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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO

DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

Juliana Yoshie Fujii

As Incertezas do Democrático

Maringá
2022
Juliana Yoshie Fujii ra 120196
As incertezas do Democrático

Trabalho apresentado
como condição parcial para
avaliação da aprendizagem
na disciplina de História Política do Século XX
ministrada pelo Prof./ª Dr.
Cassio Alan Abreu Albernaz.

Maringá
2022
INTRODUÇÃO

O ensaio do cientista político Adam Przeworski, tem como por alguns de seus
objetivos retratar as perspectivas democráticas, tanto em seus processos quanto em
seus casos de transições. Przeworski retrata incisivamente os cenários, as
conjecturas, e toda a sorte de possibilidades amplamente representadas em suas
análises. A obra convida o leitor a uma investigação detida, para que assim alcance
suas próprias conclusões a partir da temática que intitula seu texto.

Dos cenários políticos do democrático

A partir de seu ensaio, Przeworski nos apresenta as caracterizações de


regimes autoritários e com estas, efetivamente as consequências políticas contrárias
a seus interesses, os tais regimes autoritários periodicamente experimentam
processos como a liberalização. No fenômeno da liberalização há a possibilidade de
certas liberdades civis. Na criação de organizações políticas busca-se que as
demandas destas, nunca atinjam consequências que se choquem com os interesses
do poder autoritário.

Sobre as ações do aparato autoritário no processo de liberalização, este pode


intervir suprimindo resultados políticos através de controle social, e também realizar
intervenções na anterioridade e posterioridade do processo, além das intervenções
em seu decorrer. Uma caracterização de um regime autoritário, seria a capacidade
de reverter um processo político institucionalizado. Assim, regimes que possuem
estas características seriam designadas “democracias tutelares” onde as forças
armadas podem intervir quando da ameaça de seus interesses e valores. A partir da
exemplificação de liberalização, conceito este que se difere da democratização, se
faz necessário definir os aspectos da democratização.

A tese central do autor é de que a democracia pode ser estabelecida


somente se existirem instituições que tornem improváveis as consequências
decorrentes do processo político competitivo. Em síntese, a possibilidade da
democracia se dá na centralidade das instituições, fortes e seguras o suficiente na
manutenção do poder vigente. Uma democracia como forma de organização política
pressuporia incertezas, resultantes do processo político que seriam indeterminadas
envolvendo relações sociais, relações de produção e as instituições policiais.

As instituições regem, norteiam e fundamentam as ações dos grupos,


permitindo assim, seus itinerários, rastreio e consolidação de resultados. Mas a
concretude da realidade está em meio a multiplicidade de elementos e fatores
onde em virtude dessas variáveis se originam os mais adversos aspectos. Como
os recursos financeiros, organizacionais e ideológicos se encontram distribuídos,
as instituições projetam probabilidades conforme seus interesses particulares.

O poder político se encontra na conjuntura das projeções institucionais


atreladas aos recursos dos partidos na política e concatenações institucionais
específicas. O autor atenta para o formato democrático que em contrapartida
suscita aspectos dicotômicos dos fundamentos e consolidação democrática,
apontando contradições na atuação das instituições.

Frente a alguns exemplos de países analisados pelo autor relacionados


aos processos de seus regimes, a busca por resultados é equacionada onde o
pano de fundo é sempre o poderio institucional visando seus resultados. Num
modelo de ruptura pactada que trata do transição de uma ditadura a uma
democracia negociada, se observa a garantia da permanência de interesses
como:

Manter certas forças da sociedade civil; apoiadores do regime onde


conjuntamente estariam: as forças armadas, a polícia, entre outros que colaboram
com o poder da ditadura. O processo de concessão democrática dos aparatos
autoritários sempre terá a prevalência de interesses, garantias e proteção. Os
riscos, as intervenções estariam previstas e também planejamentos como um leque
de opções. O que estrutura e fundamenta certos arranjos nesse contexto, seria uma
retroalimentação de interesses bidirecionais

A diferença entre ditadura e democracia não se trata de uma incerteza


incondicional, e sim de uma incerteza condicional. Se tem a ideia de que a incerteza
estaria numa relação com as instituições no caso de uma democracia e que a
transferência de poder seria para os resultados. Num regime autoritário as
consequências nunca estariam em desacordo com o aparato de poder. O poder
estaria na capacidade de intervir nos resultados.

Segundo as análises do autor após elucidar a formas dos regimes e também


do processo de liberalização num regime autoritário, observa-se entre tantos outros,
os seguintes aspectos:

● Numa abertura para a democracia, ninguém pode reverter as consequências


do processo democrático formal.
● Na democratização os interesses estão submetidos à competição da incerteza
institucionalizada.
● O poder é transferido de um grupo de pessoas para um conjunto de regras.

Em meio a prevalência de resultados de um determinado partido, uma vez


que acordos substantivos podem ser descumpridos, e em meio a performance de
interesses um determinado resultado aponta um partido vencedor, a situação
poderá ser modificada de modo que os desfavorecidos estivessem de acordo com a
situação resultante. Não havendo um mecanismo que obrigue os partidos a
cumprirem seus planos, tudo pode “ficar ao léu” visto que a busca será em última
instância, sempre pelos interesses. Nessa “dança dos partidos” os interesses
flutuam.

Tudo é previamente equacionado, até as perdas podem ser revertidas em


vantagens. As concessões ocorrem somente se objetivarem vantagens até no
caso de perdas. Um outro aspecto da tese central do autor é de que a democracia
pode ser estabelecida somente se as instituições garantirem que as
consequências não sejam demasiadamente catastróficas para qualquer agente
específico. Um resultado não pode ser tão brusco de modo a comprometer
excessivamente um agente.

