Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Curitiba
2015
Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cassiana Souza CRB9/1501
FAEL
Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo
Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Revisão Juliana Horning
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Imagem da Capa Shutterstock.com/robert_s
Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim
Apresentação
– 4 –
Sumário
4 Energia Geotérmica | 55
5 Carvão | 71
Referências | 165
1
Trabalho e energia
cinética
d
Entretanto, caso esta força seja aplicada formando um ângulo φ dife-
rente de zero, a equação 1.1 se transforma em:
W = F ⋅ d ⋅ cos F (1.2)
O diagrama de corpo apresentado na Figura 1.2 ilustra esta situação:
– 8 –
Trabalho e energia cinética
d
Lembre-se que o cosseno de 90º é igual a zero. Assim, caso a força F
aplicada seja perpendicular ao movimento, isto é, φ igual a 90º (erguendo um
caixote acima da cabeça e se deslocando para a frente com ele, por exemplo),
não há a realização de trabalho, no sentido físico do termo.Ou seja, é a força
aplicada que realiza trabalho, não o indivíduo em si.
No Sistema Internacional de Unidades (SI), a unidade para trabalho é o
newton. metro, também denominado de Joule (J). Assim:
1 joule (J) = 1 N.m = 1 kg.m2 / s2 (1.3)
Agora, após a definição de trabalho, podemos compreender melhor o
conceito de energia cinética. Quando observamos algum corpo em movi-
mento, isso significa que algum trabalho foi realizado sobre este corpo. A
propriedade que associa o movimento das partículas ao trabalho realizado é a
energia cinética. A equação que define esta forma de energia pode ser escrita
da seguinte forma:
1
K = ⋅ m ⋅ v 2 (energia cinética) (1.4)
2
Nesta equação, a energia cinética é denominada de K (novamente do
seu termo em inglês, kinetic). Como encontra-se associada ao movimento,
K é proporcional ao quadrado da velocidade de um corpo ou partícula. Esta
propriedade também é dependente da massa (denominada m) deste corpo.
Neste ponto, podemos listar algumas importantes considerações a res-
peito da energia cinética K:
22 de acordo com a equação 1.4, quanto maior a velocidade e a massa
de um corpo maior será a energia cinética associada ao movimento;
– 9 –
Energias e Meio Ambiente
1.2 Potência
Uma vez definidas as grandezas trabalho e energia cinética, fica mais fácil
compreender o conceito de potência. Muitas vezes, o interesse em determi-
nada ação não está somente no trabalho a ser realizado por um corpo, mas
no tempo que isso levará. Em um automóvel, por exemplo, é necessário saber
quanto tempo o veículo levará para percorrer determinada distância (realizar
trabalho). Neste caso, o trabalho pode ser associado ao tempo por uma gran-
deza escalar denominada potência, conforme a equação 1.6:
W
P= (1.6)
∆t
Nesta equação, a potência (P) é dita potência média, isto é, a potên-
cia desenvolvida quando uma quantidade de trabalho W é realizada em um
intervalo de tempo ∆t. A unidade de potência no SI é Joule/ segundo, tam-
bém denominada watt (W).
Rearranjando a equação 1.6, é possível perceber que o trabalho pode
ser expresso como uma unidade de potência (watt), multiplicada por uma
– 10 –
Trabalho e energia cinética
– 11 –
Energias e Meio Ambiente
cama elástica; ao pular no brinquedo, a criança exerce uma força para baixo,
distendendo o material elástico. Este, por sua vez, irá retornar ao seu estado
normal, movendo-se no sentido oposto. Assim, a energia potencial elástica,
que havia sido acumulada no sistema, será convertida em movimento, impul-
sionando a criança para cima.
Uma vez conhecidas as diferentes formas de energia potencial, é pre-
ciso associá-las a outras grandezas, tornando possível seu cálculo quantitativo.
Para isso, é necessário, em ambos os casos, a adoção de um referencial inicial.
Para a energia potencial elástica, adotamos como referência uma mola
em seu estado relaxado, com a extremidade livre na posição x = 0 (neste caso,
nomeamos o deslocamento, na forma de compressão ou distensão, como x). A
energia potencial desta configuração inicial é adotada como igual a zero, isto é,
U (x0) = 0. Supondo que a única força presente seja a força da mola, temos que:
1
U (=
x) k ⋅ x 2 (energia potencial elástica) (1.9)
2
Isto é, a energia potencial U da mola pode ser calculada para qualquer
valor x de compressão ou distensão da mola. Na equação 1.9, k é uma cons-
tante e se refere à rigidez da mola. A força elástica F, exercida pela mola, é
proporcional à constante k e ao deslocamento x da mola; pode ser expressa
pela lei de Hooke:
F = -k . x (1.10)
Na equação 1.10, o sinal negativo indica que a força exercida pela mola
tem sempre o sentido oposto ao do deslocamento de sua extremidade livre.
Na equação 1.9, como o valor x aparece elevado ao quadrado, a energia
potencial terá sempre um valor positivo.
Para a energia potencial gravitacional, o que temos é a ação da força gra-
vitacional, que vai atuar quando dois ou mais corpos se encontrarem separa-
dos. Se considerarmos um corpo movimentando-se verticalmente (para cima
ou para baixo), ao longo de um eixo y, em relação à superfície da Terra, a força
gravitacional, ou seja, aquela que age devido à atração entre a Terra e o corpo
em questão, será igual a:
F(y) = -m ⋅ g (1.11)
– 12 –
Trabalho e energia cinética
B k
C
A
– 13 –
Energias e Meio Ambiente
1.5 Calor
Até o momento, trabalhamos com energias associadas ao movimento e à
conformação dos corpos, como a energia cinética e a energia potencial. Entre-
tanto, há outras formas de energia que podem estar associadas a um sistema.
Entre elas, destaca-se a energia térmica de um corpo.
Para compreendermos como a energia térmica pode ser transferida dentro
de um sistema, é importante que conheçamos o conceito de calor. Calor, deno-
minado Q, pode ser definido como uma forma de transferência de energia entre
dois corpos devido à diferença de temperatura entre eles. O calor é, portanto,
uma forma de energia, sendo sua unidade expressa em Joule (J). Outra unidade
muito utilizada é a caloria, que equivale à quantidade de calor que deve ser adi-
cionada a 1 g de água para aumentar sua temperatura em 1ºC. Assim:
1 cal = 4,1840 J (1.15)
Assim como ocorre com o trabalho, o calor pode ser adicionado ou
retirado de um corpo, alterando sua energia total. Entretanto, é importante
salientar que nenhum corpo contém calor, mas energia. Por convenção, consi-
dera-se positivo o calor transferido para um sistema e negativo quando o calor
está saindo de um sistema.
O calor apresenta grande similaridade com o trabalho. Ambos são con-
siderados fenômenos transitórios, isto é, sistemas não possuem calor ou traba-
lho; porém, estes podem ser transferidos de ou para um sistema, quando este
sofrer alguma mudança de estado. Tanto o calor como o trabalho represen-
tam, uma forma de transferência de energia.
– 15 –
Energias e Meio Ambiente
1.7 Entalpia
A entalpia de um sistema é uma importante função de estado termodi-
nâmica. Uma função de estado depende de duas ou mais variáveis de estado,
que são aquelas associadas ao estado em que se encontra um sistema termodinâ-
mico. Como exemplo de variáveis de estado, a pressão P e o volume V encon-
tram-se associados ao conceito de entalpia, de acordo com a Equação 1.18:
H = Ei + P.V (1.18)
– 16 –
Trabalho e energia cinética
– 17 –
Energias e Meio Ambiente
– 18 –
Trabalho e energia cinética
Q1 MÁQUINA W
RESERVATÓRIO
QUENTE TÉMICA
Q2
RESERVATÓRIO
FRIO
– 19 –
Energias e Meio Ambiente
= Q 1 − Q 2 (1.22)
W
Em uma máquina térmica dita ideal, todo o calor gerado pela fonte quente
deveria ser transformado integralmente em trabalho. Entretanto, conforme
pudemos observar no Enunciado de Kelvin, é impossível converter toda a ener-
gia térmica de um sistema em trabalho. Desta forma, é comum trabalharmos
com o conceito de rendimento de uma máquina térmica, dado por:
Q1
= (1.23)
W
Na Equação 1.23, η representa o rendimento, Q1 o calor fornecido pela
fonte quente e W o trabalho efetivamente realizado. Em geral, uma máquina
térmica trabalha com rendimentos em torno de 50%, isto é, apenas metade
da energia transferida é convertida em trabalho. Na indústria, o ideal é que se
produza máquinas térmicas com o máximo de rendimento possível, gerando
maior economia aos processos desenvolvidos.
