Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
História da Venezuela
Descobrimento e colonização
Em sua terceira viagem à América, em 6 de agosto de 1498, Cristóvão
Colombo ancorou suas nausna península de Paria, que o almirante tomou por
uma ilha, denominando-a "terra de Gracia". Apesar de a Venezuela ter sido descoberta
por Colombo, foi Alonso de Ojeda quem, em 1499, pela primeira vez explorou o país,
navegando ao longo do mar do Caribe até o lago Maracaibo. O navegador deu o nome
de "Venezuela" ao país pela semelhança que encontrou entre as palafitas indígenas e a
cidade italiana de Veneza.
A primeira cidade venezuelana foi Santa Cruz, fundada por Ojeda em 1502. O primeiro
governo a vigorar foi o da jurisdição de Coquibacoa, concedido a Alonso de Ojeda
(1501). Estendia-se desde o Cabo de la Vela (hoje Colômbia) até o cabo de
Chichiriviche.
Inicialmente, os espanhóis não tentaram apoderar-se da terra firme, pois a pesca
da pérola em algumas ilhas próximas à costa nordeste os atraiu mais. O interesse
decaiu com o esgotamento das ostreiras perlíferas, e o impulso colonizador se
deslocou então para oeste, em direção a Caracas e Coro. O primeiro estabelecimento
permanente espanhol foi Cumaná, fundada em 1523.
Em 1528, no mesmo ano em que a província da Venezuela foi criada, o rei
espanhol Carlos V, endividado com os banqueiros alemães Fugger, concedeu-lhes o
território que, hoje, grosso modo, corresponde ao país. Durante quase duas décadas,
se sucederam infrutíferas expedições alemãspelo interior em busca de pedras
preciosas, até o território ser devolvido à coroa espanhola em 1546.
Mais tarde, em 1591, foi desmembrada, da Venezuela, a província de Trinidad,
enquanto a província da Guiana ia sendo o centro de atenção dos conquistadores que
procuravam o El Dorado. Entre 1634 e 1636, as ilhas
de Aruba, Curaçao e Bonaire foram perdidas para os holandeses, pouco tempo após
estes terem se instalado na própria Guiana, em 1627, sob comando de Abraham van
Pere.
Sobre a base da primeira designação de Nova Córdoba em 1562, Felipe II criou a
província de Nova Andalucía ou Cumaná. Ao serem acrescentados os territórios
de Mérida, Táchira e Barinas à jurisdição de La Guaira, esta se transformou em
província.
A capitania geral da Venezuela foi criada em 1528. Carlos III separou as províncias de
Cumaná, Guiana e Maracaibo, assim como as ilhas de Trinidad e de Margarita, do vice-
reino da Nova Granada, somando-as à capitania geral da Venezuela. Dessa forma, o
território ficava unificado com um só governador.
Na segunda metade do século XVI, teve início a atividade agrícola, baseada no
trabalho escravo. Caracas foi fundada em 1567 e no fim do século havia mais de vinte
núcleos de colonização nos Andes venezuelanos e no litoral do mar do Caribe.
As planícies e a região do lago Maracaibo aos poucos foram ocupadas nos
séculos XVII e XVIII por missões católicas. Ao começar a atividade missionária em
Cumaná, os frades franciscanos construíram o primeiro convento, próximo
ao estuáriodo rio Cumaná em 1516.
O panorama econômico e cultural mudou profundamente no século XVIII. Em 1717, o
país deixou de depender da audiência de Santo Domingo para incorporar-se ao vice-
reino de Nova Granada, com sede em Bogotá. Em 1725, a Real e Pontifícia
Universidade de Caracas começou a promover o ensino. Três anos mais tarde, se criou,
com o respaldo real, a Companhia Guipuzcoana de Caracas, que detinha
o monopólio da venda do cacau à metrópole e das mercadorias espanholas à
Venezuela. Sua missão era também reprimir o tráfico de escravos, que tinha, como
principal centro, a ilha de Curaçao, e as incursões estrangeiras ao território
venezuelano. Seus interesses contrariavam, no entanto, os dos produtores
venezuelanos, que forçaram a dissolução da companhia na década de 1780.
Independência da Venezuela
Simón Bolívar.
Os movimentos independentistas mais importantes, antes do século XIX, foram a
participação local na revolta dos Comuneros da Nova Granada e o de Manuel
Gual e José María España, no qual participou toda a sociedade colonial, em 1797.
Tampouco teve êxito o desembarque de Francisco de Miranda, com uma pequena
expedição de patriotas, organizada nos Estados Unidos e financiada pela Inglaterra,
em 1806.
Depois que a Espanha caiu em poder de Napoleão Bonaparte,
os criollos (brancos nascidos na colônia) de Caracas iniciaram a revolução venezuelana.