É notório que as instituições amplamente são detentoras de probabilidades


movendo-se de acordo com os recursos oriundos dos partidos. Porém a
democracia com sua característica formal possui um viés, onde seus recursos são
distribuídos desigualmente. Os recursos são determinantes nas modulações pelas
instituições. Ao considerar as variáveis na obtenção de resultados pode haver
alguma paridade nesses resultados independente da distribuição desses recursos.

Em certas situações tudo pode ser equacionado de modo a se obterem


resultados em paridade mesmo se os arranjos forem adversos, como situa o autor
em seus exemplos que englobam distribuições de votos, cadeiras versus
extensões de distritos e relações partidárias entre outros vários aspectos, arranjos
e probabilidades resultantes que não irei pormenorizar aqui.

Tudo é orquestrado de modo a não haver nenhum salto quântico, o que é


acordado previamente é substantivo devido a que os resultados concretos são
moldados pelas instituições. Os limites e as possibilidades têm relação com as
soluções institucionais. No caso do regime autoritário com aberturas à
democracia, os interesses a serem garantidos pelas instituições, serão sempre
visados pelo poder ditatorial.

Uma direita democrática se garante a propriedade privada numa espécie de


ostracismo em detrimento da própria autonomia política, cai nesse “ostracismo”
em termos de interesses, não sendo mais interessante ao bloco de poder
autoritário. Segundo a observação do autor um fator de difícil transposição e de
difícil transcendência num poder autoritário, é se este possuir um arquétipo
“macabro” por assim dizer no inconsciente coletivo. Se os membros do poder
autoritário se concentrarem em seus interesses egocêntricos da aquisição de bens
durante o exercício de poder, grande caos se instaura.

Um dos exemplos retratados pelo autor, foram as sucessões ocorridas na


Polônia, mostrando a reação dos poloneses através dos sindicatos autônomos, da
pressão sobre as instituições políticas. O movimento sindical polonês se politizou
buscando a realização de seus interesses econômicos. Os sindicalistas almejavam
a vitória do partido comunista, mas a população não. Neste cenário os
compromissos institucionais podem ser tornar impossíveis, mesmo se desejados.

A inviabilidade de um compromisso institucional no contexto polonês


citado conforme o autor, devido ao fato das forças aliadas ao regime autoritário
não obterem apoio democraticamente, foi o caso devido ao poder autoritário não
fazer concessão. Os reformistas como não obtiveram poder foram banidos pelo
movimento popular. Este movimento na Polônia foi amplo, maciço e
heterogêneo.

Em suma, podemos ressaltar novamente que na democracia há um


enfoque no poder das instituições e as relações com as forças políticas. Todos
requerem as garantias institucionais, onde as instituições tudo modulam de acordo
com os recursos recebidos. Outro aspecto observado por Adam, trata-se do
processo transicional democrático, como algo que resulta na restrição de
transformações sociais econômicas, apontando para uma resultante da
democracia política um conservadorismo social e econômico sempre do caso de
transições.

De acordo com o discorrer do autor e através de algumas de suas análises,


sinaliza como uma solução para o problema democrático, o alcance das instituições.
No sentido de que as instituições deveriam fornecer uma margem de segurança e
garantias às forças políticas relevantes.

Com vistas à tese central do autor, a democracia pode ser estabelecida


somente se existirem instituições que tornem improváveis as consequências
decorrentes do processo competitivo político que seriam altamente adversas aos
interesses de qualquer agente específico, logo as instituições seriam um modulador
de consequências. Então o caráter da incerteza como fundamento da democracia
conforme a intitulação do ensaio, é um conceito que perde a autenticidade, pois se
numa democracia a incerteza é uma incerteza parcial ou condicional, pode se dizer
que a democracia segundo o autor é uma democracia “ em partes”. O aspecto
essencial da democracia como a incerteza é delimitada.
Entende-se que a incerteza nos resultados resultante da competição do
político não é espontânea e fluida conforme a noção de incerteza pensada no
intitulamento do texto, trata-se de uma incerteza em certa medida romantizada. De
acordo com exposições do autor a democracia atrelada a uma incerteza é de certa
forma utópica no quesito de incerteza absoluta conforme o aspecto semântico da
palavra, pois essa incerteza conforme alguns cenários exemplificados, se trata de
uma incerteza sempre condicionada, havendo toda uma orquestração no cenário
político onde são os interesses é que sempre vão desdobrar nos efeitos em certa
medida já equacionados. A essa síntese textual conforme percepção, atribuirei a
seguinte passagem bíblica:

O que foi tornará a ser, o que foi feito se fará novamente; não há nada novo
debaixo do sol. Eclesiastes 1:9.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através de toda a trajetória elucidada pelo autor, temos as diversas


nuances dos aspectos democráticos concernentes tanto a níveis do processo
democrático quanto a democracia em si mesmo, além das reflexões sobre essa
democracia e seus desdobramentos. A síntese converge ao apontamento da
ênfase no poder decisório, probabilístico e detentor das instituições. Intui-se
que as incertezas são incertas em certa medida, havendo uma
condicionalidade atrelada aos resultados contextualizados. No cenário político
nada é tão incerto que seja tão desconcertante, nem mesmo as incertezas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Novos Estudos Cebrap, São Paulo n,° 9,p.36-46, jul 84.

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