ambos em nossas mentes. O perdão como o mundo o conhece –
perdão-para-destruir – é alienígena ao verdadeiro perdão, pois ele torna o erro real enquanto o
ignora. Ele mantém a validade do mundo separado, e não reconhece que tudo aqui é um
sonho de nossa própria escolha: não em algum passado distante, mas agora, pois tudo – tanto
da mente certa quanto da mente errada – acontece dentro do mesmo instante. O verdadeiro
perdão nos eleva acima do sonho do tempo e do espaço, e nós olhamos para baixo com Jesus
em nós mesmos, e o ouvimos dizer: “Meus irmãos, figuras no sonho, o que vocês pensam,
sentem e percebem não é a verdade”.
Um exercício específico em perdão se segue agora:

(14:1) Hoje praticamos o verdadeiro perdão para que não seja mais adiado o momento
da união.

Nosso perdão a outra pessoa – realmente, nossas projeções – nos aceleram ao longo do
caminho que nos une ao nosso verdadeiro Ser Cuja memória é mantida para nós em nossas
mentes. Em um nível prático, isso significa que quando não perdoamos, e insistimos em estar
certos e saber melhor do que Jesus – acreditando que negar o amor é preferível a estendê-lo -,
é porque não queremos nos reunir à verdade. Se o perdão é o único meio de nos lembrarmos
de Quem somos como o verdadeiro Filho de Deus, então, adotarmos a forma de perdão do ego
é o meio de permanecermos adormecidos e não voltarmos para casa.
Se nós fôssemos realmente honestos, portanto, iríamos dizer: “Eu quero ser um indivíduo
e manter minha singularidade, e não quero perder meu ser separado. Se eu segurar a mão de
Jesus e caminhar através da ilusão do ego, certamente vou perder meu especialismo. Meu
desaparecimento na Unicidade do Céu significa que a separação se foi, e é isso o que me
amedronta”. A honestidade real, então, admite que não queremos voltar para casa, e, portanto,
não queremos Jesus como nosso professor. Em seu lugar, nós escolhemos o ego, o que
preserva nossa identidade e a mantém sacrossanta. Assim, Jesus nos explica, em palavras
que já vimos, o que está envolvido em nos unirmos a ele:

Quando te unes a mim, estás te unindo sem o ego, porque eu renunciei ao ego em
mim mesmo e, portanto não posso me unir ao teu. Nossa união é, assim, o caminho
para renunciares ao ego em ti. A verdade em nós dois está além do ego (T-8.V.4:1-
3).

O perdão, novamente, é o meio de nos lembrarmos dessa verdade, enquanto reter as


mágoas nos permite esquecer. Jesus quer que vejamos a conexão causal entre nos
agarrarmos aos julgamentos – aberta e ocultamente – e nossa infelicidade e dor. Só então
podemos perceber que nossa aflição vem de uma decisão que diz: eu não quero voltar para
casa e me reunir à verdade de Quem sou como o Filho de Deus. Assim, escolho não perdoar.

(14:2-3) Pois queremos nos encontrar com a nossa realidade em liberdade e em paz. A
nossa prática vem a ser a marca dos nossos passos que iluminam o caminho para todos
os nossos irmãos, que nos seguirão até a realidade que compartilhamos com eles.

145
Uma vez que as mentes são unidas, um irmão é todos os irmãos. Quando libero minhas
mágoas no instante santo e percebo que você e eu somos um – em ilusão assim como na
verdade – também percebo que sou um com a Filiação. No final da escada da oração, que o
perdão me ajudou a subir, eu digo a todos que vêm para se unir em oração comigo:

Eu não posso ir sem ti, pois és uma parte de mim.

E assim ele é na verdade. Agora podes orar só por aquilo que verdadeiramente
compartilhas com ele. Pois compreendeste que ele nunca partiu e tu, que parecias
sozinho, és um com ele (C-1.V.3:9-12).

O pensamento de unidade na minha mente permanece como um farol de luz que diz a
todos – assim como acontece com a luz de Jesus – “a decisão que eu tomei, você também
pode tomar”.

(14:4-6) Para que isso possa ser realizado, vamos dar quinze minutos por duas vezes
hoje e passá-los com o Guia Que entende o significado do perdão e Que nos foi enviado
para ensiná-lo. Vamos pedir-Lhe:

Que eu perceba o perdão tal como é.

Isso significa que eu primeiro vejo o perdão como ele não é, e sou honesto comigo
mesmo sobre ter escolhido o ego como meu guia. Assim, a primeira parte dessa lição falou do
perdão do ego, e a maioria das seções no texto começa da mesma forma, apresentando o
sistema de pensamento do ego.

(15:1-2) Em seguida, escolhe um irmão conforme a orientação que Ele vai te dar e
enumera os seus “pecados” um por um, à medida que passam pela tua mente. Certifica-
te de não te deteres em nenhum, mas reconhece que só estás usando as suas “ofensas”
para salvar o mundo de todas as idéias de pecado.

Em outras palavras, os pecados que eu percebo em você se tornam uma sala de aula na
qual aprendo que o pecado é uma ilusão; é por isso que a palavra está entre aspas. Se o
pecado é ilusório, então, a separação e o especialismo também são; a verdade é que somos
um, a verdade que salva o mundo. Isso não tem nada a ver com nada externo, porque não
existe nada externo para salvar. Somos salvos do sistema de pensamento que diz que a
individualidade é real e nosso egoísmo justificado. Assim, Jesus fala do mundo terminando em:

Uma ilusão, como começou. Porém, seu fim será uma ilusão de misericórdia. A
ilusão do perdão, completo, sem excluir ninguém, sem limites em gentileza, cobrirá o
mundo escondendo todo o mal, ocultando todo o pecado e pondo fim à culpa para
sempre. Assim termina o mundo que foi feito pela culpa, pois agora ele não tem
nenhum propósito e se foi (MP-14.1:2-5).
Jesus nos pede para olharmos diretamente para os pecados de outra pessoa para que
possamos nos recordar da nossa projeção, o passo necessário para o perdão e a cura. Uma
vez que as mentes são uma, nossa cura é a cura do mundo. Assim, Jesus realmente usa o que
nós fizemos para ferir como um instrumento para ajudar (T-25.VI.4:1).

(15:3) Reflete brevemente sobre todas as coisas ruins que pensaste sobre ele e, a cada
vez, pergunta a ti mesmo: “Eu me condenaria por fazer isso?”.

Ao fazer uma lição como essa, nós usualmente pensamos no ser que condenamos como
sendo o corpo. É quase impossível não fazê-lo, mas precisamos nos lembrar de que o pecado
146
de que acusamos nosso irmão é uma projeção do pecado de que acusamos a nós mesmos.
Podemos identificar o pecado com sentimentos e comportamentos não amorosos, no entanto,
isso é apenas uma sombra dos pensamentos pecaminosos em nossas mentes. Nós, assim,
precisamos voltar lá para escolher outra vez. O que nos acelera ao longo desse processo de
perdão é aceitar que não sabemos nada e Jesus sabe tudo. Nossas percepções não são
verdadeiras; não são pecaminosas, más ou perversas, mas irreais porque são baseadas na
separação. É uma ilusão de nós mesmos que projetamos para fora, fazendo surgir uma ilusão
de ataque. Trabalhando no reverso disso, Jesus usa os pseudo-ataques a outra pessoa como
o veículo – a via régia de Freud – para perdoar os pseudo-ataques a nós mesmos. Assim,
somos curados e nosso irmão junto conosco.

(16:1-3) Deixa que ele seja libertado de todos os pensamentos de pecado que tinhas em
relação a ele. E agora estás preparado para a liberdade. Se, até esse momento, tiveres
praticado com disponibilidade e honestidade, começarás a notar uma sensação de
elevação, uma diminuição do peso sobre o teu peito, um sentimento de alivio nítido e
profundo.

A carga que sentimos, o aperto do peso sobre nosso peito, é a culpa. Jesus diz:

Tu não tens idéia do alívio tremendo e paz profunda que vêm de encontrares a ti
mesmo e a teus irmãos totalmente sem julgamento (T-3.VI.3:1).

O julgamento é uma arma principal no plano do ego para nos salvar da culpa que
tornamos real em nossas mentes. Para corrigir esse erro, nós agora consideramos os
julgamentos como salas de aula nas quais nosso novo professor retraça nossos passos
conosco, revelando seu ponto de origem. Jesus nos diz que nossos julgamentos surgiram da
crença da mente no pecado e na culpa, e da nossa necessidade de escapar deles, vendo-os
em outra pessoa. É por isso que nós precisamos compulsivamente encontrar falhas nas outras
pessoas. Nossos julgamentos vêm, como vimos repetidamente, da necessidade de
protegermos nossa individualidade, negando o pecado em nós mesmos e vendo-o em outra
pessoa.
Essa, então, é a carga do julgamento sob a qual vivemos. O problema é que nos
acostumamos com ela, e nem mesmo estamos cientes de viver sob tal insanidade do ego.
Estar aqui é realmente uma carga terrível, porque não estamos com Deus e negamos nossa
realidade como espírito. Precisamos reconhecer isso antes de podermos dar o próximo passo
para percebermos que não estamos vivendo aqui de forma alguma. Não precisamos,
entretanto, pular esses passos. Colocar uma cara feliz em nosso dia não vai funcionar, porque
isso nega a carga do julgamento ainda mais, tornando ainda mais difícil de entender sua
natureza onerosa, a condição necessária para liberá-la.
Jesus vai, portanto, nos ensinar o grande custo de nos agarrarmos aos julgamentos
contra os outros, a sombra de um custo ainda maior de nos agarrarmos aos julgamentos contra
nós mesmos. Tais julgamentos são não apenas insanos, mas equívocos tolos e opressivos
demais porque não estamos em paz. Seria outra coisa se o assassinato nos fizesse felizes,
mas não faz; e não podemos fingir mais que culpar os outros e ver a nós mesmos como
vítimas inocentes funciona para nós. Quando finalmente liberarmos o julgamento – sobre os
outros e sobre nós mesmos – vamos experimentar, miraculosamente, esse “sentimento de
alívio nítido”.

(16:4) O tempo remanescente deve ser dado a experimentar o fato de que escapaste de
todas as pesadas correntes que buscaste colocar sobre o teu irmão, mas que foram
colocadas sobre ti mesmo.

147
Esse ser é a mente, não a pessoa que pensamos ser e que vemos todas as manhãs no
espelho do banheiro.

(17:1) O perdão deve ser praticado o dia todo, pois haverá ainda muitos momentos em
que esquecerás o seu significado e atacarás a ti mesmo.

Como eu digo todas as vezes – porque Jesus diz isso o tempo todo –, o perdão não
significa nada se você não praticá-lo. Ele lhe diz aqui – assim como faz através de todo o livro
de exercícios – que haverá momentos no dia em que você não vai fazer o que ele pede. É aí
que você precisa praticar ainda mais, ser realmente atento à sua tolerância com a divagação
da mente (T-2.VI.4:6) que o levou do seu lar na Mente de Deus para o ego, e depois ao pecado
e à culpa que você projetou em todas as outras pessoas. O ego, assim, faz com que você se
focalize no que os outros corpos fazem para magoá-lo, ou no que eles fazem para fazer seu
corpo se sentir melhor; a ênfase claramente estando no corpo e não na mente. Portanto, Jesus
o instrui a ser atento à rapidez com que você pula da verdade para o que o ego lhe diz: o
problema não está em você –a mente -, mas em alguém mais – o corpo.

(17:2) Quando isso ocorrer, permite que a tua mente veja através dessa ilusão, ao
dizeres a ti mesmo:

Não podemos ver através da ilusão, a menos que peçamos ajuda a Jesus. Na verdade, o
perdão sem sua ajuda é impossível, que é o motivo pelo qual lutamos para fazer as coisas por
conta própria e praticamos o perdão-para-destruir.
E então, Jesus nos faz dizer:

(17:3-5) Que eu perceba o perdão tal como é. Eu me acusaria


por fazer isso? Não colocarei essa corrente sobre mim mesmo.

Jesus apela aos nossos motivos egoístas, dizendo que deveríamos perdoar, não porque é
maravilhoso, nobre e santo, ou porque ele nos diz para fazermos, mas porque vamos nos
sentir melhor. É essencial vermos a conexão causal entre nossa decisão de sermos separados
dele e seus efeitos: a corrente de dor que colocamos sobre nós mesmos. Vale a pena sofrer
para que alguém mais se sinta culpado? Essa insanidade não faz sentido para uma pessoa sã.
Portanto, peça ajuda a Jesus para perceber que seus julgamentos contra outros são ataques
apenas a você mesmo. Você merece muito mais do que isso.

(17:6-7) Em tudo o que fizeres, lembra-te disso:

Ninguém é crucificado sozinho, e, no entanto, ninguém


pode entrar no Céu por si mesmo.

O Filho de Deus é um, e então, se eu busco crucificar você, estou crucificando a mim
mesmo. Isso desfaz o jogo do ego de gangorra, no qual um está embaixo e outro está em
cima: eu crucifico você até você descer, dessa forma me capacitando a ressuscitar conforme
subo. O perdão funciona apenas se eu perceber que o que faço a você, faço a mim mesmo.
Lembre-se de que o ego não entende a similaridade, mas apenas a diferença. O ego ensina
que você e eu somos diferentes: um é pecador, o outro é inocente. No entanto, o Espírito
Santo ensina que você e eu somos o mesmo: nós compartilhamos o sistema de pensamento
do ego e o caminho para casa. Quando Jesus diz “ninguém pode entrar sozinho no Céu”, quer
dizer que eu não posso entrar no Céu à sua custa, mais do que poderia entrar no meu próprio
céu – o céu do ego – à custa de Deus. Como ele diz no texto:

A salvação é uma aventura de colaboração (T-4.VI.8:2).


148
Juntos, ou não de forma alguma (T-19.IV-D.12:8).

O arco da paz é atravessado dois a dois (T-20.IV.6:5).

Isso não significa que você literalmente anda pelo caminho comigo. Você não tem que
estar ciente da salvação, e nem mesmo existe fisicamente. O que importa é que eu não nos
veja como separados. Dessa forma, minha percepção de diferenças – na minha mente – é
curada. Isso aconteceu quando eu de forma grata e alegre percebo que o professor que escolhi
tem estado errado e não me definiu bem, e o professor real, Jesus, vai gentilmente me levar
para casa.

LIÇÃO 135

Se eu me defendo, sou atacado.

Eu prefaciei nossa discussão sobre a lição anterior, falando sobre o plano do ego para a
salvação ou para o perdão. Ao fazer isso, relacionei a lição às Lições 135 e 136. Para revisar o
plano, o ego primeiro estabelece a realidade do pecado e da culpa, baseado na separação
149
“real” de Deus. Ele nos diz a seguir, que o pecado e a culpa são tão extraordinários que têm
que ser negados e nunca vistos novamente, para que a vingança furiosa de Deus não desça
sobre nós, destruindo-nos como punição pelo nosso pecado. Nós magicamente nos salvamos
da natureza terrível da culpa por projetá-la da mente, onde é percebida e experimentada no
corpo. Na Lição 134, o plano do ego – perdão-para-destruir – trata da sua necessidade de
projetar a culpa da mente no corpo de outra pessoa, uma culpa que então presumimos ter
perdoado. Na Lição 136, o plano pede que o ego projete a culpa em nosso próprio corpo,
tornando-nos doentes. Na lição atual, o foco está no plano do ego de lidar com a variedade
múltipla de problemas que surgem da projeção da culpa, cada um exigindo planos ou defesas
– as duas palavras são usadas como sinônimos aqui – para nos proteger dos perigos
percebidos fora de nós. Fazendo-nos acreditar que o problema não está dentro de nossas
mentes, mas no mundo de corpos, o ego pede um plano – i.e., defesas – para resolver o
problema. Essa estratégia é o foco da Lição 135. A propósito, essa lição é a mais longa do livro
de exercícios – mais de quatro páginas -, e é uma lição extremamente importante também.
O tema dessa lição – Se eu me defendo sou atacado – é uma reminiscência da lição de
“Os dois retratos”: “todas as defesas fazem o que iriam defender” (T-17.IV.7:1). O propósito das
defesas é nos proteger do medo, no entanto, construir uma defesa reforça nosso senso de
vulnerabilidade que, junto com a percepção do perigo, justifica nossa necessidade de defesas.
Sem o medo, não existe necessidade de proteção, e então, ter defesas significa que temos
medo. Assim, vemos que, embora o propósito de uma defesa seja nos proteger do medo,
apenas o reforça.
Finalmente, a lição explica que quando acredito precisar de defesa, ataco a mim mesmo
por negar que sou o Filho invulnerável que Deus criou. Como parte da Sua Unicidade amorosa,
não poderia haver nada fora de mim, e certamente nada que pudesse me ameaçar. No
entanto, quando faço planos para minha defesa, afirmo que não sou invulnerável. Caso
contrário, digo que sou. Esse é o ataque:

Todo ataque é um ataque a ti mesmo. Não pode ser nenhuma outra coisa. Surgindo
da tua própria decisão de não ser o que és, é um ataque à tua identificação. O
ataque é, portanto, o caminho no qual a tua identificação está perdida, porque
quando atacas tens que ter esquecido o que és (T-10.II.5:1-4).

(1:1) Quem se defenderia a menos que pensasse que foi atacado, que o ataque foi real e
que a sua própria defesa poderia salvá-lo?

Isso é similar ao início do Capítulo 6, onde Jesus declara que o ataque nunca é
justificado.

A raiva sempre envolve a projeção da separação, que deve ser, em última instância,
aceita como responsabilidade da própria pessoa em vez de ser imputada aos outros.
A raiva não pode ocorrer a menos que acredites que foste atacado, que o teu ataque
por sua vez é justificado e tu não és de forma alguma responsável por ele... [Mas] Tu
não podes ser atacado, o ataque não tem justificativa e tu és responsável por aquilo
em que acreditas (T-6.in.1:2-3,7).
(1:2) E nisso está a loucura da defesa: dá plena realidade à ilusões e depois tenta lidar
com elas como se fossem reais.

A ilusão fundamental é que, tendo escolhido a existência individual em vez da unicidade,


eu sou separado do Amor da minha Fonte, tendo destruído a Ele em um ato de pecado. Eu sou
“salvo” da enormidade da minha culpa através da projeção, vendo-a em outra pessoa. Isso
torna o mundo culpado do meu pecado, e então, acredito que os outros estão prontos a me
atacar, o que justifica minha defesa contra seus injustificados “assaltos à [minha] inocência” (T-
31.V.3:4). Essa então é a insensatez da defesa: a crença de que meu pecado destruiu o Céu
150
foi inventada; meu pecado projetado nos outros foi inventado; o sistema de pensamento de
ataque e defesa foi inventado. Em outras palavras, tentando resolver um problema ilusório,
minha defesa tem que ser ilusória também. Quem além de um louco iria acreditar nisso?

(1:3) Acrescenta ilusões às ilusões, assim fazendo com que a correção seja duplamente
difícil.

É duplamente difícil porque a necessidade real de correção está na minha mente.


Entretanto, seguindo o plano do ego para a salvação, eu me defendo contra essa necessidade,
por ver a correção fora da minha mente, para situações que são responsáveis pela minha
infelicidade. Esse artifício defende contra a culpa na minha mente, que também é uma defesa.
Assim, a correção é duplamente difícil, e eu nunca volto à parte tomadora de decisões na
minha mente que originalmente escolheu contra Deus. Isso, incidentalmente, é similar à
discussão na Lição 136 sobre o escudo duplo de esquecimento (LE-pI.136.5): a culpa defende
contra o amor na mente; e a culpa que percebermos nos outros defende contra a culpa interna.

(1:4) É isso que fazes quanto tentas planejar o futuro, ativar o passado ou organizar o
presente como desejas.

Depois nessa lição, vou rever nossa discussão anterior sobre a relação entre o passado,
presente e futuro, e o pecado, culpa e medo. No entanto, deixem-me mencionar brevemente
que isso não significa que você não deveria fazer planos para o futuro. Essa é uma armadilha
na qual muitos estudantes do Um Curso em Milagres caem. O que isso significa – como vamos
ver mais tarde – é que você não faz planos por conta própria. Assim, Jesus não está dizendo
que você deveria cancelar seguros de vida, jogar fora sua agenda, ou evitar marcar
compromissos futuros. Ele simplesmente nos incita a não tomarmos decisões sem ele.

(2:1) Tu operas a partir da crença em que tens que te proteger do que está acontecendo,
porque algo ali não pode deixar de conter o que te ameaça.

Enquanto eu acreditar que estou nesse mundo, tenho que acreditar que o mundo é um
lugar hostil e ameaçador, no qual sou vulnerável. Preciso acreditar nisso porque fiz o mundo
dessa maneira. Lembre-se, se idéias não deixam sua fonte, o mundo não é nada mais do que
uma projeção do que está na minha mente: eu sou um pecador miserável porque destruí o
Amor de Deus. É esse egoísmo auto-centrado que projetei e vejo em todos os lugares ao meu
redor, deixando-me justificado em estabelecer defesas em auto-proteção. Uma vez que o
mundo não é nada mais do que meu pensamento de ataque a Deus, o mundo tem que ser um
ataque também: idéias não deixam sua fonte. Esse é o significado da linha muito citada:

O mundo foi feito como um ataque a Deus (LE-pII.3.2:1).

(2:2-5) Um senso de ameaça é um reconhecimento de uma fraqueza inerente, uma


crença segundo a qual há um perigo que tem o poder de convocar-te para fazer uma
defesa apropriada. O mundo está baseado nessa crença insana. E todas as suas
estruturas, os seus pensamentos e dúvidas, as suas penalidades e armamentos
pesados, as suas definições legais e os teus códigos, a sua ética, os seus lideres e os
seus deuses, tudo serve apenas para preservar o senso de ameaça do mundo. Pois
ninguém caminha pelo mundo em uma armadura sem que o terror esteja golpeando-lhe
o coração.

Tudo isso pode parecer duro, para não mencionar irrealista, a menos que você reconheça
a metafísica subjacente a declarações como essas em Um Curso em Milagres: isto é, o mundo

151
é uma ilusão, feita como um ataque a Deus porque foi feito como um esconderijo contra Sua
ira:

Assim, o mundo foi feito como um lugar em que Deus não pudesse entrar e no qual
o Seu Filho pudesse estar à parte Dele (LE-pII.3.2:4).

Tudo isso foi inventado, porque o Deus irado do ego não existe. Enquanto acreditamos
existir como indivíduos, no entanto, temos que acreditar que nossa culpa é justificada e que
precisamos nos defender dela, projetando um mundo. Uma vez que o mundo está no lugar em
nossas mentes, as coisas que Jesus descreve aqui – estruturas, armamentos, punições,
códigos legais, ética, etc. – fazem um sentido perfeito. Se o mundo é ameaçador, nós
certamente precisamos de proteção – como indivíduos e como membros da sociedade -,
porque acreditamos que outros vão fazer conosco o que secretamente acreditamos ter feito a
eles: satisfazendo nossa necessidade egoísta pelo especialismo à custa de outra pessoa.
Para reiterar esse ponto importante antes de continuarmos, Jesus não está nos impelindo
a pararmos de viver como vivemos, mas a olharmos através dos seus olhos, para que
possamos perceber a verdadeira natureza e propósito do mundo.

(3:1-2) A defesa é assustadora. Brota do medo, o qual aumenta a cada vez que uma
defesa é feita.

Essa é uma re-apresentação da idéia do texto: “defesas criam aquilo de que iriam
defender” (T-17.IV.7:1). Uma defesa “brota do medo” porque se eu tenho uma defesa só pode
ser porque me sinto ameaçado. Além disso, ameaça significa que sou vulnerável, o que
estabelece que não posso ser o Filho de Deus, que é para sempre invulnerável. Assim, é o ego
que é a minha fonte, tornando-me vulnerável à vingança iminente do seu deus. A verdade, no
entanto, é que o Filho de Deus é perfeitamente uno com sua Fonte e não precisa de defesa.
Na verdade, é assim que a lição termina: “o Filho de Deus não precisa de nenhuma defesa
contra a verdade da sua realidade”.

(3:3-4) Pensas que ela oferece segurança. No entanto, ela fala do medo que se faz real e
do terror justificado.

Meu “medo se faz real e o terror é justificado” porque, vendo o pecado em você, vejo a
ameaça à minha existência fora da mente. É uma lei da mente dividida que, quando
projetamos, esquecemos de onde projetamos. Assim, a culpa que projetamos permanece
oculta na mente, sem memória consciente dela, nem do amor que ela oculta. Estamos cientes
apenas do que nossos olhos vêem e nossos cérebros interpretam, que é o fato de que a
ameaça assoma ao corpo – o nosso ou o de outra pessoa. Uma vez que o destino final da vida,
como sabemos, é a morte, e os corpos envelhecem e se deterioram antes do seu fim
inevitável, exigimos uma defesa contra a devastação da doença e da morte. Quer falemos do
nível físico básico da existência, ou do psicológico, vivemos apavorados: “Pois ninguém
caminha pelo mundo em uma armadura sem que o terror esteja golpeando-lhe o coração”.
Nossas defesas são tão boas, no entanto, que não estamos em contato com esse terror.
Ocasionalmente, a ansiedade ou o medo irrompem, mas nada perto da enormidade de terror à
espreita dentro de nós que diz: “Você destruiu Deus e, erguendo-se dos mortos, ele vai
persegui-lo e pegar de volta a vida que você tirou Dele”. Esse mundo, então, age como uma
defesa ou cortina de fumaça, impedindo-nos de nos lembrarmos da terrível verdade que
fizemos sobre nós mesmos. O próprio fato de pensarmos que existimos significa que o terror
está profundamente dentro de nós, embora seja negado. Nós justificamos nosso medo dizendo
que todos têm medo. Na verdade, se não tivermos provisões de oxigênio para respirar, água
para beber, comida para comer, vamos morrer. Tão certamente quanto isso, se não cuidarmos
das nossas necessidades especiais, vamos morrer psicologicamente, nos sentindo deprimidos
152
e miseráveis, isolados e sozinhos. Assim, tentamos nos defender contra um mundo
inerentemente hostil e ameaçador, que fizemos para ser assim, e do qual não existe
escapatória.

(3:5) Não é estranho que ao elaborares os teus planos, fortaleceres a tua armadura e
apertares as tuas fechaduras, não pares para perguntar a ti mesmo o que estás
defendendo, e como, e contra o quê?

Isso introduz a próxima seção que discute o corpo, que nós tentamos defender. O ponto
de Jesus aqui – assim como através de todo o seu curso – é que nós estamos equivocados
sobre nossa identidade. Nós pensamos que existimos como carne e ossos, separados de Deus
e uns dos outros. Esse pensamento de separação está encapsulado no corpo, julgado como
nossa realidade. Em outros trechos, Jesus se refere a essa identidade como um travesti ou
paródia do Ser glorioso que Deus criou (T-24.VII.1:11; 10:9; LE-pI.95.2:1).
No lugar desse Ser glorioso do espírito, nós estabelecemos essa paródia de vida
chamada de corpo, que pensamos ser. Jesus não está dizendo que deveríamos nos sentir
culpados por causa da nossa identificação corporal. Ele sabe muito bem que todos os que
lêem e estudam seus ensinamentos pensam que são corpos. Sua benigna mensagem é:
“Deixe-me ajudá-lo a olhar para o que você pensa ser. Você não tem que mudar isso, nem
liberá-lo. Você não tem que ter medo de que vá desaparecer na nulidade. Simplesmente dê um
passo atrás comigo e olhe para essa estranha identidade, e deixe-me ajudá-lo a reconhecer a
mente da qual ele veio e por que, e finalmente, o que podemos realmente fazer para protegê-
lo”.
Antes de pedir para liberarmos nosso investimento no corpo, Jesus nos pede para
compartilharmos seu riso gentil conforme olhamos para o corpo e para o que chamamos de
nossa vida. Esse é o propósito dessa lição: questionarmos nosso investimento, conforme
damos um passo atrás com ele e olhamos. Também é isso o que quer dizer o seguinte:

Tua pergunta não deveria ser, “Como posso ver meu irmão sem o corpo?”. Pergunta
apenas, “Eu realmente quero vê-lo sem pecado?” (T-20.Vii.9:1-2).

O próximo parágrafo da lição trata do relacionamento do corpo com a mente:

(4) Primeiro, vamos considerar o que defendes. Não pode deixar de ser algo muito fraco,
fácil de ser assaltado. Não pode deixar de ser uma presa fácil, incapaz de se proteger e
que precisa da tua defesa. O que mais, senão o corpo, tem tal fragilidade que necessita
de cuidados constantes e atentos, de uma preocupação profunda para proteger a sua
pequena vida? O que mais, senão o corpo, vacila e não pode deixar de falhar em servir
ao Filho de Deus como um digno anfitrião?

Existem muitas passagens similares no Um Curso em Milagres, onde Jesus nos diz o que
é o corpo. Implícita aqui – em outros trechos, ela é explícita – está a questão: “É isso realmente
o que eu quero ser? Não é dessa forma que vejo você, e certamente não é a forma com que
Deus o criou. No entanto, é a forma em que você exige ser visto”. Em outro trecho no Curso,
Jesus nos ajuda a entender que insistimos em ser dessa forma porque o corpo nos protege
contra o amor da mente. O ego sabe que se um dia escolhermos nos identificar com o Amor de
Deus, nossa existência individual estará terminada, pois a individualidade e a unicidade não
podem coexistir. Mais uma vez, Jesus quer que compreendamos a natureza do corpo e o
propósito ao qual ele serve. Confrontado com os fatos, nossa decisão da mente certa é
inevitável.
Incidentalmente, isso não está limitado a passagens sobre o corpo físico, uma vez que o
corpo psicológico está incluído também. Sabemos o quanto nos sentimos fracos e facilmente

153
agredidos se alguém nos dá o que pensamos ser um olhar de reprovação, ou nossa
devastação se alguém cuja opinião valorizamos não sorri ou dá a aprovação que queremos.

(5:1-2) No entanto, não é o corpo que pode ter medo, nem ser um objeto do medo. Ele
não tem necessidades, senão aquelas que tu lhe atribuis.

O você, como sabemos, não se refere à nossa personalidade, mas ao tomador de


decisões na mente que escolhe acreditar nas mentiras do ego ou na verdade do Espírito Santo.
É esse você que escolheu se identificar com a individualidade do ego. Portanto, ele também se
identifica com a culpa do ego sobre ter ganhado seu ser por ter destruído o Céu. Essa culpa –
como parte do plano do ego – se torna tão aterrorizante para nós que nossa única esperança
de sobrevivência é escapar dela, negando sua existência em nossas mentes e projetando-a,
vendo-a em tudo ao nosso redor, mas nunca dentro de nós. Esse, então, é o ponto de Jesus: o
medo na mente dita ao corpo o que ele deveria sentir.

(5:3-6:2) [O corpo] Não precisa de estruturas complicadas para a sua defesa, de


medicamentos para torná-lo saudável, de absolutamente nenhum cuidado e nenhuma
preocupação. Defende a sua vida, ou oferece-lhe dádivas para fazer com que fique
bonito ou muros para colocá-lo a salvo, e estarás dizendo que o teu lar está aberto ao
assalto do tempo, que é corruptível, que está desmoronando, que é inseguro ao ponto
de precisar ser guardado com a tua própria vida.
Esse retrato não é amedrontador? Podes estar em paz com tal conceito acerca do
teu lar?

O ponto de declarações como essas não é incorrer em culpa pelo fato de você ter um lar
para o qual voltar à noite: quatro paredes e uma cama confortável, roupas quentes no inverno,
e remédios quando está doente. Jesus está simplesmente apontando que a longo prazo, tais
confortos não vão lhe trazer a paz de Deus, ou a felicidade que dura para sempre. Na verdade,
nada que você faça nesse mundo – absolutamente nada – vai lhe trazer essa paz ou felicidade,
não importando o quanto possa parecer santo. Apenas uma mudança da mente nos oferece
isso.
Para dizer de outra forma, todos caminham por aí com terror, mas tentam escondê-lo.
Portanto, Jesus nos ajuda a perceber – primeiro e acima de tudo – que estamos de fato
aterrorizados. Ele nos mostra a fonte do terror, pois se não conhecermos sua origem na mente,
não poderemos fazer nada sobre ele. Se nós pensarmos que o medo é justificado, vindo de
elementos ou pessoas hostis, vamos lutar apenas pela projeção externa – como indivíduos, ou
membros de grupos sociais, religiosos ou nacionais. Nossa própria existência como indivíduos
e sociedades é baseada em proteger a nós mesmos para que esse medo seja aliviado. Pelo
fato de acreditarmos que a ameaça é externa, acreditamos que a única forma de combatê-la é
nos defendermos contra o perigo iminente; i.e., ter um plano para lidar com a destruição que
sentimos estar logo depois da esquina. Mais uma vez, Jesus não está dizendo que não
deveríamos fazer mudanças externas em nossas vidas. Ele nos pede, ao invés disso, para
estarmos conscientes de que essas vidas são baseadas em um sistema defensivo de mentiras,
construído para defender as mentiras.
Essa passagem também se dirige a outro elemento chave no plano defensivo do ego: a
identificação com o corpo como nosso lar. Em outra passagem, Jesus se refere ao corpo como
nosso filho amado:
Assim, o corpo se torna uma teoria de ti mesmo, sem que te seja provida nenhuma
evidencia além dele e nenhuma escapatória dentro do seu modo de ver... Ele cresce
e murcha, floresce e morre. E não podes conceber-te à parte dele... o teu
especialismo sussurra: “Esse é o meu amado, no qual pus as minhas
complacências”. Assim, o “filho” vem a ser o meio para servir ao propósito do seu
“pai”... Tal é o travesti da criação de Deus. Pois assim como a criação de Seu Filho
154
deu alegria a Deus e testemunhou o Seu Amor e compartilhou o Seu propósito, do
mesmo modo o corpo testemunha a idéia que o fez e fala pela sua realidade e pela
sua verdade (T-24.VII.10:1,3-4,6-7,9-10).

Uma vez que o corpo é julgado como sendo nossa identidade e lar, nós inevitavelmente
tentamos protegê-lo. Assim, vemos mais uma vez o brilhantismo da estratégia do ego para a
salvação: o Amor de Deus é defendido pela nossa culpa, que por seu lado é defendida pelos
nossos corpos, que são defendidos pelo mundo, ao mesmo tempo em que o corpo é uma
defesa contra o mundo. Um plano defensivo após outro, após outro, após outro.

(6:3-5) E, no entanto, quem dotou o corpo com o direito de servir-te dessa forma senão a
tua própria crença? Foi a tua mente que deu ao corpo todas as funções que vês nele e
que estabeleceu o seu valor bem além de um pequeno monte de pó e água. Quem
defenderia algo que reconhecesse ser assim?

Antes de você cancelar suas apólices de seguro e convênios médicos, remover as


fechaduras das suas portas, etc., tenha muito claro que você sabe e vivencia seu corpo como
“um pequeno monte de pó e água”. Se você não acreditar realmente que ele é nada, não faça
nada diferente. Lembre-se de que tudo o que Jesus pede é que você dê um passo atrás com
ele e olhe para suas ações. Se você fizer isso com ele, o processo de mudar sua identidade vai
ser gradual, gentil e verdadeiramente curativo. Portanto, não tente mudar seu comportamento,
mas escolha mudar o professor com quem você olha para o seu comportamento e o dos outros
(T-21.in.1:7). Isso é muito importante. Não posso lhes dizer quantos estudantes do Curso já
saíram dos trilhos porque entenderam mal lições como essa. A negação da própria crença na
separação e na culpa não é útil, pois ninguém pode mudar a crença sem primeiro reconhecer
sua presença.
Incidentalmente, a referência bíblica nesse parágrafo sobre o corpo não ser nada além de
“um pequeno monte de pó” não é o único trecho no Um Curso em Milagres onde Jesus brinca
sobre nossa visão exaltada do nosso “lar”. Além de diversas referências no livro de exercícios,
às quais deveremos chegar depois (e.g., LE-pI.136.2:3; LE-pI.186.7:4), lemos no texto:

E para defender esse pequeno monte de poeira, ele te pede para lutar contra o
universo (T-18.VIII.3:2).

Ele [o corpo] ocupa o lugar central em todos os sonhos, que contam a historia de
como ele foi feito por outros corpos, nasceu para o mundo do lado de fora, vive um
pouco e depois morre para ser unido, no pó, a outros corpos que morrem como ele
(T-27.VIII.1:3).

(7:1-2) O corpo não precisa de nenhuma defesa. Nunca é demais enfatizar isso.

Enquanto você acreditar que é um corpo, sua nulidade vai exigir defesa, ainda que o
problema real permaneça na mente. No entanto, ele também não precisa de defesa, pois sua
culpa e medo não são nada também, um fato que precisamos apenas aceitar; não julgar,
resistir ou nos defender contra. Ao discutirmos a insanidade da mente errada do ego e a razão
da mente certa do Espírito Santo, Jesus explica como nós simplesmente deixamos o insano
sistema de pensamento do ego por escolhermos aquele que é são:
Não deixas a insanidade pelo fato de ires a algum outro lugar. Tu a deixas
simplesmente por aceitar a razão onde esteve a loucura (T-21.VI.3:7-8).

Esse também é o significado da seguinte declaração do texto, no contexto de escaparmos


do sofrimento:

155
Agora está sendo mostrado a ti que podes escapar. Tudo o que é necessário é
olhares para o problema assim como é, e não do modo como o tinhas colocado (T-
27.VII.2:1-2).

O problema que “colocamos” é o corpo, a defesa contra a culpa em nossas mentes. O


problema “assim como é” é a crença na culpa ilusória e a necessidade de termos um problema
externo como proteção. É por isso que o verdadeiro significado do perdão repousa em
olharmos com Jesus para o sistema de pensamento do ego como ele se manifesta no mundo,
reconhecendo sua manifestação como uma projeção da culpa na mente, que nunca deixou sua
fonte. Assim, Jesus diz no final da terceira lição sobre o Espírito Santo que deveríamos “ser
vigilantes apenas por Deus e por Seu Reino” (T-6.V-C). Isso não é uma defesa, mas uma
vigilância; estarmos conscientes do ego para que possamos eventualmente voltar à
consciência do Reino.

(7:3-5) Ele [o corpo] será forte e saudável se a mente não abusar dele, conferindo-lhe
papéis que ele não pode cumprir, propósitos além do seu alcance e objetivos exaltados
que não pode realizar. Tais tentativas, ridículas, mas profundamente apreciadas, são as
fontes de muitos dos seus ataques loucos contra ele. Pois ele parece desapontar as tuas
esperanças, as tuas necessidades, teus valores e teus sonhos.

O foco da nossa atenção é o corpo, que vai inevitavelmente falhar conosco. Pode não
parecer assim quando se é jovem, mas, ao chegarmos à meia-idade, começamos a deteriorar
até nossa morte. O foco, no entanto, não deveria estar em um corpo forte e saudável, mas em
uma mente que perdoa. Quando olhamos com gentileza para o pecado, a culpa e o ódio na
mente, deixando o amor de Jesus se tornar nossa identidade, a paz permeia nossa experiência
aqui, apesar do corpo. Em outras palavras, a atenção muda das preocupações corporais para
a mente, onde aprendemos a distinguir entre seus dois sistemas de pensamento.
Nós aprendemos que quando escolhemos contra o amor de Jesus e a favor do ego,
vamos sofrer, ficar transtornados e miseráveis, nos tornar zangados e ansiosos, e não vamos
nem dormir nem comer bem. Escolher Jesus em vez disso, leva à paz que permanece, apesar
do que parece estar acontecendo ao corpo – o nosso ou o de outra pessoa. Mudar o foco do
corpo para a mente traduz a mudança de propósito ao qual o corpo serve: da culpa do ego
para o perdão do Espírito Santo. A seguinte passagem resume essa mudança em propósito,
mostrando como nossos corpos não são negados ou desconsiderados, mas simplesmente
devolvidos ao Professor certo:

Se usas o corpo para o ataque, isso te causa dano. Se tu o usas só para alcançar as
mentes daqueles que acreditam que são corpos e ensiná-los através do corpo que
isso não é assim, vais compreender o poder da mente que está em ti. Se usas o
corpo para isso, e só para isso, não podes usá-lo para o ataque... O Espírito Santo
não vê o corpo como tu o vês, porque Ele sabe que a única realidade de qualquer
coisa é o serviço que rende a Deus em nome da função que Ele lhe dá... O corpo é
feio ou bonito, pacífico ou selvagem, útil ou danoso, de acordo com o uso que lhe é
conferido (T-8.VII.3:1-3, 6; 4:3).

(8:1) O “ser” que precisa de proteção não é real.

Essa declaração aplica-se tanto ao nível mental quanto corporal. Uma vez que o ser que
experimentamos como um corpo é uma ilusão, ele não tem que ser defendido. Como o nada
pode ser defendido? No entanto, o ser que experienciamos como um corpo é simplesmente
uma projeção da culpa, o ser pecaminoso que tornamos real em nossas mentes. Esse ser não
precisa de proteção também; apenas ser visto com uma gentil visão e um sorriso, conforme
desaparece na nulidade. O ego nos diz que esse ser culpado precisa de proteção e defesa – o
156
mundo e o corpo. Além disso, é uma parte intrincada do plano do ego que uma vez que
fizemos o físico, esquecemos que o fizemos, acreditando que nascemos no corpo – não pela
nossa própria escolha -, sem outro recurso a não ser seguir o plano do ego. Assim, nós
defendemos o corpo, não percebendo que ele em si mesmo é uma defesa contra a culpa na
mente, que não é mais real do que o corpo. O nada defende o nada. É por isso que Jesus nos
avisa de que não precisamos de nada (T-18.VII): não existe problema que precise de solução,
nenhuma ameaça que requeira defesas. Precisamos apenas nos lembrar de que somos
confrontados por nada, defendendo o nada.

(8:2-3) O corpo, que não tem valor e dificilmente merece a menor defesa, precisa apenas
ser percebido como algo bem à parte de ti e aí vem a ser um instrumento saudável e útil,
através do qual a mente pode operar até que a sua utilidade chegue ao fim. Quem
desejaria conservá-lo quando a sua utilidade tiver terminado?

Em outras palavras, eu percebo que o corpo é uma sala de aula na qual aprendo que não
sou um corpo, e que a culpa que fez o corpo não é real também. O corpo é então visto como
fora de mim; uma sala de aula na qual minha mente acredita ter entrado. Enquanto eu acreditar
que estou aqui, meu foco é o corpo; mas esse foco pode ser guiado por um professor diferente.
O foco do ego é que eu permaneço enraizado aqui, protegendo a mim mesmo de todos os
outros corpos. O propósito de Jesus, no entanto, é que eu veja o corpo como o veículo no qual
ele me ensina que não estou nele de forma alguma. Ele me ajuda a perceber que eu escolho o
corpo para representar o pecado e a culpa, que vêm da minha decisão de proteger a mim
mesmo do Amor de Deus. Quando eu entendo as dinâmicas da mente, posso fazer uma
escolha diferente e significativa.
Assim, o corpo realmente se torna significativo para mim, porque seu propósito foi
mudado. Lembre-se de que o propósito é tudo. Quando você entende o propósito, entende o
significado. Jesus ensina que a única pergunta que deveríamos fazer sobre qualquer coisa é:
“Para que serve?” (T-4.V.6:7-0; T-24.VII.6:1-3). O propósito do corpo, do ponto de vista do ego,
é ser uma prisão da qual ninguém vai escapar. Para o Espírito Santo, ele é uma sala de aula, e
quando aprendemos Suas lições, todos nós “escapamos”, simplesmente por percebermos que
nunca estivemos no corpo para início de conversa. É por isso que Jesus descreve esse escape
do corpo como uma fusão quieta à mente:

Não existe absolutamente nenhuma violência nesta libertação. O corpo não é


atacado, mas simplesmente percebido de maneira adequada. Ele não te limita
meramente porque não queres que ele o faça. Não és realmente “elevado além”
dele, ele não pode conter-te. Vais aonde queres estar, ganhando e não perdendo o
senso do Ser... Vem a esse lugar de refúgio, onde podes ser quem és em paz. Não
através da destruição, nem através do rompimento, mas meramente através de uma
serena fusão (T-18.VI.13:1-5; 14:5-6).

(9:1) Defende o corpo e terás atacado a tua mente.

Nós voltamos ao ponto central da lição de que quando defendo o corpo, afirmo sua
fraqueza e vulnerabilidade – existe algo fora de mim do qual preciso me proteger. No entanto,
se eu vejo meu corpo como vulnerável ao pecado externo, é apenas porque primeiro tornei o
pecado real na minha mente, e concluí que precisava de proteção em relação a ele, que é o
plano do ego para a defesa, que me fez projetar o pecado em você, dessa forma escapando do
seu efeito inevitável e punitivo. Quando peço ajuda ao Espírito Santo com os problemas aqui,
estou dizendo que tenho um problema pior na minha mente que não quero ver. Assim, Jesus
ensina que atacamos nossas mentes quando defendemos o corpo – o pecado foi tornado real,
e então, tornado totalmente inacessível à correção.

157
(9:2) Pois terás visto nela os defeitos, as fraquezas, as limitações e as falhas das quais
pensas que o corpo tem que ser salvo.

Eu vi o pecado e o mal, a culpa e o medo em minha mente, mas, projetando essa


escuridão, acredito que tudo está em volta de mim, um problema do qual o meu corpo tem que
ser salvo. É por isso que eu preciso de um plano de defesa para me proteger da ameaça
externa, em vez de me voltar para a questão real, que permanece oculta: por que eu escolhi a
culpa do ego para início de conversa?

(9:3-4) Não verás a mente como algo separado das condições do corpo. E imporás a ele
toda a dor que vem da concepção da mente como limitada e frágil, à parte das outras
mentes e separada de sua Fonte.

O pensamento na minha mente de que me separei de Deus e, portanto, sou pecador,


culpado, frágil e vulnerável, é projetado e visto no meu corpo, que se torna como minha mente,
da qual eu não me lembro mais. Tudo o que vejo e conheço agora está do lado de fora.
Conseqüentemente, os pensamentos na minha mente são os mesmos pensamentos no meu
cérebro; exceto que, ao invés de existirem dentro de mim, os vejo vindo de um mundo no qual
nasci. O mundo se torna a realidade, um fato que afirma que sou separado de todos os outros;
um fato que é uma sombra do pensamento que diz que eu me separei da minha Fonte, e existo
independente e livre. A culpa que dolorosamente se segue a esse pensamento pecaminoso é
colocada no corpo, que “sente” a dor, mas não conhece sua fonte. É por isso que Jesus nos diz
em uma passagem familiar que o corpo não é o problema:

De fato, não faz sentido tornar algo que é incapaz de ver responsável pelo que é
visto e culpá-lo pelos sons dos quais tu não gostas, apesar do corpo não poder
ouvir. Ele não sofre pela punição que lhe impões porque não tem sentimentos. Ele
se comporta como tu queres, mas nunca faz a escolha. Ele não nasce e não morre.
Ele não pode fazer outra coisa senão seguir sem objetivo o caminho no qual foi
colocado... Tu o envias adiante para buscar a separação e ser separado. E então o
odeias, não pelo que ele é, mas pelo uso que tens feito dele... Ele vê e age por ti [o
tomador de decisões]... E ele é frágil e pequeno pelo teu desejo... Tu o odeias, no
entanto, pensas que ele é o teu ser, e que sem ele, o teu ser perder-se-ia (T-
28.VI.2:1-5; 3:2-3,6,8; 4:2).

