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O mínimo sobre o Foro de São Paulo

Paulo Henrique Araujo


1ª edição — outubro de 2022 — CEDET
Copyright © Paulo Henrique Araujo 2022
Sob responsabilidade
do editor, não foi adotado o
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Editor:
Felipe Denardi

Revisão & preparação:


Vitório Armelin
Capa:
Zé Luiz Sobrinho

Diagramação:
Virgínia Morais

Revisão de provas:
Lidiane da Silva Ferreira Gozzo
Flávia eodoro

Conselho editorial:
Adelice Godoy
César Kyn d’Ávila
Silvio Grimaldo de Camargo

FICHA CATALOGRÁFICA
Araujo, Paulo Henrique.
O mínimo sobre o Foro de São Paulo / Paulo Henrique Araujo
Campinas, SP: O Mínimo, 2022.
ISBN: 978-65-85033-01-5
1. Ciência política 2. Comunismo 3. Ideologia marxista
I. Foro de São Paulo II. América Latina III. Autor

CDD 320 / 320-532 / 320-531 5

ÍNDICES PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO


1. Ciência política – 320
2. Comunismo – 320-532
3. Ideologia marxista — 320-531 5

www.ominimoeditora.com.br
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reprodução desta edição por qualquer meio ou forma, seja ela
eletrônica, mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer outro meio de
reprodução, sem permissão expressa do editor.
Sumário
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“Há anos aviso que no Foro de São Paulo o mais importante não são
as assembléias, mas as conversações discretas, ou reservadas, onde o
destino de vários países é decidido pelas costas da população.”

— Olavo de Carvalho
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    
O Foro de São Paulo tornou-se “popular” nas últimas décadas no
Brasil graças às constantes denúncias do professor Olavo de
Carvalho em suas colunas no Diário do Comércio, no O Globo e em
diversas palestras no Brasil e em outros países. É importante também
lembrar o grande trabalho realizado no portal Mídia Sem Máscara,
onde, ao lado de Olavo de Carvalho, personagens importantes atuaram
desenvolvendo materiais, traduzindo artigos de colegas da América
Latina para o público brasileiro e até mesmo escrevendo livros sobre o
tema. Não podemos deixar de mencionar nomes como Heitor de Paola,
Graça Salgueiro e José Carlos Graça Wagner, principalmente este
último, que foi o primeiro brasileiro a denunciar o Foro de São Paulo,
ainda na década de 1990.

Faz-se necessário citar ainda o trabalho hercúleo dos membros da


TFP,1 José Carlos Sepúlveda da Fonseca e Francisco Jorge Dolanyi, que
organizaram, desde o início do governo Lula, os relatórios quinzenais
“Lula Watch”, com todos os detalhes do andamento dos processos
revolucionários implementados pela esquerda latino-americana no
Brasil e no continente, enviando-os para a TFP dos EUA,2 que, por sua
vez, distribuía estes relatórios para grupos conservadores americanos e
até mesmo para políticos e autoridades locais. Ressalto também o
trabalho do jornalista Leonardo Coutinho, importante estudioso da
revolução Chavista da Venezuela que, a partir de um primoroso
trabalho de jornalismo investigativo, publicou o livro Hugo Chávez, o
espectro.3 Assim como o refugiado cubano Dr. Antônio Rafael “Tony”
de la Cova, fundador do audacioso projeto Latin American Studies em
1997, nos primórdios da internet.4

Na década de 2010, o Foro de São Paulo passou a ser mais conhecido
do público geral e a partir das jornadas de 2013, quando sua existência
e métodos de ação começam a car cada vez mais visíveis ao Brasil
profundo.5 Isto por si já foi uma grande vitória, a nal, o Foro de São
Paulo fora “esquecido” pela imprensa brasileira e pelo jornalismo de
maneira proposital, como tantas vezes denunciou o próprio professor
Olavo de Carvalho.

Nas eleições de 2016 e de 2018 no Brasil, ouvia-se falar


constantemente sobre o Foro de São Paulo nos debates das redes
sociais. Com o aumento do interesse do público em geral pelo tema,
voltava à tona uma série de mentiras sistemáticas promovidas pela
mídia por mais de 15 anos, seguindo um roteiro conhecido:

Passo 1: O Foro de São Paulo não existe, isto é teoria da conspiração.

Passo 2: O Foro de São Paulo não é nada do que dizem, é somente


uma reunião de velhinhos saudosistas das idéias socialistas da época
da Guerra Fria. Passo 3: O Foro de São Paulo existe, mas ele não é
uma ameaça à democracia, é somente um fórum de debates de idéias
da esquerda.

Passo 4: O grande problema do Foro de São Paulo é que ele existe,


mas não com o poder que lhe é conferido, é tão-somente utilizado
como uma ferramenta de discurso político eleitoral, tornando este
grupo em uma ferramenta a ser explorada pela direita em todo o
continente.

Percebe como através da manipulação da linguagem o Foro de São


Paulo foi de teoria da conspiração à vítima de uma direita-
conservadora-radical-reacionária e, através dos meios de mídia suas
idéias protegidas pela espiral do silêncio? Se qualquer personagem
político passa a falar sobre o Foro de São Paulo, é automaticamente
elevado a posição de perseguidor antidemocrático e exposto à
ridicularização pública como teórico da conspiração. Esta estratégia
não é nova, mas já praticada de maneira sistemática pela Tcheka
soviética de Lênin,6 onde os elementos da contrapropaganda foram
moldados para combater as técnicas de persuasão dos contra-
revolucionários. São elas: desmontar a propaganda alheia e atacar os
seus pontos isolados concentrando poder nas partes fracas; nunca
atacar perpendicularmente quando o argumento contrário for forte;
deixar de lado a racionalidade e mirar o lado pessoal do rival, como
escândalos, intrigas e boatos; ridicularizar o adversário colocando sua
publicidade em contradição com a realidade; e por último, impedir que
a propaganda inimiga que em evidência.

Por outro lado, existe o problema da simpli cação, que acabou


transformando o Foro de São Paulo em um espantalho dialético7 nos
meios da direita e conservadores, gerando uma confusão de sua real
essência e nalidade, por vezes favorecendo o trabalho de agentes
revolucionários em transformar os denunciantes em teóricos da
conspiração, nos meios de comunicação e da opinião pública. Outro
problema gerado por esta simpli cação, é atribuir ao Foro de São Paulo
facetas que não são propriamente suas. A mais comum nos últimos
tempos é dizer que o Grupo de Puebla é o Foro de São Paulo com um
novo nome.

Os agentes revolucionários, ao longo das últimas décadas, criaram


diversas organizações e grupos em nosso continente, como o
mencionado Grupo de Puebla, Grupo de Marbela, CELAC,
Conferência Tricontinental, OLAS etc.; cada um com um objetivo
especí co, que naturalmente compartilham, por vezes, os mesmos
membros entre si, o que nos leva a estas confusões e simpli cações.
Estas organizações são em sua maioria “sucursais” do Foro de São
Paulo,8 outras são tomadas “por dentro” e passam a trabalhar em favor
da organização principal.

Para evitar que esta simpli cação permeie o desenrolar de sua leitura
desta obra, deixarei aqui a de nição básica do Grupo de Puebla, que é o
ponto de maior confusão e simpli cação atualmente: é um Fórum
político e acadêmico composto por representantes políticos da
esquerda internacional, fundado em 12 de julho de 2019 na cidade
mexicana de Puebla. O seu objetivo, segundo os fundadores, é articular
idéias, modelos produtivos, programas de desenvolvimento e políticas
de Estado progressista. Possui três ink Tanks ligados aos grupos de
debates e proposição de pautas que são: a Fundação Perseu Abramo
(ligada ao PT), a chilena Fundación Progresa e a argentina Corporación
Escenarios. Este grupo está centrado exclusivamente em indivíduos,
contando com políticos e intelectuais de países como Argentina,
Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana,
Equador, El Salvador, Espanha, Guatemala, Honduras, México,
Paraguai, Peru e Uruguai.

Em seu primeiro encontro cou de nida a necessidade de responder à


guerra judicial ou lawfare que ameaça a democracia e, também, a
necessidade de promover o diálogo na Venezuela, tendo em vista que,
meses antes, o Grupo de Lima, de quem falaremos mais à frente,
capitaneava uma ofensiva contra o ditador Nicolás Maduro em todo o
mundo, reconhecendo Juan Guaidó como o presidente provisório de
fato do país. O Grupo de Puebla é um “passo atrás” da marcha
revolucionária, para manter o controle da Venezuela nas mãos de
Nicolás Maduro.

