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2022

DÍVIDA PÚBLICA
ESCOLA SECUNDÁRIA D. MARIA II
ECONOMIA A

Carolina Alves, nº5


Nuno Alves, nº17
Ricardo Martins, nº20
Dívida Pública

RESUMO

Este trabalho resulta da pesquisa coletiva realizada por três alunos de Economia
A da escola D. Maria II cujo objetivo é analisar o significado de dívida pública e como
o nosso país e a Zona Euro têm vindo a reagir com a evolução deste mesmo indicador
económico.
Em Portugal, a maior parte dos investimentos realizados pelo Estado tem sido
financiada por terceiros, provocando um aumento da dívida pública nesta década
(exceto no ano de 2019). Ao longo do trabalho iremos explorar este tema dividindo-o
em vários subtemas, por exemplo, como se financiam os Estados-Membros da Zona
Euro, causas do aumento da dívida pública portuguesa, peso da dívida pública, entre
muitos outros assuntos.
Vamos fazer a distinção entre dívida pública, dívida privada e dívida externa,
líquida e bruta, e apresentar diversos gráficos e tabelas que mostrem os seus
comportamentos com o passar dos anos e com outros fatores que influenciaram a
mesma dívida, tal como o Covid-19, a crise de 2008 e a atual guerra entre a Ucrânia e a
Rússia.

Palavras chave: Défice Orçamental, Receitas, Despesas, Dívida, Zona Euro,


Portugal, Tratado de Maaschtrit, Pandemia, financiamento, endividamento.

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Dívida Pública

ABSTRACT

This work is the result of collective research carried out by three Economics A
students from the D. Maria II school whose objective is to analyze the meaning of
public debt and how our country and the Euro Zone have been reacting with the
evolution of this same economic indicator.
In Portugal, most investments made by the State have been financed by third parties,
causing an increase in public debt in this decade (except in 2019). Throughout the work,
we will explore this topic by dividing it into several sub-themes, for example, how the
Eurozone Member States are financed, causes of the increase in Portuguese public debt,
the weight of public debt, among many other subjects.
We will distinguish between public debt, private debt and external debt, net and gross,
and present several graphs and tables that show their behavior over the years and with
other factors that influenced the same debt, such as Covid-19, the 2008 crisis and the
current war between Ukraine and Russia.

Keywords: Budget Deficit, Revenue, Expenditure, Debt, Eurozone, Portugal, Maaschtrit

Treaty, pandemic, financing, indebtedness

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Dívida Pública

ÍNDICE

Índice de quadros...............................................................................................................5
Lista de abreviaturas.........................................................................................................6
Introdução..........................................................................................................................7
O que é a dívida pública?..................................................................................................8
Produtos de dívida pública................................................................................................9
Diferenças dos certificados de aforro e obrigações do tesouro.......................................12
Diferença dos certificados do tesouro e certificados de tesouro.....................................12
O que é a dívida pública na otica de Maastricht?............................................................13
Dívida pública portuguesa...............................................................................................14
Impactos do PIB na dívida pública..................................................................................16
Evolução da dívida pública portuguesa...........................................................................17
Financiamentos a curto prazo em Portugal.....................................................................18
Dívida pública dos Estados-Membros da Zona Euro......................................................21
Orçamento da UE............................................................................................................23
Como se financiam os Estados-Membros da Zona Euro.................................................24
Efeitos da crise mundial, da pandemia e da guerra na dívida pública.............................25
Dívida privada.................................................................................................................27
Dívida pública vs Dívida privada....................................................................................29
Dívida externa bruta........................................................................................................30
Dívida externa líquida.....................................................................................................31
Dívida externa bruta e líquida.........................................................................................35
Porque é que a dívida externa é um problema?...............................................................36
Dívida pública vs Dívida externa....................................................................................37
Dívida pública, privada e externa....................................................................................38
Conclusão........................................................................................................................39
Bibliografia......................................................................................................................40

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Dívida Pública

ÍNDICE DE QUADROS

Figura 1 – Certificados de aforro.......................................................................................9


Figura 2- Taxa de rendibilidade das obrigações do tesouro...........................................11
Figura 3- Taxa de rendibilidade das obrigações do tesouro, pós pandémico.................12
Figura 4 - Dívida pública na ótica de Maastricht.............................................................15
Figura 5- Dívida pública em % do PIB..............................................................................16
Figura 6 - Evolução do PIB pós pandemia.......................................................................17
Figura 7- Financiamentos a curto prazo..........................................................................19
Figura 8 - Divisão por setores da dívida pública..............................................................20
Figura 9- Financiamento das administrações públicas...................................................21
Figura 10 - Dívida pública em % do PIB na UE.................................................................22
Figura 11- Evolução da dívida pública na UE...................................................................23
Figura 12- Dívida pública pós crise..................................................................................26
Figura 13- Dívida privada na zona euro...........................................................................28
Figura 14- Dívida externa bruta em Portugal..................................................................31
Figura 15 - Componentes da dívida externa líquida.......................................................32
Figura 16 - Evolução da componente Posição de investimento internacional...............33
Figura 17 - Dívida externa líquida em % do PIB..............................................................34
Figura 18 - Dívida externa em % do PIB nos países da zona euro...................................35
Figura 19 - Dívida externa bruta e líquida em % do PIB..................................................36

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Dívida Pública

LISTA DE ABREVIATURAS

PIB – Produto Interno Bruto


UE – União Europeia
M€ - Milhões de Euros
OT – Obrigações do Tesouro
CTT - Correios, Telégrafos e Telefones
IGPC - Instituto de Gestão do Crédito Público
PEC – Pacto de Estabilidade e Crescimento
PDE – Procedimento relativo aos Défices Excessivos
p.p – Pontos Percentuais
CFP – Conselho de Finanças Públicas
PSPP – Programa de aquisição de obrigações de dívida pública
PEPP – Programa de compras de emergência pandémica
CEE – Comunidade Económica Europeia
IVA – Imposto sobre o Valor Acrescentado
RNB – Rendimento Nacional Bruto
MEE – Mecanismo Económico de Estabilidade
BCE- Banco Central Europeu
PII – Posição de Investimento Internacional
BdP – Banco de Portugal
DP – Dívida Pública
DEP – Dívida Externa Privada
EUA – Estados Unidos da América
FMI – Fundo Monetário Internacional
e.g – por exemplo
i.e – ou seja
UEM – União Europeia Monetária

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Dívida Pública

INTRODUÇÃO

No estudo da dívida pública são correlacionadas várias áreas de estudo,


nomeadamente:

 Défice orçamental;
 Receitas e despesas do Estado;
 Dívida externa;
 Endividamento das Famílias;
 PIB.
A entrada de Portugal na UE possibilitou condições de crescimento e
desenvolvimento económico, para as quais os fundos europeus muito contribuíram: o
país convergiu com a média europeia (na educação, saúde, proteção social), avançou
significativamente no conhecimento científico e na inovação, modernizou as
infraestruturas e adquiriu padrões de consumo e hábitos culturais próprios de uma
sociedade desenvolvida.
No entanto, verificou se a permanência dos desequilíbrios estruturais com a fraca
produtividade da economia, o défice das trocas com o exterior e o endividamento
externo, agravados com a adesão à moeda única, o euro, e com a crise financeira e
económica que atravessou o país e afetou todos os países da união, em particular os
países da periferia da Zona Euro.

