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gestão educacional i -

Ambientes educativos não escolares

www.unipar.br
UNIVERSIDADE PARANAENSE
MANTENEDORA
Associação Paranaense de Ensino e Cultura – APEC

REITOR
Carlos Eduardo Garcia

Vice-Reitora Executiva
Neiva Pavan Machado Garcia

Vice-Reitor Chanceler
Candido Garcia

Diretorias Executivas de Gestão Diretorias Executivas de Gestão


Administrativa Acadêmica
Diretor Executivo de Gestão dos Assuntos Comunitários Diretora Executiva de Gestão do Ensino Superior
Cássio Eugênio Garcia Maria Regina Celi de Oliveira
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Institucional Graduação
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Permanentes e de Consumo Universitária
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Diretorias dos Institutos Superiores das


Ciências
Diretora do Instituto Superior de Ciências Exatas,
Agrárias, Tecnológicas e Geociências
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Humanas, Linguística, Letras e Artes, Ciências Sociais
Aplicadas e Educação
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Diretora do Instituto Superior de Ciências Biológicas,
Médicas e da Saúde
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SEMEAD – Secretaria Especial Multicampi de
Educação a Distância

Secretário Executivo
Carlos Eduardo Garcia

Coordenação Geral de EAD


Ana Cristina de Oliveira Cirino Codato

Coordenador dos Cursos Superiores de Licenciatura e de


Graduação Plena (História, Letras, Pedagogia e Filosofia)
Heiji Tanaka

Coordenador dos Cursos Superiores de Tecnologia e Bacharelado do


Eixo Tecnológico de Gestão e Negócios (Gestão Comercial, Logística, Marketing,
Processos Gerenciais e Administração)
Evandro Mendes de Aguiar

Coordenadora dos Cursos Superiores de Tecnologia e Bacharelado do


Eixo Tecnológico de Gestão e Negócios (Gestão Financeira,
Gestão Pública, Recursos Humanos e Ciências Contábeis)
Isabel Cristina Gozer

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da UNIPAR

U58e UNIPAR - Universidade Paranaense.


Gestão educacional I – ambientes educativos não
escolares / Ionah Beatriz Beraldo Mateus (Org.). –
Umuarama : Unipar, 2015.
134 f.

ISBN: 978-85-8498-032-1

1. Educação. 2. Ensino a distância - EAD. I.


Universidade Paranaense. II. Título.

(21 ed.) CDD: 371.2

Assessoria pedagógica
Daniele Silva Marques e Marcia Dias

Diagramação e Capa
Renata Sguissardi e Fernando Truculo Evangelista
* Material de uso exclusivo da Universidade Paranaense – UNIPAR com todos os direitos da edição a ela reservados.
Sumário
Gestão Educacional I (Ambientes Educativos não Escolares)

Unidade I - Educação e Sociedade: crianças e


adolescentes em situação de vulnerabilidade.......13
A criança e sua família...........................................................................................14
A Família Colonial....................................................................................................20
A família contemporânea.....................................................................................24
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.......................................................................................32

UNIDADE II – AMBIENTES EDUCATIVOS NÃO ESCOLARES.41


O papel dos abrigos.................................................................................................42
Os menores infratores...........................................................................................53
O Estatuto da Criança e do Adolescente.........................................................61

UNIDADE III – Ampliando as fronteiras


da educação não escolar...........................................................75
Novos campos para as experiências pedagógicas......................................76
Pedagogia Hospitalar.............................................................................................82
Pedagogia empresarial..........................................................................................96
Pedagogia Social.......................................................................................................101

UNIDADE IV – O papel do pedagogo na gestão


dos ambientes educativos não escolares.....................113
Pedagogia e a Gestão de Pessoas.......................................................................114
Pedagogia e Empreendedorismo......................................................................124

Referências.................................................................................................................134
Apresentação

Diante dos novos desafios trazidos pelo mundo contemporâneo e o surgimento de um

novo paradigma educacional frente às Tecnologias de Informação e Comunicação dis-

poníveis que favorecem a construção do conhecimento, a revolução educacional está

entre os mais pungentes, levando as universidades a assumirem a sua missão como

instituição formadora, com competência e comprometimento, optando por uma gestão

mais aberta e flexível, democratizando o conhecimento científico e tecnológico, atra-

vés da Educação a Distância.

Sendo assim, a Universidade Paranaense - UNIPAR - atenta a este novo cenário e

buscando formar profissionais cada vez mais preparados, autônomos, criativos, res-

ponsáveis, críticos e comprometidos com a formação de uma sociedade mais demo-

crática, vem oferecer-lhe o Ensino a Distância, como uma opção dinâmica e acessível

estimulando o processo de autoaprendizagem.

Como parte deste processo e dos recursos didático-pedagógicos do programa da

Educação a Distância oferecida por esta universidade, este Guia Didático tem como

objetivo oferecer a você, acadêmico(a), meios para que, através do autoestudo, possa

construir o conhecimento e, ao mesmo tempo, refletir sobre a importância dele em sua

formação profissional.

Seja bem-vindo(a) ao Programa de Educação a Distância da UNIPAR.

Carlos Eduardo Garcia


Reitor
Seja bem-vindo caro(a) acadêmico(a),

Os cursos e/ou programas da UNIPAR, ofertados na modalidade de educação a dis-

tância, são compostos de atividades de autoestudo, atividades de tutoria e atividades

presenciais obrigatórias, os quais individualmente e no conjunto são planejados e or-

ganizados de forma a garantir a interatividade e o alcance dos objetivos pedagógicos

estabelecidos em seus respectivos projetos.

As atividades de autoestudo, de caráter individual, compreendem o cumprimento das

atividades propostas pelo professor e pelo tutor mediador, a partir de métodos e práti-

cas de ensino-aprendizagem que incorporem a mediação de recursos didáticos orga-

nizados em diferentes suportes de informação e comunicação.

As atividades de tutoria, também de caráter individual, compreendem atividades de

comunicação pessoal entre você e o tutor mediador, que está apto a: esclarecer as

dúvidas que, no decorrer deste estudo, venham a surgir; trocar informações sobre as-

suntos concernentes à disciplina; auxiliá-lo na execução das atividades propostas no

material didático, conforme calendário estabelecido, enfim, acompanhá-lo e orientá-lo

no que for necessário.

As atividades presenciais, de âmbito coletivo para toda a turma, destinam-se obriga-

toriamente à realização das avaliações oficiais e outras atividades, conforme dispuser

o plano de ensino da disciplina.

Neste contexto, este Guia Didático foi produzido a partir do esforço coletivo de uma

equipe de profissionais multidisciplinares totalmente integrados que se preocupa

com a construção do seu conhecimento, independente da distância geográfica que

você se encontra.
O Programa de Educação a Distância adotado pela UNIPAR prioriza a interatividade,

e respeita a sua autonomia, assegurando que o conhecimento ora disponibilizado seja

construído e apropriado de forma que, progressivamente, novos comportamentos, no-

vas atitudes e novos valores sejam desenvolvidos por você.

A interatividade será vivenciada principalmente no ambiente virtual de aprendizagem

– AVA, nele serão disponibilizados os materiais de autoestudo e as atividades de tuto-

ria que possibilitarão o desenvolvimento de competências necessárias para que você

se aproprie do conhecimento.

Recomendo que durante a realização de seu curso, você explore os textos sugeridos

e as indicações de leituras, resolva às atividades propostas e participe dos fóruns de

discussão, considerando que estas atividades são fundamentais para o sucesso da

sua aprendizagem.

Bons estudos! e-@braços.

Ana Cristina de Oliveira Cirino Codato

Coordenadora Geral da EAD


Introdução

Caro aluno, fico muito satisfeita em apresentar a você algumas das minhas reflexões

por meio deste livro. Espero que esta leitura seja um convite a novas discussões, a

novos pontos de vista e posicionamentos diante desta disciplina tão primordial para

sua formação.

As mudanças ocorridas na sociedade ao longo da história afetaram e modificaram os

objetivos da educação e consequentemente de nossa disciplina. Por isso acredito que

o pedagogo necessita de novos instrumentos, teóricos e práticos, que lhe auxilie no

trabalho e na criação de uma gestão pessoal. Afinal, é essa gestão “particular” que

oferece condições para um trabalho contextualizado e capaz de responder as neces-

sidades especificas de uma escola, empresa ou hospital.

Esse livro foi organizado e escrito com esse intuito. O de oferecer à você, um mate-

rial de alta qualidade e informações capazes de instrumentalizar a sua gestão pes-

soal. Para isso, organizamos em quatro capítulos os temas mais relevantes da Gestão

Educacional.

No primeiro capítulo entenderemos melhor a situação das crianças e adolescentes

abandonados no Brasil. Esse é um problema social bastante complexo e antigo. Ele

precisa ser analisado e discutido nessa disciplina para que sua formação pedagógica

esteja adequada aos desafios da atualidade.

No segundo capítulo, conheceremos um pouco da história dos menores infratores

e discutiremos as medidas socioeducativas existentes para correção e socialização

dessas crianças e adolescentes.

No terceiro, você conhecerá melhor os novos campos de atuação do pedagogo, suas

diferentes funções em ambientes não escolares como as empresas e os hospitais.


Já para o último capítulo, reservei um espaço especial para a gestão de pessoas.

Esse tema tem sido destaque nos principais debates educacionais e obviamente você

não poderia ficar fora dele, não é mesmo? Então, aproveite sua leitura, reflita e anote

suas dúvidas. Faça todos os exercícios propostos em seu material didático e se com-

prometa com sua formação acadêmica. Para isso, basta seguir em frente! Boa leitura

e ótimos estudos para você.

Atenciosamente,

Profª Ionah Beatriz Beraldo Mateus.s.


Unidade I - Educação e Sociedade:
crianças e adolescentes em
situação de vulnerabilidade

Objetivos a serem alcançados nesta unidade


Prezado(a) Acadêmico(a), ao terminar os estudos dessa unidade, você deverá ser

capaz de:

• Caracterizar as situações de vulnerabilidade de crianças e adolescentes no


Brasil;
• Compreender o papel da família na superação das vulnerabilidades;
• Conhecer o papel dos abrigos na redução da situação de vulnerabilidade.
A criança e sua família

Embora seja um direito, garantido por lei, de toda criança e adolescente à convivência

familiar, ele ainda é uma realidade distante para milhares de pessoas que passam

parte de sua infância e juventude em unidades de acolhimento. Unidades de acolhi-

mento eram mais conhecidas antigamente pelo nome de Orfanato. Atualmente são

chamados de abrigos, casa lar ou casa de passagem. Nessa unidade, você conhe-

cerá um pouco mais sobre a realidade de crianças e jovens que por diversos motivos

foram afastados de suas famílias. Para compreender melhor essa realidade, faremos

uma rápida análise sobre a história da família e sua importância no processo de hu-

manização. Também interpretaremos dados numéricos e estatísticos para conhecer a

faixa etária, cor e sexo das crianças e adolescentes abrigadas.

A legislação brasileira vigente reconhece a família como núcleo estruturante e vital

para o desenvolvimento e socialização da criança e dos adolescentes, é o espaço

ideal e privilegiado para o desenvolvimento integral dos indivíduos. No entanto, a his-

tória social das famílias nos mostra que ainda hoje enfrentam muitas dificuldades para

proteger e educar seus filhos. Grande parte dessas dificuldades foram traduzidas pelo

14 GestãO EDUCACIONAL I
Estado como incapacidades das famílias carentes de criar e orientar seus filhos. Por

meio desse discurso, muitas famílias em situação de pobreza, foram consideradas

incapazes de criar seus filhos e com isso, milhares de crianças foram destituídas de

suas famílias. De acordo com essa lógica, qualquer criança ou adolescente, por sua

condição de pobreza, estava sujeita a se enquadrar nas ações da justiça e assistên-

cia, que sob o argumento da proteção confinavam-nas em Orfanatos.

Atualmente, com o aprofundamento das desigualdades sociais e todas as consequên-

cias que isso acarreta para a vida das crianças e adolescentes, o sistema de proteção

e assistência modificou seu modelo de ação. Hoje, ele se respalda na conservação

dos laços familiares garantido por leis nacionais como a própria Constituição Federal

de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990. As mudanças não ocor-

reram apenas nas políticas públicas da infância e da juventude e sim, na criação de

um sistema de garantia de direitos, com a capacidade de enxergar nossas crianças e

adolescentes como sujeitos de direitos indissociáveis de seu contexto sociofamiliar e

comunitário.

Em outras palavras, o atual sistema de proteção e assistência de crianças e adoles-

centes compreende que todos têm direito a uma família e que seus vínculos e laços

afetivos devem ser protegidos pela sociedade e o Estado, pois eles são fundamentais

para o desenvolvimento saudável de todos. Nas situações de risco ou enfraquecimen-

to desses vínculos familiares, o Estado deve esgotar as possibilidades de preserva-

ção aliando, inclusive, apoio econômico ao grupo familiar. No caso de ruptura com

os vínculos familiares, o Estado é o responsável pela proteção das crianças e dos

adolescentes, incluindo o desenvolvimento de projetos e programas que possam levar

a constituição de novos vínculos familiares e comunitários, mas sempre priorizando o

resgate da família original.

Agora que você já sabe que o principal direito das crianças e adolescentes é o de pos-

suir uma família, vamos conhecer um pouco mais sobre a história das famílias, afinal,

nem sempre as coisas foram assim...

GestãO EDUCACIONAL I 15
reflita
“O sonho de cada família é poder viver junta e feliz, num lar tranquilo e pacífico, em

que os pais têm oportunidade de criar os filhos da melhor maneira possível, ou de

os orientar e ajudar a escolher as suas carreiras, dando-lhes o amor e carinho que

desenvolverá neles um sentimento de segurança e de autoconfiança” (MANDELA,

Nelson. Carta a Zindzi Mandela, 1970).

Uma família brasileira do início do século XIX retratada por Jean-Baptiste Debret

Foto: Reprodução/Jean-Baptist Debret

Você sabia que a família nem sempre foi considerada fundamental para o desenvol-

vimento humano? O abandono de filhos sempre acompanhou a história da família

e da criança. Ariés (2006) esclarece que nos séculos XV e XVI, as crianças a partir

dos sete anos de idade, eram separadas de suas famílias e enviadas a outras para

aprenderem um ofício (profissão). Elas começavam aprendendo a servir uma mesa

e depois aos poucos, realizavam todo tipo de serviço doméstico. Nessa época, a es-

cola ainda era um privilégio dos nobres e dos religiosos. Portanto, as crianças menos

abastadas eram separadas bem cedo de suas famílias para aprenderem uma profis-

são. No início aprendiam os trabalhos domésticos e depois, aprendiam carpintaria,

16 GESTÃO EDUCACIONAL I
artesanato, costura e outros ofícios. Vale ressaltar que nesse período, a imagem da

criança não era a mesma que temos dela na atualidade. No século XV, uma criança de

sete anos era tratada como um adulto em miniatura. Isso significa que os sentimentos

em relação à família e em relação às crianças eram diferentes. Veja como nos explica

Ariés (2006, pp.158-159):

A família era uma realidade moral e social, mais do que sentimental. No caso das famí-
lias pobres, ela não correspondia a nada além da instalação material do casal no seio
de um meio mais amplo, a aldeia, a fazenda, o pátio ou a casa dos senhores, onde es-
ses pobres passavam mais tempo do que em sua própria casa (às vezes nem ao menos
tinham uma casa, eram vagabundos sem eira nem beira, verdadeiros mendigos). Nos
meios mais ricos, a família se confundia com a propriedade do patrimônio, a honra do
nome. A família quase não existia sentimentalmente entre os pobres, e quando havia
riqueza e ambição, o sentimento se inspirava no mesmo sentimento provocado pelas
antigas relações de linhagem.

Portanto, se você está imaginando o sofrimento da mãe ou dos pais do século XV, que

se apartavam tão cedo de seus filhos para que estes pudessem iniciar uma profissão,

fique tranquilo, pois esse sofrimento simplesmente não existia. Não que se tratasse de

algum caso de maldade das pessoas daquela época, mas conforme vimos mediante

as palavras de Philippe Aríes não havia muito sentimentalismo nas relações familia-

res. A família desse período representava muito mais uma organização de posses e

bens patrimoniais do que uma instituição construída por laços afetivos.

Essa realidade só foi modificada no final do século XV. De acordo com Kreuz (2012), a partir

do século XVII já era possível perceber um sentimento mais próximo entre pais e filhos. As

crianças podiam ser educadas nas escolas, mas o número de instituições escolares ainda

era bastante reduzido. Além disso, as escolas eram muito distantes o que obrigava a maio-

ria dos alunos a morar nos colégios enquanto estudavam. Devido a isso, foram criados os

internatos para crianças e “o internamento dos filhos, inicialmente, para fins de estudos,

tornou-se uma prática aceitável, a partir do século XVII, quando as famílias mais ricas envia-

vam seus filhos para serem educados em grandes orfanatos” (KREUZ, 2012, p.20).

GestãO EDUCACIONAL I 17
No Brasil, o afastamento familiar ocorria ainda mais cedo. As crianças brancas, logo

ao nascer, já eram entregues aos cuidados a uma ama de leite negra que além de

amamentar o bebê também realizava todos os cuidados necessários. Era muito co-

mum que até aos seis anos de idade a criança fosse criada e alimentada por uma

escrava.

A pobreza também obrigava muitas mulheres a abondar seus filhos em casas religio-

sas ou de acolhimento. Segundo nos informa Kreuz (2012), as Ordenações do Reino

de 1603 já previam que os hospitais ou a Câmara deveriam manter as crianças órfãs

ou abandonadas. Para colaborar com essa tarefa, eram realizados frequentes aumen-

tos nos impostos, principalmente sobre o azeite e o sal. O objetivo era colaborar com

os custos das famílias chamadas de criadeiras encarregadas de cuidar dos abando-

nados ou órfãos até os sete anos de idade.

Kreuz (2012) explica que no Brasil Colonial a criança abandonada pelos pais era cha-

mada de enjeitada ou exposta. Normalmente elas eram colocadas em locais onde

pudessem ser recolhidas como os hospitais, Igrejas, Orfanatos e mosteiros. No en-

tanto, o abandono cruel, que impedia a sobrevivência do recém-nascido também era

muito comum. Observe o que nos conta Kreuz (2012, p.21):

Nessa época outra prática de abandono passou a ser observada: o abandono de crian-
ças, em especial de tenra idade, nos chamados monturos ou depósitos de lixo, em ter-
renos baldios ou praias, onde, não rara as vezes, eram devoradas, por cães e porcos.
Diante disso, os comerciantes, os ricos e as autoridades passaram a criar condições
para acolher essas crianças, inclusive, estimulando e pagando as famílias criadeiras.

Posteriormente, os hospitais administrados pela Igreja, também chamados de santas

casas de misericórdia também passaram a acolher e atender crianças abandonadas.

A partir de 1726, criou-se no Brasil, a roda dos expostos. Tratava-se de um local reser-

vado nas santas casas de misericórdia para que as pessoas depositassem doações

como alimentos, remédios, roupas e outras coisas. Com o uso da roda o doador podia

se manter no anonimato e realizar sua doação a qualquer hora do dia ou da noite.

18 GestãO EDUCACIONAL I
Percebendo a oportunidade do anonimato, as pessoas passaram a utilizar o objeto

para depositar bebês abandonados ou órfãos. Isso era possível porque a roda dos

expostos ou excluídos era um cilindro com uma lateral aberta e o restante fechado.

Ela era instalada de forma que sua parte aberta ficasse voltada para rua. Assim, as

pessoas colocavam os bebês dentro do cilindro aberto, apertavam uma campainha e

giravam o cilindro levando o bebê para o lado de dentro da santa casa.

Devido a essa prática, o número de crianças abandonadas aumentou bruscamente.

A Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro registrou entre 1738-1747 a entrada de 379
crianças e, na última década do século (1788-1797) esse número alcançou 1.535 crianças
para uma população de aproximadamente 45.000 habitantes (KREUZ, 2012, p.22).

O índice de mortalidade das crianças abandonadas na roda dos excluídos era muito

grande, principalmente no primeiro ano de vida. Em alguns casos chegava a noventa

por cento do total dos acolhidos. O principal motivo era a alimentação. Quando não

havia senhoras o suficiente para realizar a amamentação, o bebê era alimentado com

leite de vaca. Naquela época o leite não era esterilizado e por conter inúmeras bacté-

rias acabava produzindo um grande número de mortes.

A maior parte dessas crianças eram filhos ilegítimos, de escravas com seus senhores

e por isso também eram conhecidos como filhos do pecado. Aquelas que sobrevi-

viam eram encaminhadas para as famílias criadeiras. A adoção era quase impossível,

pois segundo Kreuz (2012), as leis da época eram muito restritivas.

GestãO EDUCACIONAL I 19
SAIBA MAIS
Para saber mais sobre a família brasileira no período colonial faça a leitura do artigo

abaixo e fique por dentro! Ele está disponível na íntegra em: <http://www.webartigos.

com/artigos/a-familia-colonial/49936/>. Acesso em: 06 jan. 2015.

A Família Colonial
Bruno Azevedo
A família no Brasil se tornou o alicerce na colonização, pois constituiu um núcleo orga-

nizacional dentro da desorganização aparente. O português chega ao Brasil criando,

em um clima tropical diverso do seu, tendo que se adaptar ao solo infértil devido a

própria geografia do território, à alimentação do trigo para a mandioca, entrando em

contato com os nativos, se misturando, miscigenando.

O lusitano carrega a mentalidade medieva com seus dogmas, no entanto age de forma

diferente de seu pensamento, como um iluminista precoce, pois o colonizador é plás-

tico, talvez devido a região de onde veio e o contato com outras culturas. Chegando

no território novo o português busca explorar o solo, aplicando a monocultura, não se

regimentando um Estado, mas sim os senhores-de-engenho (particulares) e em meio

a miscigenação e a característica híbrida do lusitano, ocorrem os intercursos sexuais e

o amalgamento cultural, não esquecendo do africano introduzido como mão-de-obra.

Assim, se molda o modelo familiar patriarcal no Brasil, quando unem-se o nativo (cha-

mado indígena), o colonizador (chamado português) e o africano (chamado escravo).

Não é o Estado ou o indivíduo que tem o domínio, mas sim as famílias que nascem

das casas grandes, onde se molda desde menino o “protótipo senhor-de-engenho”,

com suas brincadeiras sádicas e suas relações de domínio, que vão desde os jugos

agressivos até o intercurso sexual sadomasoquista. Pois é necessário que em uma

sociedade escravocrata sejam propagadas as relações escravistas, e observa-se tal

comportamento, até mesmo nas relações mais íntimas, podendo se deduzir que se

regimentou o sistema escravista no âmago da sociedade.

20 GestãO EDUCACIONAL I
Conforme expõe Gilberto Freyre, “a família, não o indivíduo, nem tampouco o Estado

nem nenhuma companhia de comércio, é desde o século XVI o grande colonizador no

Brasil, a unidade produtiva, o capital que desbrava o solo, instala as fazendas, compra

escravos, bois, ferramentas, a força social que se desdobra em política, constituindo-

se na aristocracia colonial mais poderosa da América.”(FREYRE,1981: 92).

E mais, “através da submissão do muleque, seu companheiro de brinquedos e ex-

pressivamente chamado leva-pancadas, iniciou-se muitas vezes o menino branco no

amor físico. Quase que do muleque leva-pancadas se pode dizer que desempenhou

entre as grandes famílias escravocratas do Brasil as mesmas funções do paciente do

senhor moço que na organização patrícia do Império Romano o escravo púbere es-

colhido para companheiro do menino aristocrata: espécie de vítima, ao mesmo tempo

que camarada de brinquedos, em que se exerciam os “premiers élans génésiques” do

filho-família” (FREYRE, 1981: 122).

A família é o poder do senhor sobre o escravo, do marido sobre a mulher, do pai sobre

o filho, do filho sobre o moleque-leva-pancadas. Enxerga-se inclusive uma herança

patriarcal para agregar-se ao modelo escravista. Mas a união familiar também possui

seus méritos, pelo menos no que se refere a valorização dos que estão inseridos nela,

chegando ao cume com a reprodução do nepotismo, o que levaria a uma cristalização

estamental a posteriori.

A força no sistema de monocultura é o escravo, podendo assim explicar porque era o

melhor alimentado, pois era força produtiva, em segundo plano em relação a alimen-

tação temos o senhor-de-engenho que é a força do mando e em terceira instância

largados a mendicância os que se encontravam entre esses dois extremos, assim se

prostituindo e degradando-se em busca de sua sobrevivência, salientando que não

significa que os dois primeiros se alimentavam bem (pois na monocultura a terra só

produz um item, chegando ao ponto de se passar fome com um terreno que pode ser

cultivado, condicionando o solo ao cultivo de apenas um produto),apenas alimenta-

vam-se melhor em relação ao terceiro.

GestãO EDUCACIONAL I 21
Talvez essa miscelânea seja fruto do que chama Gilberto Freyre de “povo indefinido”.

Podendo ser essa a grande definição ou indefinição, justamente a tendência a adap-

tabilidade. A família é a concretização das relações escravistas, agindo como núcleo

organizacional e até mesmo político da colônia, sendo força tão sedimentada que até

mesmo em determinados momentos afronta a religião. Afinal de contas se o senhor-

de-engenho desejar ser religioso institui o culto na casa grande com suas exuberantes

capelas (sob sua supervisão direta), e o escravo faz a “miscigenação mítica” do seu

culto dito pagão, tornando o dogma mais “suave”, não se esquecendo da forte influ-

ência maometana dos africanos e da inserção da cultura ameríndia, pois a concepção

de colônia e família é amálgama de “negro, índio e europeu”.

A sociedade colonial passou por um processo de familiarização, provavelmente maior

do que o de “civilização ou sifilização” como salientou Gilberto Freyre, pois a família

é a mola mestra na política escravista, também a social nas relações dos indivíduos

e econômica na utilização do escravo. Conclui-se que a família é o espelho da colo-

nização brasileira.