Os representantes espanhóis, dentre eles o governador Vicente Emparán, foram
destituídos, sendo estabelecida uma junta governativa local, com a finalidade oficial de
salvaguardar os direitos do rei espanhol Fernando VII, preso na França dois anos antes
por Napoleão.
Batalha de Carabobo.
Após um armistício assinado em 1820, entre Simón Bolívar e Pablo Morillo, que
manteve o domínio espanhol sobre a região de Maracaibo, a incorporação dos
habitantes de Maracaibo à causa independentista gerou o reinicio da guerra. Em 24 de
junho de 1821, Bolívar derrotou o exército realista na batalha de Carabobo. As últimas
forças realistas capitularam em Puerto Cabello, em 9 de outubrode 1823. No ano
seguinte, Bolívar marchou em direção ao sul para libertar o Peru e, em 1825,
conseguiu dar fim ao domínio espanhol sobre a Bolívia.
De 15 de fevereiro de 1819 até 17 de dezembro do mesmo ano, Simón Bolívar foi
presidente da Venezuela. A partir dessa data, e até 1830, a Venezuela fez parte da
república da Grã-Colômbia, da qual Bolívar era também presidente.
Durante a ausência de Bolívar, contudo, irromperam rivalidades regionais na Grande
Colômbia, e seu prestígio não foi suficiente para manter o país unido até sua volta.
Em 1829, a Venezuela se separou, e o Equador fez o mesmo pouco tempo depois. No
ano seguinte, Bolívar morreu perto da cidade colombiana de Santa Marta, sem ter
conseguido realizar o sonho de unir a América hispânica.
Oligarquia conservadora
Com a fragmentação da Grande Colômbia, tem início o período da história da
Venezuela chamado de Quarta República.[1]
Bolívar havia deixado o general José Antonio Páez como chefe militar civil da
Venezuela. Páez logo extrapolou seu poder e deu apoio ao movimento separatista
da Grande Colômbia. Em 1831, um congresso constituinte proclamou a independência
da Venezuela e elegeu Páez presidente. A Constituição, conservadora, criava um
estado centralista, restringia o voto aos proprietários de terras e mantinha
a escravidão.
O general dominou a vida política do país até 1848. Governou durante dois períodos
constitucionais (1831-1835 e 1839-1844). Posteriormente, instaurou
uma ditadura de 1861 a 1863. Seu governo representou para a Venezuela uma fase de
estabilidade, na qual se reconstruiu a economia, enfraquecida pelos muitos anos
de guerra. Prosperaram então as culturas de cacau e café, base do comércio exterior
do país.
Em 1840, Antonio Leocádio Guzmán fundou o Partido Liberal, cuja base social era
a burguesia média progressista das cidades, que reivindicava a extensão do direito ao
voto e a abolição da escravatura. Guzmán criou um jornal, El Venezolano, que se
converteu em porta-voz das aspirações liberais. A crise econômica que se produziu em
meados da década, motivada pela queda dos preços do café e do cacau no mercado
internacional, favoreceu o crescimento da oposição aos governos conservadores. O
período que se seguiu (1843-1870) foi de caos e violência política, sucedendo uma
ditadura, de 1848 a 1858, e a guerra civil, durante os dez anos seguintes.
Ditaduras andinas
Consolidação da democracia
Rómulo Gallegos e Harry Truman.
Em 1945, um grupo de oficiais do Exército, aliado ao Partido de Ação Democrática,
depôs Medina. O líder do partido, Rómulo Betancourt, chefiou uma junta civil-militar,
que governou por decreto durante 28 meses. A Constituição de 1947reproduziu as
ideias trabalhistas do partido. O romancista Rómulo Gallegos, eleito para a presidência
pela Ação Democrática (Acción Democratica), governou apenas nove meses, devido
sobretudo às medidas que tomou contra os militares enriquecidos ilicitamente durante
a ditadura e à tentativa de aumentar os royalties estatais sobre o petróleo e apressar
a reforma agrária. Foi deposto por um golpe de Estado em 1948.
Formou-se então uma junta militar, liderada por Carlos Delgado Chalbaud e Marcos
Pérez Jiménez. O assassinato do primeiro, dois anos mais tarde, deixou livre o caminho
para Jiménez, que impôs sobre o país um novo governo pessoal, proibindo toda
oposição e não reconhecendo o resultado das eleições de 1952. A época de Pérez
Jiménez se caracterizou pela modernização da capital, em detrimento do programa de
reformas sociais que havia elaborado o governo democrático anterior. Um golpe de
Estado derrubou-o em 23 de janeiro de 1958 e levou ao poder, provisoriamente, uma
junta civil-militar presidida por Wolfgang Larrazábal.