Sua atuação está focada na geração de documentos públicos e o ciais,


por guras que possuem um peso na opinião pública de seus países,
como ex-chanceleres, ministros de Estado, ex-presidentes e intelectuais.
Possui também um trabalho voltado a geração de conteúdo
aprofundado e de formação como os livros Lawfare e América Latina: a
guerra jurídica no contexto da guerra híbrida, dividido em 3 volumes
de quase mil páginas ao todo e produzido no Brasil; também lançaram
o livro Assange, a verdade con scada, produzido na Argentina e que
traz uma série de artigos de diversas personalidades da esquerda na
região tratando sobre Julian Assange, o fundador do Wiki Leaks.


Este livro está dividido em 3 grandes capítulos. No capítulo 1,
abordaremos o surgimento e a ascensão do Foro de São Paulo; no
capítulo 2 trataremos da queda dos membros do Foro de São Paulo e a
ascensão da direita; no capítulo 3 será tratada a retomada ao poder do
Foro de São Paulo em toda a América Latina nos dias atuais.

Ao longo dos capítulos, irei apresentar fatos ligados ao Foro enquanto


instituição, mas também as ações de diversos de seus membros ao
longo da história, passando por outros grupos o ciais e ilegais, que
levaram a ações diretas de nidas pelas diretrizes do Foro de São Paulo.
Adianto aqui que esta obra não tenciona aprofundar um passo a passo
de toda a história e ações do Foro de São Paulo, pois não seria possível
condensá-la nesta proposta editorial que com muita honra fui
solicitado a atender. O objetivo é que você, caro leitor, ao nal de sua
leitura, tenha os conhecimentos necessários para dominar o mínimo
sobre o Foro de São Paulo.

São Paulo, agosto de 2022.


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S P
Prever, não [que nos anos 2000 a maioria da AL seria governada pela
esquerda]. Mas nós já lutávamos por isso e já trabalhávamos por isso.
Inclusive porque nós criamos o Foro de São Paulo, que lutava para
isso.

— José Dirceu

O Foro de São Paulo é, em suma, uma organização de diversos


partidos revolucionários da América Latina. Porém aqui é
importante diferenciarmos o que a maioria das pessoas entendem por
partido político daquilo que os revolucionários chamam assim.

Os partidos democráticos, em geral, possuem políticas pensadas e


aplicadas a períodos curtos, limitadas pelo período de mandato dos
cargos almejados. Sua atuação, formulação de pautas e regras de
existência estão baseadas em leis nacionais e no respeito ao “Estado
Democrático de Direito”. Eles entendem a alternância de poder e as
diferenças políticas como parte do jogo, que deve passar por escrutínio
da população através de eleições, em que escolhem seus representantes
em diversas esferas do poder público para reger os rumos da nação.

Os partidos revolucionários, mais


necessariamente os comunistas e socialistas,
enxergam a política como uma extensão da
guerra revolucionária,
vivenciam a política literalmente como uma religião, onde seu
adversário não deve estar tão-somente derrotado eleitoralmente, mas
precisa ser eliminado do debate público e, se os meios forem propícios,
deve ser expurgado da existência.

Diferente dos partidos democráticos, os partidos comunistas possuem


uma visão de longo prazo, não reconhecem as leis impostas pelos
Estados aos quais estão submetidos, mas as respeitam na estratégia de
curto prazo, trabalhando para a sua total subversão na estratégia de
longo prazo, utilizando assim as marchas, ou velocidades,
revolucionárias ao seu favor. Para este m, são utilizados os partidos de
linha principal, como o PT no Brasil, e os partidos de linha auxiliar
como o PSDB, PSB, Cidadania, PC do B, PCB, PSOL, ou mesmo os
chamados “companheiros de viagem”,9 como PSD, PFL (União Brasil)
etc. Suas estratégias de longo prazo visam acima de tudo, uma mudança
radical das políticas públicas, da sociedade e de sua cultura como um
todo. Estas estratégias de curto prazo podem ser revertidas por políticas
não alinhadas, e justamente neste ponto faz-se necessária a estratégia de
longo prazo, onde as idéias de subversão cultural são implementadas na
sociedade de tal modo que a maior parte da população não conheça
nada que não esteja associado às várias linhas de pensamento da
loso a marxista, oferecida em diversos “sabores”, que dão a ilusão de
escolha para os eleitores, mas, que

ao m, estarão saboreando o mesmo chorume


revolucionário.

Os mecanismos revolucionários não reconhecem como partido


somente os grupos que obedecem à burocracia “burguesa” vigente, mas
também todo e qualquer grupo que esteja disposto a lutar contra o
status quo da sociedade atual em favor da revolução. Grupos como o
Movimento 19 de Abril (M-19), Exército de Libertação Nacional da
Colômbia (ELN), Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia
(FARC), Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA), Sendero
Luminoso (PCP), Movimento de Izquierda Revolucionária (MIR),
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) etc., são
reconhecidos como partidos da mesma forma que os demais, porém
não estão alinhados à ótica burguesa de legalidade. Em alguns casos,
estes movimentos são convertidos em partidos políticos “o ciais” para
que possam implementar a revolução pelos meios “democráticos”, como
recentemente ocorreu com as FARC.

As estratégias dos “partidos” revolucionários são apresentadas em


duas faces, sendo a face pública aberta para análise de todos, com
objetivos pragmáticos e construídos de maneira democrática; a segunda
face é ocultada do público, das autoridades, dos “companheiros de
viagens” e até mesmo de integrantes rasos do partido, pois, como em
todo movimento revolucionário,

se a verdade revolucionária vem à tona, a


sociedade rejeitará prontamente estas idéias
e a revolução pretendida ao longo prazo será aniquilada. O
revolucionário Saul Alinsky (1909–1972) deixou isto bem claro em sua
obra Regras para radicais,10 orientando todo e qualquer revolucionário
a nunca dizer onde se pretende chegar com suas idéias, mas dizer
somente aquilo que é necessário para que as pessoas embarquem em
seu propósito.

Um bom exemplo é o de Fidel Castro, que

negava ser comunista

e chegou inclusive a ser tratado como um aventureiro pelo próprio


partido comunista cubano. Também se autodeclarou católico e posou
para fotos com o terço no pescoço.11
Os movimentos revolucionários, em sua totalidade, possuem a
característica da desinformação arraigada a sua própria existência, seja
ela dentro do partido ou para o público em geral. Seus programas
elaborados em grande parte não possuem o compromisso de execução,
mas sim são grandes peças de desinformação para que, com o poder
nas mãos, as verdadeiras metas sejam implementadas de forma
totalitária, ou com o conceito do gradualismo, transformando as
sociedades em etapas. Entender este processo é a principal chave de
observação das ações dos indivíduos, grupos e partidos que compõe o
Foro de São Paulo.

PRIMÓRDIOS: VENEZUELA, CONFERÊNCIA


TRICONTINENTAL E A OLAS
A Revolução Cubana terminou no dia 01 de janeiro de 1959, com Fidel
Castro derrubando o governo de Fulgêncio Batista e tomando o
controle da ilha caribenha. Fidel empreende sua primeira viagem
internacional no dia 23 de janeiro rumo à Venezuela, apenas 22 dias
após a tomada do poder. Sua intenção era a cooptação de apoio político
e nanceiro do então Presidente Rómulo Betancourt (1908–1981), que
era social-democrata,12 e fora eleito após a queda da ditadura de Marcos
Pérez Jiménez (1914–2001) no ano anterior. Betancourt não oferece o
apoio esperado por Fidel, fazendo-o retornar à Cuba de mão vazias.

No início dos anos 1960, não conseguindo a colaboração do governo


venezuelano, Fidel Castro passa a apoiar ativamente as guerrilhas locais
por meio de aconselhamentos, treinamento militar em Cuba e entrega
de armas clandestinas na Venezuela. Quando Betancourt tomou
conhecimento dos fatos, reuniu as provas necessárias e iniciou uma
queda de braço com Cuba que resultou, em 1962, na expulsão do país
caribenho da Organização dos Estados Americanos (OEA),
organização que reúne todos os países do continente americano,
isolando diplomaticamente o regime de Fidel Castro.13
Em 1966, Fidel Castro organiza a Conferência Tricontinental dos
povos africanos, asiáticos e latino-americanos em Havana no dia 03 de
janeiro. Na conferência comparecem grupos de vários continentes
compostos por 513 Delegados, 64 Observadores e 77 Convidados. A
delegação soviética contou com o maior número de membros: 40. A
América Latina foi representada por 27 países. Na conferência foi
de nido que

Havana seria o quartel-general para apoiar,


dirigir, intensi car e coordenar operações
guerrilheiras e terroristas nos três continentes.

