1) O autor critica a gramática tradicional, que data de mais de 2.300 anos atrás, por continuar sendo ensinada de forma quase intacta, ignorando os avanços da linguística moderna.
2) Ele cita dois nomes, Pasquale Cipro Neto e Evanildo Bechara, que perpetuam preconceitos contra linguistas e a visão científica da linguística.
3) Questiona quais forças mantêm calados os estudiosos da linguagem e defendem a visão gramatical tradicional, ignorando as crí
1) O autor critica a gramática tradicional, que data de mais de 2.300 anos atrás, por continuar sendo ensinada de forma quase intacta, ignorando os avanços da linguística moderna.
2) Ele cita dois nomes, Pasquale Cipro Neto e Evanildo Bechara, que perpetuam preconceitos contra linguistas e a visão científica da linguística.
3) Questiona quais forças mantêm calados os estudiosos da linguagem e defendem a visão gramatical tradicional, ignorando as crí
1) O autor critica a gramática tradicional, que data de mais de 2.300 anos atrás, por continuar sendo ensinada de forma quase intacta, ignorando os avanços da linguística moderna.
2) Ele cita dois nomes, Pasquale Cipro Neto e Evanildo Bechara, que perpetuam preconceitos contra linguistas e a visão científica da linguística.
3) Questiona quais forças mantêm calados os estudiosos da linguagem e defendem a visão gramatical tradicional, ignorando as crí
Gramática tradicional: uma “religião” mais velha que o cristianismo
Marcos Bagno aborda uma crítica ao porque a linguagem é a única disciplina que existe uma disputa entre duas perspectivas distintas: a doutrina gramatical tradicional, surgida no mundo helenístico no século III a.C., e a linguística moderna, que se firmou como ciência autônoma no final do século XIX e início do XX. Bagno inicia comentando que hoje, claro, já é considerado equivocado alguém dizer que a terra é plana, que o sol gira em torno da terra. Essas são ideias ultrapassadas e que começaram a ser substituídas por novas concepções mais verossímeis. Mas ninguém se espanta se um professor ainda ensina as formas arcaicas de nossa língua. Os termos e conceitos da gramática tradicional-estabelecidos há mais de 2.300 anos, continuam a ser repassados praticamente intactos de uma geração de alunos para outra, como se desde aquela época remota não tivesse acontecido nada na ciência da linguagem. Querer cobrar, hoje em dia, a observância dos mesmos padrões linguísticos do passado é querer preservar, ao mesmo tempo, ideias, mentalidades e estruturas sociais do passado. O ensino tradicional opera uma imobilização do tempo, um apagamento das condições sociais e histórias que permitiram o surgimento e a permanência da gramática tradicional. A língua assim, não fica sendo vista como objeto cientifico, e os mais importantes cientistas da linguagem (Grimm, Saussure, Jakobson, Sapir, Chomsky, Labov etc.) não têm lugar na galeria dos grandes pensadores que revolucionaram nosso modo de encarar o mundo e o que existe nele. A gramática tradicional é uma ideologia linguística, o lugar das certezas, uma doutrina sólida e compacta, com uma única resposta correta para todas as dúvidas. Já a linguística moderna, encara a língua como um objeto passível de ser analisado e interpretado, ela devolveu a língua ao seu lugar de fato social, abalando noções antigas que apresentavam a língua como um valor ideológico. Então se percebemos toda essa evolução de nossa língua, porque essa gramática imposta a nós não muda?Ora, o novo assusta, o novo compromete as estruturas do poder e dominação há muito vigente. O grande problema está na confusão que reina na mentalidade das pessoas que atribuem uma “crise” à língua,quando,de fato, a crise existe é na escola, é no sistema educacional brasileiro, classificado entre os piores do mundo.
2.Desvaneios de idiotas e ociosos
Bagno cita especialmente dois nomes que são considerados por ele como perpetuadores do preconceito contra linguístas e a linguística. São Pasquale Cipro Neto e Evanildo Bechara. Bechara já declarou, por exemplo, que a função da escola é levar os alunos a falar “melhor e com os melhores” porque em sua opinião existe uma “necessidade da vigência da hierarquização e da normatividade”. Recentemente, ele acusou lingüistas e pedagogos de “recomendar” para o ensino uma coisa que tem “ineficácia cultural: a língua viva do povo”. Ora, Pasquale Cipro Neto consegue ser mais conservador e elitista ainda do que Bechara, ele fala de “linguístas defensores do vale-tudo, numa absoluta distorção do verdadeiro papel do linguísta como investigador de todos os fenômenos da língua, e não como caçador de “erros” e juiz do uso.
3.A quem interessa calar os linguístas?
É um caso a se perguntar: há outras forças que não nos deixam falar?A quem interessa manter calados os estudiosos da linguagem?Por que o discurso gramatical tradicional, já tão amplamente criticado pelos cientistas da linguagem com bases em teorias e métodos consistentes e coerentes, ainda tem tanto vigor e obtém tanta defesa? Que ameaça ao tipo de sociedade em que vivemos representa a democratização do saber linguístico, a liberação da voz de tantos milhões de pessoas condenadas ao silencio por “não saber português” ou por “falar tudo errado”?Esperamos que a discussão feita pelo livro “Preconceito lingüístico” de Marcos Bagno, o ajude a encontrar respostas para essas perguntas tão inquietantes.