A Quinta República
A renda petroleira também serviu para financiar o Estado durante a década de 1970,
quando a carga tributária não alcançava 10% do PIB. No ano de 1973 se deu uma das
Crises do Petróleo, que teve como consequência o aumento em mais de 400% do preço
do barril do petróleo. A Venezuela se beneficiou da subida de preço de uma maneira
pouco saudável, pois permitiu um maior investimento na melhoria dos serviços públicos
e também a nacionalização das indústrias petrolíferas em 1976, o que fez com que o
país não só aumentasse seus gastos públicos, mas também sua dívida externa, que se
multiplicou por dez entre os anos de 1974 e 1978.
Além das questões econômicas, o petróleo na Venezuela também serviu para moldar a
política do país. Desde sua descoberta os líderes buscaram promover o setor do
petróleo, além de tirar vantagem das variações do preço do barril. Entre os anos de 1974
e 1979, quando o preço do petróleo estava muito alto, devido à Crise do Petróleo que se
iniciou em 1973, a Venezuela vivia um período de grande prosperidade sob a liderança
do presidente Carlos Andrés Pérez.
Nesse sentido, a receita do petróleo fez com que Pérez fosse reeleito, mas a dependência
do petróleo gerou grande insatisfação por parte da população, já que as medidas
propostas pelo FMI para a liberação do empréstimo tinham impacto direto nesse setor, e
o país tinha sua economia toda baseada na commodity. A insatisfação só aumentava, já
que a necessidade do empréstimo não havia sido falada durante a campanha.
No dia 27 de fevereiro de 1989, a insatisfação atingiu o seu limite e começaram os
primeiros protestos. Durante os dias subsequentes as manifestações tomaram as ruas de
Caracas e de outras cidades. A semana foi marcada por saques, barricadas e
enfrentamentos com as forças de segurança, que teve como consequência centenas de
vítimas fatais e milhares de feridos, segundo familiares e grupos de direitos humanos. O
evento ficou conhecido como Caracazo.
Ali teve fim o pacto político que tinha seus alicerces no preço do petróleo e que tinha
possibilitado a convivência entre dois partidos de centro-direita, que se alternavam no
poder, e que havia excluído setores populares da disputa política.
Um dos objetivos de Chávez quando chegou ao poder foi lançar a chamada Revolução
Bolivariana, que teve início com uma Assembleia Constituinte em 1999, que visava
escrever uma nova Constituição da Venezuela, com aprovação de 70% da população.
Com a nova ordem constitucional, foi realizada uma eleição presidencial e legislativa,
na qual Chávez se reelegeu presidente e o Polo Patriótico, composto pelos apoiadores
do presidente, conquistou a maioria dos assentos na Assembleia Nacional.
No mesmo ano foi aprovada a chamada “Lei Habilitante”, que concedia poderes
extraordinários ao presidente, o que permitia que ele legislasse acerca de matérias de
seu interesse. Os decretos com força de lei entravam em vigor mesmo antes da
aprovação por parte do Legislativo, já que fora criada para agilizar os processos
administrativos. Chávez utilizou esse artifício para decretar a privatização do setor
petroleiro, através da nova Lei de Hidrocarbonetos e também para dar mais velocidade à
reforma agrária.
Nos meses seguintes, vários outros decretos foram promulgados, gerando insatisfação
em vários setores da sociedade e por parte da oposição. Apesar das manifestações e
greves, o governo manteve todos os decretos, causando descontentamento também em
setores como a Igreja Católica e as empresas privadas de rádio e televisão, que tiveram
parte de suas concessões de funcionamento canceladas. A oposição agora acusava
Chávez de querer tornar a Venezuela um país comunista.
Em 2006, aconteceu nova eleição, na qual Chávez saiu vitorioso para o seu terceiro
mandato, ficando muito à frente do seu adversário. A eleição foi considerada legítima
pela OEA e deu condições para o aprofundamento e expansão da revolução. Em 2008,
foi aprovada uma emenda constitucional que permitia reeleições ilimitadas, a qual foi
criticada pela oposição por se tratar de uma forma de dar legitimidade à ditadura sob a
qual afirmavam que o país vivia. Apesar da sua vitória, Chávez nunca conseguiu ocupar
o cargo em 2012, pois lutava contra um câncer. O então presidente faleceu no dia 5 de
março de 2013, e Nicolás Maduro assumiu o poder por ser vice-presidente na época da
morte de Chávez.