Essa passagem penetrante estabelece tão claramente quanto possível a insanidade de se


focalizar no corpo – tanto como fonte de prazer quanto de dor, como um objeto de reverência
ou de desgosto –, quando é o poder da mente tomadora de decisões que é o verdadeiro
problema, assim como a solução. A defesa é apenas justificada quando é compreendida como
uma vigilância contra nossa escolha pelo ego.

(10:1-3) Esses são os pensamentos que precisam de cura e o corpo responderá com
saúde quando tiverem sido corrigidos e substituídos pela verdade. Essa é a única defesa
real do corpo. Mas, é aqui que procuras a sua defesa?

O problema, mais uma vez, é que você nega a culpa na mente, a projeta no corpo, que
então parece ficar doente. No entanto, a doença não é o sintoma, mas a culpa na mente. Isso
significa que se a sua mente é curada – i.e., a culpa se vai – você não fica doente, não
importando como seu corpo pareça estar. Assim, Jesus nos previne:

Nada cega tanto quanto a percepção da forma. Pois ver a forma significa que a
compreensão foi obscurecida (T-22.III.6:7-8).

158
Perceber a forma do corpo não é ver, pois você vê apenas o que o ego lhe diz, e isso
cega. Julgar a doença de acordo com os sintomas físicos é um exemplo de não ver, pois a
doença é a crença na realidade da culpa, junto com os concomitantes pensamentos de
fraqueza e vulnerabilidade. Se a sua mente é saudável, o corpo tem que ser “saudável”, apesar
das aparências em contrário, pois o corpo não estava doente para início de conversa. Ele
simplesmente obedeceu aos ditames da mente. A confusão sobre a conexão causal entre a
mente e o corpo é uma confusão comum entre os estudantes do Curso. O leitor pode se
recordar dessa discussão logo no início do texto:

A doença, ou a “mentalidade que não está certa”, é o resultado da confusão de


níveis porque sempre acarreta a crença em que o que está fora de lugar em um
nível pode afetar de maneira adversa um outro. Nós nos referimos aos milagres
como o meio de corrigir a confusão de níveis, pois todos os equívocos têm que ser
corrigidos no nível em que ocorrem. Só a mente é capaz de errar. O corpo pode agir
de forma errada apenas quando está respondendo a um pensamento equivocado
(T-2.IV.2:2-5).

Esse ponto é sustentado por uma passagem posterior do texto, mais uma vez
esclarecendo a confusão na compreensão de que a mente é a fonte da doença. Como já vimos
em outro contexto, como o nada – i.e., o corpo – pode ficar doente? Aqui está a passagem:

Assim o corpo é curado pelos milagres porque eles mostram que foi a mente que fez
a doença e empregou o corpo como vítima ou efeito do que fez. Entretanto, meia
lição não ensinará o todo. O milagre será inútil se aprenderes somente que o corpo
pode ser curado, pois não é essa a lição que ele foi enviado a ensinar. A lição
mostra que a mente que pensou que o corpo pudesse estar doente é que estava
doente; a projeção da culpa da mente para fora nada causou e não teve quaisquer
efeitos (T-28.II.11:4-7).

Em resumo, o problema é tentar corrigir o nosso problema no nível do corpo, em vez de


direcionar nossa atenção para sua fonte – a decisão contínua da mente de se identificar com o
ego. Essa decisão é a doença, e mudar a decisão é a cura. Na verdade, mudar a decisão na
mente é a única defesa real do corpo.

(10:4) Tu lhe ofereces um tipo de proteção do qual ele não ganha nenhum benefício,
apenas acrescenta à aflição da tua mente.

Quanto mais buscamos proteger o corpo, mais reforçamos e escondemos a culpa em


nossas mentes. A culpa é a fonte da nossa aflição; e, se não for percebida, a aflição vai
continuar. Lembre-se dessa linha:

De uma coisa estavas certo: entre as muitas causas que percebias como portadoras
de dor e de sofrimento para ti, a tua culpa não constava (T-27.VII.7:4).

Nós com freqüência temos a ilusão de termos cuidado de um problema externamente,


pensando que tudo está maravilhoso: Deus está no Seu Céu, e tudo está certo com o mundo.
No entanto, tudo o que aconteceu foi que a culpa na mente permaneceu não percebida, e,
portanto, apodreceu e foi projetada. Assim, fazemos mais e mais problemas, quer seja no
corpo – o meu ou o seu -, ou em outra coisa qualquer.

(10:5) Não curas, apenas eliminas a esperança da cura, pois falhas em ver aonde a
esperança tem que estar para ser significativa.

159
Essa é uma linha importante, à qual Jesus volta no final da lição. Sempre que nos
voltamos para um problema externo – em nosso mundo pessoal ou no mundo como um todo -,
não podemos curar coisa alguma. Na verdade, fazemos o oposto exato por destruirmos a
verdadeira esperança de cura: a parte tomadora de decisões de nossas mentes – a fonte do
problema e sua solução. Uma vez que o problema é termos escolhido contra o Amor de Deus,
a esperança está apenas em voltar ao tomador de decisões e escolher outra vez, dizendo: eu
cometi um equívoco por escolher o ego, um falso professor que não fala a verdade. O
verdadeiro Professor é o Espírito Santo, e é Sua mensagem de Expiação que quero ouvir.
Em outras palavras, quando nos focalizamos no corpo tanto como sendo o problema
como quanto sendo a resposta, negamos a mente, a única coisa que pode nos salvar; não
Jesus, o Espírito Santo, Deus ou o Um Curso em Milagres – só nós podemos nos salvar,
quando escolhemos Sua ajuda, que é impotente se escolhemos contra ela. Portanto, o ponto
de partida é escolher um professor diferente. O papel de Jesus é nos lembrar desse poder em
nossas mentes, como ele fez com Helen nessa admoestação durante as primeiras semanas da
transcrição:

Eu dificilmente poderia ajudar-te se depreciasse o poder do teu próprio pensamento.


Isso estaria em oposição direta ao propósito desse curso (T-2.VII.1:5-6).

A próxima seção da lição trata especificamente de planejar, e deixe-me reiterar que Jesus
não quer dizer que temos que desistir de fazer planos para o futuro. É óbvio, por exemplo, que
nossa Fundação não poderia ter um programa de ensino se não fizéssemos planos para o
futuro. Ele quer dizer não fazer planos por conta própria. A seção importante acima
mencionada “Eu não preciso fazer nada”, afirma o mesmo ponto (T-18.VII) – Jesus não quer
dizer isso literalmente. Helen obviamente estava engajada em uma grande quantidade de
“fazer” quando transcreveu seu curso. Mais uma vez, não devemos fazer nada por conta
própria. Ainda mais especificamente, quando fazemos planos ou nos comportamos de qualquer
maneira, é porque definimos o problema por nós mesmos, e, portanto, pensamos que
conhecemos a solução.
Nós com freqüência pedimos ajuda ao Espírito Santo para resolver um problema que
primeiro estabelecemos como real. A razão pela qual não precisamos fazer nada é que não
existe problema a ser resolvido. O que requer solução é acreditar que existe um problema do
qual precisamos nos salvar. O único problema é por que iríamos escolher um professor que iria
nos dizer isso. Portanto, uma vez que a escolha equivocada é o problema, a correção é
simplesmente escolher o professor certo. É por isso que Jesus nos impele a não fazermos
nada sem ele, e o motivo pelo qual “a mente curada não faz planos”, pois estaríamos
planejando resolver um problema que não existe, uma cortina de fumaça para esconder o
problema real de termos escolhido de forma errada.
Para repetir mais uma vez, Jesus não está dizendo que não deveríamos fazer coisas no
mundo. Uma das coisas mais importantes que qualquer estudante do Um Curso em Milagres
precisa se lembrar é de ser normal. A Lição 155 diz que você deveria parecer com todas as
outras pessoas, a única diferença sendo que você sorri mais freqüentemente (LE-pI.1:2-3).
Você iria comer, beber, se vestir e ter apólices de seguro como todos os outros – fazendo o
que os outros fazem, mas de forma diferente porque você age com um professor diferente,
sorrindo mais freqüentemente porque Jesus só sorri. O ego sorri apenas quando quer algo, o
que significa que seu sorriso reflete o assassinato. Lembre-se dessa forte declaração do texto:

O que não é amor é assassinato (T-23.IV.1:10).

(11:1-2) A mente curada não faz planos. Executa os planos que recebe ouvindo a
Sabedoria que não lhe é própria.

160
Muitos estudantes do Curso pensam que seguem esse princípio, pois perguntam tudo a
Jesus. No entanto, eles sem saber caem na armadilha do ego, porque fazem a ele sua
pergunta, e, portanto, só podem receber uma resposta nos seus termos. O próprio fato de
pedirem algo específico – e.g., cura física, um lugar para estacionar, dinheiro, um
relacionamento – limita a resposta que recebem. É a arrogância de pensar que eles conhecem
o problema, e então exigir que Jesus o resolva para eles. É por isso que ele nos previne contra
pedirmos o específico, como nessa passagem revisitada:

O segredo da oração verdadeira é esquecer das coisas que pensas que precisas. E
pedir o que é específico é quase a mesma coisa que olhar para o pecado, e depois
perdoá-lo. Da mesma forma, na oração passas por cima das tuas necessidades
específicas tal como as vês e entrega-as nas Mãos de Deus. Lá, não queres ter
outros deuses diante Dele, nenhum Amor a não ser o d’Ele. O que poderia ser a Sua
resposta exceto que te lembres d’Ele? Isso pode ser negociado a favor de um
conselho sem importância sobre um problema que tem a duração de um instante?
Deus só responde a favor da eternidade. Mas, ainda assim, todas as pequenas
respostas estão contidas nisso (C-I.1:4).

Pedir a Jesus ajuda específica não é pecaminoso, mas realmente limita sua resposta,
como ele avisou a Helen nessa mensagem logo antes de ele começar a transcrever A Canção
da Oração. Nós repetimos seu ponto central aqui, o que reafirma o que viria no que agora é o
panfleto:

Qualquer pergunta específica envolve um grande número de presunções que


inevitavelmente limitam a resposta. Uma pergunta específica é realmente uma
decisão sobre o tipo de resposta que é aceitável. O propósito das palavras é limitar,
e, limitando, criar uma vasta área de experiência mais manejável. Mas isso significa
manejável por você. Para muitos aspectos da vida nesse mundo isso é necessário.
Mas não para pedir. Deus não usa palavras, e não responde em palavras. Ele só
pode “falar” ao Cristo em você, Que traduz Sua Resposta em qualquer linguagem
que você possa entender e aceitar... Respostas não estão por sua conta. Qualquer
limite que você coloca nelas interfere com o ato de ouvir. A Voz de Deus é silente e
fala em silêncio. Isso significa que você não coloca frases na pergunta e não
restringe a resposta... O único pedido real é a Resposta de Deus. Isso precisa da
humildade da confiança, não da arrogância da falsa certeza (Ausência de Felicidade,
p. 445-46, 450).

Essa, então, é a resposta para por que não deveríamos fazer planos: nós não sabemos
do que precisamos, sem falar no que precisamos planejar. Assim, planejar-o-específico é o
mesmo erro que pedir-o-específico. Nossas energias e esforços são muito melhor situados em
pedir ajuda para perdoar, pois isso e só isso vai remover as barreiras à nossa escuta da Voz de
amor, Cuja sabedoria gentilmente nos guia em nossas palavras e ações. A culpa é o problema,
o perdão é a resposta. Nunca precisamos ser mais específicos do que isso.

(11:3) Espera até que lhe seja ensinado o que deve ser feito e, então, começa a fazê-lo.
Isso presume que estamos escolhendo o Espírito Santo como nosso Professor, o que
significa que Ele é Quem nos instrui sobre a natureza do nosso problema. Logo no início do
livro de exercícios, Jesus nos ensina que nunca estamos transtornados pela razão que
imaginamos (LE-pI.5). Em resposta ao que pensamos ser o problema, desenvolvemos planos e
defesas. Se formos “bons” estudantes do Curso, trazemos o Espírito Santo para dentro para se
tornar parte do nosso plano, para cuidar dos transtornos causados pelo que nós decidimos, e
dos quais precisamos nos defender. Seu ensinamento real, no entanto, é o perdão – o desfazer
dos nossos impedimentos para ouvir. Quando isso se vai, estamos livres para que nos seja
161
ensinado o que dizer ou fazer. Nosso foco, portanto, está apenas em trazer a escuridão das
nossas ilusões à luz da Sua verdade:

A extensão do perdão é a função do Espírito Santo. Deixa isso a Ele. Permite que a
tua preocupação seja apenas a de dar a Ele o que pode ser estendido. Não guardes
segredos escuros que Ele não possa usar, mas oferece-Lhe as dádivas diminutas
que Ele pode estender para sempre. Ele tomará cada uma e fará dela uma potente
força em favor da paz. Ele não negará nenhuma bênção a ela, nem a limitará de
forma alguma (T-22.VI.9:2-7).

Aprendermos realmente com o nosso Professor não é aprendermos o que deveríamos


fazer, mas primeiro o que é o nosso problema e pedirmos ajuda para olhar para a situação de
forma diferente. Olhando através dos Seus olhos, percebemos que a situação – problemas,
mágoas, dores – é parte do plano do ego para nos confundir em relação a onde o problema
realmente está. Nossos planos nos levam ainda mais profundamente para o mundo de corpos;
o plano do Espírito Santo ou de Jesus nos devolvem à mente. Esse processo é sucintamente
resumido na seguinte passagem de um capítulo anterior no texto:

Meu controle pode se encarregar de todas as coisas que não têm importância,
enquanto minha orientação pode dirigir tudo o que tem, se tu a escolheres assim. O
medo não pode ser controlado por mim, mas pode ser auto-controlado. O medo me
impede de te dar o meu controle (T-2.VI.1:3-5).

Dando nosso medo a Jesus, ele pode controlá-lo. Isso liberta seu amor para fluir através
de nossas mentes, gentilmente guiando nossos pensamentos, palavras e comportamento.

(11:4-5) [A mente curada] Não depende de si mesma para coisa alguma, a não ser para a
sua adequação em cumprir os planos que foram designados para ela. É segura na
certeza de que obstáculos não podem impedir o seu progresso em realizar qualquer uma
das metas que servem ao plano maior estabelecido para o bem de todos.

Eu sou adequado para cumprir o plano designado para minha mente quando deixo o
Espírito Santo ser o meu Professor e guia. O “plano maior” é a Expiação, levada adiante por
cada fragmento aparente da Filiação praticar suas lições diárias de perdão, o que consiste de
escolher um professor diferente de perdão. Na Lição 134, vimos como o ego nos ensina a
perdoar por tornar o pecado real, e depois ignorá-lo. O verdadeiro Professor do perdão nos
ajuda a perceber que o problema que precisa de perdão está dentro de nossas mentes, porque
nós o colocamos ali para manter nossa existência separada intacta. Eu sei que sou adequado
para cumprir minha parte nesse plano porque tenho um Professor Que vai me guiar a olhar
para dentro em busca de ajuda para o problema, em vez de para fora. O Espírito Santo é o
grande princípio de correção – a Expiação -, pois Ele desfaz o que nunca foi.

(12:1) A mente curada está livre da crença de que tem que fazer planos, mesmo sem
poder saber qual o melhor resultado, quais os meios para consegui-los, ou como
reconhecer o problema que o plano pretende solucionar.
A mente curada percebe que não sabe nada, e é grata por não saber nada. Ela não
presume arrogantemente que conhece o problema e, portanto, sua solução. Nós pensamos
que sabemos como as pessoas deveriam responder aos seus problemas – quer seja alguém
com quem vivemos ou trabalhamos, ou o próprio Jesus – porque pensamos que sabemos do
que precisamos. No entanto, isso é tudo um arranjo do ego para que, quando as pessoas não
derem o que precisamos, nos sintamos justificados em ficar zangados. Assim, não queremos
realmente ajuda enquanto nutrimos nossa individualidade. Entretanto, quando reconhecemos
nosso equívoco e escolhemos o verdadeiro Curador como nosso Professor, um peso tremendo
162
é erguido de cima de nós. Não precisamos mais nos preocupar com nada porque percebermos
que a preocupação em si mesma é uma defesa, sendo uma preocupação sobre uma defesa
ilusória (o corpo) para um problema ilusório (a mente).

(12:2-3) Ela [a mente não curada] tem que fazer um uso equivocado do corpo nos seus
planos até que reconheça que isso é assim. Mas, quando aceita isso como verdadeiro,
então está curada e libera o corpo.

Até aceitarmos que não sabemos nada e Jesus sabe tudo, vamos usar mal o corpo. Isso
tem que ser assim, pois se eu me virar contra Jesus, vou me sentir culpado, pensando que sei
melhor do que ele. A culpa, assim, é tão esmagadora que sou levado a projetá-la, vendo meu
problema no corpo – o seu ou o meu – e depois fazendo algo sobre isso. Portanto, eu uso mal
o corpo porque o vejo como real, em vez de como uma defesa contra a culpa na minha mente,
que primeiro tornei real. Tornando o corpo parte da realidade, portanto, ele se torna um
problema sério e uma preocupação, exigindo atenção e defesa.

(13:1) A escravidão do corpo aos planos que a mente não-curada estabelece para salvar-
se tem que fazer o corpo adoecer.

Os planos que a mente egóica não-curada estabelece para si mesma são sempre uma
expressão do perdão-para-destruir – vendo o problema em um corpo. Ela precisa tornar o
corpo doente porque uma mente não-curada se voltou contra o Espírito Santo, deixando-o
separado – pecador e culpado, o que é a doença. Uma vez doente, a mente não tem outro
recurso além de projetar a culpa, dessa forma dando ao corpo os sintomas físicos/psicológicos
que chamamos de doença. Mais uma vez, a verdadeira doença está na mente, mas é
experienciada no corpo devido à necessidade do ego de escapar da doença da culpa, dessa
forma protegendo a mente de qualquer possibilidade de mudança.

(13:2) Ela [a mente não-curada] não está livre para ser o meio de ajudar em um plano que
excede em muito a sua própria proteção e que precisa dos seus serviços por pouco
tempo.

O plano é a Expiação, e o perdão é o meio pelo qual cumprimos nossa parte nela. Isso
tem a ver apenas com uma mudança da mente ou de professores, e nada a ver com
comportamento. Assim, não tem nada a ver com o Um Curso em Milagres como um livro que
tem que ser ensinado ou pregado. Nossa parte no plano é simplesmente pedir ajuda a Jesus
para perdoarmos nossos relacionamentos especiais.

(13:3) Nesta capacidade, a saúde é assegurada.

Sem culpa na minha mente, sei que não sou um corpo. Portanto, como poderia ficar
doente? A “cura do corpo” vem de reconhecer que eu não sou um corpo. Eu não posso ficar
bem ou doente, e isso é verdadeiro não importando a aparência do corpo.

(13:4) Pois tudo o que a mente emprega para isso funcionará perfeitamente, com a força
que lhe foi dada e não pode falhar.

Quando o meu corpo serve sob a orientação do Espírito Santo, não pode deixar de
funcionar perfeitamente, não importando seu estado. Assim, nunca podemos julgar o que está
na mente de alguém pelo que observamos no corpo. Se nós observarmos algo que pensamos
ser importante, já estamos insanos e distorcendo a verdade. Portanto, qualquer coisa que
concluamos será um equívoco. O mundo não pode ser compreendido exceto do ponto de amor
em nossas mentes, no qual não existe julgamento ou necessidade de entender nada nem
163
ninguém. Nós percebemos que todas as pessoas são insanas, o que significa que todas são
doentes, não importando suas personalidades ou corpos. É suficiente que saibamos que sem
culpa na mente, o corpo vai expressar amor sem esforço, em qualquer forma que for
necessária. A seguinte passagem, já citada, é talvez a melhor instrução no Um Curso em
Milagres sobre não cometermos o erro de olharmos para a forma para entendermos o
conteúdo. Quando alguém se identifica com o pensamento da Expiação, esse equívoco nunca
pode acontecer. Julgamento é realmente um substituto esfarrapado para a visão, que não
aceita a comparação como um meio de abordar o Filho de Deus. Assim, Jesus nos incita a
tratarmos uns aos outros com o amor que merecemos, cuja própria natureza só pode reduzir o
medo, não exacerbá-lo. Aqui está a maravilhosa passagem:

O valor da Expiação não está na maneira na qual ela é expressa. De fato, se é


usado de forma verdadeira, inevitavelmente vai ser expressada do modo que for
mais útil para quem recebe, seja ele qual for. Isso significa que um milagre, para
atingir a sua plena eficácia, tem que ser expressado em uma linguagem que aquele
que recebe possa compreender sem medo. Isso não significa necessariamente que
esse é o mais elevado nível de comunicação do qual ele é capaz. Significa, contudo,
que é o nível mais alto de comunicação do qual ele é capaz agora. Todo o objetivo
do milagre é elevar o nível da comunicação e não descê-lo por aumentar o medo (T-
2.IV.5).

(14:1) Talvez não seja fácil perceber que planos iniciados por nós mesmos não passam
de defesas e todos foram feitos para realizar esse propósito.

Em nosso mundo, não parece que a maior parte do que fazemos cai na categoria de
planos auto-iniciados que são apenas defesas. No entanto, isso fica claro quando entendemos
que tudo o que fazemos serve ao propósito de tornarmos o mundo e o corpo reais, refletindo o
propósito subjacente do ego de negar a presença da culpa em nossas mentes, que já negou a
presença da Expiação.

(14:2-4) São o meio pelo qual a mente assustada quer empreender a sua própria
proteção, ao custo da verdade. Isso não é difícil de reconhecer em algumas das formas
que toma o auto-engano, em que a negação da realidade é bem óbvia. No entanto, fazer
planos não é freqüentemente reconhecido como uma defesa.

Para repetir, Jesus não está falando sobre planejar, mas sobre planos auto-iniciados.
Planejar em e por si mesmo é uma parte natural de viver nesse mundo, e, como o corpo em si,
é neutro, servindo ao propósito do ego ou do Espírito Santo. O problema, portanto, não é
planejar, nem a condição do corpo, mas o propósito do ego que é servido por tal planejamento.
Uma vez que o problema foi identificado, a correção é fácil e sem esforço.

(15) A mente engajada em fazer planos para si mesma está ocupada em estabelecer um
controle sobre acontecimentos futuros. Ela não pensa que as suas necessidades serão
providas, a menos que faça as suas próprias provisões. O tempo vem a ser uma ênfase
no futuro, a ser controlado pelo aprendizado e pela experiência obtida em eventos
passados e em crenças anteriores. Ela não vê o presente, pois repousa sobre a idéia de
que o passado ensinou o suficiente para deixá-la dirigir o seu curso futuro.

Isso resume a experiência de todos no mundo. Vivemos nossas vidas no presente do ego,
planejando o futuro, baseados em nossas experiências no passado. Nosso planejamento
nunca é baseado em uma decisão que tomamos no presente verdadeiro, o instante santo, no
qual escolhemos Jesus em vez do ego. Na verdade, tudo o que fazemos é baseado no
passado. Por exemplo, eu não gosto de você hoje por causa do que você me disse ontem. Se
164
o tempo é uma ilusão, no entanto, o que ontem tem a ver com qualquer coisa? Nada, a menos
que eu queira uma desculpa para odiá-lo hoje, porque esse ódio me impede de olhar para o
ódio a mim mesmo. O passado, assim, se torna uma forma de justificar minha decisão no
presente, de odiar você. Além disso, se eu quiser provar que a vulnerabilidade do meu corpo
não é minha culpa, preciso apenas olhar para o passado, o que me diz que todos morrem
nesse mundo, de acordo com leis além do nosso controle. Eu, portanto, tenho que fazer
provisões para minha morte ou morte dos meus seres amados – tudo isso baseado na
percepção passada. A necessidade subjacente servida por esse sistema de pensamento é
preservar minha culpa, vendo-a em outra pessoa.
Como expliquei antes, uma forma de entender o mundo do tempo – passado, presente e
futuro – é vê-lo como uma sombra do mundo interno de pecado, culpa e medo. Quando esses
pensamentos são projetados da mente, fazem surgir o mundo de tempo, que diz: “Eu pequei
contra Deus no passado, sou culpado no presente pelo que fiz, e mereço a punição que temo
que virá no futuro”. Isso significa que o pecado, a culpa e o medo, passado, presente e futuro
são unidos, e você não pode ter um sem o outro. Falamos deles como se fossem dinâmicas
separadas ou pensamentos distintos, mas eles são interligados em uma única unidade de
separação e ódio.
Na verdade, tudo o que eu faço, penso, sinto ou planejo é baseado no passado. No
entanto, se eu agir com Jesus, não estarei mais separado dele, e, portanto, não sou separado
do Amor de Deus. Sem separação, não pode haver sistema de pensamento de ódio e nenhum
mundo temporal. Portanto, com Jesus como meu professor, meu futuro planejamento não é
expiar pelos pecados passados, dessa forma tentando evitar uma catástrofe inevitável que eu
sei que é minha punição inevitável. Em vez disso, meu planejamento vem do amor, e eu não
preciso fazer nada além de seguir sua gentil orientação.

(16:1) A mente que planeja está, assim, recusando-se a permitir a mudança. Aquilo que
aprendeu antes vem a ser a base para as suas metas futuras.

Como uma mente não-curada que planeja, não permito a mudança porque quero que a
separação seja real, mas em outra pessoa. Nem quero qualquer mudança real no mundo, pois
isso iria refletir uma mudança na minha mente, e eu quero que minha decisão original pelo ego
continue. Assim, Jesus nos ensina sobre nosso medo de mudanças:

Muitos montam guarda sobre suas idéias porque querem proteger seus sistemas de
pensamento assim como são e aprendizado significa mudança. A mudança é
sempre amedrontadora para os separados, pois não podem concebê-la como um
movimento em direção a curar a separação. Eles sempre a percebem como um
movimento rumo à maior separação, pois a separação foi a sua primeira experiência
de mudança. Acreditas que, se não permitires que nenhuma mudança entre no teu
ego, acharás paz (T-4.I.2:1-4).

O medo básico do ego é o de que o Filho mude sua mente – perceba que cometeu um
erro por escolher o ego, mude sua decisão, e escolha o Espírito Santo. Essa é a mudança que
o ego nunca quer que façamos, e o motivo pelo qual ele reforça o mundo de pecado, culpa e
medo como uma presença corporal fora da mente – um problema que precisa ser desfeito
através do planejamento e defesa. Mudar nossas percepções de vitimação, portanto, nunca
pode acontecer, pois isso iria colocar nossos pés ao longo do caminho da mudança, que, em
última instância, acaba com o ser egóico com o qual nos identificamos.

(16:2-3) Aquilo que aprendeu antes vem a ser a base para as suas metas futuras. A sua
experiência passada dirige a sua escolha do que irá acontecer.

165
A especificidade desse aprendizado passado não faz diferença. O que importa é que eu
acredito que entendo a situação, uma compreensão baseada apenas no passado, que
determina minhas necessidades e problemas, e depois meus planos almejados em me voltar
para essas preocupações.

(16:4-5) E não vê que é aqui e agora que está tudo o que precisa para garantir um futuro
que não é como o passado, sem a continuidade de qualquer uma das velhas idéias e
crenças doentias. A antecipação não desempenha nenhum papel, pois a confiança
presente dirige o caminho.

A frase aqui e agora é tirada da terapia de Gestalt, inspirada em Fritz Perls e outros. Ela
floresceu nos anos sessenta, quando o Um Curso em Milagres estava sendo transcrito. Como
o termo é usado no Curso, aqui e agora significa o instante santo, o que não era o significado
dos Gestaltistas. No instante santo, eu escolho contra o pecado, culpa e medo do ego, e,
portanto, contra o tempo. Portanto, não existe experiência temporal do corpo, e então, minha
atenção volta para o mundo do tempo e do espaço, onde meu corpo parece estar, e ele está
sem a carga do pecado, culpa e medo – nenhuma culpa sobre um passado pecaminoso, nem o
medo sobre um futuro amedrontador. Eu, portanto, sou um vaso vazio através do qual o amor
de Jesus flui. A continuidade de que ele fala é a unidade forjada pelo pecado, culpa e medo,
passado, presente e futuro. No instante santo, eu não tenho medo do futuro, porque não há
futuro. O passado se foi também, e tudo o que eu conheço é o amor de Jesus que escolhi no
aqui e agora.

(17:1) Defesas são os planos que empreendes contra a verdade.

Isso nos remete à Lição 136, “A doença é uma defesa contra a verdade”. O princípio está
presente de forma um pouco mais geral aqui: o plano do ego para a salvação que já
discutimos. Resumindo brevemente essas discussões prévias, o ego nos diz para erigirmos
defesas contra a culpa na mente como parte de seu plano secreto para nos manter acreditando
em sua realidade; uma realidade tão horrível que nossa única defesa é projetá-la e vê-la em
outra pessoa. No entanto, o ego nunca nos diz que a culpa também é uma defesa, protegendo
nossos egos da verdade de quem somos como o Filho de Deus.

(17:2) O seu objetivo é o de selecionar o que aprovas, e de ignorar o que consideras


incompatível com as tuas crenças a respeito da tua realidade.

Nós aprovamos qualquer coisa que reforce o fato de estarmos certos e Deus errado; isto
é, o Filho se separou do seu Criador, e assim, seu pecado de especialismo é real. No entanto,
enquanto nós alegremente mantemos nosso ser especial, com a mesma alegria damos o
pecado a outra pessoa através da projeção. Portanto, aprovamos qualquer coisa que
demonstre a culpa de outra pessoa, e rejeitamos qualquer coisa que iria provar o oposto. Dizer
que somos todos parte do Filho único de Deus que não merece julgamento ou danação é
incompatível com o plano do ego de tornar nossa individualidade real, mas culpando outra
pessoa por isso. Todas essas idéias são rapidamente negadas, rejeitadas ou desconsideradas.

(17:3) Mas, o que fica é, de fato, sem significado.

Em outras palavras, o que permanece depois de desconsiderarmos a evidência que prova


que Deus está certo e nós errados é a percepção de que o pecado é real, mas está em outra
pessoa. Isso dificilmente é sem significado para nós, mas é para Deus, Que não reconhece a
separação, sem falar em nosso pecado.

166
(17:4) Pois a tua realidade é a “ameaça” que as tuas defesas querem atacar, obscurecer,
fragmentar e crucificar.

A ameaça real ao ego é o poder da mente do Filho de escolher contra ele e a favor do
Espírito Santo, a memória em nossas mentes divididas de Quem somos como espírito – o Filho
de Deus como Ele o criou. Assim, o ego nos diz que suas defesas de culpa e o corpo vão nos
proteger da aniquilação de Deus como punição pelo nosso pecado. Ele não revela que nossas
defesas realmente nos protegem de reconhecer que podemos mudar nossas mentes e
escolher a verdade em vez da ilusão.
O seguinte parágrafo está entre os mais mal compreendidos no Um Curso em Milagres.
Pelo fato dos estudantes o usarem fora do contexto, ele tem sido usado para atacar a eles
mesmos e a todos os outros:

(18) O que deixarias de aceitar se apenas soubesses que tudo o que acontece, todos os
eventos, passados, presentes e por vir, são gentilmente planejados por Aquele Cujo
único propósito é o teu bem? Talvez tenhas entendido o Seu plano de forma equivocada,
pois Ele nunca te ofereceria dor. Mas as tuas defesas não te deixaram ver a Sua bênção
amorosa brilhando em cada passo que jamais deste. Enquanto fazias planos para a
morte, Ele te conduzia gentilmente para a vida eterna.

O ego adora aplicar essa passagem para o específico, reforçando nossa especificidade e
contradizendo a realidade. Não existe especificidade no Céu, e se o Espírito Santo é a
memória da não-especificidade de Deus e do Amor abstrato, não pode haver especificidade no
Espírito Santo, e certamente não em Seu “plano”. O plano do ego desconsidera o que é
incompatível com sua meta subjacente e preserva o que é. Sua meta subjacente é proteger o
especialismo, mas projetar a responsabilidade por ele em algo ou alguém mais. Daí a
necessidade do ego de tornar o específico real. A Lição 161 afirma que “o ódio é específico”
(LE-pI.161.7:1), e “Assim o específico foi feito” (LE-pI.161.3:1). Nós precisamos de um mundo
de coisas específicas para podermos projetar nosso ódio inconsciente em outra pessoa, para
que o pecado seja visto fora de nós. Um meio engenhoso de demonstrar a validade do plano é
fazer com que o Espírito Santo, ou até mesmo o Próprio Deus, esteja envolvido com o plano
específico do ego para nos manter específicos.
Assim, uma passagem como essa é facilmente tirada do seu contexto não-dualista e
usada para provar que o Espírito Santo tem um plano específico para mim, como um individuo
específico. Aqui, assim como em outros trechos, a linguagem do Curso parece sugerir tais
especificidades, porque Jesus fala conosco como os indivíduos específicos que acreditamos
ser:

No entanto, Ele [a Unicidade dentro de nossas mentes] tem que usar uma linguagem
que essa mente possa compreender, na condição na qual ela pensa que está (T-
25.I.7:4).

Jesus fala conosco, portanto, na linguagem dualista da especificidade, pois a dualidade é


a condição específica na qual pensamos viver. Conforme subimos a escada da salvação,
percebemos que nossa realidade não é o indivíduo específico amado por Deus, mas uma parte
do Filho único de Deus – não-específico. O plano do qual Jesus fala – similar ao “plano maior
estabelecido para o bem de todos” – é a Expiação: o plano do Espírito Santo para corrigir o
plano de separação do ego.
Na verdade, o Espírito Santo não tem um plano, assim como Deus também não tem. Se
houvesse um plano, teria que haver um problema real a ser desfeito. O que tem que ser
desfeito é meramente nossa crença equivocada de que existe um problema: separação e
pecado. Assim, o “plano” do Espírito Santo desfaz o plano do ego de inventar um problema
para que busquemos e não encontremos uma solução para ele. Para refrescar nossas
167
memórias, o plano do ego é manter a individualidade do Filho, defendendo-se para que o Filho
jamais mude sua mente em relação a ele. É por isso que o plano de Expiação do Espírito
Santo reflete a Unicidade do Céu, que torna a separação impossível. O próprio fato da
memória da nossa realidade como Cristo estar na mente corrige o sistema de pensamento do
ego de separação de Deus. Individualidade e unicidade não podem coexistir. Se o Espírito
Santo é a memória da perfeita Unicidade, nossa identificação com Sua amorosa Presença
desfaz o ego. Em outras palavras, nada é feito para contrariar o plano do ego, exceto aceitar
quietamente a presença da verdade. Em uma passagem importante que já consideramos,
lemos sobre esse processo de desfazer, que “não faz nada”:

O milagre nada faz. Tudo o que ele faz é desfazer. E assim anula a interferência
naquilo que foi feito. Ele não acrescenta, apenas retira (T-28.I.1:1-4).

É por isso que o plano do Espírito Santo não é específico. Sua Presença amorosa da
verdade em nossas mentes é o desfazer do ego, e Seu plano é que o chamemos conforme
atravessamos os planos específicos de especialismo do ego, pedindo ajuda para olhar de
forma diferente para nossos relacionamentos especiais. É a isso que uma lição posterior se
refere como “o roteiro da salvação” (LE-pI.169.9:3).
O texto nos diz que o ego fala primeiro e está sempre errado (T-5.VI.3:5; 4:2), e o Espírito
Santo é a Resposta (T-5.II.2:5). O ego falar primeiro é seu plano para tornar o sonho real e nos
impedir de jamais voltarmos para casa. Esse é o seu roteiro, projetado no mundo temporal e
espacial, que é a manifestação desse plano atemporal de manter a separação intacta e a nós
em um perpétuo estado sem mente. O plano do Espírito Santo é simplesmente olhar, com a
ajuda de Jesus, para o que estamos fazendo em nossas vidas e como isso preserva nosso
especialismo. Portanto, enquanto nós fazemos planos para a morte – o plano final do ego, pois
a culpa merece a punição final -, o pensamento da vida eterna permanece conosco. O
propósito específico do Um Curso em Milagres, para não dizer o desses exercícios, é nos
ajudar a escolher esse pensamento eterno e amoroso.

(19:1) A tua confiança atual Nele é a defesa que promete um futuro imperturbado, sem
nenhum traço de pesar e com uma alegria que cresce constantemente, enquanto essa
vida vem a ser um instante santo, estabelecido no tempo, mas ocupado apenas com a
imortalidade.

Assim como nos primeiros capítulos do texto, Jesus joga com o conceito de defesas
psicológicas e sua utilização de mecanismos inexistentes contra o problema inexistente da
culpa, dessa forma tornando a separação real. A Expiação também é uma defesa, mas uma
defesa curativa:

Tu podes defender a verdade assim como o erro. Os meios são mais fáceis de
serem compreendidos depois que o valor da meta está firmemente estabelecido. A
questão é saber para que isso serve... A Expiação é a única defesa que não pode
ser usada destrutivamente porque não é um instrumento feito por ti... A Expiação...
torna-se a única defesa que não é uma espada de dois gumes. Só pode curar (T-
2.II.3:1-3; 4:1,8-9).

Em Um Curso em Milagres, portanto, dois tipos de defesa são descritos: a do ego, que
torna a culpa real e depois luta para nos proteger através da projeção; e a do Espírito Santo,
que simplesmente nos lembra de que a verdade é verdadeira e a ilusão é ilusão. Essa última
defesa é resumida na terceira lição já mencionada do Espírito Santo, “Sê vigilante apenas por
Deus e por Seu Reino” (T-6.V-C). Unidos a todos, nós gentilmente sorrimos com Jesus diante
do ego, e isso constitui nossa defesa. Assim, Jesus usa uma palavra com conotações
decididamente egóicas, mas com um significado totalmente diferente.
168
(19:2) Não deixes que outras defesas senão a tua atual confiança dirija o futuro, e essa
vida vem a se um encontro significativo com a verdade que só as tuas defesas poderiam
querer ocultar.

Estritamente falando, a verdade não é possível nesse mundo, pois ela não pode estar
presente na irrealidade. No entanto, seu reflexo pode, visto através do perdão que desfaz as
ilusões do ego, especificamente seu sistema de pensamento de pecado, culpa e medo, e
passado, presente e futuro. Nós nos unimos a Jesus e seu amor no instante santo, no qual não
existe separação. Tudo o que fazemos então flui desse amor, o significado de: “Não deixes que
outras defesas senão a tua atual confiança dirija o futuro”.
Enquanto virmos a nós mesmos como indivíduos específicos, nossa experiência será de
uma pessoa específica chamada Jesus, falando especificamente a nós e dando orientação
específica. A maioria dos estudantes do Um Curso em Milagres passa por um período assim.
Conforme você sobe a escada, no entanto, entende que o que é importante não é a orientação
específica que recebe, mas a experiência não-específica do Amor de Deus. Uma vez que você
tiver essa experiência, não poderá haver interesse no específico, nem preocupação em relação
ao futuro. No instante santo, o lugar do amor abstrato, não existe futuro. Portanto, orientação
específica é supérflua – O que devo fazer amanhã? Qual emprego devo assumir? O que me
faria feliz no futuro? –, pois uma vez identificado com o amor de Jesus, sua culpa passada,
aflição presente, e medos futuros todos desaparecem.
Isso não significa, como já discutimos, que você não vá fazer planos. Pessoas normais
fazem. Mas, quando o amor é sua identidade, planejar é algo feito sem esforço, ansiedade ou
tensão. Você faz qualquer coisa que seja mais amorosa para você e para as pessoas ao seu
redor. Uma vez que você habita um mundo de tempo e espaço, seu comportamento, em
alguns momentos, tem que envolver planos. No entanto, sua fonte é o mundo sem culpa do
instante santo. Quando sua atenção volta para o mundo – como explicado na Lição 184 (LE-
pI.184.9,10) –, isso acontece com a presença amorosa e repleta de luz de Jesus ao seu lado.
Essa luz e amor informam que tudo o que você faz – presente e futuro – e seu planejamento
não é para aliviar ansiedade ou resolver problemas específicos, mas é a extensão natural do
amor conforme ele se expressa em um mundo de tempo e espaço. Assim, “essa vida se torna
um encontro significativo com a verdade”.

(20:1) Sem defesas, tu vens a ser uma luz que o Céu, com gratidão, reconhece como a
sua própria luz.

Quando você deixa de lado a necessidade do ego de proteger a si mesmo – nossa


individualidade e especialismo -, o que resta é a luz do Céu, que a escuridão das nossas
defesas tenta ocultar. Ao removermos os véus, a luz brilha através da nossa consciência para
abraçar a Filiação.

(20:2) Ela te conduzirá pelos caminhos designados para a tua felicidade de acordo com o
antigo plano, que começou com o início dos tempos.

Jesus não está falando sobre um plano específico, envolvendo você se tornar um
professor celebrado ou uma pessoa santa, ou iniciar um grupo onde todos vão adorar a você
e/ou uns aos outros. O plano antigo da Expiação, iniciado no instante em que a separação
pareceu acontecer, é a memória de Deus que veio conosco ao começarmos nosso sonho:
“com o início dos tempos”. Enquanto nos identificarmos como indivíduos específicos, nossas
mentes vão traduzir os ensinamentos abstratos do Um Curso em Milagres – para não
mencionar o Amor abstrato de Deus – em algo específico. Conseqüentemente, vamos pensar
que Jesus está falando sobre um plano específico para mim. Na verdade, existe um plano
específico para mim: a vida do meu ego de relacionamentos especiais, na qual todos são
169
percebidos como pecadores e vitimadores, enquanto eu, e aqueles com quem me identifico,
permanecemos a vítima inocente. Com a ajuda de Jesus, olho para o plano do ego de forma
diferente. Em outras palavras, o plano do Espírito Santo é aquele que eu fiz – o currículo dos
meus relacionamentos especiais – visto através da Sua visão misericordiosa. Vistos sem
julgamento, meus relacionamentos são curados. Esse plano antigo de Expiação é, portanto
nossa função especial de perdão, descrita na seguinte passagem familiar:

Tal é a benigna percepção do Espírito Santo do especialismo, o uso que Ele faz do
que tu fizeste para curar ao invés de ferir. A cada um Ele dá uma função especial na
salvação que só ele pode desempenhar, um papel somente dele. Nem o plano se
completa enquanto ele não encontra a sua função especial e não cumpre a parte
que lhe é atribuída para fazer com que ele mesmo seja completo dentro de um
mundo onde reina a incompleteza (T-25.VI.4).

(20:3-4) Os teus seguidores unirão as suas luzes à tua e ela aumentará até que o mundo
seja iluminado com alegria. E os nossos irmãos, com contentamento, deixarão de lado
as suas incômodas defesas, que em nada lhes foram úteis e só podiam aterrorizar.

Essa é outra expressão do tema repetidamente mencionado no Curso: a unicidade do


Filho de Deus. Não pode haver separação quando você escolhe Jesus como seu professor,
porque seu amor em si mesmo expressa essa unicidade. O mundo é salvo naquele instante, e
você se torna como Jesus – uma luz da verdade brilhando através de toda a Filiação. Esse é o
significado de “seguidores” – não pessoas que se penduram em cada palavra sua e o adoram
no seu altar, mas aqueles que vão fazer a mesma escolha que você fez. Jesus também fala de
toda a Filiação, unida como uma mente e luz, conforme sua mente muda da escuridão para a
luz.

(21) Vamos antecipar esse momento hoje, com confiança presente, pois isso faz parte do
que foi planejado para nós. Estaremos certos de que tudo o que precisamos nos é dado
para a nossa realização no dia de hoje. Não vamos planejar como será feito, mas
reconhecemos que o fato de nos despojarmos de todas as nossas defesas é tudo o que
é preciso para que a verdade desponte com certeza sobre as nossas mentes.

Enquanto acreditamos que somos corpos específicos com necessidades específicas,


estamos no primeiro degrau da escada. Além disso, ao descrever essa escada em A Canção
da Oração, Jesus nos diz que sempre que pedirmos coisas específicas ao Espírito Santo –
pedir-a-partir-da-necessidade (C-1.II.2:1) -, refletiremos essa posição (C-1.III.2:1). Ao subirmos
a escada, nos identificando cada vez menos com o corpo e cada vez mais com a mente,
percebemos que a única necessidade é escolhermos o professor certo que vai nos levar para
casa, gentilmente nos ajudando a despertar do sonho aterrorizante do ego e a nos lembrar de
que nunca deixamos a casa do nosso Pai. Todos compartilham essa necessidade, que nos
unifica como um único Filho. Atendendo a essa necessidade para nós mesmos, o despertar
brilha através da mente da Filiação, alegremente abraçando a todos nós em sua paz gentil:

Sempre que fores tentado a empreender uma jornada inútil que te conduzirá para
longe da luz, lembra-te do que realmente queres e dize:

O Espírito Santo me conduz a Cristo, a que outro


lugar iria eu? Que necessidade tenho eu senão a
de despertar Nele?

... O Espírito Santo te ensinará a despertar para nós e para ti mesmo. essa é a única
necessidade real a ser preenchida no tempo. Salvar-te do mundo consiste apenas
170
nisso. A minha paz, eu te dou. Toma-a de mim,trocando-a alegremente por tudo o
que o mundo tem te oferecido só para tomar de volta. E nós a espalharemos como
um véu de luz através da face triste do mundo, na qual escondemos nossos irmãos
do mundo e o mundo deles (T-13.VII.14; 16:5-10).

Mais uma vez, enquanto nos identificarmos com nossa existência individual, a mente vai
traduzir para o específico nossa necessidade pelo professor de perdão. Nada está errado com
isso, mas o equívoco acontece quando pensamos que isso é tudo o que existe, pois então,
nunca iremos passar dos dois primeiros degraus da escada. O que terá acontecido – que em
certo sentido nos deixa pior do que antes – é termos tornado esse sonho ainda mais real,
porque agora o próprio Jesus está nos ajudando a encontrar um sonho mais feliz aqui, no qual
todas as necessidades especiais são atendidas. Por outro lado, se virmos o atendimento das
nossas necessidades como uma fase de transição que leva a uma experiência muito maior,
não ficaremos aprisionados na teia do ego. Na verdade, teremos pavimentado o caminho para
que a verdade alvoreça em nossas mentes.

(22:1) Durante quinze minutos, duas vezes hoje, vamos descansar de planejamentos
sem sentido e de todo pensamento que impede a verdade de penetrar em nossas
mentes.

Planejamento sem sentido significa resolver um problema que é inexistente, que é o


motivo pelo qual ele é sem sentido. Jesus não está dizendo que você não deveria fazer planos
– não posso reiterar isso com freqüência suficiente -, nem que não deve ter pensamentos
sobre o futuro. No entanto, quando seus planos estão cheios de tensão, medo, culpa e
ansiedade, você se torna envolvido em um planejamento sem sentido, tentando se defender
contra o problema da culpa que não existe. Como, então, a verdade da impecabilidade pode
entrar?

(22:2) Hoje vamos receber ao invés de planejar, para que possamos dar ao invés de
organizar.