Referência Bibliográfica:

FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala: formação da família brasileira sob o re-

gime da economia patriarcal. Ilustrações: Tomás Santa Rosa e Poty, desenho a cores:

Cícero Dias. 21. ed. Rio de Janeiro/Brasília: Livraria José Olympio Editora, 1981.

____________

A partir dos sete anos a criança era tratada praticamente como um adulto. Já podia

trabalhar recebendo remuneração ou apenas em troca de moradia e alimento. Uma

alternativa para os meninos era iniciar a carreira religiosa, o que lhes permitia o in-

ternamento nos seminários. As meninas normalmente permaneciam nas casas das

mães criadeiras na condição de domésticas ou serviçais. Em troca, recebiam moradia

e alimento. Mas devido aos maus-tratos, a grande maioria das crianças acabava fu-

gindo e tornavam-se assim pequenos mendigos.

22 GestãO EDUCACIONAL I
O problema das crianças de rua era tratado pela polícia. Sua missão era corrigi-las

e encaminhá-las para abrigos e Orfanatos. Com a Proclamação da República, Kreuz

(2012) nos explica que a renovação da legislação do país tornou-se uma necessida-

de. Assim, em 1891 foi instituído o Código Penal Republicano que tinha “por objetivo

reprimir a criminalidade, manter a ordem e combater a vadiagem, a mendicância, a

prostituição e o jogo” (KREUZ, 2012, p.24). Nesse contexto é que se encontrava a

questão das crianças abandonadas, pois se enquadravam nos casos de mendicância,

vadiagem e delinquência.

Por meio desse breve relato histórico, podemos notar que o abandono de crianças

e adolescentes é um problema sempre presente. Pelo fato de ainda não ter sido re-

solvido de maneira eficaz, tornou-se uma questão cultural, sendo por isso, encarada

socialmente com naturalidade. É possível perceber também que ao longo da história a

responsabilidade pelo cuidado dessas crianças muda diversas vezes. Mesmo aquelas

que não foram abandonadas por suas famílias ou ficaram órfãs eram separadas do

convívio familiar bastante cedo. Segundo nos explicou Ariés (2006), as crianças que

não tinham condições de estudar eram entregues a outras famílias para aprender

uma nova profissão. Já os órfãos e os rejeitados, Kreuz (2012) nos mostra que eles

eram abandonados em hospitais, mosteiros, na porta de casas de recolhimento e até

mesmo nas lixeiras e praias para que morressem ou fossem resgatados por alguém.

Assim, ficavam sob a responsabilidade de padres, freiras, enfermeiras, donas de casa

e até mesmo da polícia. Mas em nenhum momento histórico relatou-se a tentativa de

reintegrar a criança ou o adolescente a sua família original. Estou retomando esse as-

pecto para que você note o quanto o papel da família na criação de seus filhos mudou

e como a concepção de família que conhecemos hoje é recente e frágil. Aliás, esse

será nosso próximo tema de discussão!

GestãO EDUCACIONAL I 23
SAIBA MAIS
Assista ao filme O Cortiço, baseado na obra de Aluísio de Azevedo e conheça mais

sobre a realidade da sociedade do século XIX.

Moradora de um cortiço de propriedade do português João Ro-

mão, Rita Baiana é uma mulher expansiva e liberada. Ao se

apaixonar por Jerônimo, jovem lusitano recém-chegado ao Bra-

sil, ela deflagra um jogo de paixões que acaba em tragédia. Ba-

seado no romance de Aluísio de Azevedo. Considerado sua obra

-prima. Esse romance narra, em sua linguagem vigorosa, a vida

miserável dos moradores de duas habitações coletivas. 


Disponível em: <http://www.filmesdoyoutube.net/assistir-o-cortico-youtube/>. Acesso

em: 06 jan. 2015.

A família contemporânea

A FAMÍLIA – Tarsila do Amaral

24 GestãO EDUCACIONAL I
Você consegue imaginar uma família na qual o pai tem amplos poderes de decisão

sobre a vida da esposa e dos filhos? Consegue imaginar um pai de família que para

punir um dos filhos resolve matá-lo? Isso nos parece absurdo hoje, mas antigamente,

na família patriarcal isso era possível.

Nos dias atuais, vivemos outro modelo familiar, caracterizado pela pluralidade, pelas

diferenças e principalmente pelo respeito a essas diferenças. A família moderna se

organiza pelos laços do afeto e é sustentada pela igualdade e o respeito. Obviamente

essa família não é mais aquela constituída pelo homem, pela mulher e seus filhos.

A família contemporânea é extremamente diversificada, incluindo recasados, seus

filhos, enteados, os grupos de irmãos, pares homoafetivos e seus filhos biológicos ou

adotivos. Enfim, a família atual se apresenta sob diversos aspectos e formas e me-

diante diferentes tipos e modelos de convivência. De acordo com Kreuz (2012, p.44)

vários fatores justificam as mudanças nos novos modelos familiares:

a facilidade de separações, redução das taxas de natalidade, outros tipos de uniões


além do casamento, a inserção da mulher no mercado de trabalho, [...] mas acima de
tudo afetividade, que, certamente, é a principal característica destes novos formatos da
família atual.

A partir das palavras do autor, podemos compreender que é o afeto que reúne e moti-

va as pessoas na constituição de uma família. E é exatamente por essa característica

que ela se torna tão importante para o desenvolvimento saudável das crianças e dos

adolescentes.

A Constituição Federal (1988) determina que “a família é a base da sociedade” (Art.

226). Já o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) afirma que a família é um

elemento imprescindível para o processo de desenvolvimento integral da criança e

adolescente.

O desenvolvimento infantil começa muito antes do nascimento do bebê e já em sua con-

cepção a base familiar é importante. O desejo dos pais de terem uma criança, as con-

dições físicas, nutricionais e emocionais da gestante influenciam no desenvolvimento

GestãO EDUCACIONAL I 25
do feto. Além disso, a chegada de um bebê exige ainda adaptações diversas. O casal

deverá assumir novos papéis, pois serão pais, o ambiente precisará ser adaptado

para as necessidades da criança. Por esses e muitos outros motivos é que a família

é considerada o principal núcleo de socialização da criança. Como a criança é muito

vulnerável em seus primeiros anos de vida ela se torna dependente daqueles que

cuidam dela e do ambiente onde ela está. A relação afetiva com os pais tem consequ-

ências importantes para seu desenvolvimento físico e emocional.

De acordo com o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de

Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (2006, p.29), especia-

listas em desenvolvimento destacam a importância fundamental da família principal-

mente nos primeiros anos de vida:

O desenvolvimento satisfatório nesta etapa aumenta as possibilidades dos indivíduos


de enfrentarem e superarem condições adversas no futuro, o que se denominou resili-
ência. A segurança e o afeto sentidos nos cuidados dispensados, inclusive pelo acesso
social aos serviços, bem como pelas primeiras relações afetivas, contribuirão para a
capacidade da criança de construir novos vínculos; para o sentimento de segurança e
confiança em si mesma, em relação ao outro e ao meio; desenvolvimento da autonomia
e da autoestima; aquisição de controle de impulsos; e capacidade para tolerar frustra-
ções e angústias, dentre outros aspectos.

Podemos perceber que a criança faz aquisições importantes em seus primeiros anos de

vida como o desenvolvimento da autonomia, socialização, capacidade motora, lingua-

gem, afeto, pensamento e outros. Sua capacidade de se relacionar com o ambiente em

que vive e com os outros é ampliada e a interação com os adultos e outras crianças au-

xiliará na compreensão dos papéis familiares e sociais, a compreender e aceitar regras,

a discernir entre fantasia e realidade, a controlar impulsos, a competir e compartilhar,

dentre outras habilidades e competências importantes para o convívio social.

Assim, você pode notar que a família tem papel fundamental no desenvolvimento

da criança, pois é ela que ajudará na sua interação e relação com o mundo, com os

outros e com si mesma. E é por meio dessas relações que os indivíduos aprendem

26 GestãO EDUCACIONAL I
a respeitar limites, regras, conhecem a cultura e a moral necessária para viver em

sociedade.

Quando a criança começa a frequentar a escola e outros grupos sociais além de sua

família, ela adquire outros referenciais sociais e culturais. Nesse período, a criança é

influenciada por outros estímulos como os professores, amiguinhos da mesma idade,

livros, brincadeiras, músicas, mídia e outros. Suas habilidades de pensamento, fala e

raciocínio aumentam e se tornam mais complexas. No entanto, mesmo com os novos

estímulos e relacionamentos as relações familiares permanecem primordiais para a

criança, sendo fundamentais para a construção de sua personalidade, identidade e de

sua capacidade de se relacionar com os outros.

Na adolescência outras habilidades são desenvolvidas e ampliadas como as capaci-

dades intelectuais e acadêmicas, a autonomia e a independência, além do enfrenta-

mento dos próprios conflitos e questões advindas da puberdade biológica. Teorica-

mente, a adolescência é um ciclo da vida na qual ocorre naturalmente um movimento

gradual de desprendimento do núcleo familiar. Ou seja, é um momento de afastamento

da família para a escolha própria de outros grupos de convivência como os amigos da

escola, do bairro e da sociedade em geral. A família permanece como uma referência

importante, mas agora, tudo que lhe foi ensinado será testado na prática. Esse é um

período de muitos desafios, tanto para o adolescente quanto para a família, pois ini-

cia-se um ciclo de novas responsabilidades e perigos como a vivência nas ruas, o tra-

balho infantil, a exploração sexual, a violência, uso de drogas e outras questões que

podem influenciar negativamente no amadurecimento moral e afetivo do adolescente.

Mesmo na adolescência e ainda na vida adulta a família permanece como uma refe-

rência de afeto, proteção e cuidado. No entanto, a família também é lugar de conflitos

e dependendo da forma como esses conflitos são mediados, ela pode ser ainda um

lugar de violação dos direitos básicos da criança e do adolescente. Segundo o Plano

Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à

Convivência Familiar e Comunitária (2006), dentre as situações de risco vividas por

GestãO EDUCACIONAL I 27
crianças e adolescentes que merecem especial atenção destacam-se a negligência, o

abandono e a violência doméstica.

Para o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e

Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (2006, p.37), a negligência se

configura quando “os pais ou responsáveis falham em termos de atendimento às ne-

cessidades de seus filhos (alimentação, vestuário etc.) e quando tal falha não é o

resultado das condições de vida além do seu controle”. Para que você compreenda

melhor, a negligência ocorre quando há descaso, descuido dos pais com seus filhos

por falta de cuidados e não por falta de condições financeiras. Por exemplo, o descaso

com a saúde da criança em deixar de vaciná-la, com sua higiene, educação, descum-

prindo com o dever de encaminhá-la para a escola no ensino obrigatório, deixar a

criança sozinha sujeita a riscos, não vesti-la adequadamente para o frio ou calor.

O nível da negligência aumenta conforme se percebe que os pais ou cuidadores têm

conhecimento da importância desses cuidados, têm condições financeiras e econômi-

cas de prestá-los e não o fazem. Portanto, uma família que não veste adequadamente

seus filhos no inverno por não poderem comprar roupas de frio para seus filhos não é

vista como negligente. Ao contrário, a família pode inclusive inscrever-se em progra-

mas de apoio do Estado para que essa dificuldade seja superada. Para que se con-

firme a negligência dos pais ou cuidadores é preciso ter certeza de que a família não

tem interesse em prestar os cuidados básicos para que uma criança se desenvolva

de forma saudável.

Já os casos de violência familiar são mais complexos, pois podem ser potencializados

por conflitos de relacionamento, por questões financeiras e até mesmo culturais. Para

o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adoles-

centes à Convivência Familiar e Comunitária (2006, p.37), “usar de violência é agir

sobre alguém ou fazê-lo agir contra sua vontade, empregando força ou a intimidação”.

Ela acontece no espaço privado, entre os membros da família, e abrange a violên-

cia física, a violência psicológica e a violência sexual. As consequências e sequelas

28 GestãO EDUCACIONAL I
deixadas pela violência familiar são gravíssimas e podem levar a morte da criança

ou do adolescente. Algumas medidas podem ser tomadas para intervir nas situações

de crise familiar. De acordo com o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), nos

artigos 129 e 130 são medidas aplicáveis aos pais ou responsáveis:

Encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família;

Inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a al-

coólatras e toxicômanos;

• Encaminhamento a tratamento psicológico e psiquiátrico;


• Encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
• Obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua frequência e apro-
veitamento escolar;
• Obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado;
• Advertência;
• Perda da guarda;
• Destituição da tutela;
• Suspenção ou destituição do pátrio poder.
Podemos notar mediante as medidas tomadas para o combate a violência que o afas-

tamento do convívio familiar é o último recurso, sendo utilizado antes disso uma série

de medidas, programas, projetos e tratamentos. No entanto, em algumas situações, a

dinâmica familiar já está tão comprometida, marcada por eventos tão traumáticos que

o afastamento da criança ou do adolescente deste meio é menos nocivo.

Estudos apontam que a violência contra crianças e adolescente ocorre em todos os

meios sociais, nas famílias ricas e nas famílias pobres. No entanto, os maiores índices

ocorrem entre as famílias com menores poderes socioeconômicos. Portanto, justificar

a violência familiar devido às condições financeiras do núcleo familiar não é correto. A

questão é muito mais profunda e o combate a essa prática se dá por meio de “políticas

sociais que apoiem as famílias no cumprimento de suas funções de cuidados e sociali-

zação de seus filhos, buscando promover a superação das vulnerabilidades” (PLANO

GestãO EDUCACIONAL I 29
NACIONAL DE PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E DEFESA DO DIREITO DE CRIANÇAS

E ADOLESCENTES À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA, 2006, p.51).

De acordo com os dados do Ministério da Saúde, a violência e os acidentes domésti-

cos constituem o maior fator de mortalidade no Brasil, na faixa de 5 a 19 anos. Vamos

analisar uma tabela que nos aponta a incidência da violência de acordo com a idade

da vítima.

Tabela 1: Incidência da violência por idade da vítima

IDADE 0-6 anos 7-14 anos 15-18 anos Total


Violência Física 765 2.194 477 3.436
Violência Psicológica 828 2.793 719 4.340
Abuso Sexual 2.383 8.674 2.193 13.250
Exploração Sexual 37 1.503 1.347 2.887
Negligência 923 2.574 576 4.073
Total 4.936 17.738 5.282 27.986
Fonte: <http://www.paulinia.sp.gov.br/viveremfamilia/pdf/plano.pdf> (p.56).

Observando a tabela podemos notar que a maior vulnerabilidade das vítimas ocorre

entre sete e quatorze anos. Nessa faixa etária, a violência sexual é a que atinge os

maiores índices. Vale ressaltar aqui que os estudos apontam que grande parte dos

casos de violência ocorre dentro do ambiente familiar, tendo como principais agresso-

res o pai ou a mãe.

Tabela 2: Distribuição da violência por gênero

Gênero masculino Feminino Total


Violência Física 1.719 1.717 3.436
Violência Psicológica 2.177 2.163 4.340
Abuso Sexual 3.092 10.158 13.250
Exploração Sexual 258 2.629 2.897
Negligência 2.145 1.928 4.073
Total 9.391 18.595 27.986
Fonte: Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. (www.mds.gov.br) Acessado em 11/12/2006

30 GestãO EDUCACIONAL I
Já a tabela 2 nos mostra a distribuição da violência por gênero. Mediante ela podemos

perceber que a violência física é maior entre os meninos, bem como a violência psico-

lógica. A diferença entre os números é pequena nesses quesitos, mas ela dispara em

relação à violência sexual. Em relação ao abuso sexual os números triplicam aumen-

tando assustadoramente o índice entre as meninas.

O problema do abuso sexual deve ser tratado e analisado como uma questão social,

com múltiplas faces, pois além das diferenças de gênero que analisamos na tabela 2,

também há diferenças por etnias e classe conforme aponta as tabelas abaixo.

Tabela 3: Violência Sexual contra crianças e adolescentes, segundo gênero

Branca Negra (Preta e Parda) Total


gênero
258 2.629 2.887

Fonte: Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. (www.mds.gov.br) Acessado em 10/12/2006

Tabela 4: Violência sexual contra crianças e adolescentes, segundo raça

Branca Negra (preta e Parda) Total


Raça
983 1.904 2.887

Fonte: Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. (www.mds.gov.br) Acessado em 10/12/2006

Tabela 5: Violência sexual contra crianças, segundo renda familiar

0-1 salários 1-3 salários Acima de 3


Renda Total
mínimos mínimos salários mínimos
familiar
1.979 798 158 2.887
Fonte: Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. (www.mds.gov.br) Acessado em 10/12/2006

Tabela 6: Violência sexual contra crianças, segundo idade

0-6 anos 7-14 anos 15-18 anos Total


idade
37 1.503 1.347 2.887

Fonte: Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. (www.mds.gov.br) Acessado em 10/12/2006

Você pode notar pelos dados divulgados nas tabelas que a violência assume diversas

facetas e ocorre com maior frequência entre a raça negra, nas famílias com menor

renda e acometem crianças e adolescentes entre os sete e quatorze anos.

GestãO EDUCACIONAL I 31
Tratar dos casos de crianças e adolescentes em situações de risco exige, portanto,

uma análise cultural que leve em consideração principalmente a situação de pobreza

das famílias. Criar filhos, garantindo as condições básicas para o desenvolvimento

saudável de cada um, têm sido por muitas vezes uma tarefa impossível de ser cumpri-

da para muitas famílias que vivem em condições de vida precárias, sem garantias de

alimento, moradia, trabalho, saúde e educação. Para saber mais sobre esse assunto,

leia o saiba mais abaixo e fique por dentro!

SAIBA MAIS
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Na atualidade, em razão de vários fatos ocorridos no Brasil, temos presenciado um

sensacionalismo muito grande por parte dos meios de comunicação, principalmente

os televisivos. Porém, esse assunto existe há milhares de anos.

A violência doméstica acontece contra crianças, adolescentes, mulheres e idosos,

sendo que os agressores são os próprios familiares das vítimas.

Um dos grandes fatores que favorecem a violência física, como os espancamentos, é

a personalidade desestruturada para um convívio familiar do agressor, que não sabe

lidar com pequenas frustrações que essas relações causam no decorrer do cotidiano.

O perfil do agressor é caracterizado por autoritarismo, falta de paciência, irritabilida-

de, grosserias e xingamentos constantes, ou acompanhados de alcoolismo e uso de

outras drogas.

As violências domésticas se dividem por espancamentos, tendo maior número de víti-

mas as crianças de até cinco anos; abusos sexuais, acontecendo em maior quantida-

de entre meninas de sete a dez anos de idade; e por danos morais, em adolescentes

e mulheres. É bom lembrar que os idosos tem tido grande participação na violência

doméstica, mas aqueles que necessitam de cuidados especiais, sofrendo as agres-

sões por pessoas contatadas pela família.

Outro destaque para as vítimas das agressões são as crianças portadoras de

32 GestãO EDUCACIONAL I
necessidades especiais. Normalmente as mães são as maiores agressoras das mes-

mas, por exigirem cuidados excessivos como higiene pessoal, alimentação, locomo-

ção, onde estas se sentem sobrecarregadas e por não receberem apoio dos pais da

criança ou uma estrutura advinda de órgãos governamentais.

Criança se protegendo de gritos violentos

As mães também são as grandes espancadoras quando, por algum motivo, acontece

uma quebra na vinculação afetiva entre ela e o filho, seja por doença, hospitalização

ou mesmo por não ter aceitado a gravidez.

Essas crianças apresentam grande dificuldade em ganhar peso nos primeiros meses de

vida e, no período escolar, não conseguem estabelecer uma vinculação positiva com a

professora nem tampouco com o aprendizado, levando-as a tirarem várias notas baixas.

Se observarmos o comportamento infantil dentro das escolas, podemos notar que

as crianças são o espelho daquilo que recebem dentro de casa, se convivem com

situações de agressividade podem apresentar-se da mesma forma com os colegas

e professora ou partindo para o extremo, tornando-se apática às relações sociais, se

excluindo do grupo. Já as crianças que convivem num ambiente familiar saudável, de

amizade, amor e respeito conseguem estabelecer vínculo positivo com quase todo o

grupo, sem dificuldades.

A violência aparece também de forma psíquica, onde se destrói a moral e a auto

-estima do sujeito, sem marcas visíveis ao corpo da vítima que normalmente são

GestãO EDUCACIONAL I 33
adolescentes e mulheres. As marcas nesse caso são internas, psicológicas, através

de humilhações, xingamentos, podendo chegar a injúrias e ameaças contra a vida.

O importante é que, ao se tomar conhecimento dessas formas de violência, sejam

feitas denúncias aos órgãos especializados, a fim de ajudar as vítimas, tentar tirá-las

desse convívio de tanto sofrimento e mostrar ao agressor que ele não é tão poderoso

quanto imagina, mas sim covarde por só ter coragem de manifestar sua agressividade

dentro de casa, contra pessoas indefesas e sem exposição pública.

Por Jussara de Barros

Graduada em Pedagogia

Equipe Brasil Escola

Fonte: <http://educador.brasilescola.com/sugestoes-pais-professores/violencia-do-

mestica.htm>. Acesso em: 08 jan. 2015.

indicaçãO de leitura

Este livro mostra como a violência doméstica, emocional ou físi-

ca, pode afetar de forma negativa a aprendizagem das crianças,

baseando-se na teoria freudiana e em vários anos de experiên-

cia da autora. Na primeira parte, se apresenta a caracterização

das formas de violência doméstica...

Fonte: <http://www.saraiva.com.br/como-a-violencia-domesti-

ca-pode-afetar-a-aprendizagem-das-criancas-7298952.html?-

PAC_ID=123134&gclid=CJb9vOSIh8MCFUVk7AodWkQArw&>. Acesso em: 09 jan.

2015.

34 GESTÃO EDUCACIONAL I
atividades para cOmpreensãO dO cOnteÚdO

1) A legislação brasileira vigente reconhece a família como núcleo estruturante e vital

para o desenvolvimento e socialização da criança e do adolescente, é o espaço

ideal e privilegiado para o desenvolvimento integral dos indivíduos. No entanto,

em um passado não muito distante, muitas famílias em situação de pobreza, fo-

ram consideradas incapazes de criar seus filhos e com isso, milhares de crianças

foram destituídas de suas famílias. A partir dessas informações, assinale a alterna-

tiva correta sobre a postura atual do sistema de proteção e assistência de crianças

e adolescentes:

a) Compreende que as famílias devem ser avaliadas de acordo com suas condi-

ções culturais e socioeconômicas para em seguida verificar se possuem con-

dições de criar seus filhos.

b) Compreende que todos têm direito a uma família e que seus vínculos e laços

afetivos devem ser protegidos pela sociedade e o Estado, pois eles são funda-

mentais para o desenvolvimento saudável de todos.

c) Compreende que mesmo as crianças em situações de risco devem permane-

cer junto a suas famílias, pois independente do risco que estão correndo estar

na rua é ainda pior.

d) Todas as alternativas estão corretas.

2) Ariés (2006) esclarece que nos séculos XV e XVI, as crianças a partir dos sete

anos de idade, eram separadas de suas famílias e enviadas a outras para apren-

derem um ofício (profissão). A partir das palavras do autor, é possível concluir que:

a) A imagem da criança naquela época não era a mesma que temos dela na atu-

alidade. No século XV, uma criança de sete anos era tratada como um adulto

em miniatura.

GESTÃO EDUCACIONAL I 35
b) O sentimento pela criança era o mesmo que temos por ela hoje. Por isso, os

pais sofriam muito com a separação de seus filhos. Mas eram obrigados a en-

tregar as crianças para que pudessem ser alguém.

c) A imagem da criança naquela época era a de um incômodo. Como ela dava

muito trabalho para ser criada, os pais logo ofereciam seus filhos para famílias

mais ricas que desejassem ter mais filhos.

d) Nenhuma das alternativas está correta.

3) No Brasil Colonial, a pobreza obrigava muitas mulheres a abondar seus filhos

em casas religiosas ou de acolhimento. Segundo nos informa Kreuz (2012) as

Ordenações do Reino de 1603 já previam que os hospitais ou a Câmara deveriam

manter as crianças órfãs ou abandonadas. A partir dessas informações, assinale

a alternativa correta que demonstre como eram mantidas as crianças órfãs desse

período:

a) As crianças órfãs eram entregues nos hospitais e delegacias. Caso alguma

família tivesse interesse em cuidar ou ficar com elas eram adotadas. Caso

contrário, as crianças eram sacrificadas.

b) As casas religiosas criavam as crianças abandonadas ou órfãs até que elas

pudessem escolher sua fé. Dessa época em diante, só ficariam nos mosteiros

aqueles que decidissem seguir a carreira religiosa.


c) Para colaborar com essa tarefa, eram realizados frequentes aumentos nos im-

postos, principalmente sobre o azeite e o sal. O objetivo era colaborar com os

custos das famílias chamadas de criadeiras encarregadas de cuidar dos aban-

donados ou órfãos até os sete anos de idade.

d) Todas as alternativas estão corretas.

36 GestãO EDUCACIONAL I
4) As famílias antigas eram formadas apenas pelo casal e seus filhos. Normalmente,

os casamentos eram arranjados pelos pais para garantir as propriedades e as

posses das famílias. Já a família atual é bastante diferente. Reflita sobre a organi-

zação familiar atual e assinale o que for correto afirmar sobre ela:

a) A família moderna se organiza pelos laços do afeto e é sustentada pela igual-

dade e o respeito.

b) A família contemporânea é extremamente diversificada, incluindo recasados,

seus filhos, enteados, os grupos de irmãos, pares homoafetivos e seus filhos

biológicos ou adotivos.

c) A família atual se apresenta sob diversos aspectos e formas e por meio de di-

ferentes tipos e modelos de convivência.


d) Todas as alternativas estão corretas.