Porque optamos por este tema?

Com a consideração de todos os elementos do grupo, elegemos este tema devido


ao escasso conhecimento sobre este e porque os dados apresentados no manual
escolar já não estão atualizados, sendo de anos muito anteriores onde são
apresentadas dívidas muito diferentes da que sentimos nos dias de hoje. Com isto,
podemos comparar os dados que encontramos na internet com os dados do manual,
sendo mais fácil fazer uma análise geral do indicador ao longo dos anos. Decidimos
abordar este assunto para melhorar os nossos conhecimentos acerca da dívida pública
e da situação do nosso país relativamente à mesma.

A metodologia utilizada neste trabalho foi a pesquisa na Internet, enriquecida com


o manual escolar e alguns PowerPoint analisados nas aulas.

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Dívida Pública

O QUE É A DÍVIDA PÚBLICA?

A dívida pública é a dívida de um determinado Estado. Como qualquer dívida, é


um conjunto de compromissos financeiros vencíveis em dado prazo (curto, médio e
longo prazo). É usual fazer-se a separação entre dívida de longo prazo e dívida de curto
prazo.
O Estado tem receitas e despesas. As receitas provêm essencialmente dos
impostos, que depois são gastos em despesas de saúde, educação, reformas, subsídios,
ordenados e investimentos públicos. Assim, quando os impostos e outras receitas não
são suficientes para cobrir o défice orçamental, o Estado é financiado por credores
(pessoas físicas, empresas, bancos, etc) através da contração de empréstimos, dando
origem à dívida pública.
Uma vez que tenha sido criada, a dívida pública exige o pagamento periódico de
juros, amortizações e reembolsos dos empréstimos. Os encargos com os juros tendem a
aumentar com o crescimento da dívida pública.
A dívida pública pode ser:
 Interna – se os financiadores são residentes no país;
 Externa – se os financiadores não são residentes no país.

A dívida pública interna representa um menor encargo para a economia nacional


do que a dívida pública externa, pois é financiada com poupanças internas e os juros são
pagos a agentes económicos residentes.

Uma das formas de fazer esse financiamento é recorrer à captação das poupanças
dos cidadãos através de produtos de dívida pública. Podendo recorrer ao mercado, por
exemplo, através da emissão de obrigações do tesouro ou bilhetes do tesouro, e de
títulos de dívida pública destinadas às famílias, como os certificados de aforro ou os
certificados do tesouro.

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Dívida Pública

PRODUTOS DE DÍVIDA PÚBLICA

- Certificados de aforro: Os certificados de aforro são títulos de dívida criados com o


objetivo de captar a poupança das famílias. É uma forma de o Estado se financiar
através dos seus cidadãos em troca de uma taxa de juro.

Figura 1 – Certificados de aforro

De acordo com os dados do Banco de Portugal, as aplicações em certificados de


aforro têm vindo a subir consecutivamente desde o início do ano e apresentam um valor
de cerca de 12 511, 82 M€ no ano de 2022. Efetivamente, os certificados de aforro
apresentam taxas de juro mais elevadas e têm também um montante mínimo de
investimento mais reduzido que a maioria dos depósitos a prazo. Outra característica
que os torna interessantes é a existência de um prémio de permanência, ou seja, um juro
que vai capitalizando consoante o tempo que detiver os títulos.

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Dívida Pública

- Certificados do Tesouro: Os certificados do Tesouro são outro produto de poupança


destinado a particulares, mas com menor liquidez e um valor de investimento superior.
Os Certificados do Tesouro, atualmente em comercialização, têm um prazo
máximo de 7 anos e um montante mínimo de subscrição de 1 000€.
Neste caso, os juros são pagos anualmente a uma taxa de base crescente, isto é,
que aumenta com o passar dos anos. A partir do segundo ano, além do juro, recebe
também um prémio de permanência associado ao crescimento do PIB (se este for
positivo).
O bónus dos Certificados do Tesouro é calculado com a média de crescimento
dos últimos quatro trimestres em termos homólogos. Ou seja, ainda não “esqueceu”
totalmente a pandemia, pois ainda contabiliza as quebras de 6,8% e 5,7% do PIB
verificadas no quatro trimestre de 2020 e no primeiro trimestre de 2021, respetivamente.
Ainda assim, quando esses dois trimestres negativos ficarem para trás e se passar
a contar a informação mais recente, os prémios vão crescer consideravelmente, devido
principalmente ao crescimento do PIB que se espera sentir (a Comissão Europeia prevê
um crescimento de 5,1%).

- Obrigações do Tesouro: As Obrigações do Tesouro (OT) constituem o principal


instrumento utilizado pelo Estado português para satisfazer as suas necessidades de
financiamento. Ao contrário dos produtos anteriores, as Obrigações do Tesouro
destinam-se a investidores institucionais como fundos de pensões, fundos de
investimentos e bancos, quer nacionais ou internacionais.
Um particular não as pode adquirir no momento da emissão, mas apenas depois
em Bolsa, como acontece com as ações. Para isso é necessário recorrer a um
intermediário e pagar as respetivas comissões. O valor mínimo a investir vai depender
das condições da oferta.
As OT são valores mobiliários de médio e longo prazo, cuja emissão se efetua
através de operações sindicadas ou leilões e que podem ser emitidas com:
 prazos entre 1 e 50 anos;
 com ou sem cupão (cupão zero);
 taxa de juro fixa;
 amortizáveis no vencimento pelo seu valor nominal.

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Dívida Pública

Figura 2- Taxa de rendibilidade das obrigações do tesouro

Em 2021, a taxa de rendibilidade das obrigações do tesouro portuguesas a 10 anos


voltou a situar-se nos níveis pré-pandemia.