Mesmo com diversas greves que prejudicaram a economia e promoveram uma fuga de
capitais, o governo de Hugo Chávez conseguiu realizar a distribuição de renda e a
redução da pobreza, assim como havia prometido em suas campanhas presidenciais. No
entanto, na busca de manter os programas sociais financiados pela exportação do
petróleo, o governo foi forçado a adotar uma política de desvalorização da moeda, as
quais têm surtido pouco efeito na melhoria de vida dos venezuelanos, já que o país é
extremamente dependente de produtos importados, inclusive os de primeira
necessidade, como alimentos e produtos de higiene pessoal.
Maduro, eleito em 2013 para um mandato integral, na primeira eleição após a morte de
Chávez, chegou ao poder para dar continuidade ao trabalho que vinha sendo feito pelo
seu antecessor. A vitória foi apertada, com seu opositor, Henrique Capriles Radonski,
conquistando 49,07% dos votos. Porém, Maduro assumiu um país em meio a uma crise
política que agravava a crise econômica pela qual o país passava. Com isso, sua taxa de
aprovação despencou, o que levou a oposição a ganhar força com o pedido de plebiscito
para a revogação do mandato do presidente.
Assim, caso a oposição não consiga outra forma de contestar a legitimidade do governo,
terão que aguardar até 2019, quando acaba o mandato de Maduro.
No início de maio de 2017, Nicolás Maduro convocou eleições para uma Assembleia
Constituinte, responsável por redigir uma nova constituição venezuelana. A eleição foi
marcada para o dia 30 de julho, conforme informado pelo Conselho Nacional Eleitoral
da Venezuela. O anúncio foi feito pouco depois do início de uma nova onda de
protestos e após o país ter anunciado a sua saída da OEA. Segundo Maduro, a nova
constituição seria necessária para conferir maiores poderes à população e, assim,
recuperar a estabilidade na Venezuela.
Maduro não recuou e no dia 30 de julho aconteceu a votação que elegeu os 545
deputados constituintes. De acordo com o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país, a
taxa de comparecimento foi de 41,53% e 8.089.320 pessoas votaram. Os números são
contestados pela oposição, que afirma que apenas 12,4% dos eleitores venezuelanos
compareceram às urnas. Diversas outras polêmicas e entraves permearam as eleições,
marcada por manifestações (já anunciadamente proibidas, a fim de “não atrapalhar” o
processo eleitoral) e mudanças repentinas nos horários de fechamento das urnas. Parte
da comunidade internacional não reconheceu a votação. Vale dizer que a oposição fez
resistência e não lançou nenhum candidato ao pleito, e alguns dos eleitos são
reconhecidos apoiadores de Maduro, como o agora presidente da Constituinte Diosdado
Cabello.
O único forte concorrente de Maduro nas últimas eleições foi Henri Falcón, que rompeu
com o boicote e fez campanha ativa. Obteve 1.820.552 votos, contra os 5.823.728 de
Maduro. Pouco antes do anúncio do resultado, no entanto, Falcón declarou que não
reconheceria o resultado das urnas e exigiria novas eleições. Segundo ele, as votações
foram marcadas por fraudes e “pontos vermelhos”, núcleos de ativismo instalados
próximas às urnas onde os eleitores poderiam vender seus votos a Maduro em troca de
bonificações e serviços.
Mais uma vez, diversos países, entre eles o Brasil, não reconheceram as eleições
venezuelanas, e classificaram o processo como fraudulento.
As imagens recentes mostram um país abalado pela pobreza e pela hiperinflação, enquanto a
instalação de um governo paralelo ao do presidente eleito, Nicolás Maduro, intensificou a crise
política interna e externa de uma nação cada vez mais isolada diplomaticamente.
Desde o início do ano, inensificaram-se os protestos pela saída de Maduro, que, por sua vez,
arregimenta apoiadores em torno de grandes manifestações para demonstrar que tem apoio
popular.
Em janeiro, o deputado Juan Guaidó, que havia acabado de tomar posse como presidente da
Assembleia Nacional, o parlamento venezuelano e último órgão estatal sob controle da
oposição, declarou-se presidente interino do país.
Mais de 50 países, entre eles Estados Unidos, Brasil, França, Espanha, Argentina, Canadá, Chile,
Colômbia, Dinamarca, Equador e Peru, reconheceram Guaidó como novo mandatário
venezuelano. Já Bolívia, China, Cuba, Irã, México e Rússia declaram apoio a Maduro.
O presidente americano, Donald Trump, já disse que uma intervenção militar na Venezuela não
está descartada. Maduro retrucou acusando Trump de ser um "supremacista branco" que
buscava desestabilizar seu país.
Por sua vez, a Organização das Nações Unidas (ONU) pediu para que haja "diálogo" no país
para evitar um "desastre". Mas o pedido de encontro com Trump feito por representantes de
Maduro foi rechaçado.
Diante da tentativa da oposição de fazer com que ajuda humanitária chegasse ao país por meio
das fronteiras com Brasil e Colômbia, Maduro ordenou que fossem fechados os acessos nas
divisas entre os países, o que gerou conflitos nestes locais enmtre militares venezuelanos e
manifestantes.