5) O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) afirma que a família é um elemento

imprescindível para o processo de desenvolvimento integral da criança e ado-

lescente. A partir dessa afirmação, assinale a alternativa correta que justifique a

importância familiar para o desenvolvimento infantil:

a) O desejo dos pais de terem uma criança, as condições físicas, nutricionais e

emocionais da gestante influenciam no desenvolvimento do feto.

b) A relação afetiva com os pais tem consequências importantes para seu desen-

volvimento físico e emocional.


c) A família tem papel fundamental no desenvolvimento da criança, pois é ela que

ajudará na sua interação e relação com o mundo.

d) Todas as alternativas estão corretas.

GestãO EDUCACIONAL I 37
prOpOsta para discussãO On-line
Embora seja um direito, garantido por lei, de toda criança e adolescente à convivência

familiar, ele ainda é uma realidade distante para milhares de pessoas que passam

parte de sua infância e juventude em unidades de acolhimento. A história social das

famílias nos mostra que ainda hoje enfrentam muitas dificuldades para proteger e edu-

car seus filhos. Grande parte dessas dificuldades foram traduzidas pelo Estado como

incapacidades das famílias carentes de criar e orientar seus filhos. Mediante esse

discurso, muitas famílias em situação de pobreza foram consideradas incapazes de

criar seus filhos e com isso, milhares de crianças foram destituídas de suas famílias.

De acordo com essa lógica, qualquer criança ou adolescente, por sua condição de

pobreza, estava sujeita a se enquadrar nas ações da justiça e assistência, que sob

o argumento da proteção confinavam-nas em Orfanatos. Reflita sobre a situação

exposta e pesquise sobre as principais consequências dessa ação do Estado em

relação às famílias carentes. Em seguida, escreva por meio de tópicos suas princi-

pais conclusões.

cOnsideraçÕes finais
Para auxiliar você na compreensão das discussões feitas nessa primeira unidade

apresentarei abaixo os principais tópicos analisados.

A legislação brasileira vigente reconhece a família como núcleo estruturante e vital

para o desenvolvimento e socialização da criança e dos adolescentes, é o espaço

ideal e privilegiado para o desenvolvimento integral dos indivíduos.

No entanto, a história social das famílias nos mostra que ainda hoje enfrentam muitas

dificuldades para proteger e educar seus filhos. Grande parte dessas dificuldades

foram traduzidas pelo Estado como incapacidades das famílias carentes de criar e

orientar seus filhos.

Atualmente o sistema de proteção e assistência modificou seu modelo de ação.

Hoje ele se respalda na conservação dos laços familiares garantido por leis

38 GESTÃO EDUCACIONAL I
nacionais como a própria Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e

do Adolescente de 1990.

Ariés (2006) esclarece que nos séculos XV e XVI, as crianças a partir dos sete anos

de idade, eram separadas de suas famílias e enviadas a outras para aprenderem um

ofício (profissão).

No Brasil, o afastamento familiar ocorria ainda mais cedo. As crianças brancas, logo

ao nascer, já eram entregues aos cuidados a uma ama de leite negra que além de

amamentar o bebê também realizava todos os cuidados necessários.

A pobreza também obrigava muitas mulheres a abondar seus filhos em casas religio-

sas ou de acolhimento. Segundo nos informa Kreuz (2012) as Ordenações do Reino

de 1603 já previam que os hospitais ou a Câmara deveriam manter as crianças órfãs

ou abandonadas.

Kreuz (2012) explica que no Brasil Colonial a criança abandonada pelos pais era cha-

mada de enjeitada ou exposta. Normalmente elas eram colocadas em locais onde

pudessem se recolhidas como os hospitais, Igrejas, Orfanatos e mosteiros.

O índice de mortalidade das crianças abandonadas na roda dos excluídos era muito

grande, principalmente no primeiro ano de vida. Em alguns casos chegava a noventa

por cento do total dos acolhidos. O principal motivo era a alimentação.

Nos dias atuais, vivemos outro modelo familiar, caracterizado pela pluralidade, pelas

diferenças e principalmente pelo respeito a essas diferenças. A família moderna se

organiza pelos laços do afeto e é sustentada pela igualdade e o respeito.

A Constituição Federal (1988) determina que “a família é a base da sociedade” (Art. 226).

Já o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) afirma que a família é um elemento

imprescindível para o processo de desenvolvimento integral da criança e adolescente.

O desenvolvimento infantil começa muito antes do nascimento do bebê e já em sua

concepção a base familiar é importante. O desejo dos pais de terem uma criança, as

condições físicas, nutricionais e emocionais da gestante influenciam no desenvolvi-

mento do feto.

GestãO EDUCACIONAL I 39
A família tem papel fundamental no desenvolvimento da criança, pois é ela que ajuda-

rá na sua interação e relação com o mundo, com os outros e com si mesma. E é por

meio dessas relações que os indivíduos aprendem a respeitar limites, regras, conhe-

cem a cultura e a moral necessária para viver em sociedade.

No entanto, a família também é lugar de conflitos e dependendo da forma como esses

conflitos são mediados, ela pode ser ainda um lugar de violação dos direitos básicos

da criança e do adolescente.

Segundo o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças

e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (2006), dentre as situações de

risco vividas por crianças e adolescentes que merecem especial atenção destacam-

se a negligência, o abandono e a violência doméstica.

artiGOs, sites e LINKS

família colonial
<http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/familia_na_colonia_um_conceito_

elastico_imprimir.html>.

violência familiar
<http://www.unicef.org/brazil/pt/Cap_01.pdf>.

abrigos para crianças e adolescentes


<http://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/adocao/abrigos-para-crian-

cas-e-adolescentes.aspx>.

40 GESTÃO EDUCACIONAL I
UNIDADE II – AMBIENTES EDUCATIVOS
NÃO ESCOLARES

Objetivos a serem alcançados nesta unidade


Prezado(a) Acadêmico(a), ao terminar os estudos dessa unidade, você deverá ser

capaz de:

• Identificar os abrigos como ambientes educativos não escolares;


• Conhecer a história dos menores infratores;
• Analisar as medidas socioeducativas para os menores infratores de acordo
com o Estatuto da Criança e do Adolescente.

GestãO EDUCACIONAL I 41
O papel dos abrigos

Vimos na unidade I que o abandono de crianças e adolescentes é um problema histó-

rico e social no Brasil. Na atualidade, nosso país possui um esquema organizado para

acolhimento e proteção de crianças e jovens em situação de risco ou abandonadas.

Nessa unidade iremos conhecer o papel dos abrigos de acolhimento e outros ambien-

tes para acolhimento de menores infratores. Analisaremos também parte da legisla-

ção que prevê uma rede de proteção da infância e da adolescência.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) dispõe em seu artigo 5º que nenhuma

criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação,

exploração, crueldade e opressão sendo dever da família, da sociedade e do Estado

mantê-la a salvo de tais condições. No entanto, sabemos que a realidade é bem dife-

rente e muitas crianças possuem seus direitos violados dentro da própria família. Para

o combate da violência doméstica, vimos na unidade I que muitas medidas já foram

tomadas e continuam em vigor estudos e programas em busca da superação desse

mal. Mas em alguns casos, tidos pela justiça como gravíssimos, a melhor decisão

pode ser o afastamento familiar da criança ou do adolescente.

Vale ressaltar aqui que o afastamento familiar é uma medida utilizada em último recurso e

que pode ser ainda apenas temporário. O caso deve ser levado ao Ministério Público e à

autoridade judiciária. Ainda que autorizado pelo juiz, a decisão do afastamento deve resultar

de um estudo diagnóstico, realizado por uma equipe interdisciplinar qualificada para tal.

42 GestãO EDUCACIONAL I
O estudo diagnóstico é feito mediante uma avaliação criteriosa dos riscos a que a

criança ou adolescente está exposto e quais as condições da família para a supera-

ção das violações. No processo de avaliação, todas as pessoas envolvidas são ouvi-

das, em especial a própria criança ou adolescente. Para isso, são utilizados métodos

adequados ao grau de desenvolvimento e idade das crianças em especial. Por fim,

é preciso relembrar que a decisão de retirar a criança de sua família é algo extrema-

mente sério e que só pode ser adotado como solução quando isso representar o me-

lhor para a criança e seu desenvolvimento. Em seguida, é preciso indicar os recursos

ou rede de apoio social para proteção e cuidados até a superação da crise familiar.

O Estado oferece o programa de Acolhimento Institucional ou Programas de Famílias

Acolhedoras que devem acolher e abrigar as crianças e adolescentes desamparados

de suas famílias devido aos mais variados motivos. Vamos conhecer melhor como

eles funcionam.

O acolhimento das crianças e adolescentes afastados de suas famílias acontece nos

abrigos. Segundo o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de

Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (2006) o abrigo é um

espaço de proteção comunitário. A estadia das crianças e jovens nos abrigos públicos

é provisória e são oferecidos para crianças e adolescentes que foram afastados da

convivência com sua família de origem ou que se encontram em situação de risco

pessoal e social.

Os abrigos devem atender de forma personalizada e por meio de pequenos grupos de

crianças. Existem vários tipos de abrigos divididos de acordo com seu tipo de atendi-

mento. A maioria deles é convencional, mas existem também abrigos especializados

para acolher crianças e adolescentes portadores de necessidades especiais ou porta-

dores de doenças infectocontagiosas.

Para funcionar, o abrigo ou entidade precisa ser registrada no Conselho Municipal de As-

sistência Social e no Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente. Os ado-

lescentes e crianças só podem ser recebidos nas entidades de abrigo por determinação

GestãO EDUCACIONAL I 43
do Juiz da Vara de Infância e da Juventude ou pelo Conselho Tutelar. Da mesma forma, a

retirada ou desabrigamento, também só ocorre com a determinação judicial.

O atendimento das crianças e adolescentes que são encaminhados aos abrigos pre-

cisa ser bastante acolhedor. Isso porque normalmente eles apresentam um quadro de

fragilidade emocional e até mesmo física devido aos desgastes e problemas familiares

enfrentados. No entanto, esse tratamento, além de assegurar os direitos fundamentais

da criança e do adolescente, deve oferecer atenção e cuidados, mas se vitimizá-los.

Toda entidade de abrigamento precisa de um dirigente. Seu papel vai além do traba-

lho administrativo, pois segundo o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) em

seu artigo 92, paragrafo único decreta que “o dirigente de entidade de abrigo é equi-

parado ao guardião, para todos os efeitos de direito”. Ser o guardião nesses termos,

significa ser o responsável legal pela criança ou jovem até que sejam inseridos em

uma nova família ou possam retornar para as famílias de origem. Além disso, deve

propiciar assistência material, moral e educacional aos abrigados. Logicamente que

essa não é uma tarefa que possa ser realizada por uma única pessoa. Por isso, os

abrigos possuem uma equipe técnica com vários funcionários que são chamados de

agentes institucionais.

Os agentes institucionais têm tarefas e funções diferentes que são determinadas e

detalhadas pelo regimento interno de cada abrigo. Mas todos eles trabalham com o

mesmo objetivo: garantir os direitos e cuidados com as crianças e jovens. A equipe

técnica é formada por profissionais de diversas áreas como assistentes sociais, psicó-

logos, pedagogos e outros e a equipe de apoio é formada pelos educadores sociais,

berçaristas, auxiliar de serviços, motorista, jardineiro, cozinheira e outros.

De acordo com os princípios estabelecidos pelo ECA (Estatuto da Criança e do Ado-

lescente) as funções dos abrigos são:


• Acolher crianças e adolescentes, conforme decisão judicial ou do Conselho
Tutelar. Nessa última hipótese, o abrigamento deve ser comunicado ao Juiz

da Vara da Infância e da Juventude;

44 GestãO EDUCACIONAL I
• Tratar o abrigado pelo nome, evitando comentários depreciativos;
• Apresentar a moradia, os novos companheiros e as pessoas com as quais o
abrigado passará a conviver;

• Assegurar a integridade física dos abrigados;


• Oferecer instalações físicas adequadas, em condições de higiene, habitabili-
dade e segurança;

• Garantir assistência médica, psicológica, odontológica, farmacêutica e outras


aos abrigados;

• Garantir o encaminhamento à educação infantil, ao ensino fundamental, mé-


dio e à profissionalização;
• Garantir acesso à cultura e ao lazer, mediante participação do abrigado em
atividades da comunidade local;

• Proporcionar alimentação balanceada, em quantidade suficiente, e preparada


de acordo com as necessidades de cada faixa etária. A manipulação, o prepa-

ro e a estocagem dos alimentos devem ser realizados em local apropriado e

em observância às condições de higiene, temperatura, ventilação, segurança,

iluminação e organização;

• Oferecer vestuário em bom estado de conservação, limpo e adequado à fai-


xa etária e ao clima. Roupas de cama e banho devem atender aos mesmos

critérios;

• Viabilizar documentação necessária àqueles que não a tiverem;


• Apresentar plano de trabalho compatível com os princípios preconizados pelo
Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA;

• Manter os registros atualizados da entidade e dos abrigados;


• Elaborar e remeter, periodicamente, relatório técnico de cada caso à Vara da
Infância e da Juventude;

• Preparar crianças e adolescentes para o processo de desligamento;


• Acompanhar egressos.

GestãO EDUCACIONAL I 45
A partir das funções do abrigo, é possível notar que a criança ou adolescente não

deve ser apenas abrigada e protegida, mas sim, acolhida. A diferença entre os termos

se encontra no fato de que o acolhimento implica em um sentimento de aceitação e de

pertencimento. Ou seja, a criança ou adolescente precisa sentir que mesmo distante

da família de origem pertencem a um grupo social.

Por esse motivo, os abrigos precisam parecer o máximo possível com uma residência

comum, uma casa. Esse fato ajuda na socialização das crianças e jovens e facilita

a criação de vínculos entre eles. É importante também que haja espaço comunitário

para o lazer e alimentação, mas que também haja espaços individualizados para dor-

mir, gradar pertences e outras coisas.

Para verificar se esses quesitos e outras exigências estão sendo atendidas pelas

instituições de abrigo existem grupos de fiscalização do Conselho Tutelar, da Vara da

Infância e da Juventude do Ministério Público. O Estatuto da Criança e do Adolescente

(ECA) prevê em seu artigo 97 algumas medidas que podem ser tomadas em caso de

descumprimento das obrigações.

I. às entidades governamentais:

A. a- advertência;

B. b.- afastamento provisório de seus dirigentes;

C. c - afastamento definitivo de seus dirigentes;

D. d - fechamento de unidade ou interdição de programa.

II. às entidades não governamentais:

A. a - advertência;

B. b - suspensão total ou parcial do repasse de verbas públicas;

C. c - interdição de unidades ou suspensão de programas;

D. d - cassação do registro.

46 GestãO EDUCACIONAL I
Para saber mais sobre os abrigos e a realidade de crianças e jovens acolhidas faça a

leitura do SAIBA MAIS abaixo e fique por dentro!

SAIBA MAIS
Como é a vida de crianças e adolescentes nos abrigos?

Às vezes ouvimos falar de crianças e adolescentes que moram em abrigos, mas sa-

bemos pouco sobre suas vidas e as razões de terem deixado suas casas. Para tentar

conhecer melhor esses meninos e meninas e como vivem longe de suas famílias,

a Turminha do MPF consultou uma pesquisa publicada em 2005 pelo Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), órgão ligado à Presidência da República, que

avaliou 589 abrigos brasileiros onde viviam 19.373 crianças e adolescentes. Um dos

objetivos do levantamento feito pelo IPEA era conhecer as características dos abrigos

que recebiam recursos do governo federal para complementar o financiamento de

suas atividades, o tipo de atendimento que eles davam às crianças e aos adolescen-

tes e o que faziam para garantir-lhes o direito ao convívio familiar e comunitário.

Direito à convivência familiar

O acolhimento em abrigos tem que ser excepcional e provisório, tendo sem-

pre em vista o retorno da criança ou do adolescente à sua família de ori-

gem no mais breve prazo possível. Os abrigados têm o direito de man-

ter os vínculos com suas famílias e estas necessitam de apoio para

receber seus filhos de volta e conseguir exercer suas funções de forma adequada. 

Enquanto as crianças e os adolescentes permanecem nos abrigos, o artigo 92 do

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) lhes assegura o direito à convivência

familiar e comunitária, que pode lhes ser garantido também pela colocação em fa-

mília substituta ou pela vivência em instituições acolhedoras e semelhantes a re-

sidências, que proporcionem um atendimento individualizado e personalizado.

Ao contrário do que muitos podem pensar, a maioria dos abrigados (86,7%) tinha família

GestãO EDUCACIONAL I 47
e apenas 5,2% eram órfãos. No entanto, apesar de tantos terem família, somente 58,2%

mantinham vínculos familiares. Os outros 28,5% que tinham família, mas viviam totalmente

afastados dela, não estavam impedidos pela justiça de ver seus pais. Apenas 5,8% esta-

vam nessa condição. Por que então ficavam nos abrigos sem contato com seus familiares?

O que se constatou foi que muitos abrigos não incentivavam o convívio familiar reco-

mendado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, permitindo que os pais fossem

visitar os filhos ou que estes fossem passar os finais de semana em casa. Mas não

se pode atribuir essa falha apenas à negligência dessas instituições, pois alguns pais,

de fato, abandonaram totalmente seus filhos ou estavam doentes e não tinham como

ir visitá-los.

Pobreza não pode ser causa de acolhimento em abrigos

A investigação sobre os motivos que levaram esses meninos e essas meninas aos abrigos

mostrou que a pobreza era o mais recorrente, com 24,1% dos casos. Em seguida vinha o

abandono (18,8%), a violência doméstica (11,6%), a dependência química dos pais ou

responsáveis, incluindo alcoolismo (11,3%), a vivência de rua (7%) e a orfandade (5,2%).

Mas a pobreza, principal motivo apontado, não pode ser causa de acolhimento des-

sas crianças e adolescente em abrigos. O artigo 23 do ECA estabelece que a “falta

ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou

suspensão do pátrio poder” e “não existindo outro motivo que por si só autorize a

decretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido em sua família de

origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em programas oficiais de auxílio.”

Para solucionar esses casos, os municípios devem identificar as crianças e ado-

lescentes que estão em abrigos exclusivamente em razão da pobreza de seus pais

e dar prioridade ao atendimento de suas famílias em serviços, programas, pro-

jetos e benefícios do governo para apressar o processo de reintegração familiar.

A presença de deficiência, transtorno mental ou outras doenças dos pais ou res-

ponsáveis também não deveria, por si só, impedir o convívio familiar ou provocar o

48 GestãO EDUCACIONAL I
acolhimento dos filhos em instituições. Nessas situações o melhor é o encaminha-

mento para serviços da rede pública de saúde, prestados em ambulatórios ou até no

próprio domicílio, que possam contribuir para a preservação do convívio e reintegra-

ção familiar.

Os abrigos incentivam a convivência familiar?

A pesquisa do IPEA procurou avaliar se os abrigos estavam promovendo a preser-

vação dos vínculos familiares por meio do incentivo à convivência das crianças e

dos adolescentes com suas famílias de origem e do não desmembramento de gru-

pos de irmãos abrigados. Ainda que várias instituições praticassem algumas dessas

ações isoladamente, somente 5,8% delas desenvolviam as duas conjuntamente e

ofereciam opção para crianças e adolescentes ficarem aos cuidados da instituição

durante a semana e retornarem às suas casas nos fins de semana. Em 78,4% dos

abrigos predominava o regime de permanência continuada, onde crianças e adoles-

centes ficavam no abrigo o tempo todo, fazendo da instituição seu local de mora-

dia. Os abrigos são responsáveis pela avaliação periódica das condições de rein-

tegração à família de origem e pela rápida comunicação às autoridades judiciárias

quando esgotadas essas possibilidades, para que sejam providenciadas, quan-

do for o caso, a destituição do poder familiar e a colocação em família substituta.

A colocação em família substituta é uma forma de garantir o direito à convivência fa-

miliar para os meninos e meninas cujas chances de retorno para suas famílias de ori-

gem foram esgotadas. O ECA estabelece como princípio a ser seguido pelos abrigos

“a colocação em família substituta, quando esgotados os recursos de manutenção na

família de origem” (Lei 8.069/90, art. 92, inc.II).

Abrigos devem ser parecidos com uma residência

Quando há um número elevado de crianças e adolescentes vivendo em um abrigo, é

difícil dar a eles um atendimento individualizado. De acordo com psicólogos, se uma

GestãO EDUCACIONAL I 49
situação assim se prolonga por muito tempo, pode provocar grande carência afetiva,

dificuldade para estabelecer vínculos, baixa autoestima, atrasos no desenvolvimento

psicomotor e pouca familiaridade com rotinas familiares. Nesses casos, crianças e

adolescentes também têm dificuldade para adquirir sentimento de pertencimento e

adaptar-se ao convívio em família e na comunidade. Para que o acolhimento seja o

mais semelhante possível ao da rotina familiar, as entidades não devem manter pla-

cas ou faixas externas que as identifiquem como abrigos. A construção deve parecer

com uma residência comum, evitando-se os grandes pavilhões, típicos dos antigos

orfanatos. O atendimento em pequenos grupos permite que se preste mais atenção

às características individuais de cada criança ou adolescente e às especificidades de

suas histórias de vida. Para avaliar se os abrigos eram semelhantes a residências co-

muns, a pesquisa do IPEA analisou dois aspectos: a estrutura física e o atendimento

em pequenos grupos. Em relação à estrutura física, foram considerados os seguintes

aspectos:
• características residenciais externas, com pelo menos uma edificação do tipo
“casa”;

• existência de, no máximo, 6 dormitórios;


• acomodação de, no máximo, quatro crianças e adolescentes por dormitório;
• existência de espaços individuais para que eles pudessem guardar seus ob-
jetos pessoais;

• e existência de áreas exclusivas para serviços especializados (consultório

médico, gabinete odontológico, salas de aula e oficinas profissionalizantes).

Em relação ao atendimento em pequenos grupos, foi considerada a relação entre o

número de crianças e adolescentes abrigados e o número de profissionais encarre-

gados de cuidar deles. Considerou-se como adequada à relação de um profissional

responsável (pais sociais, educadores, monitores) para até 12 crianças e adolescen-

te. Considerando-se os dois aspectos (estrutura física e atendimento em pequenos

50 GestãO EDUCACIONAL I
grupos) para avaliar a semelhança dos abrigos com residências comuns, observou-se

que apenas 8% deles cumpriam simultaneamente esses requisitos.

Crianças e adolescentes precisam de convivência comunitária

As crianças e os adolescentes que vivem em abrigos não devem ser privados de

liberdade. Durante muitos anos essas instituições ofereceram todos os serviços que

os abrigados necessitavam, como educação, saúde, lazer, etc. Isso resultava em um

quase aprisionamento dos internos e na perda do convívio com a comunidade, pois

nunca saiam dos abrigos para praticar as atividades habituais de toda criança e jovem

que vive com sua família.

A participação na vida comunitária é um direito estabelecido pelo ECA às crian-

ças e aos adolescentes, mas ele só tem como ser garantido aos abrigados que ti-

verem acesso às políticas básicas e aos serviços oferecidos para a comunida-

de em geral, como as atividades externas de lazer, esporte, religião e cultura em

interação com a comunidade da escola, do bairro e da cidade. A convivência co-

munitária evita a alienação e inadequação dos abrigados para o convívio social.

O levantamento nacional mostrou um quadro preocupante nesse sentido: apenas 6,6%

dos abrigos pesquisados utilizavam todos os serviços necessários a crianças e adoles-

centes disponíveis na comunidade, tais como creche, ensino regular, profissionalização

para adolescentes, assistência médica e odontológica, atividades culturais, esportivas

e de lazer e assistência jurídica. A maioria das instituições (80,3%) ainda oferecia pelo

menos um desses serviços diretamente (de forma exclusiva) dentro do abrigo.

Fontes:
• Orientações técnicas para os serviços de acolhimento para crianças e ado-
lescentes

• O Direito à convivência familiar e comunitária: os abrigos para crianças e ado-


lescentes no Brasil.

GestãO EDUCACIONAL I 51
• Plano Nacional de Promoção - Proteção e Defesa do Direito de Crianças e

Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária

Fonte: <http://www.turminha.mpf.mp.br/direitos-das-criancas/convivencia-familiar-e-

comunitaria>. Acesso em: 12 jan. 2015.

filmes recOmendadOs
Divirta-se com o filme Ensinando a Viver. Ele conta a história

do escritor David Gordon (John Cusack) que é um escritor de

ficção científica que ficou viúvo recentemente e decide adotar

Dennis (Bobby Coleman), um menino órfão que acredita ser um

marciano em missão de exploração na Terra. Liz (Joan Cusack)

tenta dissuadir David da ideia alertando para os perigos da pa-

ternidade, mas ele está decidido e adotar o garoto. A partir de

então passa a contar com ajuda da amiga Harlee (Amanda Peet), já que se vê com-

pletamente perdido.

Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-57439/>. Acesso em: 12 jan. 2015.

52 GESTÃO EDUCACIONAL I
Os menores infratores

Vimos na unidade I de nosso livro que o problema da criança de rua era tratado pela

polícia. A polícia devia orientá-la e encaminhá-la para abrigos ou instituições filantrópi-

cas. Nessa unidade, iremos aprofundar um pouco mais nossos conhecimentos sobre

os menores infratores.

Segundo Kreuz (2012) no século XX, cidades como São Paulo e Rio de Janeiro pas-

saram por um grande crescimento industrial e populacional. Esse crescimento não foi

planejado e por isso mesmo, agravou problemas sociais como a criminalidade, mendi-

cância, marginalidade, aumento dos cortiços e o aumento do número de crianças que

buscava sua sobrevivência nas ruas. Observando esse fato, o Estado resolveu agir

conforme nos mostra Kreuz (2012, p.25):

As leis de proteção à infância nas primeiras décadas do século XX no Brasil, também


faziam parte da estratégia educar o povo e sanear a sociedade. As leis visavam preve-
nir a desordem, na medida em que ofereciam suporte às famílias nos casos que não
conseguissem conter os filhos insubordinados, os quais poderiam se entregues a tutela
do Estado; e, pela suspensão do Pátrio Poder, previam a possibilidade de intervir na
autoridade paterna, transferindo a paternidade ao Estado, caso julgasse necessário.