Qualquer organização que fazemos vem depois de primeiro termos recebido o amor que
escolhemos. Não é, obviamente, que Jesus vá nos dar seu amor; ele está sempre presente.
Nós vagamos para longe dele, e, portanto, precisamos voltar por aceitá-lo. Ainda mais ao
ponto, o amor alvorece em nossas mentes por si mesmo, conforme removemos as teias de
sono que mantêm nossos olhos fechados pela culpa e pelo medo.

(22:3-5) E algo nos é dado verdadeiramente ao dizermos:

Se eu me defendo, sou atacado. Mas despojando-me de todas


as defesas serei forte, e aprenderei o que as minhas
defesas escondem.

Desnecessário dizer, minhas defesas escondem a verdade.

(23:1-2) Nada mais do que isso. Se houver planos a serem feitos, eles te serão
comunicados.
Mais uma vez, Jesus não está dizendo para não fazermos planos. Nem ele quer dizer que
você vai ouvir uma voz provendo informação específica. Isso poderia acontecer, mas o cerne
da experiência é um saber que é a coisa mais amorosa a se fazer. Conforme você progride em
seu trabalho com o Um Curso em Milagres, vai ser cada vez mais capaz de discernir entre o
que é verdadeiramente amoroso e o que é especialismo, pois com muita freqüência, nossos
pensamentos e atos amorosos disfarçam um ódio subjacente.
171
(23:3-4) Talvez não sejam os planos que pensavas serem necessários, ou as respostas
para os problemas que pensavas estar enfrentando. Mas são respostas para um outro
tipo de pergunta, que permanece sem resposta e precisa ser respondida até que a
Resposta enfim venha a ti.

Essa é uma referência à última pergunta não respondida: “Eu quero ver o que tenho
negado porque é a verdade?” (T-21.VII.5:14). Nós tememos a verdade, e então, nos
defendemos contra ela. Jesus explica que dizer “sim” àquela pergunta significa que “não
dissemos não” (T-21.VII.12:4), significando que preciso olhar para o sistema de negação do
ego e dizer: não quero mais isso. Preciso olhar para minhas defesas e dizer que elas não vão
me trazer felicidade e paz, pois não são a verdade. Quando eu digo “não” ao ego – que é o que
olhar com Jesus significa -, olho para ele, sorrio gentilmente e rejeito suas ofertas. Não é que
eu queira a verdade, mas que não quero mais a ilusão. Assim, o caminho é limpo para que a
resposta “venha”. Lembre-se, não é que a resposta venha a nós, mas que nós vamos até a
resposta.
Muito do Um Curso em Milagres é escrito dessa forma para refletir nossa experiência de
que a resposta realmente vem. Uma das grandes orações cristãs tem sido: “Senhor Jesus,
venha”. O Livro da Revelação, de fato, termina com essa oração (22:17,20). No entanto, mais
uma vez, na verdade não é que Jesus vem até nós; nós vamos a ele. Para resumir: nós vamos
à resposta por olharmos para o sistema do ego e dizer que cometemos um equívoco, e não
queremos mais a dor que ele nos trouxe.

(24:1-2) Todas as tuas defesas têm tido como objetivo não receber o que receberás hoje.
E na luz e na alegria da simples confiança, não poderás deixar de perguntar a ti mesmo
por que razão jamais chegaste a pensar que precisava ser defendido da liberação.

Uma vez que escolhermos Jesus como nosso professor, será inconcebível pensar que
uma vez pudemos pensar que o ego era mais sábio do que ele.

(24:3-5) O Céu nada pede. É o inferno que faz exigências extravagantes de sacrifício. Tu
não estás desistindo de nada nestes momentos de hoje quando te apresentas indefeso
ao teu Criador, tal como realmente és.

Essas linhas são particularmente notáveis à luz da crença de muitas espiritualidades, de


que Deus pede coisas específicas de nós. Isso reflete o relacionamento original especial do
ego com Deus, no qual temos que pagar a Ele para nos proteger da Sua ira. Assim, eu pago o
dízimo na Sua igreja, ou sofro e me sacrifico na minha vida. De uma forma ou de outra, tenho
que obedecer aos Seus mandamentos, abrir mão do meu tempo, e adorá-Lo em Sua casa
sagrada. Essa estranha noção é baseada na realidade do pecado, pelo qual Deus exige
pagamento. A verdade, no entanto, é que tudo o que o Céu “pede” é que despertemos do
sonho que nos disse que nós saímos de casa. A teologia do sacrifício vem do inferno do ego, e
não tem nada a ver com Deus.

(25:1-4) Ele lembrou-Se de ti. Hoje nos lembraremos Dele. Pois esse é o momento da
Páscoa na tua salvação e tu te erguerás novamente do que parecia ser a morte e
desesperança.
Incidentalmente, isso não foi escrito na época da Páscoa, mas no fim do inverno. Em Um
Curso em Milagres, ressurreição não tem nada a ver com o corpo físico, uma conexão que o
ego abençoa. Isso explica a necessidade do mito cristão se focalizar na crucificação e
ressurreição de Jesus, dessa forma confirmando que o pecado e o corpo são reais. A
verdadeira ressurreição, como compreendida no Curso, é nosso despertar do sonho de morte
da mente:
172
Muito simplesmente, a ressurreição é a superação ou domínio da morte. É um novo
despertar ou um renascimento, uma mudança da mente a respeito do significado do
mundo. É a aceitação da Expiação para si mesmo. É o fim dos sonhos de miséria e
a feliz consciência do sonho final do Espírito Santo. É o reconhecimento das dádivas
de Deus (MP-28.1:1-5).

Nós, portanto, olhamos para a crucificação do ego, o sonho de dor, sofrimento e morte, e
“dizemos não”: essas não são as dádivas que eu quero. Uma dádiva assim nos permite
segurar a mão de Jesus e caminhar para fora do sonho e desesperança para a esperança – o
significado da ressurreição e renascimento. Dentro do sistema do ego, é claro, não existe
esperança; apenas morte.
A próxima sentença se refere ao fim do parágrafo 10: “Não curas, apenas eliminas a
esperança da cura, pois falhas em ver aonde a esperança tem que estar para ser significativa”.
Quando tornamos algo real por planejar ajudá-lo, salvá-lo ou protegê-lo, negamos a única
esperança que existe: o poder de escolha da mente. O fim da lição, assim, nos leva de volta ao
pensamento original de desesperança, no qual o corpo era real e tinha necessidade de ser
salvo. Assim, é importante não ver o Espírito Santo estando especificamente conosco no
mundo. Como discutimos acima, essa crença inicia nossa subida da escada, mas não
queremos permanecer nesses degraus iniciais nem um pouco a mais do que o necessário. A
cura repousa no Espírito Santo porque Ele está na mente, lembrando-nos de escolher outra
vez. Assim, nossa verdadeira esperança reside no poder de nossa mente de tomar decisões e
escolher contra o ego e a favor do Espírito Santo.

(25:5) Agora a luz da esperança renasce em ti, pois agora vens sem defesas para
aprender o papel que te compete no plano de Deus.

Lembre-se, as defesas sempre se focalizam no corpo, um dos temas principais dessa


lição. Quando nos tornamos sem defesas, é porque subimos a escada o suficiente para nos
identificar menos com nosso ser físico, especial, e mais com o pensamento de amor na mente
que é nossa identidade. Assim, cumprimos nossa parte dentro do plano de aprender a aceitar a
Expiação por perdoarmos nossos relacionamentos especiais. Essa mudança não tem nada a
ver com comportamento externo, mas com a mudança de professores em nossas mentes, que
nos permite perdoar em vez de condenar.

(25:6) Que pequenos planos ou crenças mágicas ainda podem ter valor, quando
recebeste a tua função da voz do Próprio Deus?

Para afirmar mais uma vez, nossa função não é específica, pelo menos não de forma
comportamental. Ela é experimentada de forma específica, mas a única parte específica da
nossa função é perdoar nossos relacionamentos especiais – um processo que acontece em
nossas mentes, onde Jesus está.

(26:1) Tenta não moldar esse dia como acreditas ser mais benéfico para ti.

A forma em que “você acredita que esse dia será mais benéfico para você” é se suas
necessidades de especialismo forem atendidas. Portanto – não apenas como uma prática
contínua dessa lição, mas de cada lição, todos os dias -, tente ficar ciente do plano secreto do
ego para proteger sua individualidade contra sua mente por escolher contra ela; o plano que
diz que eu quero existir, tornando alguém mais responsável por isso. Assim, você vê a causa
da sua infelicidade fora de si mesmo, além da verdadeira correção.

173
(26:2-5) Pois não podes conceber toda a felicidade que vem a ti sem o teu planejamento.
Aprende hoje. E o mundo inteiro dará esse passo gigantesco e celebrará a tua Páscoa
contigo. Ao longo do dia à medida que pequenas coisas tolas surgirem para erguer a tua
defensividade e para te tentar a te engajares em tecer planos, lembra-te que esse é um
dia especial para o aprendizado...

Jesus termina essa lição, como geralmente faz, pedindo a você para praticar durante o
dia. Sempre que se sentir tentado pelo medo de perder sua identidade especial, perceba o
problema, e observe como você se defende contra sua perda potencial, tecendo pequenos
planos de proteção. Você luta para convencer a si mesmo e aos outros de que esse ser
especial é importante: mobilizando aliados para assegurar seu status especial. Mais uma vez, o
foco de Jesus não está no planejamento comportamental diário que é necessário para a
sobrevivência, mas no conteúdo de tal planejamento: lutar para preservar sua individualidade
por controlar a ansiedade, não por removê-la.
Nós reconhecemos nossa lição dizendo:

(26:6-8) Essa é a minha Páscoa. Quero mantê-la santa. Não me


defenderei porque o Filho de Deus não precisa de nenhuma
defesa contra a verdade da sua realidade.

Escolher Jesus como nosso professor nos permite crescer em seu amor, para que
venhamos a nos lembrar da nossa realidade. O que nos capacita a subir a escada para casa é
perceber que somos um. As diferenças aparentes que nos confrontam são superficiais, pois
somos unificados em compartilhar o mesmo sistema de pensamento insano e a necessidade
de nos defendermos contra ele. Algumas pessoas, de quem gostamos, nos defendem de
maneira boa. Outras, a quem julgamos, nos defendem de maneiras não tão boas. No final, no
entanto, todos fazemos a mesma coisa. Lembre-se, o amor e o ódio especial parecem
diferentes, mas compartilham o propósito único de preservar nossa culpa à custa de outra
pessoa. Perceber a unidade dos nossos egos, portanto, nos permite lembrar da nossa
unicidade como o Filho único de Deus, conforme nós sem defesas ressuscitamos nossas
mentes santas do inferno do mundo de pecado do ego.

LIÇÃO 136

174
A doença é uma defesa contra a verdade.

Esta está entre as lições mais importantes no livro de exercícios, não apenas pelo que ela
diz sobre a doença, mas por seus comentários mais gerais sobre como nos defendemos contra
a verdade. Para rever brevemente, o plano do ego afirma que o pecado e a culpa são reais,
uma estratégia para nos fazer temer a mente e então a deixarmos, projetando nossos seres
pecaminosos e culpados para que sejam percebidos em outra pessoa. Assim, vemos o pecado
e a culpa no corpo de outra pessoa – ataque – e no nosso próprio – doença. No entanto, quer a
culpa e a dor sejam vistas ou não no seu corpo ou no meu, eu me esqueço da sua fonte na
minha mente, dessa forma cumprindo a meta do ego de nos manter sem mente, e, portanto,
incapazes de escolher a verdade.
Assim, enquanto Jesus fala especificamente sobre doença, especialmente na segunda
parte da lição, ele poderia com a mesma facilidade dizer que o julgamento é uma defesa contra
a verdade, assim como a raiva, depressão, ansiedade e especialismo de qualquer forma. O
conteúdo de qualquer coisa que sentimos ser um problema aqui – requerendo nossa atenção e
planejamento – é o mesmo. As formas podem diferir, mas ver problemas no mundo direciona
nossa atenção para longe da mente – o propósito do ego para tudo. Dessa forma, nunca nos
lembramos de que o verdadeiro problema está dentro de nós. É por isso que é tão tentador ver
Jesus e o Espírito Santo fazendo coisas para nós no mundo. Eles fazerem isso significa que
existem problemas reais aqui, demonstrando a realidade do mundo e tornando muito mais fácil
esquecer que a mente é a única fonte dos problemas e sua solução.

(1:1) Ninguém pode curar a menos que compreenda a que propósito a doença parece
servir.

Esse tema importante é ecoado em declarações do texto e do manual para professores:

A doença é um modo de demonstrar que podes ser ferido. É um testemunho da tua


fragilidade, da tua vulnerabilidade e da tua extrema necessidade de depender de
orientação externa. O ego usa isso como seu melhor argumento para a tua
necessidade da sua orientação. Ele dita receitas sem fim para evitar resultados
catastróficos (T-8.VIIi.6:1-3).

A cura envolve a compreensão do propósito da ilusão da doença. Sem isso, ela é


impossível.
A cura é realizada no instante em que aquele que sofre já não vê nenhum valor na
dor. Quem escolheria sofrer a não ser que pensasse que a dor lhe traz algo, e algo
de valor? Ele tem que pensar que é um preço pequeno a ser pago por alguma coisa
de maior valor. Pois a doença é uma escolha, uma decisão (MP-5.1:1-I.1:1-4).

Lembre-se de que no Um Curso em Milagres, o propósito é tudo. Quando você entende o


propósito de algo, pode fazer algo em relação a isso. Assim, é importante entender a estratégia
e propósito fundamentais do ego: nos manter enraizados no corpo para que nos esqueçamos
de que temos uma mente. A verdadeira cura é impossível, a menos que percebamos “a que
propósito a doença parece servir”. Não é que a doença nos escolheu, ou que veio de forma
espontânea. Nós a escolhemos.

(1:2-3) Pois só então compreende também que o seu propósito não tem significado. Não
tendo causa ou qualquer intenção significativa, a doença não pode existir de forma
alguma.

175
É-nos dito no manual que “todas elas [formas de doença] têm o mesmo propósito e,
portanto não são diferentes na realidade” (MP-5.III.3:2). Seu propósito é nos proteger do
pecado e da culpa em nossas mentes. No entanto, uma vez que o pecado e a culpa não estão
realmente ali, o propósito do ego é sem significado. Se nós dizemos que o pecado é a causa
da doença, mas não existe pecado, então a doença, como o efeito, é tanto uma ilusão quanto a
crença de que nos separamos de Deus. Veja, por exemplo:

Toda doença vem da separação. Quando a separação é negada, ela se vai. Pois se
vai assim que a idéia que a trouxe é curada e substituída pela sanidade. A doença e
o pecado são vistos como conseqüência e causa, em um relacionamento que é
mantido fora da consciência para que ele possa ser cuidadosamente preservado da
luz da razão (T-26.VII.2).

Dito de outra forma, o propósito da doença é provar a existência do pecado, mas o


pecado é sem causa porque vem do nada: nunca nos separamos realmente de Deus. Portanto,
vindo do nada, o pecado em si mesmo tem que ser nada, assim como a defesa contra ele.
Como o Rei Lear disse: “Nada virá do nada” (I.i). O mundo e o corpo são nada e vêm do nada.
O problema é que nós pensamos que o pecado é real e, portanto, pensamos que ele precisa
de uma defesa; i.e., a doença. No entanto, mais uma vez, é o nada causando o nada e sendo
defendido pelo nada.

(1:4) Uma vez que isso é visto, a cura é automática.

Isso é assim porque a doença é a crença em que a separação é real. Uma vez que a
doença não tem nada a ver com o corpo, a cura não tem nada a ver com o corpo. A
manifestação da doença em sintomas físicos não é nada além da projeção do pensamento
doente ou de separação da mente. Pelo fato de idéias não deixarem sua fonte, a idéia da
doença física nunca deixou sua fonte na mente – o pensamento de que eu me separei de
Deus. A Expiação desfaz a separação assim como a cura desfaz a doença – verdade
desfazendo ilusão. Esse então é o cerne da cura: uma mudança na mente sobre a realidade –
da separação para a Expiação – não tendo nada a ver com o corpo de forma alguma. A
seguinte passagem do manual para professores deixa a natureza da cura cristalinamente clara:

A cura necessariamente ocorre na exata proporção em que se reconhece que a


doença não tem valor. Basta ele dizer: “Eu não ganho absolutamente nada com
isso” e está curado. Mas para dizer isso, ele primeiro tem que reconhecer certos
fatos. Em primeiro lugar, é óbvio que as decisões são da mente, não do corpo. Se a
doença não é senão um enfoque falho de como solucionar problemas, ela é uma
decisão. E se é uma decisão, é a mente e não o corpo, que a toma... A aceitação da
doença como uma decisão da mente, com um propósito para o qual ela quer usar o
corpo, é a base da cura. E isso é assim para a cura em todas as formas... Qual o
requisito único para essa mudança na percepção? Simplesmente isso: o
reconhecimento de que a doença é da mente e não tem nada a ver com o corpo
(MP-5.II.1:1-6; 2:1-2; 3:1-2).

(1:5) Ela dissipa essa ilusão sem significado pelo mesmo enfoque com que leva todas as
ilusões à verdade e simplesmente as deixa lá para que desapareçam.

Você traz as ilusões à verdade, não o contrário. Quando você pede para Jesus ajudá-lo
nesse mundo, você traz a verdade dele à sua ilusão, pensando que o Céu o está ajudando
aqui. No entanto, é apenas o ego que é ajudado, pois você perpetua a ilusão da separação por
reforçar a realidade do mundo e do corpo, e que problemas aqui são a causa da sua
infelicidade. Em vez disso, Jesus pede que você leve essa ilusão à mente, percebendo que o
176
problema não está no seu corpo doente ou no de outra pessoa, mas na escolha pelo ego. A
ilusão oculta é a de que o ego fala a verdade, e o problema é acreditar nele. Assim, você traz a
ilusão do corpo à ilusão na sua mente, e para o tomador de decisões que corrige a escolha
equivocada. A cura é o resultado feliz desse processo de levar a escuridão do ego à luz do
Espírito Santo:

A Expiação... simplesmente traz a não-santidade à santidade; ou seja, o que fizeste


ao que és. Trazer a ilusão à verdade ou o ego à Deus é a única função do Espírito
Santo (T-14.IC.1:1,3-4).

(2:1-2) A doença não é um acidente. Como todas as defesas, é um instrumento insano


para o auto-engano.

Outro termo para instrumento insano é mágica, que é descrita no Curso como uma
tentativa de resolver um problema que não existe e, portanto, não está lá. A doença é “um
instrumento insano para o auto-engano”, pois ela nos engana para pensarmos que existe um
problema no corpo, necessitando de uma solução – ainda outra forma de mágica – que tenta
remediar o corpo doente:

Todos os meios materiais que aceitas como remédios para doenças corporais são
reafirmações de princípios mágicos (T-2.IV.4:1).

Mágica é auto-engano porque o problema não é o corpo doente, mas a mente doente.
Nunca iríamos perceber que essa mente também é uma ilusão até primeiro nos lembrarmos de
que temos uma mente. A doença, então, é uma das formas mais persuasivas do ego de manter
nossa atenção enraizada no corpo, uma forma específica da estratégia mais geral da estratégia
geral do ego de nos manter sem mente.

(2:3-5) E como todas as demais, o seu propósito é esconder a realidade, atacá-la,


modificá-la, torná-la inepta, deturpá-la, distorcê-la ou reduzi-la a uma pequena pilha de
partes desagrupadas. O objetivo de todas as defesas é o de impedir que a verdade seja
íntegra. As partes são vistas como se cada uma fosse íntegra dentro de si mesma.

Isso pode ser compreendido em dois níveis. Primeiro, eu acredito que existem partes
separadas – órgãos, sistemas biológicos, etc – dentro do meu corpo. Nesse aspecto, uma das
freqüentes críticas mais sensatas contra a medicina ocidental é que ela não trata a pessoa ou
corpo como um todo, mas apenas suas partes – um fígado doente, uma perna quebrada, um
estômago com problemas, uma dor de cabeça, etc. Segundo, eu vejo esse corpo como o
problema. Quer eu o veja de forma holística ou não, não importa, pois o corpo ainda é visto
como separado dos outros, para não mencionar uma mente da qual nem estamos conscientes.
A verdade do Filho de Deus é que ele é completo – como espírito. Nesse sonho de
fragmentação do mundo, ele realmente parece ser separado: cada um de nós é um universo
em si mesmo. Se eu cuidar de mim mesmo, o que acontece com outra pessoa é irrelevante,
pois não me afeta – em gritante contraste com a famosa linha de John Donne: “Nenhum
homem é uma ilha, sozinha em sim mesma” 3. No entanto, o ego nos faria acreditar que o Filho
de Deus foi despedaçado em fragmentos, dessa forma atacando sua Identidade como espírito
unificado. Assim, pensamos que somos separados uns dos outros, e que os sistemas em cada
corpo separado agem de forma independente. Portanto, dizemos, mais uma vez, que temos
uma dor no estômago, garganta inflamada, ou um ataque de ansiedade. Em outras palavras,
pensamos em termos de sintomas específicos, exatamente o que o ego quer. A separação,
assim, é tornada real, com a doença sendo um meio poderoso de reforçar essa “realidade”, e
na qual repousa seu propósito.
3
Devoções sobre Ocasiões Emergentes (1624). Meditação nr. 17
177
Jesus agora deixa a discussão sobre a doença, à qual vai retornar, e se dirige às defesas
em geral, descrevendo como o ego cumpre sua estratégia de nos manter sem mente.

(3:1-2) As defesas não são involuntárias, nem são feitas sem consciência. São varas de
condão mágicas e secretas que manipulas quando a verdade parece ameaçar aquilo em
que queres acreditar.

Vamos dizer que você se percebe sentindo intensamente a presença de Jesus e


acreditando no que ele ensina. Você pratica com freqüência maior, conforme reconhece que o
julgamento não mais o torna feliz, e nem fazer coisas por conta própria. No entanto, pedir a
ajuda de Jesus lhe traz paz, assim como o fato feliz de estar errado. E ainda, existe uma
pequena voz sussurrando de forma não tão docemente em seus ouvidos que se você continuar
a se identificar com Jesus e seus ensinamentos, será aniquilado, perdendo sua individualidade
e especialismo, e logo não haverá mais nada para você. Ouvindo essa mensagem
ameaçadora, nós ficamos com medo e empurramos Jesus para longe, para voltarmos para
nossos aliados de culpa, medo, ataque e doença, acreditando que estamos a salvo mais uma
vez. Essa dinâmica da retaliação amedrontadora do ego diante nossa rejeição a ele é ecoada
nessa passagem já citada:

Quando te unes a mim, estás te unindo sem o ego, porque eu renunciei ao ego em
mim mesmo e portanto não posso me unir ao teu. Nossa união é, assim, o caminho
para renunciares ao ego em ti. A verdade em nós dois está além do ego... Sempre
que o medo se introduzir em qualquer lugar ao longo da estrada para a paz, isso se
deve ao ego ter tentado unir-se a nós nessa jornada, e não poder fazê-lo. Sentindo a
derrota e enraivecido por isso, o ego se considera rejeitado e vem a ser vingativo (T-
8.V.4:1-3; 5:5-6).

Tal retaliação se constitui de nossas defesas, com a doença sendo uma das armas
favoritas do ego.
Essas defesas parecem ser algo que apenas acontecem a nós. No entanto, como
devemos ver agora, houve um segundo de separação no qual estávamos conscientes da
natureza ameaçadora da mensagem amorosa de Jesus. Nesse instante, nós rapidamente o
jogamos para longe. Tão esmagados pela culpa porque mais uma vez nos separamos do Amor
de Deus – uma reminiscência do instante original em que acreditamos ter jogado o amor fora -,
não podemos deixar de negar nossa culpa e projetá-la. Assim, a fonte da nossa aflição é
subitamente vista fora de nós – a secreta varinha de condão mágica do ego sendo agitada
mais uma vez. O que é percebido como externo pode incluir pessoas, circunstâncias, o clima
ou nossos próprios corpos. A forma é imaterial – tudo o que o ego se importa é em colocar
nossa atenção em uma causa externa para nosso transtorno, refletindo outra defesa bem
sucedida contra a verdade.

(3:3-4) Só parecem ser inconscientes por causa da rapidez com que escolhes usá-las.
Naquele segundo, ou até menos, em que a escolha é feita, reconheces exatamente o que
queres tentar fazer e passas, então, a pensar que já está feito.

Essa não é apenas uma declaração sobre o que fazemos e como o mundo em si mesmo
foi feito, mas como nossos mundos individuais estão continuamente sendo feitos – dia a dia. O
propósito do Um Curso em Milagres – no contexto dessa passagem – pode ser compreendido
como nos ajudando a voltar àquele instante que reprimimos, para que possamos escolher outra
vez, mudar nossas mentes é sem significado a menos que formos ao momento tomador de
decisões no qual dissemos a Deus: “Eu não quero Você. Minha individualidade e especialismo
são mais importantes”. Nós precisamos voltar àquele momento, no entanto, ele não está no
tempo, sendo o mesmo momento agora que era então. Lembre-se:
178
A cada dia, e cada minuto de cada dia, e cada instante que cada minuto contém, tu
apenas revives o único instante no qual o tempo do terror tomou o lugar do amor (T-
26.V.13:1).

O progresso no Um Curso em Milagres pode ser medido pela rapidez com que
diminuímos a brecha entre o efeito – nossa miséria e dor – e sua causa original – dizer a Deus
que Seu Amor não era suficiente. Assim, não queremos segurar a mão de Jesus e caminhar
para fora do sonho, mas buscamos em vez disso trazê-lo ao sonho, para que possamos ser
felizes aqui. Ele nos pede para perceber o que estamos fazendo, não o que está sendo feito a
nós. Esse é o significado da oração “reconheces exatamente o que queres tentar fazer e
passas, então, a pensar que já está feito” – empurrando Jesus para longe para preservarmos
nosso especialismo, mas culpando outra pessoa por isso.

(4:1) Quem mais, senão tu mesmo, avalia a ameaça, decide que é necessário escapar e
estabelece uma série de defesas para reduzir a ameaça que foi julgada real?

O tu é o tomador de decisões, não o ser individual com o qual nos identificamos. O


tomador de decisões da mente errada diz que se escolhermos Jesus, vamos precisar escapar
da ameaça que seu amor apresenta ao nosso especialismo. Essa linha é uma versão
simplificada do que Jesus discute em “Auto-conceito versus Ser” (T-31.V.10-13), onde ele nos
pede para considerarmos o que precede a dupla imagem de nós mesmos como um pecador e
uma vítima inocente – o tomador de decisões que é uma sombra do instante ontológico quando
nós, como um único Filho, avaliamos a Expiação do Espírito Santo como uma ameaça,
rejeitando-a por causa da promessa de individualidade do ego. Aqui está um trecho dessa
passagem, no contexto da parte das nossas mentes que escolhe esses auto-conceitos de
pecado e inocência:

Contudo, quem foi que fez a escolha em primeiro lugar?... alguém tem que ter
decidido em primeiro lugar qual delas escolher e qual abandonar... Alguma coisa
tem que ter se passado antes desses auto-conceitos. E alguma coisa tem que ter
feito o aprendizado que os fez surgir (T-31.V.12:6-7).

Essa alguma coisa é o tomador de decisões na mente.

(4:2-3) Tudo isso não pode ser feito inconscientemente. Mas depois o teu plano requer
que esqueças que foste tu que o fizeste, de modo que ele pareça estar fora da tua
própria intenção, um acontecimento além do teu estado mental, um resultado com
efeitos reais sobre ti, ao invés de efetuado por ti mesmo.

Nosso plano requer tal esquecimento, porque se nós nos lembrássemos do que
estávamos fazendo, iríamos perceber a insanidade inerente a tentar escapar do medo por uma
defesa que nos torna ainda mais amedrontados. A doença é uma tentativa mágica, altamente
mal-adaptada de tentar resolver o problema do medo na mente, nascido da nossa culpa. Se
nós nos lembrássemos, iríamos claramente desistir da defesa, pois ela insensatamente
começou com o medo, em nossas mentes, da aniquilação de um Deus vingativo, e
voluntariamente termina com a aniquilação porque nossos corpos inevitavelmente vão morrer.
O sistema de pensamento do ego, portanto, não faz sentido, que é o motivo pelo qual o
plano requer que nos esqueçamos dele, e o motivo pelo qual o plano do Espírito Santo requer
que nos lembremos do que fizemos. Segurar a mão de Jesus significa que junto com ele,
vamos desvelar o plano secreto do ego e vê-lo pelo que ele é. Isso é alcançado por nossa
prática diária de vermos a nós mesmos escolhendo as defesas mágicas, mal-adaptadas.

179
Quando reconhecermos como elas não funcionam, vamos nos sentir motivados pela dor do
nosso julgamento e da doença a liberá-las, dessa forma aceitando a Expiação.

(5:1) É esse rápido esquecimento do papel que desempenhas em fazer a tua “realidade”
que faz com que as defesas pareçam estar além do teu próprio controle.

Nosso pensamento é: “Não fui eu que escolhi ficar doente; algo ou alguém me tornou
assim”. Não importa se estamos falando sobre uma doença viral, ou outros pensamentos
negativos. O plano requer que eu acredite que sou o efeito e algo mais é a causa. Não
perceber que eu estabeleci isso – eu estou secretamente feliz de estar transtornado e doente,
mesmo que isso signifique minha morte – significa que estou fora da mira. Lembre-se dessas
linhas que provocam calafrios:

“Contempla-me, irmão, nas tuas mãos eu morro” (T-27.I.4:6).

(5:2) Mas o que tens esquecido pode ser lembrado, se estiveres disposto a reconsiderar
a decisão duplamente oculta pelo esquecimento.

Quando nos esquecemos – o plano do ego –, tudo parece sem esperança. É por isso que
Jesus diz que o plano do ego é “à prova de tolos”, no entanto, por causa da presença do
Espírito Santo em nossas mentes, o plano não é “à prova de Deus” (T-5.VI.10:6). Tudo o que é
necessário para escolhermos o plano do Espírito Santo de desfazer é percebermos que nosso
plano não está funcionando. A motivação para aprender esse curso é nossa dor e infelicidade,
entendendo que isso vem da nossa escolha e de nada mais. Isso requer que estejamos
“dispostos a reconsiderar a decisão” que tomamos de forma errada, o que é impossível se
continuarmos sem mente e nem mesmo soubermos que existe uma decisão para reconsiderar.
O ponto de partida, portanto, é que precisamos voltar à mente, onde a decisão foi tomada
de forma errada, e agora pode ser desfeita. O escudo duplo de esquecimento ao qual já me
referi, é primeiro, a culpa na mente que impede que o tomador de decisões escolha a verdade;
e segundo, o mundo que nos esconde da culpa. O mundo age como um escudo porque,
quando vejo minha culpa em você, não tenho que reconhecê-la em mim mesmo. A culpa na
minha mente, da mesma forma, me esconde da verdade de Quem eu sou. Além disso, a culpa
me empurra para fora da minha mente para que eu nunca possa reconsiderar a decisão,
porque a culpa é uma decisão – não uma realidade ontológica – de preservar minha existência
individual. Para recapitular, o primeiro escudo é a culpa que me protege de escolher o Amor de
Deus na minha mente, e o segundo é o mundo e o corpo que me protegem da culpa.

(5:3) Não lembrar-te disso é apenas um sinal de que essa decisão ainda está em vigor no
que concerne aos teus desejos.

Quando não nos lembramos da nossa escolha equivocada pela individualidade, é porque
a estamos protegendo. Em outras palavras, esquecer é uma decisão ativa. Não é causado pelo
estresse ou pelo envelhecimento, mas pela decisão da mente que diz: “Eu quero reter minha
existência separada, mas não quero ser responsável por sua dor concomitante. Assim,
esqueço da minha decisão e culpo outra pessoa”.

(5:4-6) Não te equivoques a esse respeito, tomando isso por fato. As defesas não podem
deixar de fazer com que os fatos sejam irreconhecíveis. É o seu objetivo ao fazer isso e é
o que fazem.

O fato não é que eu não sou separado, nem um indivíduo existindo por conta própria, mas
sou uma criança de Deus. Esse é o significado do princípio de Expiação – a separação nunca
aconteceu. O propósito de todas as defesas é nos impedir de lembrar esse fato. O “fato” do
180
ego, em contraste, é que nós escolhemos nossa individualidade em vez de Deus. Tudo o mais
defende essa verdade, então, não mudamos nossas mentes.
O ego, então, inventa uma história de pecado, culpa e medo – contradizendo o fato da
Unicidade amorosa de Deus – para nos levar para fora de nossas mentes – literal e
figurativamente. Ele diz que o pecado, a culpa e o medo são fatos, seguidos pelo fato inevitável
de que Deus vai nos punir. Nós, portanto, fugimos da mente, e fazemos um mundo no qual nos
escondemos no corpo. Essa identidade física agora se torna o fato: meu corpo está doente, ou
sofre por causa do que outra pessoa fez a ele. Nós colecionamos as testemunhas da dor para
confirmar a realidade do corpo: fatos sem base como uma defesa contra fatos sem base. Nós,
portanto nos tornamos ainda mais afastados do único fato do sonho: nossa escolha equivocada
contra o verdadeiro Fato. O propósito do Um Curso em Milagres em geral, e dessa lição
especificamente, é nos fazer lembrar do que fizemos, para que possamos mais
apropriadamente esquecê-lo.
Antes de continuarmos com o parágrafo 6, deixe-me fazer mais alguns poucos
comentários sobre defesas. Lembre-se de quantas vezes Jesus enfatiza que o propósito é
tudo. Ele diz, por exemplo, que a única pergunta que sempre deveríamos fazer sobre tudo é:
“Para que serve?” (T-4.V.6:7-10; T-24.VII.6; T-29.VI.5). Entendendo o propósito, vamos
entender o significado dos eventos anteriores, e nossas defesas. Se nós pensamos na verdade
como abstrata, não-específica e completa, a forma perfeita do ego se defender contra a
realidade é confirmar que o tomador de decisões nunca mude sua mente e escolha o Espírito
Santo. Assim, ele faz um mundo de especificidade, o oposto da completeza da verdade. Essas
especificidades são reunidas para inventar problemas inexistentes, que nós passamos o resto
do nosso tempo e energia tentando resolver. Essa defesa massiva serve para ocultar o
verdadeiro problema, que repousa no fato da mente ter escolhido o ego.

(6:1) Toda defesa toma os fragmentos do todo, reúne-os sem considerar todos os seus
relacionamentos verdadeiros e assim constrói ilusões de um todo que não existe.

Uma defesa faz um problema inexistente, que parece ser um todo auto-sustentado. No
contexto dessa lição, o problema ou defesa é a doença. O ego nos ensina que a dor está
localizada no corpo, uma entidade em e por si mesmo. Assim, a causa da nossa inquietação
está dentro do corpo – a doença – e o remédio – ajuda mágica – é aplicado ao corpo. Mais
uma vez, nunca percebermos que o verdadeiro problema repousa na decisão da mente pelo
ego. A seguinte passagem ecoa essa discussão no contexto dos nossos sonhos de
especialismo:

Não existe nenhum sonho de especialismo por mais oculto ou disfarçado em forma,
por mais belo que possa parecer, por mais que ofereça delicadamente a esperança
da paz e o escape da dor, no qual tu não sofras a tua condenação. Nos sonhos,
efeito e causa são permutáveis, pois aqui aquele que faz o sonho acredita que o que
fez está acontecendo com ele. Ele não reconhece que puxou um fio daqui, uma
sobra de lá e teceu um retrato a partir do nada. Pois as partes não se adéquam
umas às outras e o todo em nada contribui às partes para lhes dar significado (T-
24.V.2).

(6:2) É esse processo que constitui a ameaça e não qualquer resultado que possa vir em
decorrência.

Em outras palavras, o problema não é o que pensamos especificamente que ele é – a dor
corporal, o trauma emocional, uma conta bancária vazia, ou um problema do mundo. O
problema ou ameaça repousa dentro do próprio processo de escolher a fragmentação do ego.

181
(6:3) Quando as partes são arrancadas do todo, vistas como separadas e íntegras em si
mesmas, vêm a ser símbolos que representam o ataque ao todo; seu efeito é bem-
sucedido e elas jamais serão vistas como um todo novamente.

Em um sentido maior, as partes separadas são os segmentos aparentemente separados


da Filiação, cada um pensando que é um todo, uma entidade à parte das outras. O corpo que
separa afirma sua realidade. O problema, no entanto, é que quer pensemos que a questão está
no meu corpo, no seu, ou no mundo, a dor resultante não vem das minhas experiências
específicas, mas do que elas simbolizam – o “fato” de que eu existo por ter destruído Deus.
Mais uma vez, as especificidades “vêm a ser símbolos que representam o ataque ao todo”, e
assim, simbolizam nossa culpa. Não somos culpados em relação ao que fizemos ou deixamos
de fazer, mais do que estamos zangados por causa do que outra pessoa fez ou deixou de
fazer. Esses sentimentos apenas representam a escolha da mente pelo ego agressor. Outra
passagem do texto complementa nossa discussão sobre como o ego tenta dar sentido a um
mundo inerentemente sem sentido – porque é ilusório -, por literalmente fazer um mundo
“unificado” de partes separadas:

Não deixes que os teus olhos contemplem um sonho, que os teus ouvidos
testemunhem uma ilusão. Eles foram feitos para contemplar um mundo que não está
presente, para ouvir vozes que não podem produzir som algum... Pois os olhos e os
ouvidos são sentidos sem sentido, e o que vêem ou ouvem, eles apenas relatam.
Quem ouve e vê não são eles, mas tu, que juntas cada peça recortada, cada fiapo
sem sentido e cada farrapo de evidência e fazes um testemunho do mundo que
queres (T-28.V.5:3-4,6-7).

Esse mundo de partes separadas nega o Todo que é o universo de Deus. Tal é o
propósito do ego para suas defesas – doença e raiva – e o sucesso aparente da sua missão é
testemunhado pela história dos nossos mundos individual e coletivo.

(6:4) Não existe nenhuma brecha que separe a verdade dos sonhos e das ilusões.

Não poderíamos pedir uma declaração mais explícita de como o ego esconde de nós o
pensamento expresso nessa sentença. Ele nunca quer que estejamos em contato com a parte
tomadora de decisões de nossas mentes, e teme acertadamente o poder da mente de escolher
contra ele, por escolher Jesus como seu professor, uma vez tendo julgado o tomador de
decisões como o problema – só ele pode acabar com sua existência, uma vez que deu a ele
sua realidade -, o ego inventa as defesas que constituem seu sistema de pensamento,
culminando no universo físico que oculta o fato de que é nossa escolha estarmos por conta
própria. Essa escolha da mente é o problema e a doença, não qualquer coisa física.

(7:1-2) A doença é uma decisão. Não é uma coisa que te acontece, que absolutamente
não buscaste, que faz com que fiques fraco e te traz sofrimento.

Esse pensamento é repetido da primeira parte da lição em diante, mas aqui se dirige
especificamente à doença. Nosso mundo atesta o “fato” de que coisas acontecem a nós;
eventos além do nosso controle nos tornam felizes ou tristes, saudáveis ou doentes. No
entanto, o mundo é apenas uma cortina de fumaça para esconder a decisão fundamental de
ser um ego. Esse é o problema, e reconhecer isso é a solução.

(7:3) É uma escolha que fazes, um plano que traças quando por um instante a verdade
surge na tua mente iludida e todo o teu mundo parece vacilar e se preparar para cair.

182
O mundo que “parece vacilar e se preparar para cair” é o mundo separado do
especialismo, manifestado em nossa existência física/psicológica que é a sombra da decisão
da mente de ser separada. Quando escolhemos Jesus como nosso professor, no entanto,
escolhendo a correção em vez do problema, o ego fica com medo e perversamente revida:

O ego é enganado por tudo o que fazes, especialmente quando respondes ao


Espírito Santo, porque nestas ocasiões sua confusão aumenta. O ego, portanto, é
particularmente capaz de atacar-te quando reages amorosamente, porque te avaliou
como não sendo amoroso e tu estás indo contra o seu julgamento... É aí que ele vai
se deslocar abruptamente da suspeita para a perversidade, uma vez que a sua
incerteza terá aumentado (T-9.VII.4:4-5,7).

Mais uma vez, é o mundo da nossa existência individual que vacila e cai. Como uma
defesa, nós rapidamente decidimos voltar ao nosso amigo e aliado, o sistema de pensamento
do ego:

A “beleza” do pecado, o delicado apelo da culpa, a “santa” imagem de cera da morte


e o medo da vingança do ego que juraste com sangue não desertar... (T-19.IV-
D.6:3).

Uma vez que a culpa é escolhida, ela é projetada no corpo e ficamos doentes, ou nossa
raiva busca tornar alguém mais doente, por nos ter tratado injustamente. Como explicado
acima, tudo isso acontece rapidamente; tão rapidamente, de fato, que esquecemos o problema
originado em nossas mentes. Tudo o que sabemos é que estamos zangados, deprimidos e em
dor, não tendo memória da sua causa, para imenso deleite do ego.

(7:4) Agora estás doente, para que a verdade possa ir embora e parar de ameaçar aquilo
que estabeleceste.

Nossos “estabelecimentos” são defesas que aparentemente protegem nossa existência. A


verdade, nesse contexto, é espírito, nossa realidade e identidade. É o corpo tangível, como
vamos ver em apenas um momento, que parece provar que nossa realidade é qualquer outra
coisa além de espírito.

(8:1-2) Como pensas que a doença pode ter sucesso em proteger-te da verdade? Porque
ela prova que o corpo não é separado de ti e assim tens que estar separado da verdade.

A premissa subjacente aqui é que o corpo não é a verdade, porque a verdade é não-
específica, completa, imutável e eterna; o oposto exato das características do corpo. No
entanto, se eu estou identificado com meu corpo – o que é testemunhado pela minha dor – e o
corpo não é a verdade, eu também não posso ser a verdade. Esse é o argumento lógico do
ego para nos manter separados dela.

(8:3) Sofres dor porque o corpo sofre e nessa dor te fazes um com ele.

Lembre-se de que o ego nos convenceu de que somos corpos, não mentes ou espírito.
Nós temos um nome e uma identidade, e corpos ao nosso redor respondem a nós como se
existíssemos – como corpos. Eu já me referi à Lição 190, “Escolho a alegria de Deus ao invés
da dor”, que declara:

Se Deus é real, não há dor. Se a dor é real, não há Deus (Le-pI.190.3:3-4).

183
É um ou outro. Se eu quiser provar que não sou parte de Deus, o que significa que não
sou como ele – imutável, eterno e espírito -, tudo o que preciso fazer é estar com dor. Isso
estabelece firmemente o “fato” da minha existência física, o que significa que sou diferente do
que Deus criou. Uma vez que minha dor parece muito real, minha Identidade como Cristo só
pode ser um sonho.

(8:4) Assim, a tua “verdadeira” identidade é preservada e o estranho pensamento que te


persegue de que possas ser algo além desse pequeno monte de pó é silenciado e pára.

“Verdadeira” está entre aspas porque nossa verdadeira identidade não é o corpo. Como já
discutimos, Jesus com freqüência se refere ao corpo, que nós pensamos ser tão
estrondosamente importante, como “um pequeno monte de pó”. Nós pensamos que somos
esse corpo, para nos esquecermos do nosso Ser glorioso.

(8:5) Pois vejas, esse pó [o corpo] pode fazer-te sofrer, torcer os teus membros e parar o
teu coração, ordenando-te que morras e deixes de ser.

O sofrimento e a morte são a experiência de todos, o que parece provar que o mundo é
real e o corpo um fato. Se fosse assim, nossa identidade como espírito seria um sonho, e nada
mais do que um pensamento fugaz. Lembre-se, as defesas do ego têm como seu único
propósito nos fazer esquecer a decisão da mente de escolher o ego em vez do Espírito Santo.

(9:1-2) Assim o corpo é mais forte do que a verdade que te pede que vivas, mas que não
pode superar a tua escolha de morrer. E, desse modo, o corpo é mais poderoso do que a
vida eterna, o Céu mais frágil do que o inferno e ao desígnio de Deus para a salvação do
Seu Filho se opõe uma decisão mais forte do que a Sua Vontade.

Lembre-se da maravilhosa linha de Wordsworth: “O mundo está demais conosco”. O


mundo certamente parece representar um poder muito além do de Deus. Esse poder se torna a
prova de que o ego triunfou mais uma vez sobre o Céu. Olhe para o que podemos fazer!
Podemos fazer a vida, e depois fazer com que termine. Deus não pode fazer isso, pois Ele cria
apenas vida, não morte. O fato de que podemos, nos estabelece como senhores da vida e da
morte. Assim, temos poder sobre a vida, o que em última instância nos dá poder sobre Deus.
Além disso, o frágil corpo – “esse pequeno monte de pó” – parece testemunhar a realidade
desse pensamento insano de grandiosa insanidade.
O desígnio de Deus é o plano de Expiação, mas, uma vez que a verdade de Deus não
tem um desígnio ou plano, isso apenas reflete o fato de que a Vontade de Deus e a nossa são
a mesma. Essa unidade de Vontade transcende toda crença na separação, incluindo a crença
de que podemos atacar Deus e nos safarmos disso.

(9:3) O Filho de Deus é pó, o Pai incompleto e o caos senta-se em triunfo no trono de
Deus.

Enquanto você acreditar que existe nesse mundo, aceitará como verdade tudo o que está
declarado nesse parágrafo. Na verdade, é impossível acreditar que sua vida depende de uma
respiração, ou sua felicidade repousa sobre os caprichos de outra pessoa – o que todos nós
acreditamos -, sem aceitar que realmente triunfamos sobre Deus. De fato, não existe Deus;
apenas o ego. É por isso que as pessoas adoram proclamar: “Eu sou Deus”. Seus egos
exclamam alegremente: “Eu existo, e existo porque triunfei sobre o Céu”. Esse é o significado
final do pecado:

Não há nenhuma pedra, em toda a cidadela armada do ego, que seja mais
zelosamente defendida do que a idéia de que o pecado é real, a expressão natural
184
do que o Filho de Deus fez de si mesmo e do que ele é. Para o ego, isso não é
nenhum equivoco. Pois essa é a sua realidade, essa é a “verdade” da qual sempre
será impossível escapar. Esse é o seu passado, o seu presente e o seu futuro. Pois
ele conseguiu, de alguma maneira, corromper o seu Pai e mudar por completo a Sua
Mente. Lamente, então, a morte de Deus, a Quem o pecado matou! E esse seria o
desejo do ego, que ele em sua loucura acredita ter realizado (T-19.II.7).

(10:1) Tal é o teu plano para a tua própria defesa.

Nós vemos como isso funciona maravilhosamente como uma estratégia do ego. Enquanto
sou um corpo e acredito ser real, não apenas não tenho uma mente ou tomador de decisões,
mas não há nada que eu possa escolher, mesmo que pudesse, porque não existe Espírito
Santo para me lembrar do meu Ser e da Sua Fonte. Existe apenas esse corpo “glorioso” que
vive e morre, vivencia prazer e dor, e anseia pelo atendimento do seu próprio especialismo.