Após o fracasso da operação, Guaidó pediu aos países aliados que mantivessem "todas as
opções na mesa", mas o Grupo de Lima, bloco de 13 países do continente americano, recusou o
uso da força para retirar Maduro do poder.
Fome e êxodo
A crise venezuelana não começou agora. A fome fez os venezuelanos perderem, em média, 11
quilos no ano passado. A violência esvazia as ruas das grandes cidades quando anoitece. E a
situação provocou um êxodo em massa para países vizinhos.
O país vizinho vive a maior recessão de sua história: são 12 trimestres seguidos de retração
econômica, segundo anunciou em julho a Assembleia Nacional.
A dimensão do colapso pode ser vista nos números do Produto Interno Bruto. Entre 2013 e
2017, o PIB venezuelano teve uma queda de 37%. O Fundo Monetário Internacional prevê que,
neste ano, caia mais 15%.
Em agosto, a Organização Internacional para as Migrações, ligada à ONU, disse que o aumento
do número de pessoas deixando a Venezuela por causa do colapso econômico
hiperinflacionário faz o momento de crise estar próximo ao dos refugiados e migrantes que
atravessam o Mediterrâneo rumo à Europa.
Em novembro, a ONU informou que 3 milhões de venezuelanos deixaram o país nos últimos
anos. Mas como a situação na Venezuela chegou a esse ponto?
1 - Crise do petróleo
A Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo - e o recurso é praticamente a
única fonte de receita externa do país.
A aposta no petróleo foi segura durante anos e deu bons resultados nos momentos em que o
preço do barril estava alto. Entre 2004 e 2015, nos governos de Hugo Chávez e no início do de
Nicolás Maduro - eleito em 2013 após a morte de seu padrinho político, no mesmo ano - , o país
recebeu 750 bilhões de dólares provenientes da venda de petróleo.
O governo chavista aproveitou essa chuva dos chamados "petrodólares" para financiar de
programas sociais a importações de praticamente tudo que era consumido no país.
▪ Mourão diz que só vê confronto com Venezuela se Brasil for atacado: 'Mas Maduro
não é louco a esse ponto'
Mas, em 2014, o preço do petróleo desabou. Em parte, devido à recusa de Irã e Arábia Saudita -
outros dois dos grandes produtores - em assinar um compromisso para reduzir a produção.
Outros fatores foram a desaceleração da economia chinesa e o crescimento, nos EUA, do
mercado de produção de óleo e gás pelo método "fracking" - o fraturamento hidráulico de
rochas.
No início daquele ano, depois de ter alcançado um pico de US$ 138,54 em 2008, o preço do
barril de petróleo era negociado a cerca de US$ 100 dólares e caiu pela metade no fim do ano,
mantendo essa queda significativa até este ano, quando voltou a atingir o patamar de US$ 80.
Além de receber menos dinheiro por seu principal produto, a Venezuela também teve uma
queda significativa na produção. Quando Chávez assumiu pela primeira vez o país, em 1999, a
produção era de mais de 3 milhões de barris por dia. Hoje, é de cerca de 1,5 milhão, segundo a
Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) - é o pior nível em 33 anos.
Na PDVSA, Não houve investimento em infraestrutura e a empresa sofre com má gestão e alto
grau de corrupção. Para se ter uma ideia, desde agosto de 2017, a Justiça venezuelana
processou 90 ex-funcionários da petroleira por corrupção. Em setembro, o Ministério Público
de lá mandou prender 9 diretores.
O Departamento de Justiça dos EUA também conduziu uma investigação com base em Miami
que revelou um esquema de lavagem de dinheiro da PDVSA que desviou US$ 1,2 bilhão, entre
2014 e 2015 . A operação chamada Fuga de Dinheiro contou com a cooperação de Reino Unido,
Espanha, Itália e Malta. Dois suspeitos foram presos.
▪ Como a estratégia de Trump na Venezuela se assemelha à antiga política dos EUA
para Cuba
Outra coisa que ajudou a prejudicar as finanças da PDVSA foi a criação, ainda no governo
Chávez, da Petrocaribe, uma iniciativa na qual a Venezuela se comprometia a fornecer petróleo
a preços muito mais baixos para países caribenhos aliados ao chavismo, com longos prazos
para pagamento. Era como emprestar dinheiro com retorno a perder de vista. Com o
aprofundamento da crise, a iniciativa começou a minguar e países como Jamaica e República
Dominicana passaram a buscar outros contratos para seu abastecimento.