– 20 –
Trabalho e energia cinética
agitação molecular, ou seja, com maior temperatura, para aquele que apre-
senta a menor temperatura. Quando os dois corpos atingirem o mesmo nível
de agitação molecular, a transferência de energia cessa e os corpos estarão em
equilíbrio térmico.
O princípio do equilíbrio térmico rege os processos de medição de tem-
peratura e graças a ele foi possível definir as escalas de temperatura, como
Celsius, Fahrenheit, Rankine e Kelvin.
– 21 –
Energias e Meio Ambiente
– 22 –
2
Recursos energéticos:
fontes renováveis
e não renováveis
– 24 –
Recursos energéticos: fontes renováveis e não renováveis
– 25 –
Energias e Meio Ambiente
Fig 2.1 Produção energética (exemplo dos EUA, em quatrilhões de Btu), por recurso
utilizado, no período compreendido entre 1950 e 2014
30
20
10
0
1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010
– 26 –
Recursos energéticos: fontes renováveis e não renováveis
25.000
20.000
Mt CO2
15.000
10.000
5.000
– 28 –
Recursos energéticos: fontes renováveis e não renováveis
– 29 –
Energias e Meio Ambiente
– 30 –
Recursos energéticos: fontes renováveis e não renováveis
– 31 –
Energias e Meio Ambiente
– 32 –
Recursos energéticos: fontes renováveis e não renováveis
– 33 –
Energias e Meio Ambiente
– 34 –
Recursos energéticos: fontes renováveis e não renováveis
– 35 –
Energias e Meio Ambiente
q1 ⋅ q q
F= k ⋅ (Lei de Coulomb) (2.3)
r2
– 36 –
Recursos energéticos: fontes renováveis e não renováveis
– 37 –
Energias e Meio Ambiente
Fb = N . B . A . cos θ (2.7)
Por fim, se o fluxo magnético que atravessa uma espira condutora variar,
teremos a indução de uma força eletromotriz (fem), que corresponde à pro-
priedade de geração de energia elétrica em um circuito, por um dispositivo
qualquer (um gerador, por exemplo). Esta força eletromotriz pode ser obtida
através da Lei de Indução de Faraday, que para uma bobina com N espiras
pode ser escrita da forma (Equação 2.8):
∆Φ B
ξ = −N ⋅ (Lei de Faraday) (2.8)
∆t
– 38 –
3
Hidrelétricas e a
geração de energia
– 40 –
Hidrelétricas e a geração de energia
na moagem de grãos, há 2.000 anos atrás. Na Roma antiga, turbinas eram cons-
truídas, tendo como base rodas giradas pela ação da água corrente. Ainda não
se conhecia, porém, o potencial de energia elétrica deste sistema e as turbinas
eram utilizadas, assim como os moinhos, no processo de moagem dos grãos.
Moinhos de água foram as primeiras formas encontradas pela humani-
dade para utilizar a energia do fluxo de água para realização de algum trabalho
útil, tendo sido bastante comuns até a Revolução Industrial, no século XVIII.
A utilização destes sistemas visava à realização de alguma atividade mecâ-
nica, como o processo de moagem de grãos comentado acima, mas também
podia estar associada a outras atividades, como processos de irrigação e drena-
gem, corte de madeira e até mesmo geração de eletricidade, em sistemas mais
modernos, mas baseados nos mesmos princípios de funcionamento.
De forma geral, um moinho utiliza a energia cinética resultante do movi-
mento da água para produzir trabalho. Lembre-se, a partir do conteúdo estu-
dado no Capítulo 1, que a energia cinética é a forma de energia associada ao
movimento dos corpos. Lembre-se também que, de acordo com a Equação
1.4, a energia cinética é proporcional à massa do corpo e ao quadrado da
velocidade com que este corpo se movimenta. Ou seja, no caso dos sistemas
de moinhos, quanto maior for a massa e a velocidade da água responsável por
rotacionar o sistema, maior será a quantidade de energia cinética disponível
para ser convertida em trabalho. Assim, estes moinhos devem ser posicionados
em rios ou córregos que apresentem um regime de vazão adequado. De forma
geral, a estrutura de um moinho de água consiste em uma grande roda d’água
e um cabo conectado ao eixo central desta roda, utilizado para transmitir a
energia obtida a partir do movimento da água para um sistema de engrena-
gens, capazes de fazer funcionar o instrumento ou maquinário associado.
Não demorou muito para que pesquisadores enxergassem o potencial
de conversão da energia cinética,gerada pelo fluxo hidráulico e utilizada
para rotação de turbinas, para a geração de energia elétrica. Uma das pri-
meiras experiências neste sentido data de 1880, quando um dínamo impul-
sionado por uma turbina de água foi utilizado para gerar uma espécie de
relâmpago em arco, em frente a um teatro, na cidade de Michigan, Esta-
dos Unidos. Um dínamo é um dispositivo constituído por um ímã e uma
bobina (material condutor metálico, enrolado em espiras), que funciona
convertendo energia mecânica em energia elétrica, utilizando-se do fenô-
meno de indução magnética.
– 41 –
Energias e Meio Ambiente
– 42 –
Hidrelétricas e a geração de energia
– 43 –
Energias e Meio Ambiente
e vales encaixados, com muitos desníveis entre a nascente e a foz dos rios,
gerando consideráveis quedas d’água. Desníveis nos rios conferem maiores
velocidades à massa de água, gerando maior energia cinética a ser convertida
em energia elétrica pelas turbinas das usinas hidrelétricas.
No entanto, apesar do enorme potencial de uso deste tipo de fonte ener-
gética no Brasil e em diversas localidades ao redor do mundo, há pouco sendo
efetivamente aproveitado. Em seu Report of Renewable Energy Sources and
Climate Change Mitigation (relatório sobre fontes de energias renováveis e
atenuação das alterações climáticas, em tradução livre), o Painel Intergover-
namental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) chama atenção para o fato de
que grande parte do potencial energético, em todos os continentes do planeta
(excetuando-se a Antártida), apresenta ainda grande quantidade de recursos
passíveis de serem utilizados na geração hidrelétrica de energia. A Figura 3.1
apresenta este panorama mundial, destacando o percentual de potencial téc-
nico não desenvolvido em cada região.
Fig 3.1 Potencial hidrelétrico em função da geração potencial anual de energia (coluna
vermelha, valores em 1012 W/ ano) e da capacidade efetiva atual de cada região (coluna
azul, dados em 109 W). Os gráficos em pizza indicam a porcentagem não utilizada de
recursos hidrelétricos por região.
– 44 –
Hidrelétricas e a geração de energia
– 45 –
Energias e Meio Ambiente
– 46 –
Hidrelétricas e a geração de energia
– 47 –
Energias e Meio Ambiente
– 48 –
Hidrelétricas e a geração de energia
– 49 –
Energias e Meio Ambiente
– 50 –
Hidrelétricas e a geração de energia
– 51 –
Energias e Meio Ambiente
– 52 –
Hidrelétricas e a geração de energia
– 53 –
4
Energia Geotérmica
– 56 –
Energia Geotérmica
– 57 –
Energias e Meio Ambiente
– 58 –
Energia Geotérmica
– 59 –
Energias e Meio Ambiente
– 60 –
Energia Geotérmica
30.000
20.000
10.000
0
2002 2004 2006 2008 2010 2012 2010
– 61 –
Energias e Meio Ambiente
– 62 –
Energia Geotérmica
4.2.1 Biogás
De forma geral, o biogás é definido como todo gás gerado durante a degra-
dação anaeróbia da matéria orgânica. Pode ser formado a partir de diversos
materiais residuários, como esterco, esgoto, restos vegetais e resíduos munici-
pais, sendo constituído, majoritariamente, por metano (CH4) e gás carbônico,
com traços de hidrogênio e gás sulfídrico (ou sulfeto de hidrogênio, H2S).
Durante o processo de degradação anaeróbia (também conhecido pelo
termo digestão anaeróbia), grupos de microrganismos distintos são respon-
sáveis pela formação de compostos intermediários, resultantes da quebra da
matéria orgânica. Assim, moléculas complexas, como carboidratos, proteínas e
ácidos graxos (óleos e gorduras), são convertidas em compostos mais simples,
como acetato e hidrogênio. Estes, por sua vez, serão utilizados como substratos
para a geração de metano e gás carbônico, ou metano e água, na etapa final da
degradação. Esta conversão final é realizada por um grupo de microrganismos
pertencentes ao Domínio Arquea, denominados metanogênicos.