A declaração geral da Conferência Tricontinental abrangeu os


seguintes pontos signi cativos:14

1. Condenou o imperialismo ianque por supostamente “executar uma


política de intervenção sistemática e agressão militar contra as nações
dos três continentes”; 2. Referindo-se ao imperialismo ianque como o
“inimigo implacável de todos os povos do mundo”; 3. Referiu-se
novamente ao imperialismo ianque como constituindo “a base para a
opressão; ele dirige, fornece e defende o sistema mundial de
exploração”; 4. Proclamou “o direito dos povos de enfrentar a violência
imperialista com violência revolucionária”; 5. Condenou vigorosamente
“a guerra agressiva dos imperialistas ianques no Vietnã do Sul”; 6.
Proclamou “sua solidariedade com a luta armada dos povos da
Venezuela, Guatemala, Peru e Colômbia”; 7. Condenou “a política
agressiva do Governo dos EUA e seus agentes asiáticos contra o
Camboja pací co e neutro e pede a rejeição de todos os imperialistas
políticos, econômicos, diplomáticos e de cooperação com os
imperialistas ianques e com todos os governos fantoches que ajudam os
EUA a exagerar em sua política agressiva contra os povos
indochineses”; 8. Condenou “o bloqueio imperialista norte-americano
sobre Cuba”.
É importante ressaltar que, neste processo, a União Soviética
conseguiu um ganho duplo:

Moscou assumiu a plena liderança de ações


revolucionárias nos três continentes,

afastando a in uência chinesa,15 mesmo que paradoxalmente o


pensamento maoísta tornara-se predominante em muitos grupos da
América Latina.16 Era necessário também a desmoralização da OEA,
que expulsara Cuba quatro anos antes. Foi aprovada assim a resolução
dizendo que

não tem autoridade legal nem moral para representar as nações


latino-americanas. Que a única organização que poderia representá-
las seria uma composta de governos democráticos e anti-imperialistas
que fossem o produto genuíno da vontade soberana de todos os
povos da América Latina.

Assim, por iniciativa de Salvador Allende, foi criada a Organização


Latino Americana de Solidariedade (OLAS), para contrapor a OEA e
com o objetivo de substituí-la. Em sua primeira declaração a OLAS
apostou claramente na luta armada e a formação de guerrilhas como
meio de estender a revolução no continente americano.

Esta foi a primeira vez que uma organização internacional fora


estabelecida para salvar o regime cubano da completa falência. Segundo
relato de Juanita Castro Cruz (1933),17 os camponeses recusavam-se a
trabalhar para o regime comunista, pois a promessa que Fidel lhes
zera em troca de apoio na revolução fora a entrega de títulos de
propriedades; o governo, porém, se apossava de todo o trabalho através
de cooperativas semelhantes às soviéticas, implementadas por Stálin na
Ucrânia nos anos 1930.
O NASCIMENTO DO FORO DE SÃO PAULO
Entre os anos de 1979 e 1980, Fidel Castro foi gura central na
revolução comunista da Nicarágua, que lutava contra a ditadura do clã
Somoza, que imperava no país desde os anos 1930. Ao contrário do que
é relatado por muitos historiadores,

a atuação de Fidel foi muito além do apoio


logístico bélico e treinamento militar;
coube também a El Comandante dirimir as profundas rusgas que
havia entre as três frentes revolucionárias que lutavam pela
implementação da ditadura. As lideranças da Frente Sandinista de
Libertação Nacional estavam divididas da seguinte forma:

• FSLN Guerra Popular Prolongada (GGP), representada por Tomás


Borge, Henry Ruiz e Bayardo Arce.

• FSLN Tendência Proletária, representada por Jaime Wheelock e


Carlos Núñez Tellez.

• Terceiristas (terceira força), representados pelos irmãos Daniel


Ortega e Humberto Ortega.

Após uma tentativa de golpe de Estado fracassada pelos sandinistas, a


crise interna abateu-se sobre as lideranças, que se reuniram com Fidel
Castro em Havana em 1979, onde Fidel recompôs o grupo, eliminou as
rusgas e construiu a unidade necessária para que ocorresse a “ofensiva
nal” em junho do mesmo ano, que levou à queda da ditadura Somoza
e a subida dos sandinistas ao poder.18 Doze meses depois da vitória dos
sandinistas, uma grande festa foi realizada na Nicarágua, com direito a
des les militares e muitos convidados de honra, entre eles um
especí co:

Luiz Inácio Lula da Silva.


Foi nesta época que Lula conheceu pessoalmente Fidel Castro,
conforme relatado por ele mesmo em seu discurso da 17ª reunião do
Foro de São Paulo (2011)19 :

[...] no dia 19 de julho de 1980 do primeiro aniversário da Frente


Sandinista quando o orador principal foi Tomás Borge, o dia em que
eu conheci Fidel Castro e fomos comer uma lagosta na casa não sei
de quem, e eu lembro perfeitamente bem que, depois de chegar ao
poder por uma revolução, no momento certo a Frente Sandinista não
teve medo e convocou eleições democráticas.

Foi o primeiro contato entre Lula e Fidel, apenas quatro meses após a
fundação informal do Partido dos Trabalhadores.20

Nos anos 1980, uma série de fatores começam a impactar o


nanciamento e coordenação soviética com a ilha de Cuba, fazendo o
regime castrista novamente entrar em rota de declínio; alguns destes
fatores foram: a constante troca de Secretário-Geral do Partido
Comunista da União Soviética; a implementação da Glasnost e
Perestroika; a atuação do Papa João Paulo II e o movimento
Solidariedade na Polônia; o acidente nuclear de Chernobyl; a queda do
Muro de Berlim e o iminente colapso da União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas. Foi exatamente em meio a estas crises, em junho
de 1990, que nasceu o Foro de São Paulo, com a cooperação do PT de
Lula e do Partido Comunista Cubano de Fidel Castro, como relatado
por Lula, na mesma 17ª reunião:

[...] E eu lembro quando tivemos a idéia de construir o Foro de São


Paulo. Em 1985, eu z uma entrevista para um jornal brasileiro, e eu
dizia que não era possível um metalúrgico chegar à presidência pelo
voto e disputando democraticamente uma eleição. Quatro anos
depois, eu fui à primeira disputa presidencial, fui para a segunda
volta [turno], e terminei as eleições com 47% dos votos. O PT saiu
muito fortalecido daquela eleição. Os partidos de esquerda que estão
aqui, brasileiros — não sei se estão todos, mas o PCdoB, o PSB, não
sei se estão… o PDT — que estiveram juntos comigo, todos nós
saímos muito fortalecidos.

E aí então veio a idéia, conversando com os companheiros cubanos


num primeiro momento, de fazermos uma reunião da esquerda
latino-americana. E zemos em São Paulo, no Hotel Danúbio que já
não existe mais, em junho de 1990, a nossa primeira reunião. Havia,
meu querido Maduro, tantos partidos de esquerda na América Latina
e tantas divergências, que só da Argentina compareceram 13 partidos
políticos, e a única coisa que uni cava os argentinos eram os gols de
Maradona na Copa do Mundo de 1990. [Risos. Aplausos.] Havia um
processo de descon ança muito grande entre toda a esquerda latino-
americana. Nós não tínhamos ainda aprendido uma lição básica que
iria permitir que a esquerda chegasse ao poder. Nós temos um
brilhante educador brasileiro, que já morreu, um dos mais
importantes, que muitos latino-americanos conhecem, Paulo Freire, e
ele dizia: “Juntar os diferentes para derrotar os antagônicos”.

E nós fomos aprendendo a conviver entre nós, e fomos construindo


uma relação democrática difícil, complicada, muitas vezes era
necessária muita paciência.