Figura 3- taxa de rendibilidade das obrigações do tesouro, pós pandémico

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Dívida Pública

DIFERENÇAS DOS CERTIFICADOS DO TESOURO


E OBRIGAÇÕES DO TESOURO

Os Certificados do Tesouro e as Obrigações do Tesouro são ambos títulos de


dívida pública nacional, o que significa que é o Estado português que garante o
pagamento dos juros e o reembolso do capital investido. No entanto, são produtos de
dívida muito diferentes.
Certificados do tesouro Obrigações do Tesouro
Prazo de investimento 7 anos 50 anos
máximo
Montante mínimo 1000€ Não tem
Pagamento de juros Anual, sendo o valor Anual, sendo o valor
creditado na conta creditado na conta
bancária do subscritor bancária do investidor
Onde adquirir Nos CTT ou na plataforma Em bolsa, como as ações
Aforro Net do IGPC
Resgate do montante 3 meses após a subscrição Não pode ser resgatado,
tem de se esperar pelo
reembolso ou vender em
bolsa

DIFERENÇA DOS CERTIFICADOS DO TESOURO E


CERTIFICADOS DE AFORRO

Certificados do Tesouro Certificados de aforro


Prazo de investimento 7 anos 10 anos
máximo
Montante mínimo 1 000€ 100€
Montante máximo 1 000 000€ 250 000€
Pagamento de juros Taxa anual crescente vai capitalizando
predefinida, sendo que a consoante o tempo que
partir do segundo ano detiver os títulos.
existe um prémio extra
correspondente a 40% do
PIB.
Resgate do montante 3 meses após a subscrição Só um ano após a
subscrição

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Dívida Pública

O QUE É A DÍVIDA PÚBLICA NA ÓTICA DE MAASTRICHT?

De acordo com esta ótica, a dívida pública engloba as responsabilidades em


numerário e depósitos constituídos junto das administrações públicas (como os
certificados de aforro ou do Tesouro), os títulos de dívida emitidos pelas administrações
públicas (destacando-se, entre outros, as obrigações e os bilhetes do Tesouro) e os
empréstimos obtidos por estas entidades.
Não são incluídos no cálculo da dívida pública na ótica de Maastricht alguns
instrumentos financeiros, tais como as ações e outras participações, os derivados
financeiros e os outros débitos/créditos (nos quais se incluem as dívidas comerciais).
O valor da dívida pública é expresso em unidades monetárias, mas, para fins de
análise é, frequentemente, apresentado em percentagem do PIB.
Os Estados-membros da UE, no Tratado de Maastricht, acordaram em manter a
dívida pública num valor inferior a 60% do PIB e um défice orçamental inferior a 3%
do PIB. No PEC, os Estados-membros comprometeram-se a manter uma situação
orçamental positiva ou próxima do equilíbrio. Estes valores encontram-se definidos no
Protocolo anexo ao Tratado da UE sobre o procedimento relativo aos défices excessivos
(PDE), no qual também se refere que os Estados-Membros devem enviar à Comissão
Europeia informação sobre o défice e dívida do respetivo país.
Em Portugal, o rácio entre a dívida pública na ótica de Maastricht e o PIB
nominal situou-se em 137,3% do PIB no final do 1.º trimestre de 2021, o que reflete um
aumento homólogo de 18,1 p.p. do PIB. Esta variação homóloga resulta do efeito
denominador do PIB (7,9 p.p.), bem como dos fatores incluídos no efeito numerador
(10,2 p.p.): o défice orçamental e o acréscimo dos ativos em depósitos das
Administrações Públicas. Excluindo a aplicação de ativos em depósitos pelas
Administrações Públicas, a dívida pública situou-se em 124,8%, sendo 14,8 p.p.
superior ao registado no final do trimestre homólogo.

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Dívida Pública

DÍVIDA PÚBLICA PORTUGUESA

Em junho de 2021, a dívida pública portuguesa situou-se em 277,5 mil milhões de


euros, um aumento de 2,7 mil milhões de euros face ao mês anterior. Para este aumento
contribuíram essencialmente as emissões de títulos de dívida (2,2 mil milhões de euros).
No final de 2021, a dívida na ótica de Maastricht, totalizava 269,6 mil milhões de
euros, menos 0,9 mil milhões de euros do que no final de 2020. Esta redução refletiu
amortizações de títulos de dívida, no valor de 4,6 mil milhões de euros, que foram
parcialmente compensadas pelo aumento de passivos em depósitos (1,4 mil milhões de
euros), nomeadamente depósitos de entidades terceiras junto das administrações
públicas e certificados de aforro e do Tesouro, e em empréstimos (2,4 mil milhões de
euros).

Figura 4 - dívida pública na ótica de Maastricht

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Dívida Pública

As contas feitas em percentagem do PIB, na ótica de Maastricht (o critério do Pacto


de Estabilidade e Crescimento), apontavam para que estivesse nos 135,2% da riqueza
produzida em Portugal no ano de 2020.
O Banco de Portugal confirmou que Portugal retomou em 2021 a trajetória de
redução da dívida pública, interrompida pela pandemia. A dívida pública sofreu uma
forte redução de 7,7 p.p. do PIB diminuindo de 135,2% em 2020 para 127,5% em 2021.
Foi a maior redução da dívida pública (em % do PIB) de sempre e a primeira vez em
democracia que a dívida pública se reduziu em valor nominal, tendo diminuído 900
milhões de euros face a 2020.

Figura 5- dívida pública em % do PIB

Esta forte redução da dívida pública foi possível devido à forte recuperação da
economia portuguesa, à melhoria das contas públicas e à otimização da tesouraria global
do Estado.
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Dívida Pública

Este resultado foi uma excelente notícia para Portugal. A retoma da trajetória de
redução da dívida pública é fundamental para a credibilidade internacional da república
e para a confiança na economia portuguesa.
No atual contexto de normalização da política monetária a nível europeu, permite
assegurar maior segurança e estabilidade e melhores condições de financiamento para o
Estado, para as empresas e para as famílias. Um fator fundamental absolutamente
determinante para a recuperação da economia portuguesa e para o investimento.

IMPACTOS DO PIB NA DÍVIDA PÚBLICA

O cálculo da dívida pública em percentagem do PIB dita que se o Produto Interno


Bruto aumentar, então a dívida pública “pesa menos”, mesmo que em termos absolutos
continue igual.
Em 2009, a economia portuguesa contraiu 1,9% seguida de uma evolução positiva
de 2,6% em 2010. Mas os dois anos seguintes foram de recessão crítica: em 2011, o PIB
desceu 2,1% e em 2012 caiu 4,4%, prejudicando assim o rácio da dívida.
“Desde o final de 2008, o rácio da dívida registou um significativo incremento de
52 p.p. do PIB (passando de 72 para 124% do PIB em 2012), decorrente dos
acréscimos anuais verificados, os quais foram sempre superiores a dez pontos
percentuais”, lê-se na análise à dívida pública feita pelo CFP em 2013. “O crescimento
do rácio foi acentuado pela quebra do PIB nominal “, explica o Conselho de Finanças
Públicas no mesmo documento.
A economia portuguesa cresceu 4,9% em 2021, após a queda de 8,4% em 2020,
influenciada pelo impacto da crise pandémica na atividade económica. Em 2021 a
dívida pública em percentagem do PIB diminuiu e o PIB aumentou, não se verificando
o que se verificou em 2011-2012.