Para que o processo de digestão anaeróbia possa ser levado a efeito,
gerando grandes quantidades de biogás, são necessárias condições adequa-
das de temperatura e pH. Em temperaturas mais elevadas, o metabolismo
dos organismos participantes do consórcio da digestão anaeróbia é acele-
rado. Como consequência, a degradação será conduzida mais rapidamente,
gerando maiores quantidades de biogás ao final do processo. Desta forma, tec-
nologias utilizadas para produção de biogás como recurso energético devem
garantir que o sistema atinja temperaturas ótimas para o processo. Em geral,
isto é obtido pelo aquecimento de sistemas, utilizando-se energia proveniente
da queima do próprio biogás. Também é fundamental que os resíduos em
decomposição sejam constantemente homogeneizados, para que a produção
deste composto seja realizada de forma consistente.
O princípio da geração de energia em sistemas que utilizam biogás é bas-
tante similar ao que ocorre com o uso do gás natural como fonte energética.
Assim como o gás natural, o metano apresenta elevado potencial energético
e sua queima pode produzir energia para aquecimento de ambientes, cozi-
mento de alimentos e produção de eletricidade.
De forma simplificada, após a sua geração em um processo de diges-
tão anaeróbia, o biogás é armazenado no próprio digestor (reservatório onde
– 63 –
Energias e Meio Ambiente
– 64 –
Energia Geotérmica
– 65 –
Energias e Meio Ambiente
4.2.2 Biocombustíveis
A principal diferença entre um biocombustível e um combustível con-
vencional está na origem da matéria-prima e no tipo de processo utilizado para
sua obtenção. Enquanto um biocombustível é originado a partir de proces-
sos biológicos de conversão, lançando mão de materiais renováveis (cana-de-
açúcar e algas, por exemplo), os combustíveis convencionais são dependentes
de processos geológicos, em que a produção da matéria-prima leva milhões de
anos, como é o caso do petróleo.
O termo combustível relaciona-se a qualquer material capaz de armaze-
nar energia potencial, que pode ser liberada e utilizada na realização de trabalho
útil ou geração de calor. Neste sentido, os biocombustíveis foram as primeiras
formas de combustível utilizadas pela humanidade, fazendo uso da energia
química presente em materiais orgânicos (como a madeira), através do pro-
cesso de combustão. No entanto, com o advento dos combustíveis fósseis este
panorama mudou rapidamente e a dependência da humanidade em relação
às fontes energéticas não renováveis tornou-se um fator preocupante para a
sustentabilidade do planeta.
Neste sentido, biocombustíveis podem ser considerados fontes limpas
de energia, principalmente pelo fato de serem neutros em carbono, na forma
de CO2. Isto porque as plantas utilizadas na sua produção (como a cana-
-de- açúcar e o milho na produção de etanol, e os óleos vegetais na produção
de biodiesel) são responsáveis pela absorção de CO2 durante seu desenvol-
vimento, compensando as emissões deste gás, ocasionadas pela sua queima
posterior como material combustível.
Há, entretanto, algumas controvérsias relacionadas à produção de bio-
combustíveis. Dentre estas, destaca-se a questão de que terras produtivas,
culturas agrícolas e energia estariam sendo utilizadas para a produção energé-
tica, ao passo que estes recursos poderiam ser direcionados para a geração de
alimentos. Também preocupa o fato de que, em algumas partes do mundo,
grandes áreas de vegetação natural e florestas estariam sendo devastadas para
o cultivo de cana-de-açúcar, milho e soja. Em sua defesa, porém, os governos
que adotam este tipo de matriz energética afirmam que, são realizados esfor-
ços para desenvolver potenciais fontes de biomassa que não necessitem com-
petir com culturas agrícolas destinadas à alimentação. Além disso, afirmam
– 66 –
Energia Geotérmica
– 67 –
Energias e Meio Ambiente
– 68 –
Energia Geotérmica
– 69 –
Energias e Meio Ambiente
– 70 –
5
Carvão
5.1 Carvão
O carvão mineral é um combustível fóssil originado a partir da decom-
posição da matéria orgânica vegetal. As condições extremas de formação deste
material, que deve ser submetido a elevadas temperaturas e pressão durante
milhões de anos, fazem com que seja considerado uma fonte não renovável
de energia, tendo em vista que é impossível reproduzir as condições de sua
formação em uma escala de tempo compatível com a humanidade.
O grande potencial energético presente neste composto vem da energia
acumulada em plantas, que há milhões de anos (principalmente nos períodos
Carbonífero e Permiano) estavam presentes, em grande quantidade, sobre regi-
ões pantanosas no nosso planeta (Figura 5.1).Estes vegetais encontravam-se
sujeitos aos alagamentos comuns naquele tipo de região, capazes de enterrar flo-
restas inteiras sob camadas subterrâneas. Ao longo do tempo, novas camadas de
solo eram constantemente depositadas sobre a matéria vegetal morta, aumen-
tando a compressão e a temperatura, à medida que a profundidade de depo-
sição aumentava. Associado a estes fenômenos estava o fato de que a matéria
vegetal, recoberta com lodo e águas subterrâneas de característica ácida e devido
à presença de compostos como sulfeto de hidrogênio (H2S), encontrava-se pro-
tegida dos fenômenos de decomposição microbiana e oxidação. Como resul-
tado destas condições extremas, lentamente, um composto com características
excepcionais se originou: o carvão vegetal, formado basicamente por átomos
de carbono (mais de 50% massa e 70% volume), com quantidades variáveis de
outros elementos, como enxofre, oxigênio, hidrogênio e nitrogênio.
Fig 5.1 Representação esquemática da formação geológica do carvão.
Pântanos (300 milhões Água (100 milhões de
de anos atrás) anos atrás)
Solo
Lodo
– 72 –
Carvão
– 74 –
Carvão
Uma vez extraído do reservatório, o carvão deve seguir para uma área de
preparação, em que será limpo e classificado para seu posterior uso. Nesta etapa,
são removidos restos de rochas e solo, cinzas, enxofre e outros materiais indeseja-
dos. A remoção destas impurezas aumenta o poder calorífico do carvão extraído.
Após a mineração e o processamento, o carvão deverá ser transportado
para sua comercialização. Muitas vezes, o custo com o transporte deste material
é superior ao da mineração propriamente dita. Dependendo da região, uma
forma econômica de transporte de carvão é a ferroviária. Barcas e navios tam-
bém podem ser utilizados, dependendo da localização do ponto de consumo
deste combustível. Ainda, uma forma alternativa é usar o carvão moído e mis-
turado com água para ser enviado via tubulações para áreas próximas às minas.
Usinas termelétricas são construídas nas proximidades das zonas de mineração,
visando minimizar os custos relativos ao transporte da sua matéria-prima.
– 75 –
Energias e Meio Ambiente
– 76 –
Carvão
Na Figura 5.2, podemos observar que o processo tem início com a alimen-
tação da caldeira, utilizando-se o carvão como combustível. No caso da Usina
Scherer, o carvão utilizado é do tipo sub-betuminoso, adequado para geração de
energia elétrica, conforme visto anteriormente. A caldeira será responsável pela
conversão da água de alimentação em vapor, queserá a força motriz responsá-
vel pela rotação das turbinas. O que temos é a conversão da energia térmica da
queima do carvão em energia mecânica, responsável pela realização do trabalho
de rotação. Este trabalho está associado à movimentação do gerador, que irá pro-
duzir energia elétrica. Esta energia será transportada até um transformador para
regulagem da voltagem e,a seguir, será distribuída para consumo, via linhas de
transmissão.Visando à maior economia do processo, a água quente resultante da
condensação do vapor é direcionada para um trocador de calor, onde será res-
friada pela troca de calor com a água de alimentação da caldeira. Esta transferência
prévia de calorreduz a demanda decombustível necessário para a geração de vapor.
Também é possível observarmos no esquema que, após sair do trocador, a água
aquecida do processo (com menor temperatura, após a passagem pelo trocador)
será direcionada para uma torre de resfriamento, onde será misturada com a água
coletada do reservatório da usina e reaproveitada no ciclo.
Apesar de uma geração rápida e eficiente de eletricidade, o uso de car-
vão como combustível apresenta inúmeras desvantagens ambientais e, muitas
vezes, é visto como o grande vilão para a sustentabilidade do planeta. De fato,
apesar de não ser a única fonte energética capaz de interferir no equilíbrio
ambiental, a energia termelétrica é responsável por vários impactos preocu-
pantes ao meio ambiente, desde o processo de mineração do carvão até a sua
queima como combustível.