(10:2-4) E acreditas que o Céu recua diante de ataques loucos como esses, que Deus se
torna cego pelas tuas ilusões, que a verdade é transformada em mentiras e que todo o
universo é feito escravo de leis que as tuas defesas querem lhe impor. Mas quem
acredita em ilusões, senão aquele que as inventou? Quem mais pode vê-las e reagir a
elas como se fossem a verdade?

Nós, portanto, temos esse sistema de pensamento grandioso e ilusório, no qual


acreditamos existir por termos destruído o Céu. No entanto, quando despertamos do sonho e
olhamos para trás, vemos sua tolice inerente, pois apenas um louco poderia acreditar que
ilusões são a realidade. Dentro do sonho, no entanto, parece muito real, pois somos nós que
acreditamos nele, diferente do Espírito Santo e de Deus, Que nem mesmo sabe nada sobre o
sonho.

(11:1-3) Deus desconhece os teus planos para mudar a Sua Vontade. O universo
continua a não ver as leis com as quais pensavas governá-lo. E o Céu não se curvou ao
inferno, nem a vida à morte.

Esse é outro trecho no Um Curso em Milagres que afirma claramente que Deus não sabe
nada sobre nossa insanidade. Essa é uma boa coisa, pois se Ele o fizesse, isso iria significar
que o erro era real e o impossível foi alcançado. O pensamento mais reconfortante de todos é
o de que Deus nem mesmo sabe nada sobre nós. Para o ego, é claro, tal afirmação é uma
injúria e um insulto. No entanto, esse permanece o único pensamento realmente salvador
dentro do sonho, refletindo o princípio de Expiação de que a separação nunca aconteceu.
Jesus, assim, nos apresenta aqui o oposto do sistema de crenças do ego, que ele discutiu no
parágrafo 9. Nada aconteceu para mudar a realidade. Deus continua sendo Deus, e não existe
nada mais:

... tudo o que Ele conhece é uno... Ele conhece uma criação, uma realidade, uma
verdade e apenas um Filho. Nada entra em conflito com a unicidade... A verdade é
simples, ela é uma, sem opostos... O que é tudo não deixa espaço para nenhuma
outra coisa (T-26.III.1:2-4,8,12).

(11:4) Tu só podes escolher pensar que morres, sofres doenças ou deturpas a verdade
de qualquer forma que seja.

Nós acreditamos nisso, mas a crença não o torna real. No início do texto, Jesus diz que
somos livres para negar nossa herança, mas não para estabelecer o que ela é (T-3.VI.10:2).

185
Assim, podemos acreditar que o ego é nosso tesouro, mas isso não torna isso verdadeiro. Tal
insanidade não estabelece a realidade:

Podes violar as leis de Deus em tua imaginação, mas não podes escapar delas. Elas
foram estabelecidas para a tua proteção e são tão invioláveis quanto a tua
segurança (T-10.in.1:5-6).

Tu não atacaste a Deus e realmente O amas. És capaz de mudar a tua realidade?


Ninguém pode ter vontade de destruir a si mesmo... O que pensas que és pode ser
muito odioso e o que essa estranha imagem te faz fazer pode ser muito destrutivo.
No entanto, a destruição não é mais real do que a imagem, embora aqueles que
fazem ídolos os idolatrem. Os ídolos não são nada, mas os idólatras são os Filhos
de Deus que estão doentes (T-10.III.1:1-3,6-8).

(11:5-8) O que foi criado está à parte de tudo isso. Defesas são planos para derrotar o
que não pode ser atacado. O que é inalterável não pode mudar. E o que é totalmente
impecável não pode pecar.

Mais uma vez, defesas são um sistema de pensamento psicótico com o propósito de
defender contra outro pensamento psicótico: o impossível aconteceu, a realidade é um sonho,
e o sonho é a verdade. Apesar disso, a loucura do pecado não tem efeitos sobre a verdade da
nossa realidade como espírito, criado em unidade com Deus, tão impecável quanto Ele.

(12) Tal é a simples verdade. Ela não faz apelos para o poder ou para o triunfo. Não
ordena a obediência, nem busca provar quão deploráveis e fúteis são as tuas tentativas
de planejar defesas que querem alterá-la. A verdade quer apenas te dar felicidade, pois
tal é o seu propósito. Talvez ela suspire um pouco quando jogas fora as suas dádivas,
mas sabe, com perfeita certeza que aquilo que é a Vontade de Deus para ti tem que ser
recebido.

Jesus explica novamente que o Espírito Santo simplesmente nos lembra de outra escolha
que podemos fazer. Ele não faz nada, porque não existe nada a ser feito. Ele não resolve um
problema inexistente, pois isso iria estabelecer as condições do mundo como reais. O ego,
portanto, iria adorar que o Espírito Santo se dirigisse aos nossos problemas aqui. No entanto,
tudo o que Ele faz é brilhar a verdade, como um farol na mente, que chama nosso tomador de
decisões errante para voltar para a única escolha significativa que poderíamos fazer.
Desnecessário dizer, a sentença final sobre a verdade suspirando é destinada a ser poética,
pois a verdade não suspira. Essa imagem adorável corrige a imagem do ego sobre a verdade
como uma destruidora, retratando em seu lugar a benigna espera da verdade pelo nosso
retorno, querendo apenas que aceitemos a felicidade que ela oferece.

(13:1) É esse fato que demonstra que o tempo é uma ilusão.

O fato é que o que Deus quer para nós tem que ser recebido, pois Ele quer que sejamos
parte Dele, o que significa que somos parte Dele. Já recebemos as dádivas de Deus de vida
eterna e amor porque não somos separados Dele. Apesar disso, desesperadamente tentamos
negar essa realidade, afirmando a ilusão de que as dádivas que nós estabelecemos –
existência e especialismo – são realmente verdadeiras. Entretanto, elas não podem extinguir a
luz da verdade – ter e ser como um só, assim como dar e receber:

Na tua própria mente, embora negada pelo ego, está a declaração da tua liberação.
Deus te deu todas as coisas. Esse único fato significa que o ego não existe e faz
com que ele fique profundamente amedrontado. Na linguagem do ego, “ter” e “ser”
186
são diferentes, mas para o Espírito Santo são idênticos. O Espírito Santo tem
conhecimento de que tu ao mesmo tempo tens tudo e és tudo. Qualquer distinção
nesse sentido só é significativa quando a idéia de “receber”, que implica em falta, já
foi aceita. É por isso que não fazemos nenhuma distinção entre ter o Reino de Deus
e ser o Reino de Deus (T-4.III.9).

(13:2-3) Pois o tempo permite que penses que o que Deus tem te dado não é a verdade
agora, como tem que ser. Os Pensamentos de Deus estão bem à parte do tempo.

Nós somos um Pensamento na Mente de Deus, e essa Identidade permanece fora do


tempo. Assim, Jesus realmente corrige a visão tradicional de fazer boas obras para receber as
futuras dádivas de Deus, quer seja nessa vida ou depois dela. Assim, outro tema principal no
Um Curso em Milagres: o Amor de Deus está à parte do tempo, e é nossa realidade, na qual
Suas dádivas são tanto dadas quanto recebidas. Seu Amor não é algo pelo que ansiamos ou
pagamos, mas simplesmente aceitamos – no presente – como nossa realidade como um
Pensamento de Deus, Que pacientemente aguarda nossa decisão de nos lembrarmos:

O Pensamento que Deus mantém de ti é perfeitamente intocado pelo teu


esquecimento. Ele sempre será exatamente como era antes do tempo em que o
esqueceste, e será exatamente o mesmo quando o relembrares. E é o mesmo
durante o intervalo em que o esqueceste (T-30.III.7:6-8).

(13:4) Pois o tempo não passa de mais uma defesa sem sentido que fizeste contra a
verdade.

Em lições posteriores, vamos discutir o tópico do tempo em mais profundidade. Mas aqui,
vemos que o tempo é apenas outra defesa, parte do mundo separado que tenta provar nossa
existência como uma entidade individual dentro de um corpo, uma criatura do tempo e do
espaço. Lembre-se de que o mundo de tempo do ego – passado, presente e futuro – é apenas
uma projeção na forma da sua trindade insana de pecado, culpa e medo. O tempo parece ser
real porque nós acreditamos no pecado, culpa e medo com sendo reais, no entanto, o tempo é
tão sem significado quanto sua fonte.

(13:5) No entanto, o que é a Sua Vontade está aqui e tu permaneces tal como Ele te
criou.

Em outras palavras, nada entrou entre nós e nosso Criador e Fonte. Esse tema muito
importante é uma das pedras fundamentais do livro de exercícios, como já vimos, assim como
do texto e do manual. Por exemplo:

Como Deus nos criou, assim seremos para todo o sempre e não desejamos nada a
não ser que a Sua Vontade seja a nossa. As ilusões de outra vontade se perderam,
pois a unidade de propósito foi achada (MP-28.5:8-9).

(14:1-2) A verdade tem um poder que vai muito além das defesas, pois nenhuma ilusão
pode permanecer onde foi permitido à verdade entrar. E ela vem a cada mente que
queira abaixar as armas e parar de brincar com a loucura.

Nossa responsabilidade é abaixarmos nossas armas, deixando de lado nosso sistema


defensivo, pela pouca disponibilidade de voltarmos atrás, para o espaço na mente onde
escolhemos contra Jesus. Agora, escolhemos a favor dele, e olhamos através dos seus olhos
amorosos para tudo o que até então tornamos real. Nós trazemos nossas ilusões a ele, e
olhamos sem julgamento para as ilusões que fizemos no mundo e em nossas mentes erradas.
187
Olhando com ele, elas desaparecem porque não eram nada. Quando as ilusões são trazidas à
verdade, sua luz as dissipa:

Trazer o ego a Deus não é senão trazer o erro à verdade, onde ele aparece
corrigido, pois é o oposto do que encontra. É desfeito porque a contradição não
pode mais se manter. Por quanto tempo pode a contradição se manter quando a sua
natureza impossível é claramente revelada? O que desaparece na luz não é
atacado. Meramente desaparece porque não é verdadeiro (T-14.IX.2:1-5).

(14:3) Ela pode ser encontrada em qualquer momento, hoje, se escolheres praticar dar
boas-vindas à verdade.

Não temos que esperar por algum tempo futuro para fazermos com que a verdade seja a
nossa realidade. Ela vem no próprio momento em que damos boas-vindas a ela por estarmos
cientes do quanto não a queremos, e de como erigimos as defesas do especialismo para
mantê-la distante. Tal é a honestidade que Jesus nos pede para demonstrarmos.

(15:1-3) Esse é o nosso objetivo hoje. E daremos duas vezes quinze minutos para pedir à
verdade que venha a nós e nos liberte. E a verdade virá, pois nunca esteve à parte de
nós.

Como já falamos, não é a verdade que vem até nós; nós vamos a ela. Nós, que vagamos
para longe quando escolhemos as ilusões do ego, somos aqueles que precisam voltar, como o
filho pródigo na parábola do evangelho, como Jesus explica nessa passagem do texto:

Escuta a história do filho pródigo e aprende o que é o tesouro de Deus e o teu: esse
filho de um pai amoroso deixou a sua casa e pensou que tinha dissipado tudo em
troca de nada de valor, embora na época não tenha compreendido essa falta de
valor. Ele tinha vergonha de retornar para seu pai, porque pensava que o tinha
ferido. No entanto, quando veio para casa, o pai lhe deu as boas-vindas com alegria,
porque o próprio filho era o tesouro de seu pai. Ele não queria nada mais (T-8.VI.4).

Tais são as boas-novas, não apenas da parábola, mas do Um Curso em Milagres: a


verdade nunca nos deixou, e nós só acreditamos ter partido. Seu amor permaneceu logo além
das divagações da nossa mente no sonho de separação, pacientemente esperando nosso
despertar para sua feliz realidade.

(15:4-5) Ela espera apenas esse convite que lhe fazemos hoje. Nós a introduzimos
através de uma prece de cura, para que nos ajude a erguermo-nos acima da
defensividade e a deixarmos a verdade ser como sempre foi...

A defensividade não é a estratégia do ego de estar no corpo e ser doente, mas nossa
falta de disponibilidade de olharmos para a estratégia em si e dizer: “Talvez eu esteja errado na
forma com que experiencio e percebo isso”. Assim, é nossa pequena disponibilidade de admitir
que temos estado errados e Jesus certo que nos permite dar um passo para longe da
defensividade e rezar:

(15:6-7) A doença é uma defesa contra a verdade. Aceitarei a verdade


do que sou, e hoje deixarei minha mente ser totalmente curada.

188
Não somos nós que curamos nossas mentes. Nós escolhemos deixar que nossas mentes
sejam curadas pela presença do princípio de Expiação, que nós agora alegremente
escolhemos para nós mesmos.

(16:1) A cura brilhará através da tua mente aberta, à medida que a paz e a verdade
surgirem para tomar o lugar da guerra e das imaginações vãs.

Para que a cura aconteça, eu primeiro preciso perceber que escolhi a “guerra e
imaginações vãs” – minha vida diária é um campo de batalha – para que eu não me lembre da
verdade além da batalha. Só então poderei saber que não sou uma vítima do mundo ou de
suas forças invisíveis, mas da minha decisão equivocada de manter o amor de Cristo separado
da minha atração inata a ele. Isso é desfeito no instante em que eu escolher me lembrar de sou
um com Sua Vontade, que é a minha própria também:

Esse é o restabelecimento da tua vontade. Olha para isso de olhos abertos e nunca
mais acreditarás que estás à mercê de coisas além de ti, de forças que não podes
controlar e de pensamentos que vêm a ti contra a tua vontade. É a tua vontade olhar
para isso. Nenhum desejo louco, nenhum impulso trivial para esqueceres
novamente, nenhuma punhalada de medo e nem o suor frio da morte aparente
podem se colocar contra a tua vontade. Pois o que te atrai além do véu está também
profundamente dentro de ti, é inseparável da tua vontade e completamente uno (T-
19.IV-D.7:3-7).

(16:2) Não haverá cantos escuros que a doença possa ocultar e manter defendidos da
luz da verdade.

Doença, uma das principais defesas do ego, nos mantém na escuridão porque nos
enraíza na escuridão do corpo, o que reflete a culpa que oculta a presença repleta de luz do
Espírito Santo em nossas mentes. A raiva serve ao mesmo propósito – ocultando os cantos
escuros da culpa que nos defendem da luz da verdade. Assim, lemos nas páginas finais do
texto sobre essas imagens escuras de separação e fragmentação – doença e raiva estando
entre as mais proeminentes – no entanto, não tendo o poder de deter a força e a majestade de
Cristo, nosso Ser:

As imagens que fazes não podem prevalecer contra o que o Próprio Deus quer que
sejas. Portanto, nunca tenhas medo da tentação, mas a vejas como é: uma outra
chance de escolher outra vez e permitir que a força de Cristo prevaleça em qualquer
circunstância e em qualquer lugar onde antes havias erguido uma imagem de ti
mesmo. Pois o que aparenta esconder a face de Cristo é impotente diante da Sua
majestade e desaparece diante da Sua vista santa... A fé não é dada à nenhuma
ilusão e nada que venha das trevas ainda permanece para esconder a face de Cristo
de quem quer que seja (T-31.VIII.4:1-3; 12:5).

(16:3-4) Não haverão mais figuras vagas procedentes dos teus sonhos, nem tampouco
as perseguições obscuras e sem significado com seus propósitos duplos que são
buscados de forma insana; nada disso permanecerá na tua mente. A tua mente será
curada de todos os desejos doentios que tentou autorizar o corpo a obedecer.

As figuras vagas procedentes dos seus sonhos de separação são apenas sombras das
figuras vagas na mente procedentes do pecado, culpa, medo, ataque e morte. Seus propósitos
duplos referentes ao especialismo pelo qual todos vivem, são vistos como amor especial; por
um lado, nosso propósito é atingir esse amor, e por outro, matar; por um lado, buscamos
felicidade, e por outro, manter a esperança real de felicidade oculta da consciência.
189
(17) Agora o corpo está curado, porque a fonte da doença foi aberta para o alívio. E
reconhecerás que praticaste bem por isso: o corpo não deve sentir nada. Se tiveres tido
êxito, não haverá nenhuma sensação de mal ou bem-estar, de dor ou de prazer. Não há
absolutamente nenhuma resposta na mente para o que o corpo faz. Só a sua utilidade
permanece e nada mais.

Quando Jesus diz “agora o corpo está curado”, as sentenças seguintes tornam claro que
ele não está falando sobre uma mudança corporal. Se você seguir sua orientação, vai se
identificar com sua mente, e uma vez que a mente está fora do tempo e do espaço, você está
fora do sonho do corpo. Portanto:

Em nenhum único instante o corpo existe de forma alguma (T-18.VII.3:1).

No instante santo, a referência aqui, não há corpo. Unidos ao amor de Jesus, não
podemos ser separados, e então, não existe pecado, culpa ou medo para defender contra o
tomador de decisões na mente, e nenhum corpo para defender contra a trindade profana do
ego – o já mencionado escudo duplo.
Quando eu experimento o amor e a paz de Jesus, meu corpo não sente coisa alguma –
nem bem, nem mal, nem nada. Eu “sinto” o Amor de Deus que está na mente, que não tem
nada a ver com o corpo. Portanto, Um Curso em Milagres não é sobre curar o corpo, que
nunca pode ser curado, porque nunca ficou doente. Ficando com Jesus dentro do instante
santo, percebemos o corpo corretamente – dor ou desconforto , os transtornos em nossas
vidas -, como salas de aula refletindo de volta para nós a decisão da mente de ser doente e
infeliz. Antes, tudo o que nós sabíamos era que nossos corpos estavam feridos, ou solitários,
tristes, ou em êxtase. Tudo estava focalizado neles. Agora, pedir ajuda a Jesus significa olhar
através dos seus olhos em vez de dos nossos próprios, percebendo que o corpo é apenas o
meio através do qual somos lembrados de que temos uma mente que escolhe a culpa em vez
do amor, a individualidade em vez da unicidade, o ego em vez do Espírito Santo. Esse, mais
uma vez, é o significado de: “Agora o corpo é curado”.
Um dos significados principais do perdão é erguer as projeções que coloquei sobre você.
Não existe nada a perdoar porque você só fez o que eu queria que fizesse, pois eu queria que
o meu pecado estivesse sobre você:

Quando estás zangado, não é porque alguém falhou em cumprir a função que tu
deste a ele? E essa não é a “razão” pela qual teu ataque é justificado? (T-29.IV.4:1-
2).

Assim, não são os nossos relacionamentos que são curados, mas a mente. Da mesma
forma, na cura verdadeira, minha projeções de pecado são erguidas do seu corpo, onde eu as
coloquei. Assim como um relacionamento é “curado” quando escolho Jesus em vez do ego,
meu corpo também é “curado” quando faço a escolha certa. A cura, então, como o perdão, é
simplesmente retirar a projeção do corpo de outra pessoa ou do nosso próprio. O corpo, mais
uma vez, se torna um instrumento para nos lembrarmos da nossa fonte de dor e alegria reais: a
mente. Esse princípio é sustentado no tratamento de Jesus à cura em psicoterapia:

A compreensão dessa idéia [de que o perdão cura a falta de perdão] é a meta final
da psicoterapia. Como é realizada? O terapeuta vê no paciente tudo o que ele não
perdoou em si mesmo e assim lhe é dada uma outra chance de olhar para isso, abri-
lo para reavaliação e perdoá-lo. Quando isso acontece, ele vê que os seus pecados
desapareceram num passado que não está mais presente. Até que faça isso, não
pode deixar de pensar que o mal o está atacando aqui e agora. O paciente é a tela
para a projeção de seus pecados, capacitando-o a soltá-los. Se ele retiver uma
190
mancha de pecado naquilo que contempla, a sua liberação será parcial e não será
uma certeza (P-2.VI.6).

A cura, então, não tem nada a ver com o paciente, nem com as intervenções do
terapeuta, mas apenas com a remoção da projeção do terapeuta sobre o paciente:

É nesse instante em que o terapeuta esquece de julgar o paciente que a cura


acontece (P-3.II.6:1).

É importante compreender esse princípio de cura para evitar ficar preso à idéia de que o
corpo tem que se sentir melhor ou mudar. É isso o que está subjacente a essa passagem muito
familiar:

Não busques mudar o mundo, mas escolhe mudar a tua mente a respeito dele (T-
21.in.1:7).

Não é o mundo que é o problema, mas nosso pensamento sobre o mundo – a projeção
do nosso pecado e culpa. O mesmo é verdadeiro sobre a doença física, que é nossa culpa
projetada no corpo; quando retiramos as projeções, a culpa se dissolve e o mesmo acontece
com a doença. Na próxima lição, a doença será identificada com a separação, a insanidade da
mente de que não tem nada a ver com o corpo.

(18:1) Talvez não reconheças que isso remove os limites que havias imposto ao corpo
através dos propósitos que lhe deste.

Isso é o que vimos. O propósito que nós demos ao corpo foi ser um ser limitado: um
símbolo da separação, pecado, culpa e ataque. Removendo esse propósito através do Espírito
Santo, o corpo fica bem, uma vez que nunca esteve doente. No Um Curso em Milagres, o
positivo consiste de desfazer o negativo. O único positivo verdadeiro é o Amor de Deus, e seu
reflexo – perdão – dissolve a culpa e o ódio do ego. Portanto, estar bem ou curado é apenas o
desfazer da crença equivocada em que poderíamos estar doentes. Lembre-se, a cura não tem
nada a ver com o corpo, mas apenas com remover as projeções de culpa da mente.

(18:2) Ao deixares esses propósitos de lado, a força que o corpo tem será sempre
suficiente para servir a todos os propósitos verdadeiramente úteis.

Os propósitos úteis constituem nossa sala da aula. O corpo se torna um símbolo da


lembrando de que podemos fazer outra escolha. Nisso repousa sua força – a correção da
mente para a fraqueza do corpo como o fragmento sombrio do sistema de pensamento de
medo e separação do ego.

(18:3) A saúde do corpo está inteiramente garantida...

Mais uma vez, Jesus não está falando sobre a saúde do corpo. Não há corpo. Todos
gostam de pegar Jesus em um equívoco, e a forma em sua linguagem parece sugerir que ele
está contradizendo a si mesmo. No entanto, quando você entende o conteúdo por trás das
suas palavras, contradições potenciais caem de lado. Eu gosto de lembrar aos estudantes que
quando eles estudam o Um Curso em Milagres e o aplicam a suas vidas, nunca deveriam
deixar a metafísica muito longe. Ela mantém você honesto, especialmente em uma sentença
como essa. O corpo não pode ser saudável porque, mais uma vez, ele não existe. Ele parece
estar doente quando a culpa é projetada nele, e a saúde é simplesmente removê-lo – o
pensamento de doença da mente – do corpo, não, por exemplo, combater com sucesso um
microorganismo extremamente mortal. É por isso que Jesus afirma:
191
Saúde é paz interior (T-2.I.5:11).

(18:3-4) A saúde do corpo está inteiramente garantida, pois não é limitada pelo tempo,
pelo clima, ou pelo cansaço; pela comida ou pela bebida ou por qualquer lei que o
tenhas feito obedecer anteriormente. Agora não precisas fazer nada para deixá-lo bem,
pois a doença veio a ser impossível.

A doença não deveria ser definida por com que aparência o corpo está, quer seja o seu
ou o de outra pessoa. Os estudantes com freqüência gostam de julgar conforme praticam esse
Curso, descobrindo sintomas. Quando têm sucesso, seus egos se lançam sobre o pobre
sofredor e dizem: “Ah! Veja, você não é uma pessoa santa! Você está falhando com esse
Curso”! Mas doença é separação, culpa e julgamento, e não têm nada a ver com o corpo.

(19:1) Mas essa proteção necessita ser preservada por uma vigilância cuidadosa.

Essa é outra linha que deveria ser grifada de novo e de novo. Vigiar cuidadosamente não
é o mundo ou o corpo, mas os pensamentos de separação. Eles são a doença;
especificamente o pensamento de culpa que resulta de escolhermos a individualidade do ego
contra a Unicidade do Espírito Santo. Preservar a proteção do corpo por observar
cuidadosamente a mente significa não projetar. Assim, vimos nas primeiras lições, a ênfase de
Jesus sobre desenvolvermos a habilidade de examinar a mente. Não podemos mudar um
pensamento do qual não estamos conscientes. A negação protege os pensamentos da
mudança: vigiar cuidadosamente facilita isso.

(19:2) Se deixares a tua mente nutrir pensamentos de ataque, ceder ao julgamento ou


fazer planos contra as incertezas por vir, mais uma vez terás posto a ti mesmo no lugar
errado e feito uma identidade corporal que atacará o corpo, pois a mente está doente.

Podemos ver, a partir da primeira parte dessa sentença, que Jesus define a doença como
pensamentos de ataque, julgamentos, e planos para resolver problemas que não existem. Esse
é, portanto, um resumo da Lição 135 e 136. Ele diz, como sempre, que essa lição não vai
significar nada a menos que você a pratique dia a dia, momento a momento, vigiando sua
mente em busca de pensamentos de julgamento e especialismo – os pensamentos de doença.
Seu corpo ficará doente por causa desses pensamentos, não necessariamente na forma de
doença que você ou os outros vêem, mas no conteúdo de não se sentir bem, uma vez que não
existe maneira de evitar a culpa quando você ataca; desnecessários dizer, é por isso que o ego
nos direciona a agir assim. Quando você está se sentindo culpado, não mais se lembra de
quem é como uma criança do Amor, tendo se colocado fora de lugar por ver sua identidade
como um ego, para não mencionar a de qualquer outra pessoa.

(20:1) Dá-lhe remédio imediato se isso ocorrer, não deixando que a tua defensividade te
fira mais.

Isso implica em que você não pode “dar-lhe um remédio imediato” a menos que saiba que
algo está errado, que é o motivo pelo qual você precisa ser benignamente vigilante contra seu
ego. Se você realmente quiser expressar seu amor pelo Um Curso em Milagres e seu
professor, peça ajuda a ele para monitorar sua mente em busca de pensamentos de ataque e
julgamento, a fonte de toda doença.
A defensividade à qual Jesus se refere aqui é a doença: pensamentos de ataque,
julgamentos e especialismo. Você precisa perceber que eles não ferem apenas outras
pessoas, mas você também.

192
(20:2) Não confundas o que tem que ser curado...

Não é o corpo que “tem que ser curado”, mas a mente – especificamente sua decisão
equivocada:

(20:2-7) ... mas dize a ti mesmo:

Esqueci-me do que realmente sou, pois confundi o meu corpo


comigo mesmo. A doença é uma defesa contra a verdade.
Mas eu não sou um corpo. E a minha mente não pode atacar.
Portanto, não posso estar doente.

A doença é apenas uma invenção da nossa imaginação, literalmente um sonho cujo


propósito é nos proteger de escolhermos contra o ego e a favor do Espírito Santo, Que nos
ensina a esquecer do que nos lembramos – o falso ser de pecado do ego e o corpo – e a nos
lembramos do que esquecemos – nossa Identidade inocente como espírito. Como Jesus nos
lembra no texto:

O aprendizado é impossível sem memória, já que tem que ser consistente para ser
lembrado. É por isso que o ensinamento do Espírito Santo é uma lição em lembrar.
Eu disse anteriormente que Ele ensina a lembrança e o esquecimento, mas o
esquecimento serve apenas para tornar a lembrança consistente. Tu esqueces de
modo a lembrar melhor (T-7.II.6:2-5).

LIÇÃO 137

Quando sou curado, não sou curado sozinho.


193
Essa lição continua com o tema da doença, aqui definida como separação. Isso significa
que a cura é uma unidade: nós aceitamos nossa unicidade com Cristo, o Filho único de Deus,
por nos unirmos a Jesus em nossas mentes certas – o processo que desfaz a doença. Jesus
também equaciona doença a pecado, e à crença de que o mundo físico é real. Assim, ele
equaciona cura ao perdão do pecado e à percepção do mundo real, que desfaz a crença na
realidade do mundo. No mundo real, nós estamos fora da materialidade, e com o amor de
Jesus ao nosso lado, percebemos que o mundo é um sonho. Olhamos para nossos corpos e
vemos que isso não é quem nós somos, pois eles são simplesmente figuras no sonho da
mente. Em resumo, o mundo real, o perdão e a cura são equiparados, assim como a doença, o
pecado e o mundo físico.
A idéia da lição – “Quando sou curado, não sou curado sozinho” – reflete de volta para
nós a unidade do Filho de Deus: um no Céu como Cristo, um no sonho. Quando eu me uno ao
amor de Jesus no instante santo e sou curado, a Filiação é curada também, porque estou sem
meu ego e, portanto, sem a crença na separação e na individualidade. Nesse instante, sei que
o Filho de Deus é um, e que sou parte dessa unidade. O manual expressa a mesma idéia ao
responder a pergunta: “Quantos professores de Deus são necessários para salvar o mundo?”
(MP-12) – um. Jesus é uma manifestação de professor único, e, uma vez que só existe um
Filho, em nossa cura, nos tornamos esse professor também. A unidade do Filho de Deus é a
nossa própria:

(1) A idéia de hoje continua sendo o pensamento central em que se baseia a salvação.
Pois a cura é o oposto de todas as idéias do mundo que se fixam na doença e em
estados separados. A doença é um afastamento dos outros, um fechamento contra a
união. Vem a ser uma porta que se fecha sobre um ser separado e o mantém isolado e
sozinho.

A doença original é o pensamento de que estou por conta própria. Eu começo por me
afastar da minha unidade com Deus, o que me estabelece como separado e autônomo, isolado
e sozinho. Através da evolução do sistema defensivo do ego, esse pensamento de separação
se manifesta como um corpo separado, mantendo-me separado de todos os outros. Quando eu
tenho sintomas físicos ou psicológicos, minha dor me isola ainda mais dos outros, pois não
posso amar quando estou com dor, pois tudo o que busco é alívio – amor e dor são estados
mutuamente excludentes. Portanto, a dor é uma decisão de ser separado do amor. Quando
estou com dor, amo apenas aqueles que vão diminuí-la. Essa é minha necessidade especial, e
o objeto de amor especial é aquele que vai aliviá-la. Se a minha dor for psicológica, essa
pessoa especial me “ajuda” com um telefonema, visita ou carta; se for física, sou ajudado pela
melhora do sintoma. No entanto, isso não é união verdadeira, pois nossas necessidades e
interesses especiais obstruem nossa consciência do nosso propósito compartilhado. A doença
divide nosso propósito; a cura o une. Lembre-se:

Nenhuma mente é doente enquanto outra mente não concorde que elas estão
separadas. E assim, a decisão que tomam de serem doentes é conjunta. Se não dás
o teu acordo e aceitas o papel que desempenhas para fazer com que a doença seja
real, a outra mente não pode projetar a própria culpa sem a tua ajuda em permitir a
ela que se perceba como separada e à parte de ti. Assim, o corpo não é percebido
como doente por ambas as mentes, de pontos de vista separados. A união com a
mente de um irmão impede a causa da doença e os efeitos percebidos. A cura é o
efeito de mentes que se unem, assim como a doença vem de mentes que se
separam (T-28.III.2).

194
(2:1-2) A doença é isolamento. Parece manter um ser à parte de todos os demais para
sofrer o que os outros não sentem.

Quando estou doente, não me importo com você. Provavelmente, mais do que em
qualquer outro período da minha vida, minha dor me transforma no centro do universo. Eu me
importo apenas com o fato da minha dor ser aliviada. Você existe em meu sonho apenas para
servir ao propósito de aliviar meu desconforto. Seguindo a quarta lei do caos do ego – “tens
aquilo que tomaste dos outros” (T-23.II.9:3) -, nós, em algum nível, paradoxalmente culpamos
aquele que nos ajuda por nossa situação dolorosa. Assim: se você estiver livre da dor, tem que
ter tirado meu estado de felicidade de mim sem devolvê-lo, deixando-me sozinho em meu
sofrimento. Como a dolorosamente familiar lei do ego declara:

Pois inimigos não dão voluntariamente um ao outro e nem buscariam compartilhar


as coisas que valorizam (T-23.II.9:6).

Assim, a doença realmente nos mantém separados, reforçando a decisão da mente de


ser separada:

A causa da dor é a separação, não o corpo, que é apenas o seu efeito (T-28.III.5:1).

Apenas voltando nossa atenção para a mente doente poderemos ser curados,
reconhecendo que somos um no sofrimento, assim como somos um na cura.

(2:3) Dá ao corpo o poder final para fazer com que a separação seja real e manter a
mente em uma prisão solitária, dividida ao meio e mantida em pedaços por uma sólida
parede de carne doente que ela não pode superar.

Jesus fala aqui da projeção do pensamento original de doença da mente sobre o corpo.
Como vimos na lição anterior, um corpo doente estabelece sem sombra de dúvida que o
pensamento de separação e o corpo são reais e, portanto, Deus não é. Assim, um corpo
doente protege o pensamento da doença, mantendo “a mente em uma prisão solitária”. A dor
enraíza solidamente minha atenção no corpo, e o pensamento de ter uma mente – sem falar
em um tomador de decisões – está tão distante da minha experiência que até mesmo concebê-
lo é impossível, tudo o que importa é que minhas necessidades corporais sejam atendidas –
satisfação do prazer ou evitação da dor.

(3:1) O mundo obedece às leis que a doença serve, mas a cura opera à parte delas.

Isso é assim porque a cura acontece na mente que está fora do tempo e espaço e,
portanto, fora do corpo. O corpo, e a doença física especificamente, são cortinas de fumaça
escondendo a mente trans-mundana – a fonte da doença no corpo.

(3:2) É impossível que alguém seja curado sozinho.

Isso só faz sentido quando percebemos que a doença é uma crença na separação. A cura
desfaz essa crença quando escolhemos Jesus em vez do ego. Como sempre no Um Curso em
Milagres, nada escrito aqui será compreensível se você relacioná-lo à sua experiência no
mundo. Em vez disso, você é solicitado por Jesus a relacionar sua experiência à sua mente,
não o contrário. É, portanto, melhor não abordar esse curso em termos da sua experiência
física, pois a cura não é do corpo. Ser “curado sozinho” reflete o faltoso sistema de
pensamento da mente de separação e solidão, que é desfeito conforme a cura restaura à
consciência nossa unicidade inerente como Filho de Deus. Não podemos ser curados sozinhos
porque não estamos sozinhos:
195
Que o louvor seja dado a ti que fazes com que o Pai seja um junto com Seu próprio
Filho. Sozinhos, todos somos pequenos, mas juntos brilhamos com um fulgor tão
intenso que nenhum de nós por si mesmo pode sequer imaginar (T-13.X.14:1-2).

Esse é o fulgor da cura, resplandecente com a luz de Cristo, o Filho único de Deus.

(3:3-4) Na doença a pessoa tem que estar à parte e separada. Mas a cura é a própria
decisão de ser uno novamente e de aceitar o próprio Ser com todas as Suas partes
intactas e incólumes.

Quando me uno a Jesus, também me uno à memória da minha Identidade e a de todos


como Cristo – nosso verdadeiro Ser. A cura nos eleva acima do campo de batalha do sonho,
de onde olhamos para suas figuras, algumas das quais podem estar doentes, uma pode
inclusive ser a pessoa que penso ser eu mesmo. Estando fora do sonho, me lembro da
unicidade do Filho de Deus, e sem separação não pode haver pensamento de doença.
Portanto, a aparência de um corpo doente tem que ser ilusória porque vem da ilusão de que
sou separado de Deus. No entanto, se já sou unido ao Seu Amor por virtude de estar com
Jesus, toda a coisa do ego é inventada, permitindo-nos lembrar da Coisa Toda. Assim, lemos
no texto:

A cura é um sinal de que queres tornar algo íntegro. E essa disponibilidade abre os
teus ouvidos à Voz do Espírito Santo, Cuja mensagem é a integridade. Ele te
capacitará a ir muito além da cura que empreenderias, pois ao lado da tua pequena
disponibilidade para tornar íntegro, Ele depositará a Sua própria Vontade completa e
fará com a tua seja íntegra (T-11.II.4:1-3).

Essa é a essência da prática do Um Curso em Milagres: dar um passo atrás com Jesus e
olhar para o que você acredita que está causando seu desconforto. Assim, você vai olhar para
o mundo de forma diferente, e os efeitos da raiva, transtorno e ânsia pelo especialismo se vão.
Tudo o que você vai ver agora são figuras doentes, ao perceber que a verdade está fora do
sonho, na Totalidade e Unicidade do Filho de Deus.

(3:5) Na doença, o Ser parece estar desmembrado e sem a unidade que Lhe dá vida.

No instante ontológico em que acreditamos termos nos separado de Deus, também


acreditamos ter desmembrado o Ser de Cristo. É outra forma de dizer que crucificamos o Filho
de Deus por acreditarmos que Ele poderia ser separado em fragmentos, como vemos nessa
passagem muito importante:

Tu, que acreditas que Deus é medo, fizeste apenas uma substituição. Ela tomou
muitas formas, porque foi a substituição da verdade pela ilusão, da totalidade pela
fragmentação. Ela veio a ser tão partida, subdividida e de novo dividida, vezes e
mais vezes, que agora é quase impossível perceber que alguma vez foi uma só e
que ainda é o que era. Esse único erro, que trouxe a verdade à ilusão, a infinidade
ao tempo e a vida à morte, foi tudo o que jamais fizeste. Todo o teu mundo se
baseia nele. Tudo o que vês reflete isso e cada relacionamento especial que jamais
tiveste é parte disso (T-18.I.4).

As boas novas é que nós estávamos errados – nosso Ser nunca deixou Sua Fonte:
Podes te surpreender quando ouvires o quanto a realidade é diferente daquilo que
vês... Volta-te para a nobre calma do lado de dentro, onde em quietude santa habita
o Deus vivo Que nunca deixaste e Que nunca te deixou (T-18.I.5:1; 8:2).
196
(3:6) Mas a cura é realizada quando a pessoa vê que o corpo não tem poder de atacar a
unicidade universal do Filho de Deus.

A cura acontece quando você pede ajuda a Jesus, dando um passo para fora do sonho
para olhar de volta para suas figuras e perceber que você literalmente está olhando para um
sonho ou, melhor ainda, uma alucinação cujas figuras caminham por aí, vivem e morrem (T-
20.VIII.7:3-7). Uma da figuras é a pessoa que você pensou que era o seu ser, um ser que você
agora percebe que reside na parte tomadora de decisões da sua mente – o local da cura. O
corpo, e, portanto o pensamento de separação, não tem poder aqui, e não pode atacar a
Unicidade universal do Filho de Deus. Em outras palavras, a separação não teve efeitos de
forma alguma. Esse é o princípio da Expiação, que leva de volta à Unicidade que nunca
realmente deixamos. Com seu propósito alcançado, a cura gentilmente se dissolve de volta em
sua Fonte – o Amor de Deus:

Curadores existem, pois são os Filhos de Deus que reconheceram a sua Fonte e
compreenderam que tudo o que a sua Fonte cria é um com eles. Esse é o remédio
que traz um alívio que não pode falhar. Ele permanecerá para abençoar por toda a
eternidade. Ele não cura em parte, mas integralmente e para sempre. Agora a causa
de todas as enfermidades foi revelada exatamente como é. E nesse lugar agora está
escrita a Palavra santa de Deus. A doença e a separação têm que ser curadas pelo
amor e pela união. Nada mais pode curar assim como Deus determinou que fosse a
cura. Sem Ele não há cura, pois não há amor (C-3.III.5).

(4:1-4) A doença quer provar que as mentiras têm que ser a verdade. Mas a cura
demonstra que a verdade é verdadeira. A separação que a doença quer impor nunca
ocorreu realmente. Ser curado é apenas aceitar o que sempre foi a simples verdade e
sempre permanecerá exatamente tal como sempre foi.

Nada na realidade foi mudado, mas não somos solicitados a negar qualquer nível de
experiência aqui, para deixarmos cair nossas roupas de individualidade e pularmos para o Céu.
Só precisamos olhar através de lentes diferentes para o que pensamos ser tão importante,
assim comparando a vida de separação do ego (e.g., doença) com o princípio de Expiação (a
separação nunca aconteceu realmente), chegando à conclusão que Jesus oferece perto do
final do texto:

Como é simples a salvação! Tudo o que ela diz é que o que nunca foi verdadeiro
não é verdadeiro agora e nunca o será. O impossível não ocorreu e não pode ter
efeitos. E isso é tudo (T-31.i.1:1-4).

Como é simples e adorável!

(4:5-6) No entanto, é necessário mostrar aos olhos acostumados às ilusões que o que
contemplam é falso. Assim a cura, que nunca foi necessária à verdade, tem que
demonstrar que a doença não é real.

Olhar com Jesus para nossos egos é um dos temas-chave no Um Curso em Milagres, o
cerne do perdão. Ele explica que o milagre estabelece que nós sonhamos um sonho, cujo
conteúdo não é real (T-28.II.7:1). Nós olhamos claramente para nossas experiências e as dos
outros, e percebemos que isso é parte de um sonho no qual nada é verdadeiro. No entanto,
não vou saber que é um sonho a menos que olhe para ele, o que não posso fazer a menos que
tenha escolhido o guia para a visão. No entanto, nossos olhos se acostumaram com a
escuridão das ilusões, e então, é preciso tempo dentro do sonho ilusório para permitir que
197
nossos medos diminuam o suficiente para que possamos ver. Lembre-se dessa passagem,
inspirada na alegoria de Platão sobre prisioneiros acorrentados em uma caverna de escuridão:

Prisioneiros amarrados a pesadas correntes por anos, famintos e abatidos, fracos e


exaustos, e com os olhos baixos há tanto tempo na escuridão que não se lembram
da luz, não pulam de alegria no instante em que são libertados. Leva tempo para
que compreendam o que é a liberdade (T-20.III.8:1-2).

O conforto da presença de Jesus ao nosso lado provê a gentileza da cura, abrindo


lentamente nossos olhos, por tanto tempo mantidos fechados.

(5:1) Portanto, a cura poderia ser chamada de um “contra-sonho”, que cancela o sonho
da doença em nome da verdade, mas não na verdade em si mesma.

A verdade do Céu não conhece nada sobre doença, e, portanto, nada sobre cura.
Lembre-se da declaração anterior no livro de exercícios de que Deus não perdoa porque Ele
nunca condenou (LE-pI.46.1:1). O perdão e a cura meramente desfazem um pensamento
equivocado que nunca esteve realmente lá. É por isso que Jesus descreve a cura como um
contra-sonho, e em outro trecho, chama o perdão de ilusão final (LE-pI.198.3), ou de ficção
feliz (ET-3.2:1), pois ele perdoa o que nunca aconteceu:

O perdão é para Deus e vai em direção a Deus, mas não é Dele. É impossível
pensar em qualquer coisa que Ele tenha criado que pudesse precisar de perdão. O
perdão é então uma ilusão, mas devido ao seu propósito, que é o do Espírito Santo,
há uma diferença. Ao contrário de todas as outras ilusões, conduz para longe do
erro e não em direção a ele (ET-3.1).

Da mesma forma, a cura é uma ilusão porque cura o que nunca esteve doente. Aqui
novamente vemos a equação de cura com perdão e o mundo real, contrabalançando a
equação do pecado da separação com a doença e o mundo. A seguinte linha adorável
expressa esse pensamento:

O sonho da cura está no perdão e gentilmente te mostra que nunca pecaste (T-
28.III.8:4).

(5:2-3) Assim como o perdão não vê todos os pecados que nunca foram cometidos, a
cura apenas remove as ilusões que nunca ocorreram. Assim como o mundo real surgirá
para ocupar o lugar daquilo que absolutamente nunca foi, a cura apenas oferece uma
reparação pelos estados imaginários e as falsas idéias que os sonhos bordam em
retratos da verdade.

O processo é sempre o mesmo. Nós usamos palavras diferentes – alcançar o mundo real,
percepção verdadeira, perdão, cura, milagre – porque o pensamento de separação assume
formas diferentes – ataque, doença, crença no corpo. No entanto, só existe um problema e
uma solução, uma ilusão corrigindo outra. Além disso, assim como o perdão e a cura, Jesus
também é uma ilusão:

O homem era uma ilusão, pois parecia um ser separado, caminhando por si mesmo,
dentro de um corpo que aparentava manter o seu ser separado do Ser, como fazem
todas as ilusões (ET-5.2:3).
Jesus é apenas uma forma entre muitas, respondendo à nossa necessidade de salvação
em uma forma que podemos aceitar a reconhecer: a resposta ao estado imaginado de
separação, que os sonhos teceram:
198
Ajudantes te são enviados de várias formas, embora sobre o altar todos sejam um.
Além de cada um há um Pensamento de Deus e isso nunca vai mudar. Mas eles
têm nomes que diferem temporariamente, pois o tempo necessita de símbolos
sendo irreal em si mesmo...
Ele [Jesus] é o único Ajudante de Deus? De fato, não. Pois Cristo toma muitas
formas com nomes diferentes até que a sua unicidade possa ser reconhecida. Mas
Jesus é para ti o portador da única mensagem de Cristo sobre o Amor de Deus. Não
precisas de outra (ET-5.1:3-5; 6:1-5).

Como estudantes do Um Curso em Milagres, é importante reconhecer que essas ajudas –


perdão, cura e Jesus – são apenas reflexos da verdade, ilusões simbólicas que corrigem as
ilusões de culpa, doença e separação do ego. Como Jesus nos lembra no terceiro obstáculo à
paz, falando da idéia de morte:

Lembra-te, então, que nenhum sinal nem símbolo deve ser confundido com a fonte,
pois necessariamente simbolizam alguma outra coisa além de si mesmos. O seu
significado não pode estar neles mesmos, mas tem que ser buscado naquilo que
representam (T-19.IV-C.11:2-3).

Cura, perdão e Jesus refletem a verdade da nossa unicidade e nos levam de volta a ela,
no entanto, é importante nos lembrarmos de que é a fonte que queremos, e não seus símbolos.

(6:1-2) Mas não penses que a cura não seja digna da tua função aqui. Pois o anti-Cristo
passa a ser mais poderoso do que o Cristo para aqueles que sonham que o mundo é
real.

Ainda que a cura seja uma ilusão, não deveríamos pensar que somos indignos dela, nem
acreditar em nossa arrogância que queremos pular além dela, para a verdade. Enquanto
acreditarmos que estamos aqui, vamos acreditar que o ego triunfou. Assim, “o anti-Cristo passa
a ser mais poderoso do que o Cristo para aqueles que sonham que o mundo é real” . Enquanto
nossas necessidades corporais nos pressionarem, o mundo será real, o que significa que
acreditamos que o anti-Cristo – o ego e seus ídolos de especialismo – triunfou sobre Deus e
Cristo. Jesus não está nos pedindo para negar o que acreditamos, mas para corrigirmos isso
para que possa ser desfeito. O anti-Cristo tem poder apenas porque investimos crença nele,
tornando nossos sonhos insanos reais, nos quais o impossível aconteceu e um ídolo se tornou
Deus:

Um ídolo é estabelecido pela crença e quando ela é retirada, o ídolo “morre”. Isso é
o anticristo: a estranha idéia de que há um poder além da onipotência, um lugar
além do infinito, um tempo que transcende o eterno. Aqui o mundo dos ídolos foi
estabelecido pela idéia de que foi dada uma forma a esse poder, a esse lugar e a
esse tempo e eles moldam o mundo onde o impossível aconteceu. Aqui, o que não
morre vem para morrer, o que tudo abrange vem a sofrer perda, o que é sem tempo
vem para se fazer escravo do tempo. Aqui o imutável muda; a paz de Deus, para
sempre dada a todas as coisas vivas, dá lugar ao caos. E o Filho de Deus, tão
perfeito, sem pecado e amoroso como seu Pai, vem para odiar por um breve
momento, para sofrer dor e finalmente morrer (T-29.VIIi.6).

