Você está na página 1de 14

Preparação psicológica de pacientes submetidos

a procedimentos cirúrgicos

Psychological preparation in patients


undergoing surgical procedures

Áderson Luiz COSTA JUNIOR1


Fernanda Nascimento Pereira DOCA2
Ivy ARAÚJO1
Luciana MARTINS1
Lara MUNDIM1
Ticiana PENATTI1
Ana Cristina SIDRIM1

Resumo
Este trabalho tem por objetivo identificar, entre artigos publicados em periódicos indexados pelo PubMed/MedLine, informa-
ções sobre as principais modalidades e efeitos de intervenção psicossocial em procedimentos pré e pós-operatórios com
pacientes adultos, bem como, apontar algumas lacunas na produção científica acerca do tema. Foram selecionados 32 artigos,
sendo oito teórico-conceituais e 24 empíricos, dos quais um era estudo de caso, nove se referiam à avaliação específica de efeitos
de preparação psicológica e 14 tratavam de temas associados ao contexto de preparação psicológica e cuidados cirúrgicos. As
intervenções psicológicas foram divididas em oito categorias, baseadas em características funcionais das respectivas interven-
ções. Verificou-se uma deficiência de estudos na área de atuação específica da Psicologia, sendo os profissionais de enfermagem
e medicina os que mais produziram estudos sobre o tema. Constatou-se, também, a ausência de protocolos sistematizados de
intervenção psicológica relacionados a procedimentos cirúrgicos.
Unitermos: Apoio psicológico. Cirurgia. Preparação psicológica. Procedimentos médicos invasivos.

Abstract PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA PARA CIRURGIA

This paper aims to identify information on the main types and effects of psychosocial intervention in pre- and post-operative adult
patients in articles published in journals indexed by PubMed/MedLine. It also highlights gaps in scientific literature on the subject.
We selected 32 articles: eight theoretical and 24 empirical. One of these was a case study; nine referred to the evaluation of the
effects of psychological preparation; and 14 dealt with issues related to the context of psychological preparation and surgical care.
Psychological interventions were divided into eight general categories, based on functional characteristics. We discovered an absence
of research in the field of psychology on the subject, with the nursing and medical professions providing more material for study.
We also noted an absence of systematised psychological intervention protocols related to surgical procedures.
Uniterms: Psychological preparation. Surgery. Psychological support. Invasive medical procedures.

▼▼▼▼▼

1
Universidade de Brasília, Instituto de Psicologia. Campus Universitário Darcy Ribeiro, ICC Sul, 70910-900, Brasília, DF, Brasil. Correspondência para/Correspondence
to: A.L. COSTA JUNIOR. E-mail: <aderson@unb.br>.
2
Universidade de Brasília, Programa de Pós-Graduação em Processo de Desenvolvimento Humano e Saúde. Brasília, DF, Brasil. 271

Estudos de Psicologia I Campinas I 29(2) I 271-284 I abril - junho 2012


Embora os contínuos avanços nas práticas cirúr- um processo de recuperação pós-operatória mais rápido
gicas e anestésicas, creditadas ao desenvolvimento e humanizar os cuidados cirúrgicos dispensados aos
científico e tecnológico e às políticas de redução de pacientes, alguns estudos apontam a efetividade de
custos e aumento de eficácia do tratamento médico, diversas intervenções preparatórias, vinculadas ao perfil
tenham resultado no declínio do tempo médio de comportamental e cognitivo dos pacientes, tais como:
internação hospitalar (Gilmartin & Wright, 2007; Mitchell, a) disponibilizar adequado nível de informação às
2000b; Rankinen et al., 2007), a preparação psicológica necessidades do paciente, que devem ser identificadas
dos indivíduos a serem submetidos a procedimentos previamente pelos profissionais de saúde (Bellani, 2008;
cirúrgicos ainda é um tema recorrente em psicologia Gilmartin & Wright, 2007; Juan, 2005; Rankinen et at.,
da saúde e em outras ciências. Isso se deve ao fato de 2007; Shelley & Pakenham, 2007); b) promover modi-
que as formas de intervenção não se diversificaram na ficações na estrutura física dos ambientes pré e pós-
mesma proporção e os resultados ainda carecerem de -operatório, tornando-os espaços acolhedores, priva-
maior consistência (Rankinen et al., 2007). tivos, calmos e relaxantes (Gilmartin & Wright, 2007); c)
Considerando que, em geral, uma cirurgia impli- utilizar técnicas de relaxamento muscular progressivo
ca grande impacto sobre o bem-estar físico, social e ou relaxamento induzido, por meio de visualização ativa
emocional do paciente, com aumento dos níveis de no pré e pós-operatório (Ribeiro et al., 2002; Rosendahl
ansiedade e stress e pelo distanciamento, mesmo que et al., 2009); e d) disponibilizar suporte espiritual e atender
temporário, da rede de apoio social e familiar, a análise às necessidades psicossociais dos pacientes, viabilizando
funcional da preparação psicológica de pacientes para estratégias de enfrentamento cognitivo, baseadas no
cirurgia consistiu um tema legítimo de pesquisa tam- problema a ser enfrentado (Patenaude et al., 2009;
bém pelos benefícios potenciais da sua utilização (Juan, Rosendahl et al., 2009).
2005; Markovic et al., 2004). Esta revisão tem por objetivo sistematizar um
Relatos de pacientes expostos a procedimentos conjunto de informações disponíveis na literatura espe-
cirúrgicos apontam que os principais fatores desen- cializada sobre a preparação psicológica para cirurgia,
cadeantes de ansiedade incluem: a) percepção ante- destacando dados sobre efeitos comportamentais de
cipada de dor e desconforto; b) espera passiva pelo início procedimentos preparatórios e modalidades de inter-
do procedimento; c) separação da família e sentimentos venção psicossocial em pré e pós-operatório. A partir
de abandono; d) possível perda, mesmo que temporária, desta análise, pretende-se, ainda, apontar algumas lacu-
de autonomia; e) medo da morte, de sequelas, do proce- nas na produção científica acerca deste tema, identifica-
dimento de anestesia e do risco de alta prematura; e dos entre artigos publicados em periódicos indexados
f ) o procedimento cirúrgico como um todo (Bellani, pelo PubMed/MedLine.
2008; Berg, Fleischer, Koller & Neubert, 2006; Garbee &
Gentry, 2001; Gilmartin & Wright, 2008; Marcolino, Suzuki, Método
Alli, Gozzani & Mathias, 2007). Esses fatores ansiogênicos
podem interferir de modo adverso sobre a aquisição de Efetuou-se levantamento bibliográfico a partir
estratégias de enfrentamento do procedimento cirúr- das fontes de informação disponíveis no PubMed/
gico e sobre o processo de recuperação do paciente, MedLine, buscando-se todas as referências selecionadas
gerando, ainda, maior probabilidade de episódios de na íntegra. Tendo em vista o objetivo delimitado para
A.L. COSTA JUNIOR et al.

