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Exercício de TGDC I

António coloca o seguinte anúncio num jornal local: “Vendo automóvel X, do ano
Y, como Z quilómetros e inspeção em dia. Preço: € 7.500. Tel. 91 757 57 75”.
Bento, depois de ler o anúncio, telefona de imediato a António. Diz-lhe que tem
de pedir um empréstimo ao Banco, mas que aceita comprar o automóvel. António,
sem papas na língua, pergunta: “Mas tem ou não tem dinheiro?” Nesse preciso
momento, a chamada cai.
Meia hora volvida o telefone volta a tocar. Desta feita era Carlos. Depois de uma
curta conversa, António vende o automóvel.
Passada uma semana, Bento, telefona a António pede desculpa por ainda não ter
ido buscar o automóvel e conta-lhe a seguinte história:
Depois de comprar o automóvel ficou sem bateria. Entrou no café D’Esquina com
o propósito de ligar a António, para combinarem quando poderia ir buscar o seu novo
automóvel.
Enquanto esperava para ser atendido, resolve ir à casa de banho para se
refrescar, mal entra escorrega, porque o chão estava molhado, bate com a cabeça e
desmaia. Só hoje de manhã teve alta hospitalar.

a) Tanto Bento como Carlos alegam ser os legítimos donos do automóvel.

b) Bento alega que, no hospital, arrendou uma garagem a Elias, paciente com
quem dividia o quarto, por € 150, tendo já pago as cinco primeiras prestações. Se não
lhe dá o carro, António deve-lhe € 750.

a)A proposta realizada por António é completa e mostra inequívoca de contratar.


Trata-se assim de uma oferta ao pública, pois é uma declaração não recipienda.
Dado que a proposta é não recipienda, torna-se eficaz a partir da emissão da
vontade do proponente, nos termos do artº 224º.
Bento decide contactar António por uma chamada telefónica, sendo assim uma
negociação entre presentes, assim, normalmente, a duração é imediata, nos termos do
artigo 228º/1, alínea b).
Na chamada, Bento aceitou a proposta numa declaração expressa (217º/1),
mencionando apenas que teria de pedir um empréstimo. Dado isto, Bento exerceu o
seu direito potestativo, ou seja, com a sua aceitação vai fazer nascer o contrato,
produzindo efeitos jurídicos, logo a propriedade da coisa, neste caso o carro passa
para a esfera jurídica do Bento, à luz do acordo com o artigo 879º, alínea a).
Após a chamada com Bento e visto que António não se reservou ao direito de
revogar a proposta, de acordo com o artigo 230º/1º, não poderia celebrar o contrato
de venda com Carlos, tratando-se de uma venda de bens alheios, sendo esta nula, de
acordo com o artº 892º.
Em suma, a venda a Bento é válida, sendo este o proprietário da coisa, e a venda
a Carlos é nula, não sendo este o legítimo dono da coisa.

b) Após a chamada verifica-se um dever de lealdade de António para com Bento,


que é quebrada, visto que Bento tem de, segundo o Professor Menezes Cordeiro,
avisar que a venda não seria efectuada. Sendo assim, houve uma interrupção
injustificada de negociações, quebrando o dever de lealdade porque vendeu o carro a
Carlos. Visto que Bento realizou despesas com o contrato, António terá o dever de o
indemnizar visto que há uma situação de culpa in contratando por parte de António,
de acordo com o artigo 227º, nº1, devendo reconstituir a situação em que Bento se
encontrava antes de se ter realizado a negociação nos termos do artigo 562º.

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