(6:3-4) O corpo parece ser mais sólido e mais estável do que a mente. E o amor vem a
ser um sonho, enquanto o medo permanece a única realidade que pode ser vista,
justificada e inteiramente compreendida.

199
Tornar a si mesmo real é o propósito que o ego dá ao seu sistema de pensamento de
pecado, culpa e medo, expressando-se como o propósito que ele dá: a aparente realidade do
mundo físico e do corpo, especificamente, nesse caso, a doença. Assim, a doença realmente
prova a realidade do corpo, causada por um agente externo que também é considerado real. A
mente poderosa é assim relegada à impotência, e finalmente à inexistência. Se não existe
mente, como poderíamos escolher contra o ego? Ele permanece livre para existir dentro de seu
sonho amedrontador, protegido da ameaça do poder da mente de escolher a realidade do
amor.
O próximo parágrafo começa com a equação de perdão, o mundo real e a cura – termos
que são usados como sinônimos virtuais nessa lição:

(7:1) Da mesma forma que o perdão ofusca todo pecado e o mundo real virá a ocupar o
lugar do que fizeste, a cura tem que substituir as fantasias de doenças que manténs
diante da simples verdade.

Manter a doença diante da simples verdade descreve uma defesa do ego. Escolher estar
doente ou zangado, agarrar-se aos julgamentos que tornam o pecado real, vêm quando
experimentamos a presença de Jesus e o Amor de Deus. O medo da dissolução do nosso ser
especial diante da presença do amor nos faz buscar abrigo nos braços dirigidos pela culpa do
ego, pois uma vez que o medo surge, também surge a necessidade de nos defendermos. Nós
vimos como a doença é uma das defesas primárias do ego contra a verdade, e o mundo real
de perdão do Espírito Santo é bloqueado pelas nossas fantasias de pecado e doença. A
verdade então tem que esperar que nossa cura volte do mundo doente de ilusão.

(7:2-3) Quando se tiver visto que a doença desapareceu, apesar de todas as leis que
asseguram que ela não pode deixar de ser real, as perguntas terão sido respondidas. E
as leis não mais poderão ser apreciadas nem obedecidas.

A causa do sofrimento e da raiva é a decisão de ser culpado. Quando mudamos a


decisão por segurarmos a mão de Jesus em vez da do ego, a causa se vai, o que significa que
o efeito se vai também. Se o efeito desapareceu, não pode ter sido real, pois o ego diz que os
efeitos são eternos. Nós temos a ilusão de que eles vão embora, mas, enquanto a causa da
culpa permanecer em nossas mentes, seu efeito pecaminoso estará presente de uma forma ou
de outra:

Mas enquanto a culpa permanecer atraente, a mente vai sofrer e não vai abandonar
a idéia do pecado. Pois a culpa ainda a chama e a mente a ouve e anseia por ela,
fazendo de si mesma uma presa voluntária ao seu apelo doentio (T-19.III.1:4-5).

As “leis” de doença e cura do corpo são transcendidas ao retirarmos a crença no sistema


de pensamento de pecado, colocando-o sob a lei de perdão da mente, que é a única coisa que
cura.

(8:1-2) A cura é liberdade. Demonstra que os sonhos não prevalecerão contra a verdade.

Essa é uma declaração de que a separação de Deus nunca aconteceu – o princípio da


Expiação, refletido pela cura, perdão, e a percepção do mundo real. Se, portanto, a separação
é uma ilusão, os aprisionantes sonhos de raiva, doença e julgamento do ego também têm que
ser ilusórios, sem efeitos sobre nossa liberdade. Jesus nos oferece essas reconfortantes
palavras da verdade:

200
Não és livre para desistir da liberdade, mas apenas para negá-la. Não podes fazer o
que não foi intenção de Deus, porque o que não foi a intenção de Deus não
acontece (T-10.IV.5:1-2).

(8:3-4) A cura é compartilhada. E, por esse atributo, prova que as leis que não são como
aquelas que asseveram que a doença é inevitável são mais poderosas do que os seus
opostos doentios.

A idéia de que a cura é compartilhada, o tema dessa lição, é o reflexo em nosso sonho da
unicidade do Céu. Ela também é representada pelo princípio da Expiação, que é mantido para
nossas mentes doentes pela reconfortante Presença do Espírito Santo, para sempre nos
unindo a Deus e uns aos outros:

Que Consolador pode haver para as crianças doentes de Deus exceto o Seu poder
através de ti? Lembra-te que não importa aonde na Filiação Ele é aceito. Ele é
sempre aceito para todos e quando a tua mente O recebe, a Sua lembrança
desperta através de toda a Filiação. Cura os teus irmãos simplesmente aceitando
Deus por eles. As vossas mentes não são separadas e Deus tem apenas um canal
para a cura, porque Ele tem apenas um Filho. O elo remanescente de comunicação
entre Deus e todas as Suas crianças as une e une-as a Ele. Estar ciente disso é
curá-las, porque é a consciência de que ninguém está separado e, portanto,
ninguém está doente (T-10.III.2).

É por isso que não somos curados sozinhos. Não podemos ser!
Se a separação é uma ilusão, assim também são as leis desse mundo: doença,
envelhecimento e morte. Lembre-se da discussão de Jesus na Lição 76: “Não estou sujeito a
outras leis senão às de Deus”. As leis do mundo só valem enquanto o pensamento que as fez
é retido. Quando liberamos esse pensamento através do Espírito Santo, seus efeitos aparentes
se vão também, e nós somos curados.

(8:5-6) A cura é força. Pela sua mão gentil a fraqueza é superada e as mentes que se
achavam emparedadas no interior de um corpo são postas em liberdade para unirem-se
a outras mentes e para serem eternamente fortes.

O ego pega isso ao contrário, pois em sua insanidade, acredita que isso é força, assim
como seus amigos: ataque, doença e proezas físicas; todos os quais demonstrando a realidade
do mundo e do corpo, e a derrota de Deus. Para o ego, sua fraqueza – a separação inerente
da verdade – se tornou força, mas esse é mais um exemplo do seu pensamento invertido, e do
nosso quando nos identificamos com ele. A escolha entre a fraqueza do ego e a força de Cristo
é um tema principal através de todo o Um Curso em Milagres, e o leitor pode se recordar dessa
clara declaração:

Escolhe outra vez se queres tomar o teu lugar entre


os salvadores do mundo, ou se queres permanecer no
inferno e lá manter os teus irmãos.

Pois Ele veio e está pedindo isso.


Como fazes a escolha? Como isso é explicado facilmente! Sempre escolhes entre a
tua fraqueza e a força de Cristo em ti. E o que escolhes é o que pensas que é real
(T-31.VIII.1:5-2:4).

Um dos principais propósitos de Jesus com seu curso é nos convencer de que seu amor é
força, e o ódio do ego é fraqueza. Quando no instante santo escolhemos sua mão forte, a
201
Filiação é uma em nossa experiência, e todas as mentes são curadas. Eles ainda podem
escolher ser separados, no entanto, dentro da mente curada, a Filiação é curada, porque foi
percebida como uma. A seguinte passagem do texto descreve alegremente essa cura no
contexto de nosso relacionamento curado com nosso irmão:

O Céu é restaurado a toda a Filiação através do teu relacionamento, pois nele está a
Filiação íntegra e bela, à salvo em teu amor... Como é belo e como é santo o teu
relacionamento, com a verdade brilhando sobre ele! O Céu o contempla e se alegra
por teres deixado que ele viesse a ti. E o próprio Deus está contente que o teu
relacionamento seja assim como foi criado. O universo dentro de ti está contigo,
junto com o teu irmão. E o Céu olha com amor para o que está unido nele, junto com
o seu Criador...
Foste chamado junto com o teu irmão, para a função mais santa que esse mundo
contém. É a única que não tem limites e alcança cada elemento fragmentado da
Filiação com a cura e o consolo unificador (T-18.I.11:1,4-8; 13:1-2).

(9:1) A cura, o perdão e a feliz troca de todo o mundo de pesares por um mundo em que
a tristeza não pode entrar, são os meios pelos quais o Espírito Santo te pede
insistentemente para que O sigas.

A cura, o perdão e o mundo real não são o fim, mas os meios que o Espírito Santo usa
para nos ajudar a desfazer as interferências da mente à culpa que nos impede de lembrar de
Quem nós somos. Assim, Seus ensinamentos são os meios, e a memória do nosso Ser é o fim
que buscamos.

(9:2) As Suas lições gentis ensinam com que facilidade a salvação pode ser tua, quão
pouca prática precisas empreender para deixar que as Suas leis substituam aquelas que
fizeste para continuares sendo um prisioneiro da morte.

Quando Jesus fala de quão pouca prática precisamos, ele parece contradizer suas
palavras em muitos outros trechos, nos quais nos lembra do quanto precisamos praticar. No
entanto, ele está falando aqui da sua perspectiva, da qual o vasto universo, com seus
problemas se estendendo por milhões de anos, é reduzido a um “leve desejo” de sermos
separados de Deus e de que essa ilusão seja verdadeira (T-19.IV-A.8:1). Do seu ponto de vista
dentro da mente curada, portanto, tudo isso é nada, e requer apenas uma pequena mudança
da ilusão para a verdade. É a mesma perspectiva encontrada em uma lição posterior: “Eu me
aquietarei por um instante e irei para casa” (LE-pI.182). Assim, é nessa veia que ele fala aqui
sobre o quão facilmente a salvação pode ser nossa, e quão pouca prática precisamos. Em
nossa experiência dentro do sonho, no entanto, isso requer uma enorme quantidade de
trabalho, e não é tão facilmente atingido. O princípio é fácil, com certeza, mas apenas da
perspectiva acima do campo de batalha do mundo. Para nós, ainda aprisionados no sistema de
pensamento de morte do ego, uma grande quantidade de vigilância e diligência é necessária, o
que Jesus nos guia e encoraja a desenvolvermos.

(9:3) a Sua vida vem a ser a tua assim que tu Lhe estendes a pouca ajuda que Ele pede
para libertar-te de tudo o que jamais te causou dor.

A vida do Espírito Santo, o símbolo da Expiação, se torna a nossa própria quando O


escolhemos. Assim, nós, como Jesus, nos tornarmos a Expiação, e seu perdão se estende
através da mente unida do Filho de Deus. A palavra extensão no Um Curso em Milagres não
deveria ser vista como qualquer coisa física, pois ela se refere apenas a um processo dentro
da mente, quando a escolha pelo perdão é feita. Se nós escolhermos a culpa em vez disso, o
processo é denotado pela palavra projeção, que descreve as vicissitudes da divagação da
202
mente do ego. A extensão do perdão, no entanto, é o pensamento refletido do Amor do Céu,
conforme ele se estende através da mente única do Filho. Se vamos expressar física ou
verbalmente o perdão da mente certa não deve ser nossa preocupação. Isso acontece por si
mesmo, pois quando desfazemos as barreiras de julgamento da mente, a luz do
relacionamento santo na mente não pode deixar de se estender através de toda a Filiação:

Isso [cura e conforto unificador] te é oferecido em teu relacionamento santo. Aceita-o


aqui e darás assim como aceitaste. A paz de Deus te é dada com o brilhante
propósito no qual te unes ao teu irmão. A luz santa que trouxe a ti e a ele para a
união tem que estender-se assim como tu a aceitaste (T-18.I.13:3-6).

Assim, o conforto da cura é estendido, como agora vemos:

(10) E, ao te deixares curar, vês todos aqueles à tua volta ou aqueles que passam pela
tua mente ou aqueles em quem tocas ou com quem parecer não ter contato, todos
curados junto contigo. Talvez não os reconheças a todos, nem te dês conta do quanto é
grande o teu oferecimento ao mundo inteiro, quando deixas a cura vir a ti. Mas nunca és
curado sozinho. E legiões e legiões receberão a dádiva que recebes quando és curado.

Essa é outra declaração maravilhosa sobre a Unicidade do Filho de Deus, que não tem
nada a ver com o físico ou comportamental. Pensar que tem é grosseira compreensão errônea
do Um Curso em Milagres. A cura acontece apenas dentro da sua mente, porque existe
apenas a sua mente. Quando essa mente é curada e você escolheu Jesus como seu
professor, mesmo que apenas por um instante, você sabe que o Filho de Deus é um: a
separação é uma ilusão e seu sistema de pensamento de culpa – para não mencionar o mundo
que surgiu dele – é uma ilusão também. “Legiões e legiões” recebem sua dádiva de cura
conforme você se lembra da sua unicidade natural como o Filho de Deus, a dádiva do milagre
para a Filiação, que transcende o sistema de pensamento insano de ódio e doença do ego:

O milagre é o ato de um Filho de Deus que deixou de lado todos os deuses falsos e
chama seus irmãos a fazerem o mesmo. É um ato de fé, porque é o reconhecimento
de que seu irmão é capaz de fazê-lo. É um chamado para o Espírito Santo na mente
do seu irmão, um chamado que é reforçado pela união. Pelo fato do trabalhador de
milagres ter ouvido a Voz de Deus, ele A reforça em um irmão doente
enfraquecendo a sua crença na doença, que ele não compartilha. O poder de uma
mente pode brilhar em outra, porque todas as lâmpadas de Deus foram acesas pela
mesma centelha. Ela está em toda parte e é eterna (T-10.IV.7).

(11:1-2) Aqueles que são curados vêm a ser os instrumentos da cura. E nenhum tempo
passa entre o instante em que são curados e o instante em que toda a graça da cura lhes
é dada para dar.

No instante santo, você está fora do mundo físico, e então, não existe pensamento de
separação – pecado, culpa e medo – nem um mundo tempo/espacial – passado, presente e
futuro – que iria surgir dele. Remova a causa - separação – e o efeito – o mundo - desaparece.
No instante santo, portanto, o tempo se vai e a cura é instantânea. Não é necessário que ela se
estenda através do tempo e do espaço, porque não existe tempo e espaço. Essa é apenas
outra forma de entender por que você não precisa buscar conscientemente estender o amor e
a cura. Se você o fizer – acreditando que existem pessoas que têm que converter, ensinar e
curar – vai estar de volta no mundo separado de tempo e espaço, o que significa que sua
mente agora está não-curada. No instante santo, ninguém é curado, porque o reconhecimento
de que todos já estão curados alvoreceu em nossas mentes até então doentes. Na verdade,
ninguém jamais esteve doente.
203
(11:3-4) Aquilo que se opõe a Deus não existe e aquele que não aceita isso em sua
mente vem a ser o porto aonde os fatigados podem permanecer para descansar. Pois
aqui a verdade lhes é concedida e todas as ilusões são trazidas à verdade.

Quando sua mente é curada, uma mensagem é enviada a todos aqueles que escolhem
se beneficiar dela: a decisão que eu tomei, a mão do irmão amoroso que eu segurei, está à sua
disposição para ser tomada também. Nesse ponto, você se torna um porto onde os fatigados
vêm para descansar. “Aquilo que se opõe a Deus” é o sistema de pensamento ilusório de
separação e doença do ego. Aceitar sua inexistência nos permite ser um porto pacífico para
aqueles que ainda se sentem tentados a tornar o ego real. Esse porto de descanso é retratado
na seguinte passagem de “O pequeno jardim”, onde nosso deserto de ilusões, ódio e
separação se torna um jardim de verdade, amor e união:

O deserto vem a ser um jardim, verde e profundo e quieto, oferecendo descanso


àqueles que perderam o seu caminho e vagam no pó. Dá-lhes um local de refúgio,
preparado pelo amor para eles onde antes havia um deserto. E cada um a quem dás
boas-vindas trará amor com ele do Céu para ti. Eles entram um por um nesse lugar
santo, mas não partirão como vieram, sozinhos. O amor que trouxeram consigo
ficará com eles, assim como ficará contigo. E sob a sua beneficência, o teu pequeno
jardim se expandirá e alcançará a todos os que têm sede da água viva, mas estão
por demais cansados para seguirem adiante sozinhos (T-18.VIII.9:3-8).

(12:1-3) Tu não oferecerias abrigo à Vontade de Deus? Com isso apenas convidas o teu
ser a estar em casa. E pode esse convite ser recusado?

O Ser não pode ser recusado porque, uma vez que você O escolheu, já está lá. A
memória de Quem você é como o Filho de Deus, seu Ser como Cristo, está totalmente
presente dentro da sua mente. Quando você O escolhe, meramente escolheu aceitá-lo onde
ele sempre esteve. Nós deixamos nosso lar apenas em sonhos, e o tempo para sonhar
terminou, acelerado conforme perdoamos. Assim, convidamos nossos irmãos separados para
despertar do sonho de ódio e doença, mesmo quando convidamos Deus e Cristo, a Unicidade
do nosso Ser, para virem aonde Eles estão, como está refletido nessa inspiradora passagem
de “Pois Eles vieram”:

... Eles [Deus e Cristo] vieram para habitar dentro do templo [de perdão] que Lhes foi
oferecido, para que esse seja um lugar de descanso para Eles assim como para ti.
Aquilo que o ódio liberou para o amor vem a ser a luz mais brilhante na radiância do
Céu. E todas as luzes no Céu são mais brilhantes agora, em gratidão pelo que foi
restaurado... Ninguém na terra deixa de dar graças àquele que restaurou a sua casa
e a abrigou do inverno amargo e do frio que congela. E será que o Senhor do céu e
Seu Filho darão menos em gratidão por tanto mais?
Agora, o templo do Deu vivo está reconstruído outra vez como anfitrião para Aquele
por Quem foi criado. Onde Ele habita, o Seu Filho habita com Ele, nunca separado.
E Eles dão graças porque afinal são bem-vindos (T-26.IX.6:4-6; 7:3-8:3).

(12:4-5) Pede que o inevitável aconteça e nunca falharás. A outra escolha é apenas a de
pedir ao que não pode ser para que seja e isso não pode ter sucesso.

Todos vamos tentar fazer isso, é claro, que é o motivo pelo qual nada jamais funciona
nesse mundo. Não importando o quanto sejam brilhantes os cérebros que concebem a solução
– política, educacional, econômica ou médica -, no final, isso vai falhar, porque pediu que o
pensamento de separação fosse real: “o que não pode ser”. Uma vez que não é real, tudo que
204
automaticamente se segue a esse único equívoco será igualmente ilusório. Isso não significa,
no entanto, que não podemos escolher continuar dormindo e sonhando que o que é, não é, e o
que não é, é:

... quem pode se encontrar em uma costa distante e sonhar consigo mesmo como
se estivesse do outro lado do oceano, em um tempo e lugar que há muito já
desapareceram? Em que medida esse sonho pode ser um obstáculo real para o
lugar aonde ele realmente está, pois isso é fato e não muda quaisquer que sejam os
sonhos que ele tenha. Contudo, ele ainda pode imaginar que está em outro lugar e
em outro tempo. Nas formas extremas, ele pode se deludir a ponto de acreditar que
isso é verdadeiro e passar de mera imaginação a ser algo no qual ele acredita e
depois à loucura, extremamente convencido de que está aonde prefere estar.
Isso é um obstáculo para o lugar onde ele se encontra? Qualquer eco do passado
que ele possa ouvir por acaso é um fato no que existe para ser ouvido onde ele está
agora? Em que medida podem as suas ilusões acerca de tempo e espaço efetuar
uma mudança aonde ele realmente está? (T-26.V.6:6-7:3).

No entanto, embora sejamos livres para estabelecer nossa realidade, não somos livres
para tornar nosso desejo realidade (T-3.VI.10:2).

(12:6) Hoje, pedimos que só a verdade venha a ocupar as nossas mentes, que nesse dia
os pensamentos de cura passem daquilo que está curado àquilo que ainda precisa sê-lo,
cientes de que ambas as coisas ocorrerão como uma só.

A mente do Filho de Deus é uma. Quando sua mente é curada – “aquilo que está curado”
-, você percebe que todos os outros que acreditam ainda precisar de cura já estão curados – “o
que ainda precisa sê-lo”. Da perspectiva da mente curada – estar com o Espírito Santo no
instante santo – toda doença e problemas se vão, porque são parte de um sonho do qual você
não é mais uma parte, reconhecendo que tudo aqui é uma ilusão. O pensamento curativo de
amor com o qual você agora está identificado se torna um farol sinalizando para todos que
ainda escolhem permanecer fora desse amor, que eles podem vir a essa luz e descansar na
unicidade do Filho de Deus, como você fez. Essa é nossa função uns em relação aos outros,
conforme nos unimos na luz que dissipa a escuridão da doença e do ódio, separação e ilusão.
A seguinte passagem nos inspira a lembrar da nossa função de sermos a luz do mundo:

Não há no Céu nem uma única luz que não vá convosco. Nem um único Raio que
brilhe para sempre na Mente de Deus deixa de vos iluminar. O Céu está unido a vós
no vosso avanço rumo ao Céu. Quando grandes luzes tais como estas estão unidas
a vós para dar à pequena centelha do vosso desejo o poder do próprio Deus, será
possível permanecer nas trevas? Tu e o teu irmão estão voltando ao lar juntos, após
uma longa jornada sem significado que empreenderam um à parte do outro e que
não levou à lugar nenhum. Tu achaste o teu irmão e vós iluminareis o caminho um
para o outro. E a partir dessa luz, os Grandes Raios estender-se-ão para trás em
direção às trevas e para frente em direção a Deus, para desvanecer o passado com
seu resplendor e assim abrir espaço para a Sua Presença eterna, na qual todas as
coisas são radiantes na luz (T-18.III.8).

(13) Lembrar-nos-emos, ao soar de cada hora, de que a nossa função é a de deixar que
as nossas mentes sejam curadas para que possamos levar a cura ao mundo, trocando a
maldição pela bênção, a dor pela alegria e a separação pela paz de Deus. Não vale a
pena dar um minuto de cada hora para receber uma dádiva como essa? Um pouco de
tempo não é um custo pequeno a ser oferecido pela dádiva de tudo?

205
Ao atravessar seu dia, faça a si mesmo a seguinte pergunta: Realmente vale a pena me
agarrar a essa dor e raiva, quando em troca eu poderia ter a bênção, alegria e paz de Deus?
Essa é sua função: estar no instante santo quando desfizer sua escolha pelo ego, escolhendo
o Espírito Santo. Mais uma vez, você realmente quer se agarrar aos pensamentos e
comportamento do ego, considerando seu custo? Monitorar sua mente durante o dia todo
reflete a resposta correta a essa pergunta. Portanto, sempre que você se permitir ficar
consciente da sua raiva, mágoa, depressão, dor ou farisaísmo, dê um passo atrás e pergunte
se tal especialismo vale a pena: Por que eu não escolheria ter a bênção, alegria e paz de Deus
em vez da maldição de dor da separação? Note essa linha maravilhosa de Deuterônimo, na
qual Moisés vem diante das Crianças de Israel dizendo: “Estabeleci diante de vós a vida ou a
morte, a bênção ou a maldição. Escolhei a vida...” (Deuterônimo, 30:19-20). Jesus estabelece a
mesma escolha diante de nós.

(14:1) Entretanto, é necessário que estejamos preparados para tal dádiva.

Jesus parece contradizer o que disse antes, sobre ser necessária apenas “um pouco de
prática”. Ele nos mostra que nós temos que praticar durante o dia todo, e nossa preparação
para o instante santo é nosso desejo por ele. Lembre-se:

O instante santo é o resultado da tua determinação de ser santo. É a resposta. O


desejo e a disponibilidade para permitir que ele venha precedem a sua vinda.
Preparas a tua mente para ele apenas na medida em que reconheces que o queres
acima de todas as outras coisas (T-18.IV.1:1-4).

Esse, então, é o desafio de Jesus como nosso professor: ajudar-nos a perceber que
realmente queremos ser felizes, e que apenas o perdão vai nos trazer o desejo de nossos
corações.

(14:2-4) Assim, iniciaremos o dia com isso, dando dez minutos a estes pensamentos,
com os quais também concluiremos à noite:

Quando sou curado, não sou curado sozinho. E quero


compartilhar minha cura com o mundo para que a doença
possa ser banida da mente do Filho único de Deus,
que é o meu único Ser.

Deveria estar claro aqui, como já mencionei no início dessa lição, que doença é
separação. Não é um sintoma físico, embora o experienciemos dessa forma. O desconforto
que possamos sentir em nossos corpos é uma expressão direta do desconforto que sentimos
em nossas mentes por escolhermos estar certos em vez de felizes, de sermos separados do
amor de Jesus, em vez de nos unirmos a ele. Mais uma vez, nós queremos perguntar a nós
mesmos durante o dia todo: Realmente vale a pena continuar separado do meu irmão, do meu
Ser, e do meu Deus?

(15:1-3) Permite que a cura se dê através de ti nesse dia mesmo. E enquanto descansas
em quietude, estejas preparado para dar assim como recebes, para só guardar o que dás
e receber o Verbo de Deus para que ele tome o lugar de todos os tolos pensamentos que
jamais foram imaginados. Nós nos reunimos agora para fazer com que tudo o que estava
doente fique bom e para oferecer a bênção aonde havia ataque.

Nada disso é possível a menos que você primeiro se torne consciente dos tolos
pensamentos de doença e ataque. Nós, portanto, voltamos ao tema principal – o tema da
próxima lição também – que a cura, correção e perdão não têm significado se você não tiver
206
um problema ao qual possa aplicá-los. Você precisa, então, estar ciente da sua atração por
ficar zangado, doente e julgador, e por se sentir magoado, vitimado e deprimido: e pergunte a
si mesmo mais uma vez: Isso realmente vale a pena para mim? Nesse ponto, então, você
estará pronto para soltar a mão do ego e permitir que Jesus o guie gentilmente à mente que é
a fonte da doença assim como da cura.

(15:4-6) E tampouco deixaremos que essa função seja esquecida à medida em que passa
cada hora do dia, lembrando-nos do nosso propósito com esse pensamento:

Quando sou curado, não sou curado sozinho. E quero


abençoar os meus irmãos, pois quero ser curado com
eles assim como são curados comigo.

A raiva que guardo contra você é a raiva que guardo contra mim mesmo. Minha decisão
de excluí-lo do meu amor e, portanto, do Amor de Deus, é uma decisão – feita em segredo –
de excluir a mim mesmo desse mesmo Amor. Nós sempre precisamos fazer a pergunta: “É a
doença da separação que realmente quero?”. Somos curados conforme escolhemos a
quietude do perdão, o que nos permite ouvir as gentis palavras de Jesus nos exortando a
lembrar do nosso Ser e sermos finalmente felizes:

Tu és como Deus te criou e assim é cada coisa viva que contemplas


independentemente das imagens que vês. O que contemplas como doença e dor,
como fraqueza, sofrimento e perda, não é senão a tentação de perceber a ti mesmo
como sendo indefeso e estando no inferno. Não cedas a isso e verás toda a dor, sob
qualquer forma e onde quer que ocorra, simplesmente desaparecer como a névoa
diante do sol. Um milagre veio para curar o Filho de Deus e fechar a porta aos seus
sonhos de fraqueza, abrindo o caminho para a sua salvação e liberação. Escolhe
outra vez o que queres que ele seja, lembrando-te de que cada escolha que fazes
estabelece a tua própria identidade assim como tu a verás e acreditarás que é (T-
31.VIII.6).

Um lembrete final: essa não é uma prática que fazemos uma vez pela manhã e mais uma
vez à noite. Jesus está nos pedindo para aplicarmos de forma vigilante nossa disponibilidade
de lembrar durante o dia todo. Assim, a bênção do seu perdão realmente cai sobre nós e sobre
todos os nossos irmãos, em um único abraço curativo de amor. O milagre finalmente veio para
curar o Filho único de Deus.

LIÇÃO 138

O Céu é a decisão que eu tenho que tomar.


207
Chegamos à outra lição importante, tendo como tema principal o poder de escolha de
nossas mentes. Tomar uma decisão é sem significado a menos que saibamos entre o que
estamos decidindo. Assim, para decidirmos pelo Céu precisamos primeiro estar cientes do
inferno do ego contra o qual estamos escolhendo. Essa consciência da mente dividida desfaz a
estratégia do ego de ausência de mente, cuja rápida revisão vai introduzir a lição que se
focaliza especificamente nesse plano.
Uma vez que o poder tomador de decisões da mente do Filho escolheu o sistema de
pensamento de individualidade e especialismo, a preocupação do ego é a de que o Filho possa
mudar sua mente. Ele estabelece uma estratégia brilhante para tornar o Filho de Deus sem
mente, por fabricar um conto de pecado, culpa e medo: separação significa pecado, porque eu
ataquei Deus para que pudesse viver; eu me sinto culpado pelo que fiz; e estou aterrorizado
com o monstro que espreita agora em minha mente, pronto a me atacar, em vingança pelo
meu pecado. Ontologicamente, penso nesse “monstro” como a Autoridade suprema, Cuja
posição como Criador eu usurpei. Agora, preciso escapar desse Monstro em minha mente,
determinado a me destruir pelo que fiz a Ele. Não tenho outra escolha a não ser fugir da minha
mente e me projetar em um mundo e um corpo, fazendo o universo físico de especificidade no
qual agora vejo o pecado e a culpa que não quero reconhecer em mim mesmo.
O resultado desse plano é que a parte tomadora de decisões da minha mente parece
para sempre enterrada, oculta pelo pecado, culpa e medo que por seu lado são escondidos por
minhas experiências corporais no mundo físico. Para que eu tome a decisão pelo Céu –
decidindo pelo Espírito Santo – preciso primeiro reconhecer minha escolha original pelo ego.
Assim, o papel específico do nosso novo Professor é nos ajudar a identificar o plano secreto do
ego, para que possamos aprender que o que percebemos do lado de fora reflete o que primeiro
tornamos real dentro de nós. Só então nossa escolha se torna realmente significativa. O
“plano” do Espírito Santo de desvelar a estratégia do ego, portanto, está subjacente a essa
lição.

(1:1) Nesse mundo, o Céu é uma escolha porque aqui acreditamos que há alternativa
entre as quais escolher.

Nós aprendemos nessa lição que o Céu não é realmente uma escolha. Uma vez que o
Céu é perfeita Unicidade, na verdade, não existe nada entre o que escolher. Em nosso mundo
dualista, no entanto, escolher é necessário, e é essencial que compreendamos essas duas
escolhas: o sistema de pensamento de ódio e morte, e o reflexo da Unicidade do Céu.

(1:2-3) Pensamos que todas as coisas têm um oposto e que escolhemos aquilo que
queremos. Se o Céu existe, também tem que haver um inferno, pois a contradição é o
modo como fazemos o que percebemos e o que pensamos ser real.

Essa é uma afirmação clássica de um sistema de pensamento dualista, tal como as que
achamos nas religiões bíblicas ocidentais: Deus e o diabo, o Céu e o mundo, espírito e corpo,
bem e mal, perdão e pecado. Não haveria judaísmo, cristianismo ou islamismo se não
houvesse dualidade. Se o Céu existe, então, o inferno também tem que existir. No oriente, isso
é comumente expressado pelo princípio de yin-yang, no qual tudo é concebido em termos do
seu oposto. Essa, no entanto, não é a metafísica do Um Curso em Milagres, que é não-
dualista, e assim, ensina que a perfeita Unicidade é tudo o que existe. A realidade não é
encontrada, ao contrário do que Jung disse, por reconciliar os opostos – por exemplo, Deus
não tem um lado escuro, sombrio. Existe apenas verdade, luz e amor - a definição de Deus.
Nenhum estudante do Curso se esquece dessa linha da Introdução:

208
O oposto do amor é medo, mas o que é totalmente abrangente não pode ter opostos
(T-in.1:8).

Uma vez que nosso ser nasceu do medo do amor, e é sustentado pelo medo também,
esse ser se torna uma criatura de opostos, inevitavelmente fazendo surgir um mundo de
opostos que contradiz a realidade e testemunha sua aparente inexistência.

(2:1-4) A criação desconhece opostos. Mas aqui, a oposição é parte do que é “real”. É
essa estranha percepção da verdade que faz com que escolher o Céu pareça ser a
mesma coisa que abandonar o inferno. Isso não é realmente assim.

Dentro do nosso mundo de dualidade, escolher o Céu parece ser uma escolha real,
porque, mais uma vez, percebemos em termos de opostos. A percepção acontece no contexto
da figura e pretexto: uma figura – o que é focalizado – percebida em relação a um
acontecimento anterior – o que é julgado como sem importância. Para perceber, portanto, é
preciso ter uma figura e antecedentes. Nós vimos essa descrição do mundo perceptivo no
manual para professores (MP-8.1). Assim, Jesus nos diz que o Espírito Santo ensina através
de opostos:

O ego fez o mundo como o percebe, mas o Espírito Santo, que re-interpreta os feitos
do ego, vê o mundo como um instrumento de ensino para trazer-te para casa. O
Espírito Santo tem que perceber o tempo e re-interpretá-lo no que é intemporal. Ele
tem que trabalhar através de opostos, pois tem que trabalhar com a mente que está
em oposição e por ela (T-5.III.11:1-3).

Nós acreditamos que os corpos são realidade, e por essa crença, negamos o não-
dualismo do Um Curso em Milagres: “A criação desconhece opostos”. Nós, portanto,
precisamos aprender que Deus não sabe nada sobre nós porque Ele não pode conhecer nada
sobre nós, cuja existência individual é o oposto do ser do Céu.

(2:5) No entanto, o que é verdadeiro na criação de Deus não pode entrar aqui até que
seja refletido de alguma forma que o mundo possa compreender.

Esse importante princípio é subjacente à pedagogia do Curso. Jesus não ensina a


verdade diretamente, mas indiretamente através da reinterpretação da ilusão, contrastando-a
com a verdade:

A prova indireta da verdade é necessária em um mundo de negação e sem direção


(T-14.I.2:1).

Assim, Jesus diz no esclarecimento de termos que o Um Curso em Milagres vem dentro
de uma moldura do ego – dualidade e contraste:

Esse curso permanece dentro da estrutura do ego, onde ele é necessário. Não se
ocupa do que está além de todo erro, porque está planejado somente para
estabelecer a direção nesse sentido. Por conseguinte, usa palavras que são
simbólicas e não podem expressar o que está além dos símbolos (ET-in.3:1-3).

É-nos dito repetidamente no Curso como o Espírito Santo ensina através de contrastes:

Tu que és firmemente devotado à miséria precisas, em primeiro lugar, reconhecer


que és miserável e não és feliz. O Espírito Santo não pode ensinar sem esse
contraste, pois acreditas que a miséria é felicidade (T-14.II.1:2-3).
209
Jesus nos ensina, como faria qualquer teorista erudito, a contrastarmos a dor do ego com
o prazer que vem quando escolhemos o Espírito Santo. Ele está nos condicionando a associar
paz e alegria com perdão, e angústia e dor com julgamento. Ele ensina através do contraste
porque essa é a única maneira de podermos aprender sobre o Céu. Sua Unicidade e Amor não
podem ser ensinados ou experimentados aqui, e ninguém em um corpo tem idéia do que Eles
são. No entanto, Seu reflexo pode ser ensinado. Como já vimos, Jesus apresenta essa
apologia para sua metodologia:

Como podes ensinar a alguém o valor de alguma coisa que ele deliberadamente
jogou fora? Com toda a certeza ele a jogou fora porque não a valorizava. Podes
apenas mostrar-lhe como ele é miserável sem ela e lentamente aproximá-lo dela, de
forma que possa aprender como a sua miséria diminui à medida que ela se
aproxima. Isso lhe ensina a associar a sua miséria com a ausência do que jogou fora
e o oposto da miséria com a presença disso. Isso gradualmente vem a ser
desejável, à medida em que ele muda sua mente acerca deste valor. Estou te
ensinando a associar miséria com o ego e alegria com o espírito. Tu tens ensinado a
ti mesmo o oposto. Ainda és livre para escolher, mas podes realmente querer as
recompensas do ego na presença das recompensas de Deus? (T-4.VI.5).

Jesus aqui reafirma seu método de ensinar a não-dualidade, dentro de uma moldura
dualista, na qual estudantes com freqüência ficam confusos e saem dos trilhos. Eles não
entendem que a maior parte do tempo, Jesus fala de forma metafórica ou simbólica. Sempre
que ele fala da dualidade ou contraste, ele está usando metáforas. O que ele diz reflete a
verdade, mas não a expressa. A afirmação mais clara no Um Curso em Milagres sobre a
verdade não-dualista vem depois no livro de exercícios:

Nós dizemos “Deus é”, e então deixamos de falar, pois nesse conhecimento as
palavras são sem significado (LE-pI.169.5:4).

Você não diz que Deus é algo. Você não diz que Deus é qualquer coisa. Deus é. Ponto
final. Uma perfeita declaração não-dualista. No entanto, não teríamos o Um Curso em Milagres,
e certamente não teríamos uma espiritualidade relevante se isso fosse tudo o que o Curso
dissesse. Mais uma vez, por favor, não confunda símbolo com fonte, como Jesus nos lembra
no Capítulo 19; um lembrete que não pode ser dado com freqüência demais:

Lembra-te, então, que nenhum sinal nem símbolo deve ser confundido com a fonte,
pois necessariamente simbolizam alguma outra coisa além de si mesmos. O seu
significado não pode estar neles mesmos, mas tem que ser buscado naquilo que
representam (T-19.IV-C.11:2-3).

O símbolo é o reflexo, e o reflexo é o meio que vai nos levar ao Fim – nossa meta final do
Amor de Deus.

(2:6) A verdade não pode vir aonde só poderia ser percebida com medo.

O ego nos diz que na presença da verdade – a Unicidade de Deus -, nossos seres
individuais e especiais têm que desaparecer. Assim, nós tememos essa verdade, e
continuamente construímos barricadas de especialismo para mantê-la do lado de fora. O
poema de Helen, “A segunda chance”, descreve o papel do ódio de protegê-la da verdade do
Amor do seu Senhor:

Tendo o ódio como um amigo, eu não temo


210
perdê-lo para um deus que considere mais caro.
Pois agora eu parecia segura, pelo ódio mantido bem apertado,
e sentindo que eu estava à salvo do amor finalmente.
(As Dádivas de Deus, p. 45)

(2:7-8) Pois isso seria o erro de que a verdade pode ser trazida às ilusões. A oposição
faz com que a verdade não seja bem-vinda e ela não pode vir.

Dizer que a verdade é possível aqui nesse mundo é cometer o equívoco de trazer a
verdade à ilusão, de acreditar que Deus, o Espírito Santo e Jesus estão atuantes aqui. Seu
Amor está refletido nesse mundo, mas Eles não estão nesse mundo. Não é tanto que eles não
façam coisas aqui, Eles não podem fazer coisas aqui. Em vez disso, é a mente separada,
dualista que interpreta Seu amor não-específico, em nossas mentes certas, em um meio
específico de expressão que podemos aceitar em um nível corporal. É por isso que as pessoas
têm experiências de Jesus falando com elas, guiando-as, ou o Espírito Santo fazendo as
coisas acontecerem para elas. De fato, a verdade não acontece no mundo, como esse
parágrafo deixa claro quando você o lê cuidadosamente. Mais uma vez, nós experimentamos
um reflexo em nossas mentes da verdade do Amor não-específico de Deus, mas precisamos
estar vigilantes para não confundirmos o reflexo com a verdade, que é o que acontece quando
as religiões e espiritualidades constroem uma teologia baseada no reflexo: a elevação da forma
sobre o conteúdo. O leitor pode se recordar dessa passagem do texto, que discute isso no
contexto do relacionamento especial, e expõe o especialismo inerente às religiões formais:

Sempre que uma forma qualquer de relacionamento especial te tentar a buscar o


amor em um ritual, lembra-te de que o amor é conteúdo e não forma de espécie
alguma. O relacionamento especial é um ritual de forma, com o objetivo de elevar a
forma para que ela tome o lugar de Deus, às custas do conteúdo. Não há nenhum
significado na forma e nunca haverá. O relacionamento especial tem que ser
reconhecido pelo que é: um ritual sem sentido, no qual a força é extraída da morte
de Deus e investida em Seu assassino como sinal de que a forma triunfou sobre o
conteúdo (T-16.V.12:1-4).

(3:1) Escolher é obviamente o modo de escapar do que os opostos parecem ser.

Se nossa escolha for entre o ego e o Espírito Santo – as mentes certa e errada – então,
escolher um resolve o conflito e libera o outro. Uma vez que não podemos manter dois
sistemas de pensamento mutuamente excludentes e esperar encontrar paz, escolhendo a paz
sobre o conflito, a verdade sobre a ilusão, nós gentilmente traçamos nossa escapatória para a
realidade além dos opostos. Lembre-se dessa importante passagem do texto:

A saída do conflito entre dois sistemas de pensamento que se opõem está


claramente em escolher um e abandonar o outro. Se tu te identificas com o teu
sistema de pensamento e não podes escapar disso e se aceitas dois sistemas de
pensamento que estão em completo desacordo, é impossível ter a mente em paz.
Se ensinas ambos, coisa que certamente farás na medida em que aceitas ambos,
estás ensinando o conflito e aprendendo-o. No entanto, realmente queres paz, ou
não teria apelado para a Voz pela paz para te ajudar (T-6.V-B.5:1-4).

(3:2-3) A decisão permite que uma das metas conflitantes venha a ser alvo do esforço e
do dispêndio do tempo. Sem decisão, o tempo é apenas um desperdício e o esforço é
dissipado.

211
Em outras palavras, nosso tempo e esforço serão inúteis se não forem engendrados para
nos ajudar a tomar essa única decisão pelo Céu. Realmente existe um propósito mais
poderoso para estar aqui: aprender as lições da nossa sala de aula – com Jesus como nosso
professor – de que existe outra maneira de olharmos para o mundo, refletindo para nós outra
forma de olharmos dentro de nossas mentes. Isso vai abrir a porta para que façamos a escolha
certa. Qualquer coisa menos do que essa meta é uma perda de tempo. Assim, tentar consertar
as coisas no mundo é sem sentido se isso não nos levar a mudar nossas mentes. Escolher o
Espírito Santo continua sendo a única decisão significativa que podemos tomar.

(3:4-5) Gasto sem nenhum retorno, o tempo passa sem resultados. Não há nenhum
senso de ganho, pois nada é realizado, nada é aprendido.

Quando olhamos de forma objetiva para a história – o que chamamos de civilização -, é


óbvio que não houve muito progresso. Tecnologicamente temos alcançado bastante, mas em
termos de terminar com o sofrimento e trazer paz aos cidadãos do mundo, não progredimos
muito além dos homens das cavernas batendo nas cabeças uns dos outros com a clava. Nada
mudou: o propósito do homo sapiens sempre tem sido orientado em direção a permanecermos
aqui, conseguindo tanto quanto possível dos outros, e não despertando do sonho do mundo.
No entanto, tal despertar é nosso único propósito significativo.
Quando você pode se identificar com o propósito de mudar sua mente e seu professor,
sua vida desde o nascimento à morte, do momento em que você acorda até a hora em que vai
dormir, terá grande significado. Você vai fechar seus olhos à noite com um senso de
preenchimento, não necessariamente porque aprendeu tudo o que havia para aprender, mas
porque entendeu que sua vida no mundo é uma sala de aulas – nem uma prisão nem um
paraíso. Você descansa facilmente com o pensamento de que mesmo que não tiver aprendido
todas as suas lições, amanhã ainda é outro dia, ensinado por um professor que é infinitamente
paciente. Assim, você desperta a cada manhã com alegria e volta alegremente para a cama à
noite, não importando os sucessos ou fracassos percebidos no dia, pois você se identificou
com o único propósito que torna a vida significativa. No final do manual, Jesus descreve o
curso desse dia orientado pela mente certa:

Se tiveres o hábito de pedir ajuda quando e onde puderes, podes estar confiante de
que a sabedoria te será dada quando precisares dela. Prepara-te para isso a cada
manhã, lembra-te de Deus quando puderes durante o dia, pede ajuda ao Espírito
Santo quando for viável fazê-lo e agradece a Ele pela orientação à noite. E a tua
confiança estará, de fato, bem fundamentada (MP-29.5:8-10).

(4:1) Tu precisas ser lembrado de que pensas que mil escolhas te confrontam, quando
realmente há apenas uma.

A seção importante perto do final do texto “A alternativa real”, expande essa idéia (T-
31.IV). Nós pensamos que existem centenas e centenas de escolhas ainda a serem feitas. Na
verdade, no entanto, existe apenas uma: escolher perceber que cometemos um equívoco por
termos escolhido o ego, um equívoco que desfazemos por escolhermos Jesus como nosso
professor.

(4:2) E mesmo essa, apenas parece ser uma escolha.

Isso é assim porque no Céu, a única verdade, não existe escolha. Mais uma vez, a
escolha é uma ilusão, mas a escolha da mente certa é a ilusão final, porque quando nós de
uma vez por todas escolhermos o Espírito Santo em vez do ego, vamos ter corrigido o
equívoco original do Filho. Conforme esse equívoco é desfeito, o mundo e o sistema de
pensamento que o fez, desaparecem.
212
(4:3) Não te confundas com todas as dúvidas que milhares de decisões iriam induzir.

Não fique confuso pela multiplicidade do mundo, Jesus nos diz. Ele foi feito para nos
confundir e distrair nossa atenção aqui – o produto final do plano do ego para nossa
identificação com o estado sem mente. Assim, nós pensamos que existem problemas físicos,
psicológicos e outros que exigem soluções. No entanto, tudo isso foi inventado; uma cortina de
fumaça para nos confundir sobre o problema real na mente. “A complexidade é do ego” (T-
15.IV.6:2), pois representa a tentativa engenhosa do ego de esconder o Pensamento de
Unicidade em nossas mentes, por ocultar a simplicidade da decisão, que iria negar o ego
inteiramente:

A complexidade não é de Deus. Como poderia ser, quando tudo o que ele conhece
é uno? Ele conhece uma criação, um realidade, uma verdade e apenas um Filho.
Nada entra em um conflito com a unicidade. Como poderia, então, haver
complexidade Nele? O que há para decidir? Pois é o conflito que faz com que a
escolha seja possível. A verdade é simples, ela é uma, sem opostos. E como
poderia a discórdia se introduzir em sua simples presença e trazer complexidade
aonde está a unicidade? A verdade não toma quaisquer decisões, pois não há
opções entre as quais decidir. E só se houvesse é que a escolha poderia ser um
passo necessário para avançar rumo à unicidade. O que é tudo não deixa espaço
para nenhuma outra coisa (T-26.

(4:4-5) Só fazes uma escolha. E, uma vez feita, perceberás que não havia absolutamente
nenhuma.

Quando nós finalmente fazemos a escolha por Deus, o ego desaparece, o que significa
que realmente não havia escolha de forma alguma. Desfazendo o equívoco original,
desfazemos o pensamento e o mundo de separação ao mesmo tempo. Na verdade, não havia
culpa ou Expiação, e nenhuma mente tomadora de decisões para escolher entre eles. Havia, e
há apenas a verdade de Deus.

(4:6-8) Pois a verdade é verdadeira e nada mais é verdadeiro. Não há nenhum oposto a
ser escolhido em seu lugar. Não há nenhuma contradição para a verdade.