elevação da pressão sanguínea, sangramentos mais essa revisão, foram utilizados os seguintes descritores:
intensos nas cirurgias, redução de resistência imuno- psychological preparation, surgery, day surgery, information
lógica e transtornos psicossomáticos (Ribeiro, Tavano & given e psychological support, isoladamente ou combi-
Neme, 2002). nados dois a dois. Primeiramente, as referências foram
Com o intuito de reduzir os níveis de ansiedade, selecionadas com base em seus títulos e abstracts. Em
melhorar o bem-estar do paciente, aumentar a adesão seguida, foram descartados da análise os textos publi-
ao tratamento, torná-lo mais apto para enfrentar com cados antes do ano 2000, bem como aqueles que tinham
272 maior eficiência o procedimento cirúrgico, proporcionar como objeto de estudo exclusivo cirurgias com crianças,

Estudos de Psicologia I Campinas I 29(2) I 271-284 I abril - junho 2012


cirurgias odontológicas ambulatoriais e cirurgias emer- equipe multidisciplinar, relaxamento, mudanças no
genciais (não eletivas). Também foram descartados os ambiente físico, música e suporte espiritual.
artigos relacionados apenas ao período pós-cirúrgico. A título de ilustração, a Tabela 1 apresenta as ca-
Na seleção dos artigos, deu-se prioridade aos mais tegorias de procedimentos psicológicos preparatórios
recentes, isto é, na medida em que se esgotavam as em ordem decrescente de ocorrência entre os 32 artigos
publicações de um determinado ano, buscavam-se as selecionados neste trabalho. Observa-se que um mesmo
publicações do ano imediatamente anterior, e assim artigo poderia fazer referência a mais de um procedi-
sucessivamente, de 2009 a 2000, identificando-se 32 mento de preparação psicológica para procedimentos
artigos. Todos os artigos selecionados foram lidos na cirúrgicos.
íntegra e categorizados em função dos procedimentos A análise dos nove artigos empíricos que estu-
de preparação psicológica que utilizavam ou referiam. daram os efeitos da preparação psicológica para cirurgia
apontou maior concentração de procedimentos de
caráter médico e de enfermagem, em detrimento de
Resultados
cuidados especificamente psicológicos. Apesar dessa
Considerando os objetivos e critérios desta revi- predominância, aspectos psicológicos foram abordados
são, foram selecionados 32 artigos, sendo: a) oito teórico- em intervenções prévias aos procedimentos cirúrgicos,
especialmente quando relacionados ao gerenciamento
-conceituais ou revisões de literatura; b) 24 artigos
da ansiedade, referidos como relevantes em todos os
empíricos, dos quais um era estudo de caso único, nove
nove artigos analisados, que faziam avaliação específica
se referiam à avaliação específica de efeitos de inter-
de algum procedimento preparatório. O Anexo 2 apre-
venções de preparação psicológica e 14 tratavam de
senta a caracterização dos participantes dessas pes-
temas associados ao contexto de preparação psicoló-
quisas, os tipos de cirurgia, objetivo geral, metodologia
gica e cuidados cirúrgicos.
e principais resultados dos estudos dos nove artigos.
Os artigos teórico-conceituais, ou revisões de
Todos os artigos selecionados referiam-se ao
literatura, tratavam de temas relacionados a aspectos
paciente em condição pré-cirúrgica, aguardando trans-
psicossociais presentes no dia da cirurgia, com destaque porte ao centro cirúrgico ou o início do procedimento.
para controle da ansiedade (2 artigos), o papel da equipe Os pacientes foram descritos como indivíduos que
de enfermagem e de psicologia (2 e 1, respectivamente) vivenciam altos níveis de ansiedade, sentimentos de
e abordagens profissionais que avaliam e executam abandono, impotência e medo. A preparação psicoló-
intervenções pré-cirúrgicas (3 artigos). gica, por sua vez, caracterizava-se, na maior parte dos
Os 14 artigos empíricos sobre temas associados artigos, por intervenções que visavam informar sobre o
ao contexto de preparação psicológica e cuidados procedimento cirúrgico e o processo de recuperação,
cirúrgicos tiveram como foco a análise da vivência dos levando em consideração demandas físicas e psicos-

PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA PARA CIRURGIA


pacientes no período pré-cirúrgico, stress, ansiedade, sociais genéricas dos pacientes.
depressão e suporte social. O Anexo 1 apresenta a
caracterização dos participantes dessas pesquisas,
Tabela 1. Categorias de preparação psicológica para cirurgia e
contexto (tipos de cirurgia), objetivo geral, metodologia
ocorrência entre artigos selecionados.
de coleta de dados e principais resultados dos estudos.
Categoria de preparação Ocorrência
Considerando os 32 artigos selecionados para
Transmissão de informações 18
este trabalho e as modalidades de preparação psico- Incentivo à autonomia do paciente 9
lógica para cirurgia que referiam, ou avaliavam seus Disponibilização de apoio social 8

efeitos, foi possível identificar oito categorias de proce- Atuação em equipe multidisciplinar 4
Relaxamento 4
dimentos preparatórios, mais frequentemente referidos: Mudanças no ambiente físico 2
transmissão de informações, incentivo à autonomia do Música 2
paciente, disponibilização de apoio social, atuação em Suporte espiritual 2
273

