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Neste texto, Marie Suel propõe-se a falar sobre os medos, aqui os de uma criança no início
de sua vida e, no extremo oposto, os de um velho homem. O encontro tem lugar no quarto
da criança, a meio da noite, chamando a atenção para o momento presente e dando
especial destaque à cumplicidade que vai sendo construída entre estas duas personagens, a
partir de um conjunto de jogos, desvelando-se a alegria por entre os medos da morte, do
abandono, do desconhecido ou do fracasso. Jocelyne e Marcelle, é assim que vão sendo
batizados os medos e, à medida que lhes vão sendo atribuídos nomes, eles
desaparecem. Marie Suel, dramatyrga francesa, mas também cantora e teclista de um grupo
rock, inscreve no texto a presença da música, através de canções, que segundo a autora,
devem mesmo ser cantadas pelos atores.
Este é um espetáculo que, de forma original e inesperada, estimula a relação entre crianças
e idosos, não pela diferença, mas sim pela aproximação das suas experiência de vida, as
quais apresar de tão díspares, parecem tocar-se. Explora a capacidade vital, e muitas vezes
menosprezada na educação da crianças e no desenvolvimento pessoal dos adultos, de dar
nomes às múltiplas emoções que sentimos, como aponta a investigadora Susan David no seu
livro “Emotional Agility”, acrescentado que não há emoções boas ou más. Apenas, devemos
sentir todas as emoções e aprender a lidar com elas.
As personagem partilham as suas ideias, sensações físicas e psicológicas relativas aos medos
que têm, e, de uma forma não espetacular, nem “super-heróica”, aprendem a esperar por
eles, a apaziguá-los e a domá-los. Falam do medo do aquecimento global, medo de não
serem amados, de serem gozados, ou do medo do primeiro bypass. E o velho homem
conclui: “Minha filha, tu não és o medo, tu SENTES o medo. Não é a mesma coisa.”
Durante o espetáculo, o diálogo entre a criança e o velho homem abre-se aos espetadores,
de forma não intrusiva, projetando alguns medos universais nos adultos e crianças
presentes, estabelecendo assim uma cumplicidade e uma unidade de espaço, entre a cena e
a plateia.