No instante em que escolhemos aceitar a Expiação do Espírito Santo para nós mesmos –
o alcance do mundo real – toda decisão, conflito e oposição terminam. Quando o mundo de
opostos se vai, tudo o que resta é a memória de Deus. Como o Curso ensina, nesse ponto,
Deus se abaixa e nos levanta de volta até Ele. Essa passagem sobre a ressurreição expressa
o fim do sonho de opostos:

[A ressurreição] É a aceitação da interpretação do Espírito Santo sobre o propósito


do mundo, a aceitação da Expiação para si mesmo. É o fim dos sonhos de miséria e
a feliz consciência do sonho final do Espírito Santo. É o reconhecimento das dádivas
de Deus. É o sonho no qual o corpo funciona perfeitamente, sem outra função que
não seja a comunicação. É a lição na qual termina o aprendizado, pois ele é
consumado e ultrapassado com isso. É o convite a Deus para que Ele dê Seu passo
final. É o abandono de todos os outros desejos e todas as outras preocupações. É o
desejo único do Filho pelo Pai (MP-28.1:3-4,8-10).

(5:1-2) A escolha depende do aprendizado. E a verdade não pode ser aprendida, só


reconhecida.

213
Esse é um curso em aprendizado, que é o motivo pelo qual Jesus apresenta sua
mensagem dentro de uma moldura curricular. O que aprendemos não é a verdade, mas como
desfazermos as interferências à nossa lembrança da verdade. Lembre-se dessas linhas muito
importantes:

A tua tarefa não é buscar o amor, mas simplesmente buscar e achar todas as
barreiras que construíste dentro de ti contra ele. Não é necessário buscar o que é
verdadeiro, mas é necessário buscar o que é falso (T-16.IV.6:1-2).

Aprendendo o perdão do Espírito Santo dentro da complexidade do nosso mundo insano


– as condições de aprendizado -, aprendemos o que o ego ensinou e, portanto, reconhecemos
Sua simples verdade:

Se tu és bem-aventurado e não tens conhecimento disso, precisas aprender que não


pode deixar de ser assim. O conhecimento não é ensinado, mas as suas condições
têm que ser adquiridas, pois foram elas que foram postas fora... O Espírito Santo,
por conseguinte, tem que começar o Seu ensino mostrando-te o que nunca podes
aprender. A Sua mensagem não é indireta, mas Ele tem que introduzir a simples
verdade em um sistema de pensamento que se tornou tão deformado e tão
complexo, que não podes ver que ele nada significa... Se queres ser um aprendiz
feliz, tens que dar tudo o que aprendeste ao Espírito Santo para que seja
desaprendido por ti (T-14.I.1:1-2; 5:1-2; T-14.II.6:1).

Assim, trazemos as ilusões do nosso aprendizado à verdade, e tal des-aprendizado nos


leva alegremente para casa.

(5:3) A sua aceitação está em reconhecê-la e ao ser aceita, ela é conhecida.

A maneira de reconhecermos, aceitarmos e sabermos que a verdade é nossa é


desfazermos os obstáculos a ela. Se a verdade é amor, então, a separação, ódio sofrimento e
morte são as interferências, e o perdão é o meio pelo qual as liberamos. Conforme cada
escuridão desses pensamentos ilusórios é trazida à luz da verdade de Jesus, os pensamentos
desaparecem no brilho resplandecente do seu amor. O que resta é a verdade. O processo
começa pelo reconhecimento dos seus reflexos, começando a aceitá-la mais e mais como a
verdade, e finalmente sabendo que nós somos essa verdade. Prenunciando uma lição
posterior, lemos uma descrição desse mesmo processo:

Essa é a verdade [o sofrimento é um sonho], de início para ser apenas dita e depois
muitas vezes repetida; em seguida para se aceita como apenas parcialmente
verdadeira, com muitas reservas. E então, para ser cada vez mais seriamente
considerada e, finalmente, aceita como a verdade (LE-pII.284.1:5-6).

(5:4) Mas o conhecimento está além das metas que buscamos ensinar no escopo deste
curso.

Jesus nos diz:

Conhecimento não é a motivação para aprender esse curso. A paz sim (T-8.I.1:1-2).

A paz pode ser descrita como o perdão total da nossa crença no pecado e na culpa. No
entanto, como podemos saber quando ainda percebemos? Assim, nossas percepções primeiro
têm que ser limpas, levando à percepção verdadeira, que abre o caminho para o
conhecimento:
214
O conhecimento não é o remédio para a falsa percepção já que, estando em outro
nível, eles nunca podem se encontrar. A única correção possível para a falsa
percepção tem que ser a verdadeira percepção. Ela não vai durar. Mas enquanto
durar, vem para curar... A percepção verdadeira é o meio pelo qual o mundo é salvo
do pecado, pois o pecado não existe. E é isso o que a percepção verdadeira vê (ET-
4.3:1-4,8-9).

(5:5) As nossas são metas de ensino a serem atingidas através do aprendizado de como
é possível alcançá-las, do que são e do que te oferecem.

Jesus está demarcando para nós o propósito e os limites do seu curso. Isso não é
destinado a nos tirar o Céu, mas a nos levar até o seu portão – o mundo real. Em outras
palavras, sua meta de ensino é nos levar a desfazer as interferências que constituem nossa
louca jornada para fora do Céu, para que possamos entrar no mundo real, dessa forma
completando o trabalho do Um Curso em Milagres.

(5:6) As decisões são o resultado do teu aprendizado, pois se baseiam no que aceitaste
como a verdade do que és e de quais são as tuas necessidades.

Se eu aceitar o ego como meu professor, minha verdade será a de que sou limitado,
pecador, culpado e doente – um corpo que tem que morrer. Cada decisão que tomo vai fluir
dessa escolha equivocada original. Se, no entanto, eu escolher Jesus, começarei o processo
de desfazer os pensamentos pertencentes ao meu falso ser. Nesse ponto, minhas decisões
vão fluir do seu amor e me levar de volta à verdade.

(6) Nesse mundo insanamente complicado, o céu parece tomar a forma de uma escolha
ao invés de ser simplesmente o que é. De todas as escolhas que tentaste fazer, essa é a
mais simples, a mais definitiva e o protótipo de todo o resto; aquela que resolve todas as
decisões. Se pudesses decidir o resto, essa permaneceria sem solução. Mas, ao resolvê-
la, todas as outras são resolvidas com ela, pois todas as decisões apenas ocultam essa
única sob diferentes formas. Essa é a escolha única e final em que a verdade é aceita ou
negada.

O mundo do Céu é simples; existe apenas a Unicidade. O mundo do Espírito Santo é


simples: existe apenas o perdão para desfazer nossos problemas. Quando negamos Seu
ensinamento, no entanto, inevitavelmente acreditamos na complexidade do ego, fazendo surgir
esse próprio mundo muito complicado. No entanto, até estarmos prontos para desfazer nosso
investimento na individualidade – o que nos torna realmente complicados -, ainda vamos ter
escolhas a fazer. Conforme crescemos em aprendizado, generalizamos mais e mais até
atingirmos o ponto de reconhecer que tudo para o que precisamos de ajuda é o mesmo
problema: doença, trabalho incerto, dificuldade nos relacionamentos ou falta de dinheiro -, tudo
resultado da escolha equivocada da mente pelo ego. Nosso leque de escolhas encolhe até
realmente sabermos que só existe uma. Quando aceitamos que nossos problemas vêm da
crença em que estamos melhor sem o Espírito Santo, todas as preocupações desaparecem,
pois fizemos a escolha correta. Ainda vamos ter escolhas comportamentais a fazer aqui, mas
elas não vão mais ser atendidas por causa da ansiedade. Nós escolhemos A, B, ou C, mas
sem o conflito que inevitavelmente se segue a agirmos por conta própria. O problema, portanto,
não é o que pensamos, mas que pensamos saber melhor. Quando excluímos o Espírito Santo,
nossos problemas se tornam legião e nunca serão resolvidos; quando O escolhemos, eles
gentilmente se desvanecem:

215
Antes que tomes quaisquer decisões por conta própria, lembra-te de que te decidiste
contra a tua função no Céu e, então, considera com cuidado se queres tomar
decisões aqui. A tua função aqui é somente decidir-te contra decidir o que queres
em reconhecimento de que tu não sabes. Como, então, podes decidir o que deverias
fazer? Deixa todas as decisões para Aquele Que fala por Deus e pela tua função
conforme Ele a conhece. Assim Ele irá ensinar-te a remover a horrível carga que
colocaste sobre ti mesmo por não amar o Filho de Deus e por tentar ensinar-lhe
culpa em vez de amor... Quando tiveres aprendido como decidir com Deus, todas as
decisões vêm a ser tão fáceis e tão certas como respirar. Não há esforço e serás
conduzido tão gentilmente como se estivesses sendo carregado por um calmo
atalho no verão (T-14.IV.5:1-5; 6:1-2).

(7) Assim, hoje começamos considerando a escolha para a qual o tempo foi feito a fim
de nos ajudar a fazê-la. Tal é o seu propósito santo, agora transformado, pois não tem
mais a intenção que tu lhe deste: de que fosse um meio para demonstrar que o inferno é
real, que a esperança vem a ser desespero e que a própria vida, no fim, não pode deixar
de ser vencida pela morte. Só na morte é possível dar solução aos opostos, pois acabar
com as oposições é morrer e, assim, a salvação tem que ser vista como morte, pois a
vida é vista como conflito. Resolver o conflito é por um fim à tua vida também.

O ego fez o tempo, assim como fez o espaço, para nos mostrar que o inferno é real e o
Céu uma mentira, não existe esperança aqui, e a morte é a única realidade. Lembre-se de que
o tempo e o espaço são fragmentos sombrios do pecado, culpa e medo, e da separação que
tornamos real em nossas mentes. Uma vez que a escolha errada foi feita, a verdade do Céu só
poderia ser refletida nessa ilusão por darmos ao mundo um propósito diferente. Eu acordo a
cada manhã em um corpo e mundo que foram feitos pelo ego, cheio de pensamentos de
preocupação, julgamento e dor, também feitos pelo ego. No entanto, se eu pedir a ajuda de
Jesus, as próprias coisas que fiz para ferir a mim mesmo e aos outros serão transformadas em
propósito em uma sala de aulas na qual aprendo que tudo é apenas um sonho. O tempo foi
feito pelo ego para ferir; ele pode ser usado pelo Espírito Santo como um instrumento de cura
através do instante santo:

Não há como escapar do medo no uso que o ego faz do tempo. Pois o tempo, de
acordo com o seu ensinamento, não é nada além de um instrumento de ensino para
compor a culpa até que ela abranja tudo, exigindo vingança para sempre.
O Espírito Santo quer desfazer tudo isso agora. O medo não é do presente, mas
somente do passado e do futuro, que não existem. Não há medo no presente
quando cada instante salta claro e separado do passado, sem que a sua sombra
alcance o futuro. Cada instante é um nascimento limpo e sem mancha, no qual o
Filho de Deus emerge do passado para o presente. E o presente se estende para
sempre. É tão bonito e tão limpo e tão livre de culpa que nada existe nele além de
felicidade...
O tempo é teu amigo se deixares que o Espírito Santo o use... Dá o instante eterno,
para que a eternidade possa ser lembrada para ti naquele instante brilhante de
perfeita liberação. Oferece o milagre do instante santo através do Espírito Santo e
deixa que Ele o dê a ti (T-15.I.7:6-7; 8:1-6; 15:1,10-11).

Dentro do sistema de pensamento do ego, estar em um estado conflitado, dualista, é ser


salvo, e a verdadeira salvação – escolher o princípio de Expiação – é a danação e a dissolução
do ego. Para o ego, então, salvação do conflito é morte, pois a vida como um indivíduo significa
conflito. Lembre-se, a origem do ego foi seu conflito com Deus: Deus ou o ego, unicidade ou
individualidade. Uma vez que eles não podem coexistir, e eu acredito que existo, a vida do ego
significa destruição do nosso Criador e Fonte – o princípio do um ou outro. Minha vida
216
específica, então, é construída sobre esse pensamento: se eu existo, alguém tem que pagar
por isso, e eu preciso estar para sempre em guarda ou a pessoa que eu traí, roubei e matei vai
voltar e fazer a mesma coisa comigo, o que dentro do sonho do ego é inevitável. Todos que
percebemos, portanto, foram feitos literalmente à nossa própria imagem e semelhança:
traidores, ladrões e assassinos:

... aqueles que têm medo do que projetam são vigilantes em favor de sua própria
segurança. Eles têm medo de que suas projeções retornem e os firam. Acreditando
que apagaram as suas projeções de suas próprias mentes, acreditam também que
as suas projeções estão tentando voltar a introduzirem-se nelas de modo furtivo (T-
7.VIII.3:9-11).

As pessoas sempre têm sentido medo da verdadeira salvação, que é o motivo pelo qual o
mundo tem tido medo de Jesus e de sua mensagem de amor. Os buscadores espirituais ainda
têm medo dessa mensagem, agora expressa no Um Curso em Milagres. Nós acreditamos ter
atacado Deus e Seu Amor e, portanto, acreditamos que Ele vai nos atacar na mesma moeda.
Assim, esse medo é uma defesa contra o terror subjacente de que o Amor de Deus vai acabar
com nosso especialismo e individualidade:

Sob o escuro fundamento do ego está a memória de Deus e é disso que realmente
tens medo. Pois essa memória te restituiria instantaneamente ao lugar que te é
próprio e é esse o lugar que buscaste deixar. O teu medo do ataque não é nada
comparado ao teu medo do amor... Reconheces que, removendo a nuvem escura
que o obscurece, o teu amor pelo teu Pai iria impelir-te a responder ao Seu chamado
e dar um salto para o Céu. Acreditas que o ataque é salvação porque te impede
isso. Pois muito mais profundo do que o fundamento do ego e muito mais forte do
que ele jamais será, é o teu intenso e ardente amor por Deus e o Dele por ti. Isso é o
que realmente queres esconder (T-13.III.2:1-3,6-9).

Nosso ser individual, portanto, continuamente decide contra o amor, e contra o meio –
perdão – através do qual nos lembramos dele. Apenas reconhecendo o custo para nós de tal
decisão, estaremos convencidos, nas palavras do Rei Lear, de que “Nesse caminho jaz a
loucura” (III.iii); só então podemos começar a considerar a escolha que “o tempo foi feito para
nos ajudar a escolher”.

(8:1) Essas crenças loucas [conflito é realidade, morte é parte da verdade] podem ganhar
um domínio inconsciente de grande intensidade e a mente pode ser tomada por um
terror e uma ansiedade tão fortes que ela não renunciará às suas idéias sobre a sua
própria proteção.

O que são as “suas idéias sobre a sua própria proteção”? Se o pensamento de


individualidade constitui do sistema de pensamento do ego e sua própria existência, qualquer
coisa que o proteja tem que ser sagrada: ataque, julgamento, doença, dor, prazer –
especialismo em todas as suas formas.

(8:2) Ela tem que ser salva da salvação, ameaçada para estar segura e magicamente
armada contra a verdade.
Salvação significa o fim do sistema de pensamento de separação do ego, e a
identificação da mente com ele precisa, portanto, ser guardada da salvação. Meu ser individual
estará a salvo enquanto eu sentir medo, onde tudo ao meu redor é percebido como uma
ameaça, pois isso mantém as leis de conflito do ego: opostos, ataque e finalmente morte –
aliados do ego, e meus também enquanto eu me identificar com esse ser especial. Tal

217
identificação é o que é cruel e totalmente insano, como vemos na seguinte passagem sobre o
especialismo:

O especialismo é uma falta de confiança em todos exceto em ti mesmo. a fé é


investida apenas em ti mesmo. Tudo o mais vem a ser teu inimigo: temido e
atacado, mortal e perigoso, odiado e merecendo apenas ser destruído. Qualquer
gentileza que ele te ofereça é apenas engano, mas o teu ódio é real. Estando em
perigo de ser destruído, o especialismo não pode deixar de matar e tu és atraído
para ele para matá-lo primeiro. E tal é a atração da culpa. Aqui se entroniza a morte
como o salvador; agora a crucificação é redenção e a salvação só pode significar a
destruição do mundo, excluindo a ti (T-24.IV.1).

Nós não escapamos da destruição também, pois o especialismo é cruel e insano:

A pena de morte é a meta última do ego, pois ele acredita inteiramente que és um
criminoso, tão merecedor da morte quanto Deus tem o conhecimento de que és
merecedor da vida. A pena de morte nunca deixa a mente do ego, porque é isso o
que ele sempre te reserva no final. Querendo matar-te, como expressão final do seu
sentimento por ti, ele permite que vivas apenas para esperar a morte. Ele te
atormentará enquanto viveres, mas o seu ódio não será satisfeito até que morras.
Pois a tua destruição é o único fim em cuja direção ele trabalha e o único fim com o
qual ele ficará satisfeito (T-12.VII.13:2-6).

(8:3) E essas decisões são feitas sem que se esteja ciente, a fim de mantê-las em
segurança e sem perturbações, à parte do questionamento, da razão e da dúvida.

Isso foi articulado na Lição 136. O plano do ego pede que eu esqueça até mesmo que
existe um plano, dizendo-me que minha individualidade está protegida por um sistema de
pensamento de pecado, culpa e medo, cujo produto final é a punição que acredito estar vindo
de forma justificada. A culpa é a peça central aqui, porque ela me lembra do meu pecado, e
então exige que eu seja punido por ela. Essa exigência e expectativa estabelecem um
monstruoso sistema de pensamento na minha mente, informando-me de que se eu continuar
lá, certamente serei destruído; a obliteração sendo a palavra escolhida do ego. Desnecessário
dizer, ele nunca me diz que isso é ilusório, mas, em vez disso:

Em alto e bom som o ego te diz que não olhes para dentro, pois se o fizeres, os teus
olhos tocarão o pecado e Deus te trespassará, cegando-te. Acreditas nisso e assim
não olhas (T-21.IV.2:3-4).

Assim, a razão pela qual eu nunca sei que o pecado foi inventado é que nem mesmo sei
que ele está lá. Com a mesma rapidez com que escolho tornar a separação real, junto com o
sistema de pensamento do ego, realmente escolho esquecer que fui eu que fiz isso assim. Eu
reprimo, projeto e agora vejo a culpa e o pecado ao meu redor. Meu medo é justificado por
causa do pecado de todas as outras pessoas, e eu caminho pela terra em terror, precisando de
armamento defensivo para proteger minha vulnerabilidade, mas nunca percebendo por que,
pois acredito que é o mundo e seus habitantes que vão me ferir. No entanto, a razão real pela
qual estou tão amedrontado é o sistema de pensamento que inventei. Totalmente inconsciente
desse fato, esse sistema de pensamento governa meus pensamentos, sentimentos e ações.
O propósito central do Um Curso em Milagres, portanto, é que Jesus arranque o véu que
“nos protege” do monstro em nossas mentes, que nem mesmo existe. O Curso nos ajuda a
entender a estratégia do ego, para que possamos ver diariamente a conexão entre nossas
preocupações, julgamentos e especialismo, e sua estratégia cuidadosamente planejada para
nos confundir. O ego nunca quer que lembremos do poder da mente que escolheu contra o
218
Amor de Deus, mas pode escolher outra vez. No instante em que nos lembrássemos da nossa
escolha pelo ego, iríamos parar de fazê-la, porque ela é insana e odiosa demais em relação a
nós mesmos e aos outros. Se não soubermos que o mundo é nossa projeção, no entanto, não
existe maneira de podermos mudar nossas mentes em relação a ele. Isso não pode ser
enfatizado o suficiente, e nós vemos esse pensamento expresso novamente no parágrafo 9:

(9:1-3) O Céu é escolhido conscientemente. A escolha não pode ser feita enquanto as
alternativas não forem cuidadosamente vistas e compreendidas. Tudo o que está velado
nas sombras tem que ser erguido à compreensão, para ser novamente julgado e, desta
vez, com o auxílio do Céu.

Não poderíamos pedir uma afirmação mais clara do que esse curso quer dizer, o que nos
ajuda a ver por que Jesus diligentemente descreve o instinto assassino do sistema de
pensamento do ego. Ele precisa fazer isso porque nós não sabemos que isso está lá. Podemos
acreditar que existem expressões de crueldade no mundo, mas enquanto virmos através de
véus abençoadófilos, vamos pensar que tudo é maravilhoso, ou tem o potencial para ser. Nós
não percebemos que enquanto acreditarmos que existe um mundo lá fora, não existirá nada
maravilhoso, pois a única coisa realmente maravilhosa é aprender que o mundo não é
maravilhoso porque é ilusório. Mais uma vez, não podemos reconhecer sua natureza ilusória
até percebermos que temos uma mente que escolheu fazê-lo assim, cuja percepção vem
quando escolhemos um professor que nos mostra que a feitura do mundo é uma sombra da
feiúra da mente. Além disso, esse mundo interno é ilusório, uma defesa cujo propósito é
impedir que nosso tomador de decisões escolha contra o ego. Precisamos ver como esse
propósito funciona no contexto específico de nossas vidas, transformando as lições de todos
na mesma em conteúdo, mesmo que suas formas difiram umas das outras, que é o motivo pelo
qual Jesus diz que nosso “currículo é altamente individualizado” (MP-29.2:6). Todo perdão,
portanto, é o mesmo, embora expresso de formas muito específicas, o que reflete a diferença
que cumpre o propósito do ego de transformar a diferença em realidade.
Durante o dia todo, portanto, você precisa prestar atenção cuidadosa a todas as coisas –
quer sejam mundanas, trazendo uma leve pontada de aborrecimento porque você não gostou
de algo que alguém fez ou disse, ou uma circunstância séria, levando à fúria intensa. As
formas não importam, pois todas servem ao propósito profano do ego de confundir você sobre
a natureza e fonte do problema. Sem compreender que os problemas estão na mente, a
escolha apropriada é impossível. Esse é o significado de elevar as sombras escuras à luz da
compreensão, como também vemos na seguinte passagem do texto:

Pequena criança... o “segredo da tua culpa” não é nada e se apenas o trouxeres à


luz, a Luz o dissipará. Então, nenhuma nuvem escura permanecerá entre tu e a
lembrança do teu Pai, pois irás lembrar do Seu Filho sem culpa que não morreu
porque é imortal (T-13.II.9:1-3).

(9:4-6) E todos os equívocos de julgamento que a mente tenha cometido antes são
abertos à correção, à medida em que a verdade os descarta por carecerem de causa.
Agora não têm efeitos. Não podem ser ocultados, pois o fato de que eles não são nada é
reconhecido.

Quando o véu se vai e a escuridão da culpa foi trazida à luz da verdade, você olha em
sua mente e percebe que nada está lá. Olhando então para o mundo, você não leva nada a
sério, no sentido de dar a ele poder de lhe trazer prazer ou dor. Você respeita a dor das vidas
das pessoas – suas lições e salas de aulas -, mas percebe que são salas de aula para
aprender que uma ilusão nunca deixa de ser uma ilusão. Isso significa, em um nível prático,
que a paz do amor de Jesus nunca é afetada por qualquer coisa acontecendo ao seu redor,
pois você sabe que isso não tem nada a ver com você. Essa abordagem, portanto, atende à
219
sua necessidade egoísta de estar em paz enquanto está vivendo no mundo, pois você não
pode estar em paz enquanto acreditar que está aqui. No entanto, com seu novo Professor,
você aprende que estar nesse mundo é uma sombra da culpa na mente, e pelo fato de isso ser
a decisão da sua mente, você pode corrigi-la.

(10:1) A escolha consciente do Céu é tão certa quanto o fim do medo do inferno, quando
esse é retirado do escudo protetor da inconsciência e é trazido à luz.

Nós vemos Jesus continuamente repetindo o mesmo pensamento: precisamos trazer o


que está enterrado em nossas mentes à consciência. Isso é um paralelo à famosa declaração
de Freud de que o propósito da psicanálise é tornar o inconsciente consciente. O propósito do
Um Curso em Milagres é tornar consciente o sistema de pensamento do ego – a decisão pelo
inferno – para que possamos ficar conscientes dessa decisão. Sem tal consciência, não
podemos mudar nossas mentes em relação a ele. O propósito do Espírito Santo para o mundo,
mais uma vez, é que ele seja a sala de aulas na qual nosso novo professor, Jesus, nos instrui a
ver como o que experimentamos fora é um efeito direto da decisão da mente. Ao aprendermos
cada vez mais a lição, o foco da nossa atenção muda dos problemas externos percebidos –
nossas necessidades especiais – para a percepção de que eles são apenas reflexos da
necessidade do ego de preservar sua separação, mantendo-nos inconscientes do poder das
nossas mentes que o escolheram.

(10:2) Quem pode decidir entre o que é visto claramente e o que não é reconhecido?

Não podemos fazer uma escolha significativa se a escolha for entre A e B, e tudo o que
vermos for o A. precisamos perceber entre o que escolhemos, como essas duas perguntas
explicam:

Que escolhas se pode fazer entre dois estados, se apenas um é claramente


reconhecível? Quem poderia estar livre para escolher entre efeitos, quando ele vê
apenas um como algo que depende dele? (T-27.VII.11:1-2).

(10:3-5) No entanto, quem pode falhar em fazer uma escolha entre alternativas, se
apenas uma é vista como valiosa e a outra como uma coisa inteiramente sem valor, que
não passa de uma fonte imaginária de culpa e dor? Quem hesita em fazer uma escolha
como essa? E nós hesitaremos em escolher hoje?

Lembre-se dessa linha freqüentemente citada que encerra o Capítulo 23:

Quem, com o Amor de Deus sustentando-o, poderia achar a escolha entre milagres
ou assassinato difícil de fazer? (T-23.IV.9:8).

Quando você pede ajuda a Jesus – o Amor de Deus sustentando você -, vê a escolha
claramente: o milagre de escolher seu amor contra o sistema de pensamento de assassinato
do ego. A escolha não é difícil, uma vez que você tenha visto claramente as duas escolhas,
pois só então poderá dizer de forma significativa que uma é valiosa e a outra sem valor. Isso
significa, mais uma vez, que você presta atenção cuidadosa à sua vida diária, pedindo ajuda a
Jesus para levá-lo ao que você tornou real, permitindo que você o veja como refletindo o
pecado e a culpa que você primeiro tornou reais dentro da sua mente.
Esse processo requer tremenda diligência e persistência, porque é muito fácil deixar que
suas emoções e pensamentos sejam afetados pelo que parece estar fora de você, incluindo
seu corpo – o você sendo o tomador de decisões na sua mente. Portanto, veja como você fica
feliz ou triste, bem ou doente, baseado em circunstâncias externas à sua mente. Esse é o foco

220
da nossa vigilância, pois isso nos leva a fazermos uma escolha significativa – milagres ou
assassinato, verdade ou ilusão:

Ainda depende de ti escolher unir-te à verdade ou à ilusão. Mas lembra-te que


escolher uma é abandonar a outra. Àquela que escolheres, atribuirás beleza e
realidade, porque a escolha depende de qual delas valorizas mais. A centelha da
beleza ou o véu da feiúra, o mundo real ou o mundo da culpa e do medo, verdade
ou ilusão, liberdade ou escravidão – tudo é a mesma coisa. Pois nunca podes
escolher a não ser entre Deus e o ego. Os sistemas de pensamento só podem ser
verdadeiros ou falsos e todos os seus atributos vêm apenas do que eles são (T-
17.III.9:1-6).

(11:1) Escolhemos o Céu ao acordarmos e passamos cinco minutos nos assegurando de


que fizemos a única escolha sã.

Você não faz a escolha pelo Céu conforme acorda, abrindo seus olhos e dizendo: “Eu
amo você Jesus; esteja comigo o dia todo”. Não há nada errado em fazer isso se você for uma
criancinha, mas você não vai crescer até a maturidade espiritual dessa forma, e a meta de
Jesus para seus irmãos mais novos é que eles superem sua necessidade dele:

Todo bom professor espera dar aos seus estudantes tanto do seu próprio
aprendizado que, um dia, não mais necessitem dele. Essa é a única meta verdadeira
do professor... Eu vou ensinar contigo e viver contigo se pensares comigo, mas
minha meta sempre será finalmente absolver-te da necessidade de um professor (T-
4.I.5:1-2; 6:3).

Uma escolha significativa pelo Céu conforme você acorda é pedir a ajuda de Jesus para
se lembrar, com tanta freqüência quanto puder, de que o mundo é uma sala de aula e que você
o quer como seu professor, para lhe mostrar que sua resposta ao que está fora vem de uma
decisão que você tomou dentro de si. Isso o transforma em um aprendiz feliz, quer você pense
estar aprendendo ou não as lições; se você se mantiver em mente que essa é uma sala de
aula, vai aprender. De outra forma, também poderia apenas continuar na cama. Quer as lições
de seus relacionamentos sejam dolorosas ou não, você ficará alegre, por causa da meta que
você aceitou para eles. Assim, nossa sã decisão, refletindo nossa decisão pelo Céu, reside em
escolher o professor que vai nos levar até lá. Qualquer outra decisão não faz sentido e é
insana.

(11:2) Reconhecemos que estamos fazendo uma escolha consciente entre o que tem
existência e o que nada tem, a não ser uma aparência de verdade.

Aqui, Jesus usa existência como um sinônimo para ser. No texto, ele faz uma clara
distinção entre as duas: a primeira relacionada ao ego, e a última denotando verdade e espírito
(T-4.VII.4-5), mas a métrica dessa sentença pedia uma palavra de três sílabas (NT: referência à
palavra existence que é composta de três sílabas). O ponto é que nós fazemos uma escolha consciente
sobre o reflexo da verdadeira existência (ou ser) – escolhendo o professor que vai nos levar
para nossa realidade como Cristo. Nós assim escolhemos Jesus, que desfaz nosso ser ilusório
de especialismo.

(11:3-4) O seu pseudo-ser, ao ser trazido ao que é real, mostra-se inconsistente e


transparente na luz. Agora, ele não contém nenhum terror, pois o que foi feito para ser
enorme, vingativo, impiedoso por estar cheio de ódio, exige a obscuridade para que o
medo possa ser investido nele. Agora, é reconhecido como apenas um equívoco tolo e
trivial.
221
Para que eu fique transtornado ou ansioso em relação a qualquer coisa nesse mundo,
tenho que ter esquecido a fonte da minha dor – o significado aqui de obscuridade. O que
estabelece a monstruosidade do sistema de pensamento do ego, gigantesco em seu escopo e
repleto do poder de trazer prazer ou dor, é minha inconsciência, que é mantida no lugar pela
costura mais frágil: minha escolha em acreditar na ilusão. A seguinte passagem, contrastando
o medo do ego com o poder do relacionamento perdoado, ilustra de forma inteligente a
declaração acima com um aceno agradecido a “O rato que ruge”, de Peter Sellers:

Como é fraco o medo, como é pequeno e sem significado. Como é insignificante


diante da força quieta daqueles a quem o amor uniu! Esse é o teu “inimigo” – um
camundongo assustado que quer atacar o universo. Qual é a probabilidade de ter
algum sucesso? Pode ser difícil desconsiderar seus gritinhos débeis que falam da
sua onipotência e querem afogar o hino de louvor ao seu Criador, que todos os
corações através do universo cantam para sempre como um só? Qual deles é o
mais forte? Esse ratinho ou tudo aquilo que Deus criou? Tu e teu irmão não estais
unidos por esse camundongo, mas pela Vontade de Deus. E é possível que um rato
traia a quem Deus uniu? (T-22.V.4).

Para conhecer a fraqueza do “camundongo”, precisamos primeiro ver seu pseudo-ser


pelo que é. A luz do amor do nosso professor nos capacita a ver a luz brilhando além dos finos
véus do medo.

(11:5) Agora, é reconhecido como apenas um equívoco tolo e trivial.

Esse reconhecimento acontece quando você deixa seu novo professor instruí-lo a
compreender que suas percepções são simplesmente sombras de um “equívoco tolo e trivial”.
Isso não pode ser feito quando você tem um investimento em preservar sua identidade como
você a estabeleceu. Você precisa ver a infelicidade que tal investimento trouxe a você. Lembre-
se de que Jesus é um teorista sábio, ensinando-nos a condicionarmos a nós mesmos a
associarmos a dor com o ego, e a alegria com ele. Assim, precisamos estar cientes de que
preservar nosso especialismo não vai nos tornar felizes, mas escolher o seu amor vai.

(12:1) Antes de fecharmos os olhos para dormir essa noite, reafirmamos a escolha que
temos feito a cada hora do dia.

Jesus está nos pedindo para praticarmos mais do que uma vez pela manhã e de novo à
noite. Precisamos nos lembrar com a freqüência que pudermos durante o dia todo do nosso
novo professor, que vai nos ajudar a decidir por Deus.

(12:2-6) E agora damos os últimos cinco minutos do nosso dia à decisão com a qual
acordamos. A cada hora que passou, declaramos mais uma vez a nossa escolha num
breve momento de quietude dedicado a manter a sanidade. E, finalmente, encerramos o
dia com isso, reconhecendo que só escolhemos o que queremos:

O Céu é a decisão que eu tenho que tomar. Vou tomá-la agora,


e não mudarei a minha mente, pois é a única coisa que eu quero.

Se você for sincero sobre querer o Céu, precisa ser igualmente sincero sobre escolher os
meios que vão levá-lo até lá – as lições de perdão que nossas vidas diárias nos oferecem
quando escolhemos o Espírito Santo. Se você for sério sobre o Um Curso em Milagres, e o
tema dessa lição de escolher o Céu, vai precisar ser sério em relação a tomar a estrada que
vai levá-lo até lá. Assim, você vai lutar para se lembrar do seu propósito de despertar durante o
222
dia todo, e de novo antes de fechar seus olhos à noite: vendo sua vida como uma sala de aula
com um Professor Que vai instruí-lo em relação ao seu significado apropriado, refletindo de
volta para você uma decisão que a mente tomou pelo ego, uma decisão que você agora
alegremente corrige. Sua decisão pelo Céu se torna os meios de lhe dar a única alegria que
você quer – despertar do sonho do ego e voltar para casa.

LIÇÃO 139

Aceitarei a Expiação para mim mesmo.

223
Essa lição estende o tema de decisão da lição anterior. O contexto do ensino aqui é bem
familiar para nós a essa altura: somos confrontados por uma decisão entre o ego e o Espírito
Santo, e escolhemos nos identificar com o conceito de um ser separado em vez da memória da
nossa Identidade como Cristo. Quando escolhemos a individualidade do ego em vez do
princípio de Expiação do Espírito Santo de que a separação nunca aconteceu, nos
identificamos com um falso ser, estabelecendo a necessidade da Expiação, ou de correção da
nossa escolha equivocada. Ao aceitarmos a Expiação para nós mesmos, o objetivo final do Um
Curso em Milagres, nos lembramos do nosso Ser. Outro tema principal em nosso livro de
exercícios sinfônico, portanto, é nossa identidade como o Filho não separado de Deus.

(1:1) Eis o fim da escolha.

Quando aceitamos a Expiação para nós mesmos, percebendo que o Espírito Santo fala a
verdade e o ego mente, atingimos o fim da escolha. Teremos recuperado o poder de nossas
mentes, sabendo claramente que essa habilidade tomadora de decisões não tem nada a ver
com o cérebro do corpo. Por escolher irrevogavelmente a verdade, a necessidade de uma
escolha termina, porque o equívoco foi desfeito. O propósito do milagre é assim cumprido, ao
retornarmos à parte tomadora de decisões das nossas mentes, a origem do sonho que nós
agora desfazemos:

O milagre não te desperta, mas te mostra quem é o sonhador. Ele te ensina que
existe uma escolha de sonhos enquanto ainda estás adormecido, dependendo do
propósito do teu sonhar. Desejas sonhos de cura ou sonhos de morte?...
O milagre estabelece que tu estás sonhando um sonho, e que o seu conteúdo não é
verdadeiro. Esse é um passo crucial para se lidar com ilusões. Ninguém tem medo
delas quando percebe que as inventou. O medo mantinha-se em seu lugar porque
ele não havia visto que era o autor do sonho e não uma de suas figuras (T-28.II.4:2-
4; 7:1-4).

Uma vez que a escolha entre sonhos de cura e sonhos de morte fica clara, nosso sonhar
termina.

(1:2-6) Pois aqui vimos à decisão de nos aceitarmos tal como Deus nos criou. E o que é
a escolha senão a incerteza do que somos? Não há nenhuma dúvida que não esteja
enraizada aqui. Não há nenhuma questão que não reflita essa única. Não há nenhum
conflito que não acarrete essa única pergunta simples: “O que sou eu?”.

Perto do final do livro de exercícios, está uma linda resposta de Jesus à pergunta, “O que
sou eu?” (LE-pII.14): eu sou um filho separado, auto-criado, em vez de criado por Deus. A
resposta do Espírito Santo é a Expiação: nosso Ser permanece imutável como Cristo. O fim de
“O Cristo em ti” resume a mudança da dúvida para a certeza, do ego para Cristo:

Tem que haver dúvida antes que possa haver conflito. E toda dúvida tem que ser a
respeito de ti mesmo. Cristo não tem dúvida e da Sua certeza vem a Sua quietude.
Ele trocará a Sua certeza por todas as tuas dúvidas, se concordares que Ele é um
contigo e que essa unicidade é sem fim, sem tempo e está dentro do teu alcance
porque as tuas mãos são as Suas... A Sua quietude vem a ser a tua certeza (T-
24.V.9:1-4,6).

(2:1) Mas quem poderia colocar essa questão a não ser aquele que se recusou a
reconhecer a si mesmo?

224
Essa pergunta só poderia surgir dentro de uma mente dividida; um tema principal dessa
parte da lição. Uma vez que escolhemos o ego em vez do Espírito Santo, tornamos a mente
dividida real, tendo trazido a incerteza para substituir a Certeza de Deus. Assim, nosso
processo diário vacila entre a dúvida da incerteza e a certeza do Ser.

(2:2-4) Só a recusa de aceitar a si mesmo poderia fazer a pergunta parecer sincera. A


única coisa que qualquer coisa viva pode saber com toda a certeza é o que ela é. À partir
deste único ponto de certeza, ela olha para as outras coisas com tanta certeza quanto
tem de si mesma.

Esse é um comentário sobre o princípio: a projeção faz a percepção. Nós primeiro


olhamos para dentro de nossas mentes e escolhemos o ego ou o Espírito Santo. O que
escolhemos, tornamos real, e o que tornamos real em nossas mentes é projetado ou
estendido. Se for o sistema de pensamento do falso ser do ego, projetamos seu sistema de
pensamento de pecado e especialismo e o vemos ao nosso redor, definindo a nós mesmos
como corpos que são as sombras do pensamento original de separação da mente. Se, por
outro lado, escolhermos o Espírito Santo e aceitarmos Sua Expiação, o amor inerente a esse
pensamento se torna a nossa realidade, e nós olhamos para fora, para o mundo do ego, e
percebemos que tudo é uma defesa contra esse amor, que agora é liberado em nossas mentes
curadas para se estender através de toda a Filiação.
Uma vez que todas as pessoas sabem Quem são dentro de si mesmas, quando têm
dúvidas sobre sua Identidade, precisam já ter escolhido o ego em vez do Espírito Santo,
porque, como vamos ver agora, escolher o Espírito Santo não deixa dúvidas, mas apenas
certeza. Assim, se eu levantar uma questão, isso é apenas uma declaração mascarada como
questão. Já que todas as perguntas vem da auto-dúvida, elas implicitamente significam que eu
não sei, pois decidi contra o conhecimento. Em outras palavras, minha questão subjacente –
“O que sou eu?” – para a qual busco uma resposta, é, de fato, uma declaração refletindo minha
decisão da mente errada. Minha mente certa, mais uma vez – o habitat do Espírito Santo –
sabe quem eu sou. Assim, minha “pergunta’ é um convite para que alguém explique quem eu
sou e como cheguei aqui. Assim, meu questionamento nasce da auto-dúvida, como vemos
nessa penetrante passagem de “A resposta quieta” que explica como todas as perguntas vêm
da necessidade de afirmar o ego – “uma forma de propaganda de si mesmo”:

Todas as questões que são colocadas dentro desse mundo não passam de uma
maneira de olhar, não são perguntas... O mundo não coloca senão uma questão. Ela
é a seguinte: “Dessas ilusões, qual é a verdadeira?... Seja qual for a forma que tome
a questão, o seu propósito é o mesmo. ele pergunta apenas para estabelecer o
pecado como algo real e responde na forma de preferências... Uma pseudo-questão
não tem resposta. Ela dita a resposta enquanto pergunta. Assim, todo o
questionamento dentro do mundo é uma forma de propaganda dele mesmo (T-
27.IV.4:1,4-5,8-9; 5:1-3).

(3:1) A incerteza a respeito do que não podes deixar de ser é um auto-engano numa
escala tão vasta, que a sua magnitude dificilmente pode ser concebida.

Esse pensamento está presente em outros trechos no Um Curso em Milagres, onde


Jesus diz, com efeito, que não temos idéia da magnitude do nosso único erro. Por exemplo:
Podes te surpreender quando ouvires o quanto a realidade é diferente daquilo que
vês. Não reconheces a magnitude desse único erro [de substituir a verdade pela
ilusão]. Ele foi tão vasto e tão completamente inacreditável que um mundo de total
irrealidade tinha que emergir (T-18.I.5:1-3).

225
Quando não estamos certos de quem somos, já enganamos a nós mesmos. Escolher o
ego nos torna incertos, assim, qualquer incerteza revela que escolhemos contra a verdade.

(3:2) Estar vivo e não conhecer a si mesmo é acreditar que tu estás realmente morto.

Estar vivo é estar com o Espírito Santo, pois escolhê-Lo é escolher a memória da própria
vida. Quando escolhemos o ego, no entanto, escolhemos a morte e assim acreditamos ser
pecadores, por termos rejeitado a vida. Em nossa ignorância, pensamos existir, no entanto, a
verdade é que nunca deixamos a Vida de Deus, e permanecemos em unidade com Ele. Na
loucura dos nossos sonhos, no entanto, acreditamos que estamos vivos como corpos, mas isso
é verdadeiramente morte, mesmo que eles estejam mascados como vida de forma bem
sucedida.

(3:3) Pois o que é a vida, senão ser o que és e que outra coisa além de ti pode estar viva
em teu lugar?

Esse é o você real de quem Jesus fala, e vida se aplica apenas quando sei quem sou, o
ser do qual meu Professor me lembra. Portanto, a decisão contra o Espírito Santo, mais uma
vez, é a decisão de ser alguém que eu não sou, em cujo ponto eu não mais tenho um ser e
tenho que estar morto. O leitor pode se recordar do seguinte de “As leis do caos”, que
esclarece, além de qualquer dúvida, o verdadeiro significado da vida:

Não há vida fora do Céu. Onde Deus criou a vida, lá ela tem que estar. Em qualquer
estado à parte do Céu, a vida é ilusão. Na melhor das hipóteses, parece vida; na
pior, parece morte. No entanto, os dois são julgamentos sobre o que não é vida, são
iguais na sua falta de acuidade e de significado. A vida fora do Céu é impossível e o
que não está no Céu não está em lugar nenhum (T-23.II.19:1-6).

Nada que o ego possa fazer jamais transforma a verdade em ilusão, ou traz vida à morte.
Nós permanecemos como Deus nos criou – o Filho da Vida -, apesar do nosso sonho de morte:

A tua vontade é a Sua vida, que Ele te deu. Mesmo no tempo, não podes viver à
parte Dele. Sono não é morte. O que Ele criou pode dormir, mas não pode morrer. A
imortalidade é a Sua Vontade para o Seu Filho e a vontade do Seu Filho para si
próprio. A vontade do Filho de Deus não pode ser a morte para si mesmo, porque o
seu Pai é Vida e o Seu Filho é como Ele. A criação é a tua vontade porque é a Sua
(T-11.I.9:5-11).

(3:4-7) Quem é aquele que duvida? De que ele duvida? A quem estará questionando?
Quem pode lhe responder?

Quem é aquele que duvida? Aquele que escolheu estar na mente errada. De que ele
duvida? De Quem é. A quem estará questionando? A outra parte da sua mente. Quem pode
lhe responder? A única resposta real vem dele mesmo, a menos que ele tenha negado quem é.
Portanto, ele nunca pode ouvir a resposta, pois será sua própria voz – o ego da mente errada –
que ele ouve. Essa linha de pensamento é elaborada conforme continuarmos:

(4:1) Ele está apenas declarando que não é ele mesmo e, assim, sendo outra coisa,
torna-se um questionador do que vem a ser essa outra coisa.

Os que duvidam pensam que são essa outra coisa – o corpo, lar do sistema de
pensamento de separação. Agora eles se perguntam “o que é essa outra coisa”? Nossos
maiores cérebros têm se voltado para essa questão e para outras similares: Quem sou eu?
226
Como cheguei aqui? Qual é o propósito da minha existência? Como o mundo se originou: quer
essas questões sejam feitas do ponto de vista da teologia, filosofia, psicologia, biologia,
química ou astrofísica é irrelevante, porque é uma falsa questão. Quando você escolhe estar
com o Espírito Santo, não questiona mais – você sabe. Sua questão, mais uma vez, é
realmente o ego dizendo que eu não sou quem sou, e tentando em vez disso entender o falso
ser que eu me tornei.

(4:2-3) No entanto, jamais poderia estar vivo se não soubesse a resposta. Se pergunta,
como se não soubesse, isso apenas mostra que ele não quer ser essa coisa que é.

Isso descreve a mente dividida, pois ainda resta uma parte de nós que sabe a resposta.
Como Jesus explica em muitos trechos, você não pode negar algo a menos que primeiro o
conheça:

Tu O negaste porque O amaste, sabendo que se reconhecesses o teu amor por Ele,
não poderias negá-Lo. A tua negação de Deus, portanto, significa que tu O amas e
tens conhecimento de que Ele te ama. Lembra-te que o que negas tem que ter em
algum momento conhecido. E se aceitas a negação, podes aceitar o seu desfazer
(T-10.V.6:3-5).

Minha escolha pelo ego é contra o Espírito Santo, pois existe uma parte e mim que sabe o
que Ele ensina. No entanto, eu escolho o ego porque prefiro a individualidade ao meu natural
estado de unicidade, o Filho como Deus o criou. Portanto, nunca é uma questão de uma
inabilidade de conhecer, mas simplesmente uma recusa.

(4:4) Ele aceitou porque está vivo, fez um julgamento contra ela, negou o seu valor e
decidiu que não conhece a única certeza pela qual vive.

Minha mente certa aceitou quem eu sou porque a vida está lá. Lembre-se, se o Espírito
Santo é a memória de Deus, Ele também é a memória da Vida. Se essa memória está na
minha mente, tem que haver uma parte de mim que compartilha daquele pensamento. Quando
Jesus diz “Ele aceitou porque está vivo”, está falando da mente certa. Também existe a mente
errada que julgou contra a vida, aceitando o julgamento do ego sobre quem nós somos. Nós,
portanto, vemos mais uma vez uma descrição da mente dividida: as mentes certa e errada, e,
por implicação, o tomador de decisões que escolhe entre elas.

(5:1) Assim, ele passa a estar incerto quanto à sua vida, pois o que ela é foi negado por
ele.