Você pode notar que a solução apontada pelo Estado foi a formulação de leis com a

missão de disciplinar, corrigir e se necessário, afastar da família e do convívio social.

Neste contexto, também foi criado o primeiro Código de Menores que segundo Kreuz

GestãO EDUCACIONAL I 53
(2012), ficou conhecido como Código de Mello Mattos devido a forte influência de

José Candido de Albuquerque Mello Mattos.

O código era destinado aos expostos (menores abandonados), vadios (meninos de

rua), mendigos e libertinos (frequentadores de prostíbulos). A lei excluía a roda dos

enjeitados (vista na unidade I) e estabelecia a idade mínima de 12 anos para o tra-

balho. Os menores também não poderiam ser submetidos a ambientes insalubres ou

que oferecessem risco de vida.

Com a ação do Estado interferindo nas ações familiares, os Orfanatos e internatos

logo ficaram lotados. A ideia era a de que se a família não conseguisse desempenhar

adequadamente seu papel na educação dos filhos, era dever do Estado intervir e cor-

rigir as patologias sociais. No entanto, logo começaram a surgir inúmeras críticas e

denúncias a esse modelo devido aos maus-tratos e ao fato de mesmo com a interna-

ção não conseguirem retirar os jovens das ruas, da marginalidade e da criminalidade.

Tendo em vista a ineficácia do Código de Menores o governo criou SAM (Serviço de

Assistência ao Menor). Kreuz (2012) informa que a finalidade do SAM era prestar as-

sistência aos menores abandonados e aos delinquentes internados, além de recolher

os meninos de rua em estabelecimentos adequados e abrigá-los.

Mais tarde, em razão do fracasso do SAM, foi criado o FUNABEM (Fundação Nacional

de Bem-Estar do Menor) que tinha como missão criar uma política de orientação e

reeducação do menor infrator. Sob essa influência foram criadas também as FEBEMS

(Fundações Estaduais do Bem-Estar do Menor). As famosas FEBEMs adotaram um

modelo educacional baseado no sistema militar que acabou bastante conhecido nas

mídias pelas rebeliões dos internos, fugas, inúmeras acusações de torturas, maus-

tratos e mortes.

Para Kreuz (2012), as FEBEMs ao invés de resolver o problema dos menores infrato-

res e das crianças de rua agravou o problema:

As Febems recebiam crianças em situação de risco, por abandono, negligência, pobre-


za e também crianças e adolescentes delinquentes, embora, inicialmente, em menor

54 GestãO EDUCACIONAL I
número. O resultado foi a transformação de menores abandonados em delinquentes
(KREUZ, 2012, p.26).

Atualmente algumas unidades das antigas FEBEMs ainda estão em ação e você pode

conferir o que mudou de lá pra cá e como elas funcionam lendo o SAIBA MAIS abaixo.

SAIBA MAIS
O dia a dia e as histórias da Fundação Casa, antiga Febem

Atualmente, há 140 unidades, com orçamento de 824 milhões de reais, 80% a mais

que em 2005

A rotina é intensa. Os internos são despertados às 6 horas. Começam então a execu-

tar as tarefas para as quais foram escalados em rodízios que mudam periodicamente.

Limpam quartos e banheiros, ajudam a preparar e a servir refeições — são seis por

dia. Pela manhã e à tarde, assistem às aulas em que aprendem o mesmo conteúdo

oferecido na rede pública de ensino. As atividades só cessam às 22 horas, quando

eles vão dormir.

São monitorados por 11.000 funcionários, que se distribuem em 140 unidades nos três

turnos. Reeducar e punir aqueles que lançavam mão da força para impor respeito foi outro

capítulo da reestruturação da Fundação Casa. “O primeiro passo foi apurar com serieda-

de as denúncias de maus-tratos”, diz o chefe da corregedoria, Jadir Pires de Borba.

Em 2005, 48% das sindicâncias foram encerradas por falta de provas. No ano pas-

sado, esse número caiu para 7,8% — a corregedoria diz não ter o número total de

denúncias. “Precisávamos resgatar nossa credibilidade perante o Ministério Público

e a sociedade.” Nos últimos cinco anos, ocorreram 293 demissões por justa causa.

Inspeções às unidades de todo o estado foram incorporadas à rotina.

A prática era comum aos promotores de Infância e Juventude do Ministério Público,

que apareciam de surpresa para verificar como os jovens estavam sendo tratados.

“Muito do que melhorou foi em razão da pressão que fizemos”, acredita o promotor

Thales Cezar de Oliveira, da 2ª Vara da Infância e Juventude da capital.

GestãO EDUCACIONAL I 55
Em 1998, em uma visita noturna, encontraram dezenas de internos amontoados no

chão do refeitório dormindo de valete, ou seja, deitados de lado e alternando pernas e

cabeça. Mães de garotos castigados por funcionários pediam à equipe que vistoriasse

seus filhos. Não raro, os promotores os encontravam cobertos de marcas de casse-

tete, queimaduras e cortes.

O caminho de entrada para a Fundação Casa costumam ser as Varas da Infância e

Juventude. Elas recebem desde menores que se meteram em confusões típicas da

adolescência, como brigas na porta da escola, até aqueles acusados de assassinato.

Todos são fichados, em históricos que se acumulam até a maioridade. Dependendo

do ocorrido, os infratores podem ser perdoados e liberados. Se encaminhados para a

fundação, podem ficar lá, no máximo, por três anos.

“É preciso separar o joio do trigo: os que estão na bandidagem e os que agiram por re-

beldia”, afirma o promotor Oliveira. Ele conta que há os que chegam constrangidos e

os que se orgulham de parecer perigosos. Quando o jovem abusa de gírias (“Fabiana”

é cocaína e “socar no bigode” é roubar, por exemplo) e do gestual típico da criminali-

dade, o promotor não economiza franqueza para alertar a família.

“Sou como médico, não posso ter meias palavras. Tenho de dizer aos pais que o filho

deles virou infrator.” Nem sempre ele tem essa oportunidade, já que a maioria dos jovens

vive fora de casa ou tem pais com uma folha corrida muito pior que a deles. Em todos os

casos, o histórico criminal zera quando o interno chega à maioridade. O poder público não

sabe quantos dos presos no sistema penitenciário são egressos da Fundação Casa.

Os delitos mais comuns entre os infratores e criminosos com menos de 18 anos são

tráfico de droga, roubo e furto, que juntos representam 80% dos casos. “Muitos me-

ninos traficam para sustentar o próprio vício em crack”, diz Ivonete Gonçalves de

Oliveira, diretora de uma Regional Metropolitana. Ela cuida das principais unidades

de internação provisória do estado, que ficam no Brás. É a segunda etapa, depois da

Vara da Infância. Em tese, os menores aguardariam ali até 45 dias à espera da sen-

tença de um juiz — alguns, no entanto, chegam a ficar até três meses.

56 GestãO EDUCACIONAL I
Quando ingressa na Fundação Casa, o adolescente passa por um diagnóstico. O

objetivo é verificar condições de saúde e analisar seu histórico escolar. Muitos che-

gam analfabetos. “Recebemos uma garota que não sabia usar talher e comia com as

mãos”, conta Maria Cristina Santos de Oliveira, coordenadora de equipe da Mooca,

a “senhora Cristina”. Os internos são instruídos a chamar funcionários e visitantes de

“senhor” e “senhora”.

Cada jovem é avaliado separadamente, e os dependentes de droga são recebidos

por um psiquiatra. Alguns têm de tomar ansiolíticos e antidepressivos para evitar as

crises de abstinência. Amassados, os remédios são misturados a água, que deve ser

tomada na frente de um monitor. A prática de dar-lhes os próprios comprimidos se

mostrou falha. Alguns garotos escondiam a medicação na boca. “Eles a trituravam e

inalavam por pensar que teria o efeito da cocaína”, conta Marcelo Vilela, enfermeiro

responsável pela unidade de Osasco.

Para as adolescentes, a situação pode ficar mais delicada, já que algumas descobrem

estar grávidas nos exames para a internação. Na unidade da Mooca, para onde são

transferidas quando completam oito meses de gestação, há oito jovens mães e outras

quatro prestes a dar à luz. No intervalo das atividades, elas ficam com o bebê para

amamentar, dar banho e trocar fraldas. Fazem roupinhas de crochê enquanto ele

dorme. Aprendem tudo com as funcionárias, acostumadas também a domar a agres-

sividade das que não desejavam ser mãe. Na maioria das vezes, elas são usuárias de

drogas e não fizeram nenhum exame pré-natal. Só podem amamentar após seu leite

ser examinado para comprovar que não contém substâncias tóxicas.

As 342 garotas (5% do total de internos) às vezes dão mais trabalho que os rapazes.

No ano passado, foi preciso que a tropa de apoio da fundação entrasse na unidade

para conter uma baderna que poderia resultar em rebelião. Medidas duras são parte

importante da educação desses jovens. “Por isso, posso dizer que são meus filhos”,

afirma a presidente Berenice Gianella. “O processo de reabilitação requer tempo,

firmeza e atenção.”

GestãO EDUCACIONAL I 57
Em geral, a permanência dos adolescentes na Fundação Casa é de sete meses. Com

20 anos de idade, Otávio Dias — liberado na semana passada — ficou lá quase três

anos, período máximo de reclusão permitido pelo Estatuto da Criança e do Adoles-

cente. Ao contrário da maioria de seus colegas, diz nunca ter experimentado droga,

traficado ou roubado. Ele ficou recluso desde março de 2008 por ter matado sua ex-

namorada por estrangulamento. Então grávida de três meses, a adolescente de 16

anos não cedeu aos apelos do rapaz para que abortasse — ele já estava em outro

relacionamento. 

Na ex-Febem, Dias aprendeu marcenaria e decidiu ingressar em uma faculdade. Ele

cursa o 3º semestre de tecnologia em rede de computadores. Era o único universitário

entre os sessenta internos de Fazenda do Carmo, em Itaquera, cuja capacidade é de

quarenta jovens. Seus pais pagam uma mensalidade de 565 reais, e o estado deixava

à disposição um funcionário para levá-lo e vigiá-lo. “Poucos amigos da classe sabem

que fui interno”, conta. “Mesmo para esses, nunca contei minha história real.” Por

ter conquistado a confiança da equipe da Fundação Casa, Dias conseguiu algumas

regalias. Trocou beijos com uma colega nos corredores e visitou barzinhos. “Não sei

se serei perdoado, mas quero ligar para a família da pessoa a quem fiz esse mal para

pedir perdão.”

Disponível na íntegra em: <http://vejasp.abril.com.br/materia/fundacao-casa-febem>.

Acesso em: 13 jan. 2015.

Por meio dessa breve consulta a história dos menores infratores é possível notar um

caminho longo de repetições e fracassos. As justificativas mais comuns são: a ausên-

cia de infraestrutura, o despreparo da equipe técnica e de apoio, a falta de verbas, o

sistema capitalista etc. Essas justificativas nos faz pensar que caso todo esse aparato

estivesse presente e existissem todas as condições necessárias conseguiríamos rea-

bilitar os jovens desencaminhados.

58 GestãO EDUCACIONAL I
Muitas Instituições de Correção, como são chamadas atualmente as casas de abrigo

aos menores infratores, gastam em média, mais de três mil reais para manter um in-

terno. Esses números podem ser conferidos no artigo indicado para leitura no Saiba

Mais acima; e, mesmo assim, os resultados são pouco satisfatórios.

Estudos feitos com meninos de rua de São Paulo, mostram que a maioria dos meno-

res, não conseguem elaborar projetos de vida devido às condições de vida incertas em

que vivem. Embora as crianças e jovens demonstrem possuir o desejo de ascender

socialmente, possuem consciência das inúmeras dificuldades impostas pela condição

atual de vida. Quando falam em ter uma profissão ou ganhar dinheiro, referem-se

somente ao ganho suficiente para suprir necessidades básicas e ajudar a família. As

aspirações profissionais englobam apenas profissões que exigem pouca ou nenhuma

escolarização, como: gari, mecânico, marceneiro, jogador de futebol, policial e outras.

Gomide e Trindade (1987) entrevistaram menores infratores e menores abandona-

dos com o objetivo de avaliar a autobiografia futura e o autoconceito entre os dois

grupos de sujeitos. Os resultados mostraram que 82% dos infratores nomearam um

tipo de trabalho não qualificado contra apenas 5% dos menores abandonados; so-

mente 50% dos infratores disseram que teriam casa no futuro, ao passo que 100%

dos menores esperam possuir este bem. As autoras sugerem que a diferença de

resposta é devida, principalmente, a inserção destes jovens em grupos sociais dife-

rentes — infrator e não infrator.

Conhecendo essas diferenças, precisamos pensar então no que acontece no interior

das Instituições de Proteção ao Menor que ao invés de recuperar os jovens acaba

transformando-os em jovens infratores. Segundo Gomide e Trindade (1987, p.47),

O sistema de valores a que os menores infratores são submetidos é inevitavelmente


mais criminoso do que o do mundo externo, porque todos os internos cometeram
algum tipo de delito. Portanto, não nos surpreende que as atitudes favoráveis à de-
linquência sejam reforçadas e os talentos e habilidades relevantes para o crime se
desenvolvam após um período em uma Instituição Correcional — este processo é
denominado Criminalização.

GestãO EDUCACIONAL I 59
Sendo assim, podemos concluir que a internação dos menores e o fato de retirá-los

do convívio com outros meninos da mesma idade não infratores na realidade dificulta

a recuperação. Isso por que, dentro das instituições normalmente existe um código de

valores interno criado pelos próprios jovens que obriga os demais a agir e a se com-

portar de acordo com essas normas. De acordo com Gomide e Trindade (1987) este

processo é chamado de prisonização.

Dentro das Instituições de Proteção ao Menor há um “código de valores interno” cuja


aceitação facilita a sua adaptação à vida da Instituição. Como em qualquer grupo, os
novos membros aprendem as regras e a cultura geral da comunidade — este é o pro-
cesso da Prisonização (GOMIDE; TRINDADE, 1987, p.49).

Outro problema, apontado pelas autoras, na recuperação dos menores infratores é

o preconceito. Os jovens internos das Casas Correcionais quando saem, continuam

sendo vistos pela sociedade como infratores, delinquentes e bandidos. Esse rótulo

negativo diminui as chances dele mudar de vida, pois o mercado de trabalho e a co-

munidade têm medo e não oferece novas oportunidades. Nesse sentido, podemos

notar que cada vez mais são reforçadas as características negativas dos menores

infratores e isso se repete de tal forma até que ele se aceite e se veja realmente como

um mau elemento.

Nesse momento você pode estar se perguntado, então qual a solução para os ado-

lescentes infratores no Brasil? Vamos conhecer as alternativas apontadas pelo ECA

(Estatuto da Criança e do Adolescente).

60 GestãO EDUCACIONAL I
O Estatuto da Criança e do Adolescente

Para o ECA, os menores de dezoito anos que cometem crimes ou atos fora da lei,

são chamados de infratores. Aliás, segundo nos aponta Valente (2002, p.69) não é

correto afirmar que um adolescente cometeu um crime. “A expressão ato infracional

foi o termo criado pelos legisladores na elaboração do Estatuto da Criança e do Ado-

lescente. Não se diz que o adolescente cometeu crime ou contravenção penal, e sim,

ato infracional”.

Para os menores de idade, não há nenhuma medida coerciva e sim ações socioe-

ducativas que podem ser tomadas. O objetivo das medidas socioeducativas, como

o próprio nome prevê, não é punir e sim educar o adolescente para que este seja

reabilitado.

As medidas socioeducativas se encontram no artigo 112 do Estatuto da Criança e do

Adolescente e podem ser aplicadas aos menores que cometem atos infracionais. A lei

prevê ainda a aplicação cumulativa de uma ou mais medidas protetivas. Isso significa

que de acordo com a gravidade da infração cometida pelo menor, uma ou mais medi-

das protetivas podem ser tomadas. Vamos conhecer as medidas protetivas previstas

no artigo 101, inciso I a VI.

Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar
ao adolescente as seguintes medidas:

I - advertência;

II - obrigação de reparar o dano;

GestãO EDUCACIONAL I 61
III - prestação de serviços à comunidade;

IV - liberdade assistida;

V - inserção em regime de semiliberdade;

VI - internação em estabelecimento educacional;

VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.

§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la,


as circunstâncias e a gravidade da infração.

§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de trabalho


forçado.

§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão tratamento


individual e especializado, em local adequado às suas condições.

Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competen-
te poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:

I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;

II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;

III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;

IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao


adolescente;

V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar


ou ambulatorial;

VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a


alcoólatras e toxicômanos.

A autoridade competente que pode aplicar tais medidas é o juiz ou promotor de justiça

da infância e juventude. Vamos conhecer agora as ações tomadas em cada medida

socioeducativa.

Advertência: segundo Valente (2002), a advertência é feita de forma oral pelo juiz e

registrada com a assinatura do menor, dos pais ou de seus responsáveis. Ela é apli-

cada para infrações menores e tem o objetivo de orientar o adolescente e sua família.

Obrigação de reparar o dano: normalmente a obrigação de reparar o dano é aplicada

62 GestãO EDUCACIONAL I
em situações em que existem danos a patrimônios públicos ou propriedades privadas.

Para Valente (2002, p.71), o objetivo dessa medida é “despertar o senso de respon-

sabilidade do infrator acerca do bem alheio”. Nesse sentido, a medida também afeta

os pais ou seus responsáveis, pois muitas vezes há custos envolvidos. Caso o ado-

lescente e sua família não tenham condições de pagar pelos danos causados o juiz

pode determinar a substituição dessa medida por outra que satisfaça o dano. Vejamos

o que diz o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) no artigo 116: “Em se tratando

de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o

caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por

outra forma, compense o prejuízo da vítima”.

Prestação de serviços à comunidade: essa é uma forma de punição útil à sociedade

onde o menor infrator não é retirado do convívio social e precisa desenvolver tarefas

importantes para a comunidade e que lhe ensine valores morais, éticos e outros. A

atividade a ser desenvolvida, precisa estar de acordo com as condições pessoais do

adolescente, e como prevê o ECA, não deve possuir caráter vexatório ou humilhante.

A execução das tarefas ou trabalhos comunitários deve ser desenvolvida de forma a

não prejudicar a frequência escolar do adolescente e precisam estar ainda relaciona-

das às suas aptidões. Veja o que diz o Estatuto:

Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas gra-


tuitas de interesse geral, por período não excedente a seis meses, junto a entidades
assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em
programas comunitários ou governamentais.

Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do adolescente, de-


vendo ser cumpridas durante jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados,
domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a frequência à escola
ou à jornada normal de trabalho.

Liberdade Assistida: de acordo com Valente (2002) essa é uma medida a ser tomada

quando o adolescente não precisa ser privado de sua liberdade, mas que precisa ser

GestãO EDUCACIONAL I 63
acompanhado, orientado e até mesmo privado de alguns direitos. Sendo assim, uma

pessoa capacitada é designada para supervisionar sua rotina como a frequência es-

colar, inserção no mercado de trabalho, matrícula em programas comunitários (quan-

do necessário), assistência social e outros conforme preconiza o ECA:

Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a medida mais ade-
quada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente.

§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a qual poderá


ser recomendada por entidade ou programa de atendimento.

§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de seis meses, podendo a
qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o
orientador, o Ministério Público e o defensor.

Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a supervisão da autoridade competente,


a realização dos seguintes encargos, entre outros:

I - promover socialmente o adolescente e sua família, fornecendo-lhes orientação e


inserindo-os, se necessário, em programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência
social;

II - supervisionar a frequência e o aproveitamento escolar do adolescente, promovendo,


inclusive, sua matrícula;

III - diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente e de sua inserção no


mercado de trabalho;

IV - apresentar relatório do caso.

Inserção em regime de semiliberdade: essa medida se aplica a casos em que o ado-

lescente é recolhido em Instituições de Correção, mas possui frequente contato com

64 GestãO EDUCACIONAL I
a sociedade e o meio aberto. O objetivo é ressocializar o menor mediante a realização

de tarefas externas como a profissionalização. O prazo de duração é indeterminado,

pois depende da gravidade infracional.

Art. 120. O regime de semiliberdade pode ser determinado desde o início, ou como for-
ma de transição para o meio aberto, possibilitada a realização de atividades externas,
independentemente de autorização judicial.

§ 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionalização, devendo, sempre que pos-


sível, ser utilizados os recursos existentes na comunidade.

§ 2º A medida não comporta prazo determinado aplicando-se, no que couber, as dispo-


sições relativas à internação.

Internação em estabelecimento educacional: A medida de internação em casas de

correção priva o adolescente de sua liberdade. Ele fica, portanto, recuso e sem o di-

reito de ir e vir. Segundo Valente (2002, p.72), tal medida será aplicada,

por autoridade judicial, após o devido processo legal, quando se tratar de ato infracional
cometido mediante grave ameaça ou violência à pessoa, por reiteração no cometimento
de outras infrações graves ou por descumprimento reiterado e injustificável de medida
anteriormente imposta.

A privação da liberdade também não possui um prazo determinado de duração, mas

precisa respeitar o princípio da brevidade, conforme descreve o artigo 121 do Estatuto

da Criança e do Adolescente.

Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de bre-
vidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.

§ 1º Será permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe técnica da


entidade, salvo expressa determinação judicial em contrário.

§ 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser

GestãO EDUCACIONAL I 65
reavaliada, mediante decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses.

§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos.

§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente deverá ser libe-


rado, colocado em regime de semi-liberdade ou de liberdade assistida.

§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade.

§ 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de autorização judicial, ou-


vido o Ministério Público.

§ 7o A determinação judicial mencionada no § 1o poderá ser revista a qualquer tempo


pela autoridade

Vale ressaltar que a medida de internação é uma ação tomada em casos extremos

e que de acordo com a Constituição Federal de 1988 não pode ultrapassar o tempo

máximo de três anos.

Após conhecer as medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do

Adolescente é possível observar que há em todas elas o desejo de que o menor

cumpra sua sentença e retorne ao convívio social com novos aprendizados, ideais e

perspectivas. No entanto, conforme vimos nessa unidade, há um grande número de

reincidências e um aumento crescente de adolescentes em práticas ilícitas e muitos

questionamentos podem ser feitos: As atuais medidas socioeducativas são satisfa-

tórias? A aplicação dessas medidas satisfaz a população? Tais medidas coibiram os

crimes e promoveram a recuperação dos criminosos?

Muitas pessoas acreditam que o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) possui

ações muito brandas contra os menores infratores e por esse motivo, não intimida o

adolescente infrator e nem os demais criminosos que se utilizam dos menores para con-

tribuir com a bandidagem. Por isso, há um grande número de pesquisadores e outros

66 GestãO EDUCACIONAL I
profissionais envolvidos em propostas de leis que diminuam a maioridade penal e que

apliquem a proporcionalidade da punição de acordo com a gravidade da infração come-

tida. Para saber mais sobre esse assunto, leia o livro recomendado abaixo.

indicaçãO de leitura

CFP disponibiliza livro acerca da redução da maioridade penal.

De acordo com a publicação, o documento se apresenta da se-

guinte forma:

“Diante do clamor de grande parte da sociedade brasileira pela

redução da maioridade penal e com o intuito de continuar contri-

buindo com os argumentos que se contrapõem à volúpia puniti-

va, o Conselho Federal de Psicologia apresenta nesta publicação

algumas reflexões de profissionais com relevante produção científica e reconhecida

atuação profissional na área da infância e adolescência”.

Acesse o site e faça o download do livro, por meio do link abaixo:

<http://site.cfp.org.br/publicacao/reducao-da-maioridade-penal-socioeducacao-nao-

se-faz-com-prisao>.

GESTÃO EDUCACIONAL I 67
atividades para cOmpreensãO dO cOnteÚdO

1) Vimos nessa unidade que os abrigos ou casas de acolhimento tem funções e ob-

jetivos diferentes das Casas de Correção. Releia as principais características dos

abrigos e assinale o que for correto afirmar sobre eles.

a) O abrigo é um espaço de proteção comunitário.

b) A estadia das crianças e jovens nos abrigos públicos é provisória e são ofereci-

dos para crianças e adolescentes que foram afastados da convivência com sua

família de origem ou que se encontram em situação de risco pessoal e social.

c) Os abrigos devem atender de forma personalizada e por meio de pequenos

grupos de crianças.
d) Todas as alternativas estão corretas.

2) De acordo com os princípios estabelecidos pelo ECA (Estatuto da Criança e do

Adolescente) as funções dos abrigos são:

i. I. Acolher crianças e adolescentes, conforme decisão judicial ou do conselho Tutelar.

ii. II. Apresentar a moradia, os novos companheiros e as pessoas com as quais o abrigado pas-

sará a conviver.

iii. III. Assegurar a integridade física dos abrigados.

iv. IV. Garantir assistência médica, psicológica, odontológica, farmacêutica e outras aos abrigados.

Estão de acordo com os princípios estabelecidos pelo ECA:


a) Apenas I e II.

b) Apenas II e IV.

c) Apenas I, III e IV.

d) Todas as alternativas estão corretas.

3) Segundo Kreuz (2012), as leis de proteção à infância nas primeiras décadas do

68 GESTÃO EDUCACIONAL I
século XX no Brasil, também faziam parte da estratégia educar o povo e sanear

a sociedade. As leis visavam prevenir a desordem, na medida em que ofereciam

suporte às famílias nos casos que não conseguissem conter os filhos insubordina-

dos, os quais poderiam ser entregues a tutela do Estado. A partir dessa informa-

ção, é possível concluir que:

a) As leis do século XX afirmavam que algumas famílias não tinham competência

para educar seus filhos.

b) No século XX as famílias que tinham problemas com os jovens insubordinados

podiam entregá-los às autoridades judicias.

c) Desde o século XX que a lei prevê tratamento e assistência aos menores in-

fratores.
d) Todas as alternativas estão erradas.