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Figura 6 - Evolução do PIB pós pandemia
Dívida Pública

EVOLUÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA PORTUGUESA

É entre 2005 e 2011 e entre 2011 e 2016 que se verificam as subidas mais
íngremes da dívida pública portuguesa. O principal abalo é explicado pelo empréstimo
de 78 mil milhões da troika (resgate financeiro), a partir de 2011. Além disso,
contribuíram para esse aumento:
 O impacto dos sucessivos défices;
 A dinâmica desfavorável entre os juros e o crescimento do PIB;
 O ajustamento défice-dívida.
O impacto dos défices é uma marca que acompanha quase todas as etapas desta
evolução, mas com especial enfoque nos anos de 2005, 2009 (défice de 9,8%) e 2010
(défice de 11,2%). A partir de 2010, os anos de 2011 e 2012 foram especialmente
afetados pelo que se chama o ajustamento défice-dívida, o que inclui o alargamento do
perímetro das Administrações Públicas que trouxeram as dívidas de empresas públicas
que anteriormente não contavam. Em 2011 e 2012, com a diminuição do PIB nominal,
relaciona-se diretamente o rácio da dívida pública, diminuindo também.
“Embora o aumento da dívida pública decorra essencialmente da necessidade de
financiar o défice das Administrações Públicas, existem outros fatores que podem
influenciar a variação da dívida pública, em termos absolutos”, explica um
apontamento de 2013 do CFP. Ou seja, existem gastos do Estado que, não estando
incluídos no défice, têm de ser financiados contraindo mais dívida.
Entre 2009 e 2012, a dívida pública deu um salto de 52%. Dessa percentagem, 44
pontos percentuais foram da responsabilidade do alargamento de perímetro, que
absorveu o endividamento dessas entidades. “Os restantes 8 p.p. do PIB
(aproximadamente 15% do total) ficaram a dever-se ao aumento do endividamento das
entidades e operações reclassificadas, bem como ao endividamento que o Estado teve
que efetuar para assegurar o financiamento das empresas públicas reclassificadas
(EPR), substituindo-se ao mercado financeiro”, explica o CFP.

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Dívida Pública

FINANCIAMENTOS A CURTO PRAZO


EM PORTUGAL

A dívida pública portuguesa não se destaca das restantes dívidas comunitárias


apenas por ser muito elevada quando comparada com o PIB nacional (em 2016, atingiu
130,4% do PIB, o terceiro valor mais alto da União Europeia). Os dados do Eurostat
mostram que só a Suécia e a Hungria apresentam uma fatia maior da dívida pública com
maturidade inicial inferior a um ano.

Figura 7- Financiamentos a curto prazo

O financiamento a curto prazo tem a vantagem imediata de pagar um juro mais


baixo. Contudo, também representa um risco acrescido, porque está mais vulnerável a
alterações súbitas das condições de mercado.

Outra característica que destaca a dívida portuguesa é a dimensão da fatia que


está colocada em famílias e empresas residentes: são 11% do total. A Irlanda apresenta
precisamente o mesmo valor, Malta destaca-se com um peso de 28% e a Hungria com

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Dívida Pública

18%. Todos os outros Estados-membros para os quais há dados apresentam uma fatia
inferior a 10%.

Ainda assim, somando a dívida que está colocada nos bancos residentes,
Portugal deixa de se destacar entre os países onde o recurso a poupanças domésticas é
mais representativo para financiar as administrações públicas. No total, os residentes
têm 41,8% da dívida pública portuguesa. O resto está colocado no estrangeiro.

Figura 8- divisão por setores da dívida pública

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Dívida Pública

Quanto às administrações públicas, em 2021 foram financiadas em 7,7 mil


milhões de euros, valor que compara com 12,3 mil milhões de euros registados em
2020.

Figura 9- financiamento das administrações públicas

Este financiamento foi obtido junto de bancos residentes (24,5 mil milhões de
euros), em grande medida através da aquisição, pelo banco central, de títulos de dívida
emitidos pelas administrações públicas, ao abrigo dos programas de compras de ativos,
designadamente o programa de aquisição de obrigações de dívida soberana (PSPP) e,
mais recentemente, o programa de compras de emergência pandémica (PEPP). Em
contrapartida, o financiamento concedido às administrações públicas pelo exterior e
pelos restantes setores da economia, em particular, pelo setor financeiro não bancário,
foi negativo, em 12,6 mil milhões de euros e em 4,0 mil milhões de euros,
respetivamente. Um financiamento líquido negativo indica que as aquisições líquidas de
ativos financeiros pelas administrações públicas são superiores às emissões deduzidas
de amortizações dos passivos, ou seja, as administrações públicas utilizaram parte dos
fundos obtidos para financiarem outros setores da economia.

20
Dívida Pública

DÍVIDA PÚBLICA
DOS ESTADOS-MEMBROS DA ZONA EURO

No âmbito da União Europeia, nomeadamente na zona euro, sendo a dívida


privada e a dívida pública inferiores, em dimensão, ao que estes fenómenos assumem
quer nos Estados Unidos da América quer no Japão (os três grandes blocos das
economias mais desenvolvidas), o problema da dívida colocou o projeto europeu na sua
mais profunda crise desde a criação da CEE, suscitando dúvidas sobre a sua viabilidade
futura.
No tratado Orçamental e nos critérios do PEC está implementada uma medida
em que não se pode ultrapassar o nível de endividamento de 60% do PIB, sendo que 14
dos 18 Estados que integram a Zona Euro ultrapassam esse mesmo valor. Nove desses
18 Estados ultrapassam inclusivamente o nível de 90% de dívida pública e quatro dos
18 países da zona euro ultrapassam os 120% de dívida pública relativamente ao
respetivo PIB.
Segundo o Eurostat, no 3º trimestre de 2021, a Dívida Pública em percentagem
do PIB no conjunto dos países da Zona Euro situou-se em 97,7%. Entre os Estados
Membros, os que se destacaram com maiores rácios de Dívida Pública (em percentagem
do PIB), no 3º trimestre de 2021, foram a Grécia (200,7%), Itália (155,3%), Portugal
(130,5%) e Espanha (121,8%). Em contrapartida a Estónia (19,6%), Bulgária (24,2%) e
Luxemburgo (25,3%) apresentaram os rácios mais baixos de Dívida Pública.

Figura 10 - Dívida pública em % do PIB na UE

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Dívida Pública

Em comparação com o trimestre anterior, sete Estados-Membros registaram um


aumento do rácio da dívida em relação ao PIB e vinte uma diminuição. As maiores
subidas do rácio foram observadas na Hungria (+2,9 pp), França (+1,5 pp) e Roménia
(+1,1 pp), enquanto as maiores descidas foram registadas na Grécia (-6,6 pp), Portugal
(- 4,9 pp), Croácia (-3,7 pp), Chipre e Bélgica (ambos -2,3 pp), Chéquia (-2,2 pp) e
Áustria (-2,1 pp).