Assim nasceu o cialmente o Foro de São Paulo em julho de 1990. No


entanto, o embrião da idéia foi concebido em janeiro de 1989 em
reunião de cúpula entre o Partido Comunista Cubano e o Partido dos
Trabalhadores, onde cou estabelecido que,

caso Lula não ganhasse as eleições de


novembro daquele ano, deveria ser criada uma
organização para coordenar toda a esquerda
continental

e a liderança do processo caberia ao brasileiro. A gura de Collor


ainda não estava no horizonte naquele momento. Fidel na verdade
temia era uma guinada para Leonel Brizola, personagem que já tivera
experiência problemática no início dos anos 1960, o que teria levado
Fidel, segundo alguns autores, a apelidá-lo de El Ratón.21
Independentemente do resultado da contenda, El Comandante não
con ava em El Ratón para o projeto que desejava implementar no
Brasil. Ao concluir o evento com a “Declaração de São Paulo”, os
participantes deixam claro que aquele foi o primeiro de muitos outros,
estabelecendo que o próximo encontro seria no México. Destaque para
os parágrafos nais da declaração:22

Neste arco, renovamos hoje nossos projetos de esquerda e socialistas,


nossos compromissos são a conquista do pão, da beleza e da alegria,
nosso afã de conseguir a soberania econômica e política de nossos
povos e a primazia de valores sociais, baseados na solidariedade.
Declaramos nossa plena con ança em nossos povos, que
mobilizados, organizados e conscientes forjarão, conquistarão e
defenderão um poder que torne realidade a justiça, a democracia e a
liberdade verdadeiras.

Aprendemos dos erros cometidos, assim como das vitórias. Armados


de um inegociável compromisso com a verdade e com a causa de
nossos povos e nações, nos colocamos a andar, seguros de que o
espaço que abrimos agora o encheremos junto aos demais
agrupamentos da esquerda latino-americana e caribenha com novos
esforços de intercâmbio e de unidade de ação como cimentos de uma
América Latina livre, justa e soberana.23

Desta forma foi encerrada a primeira reunião da organização que


tinha como meta, e ainda tem, recriar na América Latina o que havia
sido perdido na Europa Oriental:

a hegemonia de governos socialistas.


É importante ressaltar o papel determinante que teve a esquerda
católica no processo de fundação do Foro de São Paulo. Sua criação fora
precedida de algumas visitas estratégicas ao Mosteiro de Itaici, na
cidade de Indaiatuba no interior de São Paulo, sede dos encontros da
Conferência Nacional do Bispos do Brasil (CNBB) e articuladas por
Frei Beto24 (1944–), que levou a cúpula do Partido Comunista cubano,
que viera à fundação do Foro, a uma reunião com o Cardeal Evaristo
Arns. Em uma destas visitas no nal do ano de 1988, foi enviada carta
de simpatia ao ditador comunista Fidel Castro, que ordenou sua
publicação no periódico Granma e, ao que parece, teria contrariado o
Cardeal:

Queridíssimo Fidel,

Paz e bem

Aproveito a viagem de Frei Betto para lhe enviar um abraço e saudar


o povo cubano pela ocasião desde 30º aniversário da Revolução. […]
A Fé cristã descobre nas conquistas da Revolução os sinais do Reino
de Deus que se manifesta em nossos corações e nas estruturas que
permitem fazer da convivência política uma obra de amor. […]
Infelizmente ainda não se deram as condições favoráveis para que se
efetue o nosso encontro. Tenho-o presente diariamente em minhas
orações e peço ao pai que lhe conceda sempre a graça de conduzir os
destinos da pátria. […] Receba meu fraternal abraço nos festejos pelo
XXX Aniversário da Revolução cubana e os votos de um ano novo
promissor para o seu país.

Fraternalmente,

Paulo Evaristo Cardeal Arns.

A ATUAÇÃO LÍCITA DO FORO DE SÃO PAULO


Os partidos e membros do Foro de São Paulo entram na atuação
política de cada país com o discurso de curto prazo na ponta da
língua,25 mas com as metas de longo prazo26 e de integração entre seus
governos na mochila. Exatamente por isto

era necessário ocultar a existência do grupo


até que uma maioria socialista ascendesse ao
poder nos países do continente.
O Foro de São Paulo foi determinante para a tomada socialista-
comunista em todo o continente; o próprio Lula admite isto no
aniversário de 15 anos do Foro de São Paulo, em julho de 2005.27

[...] E é por isso que eu, talvez mais do que muitos, valorize o Foro de
São Paulo, porque tinha noção do que éramos antes, tinha noção do
que foi a nossa primeira reunião e tenho noção do avanço que nós
tivemos no nosso continente, sobretudo na nossa querida América do
Sul.

Todas as vezes que um de nós quiser fazer críticas justas, e com todo
direito, nós temos que olhar o que éramos há cinco anos atrás na
América Latina, dez anos atrás, para a gente perceber a evolução que
aconteceu em quase todos os países da nossa América.

[...] Eu estou feliz porque vocês acreditaram. Reuniões que não eram
fáceis, difíceis, muitas vezes as divergências eram maiores que as
concordâncias e sempre tinha a turma que fazia o meio de campo
para contemporizar, procurar uma palavra adequada para que não
houvesse nada que pudesse criar embaraço para o Foro de São Paulo.

Eu quero dizer uma coisa para vocês: não está longe o dia em que o
Foro de São Paulo vai poder se reunir e ter, aqui, um grande número
de presidentes da República que participaram do Foro de São Paulo.28

Além das reuniões, os membros eleitos do Foro de São Paulo,


auxiliavam os demais membros em suas candidaturas locais, como fora
feito por Lula com Chávez e depois com Maduro. Existe também uma
integração de experiência entre os partidos políticos com o
compartilhamento de dados e métodos de atuação em eleições.

Justamente estes pontos legítimos e legais do Foro de São Paulo são


utilizados como exemplos para satirizar os denunciantes do grupo, na
tentativa de promover o escárnio público e aplicar a regra número 5 de
Saul Alinsky em suas regras para radicais: “A ridicularização é a arma
mais poderosa do homem”.

A ATUAÇÃO ILÍCITA DO FORO DE SÃO PAULO


A atuação do Foro de São Paulo é marcada principalmente por suas
ações ilícitas em vários níveis: trá co de in uência internacional,
interferência em políticas internas e o narcotrá co. Para entender em
profundidade este tema, é importante antes de tudo compreender o
envolvimento de Cuba com o Narcotrá co e a relação de Hugo Chávez
com Fidel Castro.

A aproximação de Chávez e Fidel

Em fevereiro de 1992 o grupo Movimiento Bolivariano


Revolucionario 200 (MBR-200),29 liderado por Hugo Chávez tenta
aplicar um golpe de Estado ao então presidente venezuelano Carlos
Andréz Peres. Um verdadeiro banho de sangue explode em Caracas,
com um saldo nal de 95 feridos e número de mortos que varia entre
143 e 300. O golpe fracassa e Chávez é preso.

No ano de 1994 sobe ao poder na Venezuela o democrata-cristão


Rafael Caldeira, que, em um dos seus primeiros atos no governo,
concede indulto para Hugo Chávez. Imediatamente o MBR-200 passa a
excursionar com Chávez por todo o país e este chama a atenção de
Fidel Castro, que o convida para palestrar na Universidade de Havana.
Em 13 de dezembro de 1994, Fidel vai ao aeroporto receber um
militar derrotado, recém-libertado da prisão após tentar um golpe de
Estado. Segundo as palavras do próprio Hugo Chávez,

foi amor à primeira vista:

“Senti seu olhar penetrante”. Sob a tutela de Fidel Castro, Hugo Chávez
seria eleito presidente da Venezuela quatro anos depois.

O narcotrá co como negócio de Estado

O narcotrá co era uma questão que incomodava Hugo Chávez, mas a


justi cativa “moral” para o seu uso foi-lhe ensinada por Fidel Castro.
Em uma visita a Havana, Chávez con denciou para Fidel que estava
disposto a dar suporte para à causa das FARC da Colômbia.30 Porém,
estava preocupado com o inconveniente do trá co de cocaína. Sem
qualquer dúvida, Fidel Castro corrigiu seu pupilo no mesmo instante e,
explicou calmamente para ele que este ponto não era uma fraqueza,
mas sim um instrumento na luta revolucionária contra o imperialismo.
De forma didática convenceu Hugo Chávez de que oferecer apoio total
aos colombianos, obrigaria os EUA a aumentar o gasto de dinheiro com
a repressão e com os tratamentos de viciados dentro do país.