4) Gomide e Trindade (1987) afirmam que muitas Instituições de Proteção ao Menor

ao invés de recuperar os jovens acaba transformando-os em jovens infratores.

Reflita sobre essa afirmação e assinale a alternativa correta que justifica esse fato

segundo a opinião das autoras.

I. A internação dos menores e o fato de retirá-los do convívio com outros meninos da mes-

ma idade não infratores na realidade dificulta a recuperação.

II. Outro problema é o preconceito. Os jovens internos das Casas Correcionais quando

saem, continuam sendo vistos pela sociedade como bandidos.


III. Ausência de infraestrutura, o despreparo da equipe técnica e de apoio, a falta de verbas, o

sistema capitalista etc.

IV. Falta de verbas para manter os menores infratores em condições dignas de sobrevivência e

convivência comunitária.

Estão corretas:

a) Apenas I e II.

GestãO EDUCACIONAL I 69
b) Apenas II e IV.

c) Apenas I, III e IV.

d) Todas as alternativas estão erradas.

5) Segundo o ECA, a medida de internação em casas de correção é uma delibera-

ção que priva o adolescente de sua liberdade. Ele fica recluso e sem o direito de

ir e vir. A partir dessa afirmação, assinale o que for correto afirmar sobre a medida

socioeducativa de internação em estabelecimento educacional.

a) O adolescente interno pode sair durante o dia da Casa de Correção para estu-

dar e trabalhar.
b) Essa medida é tomada em casos em que o adolescente viola ou depreda o

patrimônio público.

c) c) Tal medida é tomada quando o jovem pratica atos infracionais graves

e violentos.

d) d) De acordo com essa medida o jovem deve prestar serviços úteis à comuni-

dade e à sociedade em geral.

prOpOsta para discussãO On-line

Muitos legisladores e juristas acreditam que o ECA (Estatuto da Criança e do Ado-

lescente) é muito brando nas medidas socioeducativas tomadas contra os menores

infratores. Por esse motivo, divulgam uma proposta de lei que diminua a maioridade

penal e que aplique a proporcionalidade da punição de acordo com a gravidade da in-

fração cometida. Pesquise mais sobre esse assunto e aponte três argumentos a favor

da redução da maioridade penal e três argumentos contra essa proposta.

70 GESTÃO EDUCACIONAL I
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para auxiliar você na compreensão das discussões feitas nessa unidade apresentarei

abaixo os principais tópicos analisados.

O Estado oferece o programa de Acolhimento Institucional ou Programas de Famílias

Acolhedoras que devem acolher e abrigar as crianças e adolescentes desamparados

de suas famílias devido aos mais variados motivos.

O abrigo é um espaço de proteção comunitário. A estadia das crianças e jovens nos

abrigos públicos é provisória e são oferecidos para crianças e adolescentes que foram

afastados da convivência com sua família de origem ou que se encontram em situa-

ção de risco pessoal e social.

Os abrigos devem atender de forma personalizada e mediante pequenos grupos de crian-

ças. Existem vários tipos de abrigos divididos de acordo com seu tipo de atendimento.

O atendimento das crianças e adolescentes que são encaminhados aos abrigos pre-

cisa ser bastante acolhedor. Isso porque normalmente eles apresentam um quadro de

fragilidade emocional e até mesmo física devido aos desgastes e problemas familia-

res enfrentados.

Por esse motivo, os abrigos precisam parecer o máximo possível com uma residência

comum, uma casa. Esse fato ajuda na socialização das crianças e jovens e facilita a

criação de vínculos entre eles.

Segundo Kreuz (2012) no século XX, cidades como São Paulo e Rio de Janeiro pas-

saram por um grande crescimento industrial e populacional. Esse crescimento não foi

planejado e por isso mesmo, agravou problemas sociais como a criminalidade, mendi-

cância, marginalidade, aumento dos cortiços e o aumento do número de crianças que

buscava sua sobrevivência nas ruas.

Para solucionar o problema foi o criado o Código de Menores que era destinado aos

expostos (menores abandonados), vadios (meninos de rua), mendigos e libertinos

(frequentadores de prostíbulos). A lei excluía a roda dos enjeitados (vista na unidade

I) e estabelecia a idade mínima de 12 anos para o trabalho.

GestãO EDUCACIONAL I 71
Com a ação do Estado interferindo nas ações familiares os Orfanatos e internatos

logo ficaram lotados. A ideia era a de que se a família não conseguisse desempenhar

adequadamente seu papel na educação dos filhos, era dever do Estado intervir e cor-

rigir as patologias sociais.

Tendo em vista a ineficácia do Código de Menores o governo criou SAM (Serviço de

Assistência ao Menor). Kreuz (2012) informa que a finalidade do SAM era prestar as-

sistência aos menores abandonados e aos delinquentes internados, além de recolher

os meninos de rua em estabelecimentos adequados e abrigá-los.

Mais tarde, em razão do fracasso do SAM, foi criado o FUNABEM (Fundação Nacional

de Bem-Estar do Menor) que tinha como missão criar uma política de orientação e

reeducação do menor infrator. Sob essa influência foram criadas também as FEBEMS

(Fundações Estaduais do Bem-Estar do Menor).

As famosas FEBEMs adotaram um modelo educacional baseado no sistema militar

que acabou bastante conhecido nas mídias pelas rebeliões dos internos, fugas, inú-

meras acusações de torturas, maus-tratos e mortes.

Para os menores de idade, não há nenhuma medida coerciva e sim ações socioe-

ducativas que podem ser tomadas. O objetivo das medidas socioeducativas, como

o próprio nome prevê, não é punir e sim educar o adolescente para que este seja

reabilitado.

As medidas socioeducativas se encontram no artigo 112 do Estatuto da Criança e do

Adolescente e podem ser aplicadas aos menores que cometem atos infracionais. A lei

prevê ainda a aplicação cumulativa de uma ou mais medidas protetivas.

72 GestãO EDUCACIONAL I
artiGOs, sites e LINKS
Como vivem os menores abandonados no Brasil

<http://www.gaasp.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=362%3A-

os-orfaos-do-brasil&catid=58%3Areflita&Itemid=73>.

FEBEM

<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-64451987000200014&script=sci_art-

text>.

Medidas socioeducativas ECA

<http://www.armadacritica.ufc.br/phocadownload/11-%20as%20medidas%20socio-e-

ducativas%20do%20eca-%20maria%20conceicao.pdf>.

GESTÃO EDUCACIONAL I 73
74 GestãO EDUCACIONAL I
UNIDADE III – Ampliando as
fronteiras da educação não
escolar

Objetivos a serem alcançados nesta unidade


Prezado(a) Acadêmico(a), ao terminar os estudos dessa unidade, você deverá ser

capaz de:

• Conhecer os novos campos de atuação pedagógica;


• Identificar os campos de atuação da pedagogia hospitalar;
• Analisar as funções do pedagogo nas empresas;
• Distinguir as principais ações da pedagogia voltada para os temas comunitá-
rios (Pedagogia Social).

GestãO EDUCACIONAL I 75
Novos campos para as experiências pedagógicas

A função primordial da educação é humanizar o homem e torná-lo apto para desenvol-

ver suas responsabilidades e obrigações sociais. Essa função é desenvolvida coleti-

vamente por meio de diversas ações educativas e muitos processos emancipatórios.

Permeando esse cenário educacional, a figura do pedagogo é uma peça fundamental,

pois seus conhecimentos são estratégicos para alcançar tais objetivos.

O pedagogo é um profissional gabaritado para gerir, de forma contínua, os processos

educativos e sociais da escola. Atualmente, é capaz de agir junto às equipes multi-

disciplinares e constroem saberes úteis às mais diversas áreas do conhecimento. Ao

contrário de outras profissões que perdem dia a dia espaço e campo no mercado de

trabalho, o pedagogo tem sua área de atuação ampliada frequentemente. Ele está

sendo requisitado a agir em áreas que exigem consciência política e histórica, senso

crítico e capacidade de liderança.

Autores renomados como Saviani, Libâneo e Pimenta demonstram em seus estudos

e pesquisas que há uma vasta área de atuação para o profissional da pedagogia. Já

sabemos a algum tempo que o pedagogo não age mais somente nas salas de au-

las. Atualmente é comum encontrá-los como gestores, pesquisadores, coordenadores

76 GestãO EDUCACIONAL I
dentro e fora das escolas. A demanda por pedagogos em hospitais, presídios, empre-

sas, ONGs ou ainda nas rádios, televisões e editoras é cada vez maior.

Com essa abertura no campo de trabalho do pedagogo, exige-se dele uma formação

cada vez melhor e mais vasta. Não é raro encontrar pedagogos atuando como líderes

comunitários, como consultor em indústrias de brinquedos, como assessor de plane-

jamento empresarial, como orientador ou elaborador de programas educacionais em

museus, teatros e outras atividades relacionadas à recreação e ao lazer. Sem falar na

atuação do pedagogo nos campos da saúde e do direito.

Ribeiro (2010) acredita que o pedagogo é um profissional com múltiplas funções e

capacidades. Veja o que ela diz a esse respeito:

O pedagogo é um profissional da educação, que ao entrar para o mercado de trabalho,


tem condições de trabalhar em qualquer campo que houver necessidade de organizar
oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento de habilidades. Sendo assim, o
pedagogo pode atuar em diferentes segmentos do setor público ou privado, cuidando
do caráter educativo em espaços escolares e não escolares (PIMENTA, 2002, p.52).

Essa diversidade de atuação dos pedagogos se deve também às mudanças socioe-

conômicas que alteraram os antigos procedimentos educativos. Isso exige um profis-

sional com saberes diversificados, rápido, competitivo e capaz de trabalhar em grupo.

Para Tardif (2008), a rapidez e a competitividade do mercado de trabalho e da socie-

dade em geral, exigem uma grande procura por ferramentas educativas que auxiliem

os profissionais da educação na construção de saberes e não mais na reprodução de

conhecimentos. Os pedagogos estão percebendo essa necessidade real e fazendo

dela novas oportunidades de trabalho e de desenvolvimento.

No entanto, o conhecimento científico é um fator indispensável para a formação e

o desenvolvimento do profissional pedagogo. Para Moran (2006), o conhecimen-

to deve aparecer como primeira necessidade na preparação de profissionais da

educação. Afinal, o trabalho com a educação e com a formação humana, exige do

pedagogo, uma postura ética que combata o saber superficial e mediano. E nessa

GestãO EDUCACIONAL I 77
luta, o conhecimento científico é o que fundamenta a ação educativa e todo o tra-

balho do pedagogo.

Uma das tarefas esperadas do pedagogo em seus diversos campos de ação é o ensi-

no. No entanto, não se trata do ensino escolar, baseado em um currículo programado

e planejado. Trata-se de um ensino real, que varia seu objetivo de acordo com as

experiências de diferentes espaços. Espera-se, portanto, que o pedagogo seja capaz

de sistematizar saberes científicos que contribuirão para que a equipe na qual ele atue

seja capaz de resolver problemas globais, parciais e locais.

Vemos com isso que a atuação do pedagogo extrapolou as paredes da sala de

aula e abriu novas áreas, capazes de formar equipes multidisciplinares que atuam

diretamente no quesito da aprendizagem. Atualmente, o conhecimento é diaria-

mente mais valorizado e a pedagogia forma profissionais capazes de compreender

questões didáticas e metodológicas. Os conhecimentos adquiridos durante o cur-

so de pedagogia em relação aos aspectos sociais e históricos do ser humano torna

o pedagogo um profissional com mais possibilidades de inserção no mercado de

trabalho. Por isso os pedagogos estão sendo requisitados a atuar nas empresas,

junto aos recursos humanos.

Nas empresas, o pedagogo atua na aprimoracão dos processos de aprendizagem e

de ensino. Sendo assim, eles trabalham para a criação de uma cultura de formação

continuada dos funcionários e pela constante busca de informações. O objetivo é

melhorar a qualidade do atendimento aos clientes e o relacionamento com os funcio-

nários. Você poderá saber mais sobre a pedagogia empresarial ainda nessa unidade.

Além das empresas, o pedagogo também se destaca na área da saúde. O pedagogo

hospitalar trabalha com a criança ou o jovem em longo tempo de internação e o auxilia

nas atividades didáticas. Isso evita que o paciente perca o ano letivo e o vínculo com

a escola e os estudos. O pedagogo também dá apoio psicoafetivo à família e ao pa-

ciente para ajudá-lo na adaptação com o ambiente hospitalar. Mas esse tema vamos

discutir com mais detalhes no próximo item dessa unidade, portanto, continue lendo!

78 GestãO EDUCACIONAL I
SAIBA MAIS!
Qual O Verdadeiro Papel Do Pedagogo Em Contextos Não Escolares?

Artigo por Christianne Nery Rodrigues de Sousa Marques da Rocha -

O pedagogo tem uma grande responsabilidade quando colabora em espaços muitas

vezes por ele desconhecido, exemplificando os contextos não escolares (Hospitais,

Empresas, ONGs, Instituições).

O ensino superior deste profissional provavelmente não o preparou para este fim. A

maioria das universidades não oferecerem currículos baseados na realidade das em-

presas e/ou organizações para a atuação deste profissional.

Ao observar alguns documentos importantes ligados a área da educação percebe-se

que existem lacunas e interpretações errônea quanto ao oferecimento da educação

em qualquer esfera seja ela escolar ou não. Sabe-se que alunos internados e debili-

tados por algum tipo de patologia em hospitais, moradoras ou participantes de ONGs,

colaboradores de empresas, têm o direito ao “conhecimento” garantido por leis como

a LDB, ECA, Constituição, resoluções, outros.

O Pedagogo ao fazer parte deste processo muitas vezes se vê despreparado pelo fato

de não ter tido em sua vida acadêmica de práticas e teorias ligadas a estes contextos

não escolares. A alternativa mais apropriada seria a elaboração, execução de um pro-

jeto em que se valorizasse esse profissional com políticas eficientes.

Verifica-se que o caráter verdadeiramente pedagógico que os profissionais possuem

dentro desta área é confundido com um caráter estritamente administrativo em que

a obtenção por recursos é mais importante que o atendimento às necessidades do

processo educacional. Ou seja, quando esses profissionais atuam fora da sala de aula

geralmente é na visão administrativa e não pedagógica.

GestãO EDUCACIONAL I 79
Infelizmente o lucro, o financeiro e o administrativo são os sinônimos que algumas

empresas e/ou organizações almejam. Parece que não se tem objetividade nem cla-

ridade nos ideais da Educação Brasileira e valorização pelo profissional desta área.

Não se prevalece a Educação como transformação social e o Pedagogo como o trans-

formador desse processo. É amplo o fazer desse profissional. Necessariamente a par-

tir do momento que este profissional de fato for valorizado em todos os seus aspectos,

poderemos assegurar a eficiência e eficácia do seu trabalho dentro da instituição por

participar ativamente de seus planos, planejamentos e projetos conseguindo ótimos

resultados anuais.

Somente um Pedagogo participativo, eficiente e eficaz, ético em suas ações dará a

oportunidade de verificarmos que estes valores requerem objetividade. A ética que

esses profissionais precisam defender na educação não escolar e escolar e no mun-

do, é a ética humana, aquela que promove o desenvolvimento tendo como objetivo o

bem-estar dos humanos.

Não basta aprender conceitos e discutir pontos de vista, é preciso também, mudar as

atitudes, colocar os valores aprendidos em ação. Outro papel do Pedagogo é protago-

nizar o processo educacional sem negar a sua dinamicidade, os seus conhecimentos

e qualidades e as falhas e fragilidade.

Ter ética é saber que ensinar e aprender são muito mais do que dar uma receita para

ser desenvolvida sem erros: é antes de tudo ser referência de homem e de mulher

diante dos problemas que a vida impõe, assumindo uma atitude de respeito, solidarie-

dade, cooperação e repúdio às injustiças e discriminações.

Outro fator importante é saber que o ensino-aprendizagem não tem a função doutrinária

80 GestãO EDUCACIONAL I
e o papel do Pedagogo passa a ser o de mediar, trazendo para a sala de aula várias

posições sobre determinados assuntos, provocando o exercício da descentralização,

a possibilidade de conhecer distintas opiniões e de formar a sua a partir das discus-

sões e da análise dos aspectos positivos e negativos referentes a cada assunto, e isto

é uma questão de ética profissional em educação.

Fonte: Portal Educação. Disponível em: <http://www.portaleducacao.com.br/pedago-

gia/artigos/19880/qual-o-verdadeiro-papel-do-pedagogo-em-contextos-nao-escola-

res#ixzz3RTK53ZYC>. Acesso em: 11 fev. 2015.

LEIA MAIS!
Você encontra outros artigos relacionados aos campos de atuação do pedagogo nos

sites abaixo. Faça a leitura!

<http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/Pedago-

gia2/apedagogiaepedagogos.pdf>.

<http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MS-

C0000000092006000100040&script=sci_arttext&tlng=pt>.

<http://www.scielo.br/pdf/es/v20n68/a13v2068.pdf>.

GestãO EDUCACIONAL I 81
indicaçãO de leitura

Leia o livro de José Carlos Libâneo “Pedagogia e Pedagogos, Para

Quê?” e fique por dentro das principais discussões acerca da pro-

fissão e dos campos de atuação do pedagogo no Brasil.

Livro - Pedagogia e Pedagogos, Para Quê?

O livro discute questões relacionadas com o campo teórico da Pedagogia, a prática

educativa como seu objeto, a relação com as demais ciências da educação, a iden-

tidade profissional do pedagogo e seu papel diante das realidades contemporâneas.

pedaGOGia HOspitalar

Você viu que a pedagogia vem expandindo seu campo de atuação e é preciso que o

pedagogo esteja preparado para atuar nos mais diferentes locais, já que a educação

não acontece somente na escola. O ensino e a aprendizagem acorrem também nos

hospitais e são, inclusive, garantidos por lei para as crianças ou jovens doentes que

precisam de longos períodos de internamento ou tratamento domiciliar.

A atuação dos pedagogos juntos aos hospitais tem crescido diariamente. Sua pre-

sença é importante, pois quando uma criança é hospitalizada, toda sua rotina se

82 GESTÃO EDUCACIONAL I
transforma de maneira brusca. Ela deixa de ir à escola, de brincar e de conviver com

os colegas e ainda sofre com a doença ou com o tratamento. Essa situação é um fator

que provoca grande ansiedade, angústia e medo. Nesse momento, o pedagogo pode

ajudar a criança a adaptar-se ao novo ambiente, a recuperar sua saúde e possibilita

ainda seu desenvolvimento por meio de atividades e conteúdos adequados.

Toda criança é naturalmente ativa e a doença ou a internação não podem ser consi-

deradas barreiras suficientes para impedir seu desenvolvimento. Observando essa

questão, a legislação brasileira reconheceu mediante diversas leis a necessidade da

atuação do pedagogo no ambiente hospitalar. Sua presença é essencial, inclusive

para demonstrar que não existem fronteiras para a ação educativa. A função do pe-

dagogo hospitalar é dar continuidade ao desenvolvimento humano e escolar do aluno

internado, garantindo assim as condições necessárias para que ele aprenda.

A necessidade de aprender e de adquirir conhecimentos faz parte da nossa socieda-

de. Devido a grande importância da educação para o desenvolvimento humano é que

a ação pedagógica vem se realizando também nos hospitais. A Pedagogia Hospitalar

é um caminho novo, que surgiu da necessidade de atender crianças que passavam

muito tempo hospitalizadas e por isso eram prejudicadas na aprendizagem dos conte-

údos ou até mesmo perdiam o ano letivo.

Segundo Fonseca (2008), os primeiros pedagogos hospitalares surgiram em 1935, em

Paris. A iniciativa foi de Henri Sellier, que criou a primeira classe hospitalar para atender

crianças mutiladas ou atingidas pela Segunda Guerra Mundial. Logo seu trabalho se

expandiu e motivou outros países como Alemanha e Estados Unidos a atender crianças

doentes que se afastavam das escolas. Portanto, o marco que provocou a entrada dos

pedagogos nos hospitais foi a Segunda Guerra Mundial. O grande número de crianças

e adolescentes feridos, doentes e impossibilitados de frequentar as escolas obrigou os

médicos e os educadores a unirem-se em prol da recuperação dos pacientes.

No Brasil, a Pedagogia Hospitalar se firmou com o reconhecimento dos Direitos da Crian-

ça e do Adolescente Hospitalizados transformados na resolução 41 da Constituição

GestãO EDUCACIONAL I 83
Brasileira e aprovada em outubro de 1995. A lei ressalta que toda criança hospitalizada

tem direito de participar de atividades educativas e recreativas enquanto está internada e

que sua família tem o direito de participar e acompanhar todo o processo de internação.

Sabemos que a doença faz parte de processos naturais do corpo humano e em mui-

tos casos é inevitável. A internação hospitalar é parte do tratamento e da recuperação

da saúde. No entanto, a criança quando é hospitalizada passa por mudanças em sua

rotina e hábitos familiares que a deixam insegura. Afastá-la da escola e do convívio

com os amigos provoca medo e angústias que tornam o processo de recuperação ain-

da mais difícil. O papel do pedagogo hospitalar é tornar esse ambiente descrito menos

hostil e favorável a seu desenvolvimento e aprendizagem.

Segundo Fonseca (2008), as crianças doentes continuam a aprender e a se desenvol-

ver enquanto estão internadas. Cabe ao pedagogo estimulá-las de forma adequada

para que ela dê continuidade ao processo de construção de seu conhecimento. O pe-

dagogo hospitalar é ainda um elo entre a criança internada e o mundo lá fora. Esse elo

é capaz de elevar sua autoestima e auxilia no entendimento da doença e de sua recu-

peração. Para isso, o pedagogo hospitalar deve ser capaz de mudar o foco da doença

e o ambiente de dor e trazer novas perspectivas de vida, de superação e aprendizado.

Nesse sentido, podemos perceber que a principal atuação do pedagogo hospitalar é

na interação e na socialização da criança internada com as demais pessoas do am-

bientes, outros pacientes, enfermeiros, médicos e demais integrantes da equipe de

trabalho do hospital. Sobre essa questão, Fonseca (2008, p.29) enfatiza que:

O professor da escola hospitalar é, antes de tudo um mediador das interações da crian-


ça com o ambiente hospitalar. Por isso, não lhe deve faltar, além de sólido conhecimento
das especialidades da área de educação, noções sobre as técnicas e terapêuticas que
fazem parte da rotina da enfermaria, e sobre as doenças que acometem seus alunos e
os problemas (mesmo os emocionais) delas decorrentes, tanto para as crianças como
também para os familiares e para as perspectivas de vida fora do hospital.

84 GestãO EDUCACIONAL I
Cabe também ao pedagogo hospitalar manter contato com a escola de origem do

aluno internado e dessa forma, dar continuidade aos conteúdos de ensino e manter

ainda o professor do ensino regular informado sobre o desenvolvimento do aluno e do

trabalho realizado.

Além disso, o trabalho nos hospitais exige do pedagogo uma grande capacidade de

adaptação e de destreza para trabalhar com planos e programas abertos, mobiliário

diferenciado, aparelhos e outras coisas importantes para a situação especial do aluno

internado. A esse respeito, Fonseca (2008, p.37) nos alerta:

O perfil pedagógico-educacional do professor deve adequar-se à realidade hospitalar na


qual transita, ressaltando as potencialidades do aluno e auxiliando-o no encontro com a
vida que, apesar da doença, ainda pulsa dentro da criança com força suficiente para ser
percebida. Em outras palavras, o professor contribui para o aperfeiçoamento da assis-
tência de saúde, de maneira a tornar a experiência da hospitalização, ainda que sempre
indesejável, um acontecimento com significado para as crianças que dela necessitam.

Por meio das palavras do autor podemos notar que o papel do pedagogo hospitalar não é

o de resgatar a realidade escolar no hospital e sim, transformar a relação entre o paciente,

a doença e o hospital de forma a aproximá-los em busca da cura. Para isso, é muito im-

portante que o pedagogo seja uma pessoa emocionalmente equilibrada e capaz de lidar

com diferentes situações que permeiam desde a alta do paciente, bem como seu óbito.

Outro aspecto importante do trabalho do pedagogo hospitalar é o auxílio aos familia-

res. Nessa tarefa social, o pedagogo compreende que a família encontra-se fragiliza-

da e assustada com o problema de saúde da criança. Sua tarefa é prestar conforto

a eles e promover uma relação de confiança com o hospital, os demais profissionais

que atendem as crianças e em relação ao tratamento oferecido. Para isso, é necessá-

rio ter muita ética e orientar a família a não ter receio de tirar suas dúvidas, de procurar

os profissionais envolvidos com o tratamento da criança para obter maiores informa-

ções e questionar abertamente sobre o período de internação, sobre o tratamento, as

chances reais de cura e outras informações necessárias.

GestãO EDUCACIONAL I 85
Diante dessa descrição podemos notar que o trabalho pedagógico nos hospitais é um

recurso que rompe com as barreiras entre o ensino e a escola. Além disso, o pedago-

go hospitalar contribui diretamente para a humanização do tratamento nos hospitais

e presta assistência em diversas esferas. Auxilia os familiares, o educando internado,

proporciona integração entre a família, a criança e o hospital e mediante inúmeras ativi-

dades torna a estadia do paciente menos penosa e com maiores perspectivas de cura.

Para saber mais sobre os campos de atuação do pedagogo hospitalar, faça a leitura

do SAIBA MAIS abaixo e fique por dentro!

SAIBA MAIS
O papel do pedagogo hospitalar

Por: Andrieli Silva

Introdução

O profissional que trabalha na área da saúde deve zelar pelo bem-estar físico e psí-

quico do paciente. O pedagogo possui um papel muito importante e vem conquistando

seu espaço e a classe hospitalar é um desses espaços.