EVOLUCÃO DA DÍVIDA PÚBLICA NA UE

Figura 11- Evolução da dívida pública na UE

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Dívida Pública

ORÇAMENTO DA UE

O orçamento da UE financia um vasto leque de atividades, que vão desde o


desenvolvimento rural e a defesa do ambiente à proteção das fronteiras externas e à
promoção dos direitos humano. A Comissão é responsável pela gestão do orçamento.
Para dar cumprimento aos objetivos definidos nos vários tratados, a UE tem de
pôr em prática diversas políticas económicas e sociais. Mas, para desenvolver as ações
necessárias, a UE precisa de meios financeiros, obtendo-os através dos seus próprios
recursos, nomeadamente a partir das contribuições dos Estados-Membros.
Tal como em Portugal, a UE também tem receitas e despesas, sendo o seu
orçamento alimentado pelos seguintes recursos:
 Direitos aduaneiros cobrados nas importações de produtos provenientes
de países terceiros;
 Contribuição proveniente do IVA de todos os estados membros;
 Contribuição de cada estado membro baseada no seu RNB.
 Coimas aplicadas pela Comissão;
 Impostos pagos pelo pessoal das instituições europeias;
 Com princípio em 2021, uma contribuição sobre os resíduos de
embalagens de plástico não reciclados.
 Outras receitas, incluindo contribuições de países de fora da UE para
certos programas, juros de mora e multas, bem como quaisquer
montantes remanescentes do ano anterior
As contribuições dos países da União para o orçamento estão relacionadas com o
nível de riqueza dos Estados-Membros, sendo a contribuição dos estados mais prósperos
maior. Em contrapartida os Estados menos prósperos recebem proporcionalmente mais
do que os estados mais ricos, pela via dos fundos europeus.

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Dívida Pública

COMO SE FINANCIAM OS ESTADOS-MEMBROS DA ZONA


EURO

Os Estados-Membros da zona euro que estejam a ser afetados ou ameaçados por


dificuldades de financiamento podem receber apoio financeiro através do Mecanismo
Europeu de Estabilidade - uma instituição financeira criada pelos Estados-Membros da
Zona Euro. A assistência financeira está sujeita a condições rigorosas e só é concedida
se a situação ameaçar a estabilidade financeira da zona euro no seu todo e a dos seus
Estados-Membros.

POR QUE MOTIVO É NECESSÁRIO AUXILIAR OS ESTADOS MEMBROS DA


ZONA EURO?

As economias da Zona Euro são interdependentes devido à sua moeda comum, o


euro. Por este motivo, as dificuldades de financiamento que afetam um Estado-Membro
podem ter repercussões negativas nos outros Estados-Membros, ou até propagar-se a
outros Estados-Membros, comprometendo assim a estabilidade de toda a área do euro.
Para evitar este tipo de situações, os governos dos Estados-Membros da zona
euro coordenam estreitamente as suas políticas económicas e orçamentais e procuram
uma maior convergência económica através de processos de coordenação das políticas
da UE, como o Semestre Europeu e a avaliação anual dos projetos de planos
orçamentais dos Estados-Membros da área do euro.
No entanto, se um Estado-Membro da área do euro estiver a ser afetado por
graves dificuldades de financiamento, o Mecanismo Europeu de Estabilidade está apto a
prestar apoio e a contribuir para estabilizar a situação.

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Dívida Pública

EFEITOS DA CRISE MUNDIAL, DA PANDEMIA E DA GUERRA


NA DÍVIDA PÚBLICA

CRISE MUNDIAL DE 2008

A crise financeira internacional teve origem nos EUA, no Verão de 2007, com
problemas nos empréstimos à habitação, naquela que ficou conhecida como a crise do
subprime. A economia norte-americana atingiu o seu ponto mais crítico em 2008, com a
falência do Lehman Brothers, uma das principais instituições financeiras do país.
Portugal, que já se debatia com a estagnação do crescimento económico e com a
queda do emprego desde o início do século, foi rapidamente atingido nas suas
exportações e no crédito bancário. A resposta europeia à crise internacional foi feita de
forma coordenada, utilizando sobretudo a política monetária que pretende garantir a
estabilidade dos preços, como forma de assegurar o crescimento económico e a política
orçamental que consiste na utilização do Orçamento do Estado para atingir a satisfação
das necessidades da coletividade, redistribuição do rendimento e estabilização da
economia. Aos governos com margem de manobra orçamental foi aconselhado um
aumento da despesa pública, sobretudo de investimento. O BCE procedeu a uma
descida rápida das taxas de juro, para estimular a economia.

A dívida pública portuguesa estava já acima dos


72% do PIB em 2007 e as contas públicas apresentavam
uma histórica rigidez de despesa, agravando-se com a dita
crise mundial passando de 75,6 % para 87,8% do PIB.
A economia, com elevados níveis de
endividamento e dependente do acesso ao crédito,
ressentiu-se com a travagem nos financiamentos e a
desconfiança generalizada no mercado interbancário.

Figura 12- Dívida pública pós crise

25
Dívida Pública

PANDEMIA

A economia portuguesa foi profundamente afetada em 2020 pelas medidas de


contenção aplicadas no contexto da pandemia de covid-19 e, 2021, apesar de ter ainda
sido marcado por confinamentos, foi já de recuperação. Muitas empresas foram
forçadas a interromper ou restringir severamente as suas operações, o que tem um efeito
negativo no mercado de trabalho.
A economia portuguesa voltou a crescer, ainda que o PIB não tenha atingido os
níveis pré-pandemia. Em 2021, Portugal regressou à trajetória de redução da dívida
pública e do défice orçamental. Quando comparado com fevereiro de 2020, período
anterior ao início da pandemia de COVID-19, a dívida pública portuguesa aumentou
15,1 mil milhões de euros.
“Tanto na zona euro como na UE, a diminuição do rácio da dívida pública em relação
ao PIB no final do terceiro trimestre deveu-se a um aumento do PIB, enquanto a dívida
continuou a aumentar devido às necessidades de financiamento das medidas políticas
adotadas para mitigar o impacto económico e social da pandemia”, afirmam
especialistas do Eurostat face aos problemas económicos que a pandemia tem vindo a
provocar.

GUERRA

A economia portuguesa será afetada pelo conflito na Ucrânia, sobretudo através


de efeitos indiretos, de acordo com o Eurostat, que, contudo, acredita que não existirá
uma reversão na recuperação, ainda que não descarte algum impacto nas finanças
públicas.
O ataque russo aconteceu numa altura em que, no BCE, todos se estavam a
preparar para, na reunião de 10 de março, dar um passo decisivo na retirada das
políticas de apoio à economia, confirmando o fim do programa de compras de dívida
lançado durante a pandemia, definindo uma data para o fim do programa de compra de
dívida que já existia antes da pandemia e preparando o caminho para o começo da
subida das taxas de juro.
Agora, com a incerteza criada pelo conflito militar, aumentaram as dúvidas em
relação ao que o BCE poderá vir a fazer. Por um lado, o banco central vai ter de levar
em conta que existe o risco de retoma da economia europeia abrandar ou mesmo ficar
adiada. Isso é motivo para fazer o BCE reavaliar a rapidez com que quer deixar de
ajudar as economias com as suas taxas de juro nulas e as suas compras de dívida
pública.