Estudos de Psicologia I Campinas I 29(2) I 271-284 I abril - junho 2012


A transmissão de informações tinha o objetivo derando-se ainda as diferenças culturais entre os pacien-
de qualificar o paciente com dados técnicos e reduzir a tes (Bellani, 2008; Henderson & Chien, 2004; Krone &
probabilidade de sintomas de ansiedade, que ocorrem Slangen, 2005; Marchand et al., 2007; Patenaude et al.,
mais frequentemente quando o indivíduo é exposto a 2009).
situações desconhecidas e classificadas como poten- As técnicas de relaxamento, como visualização
cialmente aversivas (Bellani, 2008; Collazo-Clavell, Clark, ativa e relaxamento muscular progressivo, têm possibi-
McAlpine & Jensen, 2006; Gilmartin & Wright, 2007; litado um maior controle de tensões musculares, uma
Rankinen et al., 2007; Shelley & Pakenham, 2007). No redução da excitabilidade do organismo e da mente e
entanto, segundo Gilmartin (2004), nem sempre os uma redução da percepção de dor, provocados pelo
profissionais de saúde estão habilitados a fornecer infor- stress pré e pós-cirúrgico (Ribeiro et al., 2002). No tocante
mações que representam suporte psicológico adequado à música, sua utilização pode ser efetiva por promover
aos pacientes. Muitos profissionais de saúde, na intenção episódios de distração, ou seja, por desviar a atenção
de tranquilizar o paciente, fornecem informações que do paciente de eventos aversivos, como o medo, a an-
elevam a ansiedade e o medo daquele que vai se subme- siedade e a expectativa de dor, para experiências mais
ter à cirurgia. A utilização de técnicas de relaxamento positivas e potencialmente menos estressantes (Cooke
(Ribeiro et al., 2002; Rosendahl et al., 2009), o uso de et al., 2005).
música (Cooke, Chaboyer, Schluter & Hiratos, 2005), modi-
A reestruturação do ambiente hospitalar rela-
ficações na estrutura física do ambiente hospitalar
cionado aos cuidados cirúrgicos deve buscar o desen-
(Gilmartin & Wright, 2007) e o desenvolvimento de ativi-
volvimento de um espaço percebido psicologicamente
dades por equipes multidisciplinares, embora sejam
como mais seguro, calmo, privado e fisicamente con-
procedimentos menos referidos, foram apontados como
fortável. Tais mudanças têm levado à melhoria das con-
complementares à redução da ansiedade do paciente
dições de bem-estar e de satisfação do paciente, apesar
em condição pré-cirúrgica e potencialmente benéficos
de ser inevitável a exposição a condições adversas ine-
a seu bem-estar (Gilmartin, 2004).
rentes ao contexto de centros cirúrgicos. Sugere-se, por
Rankinen et al. (2007) apontaram seis dimensões exemplo, a adoção de formas práticas e criativas, com
que devem compor as informações disponibilizadas aos temáticas variadas e harmônicas na decoração do am-
pacientes que são submetidos à cirurgia: a) biofisiológico biente físico (Gilmartin & Wright, 2007).
(doença, sintomas, formas de tratamento e possíveis
Conceder autonomia ao paciente caracteriza-se
complicações); b) funcionais (necessidades individuais,
como um diferencial nas práticas de intervenção pré-
mobilidade, descanso, nutrição e higiene corporal); c)
-cirúrgicas. Essa concessão pode ocorrer por diversos
empírico (vivência de emoções e experiências no hos-
meios, como, por exemplo, a acessibilidade a infor-
pital); d) éticas (direitos, deveres, participação na tomada
mações que aumentem a percepção do paciente em
de decisão, privacidade e confidencialidade); e) social
relação a sua capacidade de exercer algum controle
(papel da família, relação com outros pacientes e grupos
sobre a situação vivenciada. Em alguns estudos, foi
de apoio); e f) financeiro (custos monetários e benefícios).
apontada a possibilidade de o paciente tomar suas pró-
Marchand et al. (2007) destacam que as informa- prias dicisões, a respeito do tratamento e de perceber-
ções a serem transmitidas dependem do tipo de cirurgia -se mais ativo durante os eventos pré-cirúrgicos
que será realizada, do grau de conhecimento e de orga- (Goodman et al., 2009; Krohne & Slangen, 2005; Nagraj,
A.L. COSTA JUNIOR et al.

nização de que o paciente já dispõe, bem como de sua Clark, Talbot & Walker, 2006). Nesse sentido, foram
condição em termos de bem-estar psicológico e de sua encontradas evidências empíricas da preferência dos
desejabilidade em termos de informações. pacientes por se dirigirem à sala de cirurgia caminhan-
Alguns estudos ainda destacam a necessidade do por conta própria, caso suas condições físicas lhes
de se analisar o impacto provocado por estas informa- permitam, em vez de serem transportados em macas
ções, planejando-se antecipadamente o conteúdo a ser ou cadeiras-de-roda (Nagraj et al., 2006).
disponibilizado, o momento mais adequado para apre- Muito pouco foi encontrado sobre a disponi-
274 sentá-lo e os efeitos psicossociais da transmissão, consi- bilização de suporte espiritual para pacientes que foram

Estudos de Psicologia I Campinas I 29(2) I 271-284 I abril - junho 2012


ou serão expostos a procedimentos cirúrgicos. Essa Juan (2005) afirma que a eficácia do acompanha-
intervenção foi caracterizada como um procedimento mento psicológico de pacientes cirúrgicos se sustenta
psicossocial que se baseia na crença (ou na fé) de que pela instrumentalização destes para lidar adequa-
Deus, ou alguma entidade divina ou superior, esteja damente com as circunstâncias adversas da internação
presente durante o período de internação e possa e da cirurgia. O indivíduo adquire recursos de enfrenta-
exercer influência positiva sobre a condição clínica e de mento, inicialmente através de técnicas disponibilizadas
recuperação do paciente (Rosendahl et al., 2009). de acordo com suas demandas, já identificadas pela
Entretanto, para que o suporte espiritual seja mais eficaz avaliação psicológica, no período anterior à cirurgia.
e proporcione uma maior cooperação do paciente com Posteriormente, pode desenvolver seus próprios recur-
a internação e o tratamento como um todo, é necessário sos, de acordo com suas necessidades e potencialidades.
Outros profissionais da equipe, não psicólogos, podem
que esteja disponível nos ambientes hospitalares e que
atuar como agentes multiplicadores de estratégias posi-
respeite as preferências religiosas, como também as
tivas de enfrentamento, coerente com filosofias multi-
necessidades psicossociais de cada paciente, o que
disciplinares de cuidados com a saúde.
requer uma equipe treinada e habilitada em filosofias
da religião, práticas religiosas e espiritualidade Destaca-se que também não foram encontradas
(Rosendahl et al., 2009). intervenções preparatórias para acompanhantes, no
sentido de que estes também vivenciam ansiedade e
medos inerentes à situação pré-operatória e interferem
Discussão sobre o estado emocional dos pacientes que acom-
panham. Uma vez que o acompanhante dá suporte
É importante ressaltar que as propostas de inter- (pessoal/social) durante o período de internação e re-
venção analisadas eram passíveis de execução pelos cuperação do paciente, deveria receber tanta atenção
diversos profissionais que compõem a equipe de saúde, quanto o paciente. Os acompanhantes devem ter
sendo que intervenções privativas de psicólogos não conhecimento mínimo e qualificado acerca de seu pa-
foram referidas em nenhum artigo. Notou-se também pel quanto aos cuidados com o paciente (dentro e fora
uma carência de dados empíricos que pudessem subsi- do hospital), à previsão de duração do tratamento como
diar intervenções preparatórias baseadas em processos um todo e da cirurgia, às possíveis sequelas da doença
psicológicos, isto é, que tratassem da cognição ou da (ou do procedimento executado) e às informações
afetividade humana e/ou que analisassem a história do pertinentes a cada caso (Rosendahl et al., 2009).
paciente relacionada ao ambiente de cuidados com a A ausência de sistematicidade no atendimento
saúde, suas significações, experiências e vulnerabilidades preparatório, especialmente psicossocial, ao paciente
relativas à exposição a procedimentos cirúrgicos. Pes- cirúrgico sugere a necessidade do desenvolvimento de
quisas baseadas em evidências clínicas também não uma padronização, composta por etapas estruturadas.
foram encontradas entre os trabalhos selecionados.
PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA PARA CIRURGIA
Os artigos selecionados, embora referissem intervenções
Segundo Medeiros e Peniche (2006), uma ava- pontuais, não o fazem de modo contextualizado às ne-
liação psicológica do paciente a ser submetido a cirurgia cessidades de cada paciente e nem fazem referência a
pode constituir uma oportunidade para a expressão de programas completos, que se estendam da primeira
sentimentos e pensamentos que auxiliarão os pro- consulta ao período pós-cirúrgico e à alta hospitalar.
fissionais de saúde a atender as especificidades do indi- Mitchell (2000a), por exemplo, propõe um programa
víduo, aumentando a probabilidade do desenvolvi- estruturado apenas para disseminar informação, de
mento de estratégias mais eficientes de enfrentamento modo a incluir diferentes níveis de conteúdo, múltiplos
do procedimento cirúrgico, maior colaboração com a métodos e continuidade durante os períodos pré e pós-
equipe médica, facilitação do processo de comunicação, -operatório. Já Ouwens et al. (2009) defendem a orga-
redução dos níveis de stress e ansiedade e, conse- nização dos cuidados à saúde de pacientes cirúrgicos,
quentemente, otimização do tempo de recuperação ao propor que cada etapa do tratamento tenha respon-
cirúrgica e alta hospitalar. sabilidades e tarefas pré-determinadas, e também que 275