Nos hospitais há crianças e adolescentes internados que muitas vezes perdem o ano

letivo por permanecerem hospitalizados. O pedagogo neste espaço, tem papel fun-

damental dentro da educação, pois tem como finalidade acompanhar a criança ou

adolescente no período de ausência escolar.

O trabalho existe do pedagogo hospitalar mas deveria se dar mais atenção para que

fossem criados classes hospitalares em todos os locais da saúde. Este trabalho ca-

racteriza-se por educação especial realizado com diferentes atividades e por atender

crianças e adolescentes internados, recuperando a criança num processo de inclu-

são oferecendo condições de aprendizagem. A classe hospitalar oferece à criança a

vivência escolar. O professor, neste caso, precisa ter um planejamento estruturado e

flexível. O ambiente da classe hospitalar deve ser acolhedor, um espaço pedagógico

86 GestãO EDUCACIONAL I
alegre e aconchegante fazendo com que a criança ou adolescente enfermo melhorem

emocional, mental e fisicamente.

[...] a necessidade de formular propostas e aprofundar conhecimento teóricos e meto-

dológicos, visando em atingir o objetivo de dar continuidade aos processos de desen-

volvimento psíquico e cognitivo das crianças e jovens hospitalizados (CECCIM, R. B.

& FONSCECA, 1999, p.117).

A pedagogia hospitalar poderá atuar nas unidades de internação ou na ala de recrea-

ção do hospital. Como direito da criança, “desfrutar de alguma recreação, programas

de educação para a saúde e acompanhamento do currículo escolar durante sua per-

manência no hospital” (CNDCA, 1995).

Esta nova prática pedagógica ameniza o sofrimento da criança internada no hospital,

o paciente se envolve em atividades direcionadas por profissionais voltados a área

da educação, desta forma, ele retorna mais confiante no seu regresso na sociedade.

A pedagogia hospitalar é um modo de ensino da Educação Especial que visa a ação

do educador no ambiente hospitalar, no qual atende crianças ou adolescentes com

necessidades educativas especiais transitórias, ou seja, crianças que por motivo de

doença precisam de atendimento escolar diferenciado e especializado. Cabe ao hos-

pital buscar alternativas e métodos qualificados que possibilitem aos pacientes usufru-

írem de abordagens educativas por um determinado espaço de tempo.

Este novo espaço de educação nos hospitais é desenvolvida pela necessidade de

atender crianças afastadas da escola e também é um espaço de ajuda nos transtor-

nos emocionais, causados pela internação, como a raiva, insegurança, incapacidades

e frustrações que podem prejudicar na recuperação do paciente.

A Pedagogia Hospitalar é um processo alternativo de educação, pois ultrapassa os

métodos tradicionais escola/aluno, buscando dentro da educação formas de apoiar o

paciente no hospital. É um atendimento que pode auxiliar no processo de recupera-

ção do paciente, caracterizado como uma nova modalidade educacional. Conforme

Ceccim apud Ortiz e Freitas “parece-me que, para a criança hospitalizada, o estudar

GestãO EDUCACIONAL I 87
emerge como um bem da criança sadia e um bem que ela pode resgatar para si mes-

ma como um vetor de saúde no engendramento da vida, mesmo em fase do adoeci-

mento e da hospitalização” (2005, p.47).

A pedagogia hospitalar é um desafio, nesta área o pedagogo desenvolve um trabalho

solidário ajudando pacientes prejudicados na sua escolarização, proporcionando co-

nhecimento e qualidade de vida ao paciente. A educação no hospital tem como prin-

cípio, o atendimento personalizado ao educando na qual se trabalha uma proposta

pedagógica com as necessidades, estabelecendo critérios que respeitem a patologia

do paciente. No hospital a criança está longe do seu cotidiano voltado pelos amigos,

brincadeiras e escola entrando em contato com integrantes do hospital enfermeiras,

médicos além da família, por isso é fundamental a atenção do educador, em articular

atividades para a aceitação do paciente no hospital.

Também e importante trazer para o hospital objetos pessoais das crianças como ur-

sinhos, travesseiros, brinquedos etc., para tranqüilizar a criança durante sua interna-

ção. De acordo com Matos o educador deve buscar em si mesmo o verdadeiro sentido

de “educar”, deve ser o exemplo vivo de seus ensinamentos e converter sua profissão

numa atividade cooperadora do engrandecimento da vida. Para isso deve pesquisar,

inovar e incrementar seus conhecimentos pedagógicos, expandir sua cultura geral e

procurar conhecer e desenvolver novos espaços educacionais que possam de certa

forma amenizar e possibilitar continuidade educativa. Dentro deste ângulo de pos-

sibilidade educativa cabe ressaltar uma área de educação diferenciada – o hospital

– onde se encontram crianças em tempo de escolarização, porém afastadas do am-

biente de sala de aula, algumas por tempo prolongado devido a enfermidades. Daí a

necessidade de transferência do local comum de aprendizagem – a escola – para o

hospital (1998, p. 4).

O hospital é um espaço que necessita de um pedagogo hospitalar pois muitas crian-

ças e adolescentes perdem o ano letivo por estarem hospitalizados, pensando neste

problema o pedagogo deve atuar neste espaço onde as situações de aprendizagem

88 GestãO EDUCACIONAL I
fogem do ambiente escolar. No hospital, as crianças são ignoradas como alunos e

vistas somente como pacientes.

A educação é fundamental e deve estar presente sempre independente das condições

que a pessoa se encontre, neste caso a pedagogia hospitalar contribui possibilitando

que a criança e o adolescente continue aprendendo. Há muitas crianças hospitaliza-

das que precisam de atendimento escolar. Para Libâneo a Pedagogia é uma área de

conhecimento que investiga a realidade educativa no geral e no particular, mediante

conhecimentos científicos, filosóficos e técnicos profissionais buscando explicitação

de objetivos e formas de intervenção metodológicas e organizativas em instâncias

da atividade educativa implicada no processo de transmissão/ apropriação ativa de

saberes e modo de ação (2001, p. 44).

O aumento de classes hospitalares e a preparação do pedagogo hospitalar é uma das

questões que necessitam reflexão e estudo. Justifica-se, neste sentido o estudo pro-

posto: o papel do pedagogo hospitalar, cujos objetivos são analisar a importância do

pedagogo hospitalar, reconhecendo a formação do mesmo para promover processos

educativos neste espaço não escolar, identificar os princípios que orientam a atuação

do pedagogo hospitalar, investigar estratégias pedagógicas para atuação do pedago-

go no espaço hospitalar.

A metodologia para o estudo estará centrada na análise quantitativa dos dados co-

letados, em uma investigação que permite obter conhecimento acerca da pedagogia

hospitalar. A metodologia segundo Barros

consiste em estudar e avaliar os vários métodos disponíveis, identificando suas limi-

tações ou não ao nível das implicações de suas utilizações. A Metodologia, num nível

aplicado, examina e avalia as técnicas de pesquisa bem como a geração ou verifica-

ção de novos métodos que conduzem à captação e processamento de informações

com vistas à resolução de problemas de investigação (1986, p.1 ).

A metodologia está relacionada com o método quanto a forma de realizar coleta e

analise de informações. Para Oliveira

GestãO EDUCACIONAL I 89
o Método deriva da Metodologia e trata do conjunto de processos pelos quais se torna

possível conhecer uma determinada realidade [..]” que “nos leva a identificar a forma

pela qual alcançamos determinado fim ou objetivo. (1997, p. 57).

Desenvolvimento

De acordo com as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Bási-

ca no que diz respeito à classe hospitalar no artigo 13 da resolução nº 2 de 2001 essa

modalidade já é reconhecida oficialmente.

No século XVI está se ampliando o mercado de trabalho para o pedagogo, em espa-

ços não escolares. O pedagogo tem novos campos de atuação saindo do cotidiano

escolar, que até pouco tempo, era seu único espaço de trabalho, para se inserir em

novos locais com uma visão diferente da atuação deste profissional. Abrem-se novos

espaços para educação, em locais como hospitais, ONGs, empresas, eventos..., esse

contexto vem mudando a idéia que o pedagogo está apto somente para ficar dentro

de uma sala de aula, estendendo-se para outros espaços pois nos espaços que há

ensino há prática pedagógica. O pedagogo está se inserindo em diversas áreas no

mercado de trabalho mostrando sua capacitação visando à aprendizagem do conhe-

cimento humano. Conforme Libâneo

todos os educadores seriamente interessados nas ciências da educação, entre elas

a Pedagogia, precisam concentrar esforços em propostas de intervenção pedagógica

nas várias esferas do educativo para enfrentamento dos desafios colocados pelas

novas realidades do mundo contemporâneo (1995,p.59).

A formação no curso de Pedagogia está possibilitando novos campos de atuação, de-

safiando a todos os pedagogos na sua prática educativa nos espaços não escolares

valorizando a educação e trazendo novas conquistas.

Papel do pedagogo

O pedagogo hospitalar tem papel fundamental dentro da educação pois tem como

90 GestãO EDUCACIONAL I
finalidade acompanhar a criança ou adolescente no período de ausência escolar, in-

ternados em instituições hospitalares.

O trabalho existe, porém deveria ter mais atenção para que fossem criados classes

hospitalares em todos os locais da saúde, bem como atendimento de ensino de edu-

cação especial na modalidade de educação especial caracterizado pela realização de

diferentes atividades e por atender crianças e adolescentes internados, recuperando

a criança em um processo de inclusão, oferecendo condições de aprendizagem. A

classe hospitalar oferece à criança a vivência escolar, o professor precisa ter um pla-

nejamento estruturado e flexível. O ambiente da classe hospitalar deve ser acolhedor,

um espaço pedagógico alegre e aconchegante fazendo com que a criança enferma

melhore emocional, mental e fisicamente.

A pedagogia hospitalar poderá atuar nas unidades de internação ou na ala de re-

creação do hospital. Esta nova prática pedagógica ameniza o sofrimento da criança

internada no hospital, o paciente se envolve em atividades pedagógicas planejadas

por profissionais voltados a área da educação. Para Ortiz (1999): “A classe hospi-

talar é uma abordagem de educação ressignificada como prioridade, ao lado do

tratamento terapêutico”.

A pedagogia hospitalar é um modo de ensino da Educação Especial que visa a ação

do educador no ambiente hospitalar, no qual atende crianças com necessidades edu-

cativas especiais transitórias, ou seja, crianças que por motivo de doença precisam de

atendimento escolar diferenciado e especializado. Cabe ao hospital buscar alternati-

vas e métodos qualificados que possibilitem aos pacientes usufruírem de abordagens

educativas por um determinado espaço de tempo.

Este novo espaço de atuação do Pedagogo vem sendo estudado como uma nova

visão de ensinar, dando oportunidade as crianças afastadas da escola por motivos de

saúde, também ajuda nos transtornos emocionais causados pela internação, como a

raiva, insegurança, incapacidades e frustrações que podem prejudicar na recupera-

ção do paciente.

GestãO EDUCACIONAL I 91
A Pedagogia Hospitalar é um processo alternativo de educação, pois ela ultrapassa os

métodos convencionais escola/aluno, buscando dentro da educação formas de apoiar

o paciente (crianças e adolescentes) hospitalizados.

A pedagogia hospitalar é um desafio, para o pedagogo que desenvolve um trabalho

humanizado ajudando pacientes prejudicados na sua escolarização, proporcionando

conhecimento e qualidade de vida ao paciente. A educação no hospital tem como

princípio o atendimento personalizado ao educando na qual se trabalha uma proposta

pedagógica com as necessidades, estabelecendo critérios que respeitem a patologia

do paciente. No hospital a criança está longe do seu cotidiano voltado pelos amigos,

brincadeiras e escola entrando em contato com integrantes do hospital enfermeiras,

médicos além da família, por isso e fundamental a atenção do educador em articular

atividades para a aceitação do paciente, na situação de internação no hospital.

O professor deve se adaptar a realidade em que a criança se encontra no hospital

como a área disponível para a realização das atividades lúdicas pedagógicas, recrea-

tivas; densidade de leitos na enfermaria pediátrica e dinâmica da utilização do espaço;

adaptar agenda de horários. O pedagogo ao implantar uma classe hospitalar deve se

preocupar com a presença da brinquedoteca. Para Cunha (2001), vem abordar a in-

fância e a função da brinquedoteca, em que esta última configura-se como um espaço

destinado à brincadeira, onde a criança brinca sossegada, sem cobrança e sem sentir

que está perdendo tempo, estimulando sua auto-estima e o processo sócio-cognitivo.

Atuação de recreadores e também a presença dos pais ou responsáveis integrando

-os nas atividades correntes de uma classe hospitalar. Segundo Cunha

as formas de convivência democrática encorajam a autonomia e estimula o amadu-

recimento emocional. Nesse espaço tão especial que é a brinquedoteca, a criança

pode conhecer novos tipos de relacionamento entre as pessoas de forma prazerosa

e enriquecedora [...] (p.37).

O profissional deve ser criativo explorar os espaços, podendo assim realizar dinâ-

micas de teatro, propor maneiras e materiais alternativos na confecção de jogos e

92 GestãO EDUCACIONAL I
brinquedos. Sendo assim, as classes hospitalares possuem uma pedagogia carac-

terizada pela educação sistematizada, no qual a planejamento no ensino, avaliação,

encontro e socialização das crianças e professores, no hospital deve proporcionar um

espaço onde as crianças possam expor seus trabalhos (murais), lugar para guardar

lápis, papéis, cadernos etc.

O local deve ser lúdico e recreativo tendo jogos e brincadeiras, realizadas de acordo

com o estado do paciente, com o intuito de expressar a partir de uma linguagem sim-

bólica, medos, sentimentos e idéias que ajudem no enfrentamento da doença e do

ambiente. O trabalho do pedagogo hospitalar também tem como proposta a interven-

ção terapêutica procurando resgatar seu espaço sadio, provocando a criatividade, as

manifestações de alegria, os laços sociais e a diminuição de barreiras e preconceitos

da doença e da hospitalização, a metodologia deve ser variada mudando a rotina da

criança no qual permanece no hospital.

Uma das didáticas utilizadas é a utilização de atividades nas áreas de linguagem

(narrativa de histórias, problematizações, leitura de imagem, comunicação através

de atividades lúdicas), estas atividades podem auxiliar numa prática humanizada no

atendimento Escolar / Hospitalar. “Ser diferente e por isso, ter de ficar de fora é muito

doloroso, vencer os obstáculos impostos pelas doenças, ao contrário é vitória, apren-

dizagem e desenvolvimento. E as classes hospitalares podem ter esse mérito” (FON-

SECA E CECCIM,1999, p.71).

Os materiais pedagógicos devem ser manuseados e transportados com facilidade,

podendo utilizar teclados de computador adaptados, suporte para lápis, o Softwares

educativos, vídeos educativos etc.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O pedagogo que desenvolve seu trabalho no ambiente hospitalar tem uma importante

função na sociedade, é um espaço novo para a atuação do mesmo por isso deve ter

clareza da sua atuação neste espaço que envolve muitos cuidados e dedicação pois

GestãO EDUCACIONAL I 93
os pacientes envolvidos no processo de aprendizagem necessitam de muita atenção

e compreensão. As crianças e adolescentes que ali permanecem precisam de muito

apoio tanto físico quanto emocional e o pedagogo pode contribuir para que a melho-

ra deste paciente seja satisfatória pois o pedagogo tem a possibilidade de aliviar a

ansiedade da criança através de suas práticas pedagógicas voltada para a mesma

envolvendo a família que é muito importante neste processo de cura e recuperação

da criança.

Porém, para que haja um trabalho de qualidade é preciso avançar na execução do tra-

balho, exemplo disso é a carência de ensino nos cursos de graduação na Pedagogia

voltado ao trabalho hospitalar.

A pedagogia hospitalar dá suporte ao desenvolvimento de aprendizagem do aluno

dentro do hospital garantindo o direito da criança dar continuidade aos seus estudos,

motivando a mesma a continuar depois de sua alta do hospital, mas nessa prática o

paciente ficaria privado de seus estudos, limitado a aprender os conteúdos escolares.

Fonte: <http://meuartigo.brasilescola.com/educacao/o-papel-pedagogo- hospitalar.

htm>. Acesso em: 12 fev. 2015.

Leia Mais
Você encontra mais informações sobre esse tema nos artigos dos sites indicados

abaixo. Bons estudos!

<http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n29/n29a10.pdf>.

<http://www.usc.br/biblioteca/pdf/sie_2008_educ_arti_ambientes_hospitalares_

qual_o_papel_do.pdf>.

94 GestãO EDUCACIONAL I
indicaçãO de leitura

Faça a leitura do livro “Pedagogia Hospitalar - A Humanização

Integrando Educação e Saúde”, das autoras Elizete Lucia Matos

e Margarida Teixeira de Freitas e veja como a pedagogia pode

contribuir com as áreas da saúde.

A educação é o mais importante foco de uma sociedade, é com

ela que nos desenvolvemos e crescemos melhores como nação

e como cidadãos. E o educador tem como missão passar tais conhecimentos a todos.

Levar conhecimento àqueles que encontram-se impossibilitados de ir buscá-los é o

caminho apresentado pela obra.

filmes recOmendadOs

Sinopse:

Em 1969, após tentar se suicidar, Hunter Adams (Robin Williams)

voluntariamente se interna em um sanatório. Ao ajudar outros

internos, descobre que deseja ser médico, para poder ajudar

as pessoas. Deste modo, sai da instituição e entra na faculda-

de de medicina. Seus métodos poucos convencionais causam

inicialmente espanto, mas aos poucos vai conquistando todos,

com exceção do reitor, que quer arrumar um motivo para expulsá-lo, apesar dele ser

o primeiro da turma.

Fonte: <http://www.filmesonlinegratis.net/assistir-patch-adams-o-amor-e-contagioso-

dublado-online.html>. Acesso em: 15 fev. 2015.

GESTÃO EDUCACIONAL I 95
Pedagogia empresarial

A pedagogia na empresa é uma prática bastante recente, principalmente no Brasil.

Segundo Ribeiro (2010) ela surgiu devido a necessidade de formação ou preparação

para atuação no setor de Recursos Humanos nas empresas. No entanto, nem todas

as empresas preocupam-se com o desenvolvimento de seus recursos humanos, en-

tendidos como fator essencial para o êxito e o sucesso das empresas.

Por meio dessa preocupação com o desenvolvimento dos recursos humanos empre-

sariais e o incentivo à formação profissional, surgem novas demandas de trabalho

incentivadas inclusive por leis governamentais como a número 6.297\75 que possi-

bilitava a dedução de impostos empresariais com projetos de formação profissional.

A partir daí o pedagogo ganha espaço nas empresas atuando na área de Desenvolvi-

mento de Recursos Humanos, especificamente em treinamento pessoal, responsável

pela preparação e formação de mão de obra para o atendimento das necessidades da

empresa. Assim, segundo Ribeiro (2010, p74):“Um dos propósitos da Pedagogia na

Empresa é a de qualificar todo o pessoal da organização nas áreas administrativas,

operacional, gerencial, elevando a produtividade e a qualidade organizacional”.

Mediante as palavras de Ribeiro é possível concluir que a atuação do pedagogo

na empresa em nada se compara com sua atuação na escola. Na empresa, seu

96 GestãO EDUCACIONAL I
pressuposto principal é a filosofia dos recursos humanos adotados pela empresa, daí

inclusive a necessidade de treinamento.

Dentro da empresa o pedagogo auxilia na formação de profissionais destacando

pontos importantes para atuação nos mercados modernos e formando competências

como espírito de liderança, orientação para atendimento ao cliente, orientação na

busca de resultados, a comunicação clara e objetiva, a criatividade e a proatividade, a

busca contínua pelo aprendizado, a flexibilidade e adaptabilidade e outros.

Portanto, o pedagogo empresarial atua na realidade, como um elemento de ligação

entre a empresa e seu funcionário. Para isso, ele atua junto ao Departamento de

Recursos Humanos, tornando esse departamento mais atualizado em relação aos

indivíduos, a sociedade e a empresa. Trabalham, sobretudo, para tornar o espaço

organizacional mais valorizado e mais humano.

De acordo com essa perspectiva, as atividades de treinamento tornam-se estratégias de

socialização e por meio da comunicação e troca de experiências, o conhecimento ultra-

passa a realidade da empresa e passa a fazer sentido na vida pessoal dos funcionários.

Além disso, cada funcionário passa a ser considerado e valorizado em sua singularidade,

deixando de representar apenas um número a mais ou um registro dentro da organização.

Essa transformação modifica também a função da empresa. A Empresa passa a ser

também um espaço educativo, estruturado e organizado em grupos de pessoas que

trabalham em prol dos mesmos objetivos. Nesse caso, segundo Ribeiro (2010, p.11):

Cabe à pedagogia a busca de estratégias e metodologias que garantam uma aprendi-


zagem melhor/apropriação de informações e conhecimentos, tendo sempre como pano
de fundo a realização de ideais e objetivos precisamente definidos. Tem como finalidade
principal provocar mudanças no comportamento das pessoas de modo que estas me-
lhorem tanto a qualidade do seu desempenho profissional quanto pessoal.

Dessa forma, é possível concluir que a pedagogia empresarial existe basicamente

para dar suporte em relação a estruturação de mudanças no ambiente de trabalho e

ampliar a aquisição de conhecimentos dos profissionais.

GestãO EDUCACIONAL I 97
Nessa perspectiva, o objetivo da pedagogia empresarial é construir os conhecimen-

tos, as competências, as habilidades e atitudes indispensáveis para a melhoria da

qualidade do ambiente de trabalho e da produtividade. Para isso, é necessário desen-

volver projetos, implantar programas, realizar treinamentos e desenvolver a metodo-

logia adequada para que a informação chegue a todos.

Ribeiro (2010) enxerga o campo de ação da pedagogia empresarial como algo ainda

mais amplo e lista áreas, como:

• Coordenação de ações culturais e gibitecas, brinquedotecas, parques temáti-


cos, fundações culturais, teatros, parques e zoológicos;

• Desenvolvimento de recursos humanos nas empresas;


• Direção e administração de instituições de ensino;
• Elaboração de políticas públicas, visando à melhoria dos serviços à popula-
ção, nas esferas municipais, estaduais e federais;

• Gestão e desenvolvimento de conselhos tutelares, centros de convivência,

abrigos e organizações não governamentais;

• Coordenação de equipes multidisciplinares no desenvolvimento de projetos;


• Gerenciador de mudanças no ambiente de trabalho;
• Consultor interno para treinamento e desenvolvimento de pessoas da organização.
Essas atividades permitem que o pedagogo atue em escolas, empresas, hospitais,

assumindo funções administrativas e técnico-pedagógicas. Dessa forma é possível

atuar na proposição de objetivos e metas a serem atingidos a partir de um diagnóstico

da realidade institucional, propor e coordenar atualizações de profissionais de empre-

sas e órgãos ligados à áreas educacional, coordenar, planejar e avaliar o desempe-

nho profissional em empresas e outras instituições.

Você já percebeu que o campo de atuação da pedagogia empresarial é bastante am-

plo e para saber mais sobre o assunto faça a leitura do Saiba Mais abaixo.

98 GestãO EDUCACIONAL I
Pedagogia Empresarial

Por: Patrícia Rocha Cassimiro  

O pedagogo como instrumento de educação na empresa tem capacidade e os co-

nhecimentos necessários para identificar, selecionar e desenvolver pessoas para o

âmbito empresarial. Este profissional possui competências para trabalhar na área de

recursos humanos.

A pedagogia vive a procura de estratégias e metodologias que garantam uma melhor

aprendizagem, apropriação de conhecimentos, tendo como alvo principal gerar mu-

danças no comportamento das pessoas de modo que estas melhorem tanto a quali-

dade da sua atuação profissional quanto pessoal.

Portanto em função de toda a mudança, ocorre à necessidade do pedagogo se tornar

uma pessoa critica e visionária capaz de se adaptar a mudanças, mais flexível, e que

contribua efetivamente para o processo empresarial, com objetivo primordial de se

apresentar de forma prática e teórica a função da área de treinamento e desenvolvi-

mento de pessoal, bem como sua utilização para alcançar objetivos organizacionais.

Transmitir técnicas de levantamento de necessidades, elaboração, mensuração, pro-

gramas de treinamento. E também compreender e elaborar formas de mensurar resul-

tados em treinamento e desenvolvimento.

O maior patrimônio da empresa é o ser humano por este motivo o foco maior é a ges-

tão de pessoas. Nesses últimos tempos os lideres estão mais prudentes e dando mais

valor aos seus colaboradores e a empresa.

O que se pode observar claramente é que o pedagogo empresarial cumpre um impor-

tante papel dentro das empresas e organizações articulando as necessidades junto

da gestão de conhecimentos. Cabe a este profissional provocar mudanças comporta-

mentais nas pessoas envolvidas, favorecendo os dois lados: o funcionário que quan-

do motivado e por dentro dos conhecimentos necessários, sente-se melhor e produz

mais e a empresa que quando se matem com pessoas qualificadas obtém melhores

resultados e maiores lucratividades.

GestãO EDUCACIONAL I 99
Contudo, o pedagogo e a empresa fazem uma ótima combinação, pois em tempos

modernos ambos têm o mesmo objetivo de formar cidadãos críticos com competên-

cias para tal função.

O pedagogo empresarial necessita de uma formação filosófica, humanística e técni-

cas solidas. Sabendo que seu foco deve estar direcionado para as partes descritas,

empregadores e empregados; ele ainda interage com todos os níveis hierárquicos,

promovendo ações de reciprocidade, de trocas mutuas, através de suas ações de

humanização.

Disponível em: <http://www.infoescola.com/profissoes/pedagogia-empresarial/>.

Acesso em: 13 fev. 2015.

LEIA MAIS
Você encontra mais artigos sobre esse tema nos sites abaixo. Boa leitura!