A facilidade de Fidel em explicar e justi car este apoio para Chávez,


tem uma justi cativa simples: desde os anos 1980 ele já estava
envolvido no negócio de trá co de drogas, chegando inclusive a ter
reuniões com Pablo Escobar em território Cubano.31

Nos anos seguintes, um lucrativo negócio envolvendo os ideais


revolucionários de desestabilização de seus inimigos e o faturamento
para nanciamento de grupos guerrilheiros e Estados foi posto em
prática. As FARC, segundo um estudo do governo colombiano durante
as negociações de paz com os guerrilheiros, possuíam ativos no valor
de 33 trilhões de pesos, o equivalente a 10,5 bilhões de dólares em 2012.
Os analistas nanceiros acreditam que grande parte do acervo das
FARC, suas origens criminosas disfarçadas, é investido dentro da
própria Colômbia, em empresas de transportes, propriedades rurais e
no mercado de ações. Alguns ativos provavelmente foram escondidos
no exterior, como na Costa Rica, Venezuela, Equador e Panamá.32

No lado venezuelano, foi criado o Cartel dos Sóis, nome que faz
referência às estrelas dos generais do exército venezuelano, principais
agentes do cartel. As primeiras evidências internacionais de atuação da
organização criminosa vieram à público com provas em 2012, após o
desertor chavista, juiz e ex-presidente da área penal da Corte Suprema
Venezuelana, Eladio Ramón Aponte, fugir para a Costa Rica e passar a
cooperar com a DEA dos EUA.

Aponte reconheceu e apresentou provas de sua participação em


manipulações de sentenças que remontavam pelo menos à 2005,
envolvendo crimes cometidos em operações do cartel dentro da
Venezuela. No ano de 2010, o tra cante de drogas Walid Makled García
foi preso na Colômbia e teve sua extradição disputada por EUA e
Venezuela, acabou sendo extraditado para o regime chavista, onde
passou a cumprir pena na chamada “prisão hotel” da SEBIN.33 Makled
foi quem entregou o envolvimento de Eladio Ramón Aponte, acusando
o magistrado de receber propina de 70 mil dólares mensais do Cartel
dos Sóis. Aponte percebeu que estava envolvido em uma trama de
expurgo público do regime e isto fez com que fugisse.

Ambos indicaram em seus depoimentos que o Ministro da Defesa da


Venezuela, general de brigada Henry de Jesús Rangel Silva; o presidente
da Assembléia Nacional, deputado Diosdado Cabello; o vice-ministro
de Segurança Interna e direito do Escritório Nacional Antidrogas,
Néstor Luis Reverol; o comandante da Quarta Divisão Blindada do
Exército, Cliver Alcalá; e o ex-diretor da seção de Inteligência Militar,
Hugo “El Pollo” Carvajal, formavam o coração da organização
criminosa no Narco-Estado Venezuelano.
Outro desertor chavista, chamado Leamsy Salazar, capitão de corveta
da Marinha Venezuelana e guarda costas pessoal de Hugo Chávez por
dez anos, após também perceber que seria vítima de um expurgo, fugiu
aproveitando-se do pretexto de sua lua-de-mel por diversos países da
América Latina. Em fuga, prevendo que ainda poderia ser pego,
conseguiu sair do continente e ir para a Espanha, onde conseguiu
acordo com a DEA. Leamsy estava sendo cassado por espiões chavistas
e, acredita-se, com suporte de espiões russos dentro da Espanha. Em
solo americano ele prestou sua denúncia: acusou Diosdado Cabello de
che ar o Cartel dos Sóis.34

A partir do regime chavista,

a Venezuela passou a ser responsável pelo


escoamento de algo em torno de 90% de toda
a droga produzida na Colômbia.
Salazar também indicou para as autoridades americanas o local onde
os chavistas armazenavam montanhas de dólares e demostrou como a
PDVSA, a gigante estatal petrolífera, havia se transformado em
intermediária das operações de trá co do Cartel dos Sóis. As cargas de
drogas eram embarcadas em aviões da PDVSA, sob a supervisão de
militares e funcionários da embaixada Cubana, na maioria das vezes o
itinerário tinha como destino Havana.

Em junho de 2015,

Diosdado Cabello foi recebido por Luiz Inácio


Lula da Silva

no “Instituto Lula” e também visitaram a planta de processamento de


frango do frigorí co JBS (JBSS3), no interior paulista, recepcionados
por ninguém menos que o presidente do conselho da empresa, Joesley
Batista.35 Nesta mesma visita ao Brasil, sem comunicação prévia ao
Itamaraty, Cabello furou a agenda das mais altas autoridades políticas
do Brasil e reuniu-se com Dilma Rousseff, o então vice-presidente
Michel Temer e o, à época, presidente do congresso nacional Renan
Calheiros.36


Mais do que uma ferramenta de guerra irregular, o narcotrá co é acima
de tudo uma ferramenta poderosa de subversão social, econômica e até
mesmo política. Fidel Castro sustentara os cofres pessoais e do regime
na década de 1980, quando as relações com a União Soviética
tornaram-se frágeis. As revoluções na América Latina passaram a ser
sustentadas pelo envolvimento em escala industrial no mercado das
drogas por parte das guerrilhas: ELN37 e FARC na Colômbia, Sendero
Luminoso38 no Peru, a institucionalização do mercado de folha de coca
na Bolívia e a criação do Cartel de Los Soles.

É importante neste ponto lembrar o caro leitor que a política


revolucionária é uni cada e de caráter processivo, conforme objeto de
estudos em meu livro Bases revolucionárias da política moderna.39

O trá co de drogas e de armas de fogo é


utilizado como meio de adquirir recursos por
diversos grupos e Estados.
No mercado de drogas, além dos citados acima, temos os xiitas do
Hezbollah e os sunitas do Estado Islâmico, rivais que sustentam suas
jihads com a produção e venda de drogas. No mercado de trá co de
armas, temos a atuação do Hamas no Líbano, da Coréia do Norte,
ambos em parceria com o Irã, onde diversas unidades destas armas e
também as drogas são enviadas para o Brasil, abastecendo as
organizações criminosas como o PCC, Comando Vermelho, entre
outas.

Mais do que desestabilizar o tecido social, o dinheiro gerado com os


ilícitos é importante e até determinante para o nanciamento político
dos grupos, idéias e agentes da revolução. O jornalista Leonardo
Coutinho apresenta números impressionantes a este respeito:

Uma projeção conservadora indica que o narcotrá co gera receitas


superiores a 33 bilhões de reais. Se fossem uma empresa, as
organizações criminosas teriam arrecadado 10% mais que o total de
vendas líquidas registradas pela gigante JBS em 2015. A comparação
aqui tem uma dupla função: em um acordo de colaboração com as
autoridades brasileiras, a companhia confessou que tinha no bolso
1.829 políticos, de 28 partidos. Apenas em 2014, foram pagos cerca
de 400 milhões de reais em propinas disfarçadas de doações o ciais.

Se a JBS, uma empresa formal, foi capaz de corromper em escala


industrial, qual será o potencial do crime organizado? Sem qualquer
tipo de freio moral ou contábil, as organizações criminosas não têm
limites frente a seus “concorrentes”

formais. Na eleição municipal de 2016, foram identi cados os


primeiros sintomas da mimetização do crime organizado com a
política. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgou que, de um
total de 730.000 doações feitas a políticos e partidos brasileiros, nada
menos que 300.000 partiram de pessoas sem capacidade nanceira de
realizá-las. E as suspeitas recaíram diretamente sobre o crime
organizado, que pode ter injetado uma fortuna seja em candidatos
diretamente apoiados ou por meio de agiotagem. Empréstimos que
preencheram o vácuo nanceiro deixado pela falta de doadores
reais.40

Lavando dinheiro com médicos cubanos


A medicina cubana sempre foi utilizada como propaganda do regime
castrista ao longo das décadas. Um processo de propaganda ideológica
sempre foi utilizado para fortalecer esta imagem para o mundo,
inclusive sendo matéria de argumentação em debates político-
ideológicos no Brasil durante décadas, como prova da igualdade de
oportunidades conquistadas pelo regime socialista, onde todos os
cubanos têm a possibilidade de serem grandes médicos e de ter acesso
pleno à saúde. Seria isto verdade? Para entender as nuances deste
processo, é necessário um olhar técnico e sem a paixão ideológica de
qualquer lado em questão. No ano de 2004, o médico oalmologista Dr.
Edson de Oliveira Andrade, à época Presidente do Conselho Federal de
Medicina (CFM), empreendeu uma viagem de dez dias a Cuba, como
parte de uma missão o cial do governo brasileiro para observar o
ensino médico ali realizado. Ele registrou o que viu no país caribenho e
relatou com riquezas de detalhes em artigo publicado em 22 de março
de 2004 no portal do CFM.41 Abaixo reproduzo os principais trechos
para a nossa base de estudo:

Quando embarquei para Havana levava comigo uma pergunta


remanescente a martelar minha cabeça: por que os médicos formados
em Cuba são reprovados quando tentam revalidar os seus diplomas
nas universidades brasileiras? Uma outra pergunta já me tinha feito:
seria o processo brasileiro de revalidação exigente em excesso? Ainda
no Brasil, havia procurado ter conhecimento do teor das provas aqui
realizadas. Na ocasião, pude observar que o conteúdo era semelhante
ao adotado para o provão da residência médica. Nada absurdo ou
exagerado.