Quando a mineração de superfície é realizada pela técnica de remoção
de topo, isto é, com o uso de explosivos em áreas extensas, a paisagem é dras-
ticamente alterada e grande quantidade de partículas sólidas é suspensa na
atmosfera. Com isso, o processo de fotossíntese dos vegetais é comprometido
e todo o ecossistema é prejudicado, como consequência. As leis dos países
que adotam este tipo de mineração devem, necessariamente, exigir o controle
e a correta disposição dos particulados e águas de escoamento superficial na
região, além de recuperar a área degradada, que deve ficar o mais próximo
possível de sua condição original.
Neste sentido, minas subterrâneas apresentam menor interferência no
meioambiente do que aquelas localizadas na superfície. Dos impactos ambien-
– 77 –
Energias e Meio Ambiente
– 78 –
Carvão
Apesar do CO2 ser o principal gás do efeito estufa gerado pela queima
do carvão (e de outros combustíveis fósseis, como veremos na sequência),
outros gases também são produzidos durante o processo, com impactos nega-
tivos ao meio ambiente. O dióxido de enxofre (SO2), por exemplo, contribui
para a chuva ácida e para doenças respiratórias. Assim como ele, os óxidos
de nitrogênio (NOx) também são prejudiciais à saúde, além de ocasionarem
uma névoa densa e poluente na atmosfera. Outros particulados lançados con-
tribuem para a poluição e doenças pulmonares. Além disso, metais pesados,
como o mercúrio, também podem ser liberados durante o processo de com-
bustão do carvão. Apesar deste metal não ser encontrado em grandes concen-
trações na atmosfera, quando depositado na água, o mercúrio é convertido
em metil-mercúrio, um composto altamente tóxico, com efeitos neurológicos
severos e com elevado potencial de bioacumulação. Ou seja, ao ser consu-
mido, o mercúrio se acumula no organismo, aumentando sua concentração a
cada nível trófico. Neste caso, o consumidor final (em geral, o homem) será
aquele que sofrerá os efeitos mais drásticos da ação do composto.
Um triste exemplo do efeito danoso das emissões atmosféricas, oca-
sionadas pela queima do carvão em condições pouco controladas, data de
1952. Mais especificamente, entre os dias 5 e 9 de dezembro do mencionado
ano, em Londres, um dos mais severos episódios de poluição atmosférica foi
vivenciado, denominado posteriormente de o Grande Nevoeiro de 1952 (ou
Big Smoke). Nesta época, uma forte frente fria atingiu a cidade, obrigando a
população a queimar mais carvão para o aquecimento. O carvão utilizado era
inferior, tendo em vista que devido à recessão do pós-guerra, a maior parte do
carvão de melhor qualidade era destinado à exportação, visando à recupera-
ção econômica do país. Associado a isso, uma inversão térmica causada pela
massa mais densa de ar frio aprisionou os gases na proximidade da superfície,
sufocando e intoxicando a população de forma massiva. Como resultado,
em três dias de nevoeiro, 4.000 londrinos morreram. Estima-se, atualmente,
que o número de mortes tenha sido ainda maior, alcançando 12.000 pessoas,
como resultado da ação dos gases no trato respiratório da população.
Episódios como o Big Smoke evidenciaram a necessidade de se encontrar
fontes alternativas de energia, menos prejudiciais ao meio ambiente e sem impac-
tos negativos à saúde da população mundial. Esta busca, porém, ainda não atin-
giu o resultado esperado e o uso dos combustíveis fósseis continua a prevalecer,
conforme veremos na próxima seção.
– 79 –
Energias e Meio Ambiente
fase gasosa, formando os chamados gases do petróleo. Estes gases podem ser
queimados e utilizados na própria refinaria para geração de energia. Frações
contendo de 5 a 8 carbonos (pentano a octano)são refinadas em gasolina; de
9 a 16 carbonos (nonano a hexadecano), em óleo diesel, querosene e combus-
tível para aviação; alcanos com mais de 16 carbonos, em óleo combustível e
lubrificante. Os alcanos mais pesados formam a parafina (25 carbonos) e o
betume, com 35 carbonos. Outros hidrocarbonetos, como os aromáticos e
alcenos, são utilizados na indústria petroquímica para produção de solventes
orgânicos, como o benzeno ou polímeros plásticos, como o polipropileno.
Assim, é possível concluir que a importância comercial do petróleo é imensa
e não se resume apenas à produção de combustíveis.
A dependência mundial em relação à essa matéria-prima é, ainda, bas-
tante grande. Todavia, novos processos como as biorrefinarias podem ser a
solução para uma substituição quase completa dos processos dependentes do
petróleo, como será abordado em detalhes no Capítulo 10.
De acordo com dados de 2013 da U.S. Energy Information Administration
(EIA), cerca de 46% de toda a produção mundial de petróleo vem de 5 países,
a saber: Rússia (13%); Arábia Saudita (13%); Estados Unidos (10%); China
(5%) e Canadá (4%). Evidencia-se, mais uma vez, a detenção do potencial
energético desta matriz na mão de poucos grupos, o que, de forma alguma, é
benéfico para a sustentabilidade do planeta.
É inegável que os derivados de petróleos nos auxiliam em muitas atividades.
Na lista de produtos que lançam mão de alguma forma, destas matérias-primas,
temos: tintas, pneus, CDs e DVDs, computadores, desodorantes e até mesmo giz
de cera, material produzido a partir de parafina misturada com pigmentos. Isto
sem mencionar os materiais combustíveis, como a gasolina e óleo diesel, impor-
tantes para o transporte e aquecimento de residências. Apesar das facilidades
que este composto e seus derivados proporcionam, são bastante preocupantes os
impactos ocasionados pela sua exploração, transporte e uso disseminado.
Ao serem queimados como combustíveis, os derivados do petróleo são
responsáveis pela emissão de inúmeros gases atmosféricos, muitos dos quais
atuam como potencializadores do efeito estufa. Entre os principais gases gera-
dos, estãoo dióxido de carbono (CO2), principal agente do fenômeno do aque-
cimento global;o monóxido de carbono (CO), composto altamente tóxico por
interferir no transporte de oxigênio dentro dos seres vivos; e o dióxido de enxo-
– 82 –
Carvão
fre (SO2), que, como já visto, é o agente causador da chuva ácida, a qual interfere
no equilíbrio dos ecossistemas e causa prejuízos econômicos pela degradação do
ambiente construído. Além disso, grande quantidade de material particulado e
de outros compostos tóxicos, como chumbo, benzeno e formaldeído, são lança-
dos na atmosfera durante a combustão dos combustíveis de petróleo.
A solução para contornar os problemas ambientais associados aos combustí-
veis de origem fóssil passam pelo desenvolvimento de novas tecnologias, mais lim-
pas e com capacidade de suprir a demanda energética, atualmente dependente des-
tas fontes. Novas políticas governamentais também poderão auxiliar na mudança,
ao investirem em matrizes energéticas alternativas, mais acessíveis e sustentáveis.
– 84 –
6
Transmissão da
energia elétrica
– 86 –
Transmissão da energia elétrica
– 87 –
Energias e Meio Ambiente
Voltagem
primário
Voltagem
secundária
Núcleo do
transformador
Fonte: Adaptado e utilizado sob GNU Free Documentation License (Wikimedia Commons, 2006)
A utilização de um transformador na cadeia de produção da eletricidade
visa auxiliar na eficiência e segurança do processo, sendo aplicado em dois
momentos: na transmissão e na distribuição da eletricidade. Durante a trans-
missão, devido à resistência das linhas responsáveis pela passagem da corrente
elétrica, grande parte da energia é perdida durante seu transporte, especial-
mente quando este deve ser feito por longas distâncias.
Visando minimizar estas perdas, após sua produção em um gerador (pela
conversão da energia mecânica do movimento da turbina em energia elétrica), a
eletricidade é direcionada para um transformador similar àquele apresentado na
Figura 6.2, onde terá sua voltagem elevada. Em geral, as voltagens utilizadas em
linhas de transmissão variam de 110 kV a 750 kV, o que é responsável pela sua
denominação como linhas de alta tensão. Com uma voltagem maior, a corrente
elétrica é diminuída, o que reduz ao quadrado as perdas nas linhas de transmis-
são. Isto porque estas perdas são resultado do chamado Efeito Joule.