<http://publicacoes.fatea.br/index.php/eccom/article/view/593/423>.

<http://catolicaonline.com.br/revistadacatolica2/artigosv1n1/5_Pedagogia_empresa-

rial.pdf>.

100 GestãO EDUCACIONAL I


Pedagogia Social

Devido a inúmeras mudanças econômicas e políticas a escola assume hoje diversas

funções que seriam próprias da família e da sociedade. Cabe a escola, não somente

o papel de ensinar, mas também o de resolver grande parte dos problemas sociais de

seus alunos. Eles emergem no contexto educativo com os mais diferentes formatos,

crianças sem moradia, sem vestimenta adequada, sem alimentação, em ambientes

familiares nocivos e sem as condições mínimas para o desenvolvimento humano. E é

nesse contexto conflitante que surge a Pedagogia Social.

A pedagogia social surge no Brasil com o objetivo de mediar a aprendizagem do aluno

submetido à exclusão social. Seu principal representante é Paulo Freire. Segundo

Pinel (2011), Paulo Freire sempre se interessou pela pedagogia social. Justamente

por isso, seu pensamento e discurso são ricos de possibilidades e ideias para o tra-

balho com essa área.

Freire (1983, p.79) afirma: “Já agora ninguém educa ninguém, como tampouco nin-

guém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo

mundo”. Mediante esse discurso, a ideia de que a escola não é o único espaço social

educativo ganha forças e reconhece-se que fora e além da escola existem diversas

formas de educação igualmente significativas e influentes. Em outras palavras, a esco-

la é indispensável para o desenvolvimento humano, mas apenas ela não é suficiente.

GestãO EDUCACIONAL I 101


Não podemos jogar sobre seus ombros toda a luta contra a exclusão social. Para dar

apoio teórico e pratico às ações educativas realizadas fora da escola contamos com

as inúmeras contribuições da pedagogia social. Nesse momento você pode estar se

perguntando: Mas afinal, o que é pedagogia social?

Segundo Pinel (2011), Pedagogia Social é uma ciência que pertence ao rol das ciên-

cias da educação e como tal, se ocupa particularmente da educação que acontece

especialmente nos locais na qual a educação formal não consegue chegar e por meio

das relações de ajuda a pessoas, jovens e crianças que não possuem suas necessi-

dades fundamentais atendidas. Por isso, o objetivo primordial da pedagogia social é

prestar ajuda no âmbito social e educativo.

Existem muitas concepções teóricas e de pesquisa sobre a Pedagogia Social, vou

enumerar algumas para que você perceba o quanto o campo de atuação e estudo é

amplo. Para isso, contarei com o auxílio dos estudos de Pinel (2011, p.25):
A. Identificação e potencialização dos fatores sociais que, intencionalmente ou não, estão presen-

tes nas diversas instituições da sociedade;

B. Doutrina de identificação política e nacionalista do indivíduo;

C. Dimensão das ciências da educação que se ocupa da formação à sociabilidade humana, parti-

cularmente dentro das escolas;

D. Pedagogia de ajuda para os casos de necessidade, com intenção preventiva e compensatória;

E. Pedagogia crítica em resposta à necessidade de solidariedade social para o desenvolvimento

do voluntariado, instituições de acolhida, prevenção, recuperação, reinserção social.

A partir dessas linhas teóricas podemos então analisar melhor os campos de ação da

pedagogia social. Para Pinel (2011, p.33), a Pedagogia Social é definida como uma

ciência que “produz, para as instituições socioeducativas, soluções educacionais prio-

ritariamente preventivas e curativas para situações conflituosas e problemáticas vivi-

das por indivíduos ou grupos”. De acordo com essa perspectiva, a função primordial

do pedagogo social é debruçar-se sobre uma determinada realidade e analisar seus

problemas. O próximo passo é articular projetos e programas socioeducativos para

102 GestãO EDUCACIONAL I


superar as situações de risco ou limites vivenciadas. Nesse momento, sua atuação

se dá especificamente no ato de encontrar as soluções voltadas para o bem-estar

dos destinatários. Essas soluções podem ser variadas: dinâmicas, procedimentos ou

ações coordenadas a projetos, processos isolados ou ligados a programas que lhe

garantam uma base pedagógica ou política.

A solução apontada pelo pedagogo social também pode ser do campo técnico. Um

exemplo disso seriam os projetos voltados para a prevenção da violência em deter-

minadas escolas, bairros ou comunidades. Tais projetos não surgem de um estudo

ou pesquisa sobre o contexto da comunidade. Ao contrário, surge para resolver uma

questão específica, mas que envolve a participação de todos como os educadores,

pais, gestores e a própria comunidade. O projeto finaliza quando a qualidade de vida

dos indivíduos ou do grupo é retomada e com isso pode se constatar o desenvolvi-

mento educativo integral do ambiente em que foi aplicado.

Outra atuação da Pedagogia Social é junto à Educação Social. Ela é uma dimensão

prática da pedagogia social e tende a intervir em situações como pedidos de ajuda, de

solidariedade, orientação para pessoas, sobretudo, jovens necessitados de orienta-

ção. Envolve também ações preventivas como a ocupação do tempo livre e o desen-

volvimento de atividades culturais como esportes, lazer, música, teatro e arte.

Já Pinel (2011) afirma que no campo do trabalho social o pedagogo pode atuar ainda

com a:

1. Atenção à infância com problemas (abandono, ambiente familiar desestrutu-

rado etc.);
2. Atenção à adolescência (orientação pessoal, profissional, tempo livre e férias);

3. Atenção à juventude (política de juventude, associacionismo, voluntariado,

atividades, empregos etc.)

4. Atenção à família em suas necessidades existenciais (famílias desestrutura-

das, adoção, separações etc.)

5. Atenção à terceira idade;

GestãO EDUCACIONAL I 103


6. Atenção aos deficientes físicos, sensoriais e psíquicos;

7. Prevenção e tratamento das toxicomanias e do alcoolismo – dentro da pers-

pectiva de educação em saúde e saúde pública;

8. Atenção a grupos marginalizados (imigrantes, minorias étnicas, presos e ex

-presidiários);

9. Prevenção da delinquência juvenil;

10. Promoção da condição social da mulher;

11. Educação de adultos.

Diante de espaços tão amplos de atuação é importante frisar que o trabalho pedagógi-

co no campo social se compromete com a aprendizagem significativa dos sujeitos que

os leva a crescer de forma consciente da realidade vivida. Conhecendo o contexto

no qual vivem, o objetivo é capacitar os sujeitos para que possam atuar e modificar a

realidade imediata tornando-se assim cidadão capazes.

Caso você esteja interessado em conhecer mais sobre a Pedagogia Social faça a

leitura do Saiba Mais abaixo e fique por dentro!

SAIBA MAIS
“Origem e evolução da Pedagogia Social”

A Pedagogia Social apresenta-se, para os diferentes autores, como uma ciência que

permite a criação de conhecimentos, como uma disciplina que possibilita sistemati-

zação, reorganização e transmissão de conhecimentos  e como uma  profissão com

dimensão prática, com ações orientadas e intencionais.

A Pedagogia Social é uma ciência da educação social, dirigida a indivíduos e grupos e na

qual se centraliza nos problemas humanos e sociais, na qual podem ser tratados a partir de

empenho educativo, é uma ciência do trabalho social a partir duma perspectiva educativa.

A Pedagogia Social é uma ciência da educação social, dirigida a indivíduos e grupos,

na qual se centraliza nos problemas humanos e sociais e na qual podem ser tratados

104 GestãO EDUCACIONAL I


a partir de empenho educativo, é uma ciência do trabalho social a partir duma pers-

pectiva educativa.

Começou por ser um ramo da Pedagogia geral, mas com o decorrer dos anos, ganhou

um grau de diferenciação em virtude quer das metodologias quer dos novos contextos.

A Pedagogia Social passa assim pela intervenção que se faz em situações normaliza-

das de necessidade ou anomia sobre os indivíduos.

O conceito mais generalizado para Pedagogia Social compreende uma ciência da

educação social das pessoas e grupo se, uma ciência do trabalho social a partir duma

perspectiva educativa.

As principais características da Pedagogia Social são, uma ciência pedagógica, de

carácter teórico-prático, que se refere à socialização do sujeito, tanto a partir de uma

perspectiva normalizada como de situações especiais (inadaptação social), assim

como aos aspectos educativos do trabalho social. Implica o conhecimento e a ação

sobre os seres humanos, em situação normalizada como em situação de conflito ou

necessidade.

A partir de uma vertente educativa, às necessidades humanas que convocam o traba-

lho social, assim como ao estudo da inadaptação social.

O indivíduo socializa-se dentro e fora da instituição escolar e, por isso, a educação

social deve efetuar-se em todos os contextos nos quais se desenvolve a vida do ser

humano. Nesse sentido, não pode definir-se exclusivamente por ocupar o espaço não

escolar, o que implicaria uma redução da mesma.

A Pedagogia Social evoluiu, depois da revolução industrial, como consequência da

necessidade de encontrar resposta para os problemas sociais novos que daí resulta-

ram (desemprego, acidentes de trabalho, …), em França, e sobretudo, entre as duas

grandes Guerras, na Alemanha, devido à necessidade de intervir junto de uma popu-

lação jovem com problemas sociais.

É possível identificar quatro tendências teóricas a nível das características atuais da

Pedagogia Social:

GestãO EDUCACIONAL I 105


Teorias críticas da Pedagogia Social;

Pedagogia social entendida como ajuda à juventude, é a sociedade que provoca situ-

ações de carência e inadaptação nos jovens;

Pedagogia Social como trabalho juvenil anti-capitalista (esquerda socialista de 1968);

Pedagogia como higiene social (ajuda às dificuldades de aprendizagem escolar);

Pedagogia Social como trabalho social crítico do Círculo do Trabalho (teoria, ciência

e política).

Reflexão:

Cada vez mais se pode concluir que a Pedagogia Social é uma necessidade aplicável

às sociedades, e a Pedagogia Social numa, (perspectiva clássica) surge em paralelo

com as outras especialidades dentro da pedagogia geral. Corresponde a uma “teoria

da educação social”, tendo por objeto atingir a maturidade social do indivíduo.

A Pedagogia Social, como teoria da ação educativa da sociedade exerce influências

educativas quer individuais (pais, professores e outros) quer coletivas (media, grupos

sociais, etc. …).

Assim, Quintana, (1984) definiu a Pedagogia Social como a ciência do Trabalho So-

cial: um sistema de teorias científicas, tecnologias e teorias tecnológicas sobre fenô-

menos ou classes de fenômenos que correspondem ao conceito de educação terciá-

ria (educação terciária, educação da reinserção social, tendo um caráter corretivo de

reinserção em pessoas com problemáticas de socialização).

LEIA MAIS
<http://www.senept.cefetmg.br/galerias/Anais_2010/Artigos/GT8/EDUCACAO_SO-

CIAL.pdf>.

<http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/rle/n7/n7a06>.

<http://www.am.unisal.br/pos/stricto-educacao/pdf/mesa_8_texto_evelcy.pdf>.

106 GestãO EDUCACIONAL I


atividades para cOmpreensãO dO cOnteÚdO

1) Você já sabe que o pedagogo não age mais somente nas salas de aulas. Atu-

almente é comum encontrá-los como gestores, pesquisadores, coordenadores

dentro e fora das escolas. A demanda por pedagogos em hospitais, presídios,

empresas, ONGs ou ainda nas rádios, televisões e editoras é cada vez maior. No

entanto, existe uma tarefa esperada do pedagogo em seus diversos campos de

ação. A partir dessa afirmação, assinale a alternativa correta:

a) Essa tarefa é a organização de grupos de trabalho para que o setor se organi-

ze, reduza conflitos e aumente a produção.


b) Essa tarefa é o ensino. No entanto, não se trata do ensino escolar, trata-se de

um ensino real, que varia seu objetivo de acordo com as experiências de dife-

rentes espaços.

c) Essa tarefa é auxiliar a família e o paciente na adaptação aos problemas de

saúde enfrentados e capacitar a criança para encarar o internamento como um

procedimento de cura.

d) Todas as alternativas estão corretas.

2) O ensino e a aprendizagem ocorrem também nos hospitais e são inclusive garan-

tidos por lei para as crianças ou jovens doentes que precisam de longos períodos

de internamento ou tratamento domiciliar. A partir dessa informação, assinale a

alternativa correta sobre a atuação do pedagogo hospitalar.

a) Ele pode ajudar a criança a adaptar-se ao novo ambiente, a recuperar sua saú-

de e possibilita ainda seu desenvolvimento por meio de atividades e conteúdos

adequados.

b) Atua aprimorando os processos de aprendizagem e de ensino. Trabalha para a

criação de uma cultura de formação continuada dos funcionários e pela cons-

tante busca de informações.

GESTÃO EDUCACIONAL I 107


c) A função primordial do pedagogo é debruçar-se sobre uma determinada reali-

dade e analisar seus problemas. O próximo passo é articular projetos e progra-

mas para superar as situações de limites.

d) Nenhuma das alternativas está correta.

3) A pedagogia na empresa é uma prática bastante recente, principalmente no Brasil.

Ela surge devido a necessidade de formação ou preparação para atuação no setor

de Recursos Humanos nas empresas. Mediante essa preocupação com o desenvol-

vimento dos recursos humanos empresariais e o incentivo à formação profissional,

surgem novas demandas de trabalho para o pedagogo. A partir dessa informação,

assinale o que for correto afirmar sobre a ação do pedagogo nas empresas:

V. I. Desenvolvimento de recursos humanos nas empresas.

VI. II. Coordenação de equipes multidisciplinares no desenvolvimento de projetos.

VII. III. Gerenciador de mudanças no ambiente de trabalho.

VIII. IV. Consultor interno para treinamento e desenvolvimento de pessoas da organização.

IX. V. Gestão e desenvolvimento de projetos.

Estão corretas:

a) Apenas I e II.

b) Apenas II e V.

c) Apenas I, III e IV.

d) Apenas I, IV e V.

e) Todas as alternativas estão corretas.

4) A pedagogia social surge no Brasil com o objetivo de mediar a aprendizagem do

aluno submetido à exclusão social. A partir dessa informação, assinale a alterna-

tiva correta:

a) Um dos propósitos da Pedagogia Social é o de qualificar todo o pessoal da

organização nas áreas administrativas, operacional, gerencial, elevando a pro-

dutividade e a qualidade organizacional.

108 GestãO EDUCACIONAL I


b) A função do pedagogo social é dar continuidade ao desenvolvimento humano

e escolar do aluno internado, garantindo assim as condições necessárias para

que ele aprenda.

c) Pedagogia Social é uma ciência que se ocupa com a educação que acontece

fora da escola e tem por objetivo prestar ajuda às pessoas que não possuem

suas necessidades fundamentais atendidas.

d) Nenhuma das alternativas está correta.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para auxiliar você na compreensão das discussões feitas nessa unidade, apresenta-

rei abaixo os principais tópicos analisados.


• Já sabemos a algum tempo que o pedagogo não age mais somente nas salas
de aulas. Atualmente é comum encontrá-los como gestores, pesquisadores,

coordenadores dentro e fora das escolas. A demanda por pedagogos em hos-

pitais, presídios, empresas, ONGs ou ainda nas rádios, televisões e editoras

é cada vez maior.

• Essa diversidade de atuação dos pedagogos se deve também às mudanças


socioeconômicas que alteraram os antigos procedimentos educativos. Isso

exige um profissional com saberes diversificados, rápido, competitivo e capaz

de trabalhar em grupo.

• No entanto, o conhecimento científico é um fator indispensável para a for-

mação e o desenvolvimento do profissional pedagogo. Para Moran (2006), o

conhecimento deve aparecer como primeira necessidade na preparação de

profissionais da educação
• A atuação dos pedagogos juntos aos hospitais tem crescido diariamente. Sua
presença é importante, pois quando uma criança é hospitalizada, toda sua

rotina se transforma de maneira brusca.

• Nesse momento, o pedagogo pode ajudar a criança a adaptar-se ao novo

GestãO EDUCACIONAL I 109


ambiente, a recuperar sua saúde e possibilita ainda seu desenvolvimento por

meio de atividades e conteúdos adequados.

• Sua presença é essencial, inclusive para demonstrar que não existem fron-
teiras para a ação educativa. A função do pedagogo hospitalar é dar continui-

dade ao desenvolvimento humano e escolar do aluno internado, garantindo

assim as condições necessárias para que ele aprenda.

• Outro aspecto importante do trabalho do pedagogo hospitalar é o auxílio aos


familiares. Nessa tarefa, o pedagogo compreende que a família encontra-se

fragilizada e assustada com o problema de saúde da criança. Sua tarefa é

prestar conforto a eles e promover uma relação de confiança com o hospital,

os demais profissionais que atendem a crianças e em relação ao tratamento

oferecido.
• A pedagogia na empresa é uma prática bastante recente, principalmente no
Brasil. Segundo Ribeiro (2010) ela surgiu devido a necessidade de formação

ou preparação para atuação no setor de Recursos Humanos nas empresas.

• A atuação do pedagogo na empresa em nada se compara com sua atuação


na escola. Na empresa, seu pressuposto principal é a filosofia dos recursos

humanos adotados pela empresa, daí inclusive a necessidade de treinamen-

to.

• Dentro da empresa o pedagogo auxilia na formação de profissionais desta-


cando pontos importantes para atuação nos mercados modernos e forman-

do competências como espírito de liderança, orientação para atendimento ao

cliente, orientação na busca de resultados, a comunicação clara e objetiva, a

criatividade e a proatividade, a busca contínua pelo aprendizado, a flexibilida-

de e adaptabilidade e outros.
• A pedagogia social surge no Brasil com o objetivo de mediar a aprendizagem
do aluno submetido à exclusão social. Seu principal representante é Paulo

Freire.

110 GestãO EDUCACIONAL I


• Segundo Pinel (2011), a Pedagogia Social é uma ciência que pertence ao rol
das ciências da educação e como tal, se ocupa particularmente da educação

que acontece especialmente nos locais na qual a educação formal não con-

segue chegar e mediante as relações de ajuda às pessoas, jovens e crianças

que não possuem suas necessidades fundamentais atendidas.

• A função primordial do pedagogo social é debruçar-se sobre uma determina-


da realidade e analisar seus problemas. O próximo passo é articular projetos

e programas socioeducativos para superar as situações de risco ou limites

vivenciadas.

• O projeto finaliza quando a qualidade de vida dos indivíduos ou do grupo é


retomada e com isso pode se constatar o desenvolvimento educativo integral

do ambiente em que foi aplicado.

GestãO EDUCACIONAL I 111


112 GestãO EDUCACIONAL I
UNIDADE IV – O papel do pedagogo na
gestão dos ambientes educativos
não escolares

Objetivos a serem alcançados nesta unidade


Prezado(a) Acadêmico(a), ao terminar os estudos dessa unidade, você deverá ser

capaz de:

• Entender a atuação do pedagogo na gestão de pessoas;


• Identificar as características de bons líderes;
• Conhecer as relações da pedagogia com o empreendedorismo.

GestãO EDUCACIONAL I 113


Pedagogia e a Gestão de Pessoas

Vimos que o pedagogo tem sido um profissional bastante requisitado dentro e fora das

escolas. Sua atuação não se resume mais apenas a sala de aula e isso exige atua-

lização e aperfeiçoamento constantes. O novo mercado de trabalho tem exigido dos

pedagogos posturas de liderança, com orientação clara e objetiva para sua equipe de

trabalho, criatividade e capacidade de aprendizagem contínua.

Exercer a liderança não é uma tarefa simples e a gestão de pessoas implica em res-

ponsabilidades e ações capazes de conquistar os setores e provocar transformações

não apenas no ambiente de trabalho como também nas pessoas que deles partici-

pam. Esse é o papel do pedagogo junto à gestão de pessoas.

Ribeiro (2010) afirma que uma das principais metas a ser atingidas por aqueles

que trabalham com a gestão de pessoas é o desenvolvimento de competências e

conhecimentos, sobretudo, relacionados à capacidade de solucionar problemas.

Vale ressaltar que dentro de uma instituição isso significa que o pedagogo deve

ser capaz de adequar, de transformar e de agir em seu ambiente de trabalho.

A partir disso, vale a pena ressaltar algumas características consideradas por

Ribeiro (2010) como essenciais para o trabalho do pedagogo junto à gestão de

pessoas. São elas:

114 GestãO EDUCACIONAL I


A. Trabalho em equipe: essa é a grande marca das organizações contemporâneas. Portan-

to, é indispensável o desenvolvimento da competência e da regulação necessária para a

manutenção da própria equipe. A regulação aqui proposta trata da capacidade do líder do

grupo de equilibrar as influências dos integrantes e possibilitar a criação de oportunidades

de expressão iguais para todos. Para agir em equipe é necessário entrar em acordos sobre

procedimentos e atitudes, acerca do melhor momento para a realização de uma atividade

ou tarefa ou projeto. Isso nem sempre é fácil e a presença do líder nesse momento é es-

sencial para criar alianças.

B. Conduzir reuniões: embora essa seja uma tarefa rotineira nas mais variadas corporações de

trabalho, conduzir uma reunião nem sempre é algo simples. Para que a reunião atinja seus ob-

jetivos ela precisa significar mais do que os assuntos abordados na pauta. Para isso, é preciso

dar vida à equipe e evitar situações como as que expõem Ribeiro (2010, p.36):

- todo mundo fala ao mesmo tempo, interrompe e não escuta mais o outro;

- ninguém fala, todo mundo parece perguntar-se “o que estou fazendo aqui”;

- a discussão toma diversos rumos, ninguém se acha, é uma confusão;

- uma ou duas pessoas apenas falam sem parar, monopolizam a fala;

- a reunião termina sem que se decida o princípio, o conteúdo ou a data de um novo


encontro.

C. Analisar práticas e problemas profissionais: segundo Ribeiro (2010) um dos problemas mais

enfrentados pelo pedagogo junto à gestão de pessoas diz respeito às constantes reclamações

e insatisfações sobre o trabalho. Nesse momento é muito importante que não se faça do líder

um muro de lamentações. Nesse sentido, a equipe perde sua força de trabalho e não consegue

alcançar seus objetivos. Um cuidado a ser tomado é o de que o desejo de analisar e refletir o

problema assuma um papel mediador e não apenas especulativo.

GestãO EDUCACIONAL I 115


Dentro dessas perspectivas podemos perceber que a ação do pedagogo junto à ges-

tão de pessoas é primordial na prevenção de conflitos. Embora o conflito seja enten-

dido como algo saudável nas relações humanas, ele precisa ser mediado para que

seus resultados sejam positivos para grupo e para a instituição. Intelectualmente ele

também precisa ser trabalhado para que o conflito não seja interpretado no nível pes-

soal e as pessoas voltem-se uma contra as outras. Os desentendimentos e conflitos

precisam ser compreendidos como desafios profissionais a serem enfrentados por

toda equipe e não apenas por um de seus integrantes.

Muitas organizações estão promovendo mudanças em sua cultura de modo a dar

mais autonomia, participação e comprometimento às pessoas. O pedagogo é o cerne

dessa mudança, pois é seu trabalho preparar as pessoas para essas mudanças e

inovações. Sua função é auxiliar as instituições a propiciar um contexto de maior liber-

dade e autonomia para as pessoas, para que cada um possa desenvolver de forma

plena e realizada sua função no grupo e no trabalho.

Para conhecer mais sobre a área da gestão de pessoas faça a leitura do Saiba Mais

abaixo e fique por dentro!

116 GestãO EDUCACIONAL I


SAIBA MAIS
CONCEITO DE GESTÃO DE PESSOAS

Artigo por Colunista Portal - Educação -

A gestão de pessoas também pode ser chamada de gestão de talentos

Conjunto de políticas e práticas definidas de uma organização, para orientar o com-

portamento humano e as relações interpessoais no ambiente de trabalho. No Brasil,

as práticas na gestão de recursos humanos vigentes nas empresas brasileiras ainda

continuam bastante heterogêneas. 

Historicamente, no entanto, podem ser constatadas alterações nas característi-

cas gerais dessas práticas. Essas ocorreram, principalmente, em função de al-

terações na legislação trabalhista e nos modelos de gestão e de produção.

Percurso histórico da gestão de pessoas no Brasil e no mundo

A Gestão de Pessoas, também chamada Gestão de Talentos, antes Administração

e Gestão de Recursos Humanos, tem um percurso evolutivo que molda, desde as

primeiras fases da constituição de empresas e organizações, à busca dos atuais sis-

temas de gerenciamento do capital humano, hoje alinhados com o Planejamento Es-

tratégico das Organizações.

Temos na verdade, várias denominações, para um objetivo. Qual, afinal, é esse obje-

tivo? Buscar sempre a otimização dos recursos tecnológicos e humanos. No ambiente

GestãO EDUCACIONAL I 117


inicialmente existente nas organizações de modo geral, o que se via era a cada dia

crescerem regras e procedimentos, o controle rígido, a escravização das pessoas.

Hoje, qualquer pessoa, por menor que seja sua escolaridade, sabe que não é pela im-

posição, pelo controle e punição, que se obtém o melhor de cada um. Os empregados

e funcionários passaram a ser vistos como colaboradores.

Com o avanço da tecnologia, no final do século XX e início deste século, a produção

de bens e serviços a serem oferecidos aos clientes passou a ter maior exigência de

conhecimentos e de recursos tecnológicos. Estas características estão presentes na

chamada Economia do Conhecimento (STEWART, 2002, p. 49) e têm alterado as re-

lações de trabalho entre funcionários e empresas.

O trabalhador, que por ocasião da chamada Era Industrial era considerado como um

fator de produção (FISCHER, 2002, p.172) passou a ser entendido como o Trabalha-

dor do Conhecimento (DRUCKER, 2002, p. 68).