Estudos de Psicologia I Campinas I 29(2) I 271-284 I abril - junho 2012


sejam implementadas por uma equipe multiprofissional Gilmartin, J., & Wright, K. (2007). The nurse’s role in day
surgery: a literature review. International Nursing Review,
bem treinada em habilidades sociais. No entanto, é 54 (2), 183-190.
preciso mais do que isso: o protocolo estruturado deve
Gilmartin, J., & Wright, K. (2008). Day surgery: patients’ felt
reunir todas as propostas de intervenção supracitadas, abandoned during the preoperative wait. Journal of
não só considerando as necessidades do indivíduo, mas Clinical Nursing, 17 (18), 2418-2425.
também medindo o efeito das intervenções. Goodman, H., Davison, J., Preedy, M., Peters, E., Waters, P.,
Ressalta-se, por fim, o incentivo à crescente im- Persaud-Rai, B., et al. (2009). Patient and staff perspective
of a nurse-led support programme for patients waiting
plementação de práticas multidisciplinares no processo for cardiac surgery: participant perspective of a cardiac
de preparação de pacientes para a cirurgia, eviden- support programme. European Journal of Cardiovascular
ciando a participação de médicos, nutricionistas, enfer- Nursing, 8 (1), 67-73.
meiros, psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes Henderson, A., & Chien, W. T. (2004). Information needs of
sociais, fisioterapeutas, entre outros. O registro do atendi- Hong Kong Chinese patients undergoing surgery. Journal
mento às necessidades psicossociais de cada paciente, of Clinical Nursing 13 (8), 960-966.
incluindo indicadores de intervenção preparatória e Juan, K. (2005). Psicoprofilaxia cirúrgica em urologia. Psico-
logia Hospitalar (São Paulo), 3 (2), 1-10.
preditores de resultados em função dos processos psico-
lógicos manifestados por cada indivíduo, pode gerar Krohne, H. W., & Slangen, K. E. (2005). Influence of social
support on adaptation to surgery. Health Psychology, 24
protocolos de intervenção a serem testados em pesqui-
(1), 101-105.
sas multicêntricas, colaborando para a construção de
Marchand, C., Poitou, C., Pinosa, C., Dehaye, B., Basdevant, A.,
um corpo mais consistente de conhecimentos sobre & d’Ivernois, J. F. (2007). Cognitive structures of obese
preparação psicológica para procedimentos cirúrgicos, patients undergoing bariatric surgery: a concept
ainda não disponível plenamente na literatura. mapping analysis. Obesity Surgery, 17 (10), 1350-1356.
Marcolino, J. A. M., Suzuki, F. M., Alli, L. A. C., Gozzani, J. L., &
Mathias, L. A. S. T. (2007). Medida da ansiedade e da
Referências depressão em pacientes no pré-operatório: estudo
comparativo. Revista Brasileira de Anestesiologia, 57 (2),
157-166.
Baggio, M. A., Teixeira, A., & Portella, M. R. (2001). Pré-
-operatório do paciente cirúrgico cardíaco: a orientação Markovic, M., Bandyopadhyay, M., Manderson, L., Allotey, P.,
de enfermagem fazendo a diferença. Revista Gaúcha de Murray, S., & Vu, T. (2004). Day surgery in Australia:
Enfermagem, 22 (1), 122-139. qualitative research report. Journal of Sociology, 40 (1),
74-84.
Bellani, M. L. (2008). Psychological aspects in day-case
surgery. International Journal of Surgery, 6 (Suppl. 1), Medeiros, V. C. C., & Peniche, A. C. G. (2006). A influência da
S44-S46. ansiedade nas estratégias de enfrentamento utilizadas
Berg, A., Fleischer, S., Koller, M., & Neubert, T. R. (2006). no período pré-operatório. Revista da Escola de Enfer-
Preoperative information for ICU patients to reduce magem da USP, 40 (1), 86-92.
anxiety during and after the ICU-stay: protocol of a Mitchell, M. (2000a). Psychological preparation for patients
randomized controlled trial. Biological Medical Central undergoing day surgery. Ambulatory Surgery, 8 (1), 19-29.
Nursing, 5 (1), 4-11.
Mitchell, M. (2000b). Anxiety management: a distinct
Collazo-Clavell, M. L., Clark, M. M., McAlpine, D. E., & Jensen, nursing role in day surgery. Ambulatory Surgery, 8 (3),
M. D. (2006). Assessment and preparation of patients for 119-127.
bariatric surgery. Mayo Clinic Proceedings, 81 (Suppl. 10),
S11-S17. Nagraj, S., Clark, C. I., Talbot, J., & Walker, S. (2006). Which
patients would prefer to walk to theatre? Annals of The
Cooke, M., Chaboyer, W., Schluter, P., & Hiratos, M. (2005).
The effect of music on preoperative anxiety in day surgery. Royal College of Surgeons England, 88 (2), 172-173.
A.L. COSTA JUNIOR et al.