[...] Lá, como no Brasil, se leva seis anos para formar um médico. As
semelhanças quase que param por aí. Digo quase por que,
nominalmente, as disciplinas dos dois cursos em muito se
assemelham. Os seus conteúdos, entretanto, não apresentam a mesma
similitude.

[...] É incontestável que há uma brutal estrati cação e controle da


prática médica. Lá o médico faz apenas o que o Estado cubano lhe
permite fazer. Isto signi ca adequar o seu conhecimento às
possibilidades provedoras do Estado, que por sua vez são, a olhos
vistos, limitadas e insu cientes, conforme nos foi apresentado pelas
autoridades cubanas da saúde e como nos foi possível constatar neste
breve e super cial “recurrido”. Tudo isto tem re exos sobre o tipo de
formação ali instituída. O médico cubano recém-formado é um
médico contingenciado em seus conhecimentos. Vejam bem, estou
usando a palavra contingenciado e não malformado, pois tenho a
convicção de que este processo é intencional para adequar as
demandas futuras dos recém-formados às possibilidades do Estado
cubano de atendê-las. Se não sei, não peço. Se não sei, não exijo.

[...] Mas o reconhecimento da insu ciência da formação médica


cubana também é manifestado quando Cuba trata os estudantes
norte-americanos que ali estão de modo diferenciado, oferecendo-
lhes um currículo particular a m de que possam obter a aprovação
nos exames de revalidação a que são submetidos nos Estados Unidos
da América do Norte.

[...] Por tudo que vi, ouvi e pude apreender nesta viagem à bela ilha
de Cuba, creio que passo agora a ter, se não no todo, mas pelo menos
em parte, a resposta à pergunta que me acompanhou quando de
minha partida. Os médicos recém-formados em Cuba não
conseguem aprovação nas provas de revalidação de diplomas no
Brasil porque a sua formação é deliberadamente limitada, com ênfase
nos cuidados básicos — importantíssimos, por certo, porém
insu cientes para o exercício de uma medicina plena, como
precisamos e exercemos no Brasil.

Como podemos observar no relato do Dr. Edson de Oliveira Andrade,


o médico cubano não é incompetente, mas limitado pelo Estado
comunista, para que assim não tenha condições de exigir do governo
aquilo que ele não pode oferecer. E isso limita os cuidados da
população e o pleno avanço da categoria. Claro, sem deixar de cuidar
da propaganda, propiciando aos residentes oriundos dos EUA um
currículo que garantirá a promulgação da propaganda para o mundo.
Esta propaganda ideológica e estatal foi e ainda é de suma importância,
pois

a ditadura cubana utiliza os médicos do país


como mercadoria para sustentar os cofres do
país.

Este processo foi utilizado pela primeira vez na Venezuela de Hugo


Chávez em novembro de 1999, primeiro ano de governo chavista.
Chávez assinou um termo de compromisso com seu mentor Fidel
Castro, onde, entre outras coisas, comprometeu-se em receber um
contingente de 12 mil médicos cubanos na Venezuela; em
contrapartida Cuba forneceria acesso “gratuito” aos venezuelanos em
seu sistema de saúde, e a Venezuela passou a fornecer 53 mil barris de
petróleo por dia para Cuba.42

No Brasil, com a eclosão das manifestações populares de 2013,43 a


então Presidente Dilma Rousseff aproveitou a demanda das ruas por
melhoras no Sistema Único de Saúde (SUS) e implementou o programa
Mais Médicos em escala federal. À época, diversos médicos e entidades
da classe questionaram a efetividade do programa, muitos argumentos
compatíveis com as questões apresentadas dez anos antes pelo Dr.
Edson de Oliveira Andrade. O principal deles era a não necessidade de
os médicos cubanos prestarem o exame técnico do REVALIDA.44 Com
isto,

mais de 8 mil médicos cubanos foram


enviados para o Brasil no período de 2013 a
2018.
Já em 2013, a forma de remuneração foi ponto de debate no Brasil. O
contrato de importação de médicos foi intermediado pela Organização
Pan-Americana da Saúde (OPAS),45 representada no Brasil pelo cubano
Joaquin Molina. Em entrevista coletiva com o ministério da Saúde em
agosto de 2013, Molina disse não saber o montante que seria repassado
para cada pro ssional de saúde cubano. “Não zemos um contrato por
pessoa, mas um contrato conjunto. Temos apenas certeza de que eles
receberão uma quantia”. Molina a rmou que cabe à OPAS monitorar o
conjunto do serviço que será prestado ao país, e não os trâmites entre a
ilha e seus pro ssionais. “Esse médico não se desligou do seu país, ele
vem ao Brasil por um princípio de solidariedade”. Ainda neste mesmo
evento, o então ministro da Saúde do governo do PT, Alexandre
Padilha, a rmou que o contrato fechado com a OPAS visava apenas a
“assistir os milhares de brasileiros que estão sem atendimento médico”.
O ministro reforçou a fala da vice-ministra da Saúde de Cuba, Marcia
Cóbas, que os pro ssionais enviados ao Brasil receberiam o salário
integral mais um bônus no valor de até 50% da bolsa de 10.000 reais.

O ministro brasileiro também fez questão de blindar o acordo:


a rmou que não iria permitir qualquer tipo de “debate ideológico”
sobre a vinda dos médicos cubanos. “Não vou reforçar nenhum tipo de
preconceito. Nunca vi questionamento sobre qual a parcela que ca
com o Banco Mundial quando se fecha um acordo de consultoria”.46
Tudo lindo, se fosse algo além de

fantasia.

Em março de 2015, numa reportagem da rede Bandeirantes de


televisão, é apresentada gravação onde ca caracterizada a intenção de
utilizar o acordo do programa Mais Médicos para nanciamento da
ditadura cubana envolvendo o ministério da Saúde e a OPAS. A
reportagem divulgou conversa entre a coordenadora do programa pela
OPAS, a pernambucana Maria Alice Barbosa Fortunato, e funcionários
do ministério, onde ela demonstra preocupação em não deixar explícito
o cunho ideológico e acima de tudo bilateral entre os dois países, o que
derrubaria por terra a independência dos pro ssionais de saúde no
país.47

Depoimentos, áudios e trocas de mensagens revelaram que médicos


cubanos viviam quase como escravos no Brasil.48 Pelo acordo fechado
entre os dois países, ao contrário do que foi a rmado pelo ministro
Padilha,

os médicos cubanos cavam apenas com


uma pequena fração de seus salários, e a
maior parte ia diretamente para o regime
comunista cubano,
algo entre 75% e 90%. A OPAS retinha 5% a título de reembolso dos
custos indiretos decorrentes da cooperação técnica.49

Após a eleição do Presidente Jair Bolsonaro em 2018, a ditadura


cubana rapidamente retirou seus médicos do Brasil, e cancelou o
contrato com o governo brasileiro que iria até o m de 2019. Como
presidente eleito, mas ainda não empossado, Jair Bolsonaro ofereceu
asilo político para todo médico cubano que quisesse permanecer no
Brasil, e em entrevista ao lado do então futuro chanceler, Ernesto
Araujo, declarou:

Eu fui contra o Mais Médicos por alguns motivos que agora tornam-
se muito mais caros. Primeiro, a questão humanitária e desumana.
Deixar esses pro ssionais afastados de seus familiares. Tem muita
senhora desempenhando função de médico e seus lhos estão em
Cuba. [...] Em torno de 70% do salário desses médicos é con scado
pela ditadura cubana. [...] Não temos qualquer comprovação de que
eles sejam realmente médicos e estejam aptos a desempenhar a sua
função. [...] Vocês mesmos, eu duvido quem queira ser atendido pelos
cubanos. Se zer o REVALIDA, salário integral e puder trazer a
família, eu topo continuar com o programa.50
Em dezembro de 2019, Carrie Filipetti, secretária de Estado adjunta
para Cuba e Venezuela, em um evento da Fundação Memorial para
Vítimas do Comunismo organizado pela Organização dos Estados
Americanos (OEA), trouxe denúncias importantes:

Cheguei a conhecer a missão médica cubana [...] como um


mecanismo através do qual o regime cubano viola os padrões
internacionalmente de nidos de direitos humanos e trabalhistas de
seu próprio povo, enquanto simultaneamente dissemina discórdia
política e social ao redor do mundo.51

A Sra. Filipetti também informou que teve acesso a diversos


testemunhos dos pro ssionais de medicina cubanos, onde declararam
que muitos médicos — muitas vezes sob pressão — atuam como
agentes estrangeiros que incitam a violência e se envolvem em coerção
política. Nos últimos anos, os médicos cubanos:

• ameaçaram suspender o tratamento de pacientes venezuelanos se


eles não votassem em Maduro;

• estiveram ligados com a incitação de protestos violentos na Bolívia;

• falsi caram dados para benefício político e econômico do regime de


Maduro.