A vida, minha verdadeira Identidade, está presente em minha mente. Ainda que eu tenha
me afastado e esquecido dele, meu Ser permanece. Em minha amnésia, no entanto, a
incerteza e dúvida surgem, e não aceito qualquer responsabilidade sobre elas.

(5:2) É por causa dessa negação que precisas da Expiação.

Essa é outra afirmação central. A Expiação desfaz a negação que é o ego. No texto,
Jesus nos diz que nossa tarefa é “negar a negação da verdade” (T-12.II.1:5); a Expiação é a
primeira “negação”, o que apaga a “negação da verdade” feita pelo ego. Pelo fato de termos
escolhido de forma errada e negado quem somos, precisamos da correção da Expiação para
desfazermos a escolha equivocada. Como Jesus ensina:

“Expiação” significa “desfazer”. O desfazer do medo é uma parte essencial do valor


dos milagres da Expiação (T-1.26:2-3).
227
E, do manual para professores:

Expiação significa correção, ou o desfazer dos erros (MP-18.4:6).

Nós negamos nossa unicidade inerente como Filho de Deus e a unidade do Seu Reino.
Afirmando que a separação nunca aconteceu e o Céu continua perfeitamente unido, a
Expiação desfaz o ego e seu sistema de pensamento:

A Expiação é a garantia da segurança do Reino e a união da Filiação é a sua


proteção. O ego não pode prevalecer contra o Reino porque a Filiação é unida. Na
presença daqueles que ouvem o chamado do Espírito Santo para que sejam um, o
ego se desvanece e é desfeito (T-5.IV.1:9-11).

(5:3-7) A tua negação não fez nenhuma mudança no que és. Mas dividiste a tua mente
entre o que conhece e o que não conhece a verdade. Tu és tu mesmo. Não há dúvidas
quanto a isso. E, no entanto, duvidas.

A verdade é que nós somos como Deus nos criou. Ainda que tenhamos tentado negar a
verdade, nada aconteceu: “nenhuma nota na canção do Céu foi perdida” (T-26.V.5:4). A
presença do Espírito Santo em nossas mentes é a asseguração desse fato. Além disso, se a
Expiação está em nossas mentes, existe uma parte de nós que já se identificou com ela. Uma
vez que negamos o que estabelecemos como verdadeiro, nossas mentes estão divididas. É
por isso que existe um conflito perene em nossas mentes, e um conflito perene no mundo. Nós
estamos continuamente em guerra conosco mesmos, um conflito designado pelo ego para
proteger a si mesmo contra nossa escolha pela quieta memória do Amor de Deus, o inimigo da
individualidade:

A memória de Deus vem à mente quieta. Ela não pode vir aonde há conflito, pois
uma mente em guerra contra si mesma não se lembra da gentileza eterna. Os meios
da guerra não são os meios da paz e o que as pessoas voltadas para a guerra
querem lembrar não é amor. A guerra é impossível a não ser que a crença na vitoria
seja valorizada. O conflito dentro de ti necessariamente implica no fato de que
acreditas que o ego tem o poder de ser vitorioso. Por que outra razão te
identificarias com ele? (T-23.I.1:1-6).

Como poderíamos não duvidar de nós mesmos – um Ser de paz -, quando estamos em
constante estado de guerra?

(5:8) Mas não perguntas que parte de ti realmente pode estar duvidando de ti mesmo.

O que duvida de mim mesmo é a mente errada, a parte que não conhece a verdade,
como descrito na sentença anterior. Eu não questiono minha mente errada, porque isso
significa implicitamente que tenho uma mente certa. Eu não questiono nada disso, mas aceito
que não sei quem eu sou e, portanto, busco respostas externas a mim mesmo. Isso valida
minha existência como uma pessoa separada, que é o motivo pelo qual, mais uma vez, Jesus
chama as perguntas do ego de “propaganda de si mesmo”.
(5:9) Na realidade, não pode ser uma parte de ti que coloca essa questão.

A parte real de mim – o você – sabe, então, essa parte nunca questiona. Em outras
palavras, só o falso ser faz perguntas. Quando você experimenta o amor e a paz de Jesus, não
tem perguntas. Na verdade, nesse ponto você se torna a resposta, assim como ele. O ato de
fazer uma pergunta, então, significa que você não acredita que é quem realmente é.
228
(5:10) Pois pergunta àquele que sabe a resposta.

Minha mente errada pergunta à mente certa, o que significa que minha mente errada
acredita ser separada dela. Se eu fizer uma pergunta a você, não o experimento como um
comigo, mas como alguém separado que talvez seja mais sábio do que eu e, portanto, tem a
resposta que me falta. O fato de que parte de mim faz uma pergunta à outra parte que eu sou
diz que a mente errada é separada da mente certa. Portanto, se minha mente certa é quem eu
sou, a mente errada não pode ser o meu ser. Essas passagens com argumentos muito
inteligentes são designadas a ajudar a quebrar nossa identificação com o ego, capacitando-nos
a escolher o ser da mente certa como nossa identidade.

(5:11) Se fosse parte de ti, a certeza seria impossível.

Se a mente errada – a parte que não conhece a verdade – fosse quem eu sou, como eu
jamais poderia estar certo sobre qualquer coisa? A mente errada é a incerteza: a mente certa é
a certeza. A mente certa, como o reflexo da unicidade, nos ensina que não poderia haver nada
real fora de si mesma. Assim, se a mente errada se torna uma parte de quem eu realmente
sou, a incerta mente errada significa que eu sou incerto, para não dizer ilusório. Mais uma vez,
Jesus usa esse argumento engenhosamente fundamentado para nos ajudar a perceber que a
pessoa que pensamos ser não é quem realmente somos. Enquanto duvidarmos, estivermos
incertos, e tivermos perguntas sobre qualquer coisa, estaremos afirmando que não somos
quem somos.
Isso também significa, a longo prazo, que quando pedimos continuamente a Jesus ajuda
e respostas a perguntas, afirmamos nossa separação dele. Todos nós realmente começamos
como criancinhas buscando ajuda dos nossos irmãos mais velhos, no entanto, enquanto
quisermos que essa desigualdade dure, nunca vamos perceber que somos como ele. Perto do
fim da jornada – quando atingirmos a maturidade espiritual -, entenderemos que não existe
ninguém a quem fazer perguntas, porque, como Jesus, nós somos a resposta. Desnecessário
dizer, esse nós não é o ser pessoal ou específico com o qual nos identificamos, mas o nós que
é um com todos.
Para rever, fazer uma pergunta implicitamente reforça sua mente dividida e, portanto,
reflete um ser que você não é. Isso não significa que você deveria se sentir culpado em relação
a fazer perguntas, mas apenas que você precisa reconhecer que esses são passos em direção
ao objetivo final de perceber que o Filho de Deus é um. Nessa experiência de unicidade, não
existe questionamento, porque você se torna a resposta. É isso o que Jesus quer dizer ao
discutir a experiência que responde a todas as perguntas:

Uma teologia universal é impossível, mas uma experiência universal não só é


possível como necessária. É para essa experiência que o curso está dirigido... É só
o ego que questiona porque é só o ego que duvida. O curso apenas dá outra
resposta, uma vez que tenha sido levantada uma questão...
O ego vai pedir muitas respostas que esse curso não dá. Ele não reconhece como
perguntas a mera forma de uma pergunta à qual é impossível dar uma resposta...
Entretanto, não há nenhuma resposta, apenas uma experiência. Busca somente
isso, e não deixes que a teologia te atrase (ET-in.2:5-6; 3:4-5; 4:1-2,4-5).

(6:1) A expiação remedia a estranha idéia de que é possível duvidar de ti mesmo e não
ter certeza do que realmente és.

O ego nos diz que a dúvida e a incerteza são a realidade aqui, e como crianças em idade
escolar, realmente somos encorajados a fazer perguntas. De fato, através do todo o Um Curso
em Milagres, Jesus fala conosco como crianças pequenas, encorajando-nos a fazer perguntas
229
a ele. No entanto, permanece a verdade de que estar incerto ou em um estado de
questionamento nega nosso verdadeiro Ser. A Expiação desfaz a negação, como já vimos,
removendo o véu que ocultou a verdade da perfeita certeza da nossa Identidade como Cristo.

(6:2-4) Essa é a profundidade da loucura. No entanto, é a questão universal do mundo. O


que isso pode significar, senão que o mundo é louco?

Acreditar que a realidade é incerteza e confusão, fazendo surgir um perene estado de


questionamento, é realmente a profundidade da loucura. Fazer perguntas reflete uma
orientação dualista, enquanto a unicidade não-dualista não admite perguntas nem respostas.
Essa unicidade é nossa realidade, e Jesus mais uma vez está nos mostrando a extensão da
insanidade do mundo dualista. Isso leva à convicção insana de que não podemos conhecer
nosso ser sem fazer outra pergunta, para conseguirmos a resposta para “a questão universal
do mundo”: “Quem sou eu?”.

(6:5) Por que compartilhar da sua loucura na triste crença de que o que é universal aqui
é verdadeiro?

Enquanto Helen estava transcrevendo o Um Curso em Milagres, Jesus disse a ela: “Diga
a Bill que cinqüenta milhões de franceses podem estar errados” 4. O fato de cinqüenta milhões
ou seis bilhões de pessoas acreditarem em algo não o torna verdadeiro. Um pensamento de
loucura é o mesmo que bilhões de pensamentos de loucura, mas a loucura permanece louca.
Esse não-dualismo sem transigência é o que torna o Um Curso em Milagres tão radical, pois
estabelece que toda percepção é uma mentira, uma vez que seu dualismo inato desmente a
verdade da unicidade do conhecimento:

As leis de Deus não prevalecem diretamente em um mundo no qual a percepção


domina, pois tal mundo não poderia ter sido criado pela Mente para a qual a
percepção não tem significado.
A percepção se baseia na escolha; o conhecimento não. O conhecimento tem
apenas uma lei porque tem apenas um Criador (T-25.III.2:1; 3:1-2).

(7:1-2) Nada do que o mundo acredita é verdadeiro. É um lugar cujo propósito é o de ser
um lar aonde aqueles que declaram não se conhecer podem vir perguntar o que são.

“Nada do que o mundo acredita é verdadeiro” porque o mundo é baseado em um


pensamento ilusório, insano. Essa é outra declaração inequívoca à qual você deveria prestar
atenção cuidadosa, e depois observar como você quer fazer transigências à sua verdade.
Todas as pessoas questionam “o que são”, no entanto, a única maneira de poderem saber a
resposta é liberarem os pensamentos que fazem parte desse mundo: separação, julgamento,
especialismo e doença. O que permanece é a certeza da Expiação, que as lembra da sua
Identidade. Assim, o mundo serve a um propósito diferente quando elas escolhem o perdão do
instante santo, o meio de se lembrar do seu Ser:

Há um outro propósito no mundo feito pelo erro, porque ele tem outro Fazedor, Que
é capaz de conciliar a sua meta com o propósito do Seu Criador. Em Sua percepção
do mundo, nada do que é visto deixa de justificar o perdão e tudo o que se vê
através da perfeita impecabilidade. Nada surge que não encontre imediatamente o
perdão completo. Nada permanece, nem por um instante, que seja capaz de
obscurecer a impecabilidade que brilha imutável, além das lamentáveis tentativas do
especialismo de apagá-las da mente, onde ela tem que estar para iluminar o corpo
em lugar dele (T-25.III.5:1-4).
4
Veja Ausência de Felicidade, p. 234.
230
Assim, o mundo realmente se torna uma sala de aula na qual desfazemos o que o ego
ensinou, escolhendo em vez disso aprender com um Professor diferente:

O ego fez o mundo como o percebe, mas o Espírito Santo, que re-interpreta os feitos
do ego, vê o mundo como um instrumento de ensino para trazer-te para casa (T-
5.III.11:1).

(7:3) E tornarão a vir até o momento em que a Expiação for aceita e aprenderem que é
impossível duvidar de si mesmos e não estar cientes do que são.

Essa sentença seria mais clara se acrescentássemos impossível à parte final da oração:
“e aprenderem que é impossível duvidar de si mesmos e impossível não estar cientes do que
são”. Em outras palavras, o ego nos diz que não apenas é possível, mas é uma certeza que
não sabemos quem somos. A Expiação nos diz simplesmente que é impossível não
conhecermos nosso Ser, porque essa é a realidade. A memória de quem somos está dentro de
nós; nós meramente nos defendemos contra ela. No entanto, ele pacientemente aguarda
nossa escolha, conforme retornamos de novo e de novo, até fazermos a escolha final:

Aqui, com o fim da jornada diante de ti, vês esse propósito. E é aqui que escolhes se
olhas para ele ou se continuas vagando apenas para retornares e escolheres outra
vez (T-19.IV-D.10:7-8).

(8:1) A única coisa que pode ser pedida a ti é a aceitação, pois há certeza quanto ao que
tu és.

Não somos solicitados a nos tornarmos quem somos; somos solicitados simplesmente a
aceitá-lo. Existe uma diferença significativa entre essas duas declarações. Quando liberarmos
as interferências, como somos continuamente solicitados a fazer, devemos inevitavelmente nos
lembrar de quem somos. O texto nos diz:

O ego analisa; o Espírito Santo aceita (T-11.V.13:1).

Assim, Jesus nos pede apenas para aceitarmos a verdade sobre nós mesmos. Nem a
compreensão nem a análise são necessárias; meramente nossa simples aceitação.

(8:2-3) Isso é estabelecido para sempre na santa Mente de Deus e na tua própria. Está
tão além de qualquer dúvida ou questionamento, que perguntar o que isso não pode
deixar de ser, constitui a prova definitiva de que precisas para mostrar que acreditas na
contradição de que não conheces o que não podes deixar de conhecer.

Quando você duvida e questiona, afirma sua mente dividida. Na verdade, você realmente
afirma mais do que isso, pois nega que tem uma mente certa, consciente apenas do ser da
mente errada que se transmuta em um corpo e um cérebro. Além disso, quando questionamos,
afirmamos que a realidade não é a realidade, pois acreditamos que nós a substituímos por
outra coisa – nosso sistema de pensamento e identidade – que pode ser entendida e
explicada. No entanto, mais uma vez, já que nossa Identidade é estabelecida para sempre na
Mente de Deus, que é a nossa própria, ela só precisa ser aceita, escolhendo contra a falsa
identidade que até então tornamos real para nós mesmos.

(8:4) Isso é uma pergunta ou uma declaração que nega a si mesma ao ser declarada?

231
Esse é o mesmo ponto discutido acima. Todas as perguntas são realmente declarações
que dizem que a separação é real, o que agora atesto através da minha “pergunta”.

(8:5) Não deixemos as nossas santas mentes ocuparem-se com devaneios tão sem
sentido quanto esse.

Jesus nos pede para não tentarmos dar sentido a um sistema de pensamento que não
pode ser compreendido, nem explicar o que é inconcebível. Isso também significa que não
deveríamos tentar entender a verdade, que está além de nossas capacidades como egos.
Esse tema favorito no Um Curso em Milagres reaparece em todos os três livros; por exemplo,
essas passagens com relação ao ego e ao conhecimento respectivamente:

Isso é tudo o que é o mundo do ego. Nada. Ele não tem significado. Não existe. Não
tentes compreendê-lo porque, se o fizeres, estás acreditando que ele pode ser
compreendido e é, portanto, capaz de ser apreciado e amado. Isso justificaria a sua
existência, a qual não pode ser justificada. Tu não podes fazer com que o que é sem
significado seja significativo. Isso só pode ser uma tentativa insana (T-7.VI.11:4-11).

Esse curso conduzirá ao conhecimento, mas o conhecimento em si mesmo ainda


está além do alcance do nosso currículo. E nem existe nenhuma necessidade de
tentarmos falar daquilo que não pode deixar de estar para sempre além das
palavras. Nós precisamos apenas lembrar que qualquer um que atinja o mundo real,
além do qual o aprendizado não pode ir, irá além dele, mas em um caminho
diferente. Onde o aprendizado termina, lá Deus começa, pois o aprendizado termina
diante Dele, Que é completo onde começa e onde não há fim. Não devemos parar
no que não pode ser atingido. Há muito a aprender. A prontidão para o
conhecimento ainda está por ser atingida (T-18.IX.11).

Assim, Jesus nos encoraja a aceitarmos a verdade, sem tentarmos entendê-la.

(9:1) Temos uma missão aqui.

Missão não é nada externo. É a aceitação da Expiação, a correção em nossas mentes


quando escolhemos o professor certo. Uma tentação maior dos estudantes do Um Curso em
Milagres é traduzir sua mensagem não-específica de perdão para missões específicas e
especiais. Portanto, é útil manter na consciência essa linha importante e freqüentemente
citada:

Esse é um curso em causa e não em efeito (T-21.VII.7:8).

Causa refere-se à mente, cuja mudança constitui nossa missão de perdão. Efeito refere-
se ao corpo ou comportamento, que não é nossa preocupação de forma alguma. Lembre-se
também de que somos solicitados apenas a escolher o milagre, deixando sua extensão através
de nós para o Espírito Santo (T-16.II.1:3-6).

(9:2-3) Não viemos para reforçar a loucura em que outrora acreditamos. Não nos
esqueçamos da meta que aceitamos.

Parte de nossas mentes aceitou a meta do despertar do sonho, que nós tentamos negar,
tornando esse mundo real e acreditando que existe algo especial para nós aqui. Tal
especialismo é um aspecto da loucura à qual Jesus se refere.

(9:4) Viemos para ganhar mais do que apenas a nossa felicidade.


232
O tema da unicidade aparece mais uma vez. Como a lição anterior diz: “Quando sou
curado, não sou curado sozinho” (LE-pI.137). Não pode ser apenas a minha felicidade que
quero ganhar aqui. Se eu for ser verdadeiramente feliz, é a felicidade de todos que preciso
querer; se eu for me lembrar da minha identidade como o Filho santo de Deus, isso precisa
incluir a santidade de todos:

Ainda podes pensar que é impossível compreender a santidade, porque não podes
ver como ela pode ser estendida para incluir todas as pessoas. E te foi dito que ela
tem que incluir todas as pessoas para ser santa (T-16.II.1:1-2).

(9:5-7) O que aceitamos como o que somos proclama o que todos não podem deixar de
ser junto conosco. Não falhe junto aos teus irmãos ou falhas para contigo mesmo.

Quando eu aceito a Expiação para mim mesmo, o amor e a paz em minha mente
automaticamente se estendem à mente de todos, porque o Filho de Deus é um. Então, eu me
torno seu lembrete, assim como Jesus foi o meu, da escolha que ele pede a todos nós para
fazermos. Esse amor e paz dizem que você pode fazer a mesma escolha que eu fiz, pois eu
não sou curado sozinho – minha cura é a da Filiação. Nessa adorável passagem da Páscoa,
Jesus resume as dádivas maravilhosas que o perdão nos oferece e aos nossos irmãos em seu
nome:

A Páscoa não é a celebração do custo do pecado, mas do seu fim. Se vislumbrares


a face de Cristo por trás do véu, olhando por entre as pétalas brancas como a neve
dos lírios que recebeste e deste como dádiva tua, contemplarás a face do teu irmão
e a reconhecerás. Eu era um forasteiro e me recolheste sem saber quem era eu.
Entretanto, pela tua dádiva de lírios, tu saberás. No teu perdão a esse forasteiro,
estranho para ti e no entanto teu Amigo antigo, está a sua liberação e atua redenção
junto com ele. O tempo da Páscoa é um tempo de alegria e não de luto. Olha para o
teu Amigo ressuscitado e celebra a sua santidade junto comigo. Pois a Páscoa é o
tempo da tua salvação junto com a minha (T-20.I.4).

(10:1) É isso que a Expiação ensina e demonstra que a unicidade do Filho de Deus é
inatacada pela sua crença, segundo a qual ele não sabe o que ele é.

A Expiação ensina que qualquer coisa que pensemos ter acontecido não teve efeitos – a
Unicidade do Filho de Deus foi totalmente não afetada por seus pensamentos de julgamento,
ataque e especialismo. A aceitação desse fato feliz é o único significado verdadeiro da alegria
nesse mundo.

(10:2-11:3) Hoje aceita a Expiação não para mudar a realidade, mas apenas para aceitar a
verdade sobre ti e seguir o teu caminho alegrando-te no infinito Amor de Deus. É só isso
o que é pedido. E é só isso que faremos hoje.
Reservaremos cinco minutos pela manhã e à noite para dedicar as nossas mentes à
nossa tarefa para o dia de hoje. Começamos com essa revisão do que é a nossa missão:
Aceitarei a Expiação para mim mesmo,
pois continuo sendo tal como Deus me criou.

Mais uma vez, Jesus não está falando sobre qualquer coisa externa. Nada no Um Curso
em Milagres deveria ser encarado como um guia para o que você deveria fazer de forma
comportamental. Ele é sempre e apenas um guia sobre o que você deveria pensar, ou até mais
direto ao ponto, qual professor você deveria escolher. Uma vez que não existe corpo e nenhum
mundo, por que Jesus iria dar prescrições para o comportamento? Nossa missão é
233
simplesmente mudarmos nossas mentes, aceitarmos a Expiação para nós mesmos. Assim,
realmente aceitamos a verdade, lembrando de que permanecemos como Deus nos criou.

(11:4) Não perdemos o conhecimento que Deus nos deu quando nos criou como Ele
próprio.

Como Jesus nos diz no texto, perder algo não significa que ele se foi para sempre;
simplesmente significa que nos esquecemos de onde olhar:

Tu não usurpaste o poder de Deus, mas o perdeste. Afortunadamente, perder


alguma coisa não significa que ela se foi. Simplesmente significa que tu não te
lembras aonde ela está. A sua existência não depende da tua capacidade de
identificá-la, nem mesmo de localizá-la. É possível olhar a realidade sem julgamento
e meramente conhecer que ela existe (T-3.VI.9:2-6).

Assim, a memória de Deus pode ter sido perdida, mas permanece em nossas mentes.
Nós meramente olhamos no lugar errado, procurando fora de nós mesmos – a máxima do ego:
busque, mas não aches. Essa lição, o livro de exercícios, o próprio Um Curso em Milagres são
todos designados para nos treinar a olhar para dentro para encontrarmos o que o ego
escondeu: a memória do Ser que Deus criou em unidade com Ele.

(11:5-12:1) Nós podemos nos lembrar disso por todas as pessoas, pois na criação todas
as mentes são uma só. E na nossa memória está a lembrança do quanto os nossos
irmãos são queridos para nós na verdade, do quanto cada mente é parte de nós, de quão
fiéis eles realmente têm sido conosco e de como o Amor de nosso Pai contém todos
eles.
Em agradecimento por toda a criação, em Nome do seu Criador e da Sua Unicidade
com todos os aspectos da criação, hoje repetimos a nossa fidelidade à nossa causa e a
cada hora, deixando de lado todos os pensamentos que nos distrairiam do nosso
objetivo santo.

Essa causa é predominante no Um Curso em Milagres. Se eu verdadeiramente for me


lembrar de quem sou, se eu for sincero sobre segurar a mão de Jesus para voltar para casa,
preciso deixar de lado todos os pensamentos egóicos que iriam me impedir de alcançar essa
meta. Jesus não pode fazer isso por mim, pois eu preciso estabelecer esses pensamentos,
escolhendo contra minha decisão original de me opor ao Amor de Deus. Assim, ao
atravessarmos nosso dia, o foco deveria sempre estar em maneiras nas quais tentamos nos
distrair, para não dizer atacar esses pensamentos amorosos que estão presentes em nossas
mentes. Precisamos perceber que os atacamos porque tememos sua implicação: na presença
do amor de Jesus, nosso ser especial iria embora. Nossos julgamentos e ataques, portanto,
nos protegem de perder esse ser com o qual nos identificamos e ao qual nos agarramos.
Note, também, outra reiteração do tema da unicidade. Uma vez que todas as mentes são
uma na criação, então, essa unicidade tem que existir no perdão da nossa mente certa
também. Todos os nossos irmãos são queridos para nós, pois são parte de nós na Unicidade
universal do Filho de Deus.
(12:2-3) Por alguns minutos, deixa que a tua mente seja desembaraçada de todas as
tolas teias de aranha que o mundo quer tecer em torno do Filho santo de Deus. E
aprende a natureza frágil das correntes que parecem manter o conhecimento de ti
mesmo à parte da tua consciência ao dizeres...

A “natureza frágil das correntes” é o sistema de pensamento do ego. Um sistema de


pensamento de pecado, ódio, sofrimento e morte não parece frágil, mas poderoso. Apenas
quando damos um passo atrás e olhamos para ele com os olhos de Jesus, podemos vê-lo
234
como realmente é: um leve e impotente véu. Quando olhamos através dos olhos julgadores do
ego, o sistema de pensamento de pecado parece forte de maneira aterrorizante, mas, estando
fora do sonho com Jesus, olhando de volta para ele, percebemos que o pecado não teve
efeitos. Dentro do sonho, parece ser o oposto; no entanto, fora dele, a nulidade do sonho é
facilmente reconhecida. A seguinte passagem ilustra bem a diferença crucial entre a percepção
do ego e a de Jesus sobre o pecado, entre a ilusão e verdade:

Pode-se, de fato, dizer que o ego construiu o seu mundo sobre o pecado. Só em tal
mundo poderiam todas as coisas estar de cabeça para baixo. Essa é a estranha
ilusão que faz com que as nuvens da culpa pareçam pesadas e impenetráveis.
Nisso se acha a solidez que os fundamentos desse mundo parecem ter. pois o
pecado fez com que a criação mudasse de uma Idéia de Deus para um ideal que o
ego quer, um mundo que ele governa, feito de corpos sem mentes e capazes de
completa corrupção e decadência. Se isso é um equívoco, pode ser facilmente
desfeito através da verdade. Qualquer equívoco pode ser corrigido, se for permitido
que a verdade o julgue (T-19.II.6:1-7).

É por isso que ter um relacionamento com o Espírito Santo ou com Jesus é central para a
prática do Um Curso em Milagres. Sem Eles, seria impossível olhar sem julgamento para o que
o ego está fazendo.
Encerramos a lição dizendo:

(12:4) Aceitarei a Expiação para mim mesmo,


pois continuo sendo tal como Deus me criou.

É útil manter em mente que se você for sério sobre aprender esse curso, precisa perceber
que a criação de Deus é uma. Portanto, quaisquer pensamentos que separam você de
qualquer outra pessoa constituem uma escolha consciente de tentar negar sua Identidade. Se
você pensar que sua felicidade ou dor vêm de fora, estará negando o princípio da Expiação, o
que significa que você não que se lembrar dele. Isso não é um pecado, mas um equívoco
corrigível uma vez que você saiba que o fez. Portanto, você precisa se tornar cada vez mais
vigilante para quando seus pensamentos especiais e ações atacarem a Unicidade do Filho de
Deus. A idéia não é que você se sinta culpado em relação ao seu especialismo, mas que você
se torne consciente dele. O propósito de Jesus é nos ajudar a fazer simplesmente isso, pois é
em olhar para ego que aprendemos a aceitar a Expiação para nós mesmos, lembrando do
glorioso pensamento de que através de toda a insanidade do ego, permanecemos como Deus
nos criou.

LIÇÃO 140

Pode-se dizer que só a salvação cura.

Essa é uma lição interessante por causa do uso da palavra cura. Sem contar os dois
trechos no texto e um no livro de exercícios, essa lição (e sua revisão) é o único lugar no Um
235
Curso em Milagres onde ela aparece. Nós realmente encontramos cura, no entanto, nos dois
panfletos, Psicoterapia e A Canção da Oração. Uma cura é usualmente vista como algo que
acontece com o corpo. Os psicoterapeutas também falam de curar a mente de alguém, embora
sua compreensão de mente difira da do Curso. Portanto, cura é quase sempre usado em
relação a algo físico ou psicológico que está defeituoso, o que é sua conotação aqui – o
contexto é a doença, mas a mensagem familiar da lição é a de que a doença está realmente na
mente. Portanto, se você quer uma “cura”, tem que curar (ou tratar) a mente do pensamento de
culpa.
Essa lição também discute mágica, contrastando-a implicitamente com a cura. Mágica é
qualquer coisa que o ego ofereça para resolver o problema no nível sintomático, o que significa
não resolver o problema de forma alguma. A cura leva o problema à sua fonte – a decisão da
mente de ser um ego.
Outro tema principal nessa lição é o primeiro princípio dos milagres, não há ordem de
dificuldade em milagres. Cada problema é o mesmo, e então, sintomas de doença – emocional
ou física, qualquer que seja a experiência dolorosa – não são diferentes uns dos outros. Ao
contrário da primeira lei do caos do ego (T-23.II.2:3), não existe hierarquia de ilusões.

(1:1-2) “Cura” é uma palavra que não pode ser aplicada a nenhum remédio que o mundo
aceite como benéfico. O que o mundo percebe como terapêutico não passa de algo que
fará com que o corpo esteja “melhor”.

Aqui e na próxima sentença, Jesus se refere tanto ao corpo físico quanto psicológico.
Muitas coisas no mundo podem aliviar alguns sintomas, uma parte do tempo, mas não podem
curar a causa. Isso não significa que você deveria se sentir culpado quando usa mágica ou
toma providências para ajudar seu corpo, mas que deveria chamar o remédio por seu nome
apropriado: mágica. A mágica não é pecaminosa, no entanto, como já vimos:

Todos os meios materiais que aceitas como remédios para enfermidades corporais
são reafirmações de princípios mágicos... Contudo, não decorre daí que o uso de
tais agentes com propósitos corretivos seja mau (T-2.IV.4:1,4).

O ponto é que a mágica não vai curar a mente, pois não vai despertar você do sonho.
Apesar disso, ela pode ser uma forma reconfortante, não-ameaçadora de tratar a você mesmo
e aos outros. Jesus pede a você para entender a doença da mente, para que o remédio da
mente – o perdão – possa ser aplicado em qualquer lugar e maneira que possa ser útil.

(1:4-5) Portanto, as suas formas de cura têm que substituir ilusão por ilusão. Uma crença
na doença toma outra forma e assim o paciente agora percebe a si mesmo como se
estivesse bem.

Assim, por exemplo, você tem uma dor de cabeça e toma aspirina. A dor de cabeça se vai
e você se sente melhor. Não existe nada errado em se sentir melhor fisicamente, mas a causa
real da dor de cabeça permanece – a decisão da mente de ser doente, tornando a culpa real e
projetando-a no corpo. No entanto, embora não exista nada errado em se sentir melhor
fisicamente, existe algo errado em acreditar que o problema está curado quando não está. Isso
assegura sua sobrevivência contínua na mente, o que está condicionado à projeção em
corpos, na forma de doença ou raiva. Com a causa subjacente ignorada, a projeção parece ter
uma vida própria, além do controle do indivíduo que projeta. Isso assegura que a projeção vai
continuar inabalável, assim como os sintomas de uma forma ou de outra: a substituição de
ilusão por ilusão. O próximo parágrafo elabora isso:

236
(2:1-3) Ele não está curado. Apenas teve um sonho de que estava doente e, no sonho,
achou uma formula mágica para fazê-lo sentir-se bem. Mas não despertou e assim a sua
mente permanece exatamente como era antes.

A culpa na mente está a salvo. Nada a modificou, o que explica por que experimentamos
o corpo como doente. Isso nos permite concluir que o problema não está na mente, mas no
corpo. Nossa atenção, portanto, está direcionada a fazê-lo se sentir melhor, conforme o
inteligente ego re-estabelece nossa ausência de mente. O problema real – a culpa na mente
vinda da sua decisão de ser separado – é esquecido. Isso significa que a causa da doença
permanece e vai continuar a vir à superfície no corpo através da projeção – o sintoma
substituto de Freud: se você não desfizer a causa, ela permanece para gerar outros sintomas.
Você pode reconhecê-los ou não dessa forma, mas enquanto existir culpa, ela inevitavelmente
vai gerar alguma sombra de si mesma – nossos múltiplos sintomas.

(2:4-7) Ele não viu a luz que o despertaria e poria fim ao sonho. Que diferença pode o
conteúdo de um sonho fazer na realidade? Dorme-se ou desperta-se. Não há meio-termo.

Esse é outro exemplo de uma declaração de Nível Um. Existe verdade e ilusão, sem nada
intermediário. Não importa o que acontece no mundo ilusório dos sonhos, pois é tudo
inventado. É por isso que não há ordem de dificuldade em milagres ou em cura. Os problemas
acontecem na mente do sonhador, e são desfeitos simplesmente por escolher um professor
diferente. O problema é a separação, levando à culpa, que por seu lado leva a um mundo físico
e a um problema físico. A causa da separação é desfeita quando pedimos ajuda ao Espírito
Santo para reconhecermos que não existe separação ou culpa e, portanto, nenhum mundo
físico, corpo ou problemas. A cura é alcançada, portanto, quando percebemos que todos os
problemas são o mesmo:

Não pode haver ordem de dificuldades na cura meramente porque toda doença é
ilusão. Será mais duro dissipar a crença dos insanos em uma alucinação maior em
oposição a uma menor? Concordará ele mais rapidamente com a irrealidade de uma
voz mais alta do que com a de outra mais suave? Descartará ele com maior
facilidade um comando para matar sussurrado do que outro dado aos gritos? E será
que o numero de garfos que ele vê os demônios carregando afeta a credibilidade
deles na sua percepção? A sua mente categorizou tudo isso como real, portanto,
tudo é real para ele. Quando ele se der conta de que são ilusões, elas
desaparecerão. E assim é com a cura. As propriedades das ilusões que as fazem
parecer diferentes são, na realidade, irrelevantes, pois suas propriedades são tão
ilusórias quanto elas próprias (MP-8.5).

Assim, a luz da Expiação – a presença do Espírito Santo na mente adormecida – nos


desperta dos sonhos ilusórios de doença do ego.

(3:1) Os sonhos felizes que o Espírito Santo traz são diferentes do sonhar do mundo,
nos quais pode-se apenas sonhar que se está acordado.

Sonhos felizes não têm nada a ver com um mundo melhor. Eles são sonhos de perdão,
desfazendo os sonhos infelizes de ataque e culpa do ego. Eles, portanto, corrigem alegremente
os pensamentos de separação na mente, lembrando-nos dos nossos interesses
compartilhados com a Filiação.

(3:2) Os sonhos que o perdão deixa a mente perceber não induzem a outra forma de
sono, de modo que o sonhador passe a sonhar outro sonho.

237
O perdão desfaz as ilusões, embora seja ele mesmo uma ilusão porque perdoa o que
nunca aconteceu. Nós já vimos que diferente dos outros, o perdão não induz a mais ilusão,
como faz o ciclo vicioso de culpa-ataque e ataque-defesa do ego. O propósito final do perdão é
nos despertar do sonho, em oposição ao propósito do ego de nos manter adormecidos. As
ilusões de ataque e separação do ego têm como sua razão de existência manter o pecado real,
mas vê-lo em outros. Tal projeção constitui a essência dos sonhos de ódio do mundo, a
proteção para os sonhos secretos de culpa do ego (cf. T-27.VII.11:6-12:2).

(3:3) Os Seus sonhos felizes são arauto do despontar da verdade na mente.

Os sonhos felizes de perdão e cura são precursores da verdade, prenunciando seu


alvorecer por preparar as mentes para ela. Eles anunciam a verdade; mas, em e por si
mesmos não são a verdade. A adorável seção “Arautos da eternidade” descreve essa função
do relacionamento santo:

Cada milagre de união é um poderoso arauto da eternidade. Ninguém que tenha um


propósito único, unificado e seguro pode ter medo. Ninguém que compartilhe o seu
propósito com ele, pode deixar de ser um com ele.
Cada arauto da eternidade canta o fim do pecado e do medo. Cada um fala no
tempo do que está muito além do tempo. Duas vozes que se erguem juntas tocam
os corações de todos para que possam bater como um só. E nesta batida única do
coração está proclamada a unidade do amor e ela é recebida com boas-vindas (T-
20.V.1:6-2:4).

Assim o perdão, o reflexo da verdade na mente certa, nos leva à eternidade.

(3:4-5) Eles conduzem do sono ao gentil despertar de modo que os sonhos


desaparecem. E assim curam por toda a eternidade.

Eles “curam por toda a eternidade” porque desfazem a causa do tempo – culpa – e sua
fonte. A mágica desfaz a causa aparente à parte da sua fonte; i.e., no mundo ou no corpo. O
milagre, por outro lado, gentilmente devolve nossa atenção à verdadeira doença – a decisão
pela culpa – e assim, nos permite fazer a escolha correta de desfazê-la – o perdão:

Não temas, minha criança, mas deixa que o teu mundo seja gentilmente iluminado
por milagres. E onde a pequena brecha foi vista, entre tu e o teu irmão, lá une-te a
ele. E assim a doença agora será vista sem causa alguma. O sonho da cura está no
perdão e gentilmente te mostra que nunca pecaste. O milagre não deixará nenhuma
prova de culpa capaz de te trazer o testemunho daquilo que nunca foi. E no teu
armazém ele abrirá um espaço de boas-vindas para o teu Pai e para o teu Ser (T-
28.III.8:1-6).

(4:1) A Expiação cura com certeza e cura todas as doenças.

A Expiação trata e cura porque desfaz a culpa. A palavra cura é usada especificamente
aqui porque nós imediatamente a associamos ao corpo, uma falsa associação que agora,
trazida à consciência, pode ser corrigida.
(4:2) Pois a mente que compreende que a doença não passa de um sonho, não se deixa
enganar pelas formas que o sonho pode tomar.

Um tema recorrente no Um Curso em Milagres é o de que não deveríamos ser enganados


pelos nossos olhos. Como você sabe, não lhe é solicitado que negue que existe um mundo,
nem que a pessoas sofrem; mas você não tem que deixar que a aparência do sofrimento tire a
238
paz da sua mente. É possível estar nesse mundo e não ser afetado por ele, mas isso pede
trabalho e vigilância dura. Tal persistência é recompensada quando você percebe que sua
identidade não é desse mundo. Portanto, você vê a dor e amorosamente atende a ela, embora
não seja enganado por ela. Sabendo que sua realidade está fora do sonho, você permanece
fora dos sonhos de doença de outra pessoa. Não o reforçando, você se torna um instrumento
de cura, pois demonstra que a paz do Filho de Deus é inatacável pelos sonhos de doença:

Quando aceitas um milagre, não acrescentas o teu sonho de medo a outro que já
está sendo sonhado. Sem apoio, o sonho apagar-se-á, pois não tem efeitos. Pois é
o teu apoio que o fortalece.
Nenhuma mente é doente enquanto outra mente não concorde que elas estão
separadas. E assim, a decisão que tomam de serem doentes é conjunta. Se não dás
o teu acordo e aceitas o papel que desempenhas para fazer com que a doença seja
real, a outra mente não pode projetar a própria culpa sem a tua ajuda em permitir a
ela que se perceba como separada e à parte de ti. Assim, o corpo não é percebido
como doente por ambas as mentes, de pontos de vista separados. A união com a
mente de um irmão impede a causa da doença e os efeitos percebidos. A cura é o
efeito de mentes que se unem, assim como a doença vem de mentes que se
separaram (T-28.III.1:6-2:6).

O milagre é o meio que Jesus usa para curar as nossas mentes e as dos nossos irmãos
da culpa. Assim, ele fala em outro trecho de um “milagre de cura” (e.g., T-28.IV.10:9; MP-
22.4:4).

(4:3) A doença não pode vir aonde a culpa está ausente, pois não passa de uma outra
forma de culpa.

Essa é uma declaração completamente sem ambigüidade. A doença é culpa – sem culpa,
sem doença. Pode haver aparência de doença em termos de sintomas físicos ou psicológicos,
mas sem culpa, você, como uma mente, não vai experimentar a si mesmo como doente.
Doença é culpa. Ponto final. Ela não é definida por forma ou sintoma, mas pelo conteúdo de
culpa que é projetado no corpo. Em nenhum lugar isso é mais explicitamente afirmado do que
no panfleto Psicoterapia:

Uma vez que o Filho de Deus é visto como um ser culpado, a enfermidade vem a
ser inevitável. Foi pedida e será recebida. E todos aqueles que pedem uma
enfermidade, agora condenaram a si mesmos a buscar remédios que não podem
ajudar porque a sua fé foi colocada na enfermidade e não na salvação... A
enfermidade só pode ser a sombra da culpa, grotesca e feia, já que é uma mímica
da deformidade. Se uma deformidade é vista como algo real, como poderia ser a
sua sombra senão deformada?
A descida ao inferno acontece passo a passo em um curso inevitável uma vez que a
decisão de que a culpa é real foi tomada. A doença, a morte e a miséria agora
assombram a terra em ondas incessantes, algumas vezes juntas e algumas vezes
em inflexível sucessão (P-2.IV.2:1-3,6-7; 3:1-2).

Uma vez que o problema é definido, a solução naturalmente se segue, como vemos
agora:

(4:4-7) A Expiação não cura os doentes, pois isso não é uma cura. Ela retira a culpa que
faz com que a doença seja possível. E isso é, de fato, a cura. Pois agora a doença se foi
e nada resta para que ela possa voltar.

239
Mais uma vez, não poderíamos pedir uma afirmação mais clara no Um Curso em Milagres
sobre a natureza da doença e da cura. A Expiação não muda o sintoma, faz crescer um
membro, ou cura um órgão doente, porque essas não se constituem curas. Ela simplesmente
“retira a culpa que faz com que a doença seja possível”, e não presta atenção ao sintoma. Em
vez disso, através do milagre, a Expiação remove a causa da doença. Lembre-se dessas linhas
importantes:

O milagre nada faz. Tudo o que ele faz é desfazer. E assim, anula a interferência
naquilo que foi feito. Ele não acrescenta, apenas retira. E o que retira já se foi há
muito... O milagre apenas mostra que o passado se foi e o que se foi
verdadeiramente não tem efeitos. A lembrança de uma causa só pode produzir
ilusões da sua presença, não efeitos.
Todos os efeitos da culpa já não estão mais aqui. Pois a culpa terminou. Com a sua
passagem, foram-se também as suas conseqüências, deixadas sem uma causa (T-
28.I.1:1-5,8-9; 2:1-3).

Sintomas são apenas os efeitos da culpa que é sua causa. Isso só faz sentido quando
nos lembramos de que o corpo não existe fora da mente. Na verdade, ele não existe de forma
alguma. Além disso, a mente não está dentro do corpo. A doença, então, é o pensamento de
culpa na mente, a sombra do pecado que acreditamos nos ter separado do Amor de Deus, e a
Expiação representa nossa escolha corrigida pelo Espírito Santo, que desfaz a separação,
culpa e ataque e, portanto, a doença. Sem culpa, não resta nada para o qual a doença possa
retornar.

(5:1) Que a paz esteja contigo, que foste curado em Deus e não em sonhos vãos.

“A paz será sua quando você me aceitar como seu professor”, Jesus está dizendo,
“porque eu sou a paz de Deus”. Não vamos achar essa paz nos tolos sonhos de especialismo
do mundo, onde nossos problemas e curas são percebidos.

(5:2) Pois a cura tem que vir da santidade e a santidade não pode ser achada onde o
pecado é apreciado.

A santidade está em nossas mentes certas, o pecado em nossas mentes erradas. O foco
no Um Curso em Milagres está sempre e apenas na mente. A cura vem quando eu me afasto
do ego e me volto para o Espírito Santo, a memória da minha santidade como Cristo. Quando
escolho o pecado e seus efeitos – culpa, medo, ataque, doença e morte -, afirmo que não
quero a santidade. A palavra importante aqui é apreciado: eu aprecio o pecado, e o adoro; eu
dou boas-vindas a ele em minha mente e não quero deixá-lo ir, agarrando-me fortemente a ele
porque ele assegura minha individualidade. Na presença da santidade, esse ser separado se
vai, e então, o pecado é o protetor e escudo do meu ego. Mas libere o pecado, e a canção de
santidade do Céu irrompe:

Onde o pecado antes era percebido surgirá um mundo que virá a ser um altar à
verdade e lá unir-te-ás às luzes do Céu e cantarás a sua canção de gratidão e
louvor. E à medida em que vêm a ti para serem completas, tu irás com elas. Pois
ninguém ouve a canção do Céu e permanece sem uma voz que acrescente o seu
poder à canção, fazendo com que ela seja ainda mais doce. E cada um se une ao
canto no altar erguido dentro da mancha diminuta que o pecado proclamou ser
propriedade dele. E o que então era diminuto ressoa com a magnitude de uma
canção na qual todo o universo se uniu com apenas uma única voz (T-26.IV.5).

(5:3-4) Deus habita em templos santos. Ele é barrado ali onde entrou o pecado.
240
Esses templos santos são as nossas mentes, pois Jesus não está falando sobre um
prédio. Deus é “barrado ali onde entrou o pecado” por causa do princípio de um ou outro.
Como vimos no final do segundo parágrafo: “Dorme-se ou desperta-se. Não há meio-termo”.
Existe santidade ou não-santidade, a presença de Deus ou Sua ausência, e nós sempre
escolhemos uma ou outra. Um Curso em Milagres nos ajuda a entender por que: nós nos
agarramos ou ao nosso ser individual, ou estamos dispostos a aceitar que esse ser não nos
torna felizes. Nossas mentes iludidas acreditam que sim, porque o pecado da individualidade
exclui Deus e Sua Unicidade, tornando-se árbitro da verdade, e estabelecendo nosso ser como
real:

Pecar seria violar a realidade e ter sucesso. O pecado é a proclamação de que o


ataque é real e a culpa justificada. Ele assume que o Filho de Deus é culpado, tendo
assim tido sucesso na perda da sua inocência e fazendo de si mesmo algo que
Deus não criou. Assim, a criação é vista como se não fosse eterna e a Vontade de
Deus fica aberta à oposição e à derrota. O pecado é a grande ilusão subjacente à
toda grandiosidade do ego. Pois através dele próprio Deus é mudado e refeito como
um ser incompleto (T-19.II.2:2-7).

... se o pecado é real, nem tu nem Deus o são... E Deus e a Sua criação parecem
estar divididos e depostos. Pois o pecado quer provar que o que Deus criou santo
não poderia prevalecer sobre ele, nem permanecer tal como é diante do seu poder
(T-19.III.6:12; 7:4-5).

(5:5) No entanto, não há lugar onde Ele não esteja.

Essa é outra declaração do princípio de Expiação: Nada existe fora da Mente de Deus.
Dentro do sonho, existem realmente lugares onde Deus está ausente, pois o mundo foi feito
para ser um lugar onde Deus estaria ausente, como vamos ver depois:

O mundo foi feito como um lugar onde Deus não poderia entrar... (LE-pII.3:2-4).

(5:6-7) E assim, o pecado não pode ter nenhum lar no qual se esconder da Sua
beneficência. Não há lugar onde a santidade não esteja e não há lugar onde o pecado e a
doença possam habitar.

Dentro do sonho, mais uma vez, existe um lugar assim. No entanto, do ponto de vista de
Jesus – fora do sonho, ao qual ele nos convida a ir -, não existe lugar algum onde Deus esteja
ausente porque a separação nunca aconteceu; não existe lugar fora do Céu porque não
poderia haver nada fora da totalidade e Completeza de Deus. Com certeza, somos livres para
acreditar nos ídolos de especialismo do ego, mas a crença é um substituo esfarrapado para o
conhecimento e não pode substituí-lo verdadeiramente:

Onde está um ídolo? Em parte alguma! É possível haver uma brecha no que é
infinito, um lugar onde o tempo é capaz de interromper a eternidade? Um lugar de
escuridão estabelecido onde tudo é luz, uma alcova sombria separada do que não
tem fim, não tem lugar para ser. Um ídolo está além do lugar onde Deus estabeleceu
todas as coisas para sempre, sem deixar espaço para nada exceto a Sua Vontade.
Um ídolo tem que ser nada e tem que estar em lugar nenhum, pois Deus é tudo e
está em toda parte (T-29.VIII.7).

