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Turma: Administração
1. Os valores
Constantemente avaliamos pessoas, coisas e situações: ―Esta caneta é ruim, pois
falha muito‖; ―Esta mulher é atraente‖; ―Acho que João agiu mal por não ajudar você‖;
―Prefiro comprar este, que é mais barato‖.
Observe que nos exemplos destacamos valores de utilidade (útil ou inútil), de beleza
(belo ou feio), morais (bom ou mau) e econômicos (caro ou barato). Desse modo, os
valores podem ser utilitários, estéticos, éticos, econômicos e de outros tipos, como
lógicos (verdadeiro ou falso), religiosos (sagrado ou profano) etc.
Mas o que são valores? Embora a temática dos valores seja tão antiga quanto a
humanidade, só no século XIX surgiu a teoria dos valores ou axiologia1. A axiologia
não se ocupa do (como a metafísica), mas do dever ser, das relações entre os seres e o
sujeito que os avalia.
Os seres – sejam eles coisas inertes, seres vivos ou ideias – mobilizam nossa
afetividade por atração ou por repulsa. Portanto, algo possui valor quando não nos deixa
indiferentes. É nesse sentido que García Morente diz:
Os valores não são mas valem. Uma coisa é valor e outra coisa é ser. Quando
dizemos de algo que vale, não dizemos nada do seu ser, mas dizemos que não
é indiferente. [...] A não indiferença é a essência do valer. [...] Os valores não
têm, pois, a categoria do ser, mas a categoria do valer [...]. O valor é uma
qualidade (MORENTE, Manuel García. Fundamentos de filosofia: lições
preliminares. 2. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1966, p. 296).
1
Do grego áxios, ―valor‖, e logos, ―teoria‖, ―estudo‖; significa ―teoria dos valores‖.
Em um primeiro momento, os valores são herdados. Ao nascermos, o mundo
cultural é um sistema de significados já estabelecido, de tal modo que aprendemos
desde cedo como nos comportar à mesa, na rua, diante de estranhos, como, quando e
quanto alar em determinadas circunstâncias; como andar, correr, brincar; como cobrir o
corpo e quando desnudá-lo; como apreciar a beleza ou a feiura; quais são nossos direitos
e deveres. Conforme atendemos ou transgredimos os padrões, os comportamentos são
avaliados como bons ou maus, seja do ponto de vista ético, estético, religioso etc.
Embora haja diversos tipos de valores, vamos considerar neste capítulo apenas
os valores éticos ou morais. Axiologia.
2
Sanção: no contexto, sanção social que aprova ou reprova um comportamento.
2. Moral e ética
O que é ser moral? Para que ser moral? As respostas a essas duas questões são
cruciais para orientarmos nossa conduta em relação aos outros e a nós mesmos. O que
entendemos por ―bem‖ ou por ―mal‖ pode definir que tipo de pessoa queremos ser e que
compromisso3 temos com os valores éticos e morais.
Vejamos por quê.
Os conceitos de moral4 e ética5, ainda que diferentes, são com frequência usados
como sinônimos. Podemos estabelecer algumas diferenças entre eles, embora essas
definições variem de acordo com a abordagem de cada filósofo.
3
Do latim promittere, ―prometer‖.
4
Do latim mos, moris, ―costume‖, ―maneira de se comportar regulada pelo uso‖, e moralis, morale,
―relativo aos costumes‖.
5
Do grego éthos, ―costume‖.
Pascal? Haveria possibilidade de superação das posições contraditórias do
universalismo e do relativismo? Voltaremos a esse assunto mais adiante.
E
3. Caráter histórico e social da moral
4. Dever e liberdade
Por sua vez, aceitar como predominante a interrogação do indivíduo que apenas
tem em vista seus próprios interesses destrói a moral. O ser humano não é um Robinson
Crusoé em uma ilha deserta, mas ―com-vive‖ com outras pessoas, e qualquer ato seu
compromete aqueles que o cercam. Cabe ao sujeito moral viver as contradições entre
dois polos: social e pessoal, tradição e inovação. Não há como optar por apenas um
desses aspectos, porque ambos constituem o próprio tecido da moral.
Dizendo de outro modo, a decisão voluntária cria um dever ser que resulta da
consciência da obrigação moral. Nesse caso, o dever moral não se cumpre por
imposição externa, mas conforme a norma livremente assumida. Eis aí por que o ato
moral autônomo pressupõe ao mesmo tempo dever e liberdade. Essa flexibilidade não
significa uma defesa do relativismo, em que todas as formas de conduta seriam aceitas
indistintamente. O professor José Arthur Gianotti assim expressa:
5. Compromisso moral
O ato moral provoca efeitos não só na pessoa que age, mas naqueles que a
cercam e na própria sociedade em sua totalidade. Para ser moral, um ato deve ser livre,
consciente, intencional, mas também solidário. O ato moral supõe solidariedade e
reciprocidade com aqueles com os quais nos comprometemos. O compromisso
assumido não é superficial e exterior, mas revela-se como uma ―promessa‖ pela qual
nos vinculamos à comunidade.
Dessas características decorre a exigência da responsabilidade. Responsável é a
pessoa consciente e livre que assume a autoria dos seus atos, reconhece-os como seus e
responde pelas consequências deles.
6. A bússola e a balança
A bússola objeto indica o norte e permite que não nos percamos. Já a metáfora
da bússola indica o que nos ―norteia‖ na direção do que deve ser feito no plano moral.
Só isso basta? Nem sempre.
Suponha que alguém possui uma bússola interna e está consciente do que deve
ou não ser feito, mas se pergunte: ―Por que devo agir moralmente se isso pode ferir
meus interesses pessoais?‖. Para essa resposta, precisamos de outra imagem, a da
balança.
A balança
Fonte: ARANHA, Maria Lúcia Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna.
Texto para reflexão
A Terra é um planetinha que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre
100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões
de galáxias num dos universos possíveis e que vai desaparecer. Veja como nós somos
importantes...
Aliás, veja como nós temos razão de nos termos considerado na história o centro
do universo. Tem gente que é tão humilde que acha que Deus fez tudo isso só para nós
existirmos aqui. Isso é que é um Deus que entende da relação custo-benefício. Tem
indivíduo que acha coisa pioi; que Deus fez tudo isso só para esta pessoa existir. Com o
dinheiro que carrega, com a cor de pele que tem, com a escola que frequentou, com o
sotaque que usa, com a religião que pratica.
Nesse lugarzinho tem uma coisa chamada vida. A ciência calcula que em nosso
planeta haja mais de trinta milhões de espécies de vida, mas até agora só classificou por
volta de três milhões de espécies. Uma delas é a nossa: homo sapiens. Que é uma entre
três milhões de espécies já classificadas, que vive num planetiriha que gira em tomo de
uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que
é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis e que vai
desaparecer?
Essa espécie tem, em 2007, aproximadamente 6,4 bilhões de indivíduos. Um
deles é você.
Você é um entre 6,4 bilhões de indivíduos, pertencente a uma única espécie,
entre outras três milhões de espécies classificadas, que vive num planetinha, que gira
em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma
galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis e
que vai desaparecer.
É por isso que todas as vezes na vida que alguém me pergunta: ―Você sabe com
quem está falando?‖, eu respondo: ―Você tem tempo?‖
Fonte: CORTELLA, Mario Sergio Qual é a tua obra?: inquietações sobre gestão,
liderança e ética. Petrópolis, Rio de Janeiro. Editora Vozes: 2008.