26
Dívida Pública

DÍVIDA PRIVADA

Em economia, a dívida privada coincide com o endividamento das famílias, ou


seja, o montante devido pelos consumidores (em oposição aos valores devidos por
empresas ou governos). Inclui dívidas contraídas na compra de bens que são
consumíveis e/ou não apreciam. Em termos macroeconômicos, é a dívida que é usada
para financiar o consumo e não o investimento.
As formas mais comuns de endividamento do consumidor são a dívida de cartão
de crédito, os empréstimos do dia de pagamento e outros financiamentos ao
consumidor, que geralmente têm taxas de juros mais altas do que os empréstimos
garantidos de longo prazo, como hipotecas.
O rácio de dívida privada (famílias e empresas excluindo bancos) já tinha vindo
a aumentar antes da entrada na zona euro, mas na união monetária o problema agravou-
se. Irlanda e Portugal continuam a ter o maior problema na zona euro a este nível.

Figura 13- Dívida privada na zona euro

Se olharmos para a dívida privada, normalmente menos referida, mas que é


também um dos indicadores referenciados considerando que há lugar a um alerta
quando a dívida privada ultrapassa 133% do PIB, aquilo que verificamos é que 11 dos
18 Estados da zona euro têm níveis de dívida privada acima de 133% do PIB.

27
Dívida Pública

No caso de Portugal, é de 202% do PIB – a dimensão da dívida privada é


largamente superior à da dívida pública –, mas poderemos citar outros países, como a
Irlanda, com 300%, ou a Holanda, com 229%, para não referir a circunstância muito
específica do Luxemburgo, em que a dívida privada corresponde a 356% do seu PIB.
O endividamento das famílias, empresas e Estado subiu em 2020 para o valor
recorde de 745.800 milhões de euros, mais 27.400 milhões face a 2019, sobretudo
devido ao acréscimo no sector público, divulgou esta quinta-feira o Banco de Portugal
(BdP).
Em Portugal, a dívida também cresceu graças às taxas de juro baixas que ficaram ao
alcance das famílias portuguesas a partir do final dos anos 90, sobretudo para a compra
de habitação própria. Por outro lado, as empresas apoiaram-se, em muitos casos, no
endividamento bancário como alternativa à injeção de capital próprio ou a abertura do
capital da empresa ao mercado aberto, o que teria permitido investir com um recurso
menor ao crédito bancário.

28
Dívida Pública

DÍVIDA PÚBLICA VS DÍVIDA PRIVADA

Porque é que uma dívida privada elevada é um problema? Rui Bernardes Serra,
economista-chefe do Montepio, explica que esse é um problema por duas razões: “pela
quantidade e pelo preço “. Pela quantidade porque “os agentes económicos mais
endividados têm menor capacidade para contrair novos empréstimos”. “Mesmo que
um determinado investimento possa ser, a prazo, bastante lucrativo, o facto de uma
empresa ter uma menor capacidade de financiamento poderá afastá-la dessa
oportunidade”, acrescenta o especialista.
Por outro lado, no que diz respeito ao preço, “mais endividamento implica mais
risco”, diz Rui Bernardes Serra. “E mais risco implica que os financiamentos sejam
contratados com spreads maiores [juros mais caros], algo que acaba também, no caso
das empresas, por contribuir para uma menor competitividade nos mercados
internacionais”. Mais recursos gastos em juros significam menor capacidade de baixar
os preços dos produtos e, também, de investir na contratação e outros tipos de expansão
operacional.
Há cerca de dois anos, um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI)
demonstrou que níveis elevados de dívida privada são mais prejudiciais para o
crescimento da economia do que níveis elevados de dívida pública. Na análise dos
economistas da instituição, uma dívida pública elevada só é um constrangimento
para o crescimento quando o setor privado – famílias e empresas – tem, também,
níveis elevados de dívida.
Ricardo Reis, economista e professor da Universidade de Columbia, diz que, em
Portugal, “este é um problema muito difícil, que não me parece que esteja
suficientemente resolvido”. “Quer os bancos quer as empresas podem carregar
uma dívida do passado que impede novos investimentos. É difícil atrair novos
acionistas porque eles percebem que antes de retirarem algum lucro têm de pagar
as dívidas do passado” e, por outro lado, “é difícil conseguir crédito porque as
instituições financeiras percebem que a empresa tem um incentivo em optar por
investimentos muito arriscados de forma a conseguir pagar as dívidas anteriores,
sabendo que já tem pouco a perder”.

29
Dívida Pública

DÍVIDA EXTERNA BRUTA

A dívida externa bruta mede, para um determinado intervalo de tempo, o


endividamento dos residentes num país em relação aos residentes no resto do
mundo. Este indicador económico inclui a dívida pública e privada de residentes em
Portugal face aos residentes no resto do mundo. Esta engloba as responsabilidades
em títulos de dívida, empréstimos, dívidas comerciais e depósitos.
Desta forma, são exemplos de operações consideradas no cálculo da dívida
externa:
1. Os títulos de dívida emitidos por residentes e detidos por não residentes, como
por exemplo, os títulos de dívida pública portuguesa adquiridos por um fundo de
investimento na Alemanha ou obrigações emitidas por uma empresa portuguesa
adquiridas por uma família americana;
2. Os empréstimos concedidos por um banco em Espanha a uma empresa em
Portugal;
3. Os créditos comerciais concedidos por um fornecedor angolano a uma
empresa em Portugal;
4. Os depósitos que uma família do Brasil constituiu num banco em Portugal.
Em 2020, a dívida externa de Portugal atingiu 410 348 milhões de euros,
representando 202,93% do PIB. No 4 Trimestre de 2021, a dívida externa
apresentou um valor de 193, 15 em percentagem do PIB.

Figura 14- Dívida externa bruta em Portugal

30
Dívida Pública

DÍVIDA EXTERNA LÍQUIDA

A dívida externa líquida corresponde à dívida externa bruta deduzidas do mesmo


tipo de ativos que os residentes detêm sobre não residentes. Pode assumir valores
negativos ou positivos, consoante os ativos de dívida sejam maiores ou menores que
os passivos de dívida. Assim, a dívida externa líquida:
 É positiva quando os passivos de dívida são superiores aos ativos de dívida e
significa que o país tem uma responsabilidade líquida face ao exterior;
 É negativa quando os passivos de dívida são inferiores aos ativos, indicando que
existe um ativo líquido sobre o exterior.

São exemplo de ativos de dívida sobre o exterior:


1. Os títulos de dívida emitidos por não residentes e detidos por residentes em
Portugal, como por exemplo títulos de dívida pública italiana detidos por um fundo de
pensões em Portugal ou obrigações de uma empresa alemã detidas por um banco em
Portugal;
2. Os empréstimos concedidos por um banco em Portugal a uma empresa em Cabo
Verde;
3. Créditos comerciais concedidos por um fornecedor em Portugal a uma empresa
no Reino Unido;
4. Os depósitos de uma família em Portugal num banco na Suíça.