(6:1) Esse é o pensamento que cura.

241
Isso se refere às sentenças de 5 a 7 no parágrafo anterior. O pensamento que cura é a o
princípio da Expiação, que diz que não existe nada fora de Deus. Assim, os pensamentos de
pecado e culpa, dor e doença, realmente desaparecem de volta na nulidade da qual vieram
(MP-13.1:2).

(6:2-3) Ele [o pensamento da Expiação] não faz distinções entre irrealidades. E nem busca
curar o que não está doente, sem ter em mente aonde está a necessidade da cura.

A Expiação está atenta em relação a onde está a necessidade de cura, e então, não
busca curar o corpo. Enquanto nos identificarmos com o corpo, no entanto, acreditaremos que
a necessidade de cura está em qualquer lugar menos na mente. É por isso que Jesus nos
aconselha:

Não busques mudar o mundo, mas escolhe mudar tua mente sobre o mundo (T-
21.in.1:7).

Nesse contexto, poderíamos dizer: “Não busque mudar o corpo doente, mas escolha
mudar a sua mente sobre o corpo doente”. Nós precisamos perceber que os sintomas físicos –
como qualquer coisa nesse mundo – são uma bandeira vermelha, e precisamos que Jesus nos
ensine que o que percebemos e experimentamos em nosso próprio corpo ou no de outra
pessoa é apenas uma sombra da decisão da mente de estar doente. Nós vimos recentemente
que a doença física ou psicológica imita a deformidade (P-2.IV.2:6). A doença, uma sombra do
pensamento deformado de culpa, assim, diz que eu não sou como Deus me criou, pois sou um
ser separado e limitado. Uma vez que a culpa é uma, a doença tem que ser uma também, que
é o motivo pelo qual não pode haver “distinções entre irrealidades”: culpa é culpa; ilusão é
ilusão.

(6:4-7) Isso não é mágica. Apenas um apelo à verdade, que não pode falhar em curar e
curar para sempre. Não é um pensamento que julga uma ilusão por seu tamanho, sua
aparente gravidade ou por algo relacionado á forma que tome. Meramente focaliza o que
é e sabe que nenhuma ilusão pode ser real.

Mais uma vez, não há ordem de dificuldade em milagres. Todos os equívocos são o
mesmo – uma pelinha solta ou um câncer, uma leve discussão ou uma guerra nuclear. Eles
são o mesmo porque seu conteúdo ilusório de culpa é o mesmo. Esse não é o caso dentro do
sonho, e não somos solicitados a negar nossas experiências aqui. No entanto, Jesus realmente
nos pede para segurarmos sua mão para que ele possa gentilmente nos levar para fora do
sonho e olharmos para nossas vidas, compreendendo que todas as coisas aqui são insanas.
Assim, a mágica do ego, transformada pelo milagre, se torna o meio curativo da Expiação.

(7:1) Não tentemos hoje buscar a cura do que não pode sofrer nenhuma doença.

É o corpo que não pode sofrer doenças, no entanto, Jesus não está dizendo que você
não deveria tomar remédios se estiver doente. Ele simplesmente nos pede para não chamar
isso de cura ou restabelecimento. A mágica alivia o sintoma e, não pode ser dito com
freqüência suficiente, nada no Um Curso em Milagres jamais deveria ser visto como uma
desculpa para você não procurar um médico ou tomar remédios se estiver doente, nem para
não descansar se estiver cansado, ou comer se estiver com fome. Jesus apenas pede que
você perceba que a mágica no que está fazendo não vai curar o pensamento de separação
que é a causa final de cada problema:

O milagre será inútil se aprenderes somente que o corpo pode ser curado, pois não
é essa a lição que ele foi enviado a ensinar. A lição mostra que a mente que pensou
242
que o corpo pudesse estar doente é que estava doente; a projeção da culpa da
mente para fora nada causou e não teve quaisquer efeitos (T-28.II.11:6-7).

(7:2) A cura tem que ser buscada aonde ela está e então aplicada ao que está doente,
para que isso possa ser curado.

Você vai até a mente em busca de cura, o que então cura o corpo simultaneamente.
Jesus usa palavras de maneira diferente aqui, então, na primeira sentença, ele diz que o corpo
não pode sofrer doença, e na segunda, ele diz que a cura deveria “ser aplicada ao que está
doente”, significando o que é experimentado como doença. Em outras palavras, você não vai
ao corpo primeiro, mas à mente, uma vez que ela é a causa. Quando essa causa é desfeita, a
experiência de doença desaparece. Você saberá que a doença se foi quando experimentar o
amor e a paz de Jesus. Esse é o sintoma “positivo” de cura, e nesse instante curativo o corpo
não existe de forma alguma (T-18.VII.3:1), que é o motivo pelo qual o estado do corpo é
irrelevante. Lembre-se dessas linhas:

E reconhecerás que praticaste bem por isso: o corpo não deve sentir nada. Se
tiveres tido êxito, não haverá nenhuma sensação de mal ou bem-estar, de dor ou de
prazer (LE-pI.136.17:2-3).

Esse é o ponto da segunda sentença: aceitando a Expiação, você estará curado. Essa
cura se estende ao corpo, no sentido de que você não vai mais experimentá-lo como doente.
Mais uma vez, na presença do amor, seu corpo se torna irrelevante, pois não existe mais.

(7:3-5) Não há remédio que o mundo forneça que possa efetuar qualquer mudança em
qualquer coisa. A mente que traz ilusões à verdade realmente mudou. Não há nenhuma
mudança além dessa.

Eu trago minhas preocupações sobre a doença – na verdade, todas as preocupações são


doentes – à verdade na minha mente; a escuridão das ilusões à luz da verdade; meus
pensamentos egóicos a Jesus – esse é o processo da cura. Lembre-se, doença é separação, e
a cura desfaz a separação pelo fato de eu me unir ao meu novo professor. Quando você
entender a natureza da cura, ficará óbvio o que é necessário. Se você estiver doente, ansioso,
deprimido ou zangado, é porque empurrou Jesus para longe e segurou a mão do ego em vez
da dele. Quando você está lúcido, a escolha é clara: eu quero a dor ou quero estar errado? Se
quiser a dor, quero estar certo; se quiser estar errado, quero que a dor da separação se vá:

Não busques fora de ti. Pois toda a tua dor simplesmente vem de uma busca fútil
pelo que queres, insistindo quanto ao lugar aonde tem que ser achado. E se não
estiver ali? Preferes estar certo ou ser feliz? Fica contente por ter sido dito a ti aonde
habita a felicidade e não busques mais em outra parte. Tu falharás. Mas te é dado
conhecer a verdade e não buscá-la fora de ti mesmo (T-29.VII.1:6-12).

Em resumo, então, quando entendemos a escolha verdadeira, não existe mais uma
escolha: a felicidade substituiu a dor; a cura, a doença; Deus, o ego. E nós estamos em paz.

(7:6) Pois como pode uma ilusão ser diferente de outra, a não ser em atributos que não
têm nenhuma substância, nenhuma realidade, nenhum núcleo e nada que seja
verdadeiramente diferente?

Essa é mais uma declaração do primeiro princípio dos milagres, que desfaz o primeiro
princípio do ego, a freqüentemente citada primeira lei do caos: existe uma hierarquia de ilusões

243
(T-23.II.2:3). Essa declaração pode ser reformulada para nos impelir gentilmente a olhar além
da miríade de números de formas diferentes e ilusórias para o conteúdo subjacente ilusório:

Não pode deixar de ser verdade que o milagre pode curar todas as formas de
doença ou não pode curar nenhuma. Seu propósito não pode ser julgar que formas
são reais e que aparências são verdadeiras. Se uma aparência tem que permanecer
à parte da cura, uma ilusão tem que ser parte da verdade (T-30.VI.7:1-3).

(8:1-2) Hoje, buscamos mudar as nossas mentes quanto à fonte da doença, pois
buscamos uma cura para todas as ilusões e não mais uma variação entre elas. Hoje,
tentaremos achar a fonte da cura que está em nossas mentes, porque o nosso Pai lá a
colocou para nós.

Isso é uma metáfora, é claro. Como discutido previamente, Deus não poderia colocar a
fonte da cura em nossas mentes, uma vez que Ele não conhece doença. Quando
adormecemos, levamos conosco para o sonho de separação da mente a memória curativa do
Espírito Santo. Assim, se quisermos manter nossa individualidade, precisamos manter o
problema da separação da mente distante da nossa experiência do problema – no mundo do
corpo – e, portanto, distante da fonte de cura na mente. Para sermos curados, precisamos
apenas trazer o problema de volta à sua fonte. Em outras palavras, não iríamos mais buscar a
cura para um sintoma, desfazendo seus efeitos, mas a verdadeira cura, desfazendo a causa.
Fazendo isso, o desespero da nossa dor incessante se transforma em esperança:

Entretanto, onde estão os sonhos senão em uma mente adormecida? E é possível


que um sonho tenha sucesso em fazer com que o retrato que ele projeta fora de si
mesmo seja real?... Não busques fora do teu Pai a tua esperança. Pois a esperança
da felicidade não é desespero (T-29.VII.9:1-2; 10:6-7).

Nossa esperança reside em reconhecermos que mudar ilusões nunca efetua uma cura. O
uso da mágica inevitavelmente leva ao desespero se for vista como curativo, pois a doença na
mente vai permanecer. Escolher o milagre, por outro lado, promove a cura verdadeira, pois
desfaz a causa de todas as ilusões, não importando sua forma:

A enfermidade, portanto, é um equívoco e precisa ser corrigido... Se a enfermidade


é real, ela não pode ser ignorada na verdade, pois não ver a realidade é insano. No
entanto, esse é o propósito da mágica: fazer com que as ilusões sejam reais através
de uma percepção falsa. Isso não pode curar, pois se opõe à verdade. Talvez uma
ilusão de saúde a substitua por pouco tempo, mas nunca dura. O medo não pode
ser escondido por ilusões, pois é parte delas. Ela escapará e tomará outra forma,
sendo a fonte de todas as ilusões (P-2.IV.7:1,3-8).

(8:3) Essa não se acha mais distante de nós do que nós mesmos.

Em outras palavras, a doença está em nossas mentes, assim como a cura. Eu não tenho
que procurá-las do lado de fora, pois permanecem dentro. No entanto, eu primeiro preciso
perceber que tenho uma mente; de outra forma, vou olhar no lugar errado. Meu ser não é um
corpo, e antes de eu despertar para o meu verdadeiro Ser, preciso escolher curar meu ser
ilusório da mente da sua doença: a decisão protegida pela culpa em vez da inocência. Tal cura
da decisão da mente, então, é o perdão, como lemos mais uma vez em Psicoterapia:

O processo da psicoterapia pode, então, ser definido simplesmente como perdão,


pois a cura não pode ser nenhuma outra coisa. Os que não perdoam estão doentes,
acreditando que não foram perdoados. Apegando-se à culpa, abraçando-a
244
fortemente, e oferecendo-lhe abrigo, protegendo-a com amor e defendendo-a em
constate estado de alerta – estão apenas recusando-se inflexivelmente a perdoar.
“Deus não pode entrar aqui” os doentes repetem uma e outra vez, enquanto choram
a sua perda e ainda assim se regozijam nela. A cura acontece quando um paciente
começa a ouvir a lamentação fúnebre que canta e questiona a sua validade. Até que
ele a ouça, não pode entender que é ele mesmo que canta para si próprio. Ouvi-la é
o primeiro passo na recuperação. Questioná-la tem que vir a ser a sua escolha (P-
2.VI.1).

A doença e a cura, então, são ambas escolhidas e todo o poder no Céu e na terra
repousa dentro da parte tomadora de decisões das nossas mentes. É por isso que Jesus faz
um paralelo à famosa citação bíblica, exemplificando que cura “não está distante de nós
mesmos”:

A minha mente sempre será como a tua porque nós fomos criados iguais. Foi
apenas a minha decisão que me deu todo o poder no céu e na terra. Minha única
dádiva a ti é ajudar-te a tomar a mesma decisão... Eu sou o teu modelo para a
decisão. Decidindo-me por Deus eu te mostrei que essa decisão pode ser tomada e
que tu podes tomá-la (T-5.II.9:1-3,6-7).

(8:4-5) Está tão próxima quanto os nossos próprios pensamentos, tão perto, que é
impossível perdê-la. Precisamos apenas buscá-la e não pode deixar de ser achada.

Nós vimos essa idéia na lição anterior: minha identidade está aqui; eu preciso apenas
aceitá-la. A cura está aqui; preciso apenas aceitá-la. Buscar no mundo assegura que a cura
não será encontrada; olhar para dentro garante que vai – eis, pois a simplicidade da salvação.

(9:1-2) Não seremos conduzidos equivocadamente hoje pelo que nos parece estar
doente. Nesse dia vamos além das aparências e alcançamos a fonte da cura, da qual
nada está isento.

Mais uma vez, Jesus não está dizendo que deveríamos negar nossos sentidos físicos. No
entanto, deveríamos não nos iludir em pensar que eles dizem a verdade. Mantenha em mente
que o corpo não é nada mais nem menos do que uma projeção do pensamento de separação
da mente. Assim, “não seremos iludidos”. De forma diferente dos prisioneiros na caverna de
Platão, vamos nos permitir ser ensinados a ir além das aparências até a verdade.

(9:3-5) Teremos sucesso na medida em que reconhecermos que jamais poderá haver
uma distinção significativa entre o que não é verdadeiro e o que é igualmente não
verdadeiro. Não há graus aqui, nem crenças segundo as quais o que não existe é mais
verdadeiro sob algumas formas do que outras. São todas falsas e podem ser curadas
porque não são verdadeiras.

Jesus continua a repetir seus temas: Não há hierarquia de ilusões, nem ordem de
dificuldade em milagres. Não importa qual seja o problema – um pequeno aborrecimento ou
intensa fúria, pontadas de dor ou agonia excruciante – a causa é a mesma. Qualquer coisa que
você experimente é uma tela, na qual você projeta os pensamentos para os quais não quer
olhar, porque você não quer liberá-los. Pedir ajuda a Jesus especificamente significa que você
olha através dos seus olhos, vendo além do mundo das múltiplas formas para o conteúdo único
das ilusões, e além, para o conteúdo único da cura. Em Psicoterapia, ele descreve a ilusão de
que existem formas diferentes de doença:

245
A doença é insanidade porque toda doença é doença mental, e nisso não há
gradação. Uma das ilusões que nos faz perceber a doença como algo real é a
crença segundo a qual as enfermidades variam de intensidade e o grau da ameaça
difere segundo a forma que ela toma. Nisso está a base de todos os erros, pois
todos eles não são nada mais do que tentativas de barganha por ver apenas um
pouquinho do inferno. Isso é uma zombaria tão alheia a Deus que tem que ser para
sempre inconcebível. Mas os insanos acreditam nisso porque são insanos (P-
2.IV.8).

Nossa sanidade repousa na compreensão da insanidade do ego, que cura toda doença
como uma.

(10:1) Assim, deixamos de lado os nossos amuletos, nossos talismãs e medicamentos,


nossos cânticos e truques mágicos, quaisquer que sejam as suas formas.

Isso não significa, mais uma vez, que você não deveria tomar analgésicos se estiver
doente. Tal conselho seria muito cruel. “A cura é a liberação do medo” (T-2.IV), citada com
freqüência nesse livro, torna claro que Jesus não está oferecendo tal conselho. Ele nos pede
apenas para des-investirmos nossos amuletos mágicos, talismãs e medicamentos da crença
curativa. Gentilmente, seu amor nos leva através do encantamento da mágica para o cerne dos
milagres, através das formas de ilusão para o conteúdo do reflexo da verdade. Assim, nós
realmente deixamos de lado o propósito do ego para nossa mágica, não necessariamente a
mágica em si mesma.

(10:2-4) Nós nos aquietaremos e escutaremos a Voz da cura, Que curará todos os males
como um só restaurando a sanidade ao Filho de Deus. Nenhuma Voz senão Essa pode
curar. Hoje, ouviremos uma única Voz Que nos fala da verdade em que todas as ilusões
terminam e a paz retorna ao lar quieto e eterno de Deus.

Na mente dividida, existem realmente dois professores – um vai ferir e Outro vai ajudar.
Assim, Jesus apela a você para que escolha o Espírito Santo. Se você realmente quiser ser
feliz e pacífico, vai deixá-Lo ser seu Professor e Ajudante. Mais uma vez, Ele leva você através
da ilusão das aparências à verdade, se esse for o seu desejo.

(11:1) Nós despertamos ouvindo-O e deixamos que Ele nos fale durante cinco minutos
no início do dia, e terminamos o dia escutando-O mais uma vez durante cinco minutos
antes de irmos dormir.

Despertar pela manhã pensando na lição do dia e no Espírito Santo como meu Professor
reflete meu desejo de ter o dia como uma sala de aula, não um lugar onde minhas
necessidades podem ser atendidas ou não, onde coisas maravilhosas ou terríveis podem
acontecer. Se meu dia for uma sala de aula, não faz sentido escolher um professor que mente,
mas faz perfeito sentido escolher Um Que vai nos ensinar a verdade. Esse pensamento orienta
meu dia, como Jesus nos instrui em “Regras para decisão”:

O padrão adequado, adotado conscientemente a cada vez em que despertas, vai


fazer com que avances bem (T-30.I.1:5).

Quando você fica transtornado, lembre-se de que isso é meramente parte da sua sala de
aula, um currículo que o ego escolheu para feri-lo. Com seu novo Professor, no entanto, a
situação pode ensinar uma lição diferente. Aprender o perdão requer vigilância contínua, o
significado da terceira lição do Espírito Santo: “Sê vigilante apenas por Deus e por Seu Reino”
(T-6.V-C). Observe sua mente durante o dia todo em busca de pensamentos de ataque e, se o
246
seu dia for uma sala de aulas, você vai ir até seu Professor em busca de ajuda para olhar para
isso de forma diferente, aprendendo por que está zangado, julgador e doente. A resposta é o
seu medo do Seu Amor, tendo usado o externo como uma desculpa para mantê-lo distante
Dele:

Um ídolo não pode tomar o lugar de Deus. Permite que Ele te lembre do Seu Amor
por ti e não busques afogar a Voz de Deus em cantos de profundo desespero para
ídolos de ti mesmo (T-29.VII.10:4-5).

Esse processo de escolher a verdade em vez de ídolos constitui nossa necessidade de


praticar através do dia, como essas lições do livro de exercícios gentilmente nos guiam a fazer.

(11:2) A nossa única preparação é a de deixarmos de lado os nossos pensamentos que


interferem, não separadamente, mas todos como um só.

O tema de olhar retorna, dessa vez focalizando-se em nossos pensamentos que


interferem. A afirmação está escrita na forma passiva, mas o Espírito Santo vai deixar de lado
os pensamentos do nosso ego apenas quando os levarmos até Ele. O problema é escolhê-los,
e nossa preparação consiste em nos tornarmos conscientes da nossa decisão. Pensamentos
de julgamento e dor não são o que parecem, pois são parte da estratégia defensiva do ego
para proteger nossa individualidade e manter o amor distante. Precisamos aprender que todas
as ilusões e defesas são o mesmo, como lemos:

(11:3-6) São o mesmo. Não temos necessidade de fazer com que sejam diferentes,
protelando assim o momento em que podemos ouvir o nosso Pai nos falar. Estamos
ouvindo-O agora. Hoje vimos a Ele.

Isso não significa que você vai literalmente ouvir a Voz do Próprio Deus. A Voz que
experienciamos expressa Seu Amor em forma simbólica. Quando liberamos os “pensamentos
que interferem”, o conteúdo do Seu Amor é tudo o que resta, experimentado em uma forma
que podemos aceitar e entender.

(12:1-3) Com nada nas mãos a que nos apegarmos, com os corações elevados e as
mentes à escuta, oramos:

Pode-se dizer que só a salvação cura.


Fala conosco, Pai, para que possamos ser curados.

Minha tarefa é simplesmente esvaziar minha mente, coração e mãos dos pensamentos
egóicos que interferem com o ato de escutar o Espírito Santo. Eu não tento mais definir o
problema como algo externo, pois isso estabelece a solução como algo externo também – uma
forma de mágica. Afastando-me da estratégia de ocultação e camuflagem do ego, levo meus
problemas à escolha equivocada na mente, conforme ouço a gentil Voz do meu Pai
proclamando que estou curado.

(12:4) E sentiremos a salvação nos cobrir com suave proteção e com uma paz tão
profunda que nenhuma ilusão pode perturbar as nossas mentes, nem oferecer-nos
provas de que é real.
O início do adorável poema de Helen “Desperte em Quietude”, já familiar para nós,
expressa esse mesmo sentimento, quase palavra por palavra:

A paz encobre você, dentro e fora o mesmo,


Em brilhante silêncio e em paz tão profunda
247
Que nenhum sonho de pecado e mal pode se aproximar
Da sua mente quieta.
(As Dádivas de Deus, p. 73).

Ao esvaziarmos nossas mentes de pensamentos de especialismo, não mais somos


tentados a ver o mundo como a prova de que o ego é real, ou a usarmos a doença ou qualquer
problema como prova de que estávamos certos e Deus errado. A paz da salvação se torna
nossa única cura e pensamento. Sua paz se tornou a nossa própria.

(12:5-6) É isso que aprenderemos hoje. E quando o relógio bater à cada hora,tomaremos
um minuto para fazermos a nossa oração de cura e ouvir a resposta à nossa prece nos
ser dada, enquanto esperamos no silencio e na alegria.

“Esperar em silêncio” significa deixar de lado os gritos estridentes do meu ego, o


pensamento que diz que estou certo – tanto o problema e a solução são encontrados no
mundo. Silenciar esses pensamentos permite que o pensamento real de cura volte à minha
consciência.

(12:7-8) Esse é o dia em que a cura vem a nós. Esse é o dia em que a separação chega
ao fim e nos lembramos Quem realmente somos.

Isso se refere ao tema da lição anterior, de nos lembrarmos da nossa Identidade. Toda
doença, preocupação e busca de ajuda no mundo são tentativas de reforçar o fato de não
conhecermos nossa Identidade. Quando não ouvimos mais ao ego e percebemos que tanto o
problema quanto a resposta estão em nossas mentes, a memória de Quem realmente somos
alvorece em nossas mentes desacorrentadas, conforme alegremente saudamos a união do ser
com o Ser.

REVISÃO IV

Introdução

248
Já que essa revisão se volta para as vinte lições anteriores e para as que se seguem a
elas, gostaria de rever brevemente o sistema de pensamento do ego, especificamente o plano
do ego, uma vez que isso virá em nossa discussão sobre essa lição.
A realidade está no Céu e na Perfeita Unicidade de Deus e de seu Filho. Quando a
diminuta e louca idéia de ser separado de Deus pareceu surgir na mente do Filho, seu tomador
de decisões teve que escolher entre a interpretação do ego e a do Espírito Santo para ela. Ele
escolheu o ego porque já tinha se enamorado da sua individualidade, autonomia e
especialismo. Uma vez que a separação foi escolhida, o sistema de pensamento de Expiação
do Espírito Santo se desvaneceu na consciência do Filho.
O ego – o desejo do Filho pelo seu ser separado – desenvolveu um plano para assegurar
que o Filho de Deus nunca mudasse sua decisão errada, sabendo muito bem que se o Filho
escolhesse contra sua individualidade, ele iria desaparecer. Assim, o ego levou adiante sua
estratégia brilhantemente concebida para fazer o Filho se tornar sem mente, pois como ele
poderia mudar uma mente que não sabia ter? Essa estratégia tem duas séries de defesas. A
primeira é o mito de pecado, culpa e medo do ego, que estabelece que a separação realmente
aconteceu: pecado, porque o Filho de Deus teve que matar seu Pai para poder alcançar sua
existência individual; culpa em relação a suas ações percebidas; e medo do revide irado de um
Deus Que se levanta da tumba para persegui-lo. A mente do Filho se torna um campo de
batalha no qual, se ele continuar, certamente será destruído. Essa primeira linha de defesa,
portanto, é o sistema de pensamento de pecado e morte, que faz surgir a segunda linha – o
mundo e o corpo. O propósito do mundo, e especificamente o corpo como a fonte de prazer ou
dor, é para garantir que o Filho permaneça firmemente identificado com seu corpo. Ele,
portanto, esquece que tem uma mente, assegurando a sobrevivência do ego. Em poucas
palavras, esse é o sistema de pensamento do ego.
O “plano” do Espírito Santo desfaz as defesas do ego, por mostrar ao Filho de Deus que o
que ele vê do lado de fora é simplesmente uma projeção do que ele tornou real do lado de
dentro – a crença em que ele é separado de todos, estabelecendo o corpo como a testemunha
por excelência para essa separação. O reflexo da unicidade do Céu é que você e eu
compartilhamos uma meta e interesse comum. Qualquer coisa que nossos corpos façam a
alguém, ou um para o outro, não tem efeito sobre o fato de que dentro da mente dividida
compartilhamos o sistema de pensamento de pecado, culpa e medo, assim com a memória de
Cristo. Em poucas palavras sãs, esse é o sistema de pensamento do Espírito Santo, corrigindo
a crença do ego na separação.
Nós começamos agora com a quarta revisão. Uma das vantagens dessas revisões,
esclarecida em suas introduções, é que elas nos lembram de que o perdão é um processo:
aprender o Um Curso em Milagres em geral, e praticar o livro de exercícios especificamente.
Na Introdução, Jesus fala sobre o livro de exercícios como dividido em duas partes; a primeira
focalizada em desfazer o sistema de pensamento do ego, preparando-nos para a segunda
parte, que lida com alcançar a percepção verdadeira. No início da Introdução a essa revisão,
Jesus se volta para a Parte II, enquanto as lições anteriores e as imediatamente subseqüentes
compartilham o propósito de desfazer o ego, permitindo-nos escolher o Espírito Santo. Ver
através dos Seus olhos é visão ou percepção verdadeira, o que não é possível enquanto nos
agarrarmos à camada de defesa dupla do ego. Nosso foco, portanto, está sempre no desfazer
dessas defesas como o pré-requisito para a visão e despertar do sonho.

(1) Agora vamos revisar novamente, dessa vez cientes de que estamos nos preparando
para a segunda parte do aprendizado que trata do modo como a verdade pode ser
aplicada. Hoje, começamos a nos concentrar em estarmos prontos para o que virá a
seguir. Tal é o nosso objetivo nesta revisão e nas lições que se seguem. Assim,
revisamos as lições recentes e os seus pensamentos centrais de tal modo que venha a
facilitar o estado de prontidão que queremos conseguir agora.

249
O perdão é o meio através do qual atingimos essa prontidão, e essas lições de revisão
vão facilitar nossa preparação, conforme a compreensão se aprofunda com cada leitura e cada
prática diária.

(2:1-2) Há um tema central que unifica cada passo na revisão que empreendemos e que
pode ser declarado simplesmente nestas palavras:

Minha mente contém só o que eu penso com Deus.

Isso reflete a Unicidade do Céu – Deus e Cristo, nosso verdadeiro Ser, são totalmente
unificados, sem distinção ou separação. O princípio de Expiação diz que a separação do ego
nunca aconteceu; expresso especificamente no pensamento: “Minha mente contém só o que
eu penso com Deus”. Assim, os únicos pensamentos reais na mente dividida são aqueles que
refletem nossa perfeita Unicidade, os pensamentos que pensamos com Deus:

... na Mente de Deus não há fim, nem um momento no qual Seus Pensamentos
estejam ausentes ou possam sofrer qualquer mudança. Pensamentos não nascem e
não podem morrer. Eles compartilham os atributos do seu criador e também não têm
uma vida separada da sua. Os pensamentos que pensas estão em tua mente, assim
como tu estás na Mente Que pensou em ti. E assim não existem partes separadas
naquilo que existe dentro da Mente de Deus. Ela é para sempre uma, eternamente
unida e em paz (T-30.III.6:4-9).

(2:3) Isso é um fato e representa a verdade do Que tu és e do Que é o teu Pai.

Esse fato e verdade desfazem o sistema de pensamento do ego. Não pode haver
individualidade se nossas mentes contiverem apenas o que pensamos com Deus, porque Seu
pensamento é unidade e amor, mantido para nós pelo Espírito Santo. Nossa aceitação da sua
dádiva é a preocupação primária do ego, o que motivou sua estratégia para nos fazer ter medo
de nossas mentes. O ego nos diz que não tememos o amor, mas o pecado e a culpa. Assim,
nossa identidade como Cristo – o Filho da Inocência – é substituída pela identidade do ego – o
filho da culpa.

(2:4-8) É através deste pensamento que o Pai deu a criação ao Filho, estabelecendo o
Filho como co-criador com Ele Mesmo. É esse pensamento que garante inteiramente a
salvação para o Filho. Pois, na sua mente nenhum pensamento pode habitar, senão
aqueles que seu Pai compartilha. A ausência do perdão bloqueia esse pensamento na
tua consciência. No entanto, ele é verdadeiro para sempre.

Para bloquear esse pensamento da Unicidade do Céu da consciência, o ego precisa de


pensamentos para substituir a Expiação. Pecado, culpa, medo e expressões específicas de
falta de perdão vêm todos para o resgate. E, portanto, acredito que fiz uma coisa terrível e
imperdoável. Tal é o significado da culpa, que eu projeto, dessa forma mantendo a falta de
perdão a mim mesmo contra todos os outros. No entanto, o tempo todo, a memória da
Unicidade da criação permanece em minha mente certa, mantida pelo Espírito Santo, Que
pacientemente aguarda minha decisão de retornar a Ele. Nós então nos lembramos da
promessa de Deus – “o pensamento através do qual o Pai deu a criação ao Filho”:

(3:1) Comecemos a nossa preparação com alguma compreensão das muitas formas nas
quais a ausência do verdadeiro perdão pode ser cuidadosamente ocultada.

Nós mais uma vez vemos o modus operandi do Curso de nos treinar para estarmos
cientes das muitas formas que usamos para nos defender contra a Presença do Espírito Santo
250
em nossas mentes. De tal compreensão vem a generalização final, na qual reconhecemos a
ameaça comum que atravessa todas as ilusões. A seguinte passagem articula seu
ensinamento, usando o conteúdo de sacrifício – um ou outro; um vence, outro perde – como o
pensamento subjacente às formas do ego:

Pois não existe senão um equívoco: toda a idéia de que a perda é possível e poderia
resultar em ganho para alguém... Esse único equívoco, em qualquer forma, tem uma
única correção. Não há perda; pensar que há é um equívoco. Tu não tens
problemas, embora penses que tens. E, no entanto, não pensarias assim se os
visses sumir um por um, sem levar em conta seu tamanho, complexidade, local ou
tempo, ou qualquer outro atributo que percebas que faz cada um parecer diferente
do outro... Todo problema é um erro. É uma injustiça para com o Filho de Deus e,
portanto, não é verdadeiro. O Espírito Santo não avalia as injustiças com grandes ou
pequenas, maiores ou menores. Elas não têm nenhuma característica para Ele (T-
26.II.2:5; 3:1-4; 4:2-5).

(3:2) Por serem ilusões, não são percebidas pelo que são: defesas que protegem os teus
pensamentos que negam o perdão de serem vistos e reconhecidos.

Os pensamentos que não perdoam que não são reconhecidos são a culpa da mente. As
defesas constituem a segunda série da nossa experiência corporal. É importante ler o Um
Curso em Milagres cuidadosamente, pois um verdadeiro tesouro de informações pode ser
encontrado em quase todas as sentenças. Na verdade, se você for entender qualquer sentença
totalmente, vai entender todo o sistema de pensamento do Curso. Na presente sentença,
encontramos a estratégia do ego desvelada: os pensamentos inventados e que não perdoam
em nossas mentes são protegidos pelo mundo e pelo corpo, que foram inventados também.

(3:3) O seu propósito é mostrar-te alguma outra coisa e impedir a correção através de
auto-enganos feitos para tomar o lugar da correção.

O propósito das defesas – experiências corporais de dor ou prazer – é demonstrar que


nossos problemas e soluções existem fora de nós, assim como a felicidade, espiritualidade e
doença. Assim, eles nos mostram “algo mais”. Lembre-se, o medo do ego é o de que em algum
ponto nós percebamos nosso equívoco e escolhamos a Expiação. A defesa dupla, portanto,
tem como seu propósito impedir que jamais escolhamos a correção. Enraizar nossa atenção na
ausência de mente – o “algo mais” – efetivamente nos impede de voltarmos para a condição
repleta de mente que é nossa meta da mente certa. Na seguinte passagem, Jesus nos impele
a reconhecermos o poder de nossas mentes, conforme ele expõe a estratégia do ego de
depreciá-lo:

O teu pensamento tem feito isso por causa do poder que ele tem, mas o teu
pensamento também é capaz de salvar-te disso, porque esse poder não é feito por
ti. A tua capacidade de dirigir o teu pensamento da forma que escolheres é parte do
poder que ele tem. Se não acreditas que podes fazer isso, negaste o poder do teu
pensamento e assim o tornaste impotente em tua crença.
A engenhosidade do ego para se preservar é enorme, mas brota do próprio poder da
mente que o ego nega. Isso significa que o ego ataca aquilo que o está
preservando... O ego suga da única fonte que é totalmente inimiga da sua existência
para a sua existência. Com medo de perceber o poder dessa fonte, é forçado a
depreciá-lo... O ego, portanto, quer engajar a tua mente no seu próprio sistema
delusório, pois de outro modo, a luz da tua compreensão o dissiparia (T-7.VI.2:5-
3;2,5-6; 8:5).

251
(4:1-2) E, no entanto, a tua mente só contém o que pensa com Deus. Os teus auto-
enganos não podem tomar o lugar da verdade.

Apesar dos nossos sonhos febris de pecado, culpa e medo, ou qualquer de nossas
experiências auto-ilusórias no mundo, a realidade não foi afetada. No texto, Jesus compara
culpa a finas nuvens, colunas de fumaça, ou frágeis véus sem poder de ocultar a luz. Já
examinamos uma passagem descrevendo essa fragilidade. Aqui estão duas sentenças sobre
isso:

Sua [da culpa] transparência e pouca consistência não são evidentes até que vejas
a luz por trás dela. E então tu a vês como um frágil véu diante da luz (T-18.IX.5:3-4).

A mesma idéia é expressa novamente, mas com imagens diferentes:

(4:3) Assim como uma criança que joga um pedaço de pau no oceano não consegue
mudar a subida e a descida das marés, o aquecimento da água pelo sol, o prateado da
lua sobre ela à noite.

O ego é apenas uma criança agitando um pedaço de pau, tentando deter a inevitabilidade
da verdade, mas sem nenhum efeito. Ou, para mudar as imagens, somos como um pequeno
camundongo rugindo em um minúsculo canto do universo, pensando que podemos efetuar
mudanças ou que alguém até mesmo está nos percebendo (T-21.VII.3:11). Lembre-se dessa
passagem de “O pequeno jardim” que também captura a insignificância do ego; tão
insignificante de fato que Deus (o sol e o oceano) nem mesmo está ciente da sua existência:

Esse fragmento da tua mente é uma parte tão diminuta dela que, se apenas
pudesses avaliar o todo, imediatamente verias que ele é como o menor dos raios de
sol é para o sol ou como a mais leve onda na superfície do oceano. Em sua
surpreendente arrogância, esse diminuto raio de sol decidiu que é o sol, essa onda
quase imperceptível aclama a si mesma como se fosse o oceano.... Entretanto, nem
o sol e nem o oceano estão sequer conscientes de toda essa estranha atividade
sem significado (T-18.VIII.3;3-4; 4:1).

(4:4) Com isso em mente, iniciamos cada período de prática nesta revisão aprontando as
nossas mentes para compreendermos as lições que lemos e vermos o significado que
nos oferecem.

Nós primeiro nos tornamos conscientes das nossas defesas contra a verdade: “Minha
mente contém apenas o que eu penso com Deus”. Nós somos continuamente levados de volta
ao princípio fundamental no Um Curso em Milagres de que o propósito de um relacionamento
com o Espírito Santo é nos ajudar a olhar para as defesas do ego. O amor em nossas mentes
não é o problema, que é apenas o medo do que ele representa – a perda do nosso ser
separado. Nós precisamos ver como protegemos esse ser pelas coisas insanas que fazemos
no mundo, pensando que são importantes, pois acreditamos que nosso especialismo é
importante.

(5:1-2) Começa cada dia com um tempo dedicado à preparação da tua mente para
aprender o que cada idéia que revisares naquele dia pode te oferecer em liberdade e em
paz. Abre a tua mente e limpa-a de todos os pensamentos que querem enganar...

Nossa função é abrirmos a mente para trazer as ilusões do ego à verdade de Jesus;
estarmos cientes do que nos torna ansiosos, deprimidos, zangados, excitados, em êxtase –
todas as coisas, prazerosas ou dolorosas, que pensamos serem reais e vitais para nosso bem-
252
estar. Precisamos perceber que esses pensamentos são partes conscientemente escolhidas
da estratégia do ego para nos manter distantes das nossas mentes fechadas e da verdade que
espera por nós lá. Uma vez que voltamos e abrimos nossas mentes, damos nossos
pensamentos a Jesus, significando que pedimos sua ajuda para olhar para eles e liberá-los.
Então:

(5:2-4) ... deixando apenas esse pensamento ocupá-la por inteiro e removendo o resto:

Minha mente contém só o que eu penso com Deus.

Cinco minutos com esse pensamento será o suficiente para estabelecer o dia de acordo
com as linhas que Deus designou e para colocar a Sua Mente à cargo de todos os
pensamentos que receberás naquele dia.

Quando liberamos nosso investimento nos pensamentos do ego, apenas o Espírito Santo
permanece. Não precisamos fazer nada sobre Seus pensamentos, apenas sobre os nossos
próprios. Essa é a vigilância de que Jesus fala tão freqüentemente no texto:

Se mantiveres em mente o que o Espírito Santo te oferece, não podes ser vigilante a
favor de coisa alguma, a não ser de Deus e do Seu Reino. A única razão pela qual
podes achar isso difícil de aceitar é que podes ainda pensar que existe algo mais. A
crença não requer vigilância a não ser que seja conflitada. Se é, existem
componentes conflitantes dentro dela que conduziram a um estado de guerra e a
vigilância, então, veio a ser essencial. A vigilância não tem lugar na paz. Ela é
necessária contra crenças que não são verdadeiras e nunca o Espírito Santo teria
apelado para isso, se não tivesses acreditado no que não é verdadeiro. Quando
acreditas em alguma coisa, fazes com que seja verdadeira para ti (T-7.VI.7:1-7).

Assim, ser “vigilante por Deus e por Seu Reino” (T-6.V-C) significa que nós buscamos
manter uma vigilância pelo nosso ego, trazendo nossas escolhas equivocadas pela separação
e especialismo à Expiação, que reflete o Pensamento da criação que mantemos com Deus.

(6) Eles [esses pensamentos] não virão só de ti, pois todos serão compartilhados com Ele.
E assim, cada um te trará a mensagem do Seu Amor e retornará a Ele com mensagens
do teu. Deste modo, a comunhão com o Senhor dos Anfitriões será tua, como a Sua
Vontade determinou que seja. E à medida que Aquele que o completa se une a Ele, Ele
se unirá a ti que estás completo quando te unes a Ele e Ele a ti.

Essa é outra expressão adorável da nossa Unicidade como Cristo, em unidade Consigo
Mesmo, e com Sua Fonte. A frase bíblica “Senhor dos Anfitriões” simboliza a Divindade: Deus
e Cristo. É interessante notar que nessa revisão, Jesus está nos pedindo para nos focalizarmos
primariamente em nossa unicidade com Deus. Em outro trecho, sua ênfase está em perceber
nossa unicidade uns com os outros, através do perdão, como o passo em direção a lembrar da
nossa Unicidade no Céu.
O procedimento para essa revisão é o de que nós primeiro nos tornamos conscientes dos
pensamentos do ego que interferem, pedindo ajuda a Jesus para olharmos para eles.
Conforme sua escuridão desaparece em sua luz, o que resta são os pensamentos que temos
com Deus. Jesus agora nos apresenta instruções específicas para os dez dias de revisão que
se seguem, duas lições por dia:

(7:1-5) Após a tua preparação, apenas lê cada uma das duas idéias que te são
designadas para revisão naquele dia. Em seguida, fecha os teus olhos e dize-as
lentamente para ti mesmo. Não há nenhuma pressa agora, pois estás usando o tempo
253
com o propósito para o qual ele foi destinado. Deixa que cada palavra brilhe com o
significado que Deus lhe deu, tal como ela te foi dada através da Sua Voz. Deixa que
cada idéia que revisares naquele dia te dê a dádiva que Ele depositou nela para que tu a
recebas Dele.

Ao deixarmos de lado nosso investimento nos “pensamentos do ego que interferem” – os


gritos estridentes que nos impedem de ouvir a Voz de Deus – o significado das Suas palavras
brilham através de nossas mentes felizes. Cada um simboliza o fim da escuridão, conforme
trazemos nossos pensamentos de culpa e julgamento à Sua luz misericordiosa. Assim, cada
período de prática será de alegria, refletindo nossa alegria eterna quando as palavras do
Espírito Santo a nós se tornam o Verbo de Deus, e estamos em casa.

(7:6-8:2) E não estipularemos nenhum formato para a nossa prática, a não ser isso:
A cada hora do dia, traze à tua mente o pensamento com o qual o dia começou e
passa com ele um momento quieto. Em seguida, repete as duas idéias que praticas
naquele dia, sem pressa, com tempo suficiente para ver as dádivas que contêm para ti e
deixa que sejam recebidas lá onde lhes foi designado estar.

Jesus está no pedindo para unificarmos nossos dias ao redor desses dois pensamentos,
para que nossas dádivas de separação e especialismo possam ser transformadas pelo perdão
em dádivas de amor que ele guarda para nós. Ele sempre as têm mantido em nossas mentes,
mas, quando renunciamos a elas, essas dádivas amorosas continuaram esperando pelo nosso
retorno. Como parte da nossa prática meditativa, deixe-nos mais uma vez ler as palavras
amorosas de Jesus a nós no texto, que expressam as mesmas dádivas que sua revisão nos
oferece:

Como podes tu, que és tão santo, sofrer? Todo o teu passado, exceto a sua beleza,
se foi e nada ficou além de uma benção. Eu guardei toda a tua benignidade e todos
os pensamentos de amor que jamais tiveste. Eu os tenho purificado dos erros que
escondiam a luz que estava neles e os tenho conservado para ti na radiância
perfeita que lhes é própria. Eles estão além da destruição e além da culpa. Vieram
do Espírito Santo dentro de ti e nós sabemos que o que Deus cria é eterno. Tu
podes, de fato, partir em paz, porque eu tenho te amado como amei a mim mesmo.
Tu vais com a minha bênção e pela minha bênção. Mantém-na e compartilha-a para
que possa ser sempre nossa. Eu coloco a paz de Deus no teu coração e nas tuas
mãos para manteres e compartilhares. O coração é puro para mantê-la e as mãos
são fortes para dá-la. Nós não podemos perder. Meu julgamento é tão forte quanto a
sabedoria de Deus, em Cujo Coração e em Cujas Mãos nós temos o nosso ser. As
crianças quietas de Deus são os Seus Filhos abençoados. Os Pensamentos de
Deus estão contigo (T-5.IV.8).

(9) Não acrescentamos nenhum outro pensamento, mas deixamos que estes sejam as
mensagens que são. Não precisamos nada mais do que isso para nos dar felicidade e
descanso, quietude sem fim, certeza perfeita e tudo o que é a Vontade do nosso Pai que
recebamos como a herança que temos Dele. À medida que revisamos, encerraremos
cada dia de prática como começamos, primeiro repetindo o pensamento que fez daquele
dia uma ocasião especial de bênção e felicidade para nós, o qual através da nossa fé
restabeleceu o mundo da escuridão à luz, da aflição à alegria, da dor à paz, do pecado à
santidade.

O objetivo de Jesus para nós, mais uma vez, é que cada um de nossos dias seja
emoldurado por um pensamento de perdão, começando e terminando da mesma forma, com
cada momento entre eles repleto do mesmo pensamento, ao qual levamos nosso medo, culpa
254
e dor, para que possam ser gentilmente substituídos pela alegria, paz e cura. Isso me lembra
da imagem do arco – depois transmutado em um arco-íris – que D.H. Lauwrence imortalizou
em seu magnífico romance, O Arco-íris. Depois de Tom e Lydia curarem seu instável
relacionamento marital, Lawrence descreve o amor protetor dentro do qual sua filha Anna pôde
então crescer, sua vida emoldurada pelos dois pilares ee amor e força representados por seus
pais:

A alma de Anna foi colocada em paz entre eles. Ela olhou de um para o outro, e os
viu determinados em sua segurança, e então estava livre. Ela brincou entre o pilar
de fogo e o pilar de nuvens em confiança, tendo a confiança em sua mão direta e
em sua mão esquerda. Ela não era mais chamada para manter com sua vontade
infantil o final quebrado do arco. Seu pai e sua mãe agora tinham se estendido até
os céus. E ela, a criança, estava livre para brincar no espaço abaixo, entre eles. 5

Jesus então nos pede para vermos nossos dias como emoldurados pelos pilares de
perdão e amor, permitindo que sua força quieta e gentil proteção nutra nossa experiência e
sustente nosso aprendizado, conforme nos movemos “da escuridão à luz, da aflição à alegria,
da dor à paz, do pecado à santidade”.

(10) Deus oferece agradecimentos a ti, que praticas assim o cumprimento do Seu Verbo.
E, ao dar a tua mente às idéias do dia mais uma vez antes de dormir, a Sua gratidão te
cerca na paz onde é a Vontade de Deus que estejas para sempre, a qual agora estás
aprendendo a reivindicar mais uma vez como tua herança.

Que maneira mais bela de terminar essas introduções, em preparação para o período de
revisão de dez dias, do que citar essa adorável passagem que nos lembra do Amor e gratidão
de Deus, conforme abrimos nossas mentes e corações para recebermos Sua dádiva de
Completeza, a dádiva do nosso Ser:

Deus oferece gratidão ao anfitrião santo que quer recebê-Lo e O deixa entrar e
habitar onde Ele quer estar. E pelas tuas boas-vindas Ele também te dá boas-vindas
em Si Mesmo, pois o que está contido em ti, que Lhe dás boas-vindas, é devolvido a
Ele. E nós apenas celebramos a Sua Integridade quando damos boas-vindas a Ele
em nós mesmos. Aqueles que recebem o Pai são um com Ele, sendo anfitriões para
com Aquele Que os criou. E por permitir que Ele entre, a lembrança do Pai entra
com Ele e com Ele aqueles que O recebem se lembram do único relacionamento
que jamais tiveram e jamais querem ter (T-15.XI.9).

5
Wordworth, Classics edition, p. 79.
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