O Efeito (ou Lei) de Joule é a lei da Física que relaciona o calor produ-
zido em um condutor com a passagem de corrente elétrica em um determi-
nado intervalo de tempo. Desta forma:
Q = I2 ⋅ R ⋅ t (6.2)
– 88 –
Transmissão da energia elétrica
– 89 –
Energias e Meio Ambiente
6.2 Distribuição
Linhas e subestações de transmissão irão direcionar a corrente elétrica
para subestações de distribuição, que constituem a etapa final da cadeia de
produção da eletricidade. Transformadores presentes nestas subestações irão
diminuir a voltagem proveniente das linhas de transmissão, visando à ade-
quação da energia a ser distribuída para as residências. Isto porque não have-
ria como ligarmos nossos equipamentos dependentes de eletricidade, como
– 91 –
Energias e Meio Ambiente
– 92 –
Transmissão da energia elétrica
– 93 –
Energias e Meio Ambiente
– 94 –
Transmissão da energia elétrica
que chega ao consumidor é gerada por diversas usinas, sejam elas termelétricas,
hidrelétricas, nucleares ou eólicas. Assim, a sazonalidade de geração associada a
alguma fonte energética (como o regime de rios, no caso das hidrelétricas) não
influenciará, a princípio, o abastecimento energético de determinada região.
O SIN é formado por diversos subsistemas, cada um associado à determinada
área de atuação. Como exemplo, o subsistema Sudeste/ Centro-Oeste (SE/CO)
é responsável por estas regiões e também pelos estados do Acre e Rondônia. É
importante salientar que os subsistemas são todos ligados entre si, o que permite a
transferência de excedentes energéticos entre as diferentes regiões do país.
A regulação e fiscalização da geração, transmissão e distribuição da ener-
gia elétrica no Brasil é realizada pela ANEEL ou Agência Nacional de Energia
Elétrica. Entre as suas competências, encontra-se o estabelecimento de mecanis-
mos que garantam o atendimento do mercado consumidor em sua totalidade,
com boa qualidade do serviço e a preservação do meio ambiente. Outra de suas
atribuições importantes é a definição dos valores das tarifas de uso dos sistemas
elétricos de transmissão e distribuição, os chamados TUST e TUSD, respec-
tivamente. Estas tarifas têm como objetivo assegurar a arrecadação suficiente
de recursos para a manutenção do sistema de transmissão da eletricidade, one-
rando com encargos elevados os usuários que sobrecarreguem o sistema. Mais
sobre as tarifas e custos associados à geração da energia elétrica no Brasil será
visto no Capítulo 7.
Mundialmente, dados da U.S. Energy Information Administration afirmam
que, em 2012, os países com maior consumo de eletricidade foram a China e os
Estados Unidos, com 4.468 bilhões de kWh e 3.832 bilhões de kWh, respec-
tivamente. Na sequência, encontra-se o Japão, com 921 bilhões de kWh, um
número realmente expressivo, considerando-se o tamanho da sua população.
Ainda configuram na lista de maiores consumidores a Rússia, Índia, Alemanha
e Canadá. Neste ranking, o Brasil ocupa a 8ª posição, com 484 bilhões de kWh.
A Figura 6.5 apresenta o panorama mundial de consumo de eletricidade, de
acordo com dados de 2012.
Apesar da grande quantidade de energia demandada no mundo, sua
distribuição ainda é realizada de maneira desigual, particularmente nos paí-
ses de economias emergentes. Isto porque existem zonas de baixa densidade
demográfica, como áreas agrícolas ou outras regiões distantes dos grandes
centros urbanos, que ainda sofrem com a falta de acesso à eletricidade. E
– 95 –
Energias e Meio Ambiente
– 96 –
Transmissão da energia elétrica
– 97 –
Energias e Meio Ambiente
Fig 6.6 Sistema de SWER (monofilar com retorno por terra), instalado na região rural
do estado do Amazonas, Brasil.
– 98 –
Transmissão da energia elétrica
– 99 –
7
Histórico energético
no Brasil
– 103 –
Energias e Meio Ambiente
– 104 –
Histórico energético no Brasil
Fig 7.2 Casa de força da Usina Hidrelétrica de Fontes (Piraí, Rio de Janeiro).
– 105 –
Energias e Meio Ambiente
dade. Este sistema de geração de energia nuclear via PWR foi adquirido da
empresa norte-americana Westinghouse; entretanto, não houve transferência
de tecnologia na época de sua aquisição e o Brasil não conseguiu obtero know-
-how na produção de energia nuclear, que tanto interessava ao país.
Assim, em 1975 foi firmado um convênio entre Brasil e Alemanha para
a construção de Angra II, em que se acordava a transferência da tecnologia de
fabricação de combustível nuclear para o nosso país. De fato, este acordo resul-
tou no desenvolvimento tecnológico necessário para a autossuficiência do país
na geração de energia nuclear. Porém, apesar de ter sua construção iniciada em
1981, Angra II só se tornou operacional em 2001, devido a um lapso de 13 anos
nas obras, em função da crise econômica que assolava o país. Da mesma forma,
a usina Angra III teve suas obras iniciadas em 1984 e foram interrompidas dois
anos depois. Em 1997, em uma tentativa de contornar a desaceleração do Pro-
grama Nuclear no Brasil,foi criada a Eletronuclear, uma subsidiária da Eletro-
bras, que apresentava como objetivos projetar, construir e operar usinas nuclea-
res em território nacional. De acordo com os novos planos de investimento no
setor, em 2007, foram retomadas as obras da Usina Angra III, que deve se tornar
comercialmente operacional em 2018. A Figura 7.4 apresenta a Central Nuclear
Almirante Álvaro Alberto, com as duas usinas operacionais, Angra I e Angra II,
e a usina Angra III, em construção.
Fig 7.4 Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, Angra dos Reis, Rio de Janeiro.
Da esquerda para
direita: canteiro
de construção
de Angra III (ao
fundo); Angra II
(centro) e Angra I
Fonte: Adaptado e utilizado sob Creative Commons Atribution 2.0 Genericlicense (2010)
Na década de 1990, o setor elétrico do país foi reestruturado, com a criação
de novas entidades de regulamentação, pesquisa e fiscalização do uso da energia
elétrica, como a Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL; a Empresa
dePesquisa Energética - EPE e o Operador Nacional do Sistema Elétrico - ONS.
Esta nova divisão reduziu as responsabilidades da Eletrobras, ao mesmo tempo
que proporcionou um maior controle na produção, transmissão e comercializa-
– 107 –
Energias e Meio Ambiente
– 108 –
Histórico energético no Brasil
– 109 –
Energias e Meio Ambiente
– 110 –
Histórico energético no Brasil
– 111 –
Energias e Meio Ambiente
– 112 –
Histórico energético no Brasil
MW, que é suficiente para abastecer cerca de 2,5 mil residências. Na Figura
7.7 é apresentada uma visão geral da usina,que foi construída sobre antigos
depósitos de cinzas, provenientes da queima de carvão em usinas termelé-
tricas instaladas nas proximidades.
Fig 7.7 Vista geral da Usina Fotovoltaica Cidade Azul, localizada no município de
Tubarão, Santa Catarina.
– 113 –
Energias e Meio Ambiente
– 114 –
Histórico energético no Brasil
– 115 –
8
Energia e o
desenvolvimento
econômico
– 118 –
Energia e o desenvolvimento econômico
Fig 8.1 Comparativo entre a quantidade de energia (kWh/ ano) consumida, em média,
por um habitante de um país africano e a quantidade de energia consumida por um
refrigerador convencional.
– 119 –
Energias e Meio Ambiente
Dessa forma, a situação energética nos países pobres não é impossível de ser
solucionada, no entanto, apresenta algumas dificuldades que devem ser sanadas,
principalmente relacionadas a questões políticas, econômicas e geográficas. Assim,
ao mesmo tempo em que políticas sociais de interesse da população devam ser
tomadas, a economia deverá ser fortalecida, melhorando o poder de compra e
acesso à tecnologia em um país. Também, questões como a distância e a dificul-
dade de acesso a regiões sem distribuição de eletricidade precisam ser conside-
radas. Governos devem reduzir esta disparidade, adotando políticas públicas
eficientes, como tem sido levado a efeito no Brasil, em programas que têm
como objetivo levar energia elétrica para zonas rurais e áreas remotas do país.
Como apresentado anteriormente, o aumento populacional é a prin-
cipal força motriz da procura por energia. Entretanto, apesar da população
mundial ter aumentado em mais de 1,5 bilhão nas últimas duas décadas, a
taxa global de crescimento da população vem diminuindo. Com efeito, estima-
tivas mais recentes do Banco Mundial afirmam que o número de pessoas sem
acesso à energia comercial diminuiu nestes últimos anos, resultando em 1,2
bilhão de pessoas, aproximadamente.