Journal of Advanced Nursing Practice, 52 (1), 47-55. Ouwens, M., Hulscher, M., Hermens, R., Faber, M., Marres, H.,
Fighera, J., & Vieiro, E. V. (2005). Vivências do paciente com & Wollersheim, H., et al. (2009). Implementation of
relação ao procedimento cirúrgico: fantasias e sentimen- integrated care for patients with cancer: a systematic
tos mais presentes. Revista da SBPH, 8 (1), 51-63. review of interventions and effects. International Journal
for Quality Healthy Care, 21 (2), 137-144.
Garbee, D. D., & Gentry, J. A. (2001). Coping with the stress
of surgery. Association of PeriOperative Registered Nurses Padilha, R. V., & Kristensen, C. H. (2006). Estudo exploratório
Journal, 73 (5), 946-951. sobre medo e ansiedade em pacientes submetidos ao
cateterismo cardíaco. Psico, 37 (3), 233-240.
Gilmartin, J. (2004). Day surgery: patients’ perceptions of a
nurse-led preadmission clinic. Journal of Clinical Nursing, Patenaude, A. F., Orozco, S., Li, X., Kaelin, C. M., Gadd, M.,
276 13 (2), 243-250. Matory, Y., et al. (2009). Support needs and acceptability

Estudos de Psicologia I Campinas I 29(2) I 271-284 I abril - junho 2012


of psychological and peer consultation: attitudes of 108 psychological and spiritual support (the By.pass study):
women who had undergone or were considering study design and research methods. American Heart
prophylactic mastectomy. Psycho-Oncology, 17 (8), Journal, 158 (1), 8-14.
831-843.
Shelley, M., & Pakenham, K. (2007). The effects of preoperative
Rankinen, S., Salanterä, S., Heikkinen, K., Johansson, K., preparation on postoperative outcomes: the moderating
Kaljonen, A., Virtanen, H., et al. (2007). Expectations and role of control appraisals. Health Psychology, 26 (2),
received knowledge by surgical patients. International 183-191.
Journal for Quality in Health Care, 19 (2), 113-119.
Travado, S., Pires, R., Martins, V., Ventura, C., & Cunha, S.
Ribeiro, R. M., Tavano, L. D. A., & Neme, C. M. B. (2002). Inter- (2004). Abordagem psicológica da obesidade mórbida:
venções psicológicas nos períodos pré e pós-operatório caracterização e protocolo de avaliação psicológica.
com pacientes submetidos a cirurgia de enxerto ósseo. Análise Psicológica, 3 (22), 533-550.
Estudos de Psicologia (Campinas), 19 (3), 67-76. doi:
10.1590/S0103-166X2002000300007.
Recebido em: 3/5/2010
Rosendahl, J., Tigges-Limmer, K., Gummert, J., Dziewas, R., Versão final reapresentada em:13/10/2010
Albes, J. M., & Strauss, B. (2009). Bypass surgery with Aprovado em: 29/6/2011

PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA PARA CIRURGIA

277

Estudos de Psicologia I Campinas I 29(2) I 271-284 I abril - junho 2012


ANEXO1

CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES, TIPOS DE CIRURGIA, OBJETIVO GERALMETODOLOGIA E PRINCIPAIS RESULTADOS DOS
ESTUDOS SOBRE TEMAS ASSOCIADOS AO CONTEXTO DE PREPARAÇÃO E CUIDADOS CIRÚRGICOS

Artigo (Autor/Ano) Pacientes Tipo de cirurgia Objetivo da pesquisa Coleta de dados Principais resultados

Henderson e Pacientes de 15 Cirurgias que re- Identificar quais infor- Patients’ Needs for Verificou-se que os pacientes
Chien (2004) a 93 anos de ida- querem uma cur- mações os pacientes Knowledge,of apresentam alto nível de neces-
de, de ambos os ta internação hos- desejam/queriam ter Proposed Surgery sidade de todos os tipos de infor-
sexos pitalar, tais como: no pré-cirúrgico (PNKPS), o qual mação. As informações aponta-
apendicectomia, contempla as se- das como mais necessárias refe-
Excluídos: pa-
cirurgia de hemor- guintes áreas: his- riam-se aos sinais e sintomas de
cientes com com-
róida, incisão do tórica médica e de- complicações no pós-operatório
prometimento
abscesso perineal, talhes da cirurgia, e sobre quando procurar ajuda
cognitivo e/ou
entre outras justificativa da ne- médica
com inabilidade
cessidade da cirur-
de comunica-
gia, benefícios e ris-
ção
cos de tratamen-
tos alternativos, os
procedimento da
cirugia, resultados
a curto prazo, pos-
síveis complica-
ções (sinais) e
efeitos na vida coti-
diana

Markovic et al. Pacientes de di- Diferentes tipos de Analisar qualitativa- Survey por telefo- O dia da cirurgia é uma experiên-
(2004) ferentes níveis so- cirurgias (não foi mente os significados ne (48h da cirur- cia desafiadora para as pacientes.
cioeconômicos, expecificado e/ou do dia da cirurgia para gia), observação e Alguns pacientes sentem a neces-
que moravam exemplificado) os pacientes, explo- entrevista em pro- sidade de suporte por parte dos
com a família e rando especificamen- fundidade profissionais de saúde, principal-
que tinham em- te a ansiedade e identi- mente no que se refere ao forneci-
prego ficando as questões mento de informações. Caminhar
pertinentes à experiên- até a sala de operações e ter aces-
cia a que o paciente so a pessoas significativas antes e
estava exposto (dia da após a cirurgia, são experiências
cirurgia) pertinentes
Travado et al. Pacientes de 16 Cirurgia bariátrica Caracterizar psicologi- Entrevista clínica Verificou-se que, embora grande
(2004) a 65 anos, de camente a população semiestruturada e parte dos pacientes não tenham
ambos os sexos de obesos mórbidos questionários de psicopatologia nem alterações da
peso médio de avaliados por meio de auto-avaliação das personalidade, outros há que
120kg e IMC mé- protocolo de avaliação dimensões de per- apresentam alterações bastante
dio de 46kg/m2 psicológica sonalidade (MCMI- significativas (instabilidade psico-
II), ansiedade e de- lógica, personalidade compulsiva,
pressão (HADS), ideação suicida). Esse fato com-
qualidade de vida prova a necessidade da avaliação
(MOS-SF/20) e psicológica prévia à realização da
auto-conceito cirurgia, como forma de selecio-
(ICAC) nar os candidatos
A.L. COSTA JUNIOR et al.