Ainda segundo o relatório publicado pelo Departamento de Estado


dos EUA, outras testemunhas declararam que diversas formas de abuso
foram aplicadas, como: ameaças contra os médicos que abandonam o
programa, falta de pagamento de salários, liberdade de circulação
restringida e passaportes con scados.

Atualmente, há cerca de 30 mil médicos cubanos atuando em 67


países — a maioria na América Latina e na África, todos com um
regime extremamente so sticado de coerção do médico residente,
geralmente utilizando membros da família como “reféns” da ditadura,
obrigando que os pro ssionais obedeçam a todas as ordens legais e
ilegais da ditadura; caso contrário, seus parentes, em casa, podem pagar
a conta.

Segundo o Tribunal de Contas da União, o Brasil pagou quase 7


bilhões de reais para Cuba durante a existência do programa.

O ÁPICE DO FORO
As duas ascensões ao poder de membros do Foro de São Paulo mais
signi cativas foram as de Hugo Chávez na Venezuela (1999) e de Lula
no Brasil (2003). Mas elas estão longe de terem sido as únicas.

A lista atingiu seu ápice no ano de 2011

e ao todo chegou a ter 14 países governados por nada menos que 21


membros do Foro:

• Argentina: Néstor Kirchner (2003–2007) e Cristina Fernández de


Kirchner (2007–2015);

• Bolívia: Evo Morales (2006–2019) e Luís Arce (2020–presente);

• Brasil: Luiz Inácio Lula da Silva (2003–2011) e Dilma Rousseff


(2011–2016);

• Chile: Ricardo Lagos (2000–2006) e Michelle Bachelet (2006–2010 e


2014–2018);

• Costa Rica: Óscar Arias (2006–2010);

• El Salvador: Mauricio Funes (2009–2014) e Salvador Sánchez Cerén


(2014–2019);

• Equador: Rafael Correa (2007–2017);


• Guatemala: Álvaro Colom (2008–2012);

• Honduras: Manuel Zelaya (2006–2009);

• Nicarágua: Daniel Ortega (2007–presente);

• Paraguai: Fernando Lugo (2008–2012);

• Peru: Alan García (2006–2011) e Ollanta Humala (2011–2016);

• Uruguai: Tabaré Vázquez (2005–2010 e 2015–2020) e José Mujica


(2010–2015);

• Venezuela: Hugo Chávez (1999–2013).

O protagonismo e força da esquerda revolucionária era tão grande que


reuniões do Foro de São Paulo passaram a ser realizadas dentro da
estrutura o cial da diplomacia na América do Sul, como o XIV
encontro do Foro de São Paulo, no ano de 2008, que ocorreu no prédio
do Mercosul na cidade de Montevideo no Uruguai.

O “HERDEIRO” DE FIDEL CASTRO


O Brasil foi e é extremamente importante para a esquerda latino-
americana por ser uma potência em diversos setores, mas é um país
difícil de aplicar um controle absoluto de uma “ditadura do
proletariado” como a de Cuba.

Lula foi e ainda é muito importante para o


movimento revolucionário latino-americano.

Ele foi escolhido por Fidel Castro para ser a gura de proa em duas
vias simultâneas: a via revolucionária aberta, onde serviria como
modelo para os diversos partidos, grupos guerrilheiros e guras
políticas em todo o continente ao m dos anos 1980 e, numa segunda
via, o político revolucionário que abandonaria as “idéias ultrapassadas”
das décadas anteriores, abraçaria a democracia e o neoliberalismo, seria
o símbolo de que “o comunismo cou no passado”. Note como Lula
nunca é lembrado ou a liado ao movimento comunista, mesmo dentro
do PT. Muitos podem pensar que, como co-fundador do Foro de São
Paulo, Lula seria o sucessor natural de Fidel Castro, porém esta não foi
a realidade.

Fidel Castro foi um personagem determinante na Revolução


Sandinista na Nicarágua, foi um grande promotor da esquerda católica
no continente, criando as bases para que ela se desenvolvesse e se
in ltrasse na maioria dos seminários e sacristias. Financiou diversas
guerrilhas em vários países, criou o mais e ciente sistema de
inteligência dentro e fora de Cuba, com a capacidade de dar diretrizes
operacionais e de Estado para diversos governos. In uenciou guras
políticas dentro dos Estados Unidos e Canadá, entre as quais Pierre
Trudeau: 15º Primeiro-ministro do Canadá entre 1980 e 1984 e pai do
atual primeiro-ministro Justin Trudeau. Fidel foi in uência e modelo
para muitos revolucionários espalhados pelo mundo. Após a queda da
União Soviética, tornou-se um bastião respeitado em todos os cantos
do planeta. Até mesmo os presidentes chineses lhe prestavam o mais
alto respeito. Mas ao longo de quase 50 anos no poder,

ninguém impressionou mais Fidel Castro


do que um personagem: Hugo Chávez.
E é claro que Chávez praticamente entregou a Venezuela para Cuba. É
o raro caso de um país de economia estável, com uma das maiores
reservas de petróleo do mundo, que deixou-se ser dominado por um
país menor em todos os sentidos, tomado por uma ditadura falida.
Todavia, existia algo a mais nesta relação, e Fidel passa não somente a
tutelar Hugo Chávez, mas a transformá-lo no que seria o mais próximo
de um sucessor natural.
Nos anos 2000, Chávez assume um papel de protagonismo absoluto
em todas as estratégias de bastidores do Foro de São Paulo em toda a
América Latina. Sua in uência foi determinante para que Evo Morales
subisse ao poder na Bolívia e posteriormente se mantivesse. Foi o
responsável direto pela solidi cação do esquema de narco-Estados em
todo o continente, e exercia, ao lado da inteligência cubana, in uência
diplomática em todos os países da região, inclusive no Brasil. No
Fórum Social Mundial de 2005, realizado em Porto Alegre,52 foi
ovacionado e celebrado como

o grande líder da revolução latino-americana.

Nesta época, Chávez chegou a declarar sobre o Brasil: “Estamos entre


os grandes. A Venezuela não é mais um país que pode ser ignorado. [...]
Antes nós tínhamos que ir ao Brasil, agora é o gigante que vem até
nós”.53

Com o afastamento de Fidel Castro do poder em 2006, devido a uma


doença grave no intestino, Hugo Chávez assume o protagonismo e a
“liderança” das ações revolucionárias no continente. A estratégia e seus
métodos revolucionários passam a ser exportados não somente para os
vizinhos das Américas, mas também para países da Europa. O primeiro
país foi a Espanha, escolhido principalmente pela facilidade do idioma
e as raízes históricas. O regime venezuelano passa a fomentar
nanceiramente o Centro de Estudos Políticos e Sociais (CEPS), como
organização de auxílio consultivo para seu governo, levando as pessoas
deste grupo a despachar ao lado de seu gabinete no Palácio Mira ores
em Caracas. No futuro, em 2014, o CEPS viria a tornar-se o embrião do
partido espanhol Podemos. Na Itália, o chavismo apoiou e nanciou
diretamente o fundador do Movimento 5 Estrelas, Gianroberto
Casaleggio, que viria a tornar-se um partido político importante no
país da bota e fazer parte da coalisão de governo de Giuseppe Conte. O
regime venezuelano teria enviado 3,5 milhões de euros para a Itália
através de mala diplomáticas, despachadas pelo então chanceler Nicolás
Maduro, para nanciar o partido italiano.54
A   F    

Eu que, junto com alguns companheiros e companheiras aqui, fundei
esta instância de participação democrática da esquerda da América
Latina, precisei chegar à Presidência da República para descobrir o
quanto foi importante termos criado o Foro de São Paulo.