O setor privado foi levado a substituir a produção própria pelas importações mais baratas,
subsidiadas pelo governo. Além disso, o governo adotou uma política de controle de preços,
segurando artificalmente a inflação, o que ajudou ainda mais a acabar com a indústria local.
Com o controle cambial veio um aumento significativo da corrupção, com desvio de dólares
para o mercado paralelo, onde a moeda valia até 12 vezes o preço do câmbio oficial. O governo
tentou manobras diversas para tentar conter a escalada do paralelo - como a criação de bandas
cambiais distintas que seriam aplicadas em diferentes situações. Mas não houve resultado
concreto e o câmbio ilegal continuou a corroer o já combalido sistema econômico.
▪ 'A Ku Klux Klan que governa a Casa Branca quer se apoderar da Venezuela', diz
Maduro
"Chávez capitalizou um descontentamento social que existia desde governos passados, com
uma desigualdade social acentuada, e o início de seu governo marcado pelo peso elevado que
deu ao Estado e pelo aspecto populista. Isso se caracterizou por um repúdio à propriedade
privada e a um menor papel do mercado, o que resultou num estrito controle de preços e
transações cambiais", afirma à BBC New Brasil o economista Luis Arturo Bárcenas, da
consultoria venezuelana Ecoanalítica.
O Estado também viu seus gastos públicos aumentarem para conseguir manter os programas
sociais. A dívida externa também aumentou em cinco vezes, com estimativa do FMI de bater os
US$ 159 bilhões neste ano – este montante inclui títulos de dívida pública emitidos pelo
governo e pela PDVSA e créditos com China e Rússia. Em 2015, a dívida era de US$ 31 bilhões,
segundo estimativas do FMI.
Como a maior parte do sistema financeiro mundial tem atividades nos Estados Unidos, as
sanções dificultam muito que novos empréstimos sejam feitos à Venezuela e que o país consiga
vender novos ativos e renegociar suas dívidas. Por outro lado, seus efeitos são questionados,
pois o país já estava isolado antes disso – organizações como o FMI já não davam dinheiro à
Venezuela havia anos.
Críticos afirmam que as sanções têm conseguido apenas que Maduro se aferre mais ao poder,
além de terem intensificado a escassez de produtos básicos – uma vez que, sem acesso a
dólares, o país tem mais dificuldade em importar bens.
Além disso, com a queda do preço do petróleo e uma redução no fluxo de divisas, o governo
passou a imprimir mais dinheiro para cobrir o rombo nas contas públicas e isso foi gerando
cada vez mais inflação.
A previsão do Fundo Monetário Internacional é que neste ano a inflação na Venezuela chegue a
1 milhão % (Isso significa você multiplicar por 10 mil o preço de um produto). Por dia, o FMI
estima em 4% o valor da inflação no país vizinho.
A hiperinflação fez com que faltassem até cédulas de dinheiro circulando, já que as pessoas
passaram a precisar de muito mais dinheiro para comprar qualquer coisa. Para tomar um café
ou comprar um papel higiênico, por exemplo, aqueles que não usam cartão de débito do banco,
passaram a ter de carregar pilhas de cédulas de bolívar - quando conseguiam sacar dinheiro.
Vale lembrar que na era Chávez, a pobreza na Venezuela havia caído em mais de 20%, de
acordo com a Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe), e o país passou a
registrar a menor desigualdade entre ricos e pobres entre países latino-americanos, de acordo
com relatório da ONU.
4 - Crise política
A Venezuela vive também uma intensa crise política, que também não começou agora, com o
início do segundo mandato de Nicolás Maduro e a recente proclamação do líder oposicionista
Juan Guaidó como presidente interino.
O país está dividido entre os chavistas e os opositores, que esperam o fim dos 19 anos de poder
do grupo que atualmente se reúne em torno do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).
Nos últimos anos, a independência entre os Poderes se reduziu na prática, o que contribuiu
ainda mais para a situação crítica atual.
Em 2009, em seu segundo mandato, Chávez conseguiu, por meio de um referendo com voto
popular, aprovação para alterar a Constituição e mudar a regra de reeleição para presidente.
Desde então, os presidentes venezuelanos passaram a poder concorrer a reeleições sem
limites.
O chavismo, projeto de poder que se consolidou a partir da primeira eleição de Hugo Chávez,
tem como elementos centrais uma atuação muito maior do Estado e a defesa de medidas que
ampliam a participação social na política - um exemplo é a organização de "comunas" nos
bairros mais carentes das principais cidades, órgãos que se articulam, por sua vez, com o
Legislativo local para apresentar demandas e controlar o fluxo de entrada de alguns
programas sociais.
Depois da morte de Chávez, em 2013, Nicolás Maduro, que era seu vice-presidente e também
do PSUV, já foi eleito e reeleito presidente com a promessa de dar continuidade às políticas do
antecessor.