Fighera e Viero Pacientes adul- Cirurgias de mé- Elucidar o significado Entrevista não- Os momentos que antecedem a
(2005) tos, visivelmente dio porte (histe- da vivência do pacien- diretiva, funda- cirurgia são vivenciados pelo pa-
mobilizados pa- rectomia, varizes, te com relação aos mentada na per- ciente de uma forma dramática e
ra com a reali- colicistectomia momentos que ante- gunta desenca- assustadora. O medo do des-
zação da cirurgia etc.) e eletivas cedem o procedimen- deadora: “O que conhecido é a principal causa da
to cirúrgico fica presente em insegurança e da ansiedade do
sua vida neste mo- paciente pré-cirúrgico. As fanta-
mento que você sias vivenciadas pelos pacientes,
vai se submeter a mais frequentemente encontra-
cirurgia?” das são com relação à anestesia e
278 à recuperação

Estudos de Psicologia I Campinas I 29(2) I 271-284 I abril - junho 2012


ANEXO1

CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES, TIPOS DE CIRURGIA, OBJETIVO GERALMETODOLOGIA E PRINCIPAIS RESULTADOS DOS
ESTUDOS SOBRE TEMAS ASSOCIADOS AO CONTEXTO DE PREPARAÇÃO E CUIDADOS CIRÚRGICOS

Continuação

Artigo (Autor/Ano) Pacientes Tipo de cirurgia Objetivo da pesquisa Coleta de dados Principais resultados

Krohne e Slangen Pacientes de 17 a Cirurgia maxilo- Avaliar o papel do su- Emotional and Verificou-se que os pacientes com
(2005) 57 anos de idade, facial eletiva, sob porte social ao pacien- Informational altos escores de suporte social
de ambos os se- anestesia geral te, nos indicadores de Support Scales- apresentavam menos ansiedade,
xos, que não re- stress antes, durante e Operations (EISP), recebiam doses menores de nar-
ce b e r a m p r é - após a cirurgia Cognitive, Affective, cóticos e permaneciam interna-
-medicação an- Somatic Anxiety dos por um curto período de tem-
siolítica. Excluí- scale (CASA) e um in- po
dos: pacientes ventário para avalia-
com cirurgias re-
ção do stress relati-
lacionadas a tu-
vo à cirurgia
mores ou de ca-
ráter emergencial
Padilha e Pacientes entre Cateterismo Investigar de forma Questionário de auto- Verificou-se a ausência de associ-
Kristernsen (2006) 36 e 77 anos, de cardíaco exploratória medo e relato, com ques- ação entre conhecimento prévio
ambos os sexos, ansiedade relatados tões fechadas com e diminuição do medo e da ansie-
variados níveis pelos pacientes sub- escalas Likert de cin- dade. Foram relatadas preocupa-
sócioeconômicos, metidos ao CAT, des- co pontos e ques- ções quanto a possíveis inter-
em atendimento crevendo as manifes- tões abertas, explo- corrências durante o procedimen-
ambulatorial. Ex- tações comportamen- rando aspectos do to e quanto ao diagnóstico e
cluídos: pacien- tais e cognitivas as- medo e da ansieda- prognóstico. Os resultados suge-
tes com proble- sociadas a medo e an- de em diferentes eta- rem que intervenções de preparo
mas neurológi- siedade pas do CAT. Com- psicológico em pacientes subme-
cos ou proble- posto por duas par- tidos a procedimentos invasivos
mas de saúde, tes, uma apresenta- seriam benéficos na redução da
analfabetos da previamente ao ansiedade
CAT e outra, poste-
riormente
Medeiros e Pacientes de 18 a Cirurgias eletivas Identificar o estado de Questionário de es- Verificou-se que as estratégias de
Peniche (2006) 65 anos, ambos de pequeno e ansiedade e as estraté- tado de ansiedade enfrentamento mais comumente
os sexos, sem in- médio porte gias de enfrentamen- de Spielberger e o in- utilizadas foram as de suporte so-
tercorrências psi- to utilizadas pelo pa- ventário de estraté- cial e a de resolução de proble-
quiátricas, sem ciente no período gias de coping de mas. Obteve-se uma correlação
medicação pré- pré-operatório, e veri- Lazarus e Folkman negativa entre o estado de ansie-
-anestésica no ficar a relação entre es- dade e o suporte social e a resolu-
momento de apli- sas variáveis ção de problemas
cação dos ques-
tionários

PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA PARA CIRURGIA


Nagraj et al. (2006) Pacientes de am- Cirurgias gerais, Investigar a preferên- Questionário não Verificou-se que a maior parte dos
bos os sexos (não urológicas, orto- cia dos pacientes especificado. pacientes prefere ir caminhando
foram caracteriza- pédicas, gineco- quanto à forma de ser até a sala de operações (indicativo
dos quanto à ida- lógicas e opera- encaminhado à sala de maior necessidade de autono-
de e/ou outras ções menores de cirurgia mia)
variáveis)
Marchand et al. Pacientes de 20 a Cirurgia Descrever e analisar a Entrevista baseada Um terço dos pacientes expres-
(2007) 58 anos, de am- bariátrica estrutura cognitiva na pergunta “O que sou erros de conhecimento acer-
bos os sexos, em (conhecimento e ou- imagina que irá ca da cirurgia e da dieta. Além dis-
acompanhamen- tros estados mentais) acontecer após a so, apresentou numerosas per-
to profissional há, de pacientes obesos sua cirurgia?” pectivas de mudança positiva
pelo menos, 1
antes de se submete- após a cirurgia
ano, com consul-
rem à cirurgia
tas médicas, psi-
cológicas, nutri-
cionais e terapia
de grupo
279

Estudos de Psicologia I Campinas I 29(2) I 271-284 I abril - junho 2012


ANEXO1

CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES, TIPOS DE CIRURGIA, OBJETIVO GERALMETODOLOGIA E PRINCIPAIS RESULTADOS DOS
ESTUDOS SOBRE TEMAS ASSOCIADOS AO CONTEXTO DE PREPARAÇÃO E CUIDADOS CIRÚRGICOS
Continuação

Artigo (Autor/Ano) Pacientes Tipo de cirurgia Objetivo da pesquisa Coleta de dados Principais resultados

Marcolino et al. Pacientes acima Procedimentos ci- Medir a frequência e Escala Hospitalar Verificou-se que 44% dos pacien-
(2007) de 16 anos, esta- rúrgicos eletivos de o nível de ansiedade de Ansiedade e tes apresentaram sintomas de an-
do físico ASA I e II pequeno e médio e depressão no pré- Depressão (HADS) siedade no pré-operatório e 26%
e seus acom- porte -operatório em pa- apresentaram sintomas de de-
panhantes. Excluí- cientes e em grupo pressão. Com relação aos acom-
dos: pacientes controle (constituí- panhantes, 64% apresentaram sin-
com doença on- do pelos acompa- tomas de ansiedade, e 41% sinto-
cológica, doença nhantes dos pacien- mas de depressão no período pré-
psiquiátrica, defici- tes) -operatório. Esses resultados refor-
ência auditiva, vi-
çam a necessidade de avaliação
sual ou em uso de
da ansiedade de todos os pacien-
substâncias psi-
tes no período pré-operatório
coativas