O fornecimento e uso da energia apresentam fortes impactos econô-
micos, sociais e ambientais, mas, nem toda energia é fornecida comercial-
mente. Combustíveis derivados da biomassa, por exemplo, são amplamente
utilizados, muitas vezes sem terem sido comercializados. Realmente, em países
em desenvolvimento, a queima da madeira tem sido fundamental para o aque-
cimento e preparo de alimentos, principalmente em regiões sem acesso à eletri-
cidade. Contudo, o acesso universal à energia comercial permanece como uma
meta a ser alcançada em um futuro próximo.
Em diversos países, principalmente naqueles localizados na Ásia e na
África, o ritmo da eletrificação está muito abaixo da demanda, que encontra-
se, por sua vez, cada vez mais crescente. Com isso, torna-se imperativo que este
desafio seja enfrentado o quanto antes, haja vista o grande impacto que a eletrici-
dade tem no bem-estar da população, além do crescimento econômico e desen-
volvimento social, principalmente na prestação de serviços básicos, como aqueles
destinados à saúde e à educação.
O desenvolvimento de infraestruturas energéticas nos países menos desen-
volvidos exige um esforço contínuo da comunidade energética global. Requer,
também, uma estrutura institucional, política e legal bem estabelecida, o que,
– 120 –
Energia e o desenvolvimento econômico
8.2.1 Carvão
Apesar de apresentar elevado impacto ambiental, o carvão continua
como um colaborador importante na geração de energia de muitos países. De
fato, o carvão é, a fonte de combustível fóssil mais disseminada no mundo,
com 75 países possuindo depósitos desta matéria-prima. Também é a matriz
responsável pela maior porcentagem de geração de energia elétrica no mundo:
40%. Como fonte energética primária, isto é, com a sua energia da combus-
tão aproveitada diretamente, é a segunda maior fonte mundial, perdendo
apenas para o petróleo. Porém, espera-se que isso seja revertido nos próximos
anos, principalmente dada sua presença acessível e abundante em diversos
países ao redor do globo.
Estima-se que, hoje, existam cerca de 869 bilhões de toneladas de car-
vão em reservas. Esta quantidade, de acordo com estimativas futuras de
consumo, deverá ser suficiente para abastecimento energético por, apro-
ximadamente, 115 anos, tempo consideravelmente maior do que aquele
estimado para reservas de petróleo e gás natural. Além disto, estas reser-
vas encontram-se, em sua maioria, nos continentes africano e asiático que,
conforme já discutimos na seção anterior, vêm enfrentando desafios para
conseguirem suprir a demanda energética de suas populações. Dentre os
países, aquele que apresenta as maiores reservas mundiais são os Estados
Unidos, com quase 240 mil bilhões de toneladas de carvão, o equivalente
a um quarto das reservas mundiais. A Figura 8.2 ilustra a maior mina de
– 121 –
Energias e Meio Ambiente
8.2.2 Petróleo
Assim como o carvão, o petróleo também é responsável por uma boa
parte da energia produzida globalmente, representando 32% do consumo
energético mundial (dados de 2010). Esta proporção não tem mudado muito
nos últimos 20 anos, apesar da demanda mundial de energia ter aumentado
cerca de 50% no mesmo período.
– 122 –
Energia e o desenvolvimento econômico
– 123 –
Energias e Meio Ambiente
– 124 –
Energia e o desenvolvimento econômico
1,500
1,000
500
0
tes
an
Irã
a
ria
a
ria
r
es
ue
la
ia
tan
si
ata
ssi
Ira
in
e
ab
at
ist
ne
ira
q
ge
ige
zu
Ru
Ch
St
bi
Q
hs
Ar
en
Al
do
Em
ne
am
k
ted
za
In
di
Ve
oz
rk
ab
Ka
u
i
Un
Sa
Tu
M
Ar
ted
i
Un
– 125 –
Energias e Meio Ambiente
– 126 –
Energia e o desenvolvimento econômico
8.2.5 Hidrelétricas
Importante fonte renovável de energia, as hidrelétricas podem ser encontra-
das em mais de 100 países e são responsáveis por 15% do total da matriz energé-
tica no mundo. Conforme vimos no Capítulo 7, o Brasil apresenta sua geração
energética, na maior parte, associada ao funcionamento de usinas hidrelétricas em
seu território. Os cinco maiores mercados mundiais da energia hidrelétrica, em
termos de capacidade instalada, são a China, em primeiro lugar, seguida do Brasil,
EUA, Canadá e Rússia. A Tabela 8.1 apresenta a capacidade instalada e a geração
energética para os cinco países, comparando os valores entre 1993 e 2011.
Tabela 8.1 Capacidade instalada (MW) e geração efetiva (GWh) dos cinco
maiores mercados mundiais de energia hidrelétrica
Hidrelétrica Capacidade Instalada (MW) Geração Efetiva (GWh)
País 2011 1993 2011 1993
China 231 000 44 600 714 000 138 700
Brasil 82 458 47 265 428 571 252 804
EUA 77 500 74 418 268 000 267 326
Canadá 75 104 61 959 348 110 315 750
Rússia 49 700 42 818 180 000 160 630
Resto do mundo 430 420 338 204 828 437 1 150 750
Total 946 182 609 264 2 767 118 2 285 960
Fonte: Adaptado de World Energy Council (2013).
– 127 –
Energias e Meio Ambiente
– 128 –
Energia e o desenvolvimento econômico
– 129 –
Energias e Meio Ambiente
– 130 –
Energia e o desenvolvimento econômico
ser considerado como uma forma de investimento no setor, tendo em vista que
permite a redução de gastos associados à produção de energia. Logicamente, estes
investimentos são difíceis de serem mensurados; porém, a entrada de equipamen-
tos mais eficientes no mercado influenciam diretamente a demanda energética
que, por sua vez, traz consigo a exigência de novos investimentos.
Aproximadamente, 70% dos investimentos atuais no setor energético
são relativos às fontes fósseis, a saber: nas atividades de extração de petróleo,
gás natural e carvão; no transporte dos combustíveis para os consumidores;
na transformação em novos produtos (em refinarias, por exemplo); na cons-
trução de termelétricas que fazem uso da queima destes combustíveis. Apesar
dos investimentos nestas fontes não terem reduzido desde o ano de 2000
(IEA, dados de 2014), os investimentos em fontes renováveis quadriplicaram
no mesmo período, evidenciando o crescente aumento da demanda energé-
tica mundial, que exige melhorias contínuas no setor.
Investimentos em combustíveis não fósseis passaram de 65 bilhões, no ano
de 2000, para 310 bilhões, em 2011. Em 2013, este valor foi reduzido para 260
bilhões, o equivalente a 16% do total de investimentos no setor energético no
ano. O restante, descontando as parcelas referentes à geração de energia por fon-
tes fósseis e não fósseis, o que equivale a 250 bilhões (ano de 2013), foi inves-
tido na melhoria e construção de novas redes de transmissão e distribuição de
eletricidade. A Figura 8.6 mostra os investimentos globais no setor energético
(em bilhões de dólares), no período compreendido entre os anos de 2000 e 2013.
Fig 8.6 Investimentos globais (em bilhões de dólares), em energia a partir da combustíveis
fósseis, não fósseis e em redes de transmissão e distribuição da eletricidade, de 2000 a 2013.
800
300
– 131 –
Energias e Meio Ambiente
– 132 –
9
Células a combustível
– 134 –
Células a combustível
– 135 –
Energias e Meio Ambiente
– 136 –
Células a combustível
negativa, que será a força motrizresponsável pela passagem dos prótons pela
membrana. Uma vez no cátodo, os cátions H+ vão reagir com um oxigênio e
dois dos elétrons provenientes do circuito externo, gerando água.
Uma célula a combustível do tipo PEMFC tem as características ideais
para ser utilizada como fonte de energia em sistemas de transporte e em disposi-
tivos móveis (portáteis). Isto porque apresenta temperaturas relativamente bai-
xas de operação (entre 60 ºC e 80 ºC), além de elevada densidade de potência.
Baixas temperaturas de operação indicam que não é necessário muito tempo até
que a célula comece a gerar eletricidade. Por sua vez, uma densidade de potên-
cia alta implica em uma grande quantidade de energia sendo gerada por metro
quadrado do sistema (W/ m2).