Só que Maduro herdou a Venezuela já entrando em colapso econômico e tomou medidas que
contribuíram mais para a crise.
No início de 2014, o país foi foi tomado por uma onda de protestos contra Maduro. A repressão
do Estado foi violenta. Entre fevereiro e junho, 43 pessoas morreram. O líder oposicionista
Leopoldo López foi preso.
Em 2015, o chavismo perdeu o controle do Parlamento e isso fez com que a situação do país se
agravasse, já que Maduro acusa constantemente os oposicionistas de tentarem tirá-lo do poder
por meio de um golpe.
Após a derrota, ele decidiu convocar uma Assembleia Nacional Constituinte - na prática, uma
manobra para esvaziar totalmente o poder do Legislativo comandado pelos opositores e criar
uma instância paralela de decisão.
E essa instância paralela funciona com ajuda do Judiciário, que é acusado pela oposição de ser
totalmente chavista, já que o governo indicou a maioria dos juízes - Chávez aumentou o
número de integrantes do Tribunal Supremo de Justiça (TSE), equivalente ao STF no Brasil,
para compor uma maioria com seus indicados.
Em maio de 2017, após Maduro convocar a Assembleia Constituinte, dizendo que ela irá
renovar o Estado e redigir uma nova Constiuição, a Venezuela viu mais uma vez uma onda de
protestos violentos tomar o país. Mais de 120 pessoas morreram e 2 mil ficaram feridas.
Um ano depois, para agravar a crise, Maduro foi reeleito com 68% dos votos numa eleição
contestada dentro e fora do país. O mandatário foi reconduzido ao cargo num pleito que teve
54% de abstenção.
Na ocasião, o candidato derrotado da oposição, Henri Falcón, disse que não reconhecia a
eleição e acusou Maduro de usar o Estado para coagir os mais pobres a votarem.
Falcón acusou o governo de influenciar a votação através do Carnê da Pátria, documento que
permite que os venezuelanos recolham benefícios do governo e usem os serviços públicos.
Maduro prometeu que quem votasse no dia do pleito teria direito a um benefício extra
concedido pelo governo.
A oposição acusou o governo de compra de votos e a maior parte dos oposicionistas boicotou o
pleito. O governo afirmou que as eleições foram "livres e justas". Com muitos candidatos-não
governistas impossibilitados de concorrer ou presos, a oposição disse que o pleito não tem
legitimidade e que há indícios para desconfiar de fraude eleitoral.
Após a reeleição de Maduro, a OEA (Organização dos Estados Americanos) pediu a suspensão
da Venezuela da entidade. O Brasil, além de EUA, Canadá, Argentina, Peru e México, entre
outros, foi um dos países que pediu a suspensão da Venezuela da organização continental,
alegando desrespeito à Carta Democrática Interamericana e ilegitimidade da reeleição de
Maduro.
Os dois únicos países suspensos da OEA até hoje foram Cuba, em 62, quando Fidel Castro se
aliou à então União Soviética, e Honduras, em 2009, após o golpe de Estado que desitituiu o
presidente Manuel Zelaya.
A Venezuela já havia se adiantado a esse processo e pedido seu desligamento da OEA em 2017,
alegando que a organização estaria dominada pelas "forças imperiais" americanas. Esse fato,
no entanto, não impede que o processo de suspensão continue e que o país sinta seus efeitos
diplomáticos. A suspensão significaria que todas as nações americanas confirmaram que a
Venezuela não segue mais a ordem democrática.
Se a suspensão for confirmada, o país terá ainda mais dificuldade para obter apoio
internacional, principalmente na Europa e na Ásia.
Em junho de 2018, quando houve a assembleia da OEA, o então ministro das Relações
Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes Ferreira, afirmou que o governo de Maduro tinha
características de um regime que não é democrático, como perseguição da oposição, falta de
liberdade de imprensa e ausência de liberdade de organização política.
Após o oposicionista Juan Guaidó se autodeclarar novo presidente interino do país nesta
semana, o ministro da Defesa Vladimir Padrino tratou de dizer que as Forças Armadas
continuavam ao lado de Maduro. "Força Armada Nacional Bolivariana a meu comando, máxima
união, máxima disciplina, que vamos vencer. Leais sempre, traidores nunca", delcarou.
Em 25 anos, a Venezuela sofreu três tentativas de golpe de Estado pelos militares. Uma delas
foi deflagrada por um grupo do qual o então coronel Chávez era líder, em 1992.
Preso após a tentativa de golpe militar, ele foi solto anos depois e conseguiu se eleger em 1998.
Chávez trouxe as Forças Armadas para seu governo. Ele nomeou vários generais para cargos
em estatais, substituindo funcionários técnicos especializados.