Rankinen et al. Pacientes de 16 a Cirurgias trauma- Comparar as expecta- Hospital Patients’ Os pacientes receberam menos
(2007) 84 anos, de am- tológicas, gastroin- tivas de conhecimen- Knowledge conhecimentos referentes às di-
bos os sexos testinais, urológi- tos dos pacientes no Expectations e mensões biofisiológica, funcional,
cas, cardíacas e to- momento da admis- Hospital Patients’ experiencial, social e financeira,
rácicas são hospitalar e o R e c e i v e d durante o período de internação,
conhecimento rece- Knowledge, esca- do que tinham expectativa
bido durante o pe- las com quatro
ríodo de internação níveis de respos-
hospitalar ta, que fazem dis-
tinção entre as di-
mensões de co-
nhecimento biofi-
siológico (8 itens),
funcional (8), expe-
riencial (3), ético
(9), social (6) e fi-
nanceiro (6)

Gilmartin e Wright Pacientes de 19 a Cirurgias gerais, Descrever e inter- Entrevista A maioria dos pacientes sentiu-se
(2008) 85 anos de idade, ginecológicas e pretar as experiên- não-estruturada abandonado, apreensivo e an-
de ambos os urológicas cias dos pacientes baseada em uma sioso no período pré-operatório
sexos, maioria de no dia da cirurgia questão inicial (não
cor branca apresentada)

Patenaude et al. Pacientes de 31 a Mastectomia pro- Explorar o interesse Entrevistas semi- Verificou-se que, entre as mulhe-
(2008) 87 anos, sexo fe- filática e a aceitabilidade de -estruturadas res que foram submetidas à mas-
minino, que fo- interenções/consul- tectomia profilática, mais da me-
A.L. COSTA JUNIOR et al.

ram submetidas tas psicológicas em tade considerava que a consulta


à mastectomia pro- assuntos relaciona- psicológica era aconselhável e útil,
filática, com ou dos à mastectomia tanto no período pré quanto no
sem diagnóstico profilática em paci- pós-cirúrgico. Todas as mulheres
de câncer, ou que entes que seriam que estavam considerando a pos-
estavam conside- submetidas à cirur- sibilidade de se submeter à cirur-
rando a possibili- gia ou estavam ava- gia acreditavam que a consulta
dade de subme- liando esta possibili- psicológica poderia auxiliar na to-
ter-se ao procedi- dade mada de decisão e preparação
mento para o procedimento
280

Estudos de Psicologia I Campinas I 29(2) I 271-284 I abril - junho 2012


ANEXO1

CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES, TIPOS DE CIRURGIA, OBJETIVO GERALMETODOLOGIA E PRINCIPAIS RESULTADOS DOS
ESTUDOS SOBRE TEMAS ASSOCIADOS AO CONTEXTO DE PREPARAÇÃO E CUIDADOS CIRÚRGICOS
Conclusão

Artigo (Autor/Ano) Pacientes Tipo de cirurgia Objetivo da pesquisa Coleta de dados Principais resultados

Goodman et al. Pacientes de 51 a Cirurgia de revas- Avaliar a experiência Grupo focal utili- Os pacientes apreciaram o pro-
(2009) 76 anos, de am- cularização dos pacientes e a visão zando cartões para grama, mas indicaram que a ava-
bos os sexo dos profissionais acer- suscitar a fala dos liação física e a comunicação po-
ca de um programa de pacientes com re- deriam melhorar. Houve uma va-
lação às seguintes riação na compreensão do pro-
educação e suporte no
etapas do proces-
período pré-cirúrgico grama e no grau de motivação
so cirúrgico: “aguar-
para promover a própria saúde.
dando a sua cirur-
gia”, “efeitos sobre Houve variabilidade na aborda-
o estilo de vida”, “fa- gem do profissional durante a pre-
lando sobre a ne- paração
cessidade da cirur-
gia”, “suporte en-
quanto esperava”,
“indo para o hos-
pital’, “sua recupe-
ração”

Asa: American Society Anesthesiologists; IMC: Índice de Massa Corporal; CAT: Cateterismo.

PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA PARA CIRURGIA

281

Estudos de Psicologia I Campinas I 29(2) I 271-284 I abril - junho 2012


ANEXO 2

CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES, TIPOS DE CIRURGIA, MODALIDADE DE PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA,


PRINCIPAIS RESULTADOS OBTIDOS E USO, OU NÃO, DE MATERIAL EDUCATIVO

Artigo Preparação Procedimento Uso de


Tipo de Principais Tipo de
Pacientes de preparação material
(Autor/Ano) cirurgia psicológica resultados hospital
psicológica educativo
Mitchell Pacientes acima de Cirurgia de la- Fornecimento de Fornecimento de informa- Os pacientes Sim Identifica-
(2000a) 18 anos, que não paroscopia gi- informação por ção por meio de dois tipos com estilo de do, mas não
se submeteram a n e c o l ó g i c a meio de livretos de livretos: o primeiro com enfrentamento caracteriza-
cirurgia nos últi- com aneste- informações simples e bre- vigilante, que do
mos 12 meses, não sia geral ves, e o segundo com um receberam in-
portadores de do- maior número de informa- formações sim-
enças crônicas, que ções, mais amplas e deta- ples e breve,
se comunicavam lhadas apresentavam-
verbalmente se mais ansiosos
imediatamente
antes da cirur-
gia. Todos os pa-
cientes que re-
ceberam o li-
vreto com infor-
mações simples
e breves, inde-
pendentemen-
te do tipo de es-
tilo de enfren-
tamento, procu-
raram mais con-
tato com o mé-
dico responsá-
vel

Baggio Pacientes adultos Cirurgia Fornecimento de Fornecimento de orienta- As orientações Não Hospital de
et al. de ambos os sexos cardíaca informação/orien- ções baseadas no Proto- fornecidas pela ensino
(2001) tação colo Guia de Orientações enfermeira pro-
de Enfermagem (Baggio porcionaram ao
et al., 2001), utilizando co- paciente um
mo material de apoio pai- acordar tranqui-
néis ilustrativos lizador e foram
percebidas por
eles como uma
situação diferen-
ciada, a qual ge-
rou um senti-
mento privilégio
A.L. COSTA JUNIOR et al.