Outro tipo de célula combustível bastante utilizada é aquela que faz uso
da tecnologia de óxido sólido (SOFC). Neste caso, o eletrólito é constituído
por uma cerâmica formada por um óxido, normalmente dióxido de zircônio
estabilizado com ítrio (YSZ), que será responsável pela seletividade da passa-
gem entre ânodo e cátodo. Este tipo de célula opera sob elevadas temperatu-
ras, isto é, entre 500 ºC e 1000 ºC, o que pode comprometer os dispositivos
que constituem a célula, principalmente durante os ciclos repetidos de opera-
ção. Estas elevadas temperaturas podem se tornar vantajosas quando associa-
das a um outro processo de geração energética. O vapor produzido pela célula
de combustível poderá ser direcionado para a rotação de turbinas, visando ao
aumento da produção de eletricidade e, por conseguinte, a eficiência de um
sistema energético associado. Outra vantagem referente à célula SOFC é a sua
estabilidade quando submetida a ciclos contínuos de funcionamento.
Uma terceira configuração de células a combustível com aplicação comer-
cial envolve a utilização de carbono fundido como eletrólito (MCFC). Neste
caso, uma mistura contendo sal de carbonato, fundido e suspenso em uma
matriz de cerâmica porosa de alumina, é usada como condutora dos prótons
gerados no ânodo. Por ser um sistema que opera sob elevadas temperaturas,
em geral próximo dos 600 ºC, esta célula possibilita a utilização de metais não
preciosos como catalisadores, o que reduz notadamente o custo do processo.
Assim como as SOFC, as células a combustível do tipo MCFC podem ser
utilizadas no processo de cogeração energética, ao fornecer vapor para um
sistema de turbinas. Entretanto, diferentemente das SOFC, estas células dis-
pensam o uso de dispositivos especiais resistentes ao calor, já que sua operação
– 137 –
Energias e Meio Ambiente
irá ocorrer sob temperaturas menores do que aquelas associadas aos sistemas
de óxido sólido.
Outras tecnologias de geração energética por célula a combustível
apresentam potencial de aplicação; porém, seus elevados custos de operação
acabam por inviabilizar seu uso comercial. É o caso das células alcalinas
(AFC), uma das primeiras configurações desenvolvidas para este tipo de
sistema. Utilizada em programas espaciais desde a década de 1960, estas
células exigem gás hidrogênio e oxigênio de elevadas purezas, o que torna
esta tecnologia extremamente dispendiosa. Outros exemplos incluem as
células a combustível de ácido fosfórico (PAFC), com potencial para uso
em pequenas estações de geração energética, todavia, com elevado tempo
de aquecimento, o que limita sua utilização em automóveis e dispositivos
móveis; e as células a combustível de metanol direto (DMFC), similares às
células PEMFC em relação às baixas temperaturas de operação, no entanto,
menos eficientes e mais caras, pois demandam uma quantidade maior de
platina como catalisador.
– 138 –
Células a combustível
Fig 9.3 Bateria voltaica a gás. À esquerda, observa-se cinco células geradoras, cada
uma contendo um cátodo (oxigênio) e um ânodo (hidrogênio); à direita, o voltâmetro
acoplado ao sistema.
– 139 –
Energias e Meio Ambiente
– 140 –
Células a combustível
– 141 –
Energias e Meio Ambiente
dos do núcleo, é exercida uma atração mais fraca sobre eles. Todavia, para que
possam se transformar efetivamente em elétrons livres, isto é, disponíveis para
a condução da corrente elétrica no material, é necessário que estes elétrons
sejam deslocados para a banda de condução.
Para materiais condutores, as bandas de valência e de condução encontram-
se praticamente superpostas e os elétrons presentes encontram-se disponíveis
(livres) para a condução da eletricidade (Figura 9.4). Por outro lado, nos mate-
riais semicondutores e isolantes há uma lacuna entre as bandas de valência e de
condução, que é impeditiva ao processo de condução elétrica. Esta lacuna, ou
banda proibida, para os semicondutores, é menor do que aquela encontrada
para materiais isolantes. Assim, à temperatura de zero Kelvin (zero absoluto),
os semicondutores, se comportam como isolantes; porém, com o aumento da
temperatura, e sob a ação de alguma fonte de energia como a radiação eletromag-
nética, os elétrons podem saltar da banda de valênciapara a banda de condução,
produzindo uma corrente elétrica no interior da rede cristalina do semicondutor.
Fig 9.4 Distância entre as bandas de valência e de condução para materiais condutores,
semicondutores e isolantes. O espaço entre as bandas é denominado lacuna ou banda proibida.
– 142 –
Células a combustível
– 143 –
Energias e Meio Ambiente
Figura 9.5 apresenta uma célula fotovoltaica com a zona de depleção formada
ao redor da junção PN.
Fig 9.5 Célula fotovoltaica apresentando os semicondutores do tipo N e P,
unidos pela junção PN. Ao redor da junção, cargas estáticas positivas e negativas
induzem a geração de um campo elétrico
– 144 –
Células a combustível
– 145 –
Energias e Meio Ambiente
– 146 –
Células a combustível
para hidrelétricas e usinas eólica, este valor foi igual a 5 a 12 centavos de dóla-
res, e 5 a 9 centavos de dólares, respectivamente.
Apesar disso, nos últimos anos, os custos associados à geração de energia
solar vêm reduzindo gradativamente, principalmente devido ao desenvolvi-
mentos de tecnologias mais baratas e acessíveis. Com efeito, estimativas da
Agência Internacional de Energia (IEA) indicam que o sol poderá ser, em
2050, a principal fonte de energia mundial, com os sistemas fotovoltaicos
e as usinas solares térmicas sendo responsáveis por 16% e 11% da matriz
energética mundial, respectivamente. Juntas, estas fontes de energia renovável
poderiam evitar a emissão de mais de 6 bilhões de toneladas de CO2 por ano,
a partir de 2050.
De fato, as perspectivas futuras para o uso de energias renováveis são
bastante promissoras e consideráveis avanços já podem ser observados neste
setor, particularmente em países em desenvolvimento. A Índia, por exemplo,
apresenta atualmente, a quinta maior capacidade instalada de energia eólica,
enquanto a China é responsável por mais de 40% de toda a energia fotovol-
taica produzida no mundo. No entanto, para que as mudanças continuem
acontecendo, é fundamental que investimentos no setor , públicos e privados,
sejam estimulados, visando ao avanço no desenvolvimento e na implantação
destas tecnologias renováveis.
– 147 –
10
Esgotamento dos
recursos energéticos
– 150 –
Esgotamento dos recursos energéticos
– 151 –
Energias e Meio Ambiente
– 152 –
Esgotamento dos recursos energéticos
Além disso, a queda na demanda também tem sido responsável pela menor
oscilação dos valores desta matéria-prima no mercado. Em países não mem-
bros da OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Eco-
nômico), como o Brasil, China e a Índia, o menor crescimento econômico
vivenciado nos últimos anos tem se refletido, proporcionalmente, na redu-
ção da demanda, principalmente em relação aos combustíveis derivados
do petróleo.
Fig 10.2 Produção mundial de petróleo (em milhares de barris por dia) para os
cinco maiores produtores, entre os anos de 1980 e 2014.
15,000
10,000
5,000
0
1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010
– 153 –
Energias e Meio Ambiente
Produção
Pico máximo
Declineo acelerado
Crescimento
Declineo estável
Declineo lento
Tempo
– 154 –
Esgotamento dos recursos energéticos
– 155 –
Energias e Meio Ambiente
gás natural devem estar localizados em algum ponto entre 2010 e 2040. De
fato, alguns especialistas menos otimistas acreditam que o declínio na produção
dos combustíveis fósseis terá início antes da metade do século XXI. De acordo
com estas análises, é preciso compreender o pico de petróleo como um fenô-
meno econômico e não apenas físico. Assim, o declínio na sua produção deverá
ocorrer quando houverem outras fontes energéticas disponíveis, com elevada
eficiência e baixo custo, ou seja, quando as reservas de petróleo de fácil acesso
estiverem exauridas.
Porém, outros grupos de especialistas vêm contestando o cenário pre-
gado por Hubbert, afirmando que a teoria, na verdade, aborda o problema
pelo ângulo errado. De acordo com estes analistas, o pico de petróleo não
deve ser limitado pela escassez física das reservas, mas pela capacidade econô-
mica e pelo desenvolvimento tecnológico que possuímos para a exploração de
novas fontes deste recurso.