Uma das empresas que teve parte de seu corpo técnico substituído por militares foi a
petroleira PDVSA, o que, segundo especialistas, explica em parte o fato dela não ter investido
em melhorias, não ter se desenvolvido.
O chavismo também colocou militares para atuarem como ministros. Um terço do gabinete de
Maduro é composto por militares e ex-militares.
Pela Constituição venezuelana, as Forças Armadas deveriam ser apolíticas. Mas o ministro da
Defesa, general Vladimir Padrino, escreve em seus despachos "Chávez vive, a pátria continua.
Independência e pátria socialista".
Outro fator que contribuiu para a crise venezuelana é o estrito controle da imprensa. Veículos
considerados de oposição foram comprados por chavistas, enquanto outros foram fechados
(caso da emissora RCTV, que teve sua concessão não renovada).
Já
Intervenções internacionais
Crise na Venezuela: as intervenções militares dos EUA na América Latina que
levaram a mudança de governo
Presidente americano, Donald Trump, não descarta opção militar na Venezuela,
apesar da oposição da maioria dos países da América Latina, onde espectro das
intervenções de Washington no passado continua presente.
Por BBC
Com o agravamento da crise na Venezuela, um fantasma voltou a rondar a América
Latina: o da ameaça de uma intervenção militar dos Estados Unidos.
Já em 2017, o presidente americano, Donald Trump, fez menção a "uma possível
opção militar se necessária" no país sul-americano.
Mais recentemente, a ideia ganhou peso desde que Juan Guaidó se declarou
"presidente interino" da Venezuela, iniciativa descrita pelo presidente venezuelano,
Nicolás Maduro, como uma "tentativa de golpe de Estado" orquestrada com o apoio
dos Estados Unidos.
Desde então, Trump reitera que "todas as opções estão na mesa". E o episódio em que
fotógrafos capturaram uma misteriosa mensagem - "5 mil soldados à Colômbia" -
manuscrita em um caderno do assessor para Segurança da Casa Branca, John Bolton,
jogou ainda mais lenha na fogueira.
O caderno foi flagrado em uma entrevista coletiva à imprensa em Washington, depois
que Bolton havia se reunido com outros funcionários do governo para anunciar um
pacote de sanções contra a estatal venezuelana PDVSA, com o objetivo de aumentar a
pressão pela renúncia do mandatário Nicolás Maduro. Bolton também instou militares
venezuelanos a apoiarem Guaidó.
Quando questionado se permitiria uma intervenção, Guaidó não descarta a opção.
sexto
Entenda os motivos da
crise na Venezuela
A Venezuela passa hoje pela pior crise da sua história. Índices econômicos
baixíssimos, instabilidade política e violência são alguns dos componentes
desse mosaico. No meio da disputa está o povo, que sofre com a crise de
abastecimento, sem produtos de primeira necessidade e com a escalada da
violência, com o número de mortos disparando, principalmente nos embates
entre os pró-governistas e os seus opositores.
Nesse sentido, a receita do petróleo fez com que Pérez fosse reeleito, mas a
dependência do petróleo gerou grande insatisfação por parte da população, já
que as medidas propostas pelo FMI para a liberação do empréstimo tinham
impacto direto nesse setor, e o país tinha sua economia toda baseada
na commodity. A insatisfação só aumentava, já que a necessidade do
empréstimo não havia sido falada durante a campanha.
No dia 27 de fevereiro de 1989, a insatisfação atingiu o seu limite e
começaram os primeiros protestos. Durante os dias subsequentes as
manifestações tomaram as ruas de Caracas e de outras cidades. A semana foi
marcada por saques, barricadas e enfrentamentos com as forças de segurança,
que teve como consequência centenas de vítimas fatais e milhares de feridos,
segundo familiares e grupos de direitos humanos. O evento ficou conhecido
como Caracazo.
Ali teve fim o pacto político que tinha seus alicerces no preço do petróleo e
que tinha possibilitado a convivência entre dois partidos de centro-direita, que
se alternavam no poder, e que havia excluído setores populares da disputa
política.
armadilha do embate
ideológico
"América do Sul para os sul-americanos!", Hugo
Chávezbradou durante um comício em Buenos Aires em 2007.
Não deixa de ser irônico que, mais de uma década depois, as
políticas implementadas pelo ex-presidente venezuelano e
por seu sucessor alcançaram o exato oposto. A Venezuela está
passando por uma catástrofe humanitária e um êxodo sem
precedentes, e os três atores externos mais influentes
na Venezuela hoje -- China, Estados Unidos e Rússia -- não são
da América do Sul. Os líderes da região foram reduzidos a
meros espectadores, apesar de serem, de longe, os mais
afetados, recebendo um número crescente de refugiados
venezuelanos.