Em tempos em que copiar é o mais fácil e ágil, todos os produtos e serviços seriam

iguais, se não fossem as pessoas, que constituem o verdadeiro diferencial de cada

organização. Motivação e reconhecimento são fatores essenciais, que a par da forma-

ção técnica, vão construir o patrimônio de habilidades de qualquer instituição.

Fonte: Portal Educação. Disponível em: <http://www.portaleducacao.com.br/adminis-

tracao/artigos/43167/conceito-de-gestao-de-pessoas#ixzz3SVmqIIGH>. Acesso em:

15 fev. 2015.

118 GestãO EDUCACIONAL I


LEIA MAIS
<http://www.machadosobrinho.com.br/revista_online/publicacao/artigos/Artigo-

06REMS5.pdf>.

<http://www.portaleducacao.com.br/educacao/artigos/43167/conceito-de-gestao-de

-pessoas>.

Gestão e liderança

O trabalho essencial do pedagogo, dentro e fora das escolas está em liderar, em

ser gestor. Gestor significa líder. No entanto, cada pessoa em posição de liderança,

traz consigo uma imagem, consciente ou não do que é liderar. De acordo com Ednir

e Ceccon (2006) esta imagem é apreendida durante observações do que e como o

líder faz. Sendo assim, se a ideia que o gestor tem de liderança é a de mandar, seu

comportamento em relação aos colegas será um. E, bem outro, se acreditar que a

liderança é feita em conjunto.

Como você vê, é muito importante saber o conceito ideal de liderança e as posturas

adequadas para o crescimento da instituição e de todos os envolvidos. Obviamente,

não existe um esquema pronto de gestão perfeita, aliás, liderança não é algo que se

ensina e sim que se desenvolve. Por isso, não tenho a pretensão de apresentar recei-

tas prontas. No entanto, gostaria de apresentar algumas importantes características

que pude observar em ótimos gestores. Para me auxiliar nessa tarefa, contarei com a

experiência e os conhecimentos de duas ótimas professoras e gestoras: Madza Ednir

e Claudia Ceccon.

GestãO EDUCACIONAL I 119


Comece pelo coração: muitas vezes, o líder precisa receber pessoas nervosas, des-

gastadas com o problema que enfrentam. Muitos gestores imaginam que o ideal é

indicar as soluções. Nem sempre. Às vezes, as pessoas precisam desabafar... e nes-

se momento o ideal é ouvir, acolher os sentimentos para depois construir uma ponte

para o intelecto. Segundo Ednir e Ceccon (2006, p.19) “é preciso que se comece pelo

coração e dali você poderá alcançar o caminho para a cabeça”.

Falar em nome de outros participantes da equipe: o fato de convivermos muito tempo

com uma pessoa no ambiente de trabalho nos dá a sensação de que conhecemos o

colega e até podemos opinar em nome dele. Esse comportamento resulta no distan-

ciamento entre o líder e sua equipe. Além disso, produz uma equipe em que os partici-

pantes estão sempre à espera que outros tomem à frente. O ideal é fazer com que os

outros pensem junto com você. A maneira mais consistente de se tomar uma decisão,

segundo nossas autoras “é deixar de lado as certezas fáceis [...] e distinguir entre o

que se sabe e o que se pensa que sabe” (EDNIR; CECCON, 2006, p.20). Afinal, para

realmente saber o que o outro pensa, é preciso perguntar a ele e ouvir sua opinião.

Uso do imperativo: é muito comum no ambiente escolar utilizarmos o modo imperati-

vo. Veja um exemplo desse tipo de comunicação:

– Abra o livro na página 30.

– Vá até lá e fale com ele.

A linguagem das ordens pode ser muito práticas quando se quer bancar o chefe, mas

deve ser o último recurso para um líder. Isso faz com que as pessoas parem de pensar

por si mesmas e tornem-se apenas executores sem vontade própria. As autoras acon-

selham a explorar alternativas com as pessoas mais envolvidas da equipe e juntos

analisar as consequências que cada decisão pode acarretar.

O comportamento: um líder precisa saber observar as características e habilidades prin-

cipais dos integrantes de sua equipe. No entanto, ele não deve ter a pretensão de mudar

o modo de ser das pessoas. Não se trata de rotular as pessoas ou definir como elas são.

O importante é saber como agem, como se comportam. Ednir e Ceccon (2006, p.26)

120 GestãO EDUCACIONAL I


afirmam que “mudar comportamentos, sim, faz parte do trabalho de um líder. Se você

quiser influenciar o comportamento de um docente ou funcionário, então deve reagir ao

que ele faz”. Isso implica em diferenciar o profissional do pessoal. Para isso, é preciso

evitar julgamentos ou afirmações sobre a personalidade dos membros da equipe e focar

a necessidade da mudança no que está sendo feito ou no comportamento.

O sabe tudo: quase todos os pedagogos já foram professores. Por isso, a maioria traz

consigo o ideal de ter todas as respostas na ponta da língua. Certo, mas precisamos

compreender que isso é o que os alunos esperam de seus professores. Mas será que

os funcionários de uma empresa também esperam isso de seus líderes? Essa postura

pode dar a impressão de que o líder é sempre o dono da verdade. Nossas autoras

afirmam que é mais importante fazer as perguntas certas do que dar respostas...

O controlador: um bom gestor precisa ter conhecimento das principais ações de sua

equipe. Mas para isso, não é necessário vigiar ou se meter no trabalho do outros.

Cada pessoa tem seu estilo para desempenhar uma tarefa, você pode explicar como

a tarefa deve ser feita, mas a forma de fazer de cada funcionário deve ser respeita-

da. As autoras nos alertam que tal postura não implica em deixar cada um fazendo

o que quiser e como bem entender. Não, de jeito nenhum. O importante é encontrar

um equilíbrio. Delimite os limites, não admita situações que você realmente não quer

que aconteçam em sua escola. Mas também não queira controlar todas as coisas e

todas as pessoas.

Estabelecendo diretrizes: Ednir e Ceccon (2006, p.28) afirmam que “se você e sua

equipe não sabem para aonde estão indo, haverá discussões a cada esquina sobre

o rumo a tomar. Liderar sem ter uma direção definida não leva a parte alguma”. Por

isso, estabelecer um plano de ação é fundamental, ou seja, é preciso deixar claro para

todos os membros de sua equipe qual o curso da ação, os objetivos, possibilidades e

obstáculos.

Qualidades pessoais: exercer liderança exige mais do que habilidades e conheci-

mentos. Nossas autoras nos alertam que uma série de qualidades pessoais precisam

GestãO EDUCACIONAL I 121


ser mobilizadas, como: “perspicácia, simpatia, senso de humor, perseverança, auto-

conhecimento, empatia, competências sociais” (EDNIR; CECCON, 2006, p.31). To-

das essas qualidades são construídas ao longo da vida, em todos os ambientes e

experiências que passamos, não só nas acadêmicas ou profissionais. Por isso, mais

uma vez concordamos com nossas autoras: “liderar é um artesanato que se aprende

fazendo”.

Para conhecer mais sobre as características de bons líderes, leia a reportagem da

Revista Exame indicada para você no Saiba Mais abaixo. Boa leitura!

SAIBA MAIS
A humildade faz o líder excepcional, diz guru de gestão

Para Jim Collins, somente líderes humildes conseguem fazer com que os outros si-

gam uma causa em vez de seguir eles mesmos.

São Paulo - A principal característica que diferencia um líder excepcional de um bom

líder é a humildade. É isso que acredita Jim Collins, autor dos best sellers “Empresas

feitas para durar” e “Empresas feitas para vencer”.

Em videoconferência com executivos durante a HSM Expomanagement, nesta terça-

feira, o guru de gestão disse que não é o carisma nem a personalidade que tornam um

comandante excelente. “É a humildade combinada com a paixão por uma causa, que

faz com que essa causa se torne maior do que ele mesmo”, disse.

“Um bom líder faz com que pessoas o sigam. O excepcional faz com que elas sigam

uma causa”, completou.

De acordo com ele, somente ao conseguir convencer os liderados a querer fazer o

que deve ser feito, e não os obrigando a isso, é que uma liderança é efetiva.

De certa forma, é também com base na humildade que grandes dirigentes conseguem

fazer suas empresas durarem, segundo Collins.

Para o pensador, somente questionando o tempo todo se suas companhias realmente

são tão boas quanto parecem, sem arrogância, é que eles estarão preparados para

122 GestãO EDUCACIONAL I


enfrentar grandes problemas no futuro. É a chamada “produtividade paranoica”. “É no

momento em que achamos que somos ótimos que a mediocridade surge”, disse.

Além de duvidar do que já foi conquistado, outro hábito dos melhores líderes, segun-

do Collins, é colocar diante de si mesmos desafios tão grandiosos que dependem de

muitas melhorias para serem alcançados. Na opinião de Collins, inclusive, esse é o

segredo do sucesso de Jorge Paulo Lemann, o empresário mais rico do Brasil.

“Talvez esses objetivos nem sejam alcançados, mas outros serão. E quando a con-

quista estiver próxima, é preciso traçar novos ainda maiores. Independentemente do

quanto já foi feito, só seremos bons se conseguirmos buscar coisas à frente”, afirmou.

Inovação

Para Jim Collins, um líder excepcional precisa também ter uma “disciplina fanática”,

que significa “agir com urgência hoje e todos os dias”.

Mas ser disciplinado não basta, também é necessário criar. E segundo o guru, os

grandes pioneiros da inovação não são aqueles que inovam demais, mas sim os que

fazem isso da melhor maneira. Curiosamente, na visão dele, isso implica copiar o que

outros já inventaram.

“Trata-se de ter capacidade para usar uma inovação já comprovada empiricamente

em uma escala ampla”, disse.

Empresas duradouras

Segundo Collins, o que transforma uma companhia ótima em duradoura é a capaci-

dade do líder de transferir conhecimentos e responsabilidades a outras pessoas. “Se

sua empresa não pode ser grande sem você, ela ainda não é grande”.

Fonte: <http://exame.abril.com.br/negocios/noticias/a-humildade-faz-o-lider-excepcio-

nal-diz-guru-de-gestao>. Acesso em: 15 fev. 2015.

GestãO EDUCACIONAL I 123


Pedagogia e Empreendedorismo

Os avanços científicos, as inovações tecnológicas, as novas compreensões da vida e

do real exigem de todos os profissionais uma nova postura com novas capacidades e

competências. O pedagogo participa ativamente dessas transformações visto que um

de seus papéis sociais é formar e capacitar as pessoas para o mercado de trabalho.

Para isso, ele precisa estar atento às necessidades, aos valores humanos e as transforma-

ções que ocorrem dia a dia e de forma muito rápida. Segundo Hengemuhle (2014, p.22):

[...] precisamos de pessoas capazes de estabelecer relações de respeito com os outros


e com os meios, de visão integrada, que sejam criativas e competentes em apresentar
soluções para problemas sempre novos e complexos.

Em síntese, precisamos de pessoas com visão empreendedoras. Esse é o novo de-

safio da educação, exercitar a mente das pessoas, desenvolver a consciência crítica

124 GestãO EDUCACIONAL I


e as competências de cada um. Nesse momento você pode estar questionando: Mas

que competências são essas? O que é ser competente? Adelar Hengemuhle (2014)

nos auxiliará nessa discussão:

Competência é a capacidade de realizar bem uma determinada tarefa, resolver um


problema complexo e sempre novo, ou seja, é um sujeito criativo e reflexivo diante
dos problemas novos que hoje aparecem constantemente. O competente é capaz de
mobilizar recursos cognitivos no momento e na forma adequada para operacionalizar o
que nos leva a compreender que é um sujeito que não atua com base e achismos, mas
fundamentado em referencial teórico ( p.23).

A partir dessa definição podemos compreender que é preciso ajudar o sujeito a ad-

quirir e desenvolver condições e recursos para lidar com situações complexas do dia

a dia do trabalho. Para isso, ele precisa mobilizar conhecimentos, valores e decisões

que o permitam agir de modo coerente em determinada situação.

A formação de pessoas empreendedoras torna-se necessário na atualidade não só por

uma questão de necessidade estratégica, mas também para o campo pessoal e para

o desenvolvimento da empregabilidade. Portanto, este espírito empreendedor deve se

estender por todas as áreas da vida. Bem, você pode estar se questionando, mas em-

preendedorismo é uma competência, uma habilidade que pode ser desenvolvida?

De acordo com Hengemuhle (2014) ser empreendedor significa ser inovador, criativo,

revolucionário. Por esse conceito você já consegue perceber que o sujeito empre-

endedor é alguém de iniciativa própria, de forte personalidade, portador de conheci-

mentos estratégicos e que possui objetivos claros. São pessoas hábeis capazes de

executar projetos e ações que gerem resultados positivos para si próprio e para a

sociedade em geral.

Agora resta-nos saber como o pedagogo pode contribuir para a formação desse perfil

empreendedor. Hengemuhle (2014, p.37) nos sugere algumas ações:


• Promover a formação continuada no interior das instituições focada na reflexão
teórico-prática, entre o proposto pela instituição e o efetivamente desenvolvido;

GestãO EDUCACIONAL I 125


• Elucidar o perfil almejado pela escola ou pelo curso e auxiliar os professores a
refletir sobre a prática pedagógica utilizada para que o perfil seja desenvolvido.

• Ressignificar e discutir os conteúdos, problematizar, contextualizar, rever me-


todologias avaliativas e de ensino para que as habilidades e competências

almejadas sejam desenvolvidas.

• Encaminhar práticas que desenvolvam habilidades mentais, expressão, inter-


pretação, análise, criação, argumentação, comparação e outros.

A partir dessas indicações, é possível perceber que ainda nos resta um longo caminho

a percorrer para que as escolas e as demais instituições desenvolvam habilidades

reflexivas e o perfil empreendedor. No entanto, os novos profissionais de diversas

áreas já deram o primeiro passo e estão aos poucos modificando o cenário social.

O pedagogo é uma peça fundamental para as transformações desejadas, pois ele é

capaz de propor ações e práticas pedagógicas que superam o ato de decorar ou de

apenas repetir.

Caso você queira saber mais sobre esse tema, leia o saiba mais abaixo e fique por

dentro!

SAIBA MAIS
Pedagogia empreendedora: ensino de empreendedorismo na educação básica

A Pedagogia Empreendedora é uma metodologia de ensino de empreendedorismo

para a Educação Básica: educação infantil até o ensino médio. Atinge, portanto, ida-

des de 4 a 17 anos.

É vinculada a tecnologias de desenvolvimento local, sustentável; por isto tem como

alvo não só o indivíduo, mas a comunidade. Estimula a capacidade de escolha do

aluno sem influenciar as suas decisões, preparando-o para as suas próprias opções.

Trata o empreendedorismo como uma forma de ser e não somente de fazer, transpor-

tando o conceito que nasceu na empresa para todas as áreas da atividade humana.

A Pedagogia Empreendedora foi aplicada com sucesso em diferentes escolas, cidades

126 GestãO EDUCACIONAL I


e contextos. O seu teste piloto foi feito em 2002, nas cidades de Japonvar, norte de Mi-

nas Gerais e Belo Horizonte. A partir de então, várias cidades a implementaram em toda

a rede pública municipal (e algumas na rede estadual): Santa Rita do Sapucaí (MG),

Guarapuava (PR), Três Passos (RS), São José dos Campos (SP), Jacarezinho (PR).

Em 2003 a Pedagogia foi implementada em 86 cidades do Paraná, selecionadas pelo

seu IDH, em um projeto do Sebrae-PR. Em sua totalidade a Pedagogia Empreende-

dora já foi aplicada em 93 cidades, atingindo 8.400 professores, 224.000 alunos e

uma população de cerca de dois milhões de habitantes.

Concebida e criada por mim, a Pedagogia Empreendedora contou com o apoio da

ONG VISÃO MUNDIAL e de uma equipe composta por cerca de 20 profissionais da

educação com sofisticado perfil acadêmico e grande prática escolar, em um trabalho

que durou três anos.

Não se trata de uma estratégia pedagógica destinada exclusivamente a preparar os

alunos para criar uma empresa. Ela desenvolve o potencial dos alunos para serem

empreendedores em qualquer atividade que escolherem: empregados do governo, do

terceiro setor, de grandes empresas, pesquisadores, artistas, etc.. E também, eviden-

temente, para serem proprietários de uma empresa, se esta for a sua escolha. Cabe

ao aluno, e somente a ele, fazer opções profissionais e decidir que tipo de empreen-

dedor irá ser.

Com uma abordagem acentuadamente humanista, a metodologia elege como tema

central não o enriquecimento pessoal, mas a preparação do indivíduo para participar

ativamente da construção do desenvolvimento social, com vistas à melhoria de vida

da população e eliminação da exclusão social.

Alguns elementos da metodologia:


• utiliza o professor da própria instituição, que conhece a cultura da casa, dos
alunos e do meio ambiente onde cada unidade está inserida;

• dinamiza conhecimentos já dominados pelo professor;

GestãO EDUCACIONAL I 127


• é voltada para a prática, sendo de fácil implementação
• não se trata de uma receita, um passo a passo: a metodologia é recriada pelo
professor na sua aplicação, respeitando a cultura da comunidade, dos alunos,

da instituição, do próprio professor;

• possui material didático específico e inédito, construído inteiramente para a


realidade brasileira

• agente de mudança cultural;


• permite a rápida disseminação da cultura empreendedora, sendo concebida
para ser aplicada em larga escala, com alta dispersão geográfica;

• não cria a necessidade de formação de “especialistas”;


• não gera dependência da escola a consultores externos;
• integra professores de áreas diferentes;
• baixíssimo custo: não duplica meios e esforços;
• a comunidade participa intensamente, como educadora e educanda;
• considera a escola como umas das referências de comunidade;
• é geradora de capital humano e social;
• apóia-se na geração do sonho coletivo, na construção do futuro pela comunidade;
• tem como alvo a construção de um empreendedorismo capaz de gerar e (prin-
cipalmente) distribuir, renda conhecimento e poder.

Pode ser implementada em uma escola da rede pública ou privada; em toda a rede

pública de um município ou estado ou em uma rede de ensino particular.

Fonte: <https://fernandodolabela.wordpress.com/servicos-oferecidos/pedagogia-em-

preendedora/>. Acesso em: 17 fev. 2015.

128 GestãO EDUCACIONAL I


atividades para cOmpreensãO dO cOnteÚdO

1) Exercer a liderança não é uma tarefa simples e a gestão de pessoas implica em

responsabilidades e ações capazes de conquistar os setores e provocar trans-

formações não apenas no ambiente de trabalho como também nas pessoas que

deles participam. A partir dessa informação, leia as alterativas abaixo e assinale a

alternativa correta sobre um dos principais desafios para aqueles que trabalham

com a gestão de pessoas:

a) É o desenvolvimento de competências e conhecimentos, sobretudo, relaciona-

dos à capacidade de solucionar problemas.


b) É a capacidade de ter as respostas certas para os problemas do setor e indicar

sempre as melhores soluções.

c) É o potencial de contratação para ter sempre na equipe de trabalho os melho-

res especialistas da área.

d) Todas as respostas estão corretas.

2) Dentro de uma instituição o pedagogo deve ser capaz de adequar, de transformar

e de agir em seu ambiente de trabalho. A partir disso, assinale a alternativa correta

sobre o trabalho do pedagogo junto à gestão de pessoas.

a) Trabalho em equipe: é indispensável, o desenvolvimento da competência e da

regulação necessária para a manutenção da própria equipe.


b) Conduzir reuniões: conduzir uma reunião nem sempre é algo simples. Para

que a reunião atinja seus objetivos ela precisa significar mais do que os assun-

tos abordados na pauta.

c) Analisar práticas e problemas profissionais: um dos problemas mais enfrenta-

dos pelo pedagogo junto à gestão de pessoas diz respeito às constantes recla-

mações e insatisfações sobre o trabalho.

d) Todas as alternativas estão corretas.

GESTÃO EDUCACIONAL I 129


3) Gestor significa líder. Cada pessoa em posição de liderança, traz consigo uma

imagem, consciente ou não do que é liderar. No entanto, existem algumas carac-

terísticas importantes para um bom gestor. Leia as alternativas abaixo e assinale

as características corretas para uma boa liderança.

I. É preciso saber ouvir, acolher os sentimentos para depois construir uma ponte para o intelecto

e encontrar soluções.

II. O líder deve evitar a linguagem das ordens. Isso faz com que as pessoas de sua equipe parem

de pensar por si mesmas.

III. Um líder precisa saber observar as características e habilidades principais dos integrantes de

sua equipe.
IV. Um bom gestor precisa ter conhecimento das principais ações de sua equipe. Mas não deve

vigiar ou se meter no trabalho dos outros.

V. O líder necessita de uma série de qualidades pessoais, como: perspicácia, simpatia, senso de

humor, perseverança e outras.

Estão corretas:

a) Apenas I e II.

b) Apenas II e V.

c) Apenas I, III e IV.

d) Apenas I, IV e V.

e) Todas as alternativas estão corretas.

4) A formação de pessoas empreendedoras torna-se necessário na atualidade não

só por uma questão de necessidade estratégica, mas também para o campo pes-

soal e para o desenvolvimento da empregabilidade. Leia as alternativas abaixo

e assinale a alternativa correta que contemple como o pedagogo pode contribuir

para a formação do perfil empreendedor.

I. Promover a formação continuada no interior das instituições focada na reflexão teórico-prática,

entre o proposto pela instituição e o efetivamente desenvolvido.

130 GestãO EDUCACIONAL I


ii. Indicar conteúdos mais adequados e avaliar a capacidade de memorização de cada um.

iii. Elucidar o perfil almejado pela escola ou pelo curso e auxiliar os professores a refletir sobre a

prática pedagógica utilizada.

iv. Oferecer respostas ou soluções prontas para os problemas da equipe evitando assim que de-

sanimem no trabalho.

v. Ressignificar e discutir os conteúdos, problematizar, contextualizar, rever metodologias avalia-

tivas e de ensino.

Estão corretas:

a) Apenas I e II.

b) Apenas II e V.

c) Apenas I, III e IV.

d) Apenas I, IV e V.

e) Todas as alternativas estão corretas.

prOpOsta para discussãO On-line


Leia a seguir os exemplos práticos de situações vivenciadas por pedagogos que atu-

am em diferentes ambientes como empresas, escolas, hospitais e, em seguida, escre-

va qual seria a melhor atitude de um bom gestor diante de cada situação:

a) A funcionária Marli entra na sala de sua coordenadora Ana e desabafa:

– Essa história de preencher fichas de autoavaliação é uma chatice! Não faz o menor

sentido! Desse jeito não vamos chegar a lugar nenhum... Como proceder nesse caso?

b) Lana tem uma pergunta para o gestor de seu setor:

– Quem foi que inventou essa reunião ridícula no sábado?

Qual seria a melhor resposta para essa pergunta?

c) Rafael e Paula estão em conflito e não querem mais trabalhar juntos. Como um

líder pode ajudá-los?

GESTÃO EDUCACIONAL I 131


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para auxiliar você na compreensão das discussões feitas nessa unidade apresentarei

abaixo os principais tópicos analisados.

• Vimos que o pedagogo tem sido um profissional bastante requisitado dentro


e fora das escolas. O novo mercado de trabalho tem exigido dos pedagogos

posturas de liderança, com orientação clara e objetiva para sua equipe de

trabalho, criatividade e capacidade de aprendizagem contínua.

• Exercer a liderança não é uma tarefa simples e a gestão de pessoas implica


em responsabilidades e ações capazes de conquistar os setores e provocar

transformações não apenas no ambiente de trabalho como também nas pes-

soas que deles participam.


• Uma das principais metas a ser atingidas por aqueles que trabalham com a
gestão de pessoas é o desenvolvimento de competências e conhecimentos,

sobretudo, relacionados à capacidade de solucionar problemas. Vale ressaltar

que dentro de uma instituição isso significa que o pedagogo deve ser capaz

de adequar, de transformar e de agir em seu ambiente de trabalho.

• O trabalho essencial do pedagogo, dentro e fora das escolas está em liderar,


em ser gestor. Gestor significa líder. No entanto, cada pessoa em posição de

liderança, traz consigo uma imagem, consciente ou não do que é liderar.

• Obviamente, não existe um esquema pronto de gestão perfeita, aliás, lideran-


ça não é algo que se ensina e sim que se desenvolve. No entanto, algumas

características são importantes para uma boa gestão.


• Um líder precisa saber observar as características e habilidades principais

dos integrantes de sua equipe. No entanto, ele não deve ter a pretensão de

mudar o modo de ser das pessoas. Não se trata de rotular as pessoas ou de-

finir como elas são. O importante é saber como agem, como se comportam.

• Um bom gestor precisa ter conhecimento das principais ações de sua equipe.
Mas para isso, não é necessário vigiar ou se meter no trabalho do outros.

132 GestãO EDUCACIONAL I


Cada pessoa tem seu estilo para desempenhar uma tarefa, você pode expli-

car como a tarefa deve ser feita, mas a forma de fazer de cada funcionário

deve ser respeitada.

• Muitas vezes, o líder precisa receber pessoas nervosas, desgastadas com o


problema que enfrentam. Muitos gestores imaginam que o ideal é indicar as

soluções. Nem sempre. Às vezes, as pessoas precisam desabafar... e nesse

momento o ideal é ouvir, acolher os sentimentos para depois construir uma

ponte para o intelecto.

• Os avanços científicos, as inovações tecnológicas, as novas compreensões


da vida e do real exigem de todos os profissionais uma nova postura com

novas capacidades e competências. O pedagogo participa ativamente dessas

transformações visto que um de seus papéis sociais é formar e capacitar as

pessoas para o mercado de trabalho.


• A formação de pessoas empreendedoras torna-se necessário na atualidade
não só por uma questão de necessidade estratégica, mas também para o

campo pessoal e para o desenvolvimento da empregabilidade. Portanto, este

espírito empreendedor deve se estender por todas as áreas da vida.

GestãO EDUCACIONAL I 133


referências

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Infracional à Luz da Jurisprudência. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

134 GESTÃO EDUCACIONAL I

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