Ribeiro Pacientes de 9 a 12 Enxerto Ós- Intervenção psico- Entrevista psicológica para Maiores ganhos Não Identifica-
et al. anos de idade, de seo Secundá- lógica cognitiva e identificação de sentimen- nas condições do, mas não
(2002) ambos os sexos, rio (EOAS) treino de relaxa- tos e avaliação do estado psico-orgânicas caracteriza-
maioria de cor mento e visualiza- psico-orgânico, seguida dos pacientes do
branca ção por treino em técnicas de submetidos à
relaxamento, visualização intervenção de
e suporte para minimizar preparação psi-
o nível de ansiedade e ten- cológica no
são no período pré-ope- pós-operatório
ratório
282

Estudos de Psicologia I Campinas I 29(2) I 271-284 I abril - junho 2012


ANEXO 2

CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES, TIPOS DE CIRURGIA, MODALIDADE DE PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA,


PRINCIPAIS RESULTADOS OBTIDOS E USO, OU NÃO, DE MATERIAL EDUCATIVO
Continuação

Artigo Preparação Procedimento Uso de


Tipo de Principais Tipo de
Pacientes de preparação material
(Autor/Ano) cirurgia psicológica resultados hospital
psicológica educativo
Gilmartin Pacientes de 19 a 85 Cirurgias ge- Método fenome- Escuta ativa e incentivo à Pacientes mais Não Hospital
(2004) anos de idade, de rais, ginecoló- nológico herme- expressão de sentimentos tranquilos e com de ensino
ambos os sexos, gicas e nêutico para elu- e pensamento menor ansiedade
maioria eram urológicas cidar a experiên-
brancos cia dos pacientes
no processo de
pré-avaliação

Cooke Pacientes acima de Todos os tipos Apresentação de Fornecimento de um apa- A apresentação Não Identifica-
et al. 18 anos, com habi- de cirurgia, es- música no pe- relho de CD portátil com de música redu- do, mas
(2005) lidade de leitura e pecialmente or- ríodo pré-cirúrgi- fones de ouvido, para o ziu de forma es- não ca-
paciente escutar, durante t a t isticamente racterizado
escrita em inglês, topédicas, co imediato
30 min, músicas de seu es-
que gostavam de citoscopias e significante o ní-
tilo musical preferido
escutar música e biópsias (clássica, country, new vel de ansiedade
eram admitidos, age e artistas contempo- do paciente no
operados e recebi- râneos) período pré-ope-
am alta no mesmo ratório
dia. Excluídos: paci-
entes com algum
tipo de deficiência
auditiva ou dificul-
dade de uso de fo-
nes ou com tempo
de espera pré-cirúr-
gica inferior a 45
minutos

Juan Pacientes de 22 a 81 Cirurgias Programa de in- Protocolo I: Duas entrevis- Os pacientes que Não Hospital
(2005) anos de ambos os urológicas formação e edu- tas prévias ao procedi- receberam acom- de ensino
sexos cação pré-cirúrgi- mento cirúrgico, sendo panhamento pré
uma na Clínica e outra no
ca e pós-cirúrgico ma-
hospital, além do acom-
panhamento hospitalar nifestaram me-
pós-cirúrgico. Protocolo lhor recuperação
II: Uma entrevista pré-ci- física e emocio-

PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA PARA CIRURGIA


rúrgica e o acompanha- nal. Quanto ao
mento realizado no hos- período pós-cirúr-
pital. Foco pré-cirúrgico: gico o grupo que
aspectos emocionais de-
não teve o acom-
sencadeados pela situa-
ção da hospitalização e da panhamento ma-
cirurgia. Foco do pós-ci- nifestou mais dor,
rúrgico: recuperação físi- ansiedade e stress
ca e emocional poten-
cializando a recuperação
do paciente e sua partici-
pação ativa no processo

283

Estudos de Psicologia I Campinas I 29(2) I 271-284 I abril - junho 2012


ANEXO 2

CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES, TIPOS DE CIRURGIA, MODALIDADE DE PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA,


PRINCIPAIS RESULTADOS OBTIDOS E USO, OU NÃO, DE MATERIAL EDUCATIVO
Conclusão

Artigo Preparação Procedimento Uso de


Tipo de Principais Tipo de
Pacientes de preparação material
(Autor/Ano) cirurgia psicológica resultados hospital
psicológica educativo
Berg Pacientes acima de Cirurgias eleti- Fornecimento de Fornecimento de infor- O estudo apresen- Não Identificado,
et al. 18 anos, com fluên- vas cardíacas, informação ade- mação compreensível ta apenas o plano mas não ca-
(2006) cia verbal em ale- abdominais quada prévia acer- quanto ao ambiente da metodologico para racterizado
mão, capazes de ou torácicas, ca da internação UTI e sobre procedimen- coleta e análise
preencher o ques- com previsão em UTI posterior- tos, sensações e enfren- dos dados. Não
tionário. Excluídos: de interna- mente à cirurgia tamento durante o perí- inclui a descrição
pacientes grávidas e ção posterior odo de internação na de resultados con-
pacientes interna- em UTI UTI. As informações cretos
dos em UTI, por mo- eram fornecidas verbal-
tivos cirúrgicos, no mente, por meio de tex-
último ano to padronizado, e
complementadas por
duas figuras de elemen-
tos da UTI
Também foram apre-
sentados cartões ilustra-
dos os principais medos
associados à internação
na UTI e as ações úteis
para minimizar os me-
dos. Ao final, os pacien-
tes podiam fazer per-
guntas adicionais
Shelley e Pacientes de 41 a 85 Cirugias car- Fornecimento de Preparação em quatro Em pacientes com Não Não Identifi-
Pakenham anos, ambos os se- díacas informação sobre estágios: estabeleci- alto lócus de con- cado/caracte-
2007) xos. Excluídos: paci- procedimentos mento de rapport, levan- trole externo, a rizado
entes que foram pre- realizados duran- tamento das preocupa- preparação psico-
viamente submeti- te a internação e ções dos pacientes, lógica era relacio-
dos à tratamentos formas de en- questões feitas ao paci- nada a menores
cardíacos invasivos frentá-los entes e estabelecimen- índices de distress.
que sofriam de al- to de relações as preocu- Em pacientes com
guma doença imu- pações e os questiona- baixo lócus de
ne ou que estavam mentos. Após serem ci- controle externo,
fazendo reposição tadas as preocupações a preparação psi-
hormonal solicitou-se aos pacien- cológica era rela-
tes que as ordenassem cionada a meno-
por importância. O mes- res índices de
mo foi feito na fase de distress
questionamentos (com-
posta por nove pergun-
tas). No último estágio,
o psicólogo relacionou
as preocupações dos
pacientes com as ques-
tões e estruturou estra-
tégias cognitivas de
A.L. COSTA JUNIOR et al.

enfrentamento
Rosendahl Pacientes acima de Cirurgia de Intervenções Psi- Pacientes designados O estudo apresen- Não Participam
et al. 18 anos, aguardan- bypass e cirur- cológicas diver- de acordo com suas pre- ta apenas o plano do estudo
(2009) do por cirurgia em gia coronária sas ferências para recebe- metodológico pa- dois hospi-
caráter não emer- de bypass com rem intervenção psico- ra coleta e análise tais: um de
gencial substituição lógica, espiritual ou ne- dos dados, não ensino e o
da válvula nhuma. Intervenções apresentando re- outro não foi
psicológicas dependi- sultados caracteriza-
am das necessidades do
dos pacientes

284 Asa: American Society Anesthesiologists; CAT: Cateterismo; IMC: Índice de Massa Corporal; UTI: Unidade de Terapia Intensiva.

Estudos de Psicologia I Campinas I 29(2) I 271-284 I abril - junho 2012

Você também pode gostar