Como exemplo, as previsões do modelo desenvolvido por Hubbert
foram corretas quando definiram que o pico do petróleo nos Estados Unidos
deveria ocorrer na década de 1970, sofrendo uma redução progressiva na
produção a partir daí, como foi observado. Em 2009, entretanto, contra-
riando o que se acreditava ser o período de declínio da indústria petrolífera
norte-americana, houve um aumento progressivo da produção, com dados
de 2014 indicando, até então, um crescimento de 65% (Figura 10.6). Neste
caso, o que o modelo de Hubbert não conseguiu prever foram os avanços das
tecnologias de exploração, que garantiram que novas reservas, anteriormente
não acessíveis, pudessem ser exploradas no país.
Uma das principais tecnologias responsáveis pelo novo fôlego na pro-
dução de combustíveis fósseis foi o fraturamento hidráulico (ou fracking),
que permitiu a extração de petróleo de xisto de formações geológicas extre-
mamente compactas. Nesta técnica, água, areia e outros compostos quími-
cos utilizados como aditivos e agentes de sustentação (chamados propantes)
são bombeados na superfície das rochas, levando à formação de inúmeras
fraturas e ao escoamento do petróleo até o poço. A Figura 10.6 apresenta
uma representação esquemática deste processo de fraturamento, que vem
sendo amplamente utilizado para exploração das fontes não convencionais
de petróleo em diversos países. Do ponto de vista ambiental, esta técnica é
duramente criticada, por inserir no solo diversas substâncias químicas tóxi-
– 156 –
Esgotamento dos recursos energéticos
4,000,00
3,500,00
3,500,00
Mbbl (103 barris)
3,500,00
3,500,00
3,500,00
3,500,00
3,500,00
0
1860 1880 1900 1920 1940 1960 1980 2000
Ano
Fonte: Adaptado de USEIA (2015).
– 157 –
Energias e Meio Ambiente
– 158 –
Esgotamento dos recursos energéticos
a melhor definição parece estar associada àquela fornecida pelas Nações Uni-
das, por meio do seu relatório intitulado Our Common Future, elaborado pela
Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1987. Este
relatório também ficou conhecido como Relatório Brundtland, em alusão à Pre-
sidente da comissão responsável por seu desenvolvimento, Gro Harlem Brun-
dtland, na época, primeira-ministra da Noruega.
Conhecido como um divisor de águas dentro da política ambiental
mundial, o Relatório de Brundtland inovou ao trazer uma definição para o
termo desenvolvimento sustentável. De acordo com o documento, trata-se
do desenvolvimento capaz de satisfazer as necessidades do presente, sem, contudo,
comprometer a capacidade das futuras gerações em suprir suas próprias necessida-
des. A sustentabilidade, portanto, encontra-se vinculada ao uso dos recursos
naturais de forma consciente e dentro da capacidade de suporte dos ecossis-
temas, visando à garantia, a longo prazo, dos recursos básicos, como água,
alimento e energia.
Para que uma fonte energética possa ser definida como sustentável, elade-
verá reunir algumas características específicas, como não sofrer depleção (esgo-
tamento) significativa ao longo do tempo; não acarretar poluição substancial
ou outros danos graves ao meio ambiente; não ser fonte de riscos à saúde da
população mundial;e não fomentar a desigualdade ou injustiças sociais.
Por centenas de anos, e em praticamente todo lugar no mundo, sis-
temas de energia foram desenvolvidos, tendo como fonte os combustíveis
fósseis, em função das suas inúmeras vantagens. É fato, portanto, que nos
tornamos extremamente dependentes destes recursos energéticos e, mesmo
sendo exageradas as afirmações de que os suprimentos irão acabar a curto
ou médio prazo, ainda assim, trata-se de um recurso finito. Na ausência de
um substituto apropriado, seu esgotamento será prejudicial a toda população
mundial. Quando algum recurso se torna escasso, ou restrito ao controle de
poucos grupos, inevitavelmente surgem conflitos, como a Crise do Petróleo,
em 1970, e a Guerra do Golfo, em 1990. Estas disputas trazem enormes pre-
juízos à economia mundial, além de aumentarem a desigualdade econômica
e social já existente entre os países.
O uso disseminado dos combustíveis fósseis, em especial nas últimas
décadas, tem acarretado diversos impactos negativos, tanto no meio ambiente
quanto na saúde da população, o que está em desacordo com uma fonte
– 159 –
Energias e Meio Ambiente
– 160 –
Esgotamento dos recursos energéticos
– 161 –
Energias e Meio Ambiente
– 162 –
Esgotamento dos recursos energéticos
– 163 –
Energias e Meio Ambiente
– 164 –
Referências
Energias e Meio Ambiente
– 166 –
Referências
IJHD. World Atlas & Industry Guide. Wallington, UK, 2015. 405 pp.
INTERNATIONAL ATOMIC ENERGY AGENCY. Nuclear Power Reac-
tors in the World. Reference Data Series, n. 2, Vienna, 2015.
INTERNATIONAL ENERGY AGENCY. Comparativestudyon rural
electrification policies in emergingeconomies. OECD/ IEA: França, 2010.
118 p.
______. World Energy Investment Outlook. IEA: França, 2014. 190 p.
ITAIPU BINACIONAL. Disponível em: https://www.itaipu.gov.br. Aces-
sado em: agosto, 2015.
NATIONAL RENEWABLE ENERGY LABORATORY. Biomass Research.
Disponível em: http://www.nrel.gov/biomass/biorefinery.html. Acessado em:
agosto, 2015.
NEED - National Energy Education Development Project. Disponível
em: www.need.org. Acessado em: julho/ 2015.
OPERADOR NACIONAL DO SISTEMA ELÉTRICO (ONS). Mapas
do SIN. Disponível em: http://www.ons.org.br/conheca_sistema/mapas_sin.
aspx. Acessado em: agosto, 2015.
PEABODY ENERGY. Disponível em: http://www.peabodyenergy.com.
Acessado em: agosto, 2015.
PETROBRAS. Disponível em: www.petrobras.com.br. Acessado em: agosto,
2015.
REN21 - Renewable Energy Policy Network. Renewables 2015 - Global
Status Report. Paris: REN21 Secretaria, 2015. ISBN 978-3-9815934-6-4.
SANDIA NATIONAL LABORATORIES DATABASE. Disponível em:
www.energylan.sandia.gov. Acessado em: julho/ 2015.
SIEMENS. Disponível em: http://www.energy.siemens.com. Acessado em:
agosto, 2015.
SONNTAG, R.E.; BORGNAKKE, C.; VAN WYLEN,G. J. Fundamentos
da Termodinâmica. 6ª Ed. São Paulo: Editora Edgar Blücher, 584 p.
– 167 –
Energias e Meio Ambiente
– 168 –
Energia é vida. E podemos confirmar isso no nosso dia a dia. Não só
pelo uso de nossos eletrodomésticos e equipamentos eletrônicos, capazes de
facilitar nosso cotidiano e proporcionar bem estar. A energia é vida dentro
de nós; é o que nos leva a respirar, nos locomover, pensar... E a procura por
essa grandeza essencial nos leva fazer escolhas que, muitas vezes, apresentam
consequências drásticas ao meio em que vivemos.
Nossa relação com o meio ambiente sempre foi delicada. Muitas vezes,
nossas ações não são condizentes com o papel que deveríamos ter nos ecossis-
temas; nos acostumamos a extrair tudo o que precisamos, sem a preocupação
em dar algo em troca. Entretanto, o custo a ser cobrado é elevado e, a partir do
momento em que agimos como usurpadores dos recursos que deveríamos usar
de forma consciente, comprometemos o futuro das gerações que virão.
Felizmente, nos últimos anos, a sustentabilidade tem deixado de ser
um conceito abstrato e tem ganho cada vez mais força nas ações que visam a
um meio ambiente produtivo e equilibrado. E dentro destas ações, se desta-
cam o desenvolvimento e a aplicação de tecnologias para a geração de ener-
gia que fazem uso de recursos renováveis, isto é, capazes de serem repostos
a uma taxa compatível ao consumo humano. O uso de fontes renováveis,
além de minimizar o impacto no ambiente, também vem sendo visto como
uma alternativa para a geração de energia em países com baixos indicadores
de desenvolvimento socioeconômico e humano, como aqueles presentes na
África subsaariana e em parte da Ásia.
Assim, este livro busca trazer informações relevantes a respeito das
diferentes fontes de energia, renováveis e não renováveis, e como seu uso pode
interferir no desenvolvimento econômico e social dos países. E, principal-
mente, nos ajuda a descobrir como, fazendo uso de tecnologias sustentáveis,
podemos escrever um futuro em harmonia com o meio em que vivemos.
ISBN 978-85-60531-26-4
9 788560 531264