A dívida externa líquida está muito associada à posição de investimento


internacional. Na realidade, a dívida externa líquida corresponde a um subconjunto dos
ativos e passivos considerados na posição de investimento internacional.

Figura 15 - Componentes da dívida externa líquida

31
Dívida Pública

Resultante da Posição de Investimento Internacional (PII) do país, excluindo os


instrumentos de capital, ouro em barra e derivados financeiros, a dívida externa líquida
passou de 87,8% do PIB no final de 2020 (175.600 milhões de euros) para 80,7% no
final de 2020 (170.600 milhões de euros), refere o BdP.
Segundo os dados do banco central, em dezembro de 2021 a PII de Portugal registou
o “valor menos negativo desde o terceiro trimestre de 2008”: o saldo entre os ativos
financeiros sobre o exterior detidos por residentes e os passivos emitidos por residentes
e detidos pelo resto do mundo passou de -104,8% do PIB (-209.700 milhões de euros)
no final de 2020 para -95,8% do PIB (-202.600 milhões de euros) no final de dezembro
de 2021.
Esta variação da PII decorreu sobretudo das variações cambiais positivas dos ativos
externos detidos por residentes expressos em dólares americanos, kwanzas de Angola,
meticais de Moçambique e em libras esterlina, no valor de 3.300 milhões de euros.
A variação da PII resultou ainda do contributo positivo da desvalorização dos títulos
de dívida pública portuguesa detidos por não residentes e da valorização de derivados
financeiros do setor financeiro residente. Em sentido contrário, destacou-se a
valorização de títulos de capital de empresas portuguesas detidos por entidades não
residentes.

Figura 16 - Evolução da componente Posição de investimento internacional

Como podemos ver no gráfico, a PII evolui de uma situação aproximadamente


equilibrada no 1.º trimestre de 1996 (de cerca de -7,7% do PIB), para -107,5% do PIB
no final de 2010. Ou seja, o passivo externo líquido do país deteriorou-se muito
significativamente neste período.

32
Dívida Pública

Tal como já foi afirmado anteriormente, a dívida externa líquida portuguesa situou-
se nos 170.600 milhões de euros no final de 2021, representando 80,7% do Produto
Interno Bruto, o valor mais baixo desde o terceiro trimestre de 2009, segundo dados do
Banco de Portugal.
A dívida externa líquida de Portugal é positiva, o que significa que Portugal é um
país devedor face ao exterior.

Figura 17 - Dívida externa líquida em % do PIB

Em 2020, Portugal apresentou a 3.º maior dívida externa líquida em


percentagem do PIB da União Europeia situando-se atrás do Chipre e da Grécia.
Luxemburgo, Irlanda e Malta são exemplos de países com dívida externa líquida
33
Dívida Pública

negativa, o que significa que têm ativos de dívida superior aos seus passivos,
apresentando-se assim como países credores face ao exterior.

Figura 18 - Dívida externa em % do PIB nos países da zona euro

DÍVIDA EXTERNA BRUTA E LÍQUIDA

34
Dívida Pública

A dívida externa líquida em percentagem do PIB, em Portugal, é sempre inferior


à dívida externa bruta no mesmo ano, sendo em 2021 de 80,7% e 193,15%
respetivamente.
Isto acontece porque a dívida externa líquida pode ter valores negativos e
positivos dependendo dos ativos e passivos nesse ano, enquanto a dívida externa bruta é
sempre positiva.

Figura 19 - Dívida externa bruta e líquida em % do PIB

PORQUE É QUE A DÍVIDA EXTERNA É UM PROBLEMA?

35
Dívida Pública

Dívida externa elevada constitui um problema grave para qualquer economia


porque tem duas características importantes que a diferenciam de dívida privada: o
pagamento de juros empobrece o país e essa dívida só pode ser paga essencialmente
com receitas de exportações.
Em relação ao primeiro ponto, Adam Smith, referia que um país não fica mais
pobre ao pagar juros se a dívida for dos particulares, dado que a despesa com juros de
uns (e.g. Estado) constitui rendimento de residentes, que é poupado ou gasto em larga
medida no próprio país criando emprego e gerando receitas fiscais. Contudo, se essa
dívida for externa, o pagamento de juros é poder de compra que sai do país.
Por outro lado, a dívida externa e os juros que recaem sobre essa dívida são
essencialmente pagos com receitas de exportações (líquidas). Para níveis elevados de
dívida externa, através do juro composto, a dívida e os juros que se pagam sobre essa
dívida tendem a crescer mais rapidamente do que a atividade económica (i.e., medida
por exemplo pelo PIB nominal), que pode ser aqui interpretado como uma medida do
rendimento que pode ser utilizado para pagar essa dívida.
O juro composto faz a dívida externa crescer muito mais rapidamente que a
economia portuguesa. Portanto, no caso português, para pagar essa dívida externa
nacional integralmente o país teria de aumentar muito substancialmente as suas
exportações líquidas, ou seja, aumentar as suas exportações e reduzir significativamente
as suas importações. Teria de passar a registar substanciais excedentes comerciais
durante mais de uma década, algo que o país nunca foi capaz de fazer desde, pelo
menos, meados do século XX.
Em suma, para o país pagar integralmente a sua dívida externa seria necessário
que Portugal passasse a registar um excedente na balança de bens e serviços de cerca de
6% do PIB durante mais de uma década e registasse uma taxa de crescimento nominal
média de 4% ao ano, colocando a dívida externa numa trajetória sustentável. Isso teria
de ocorrer numa altura em que vários dos principais mercados internacionais, destino
das exportações nacionais, estão igualmente sujeitos à crise de dívida soberana e a
empreender medidas económicas similares. Na prática, é irrealista esperar, no âmbito da
UEM e com as regras vigentes da política de concorrência da UE, que seja possível ao
país ter um tal comportamento das suas exportações líquidas. Em todos os precedentes
históricos, as economias afetadas acabaram por se ver obrigadas a reestruturar a sua
dívida externa.

DÍVIDA PÚBLICA VS DÍVIDA EXTERNA

36
Dívida Pública

Portugal confronta-se atualmente com dois grandes problemas face ao exterior:


dívida pública (DP) excessiva, e dívida externa (DE) excessiva.
A DP é a dívida do Estado, logo, a dívida de todos nós. Foi contraída pelos
políticos, em muitos casos por más razões, mas sempre com o direito que, ao elegê-los,
lhes atribuímos. Temos, portanto, que combater para reduzir o défice orçamental, até
que seja convertido em superávit, única forma de reduzir a DP. E há que reduzir a DP
até um nível aceitável, que é o nível a que os juros deixam espaço às outras rúbricas da
despesa pública, permitindo que o Estado desempenhe as suas funções.
A DE privada é a dívida de residentes, não públicos, a entidades estrangeiras,
maioritariamente constituída por créditos de instituições financeiras sobre bancos ou
grandes empresas portuguesas. Resulta de sucessivos anos em que o país importou mais
que exportou. Ao contrário da DP, a DEP não é de responsabilidade de todos nós, mas
sim daqueles que a contraíram, de cada um na exata medida em que se endividou e
segundo os contratos que firmou.
É importante clarificar esta dualidade porque o Governo, privilegiando o
interesse dos bancos estrangeiros credores das empresas portuguesas, está a
implementar uma política de socialização da DEP, de tal modo que toda a população,
com o seu sacrifício, acabe por assumir as dívidas das empresas ao exterior. A solução
que o Governo persegue tem duas vertentes: a redução dos custos do trabalho e o
consequente aumento da competitividade externa, com vista a aumentar as exportações;
e o aumento da carga fiscal, induzindo menos despesa e menos importações. Assim, o
país gerará superavits comerciais, única forma de reduzir a dívida externa.
Se isto ocorresse, o Estado tornar-se-ia credível perante os mercados e ganharia
capacidade de endividamento, assim como cumpriria os compromissos assumidos
perante os parceiros da União Europeia. Mas o Governo não vai por esse caminho,
porque acarreta menos procura interna, mais falências e mais desemprego. E quanto
mais desemprego, mais multidões dispostas a trabalhar por qualquer salário, e menor
custo do trabalho.
O resultado desta política será um desastre para Portugal: desemprego, pobreza,
emigração por parte dos trabalhadores mais válidos. Portugal não exportará mais por
reduzir salários, porque o custo do trabalho já é mais baixo do que o dos países com que
competimos.
“Temos de reduzir a DP até um nível aceitável; facilitar e incentivar os
negócios, de investidores nacionais ou estrangeiros, preferentemente em bens
transacionáveis mas também para o mercado interno; pôr os bancos a financiar as
empresas; limitar por via fiscal a importação de bens de luxo; aproveitar a formação e
o conhecimento dos imensos recursos humanos que temos ; pôr os portugueses – todos
– a trabalhar, mas com salários justos e uma vida digna.”

DÍVIDA PÚBLICA, PRIVADA E EXTERNA

A dívida pública, a dívida privada e a dívida externa são indicadores que se


encontram interligados. No caso da economia portuguesa, o peso da dívida externa

37
Dívida Pública

líquida dentro da Posição de Investimento Internacional (PII) é elevado. A dívida


externa é a principal componente da PII, visto que o financiamento externo de Portugal
é obtido, essencialmente, através de instrumentos de dívida.
Por definição, a PII inclui essencialmente instrumentos de dívida e capital. No
limite, pode acontecer aumentar (diminuir) o peso dos instrumentos de dívida na PII por
contrapartida da diminuição (aumento) do peso dos instrumentos de capital na PII.
Genericamente, os instrumentos de capital são as ações detidas pelos acionistas das
empresas, enquanto os instrumentos de dívida são as obrigações emitidas pelas
empresas, os empréstimos e depósitos entre instituições, bem como as obrigações do
Tesouro e os bilhetes do Tesouro emitidos pelo Soberano.
Os instrumentos de capital caracterizam-se, tipicamente, pela valorização
(desvalorização) em períodos de expansão (recessão) económica, sendo os ganhos ou
perdas imputadas ao acionista, pelo que há risco no capital investido. Adicionalmente,
os instrumentos de capital que estão dentro da categoria funcional “investimento direto”
são uma fonte de financiamento mais estável para as empresas do país, em contraste
com a categoria “investimento de carteira” que se caracteriza pela facilidade de
transação (liquidez) nos mercados financeiros. Quanto aos instrumentos de dívida, estes
têm de ser reembolsados independentemente do ciclo económico, pelo que as perdas de
uma recessão ficam no lado do devedor. Na categoria funcional “investimento de
carteira”, na qual se incluem os títulos de dívida pública Obrigações do Tesouro e
Bilhetes do Tesouro, o investidor tem maior facilidade em se desfazer dos títulos que
tenham. O financiamento externo pode vir tanto por instrumentos de capital como por
instrumentos de dívida. O financiamento externo através de instrumentos de capital, em
particular na categoria funcional “investimento direto”, pode ser considerado mais
benéfico do que o obtido através de instrumentos de dívida devido à menor
possibilidade de transação e à imputação de perdas ao investidor no caso de recessão
económica.
Com isto podemos concluir que o PII (componente da dívida externa líquida) é
elevado em Portugal devido ao seu financiamento ser feito com instrumentos de dívida
pública como as obrigações do tesouro ou os certificados de aforro (feitos por
particulares, que pode causar um aumento na dívida interna se o montante recebido for
inferior ao pago).

CONCLUSÃO

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Dívida Pública

Neste trabalho foi possível analisar as várias vertentes da dívida portuguesa, a


evolução da mesma e como a nossa economia se encontra face aos problemas
impostos por esta dívida. Concluímos que apesar da dívida pública ainda apresentar
valores muito altos e devido à situação pandémica esse valor ter piorado, agora
regressou à trajetória de redução da mesma e espera-se que continue nesta mesma
direção.
Esta dívida tem muito impacto na nossa sociedade e advém de todos o esforço
para a reduzir. Primeiro temos de conseguir atingir superavits orçamentais,
acontecimento que não ocorre há muito tempo e incentivar a ajuda ao Estado com a
“compra de dívida pública” utilizando os instrumentos de dívida tal como os
certificados de aforro, os certificados do tesouro, as obrigações de tesouro e os
bilhetes de tesouro.
Segundo o Programa de Estabilidade Económica, o ministro das Finanças, João
Leão, aponta para contas certas em 2025 (receitas=despesas) e um ligeiro excedente
de 0,1% em 2026. A expectativa do ministro é que a economia cresça acima da
media da zona euro este ano e nos próximos quatro.
Com este trabalho conseguimos abranger os nossos conhecimentos acerca da
situação económica do nosso país e aprendemos que a dívida pública tem muitos
fatores e áreas que não são estudadas nas aulas pois é um estudo muito complexo.
Também observamos que o problema da dívida pública excessiva não acontece só
em Portugal, estando mais de metade dos Estados-Membros da zona euro na mesma
situação ou em situações piores.

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Dívida Pública

BIBLIOGRAFIA

https://www.jornaldenegocios.pt/economia/financas-publicas/detalhe/
endividamento-da-economia-aumenta-11-mil-milhoes-de-euros-em-outubro
https://eco.sapo.pt/2017/06/20/portugal-e-o-pais-da-zona-euro-que-mais-se-
financia-a-curto-prazo/

https://bpstat.bportugal.pt/conteudos/paginas/1356
https://expresso.pt/economia/2022-02-21-divida-externa-liquida-cai-para-807-
do-pib-em-2021-o-valor-mais-baixo-desde-2009
https://www.publico.pt/2022/02/25/economia/noticia/efeitos-tera-guerra-
economia-1996742
https://www.doutorfinancas.pt/financas-pessoais/certificados-de-aforro-e-do-
tesouro-qual-a-diferenca/
https://bpstat.bportugal.pt/conteudos/noticias/633

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