— Luiz Inácio Lula da Silva

A CORRUPÇÃO DO PT E DO FORO DE SÃO PAULO

O sLula
governos do Partido dos Trabalhadores no Brasil, liderados por
de 2003 a 2010 e Dilma Rousseff de 2011 a 2016, foram
marcados sobretudo pelos grandes escândalos de corrupção. Para
grande parte dos brasileiros, quando um político pratica um crime de
corrupção, este tem a nalidade do ganho pecuniário e suas benesses,
como carros, casas, bebidas, uma vida luxuosa e a ns. Infelizmente, o
que muitas vezes não é demonstrado de maneira clara, principalmente
pela grande mídia, é que

grande parte destes crimes foram


cometidos com uma nalidade ideológica
especí ca.
O dinheiro deve ser encarado como um meio para que diversos
objetivos de um projeto de estabilidade e poder internacional sejam
alcançados, não com a simples nalidade de encher o cofre.
O Estado brasileiro foi utilizado como nanciador e garantidor destes
projetos, por meios ilícitos ou por meio de trá co de in uência. No
caso brasileiro, porém, não somente o Estado foi utilizado, mas
empresas privadas de diferentes setores foram importantes para o
sucesso dos empreendimentos revolucionários. Empresas da área da
construção civil, frigorí cos e agências de marketing político serviram
aos objetivos do Foro de São Paulo.

Lava-Jato e a corrupção pandêmica

A operação Lava-Jato, iniciada no Brasil no ano de 2014, revelou um


grande esquema de trá co de in uência, lobby e favorecimento político.
Além de: um enorme volume de pagamentos de propinas,
nanciamento de campanhas de membros do Foro de São Paulo e
investimento em obras de infra-estrutura com o Brasil como ador.
Vamos destacar algumas passagens simbólicas de todo este processo
que envolveu o Brasil como sustentáculo nanceiro de uma revolução
“silenciosa”.

Cuidando da campanha do companheiro


Chávez

Menos de dois meses após deixar a Presidência da República em 2011,


Lula convocou o então embaixador da Venezuela no Brasil, Maximilien
Arvelaiz, para uma reunião em São Paulo no dia 24 de fevereiro de
2011. A revista Veja teve acesso a documentos, no ano de 2016,55
segundo os quais o ex-presidente a rmava que “uma derrota de Chávez
em 2012 seria igual ou pior que a queda do muro do Berlim”. Mais do
que isso, Lula deixa claro a importância da posição de Hugo Chávez na
Venezuela para o prosseguimento das ações do Foro de São Paulo: “Eu
durmo tranqüilo porque sei que Chávez está ali [na presidência], mas
também, às vezes, perco o sono pensando que Chávez poderia perder
as eleições de dezembro de 2012”.

Nesta mesma reunião, Lula externou para o embaixador Arvelaiz a


importância de se colocar a Venezuela no Mercosul. “Se conseguirmos
o ingresso seria uma grande vitória política”.

Lula planejou a criação no Brasil de um


comitê de campanha para Hugo Chávez, que
seria comandado por ele pessoalmente em
trabalho conjunto com José Dirceu.
Além do comitê de campanha no Brasil, Lula também enviaria para a
Venezuela para cuidar da campanha o marqueteiro João Santana, que
foi o responsável pela sua campanha em 2006 e pela de Dilma Rousseff
em 2010. Em um segundo telegrama a que a revista Veja teve acesso, o
embaixador Arvelaiz informava ao então chanceler Nicolás Maduro
que Lula iria a Caracas para evento patrocinado pela construtora
Odebrecht e que aproveitaria a viagem para tratar de maneira privada
sobre o tema da eleição. A estratégia de Lula logrou êxito, e Hugo
Chávez venceu as eleições de outubro de 2012 para o seu quarto
mandato como presidente — mas não assumiu, devido ao câncer que o
levou à morte em março de 2013.

Esta história veio à tona por conta do acordo de delação premiada da


esposa de João Santana, Mônica Moura,56 que em seu depoimento
informou que

além do trá co de in uência de Lula, ele


também foi o responsável pela garantia de
pagamentos da campanha.
Segundo o depoimento de Mônica Moura, nenhum acordo foi
assinado entre as partes e Lula era o garantidor da operação: “A minha
garantia era Lula, eu con ava muito em Lula, que ele ia resolver”.
Segundo a Sra. Moura, as negociações tiveram início ainda em 2011,
fato que bate com os documentos do embaixador Arvelaiz, e que a
campanha cou orçada em 35 milhões de dólares e o dinheiro seria
todo pago via caixa 2. Deste montante a Odebrecht caria como
responsável pelo pagamento de 7 milhões de dólares e a Andrade
Gutiérrez por 4 milhões de dólares. Os 24 milhões restantes seriam
pagos pelo governo venezuelano. Um belo “presente” do companheiro
Lula ao camarada Hugo Chávez.

Quando a campanha foi nalizada, a Andrade Gutiérrez havia pago


somente 50% do valor combinado. Mônica Moura disse em sua delação
que chegou a ameaçar usando o nome de Lula: “Eu cheguei a ameaçar.
Eu disse: ‘Gente, se vocês não me pagarem, eu vou ter que conversar no
Brasil. Quem me chamou para cá foi o presidente Lula. Eu vou ter que
conversar com ele’”. Ainda segundo Mônica, ela acionou Lula em
diversas ocasiões: “Isso já tinha acabado a campanha. O Chávez foi
eleito. Nós estávamos sendo incensados pela mídia venezuelana como
os melhores não sei o quê, não sei o quê, e o dinheiro não saía”.

O governo venezuelano cumpriu com parte de seu acordo, pagando 10


milhões de dólares aos marqueteiros da campanha. O dinheiro era pago
em espécie em maletas pelo então chanceler Nicolás Maduro dentro da
Venezuela, geralmente na chancelaria ou mesmo no Palácio Mira ores:
“Era muito dinheiro. As entregas variavam de US$ 500 mil de cada vez,
às vezes US$ 300 mil. Já cheguei a receber US$ 800 mil de uma vez só.
[...] Sabe o que ele [Maduro] fazia? Ele mandava me buscar com o carro
dele, carro blindado, preto, daquelas camionetes de rapper americano.
Com mais dois carros, um na frente, outro atrás, me levava para a
chancelaria. Entrava na garagem. Os seguranças subiam comigo para a
sala dele, eu cava lá esperando, tomava um chá de cadeira do Maduro,
eles não têm o menor compromisso com horário. Depois ele me
chamava na sala dele, conversava um pouquinho de conversa ada de
política, e me entregava o dinheiro ele próprio, não mandava ninguém
entregar. Depois, eu descia com os seguranças dele, e me levavam até o
hotel, de volta”.

Mônica Moura a rmou que apesar dos pagamentos parciais, após a


morte de Hugo Chávez qualquer chance de receber o pagamento foi
perdida e que Nicolás Maduro parou de atendê-la: “No ano seguinte,
Chávez morreu. E nós perdemos qualquer chance de receber esse
dinheiro.

A gente tomou um cano histórico.

A gente tomou um cano de mais ou menos US$ 15 milhões dessa


campanha, que nunca foi recebido. O que foi recebido foi US$ 10
milhões lá [do governo venezuelano], mais US$ 7 milhões da
Odebrecht e US$ 2 milhões da Andrade Gutiérrez”.

Neste relato de Mônica Moura podemos observar um meio de ação


comum entre os revolucionários: para a revolução tudo, para os
“companheiros de viagem” somente os benefícios do trajeto. Quando os
objetivos são atingidos, as “ferramentas” são descartadas e os
compromissos assumidos não possuem valor algum.

Os impactos no continente americano

Além da Venezuela e de Cuba, as operações dos negócios envolvendo


a rede de ajuda do PT aos diversos governos e/ou membros do Foro de
São Paulo foram expostas pela operação Lava-Jato: Chile, Panamá,
Peru, Angola, Moçambique, Argentina, República Dominicana,
Venezuela, México, Guatemala e Equador são alguns exemplos. Abaixo,
irei destacar alguns casos:57

Peru: No ano de 2016, a justiça peruana decretou a prisão do ex-


presidente Alejandro Toledo, que governou o país entre 2001 e 2006.
Ele foi acusado de ter recebido 20 milhões de dólares em propinas
pagas pela Odebrecht durante o seu mandato. Estes pagamentos
possibilitaram à empreiteira vencer a concorrência na construção da
rodovia interoceânica Sul, que faz a ligação de Rio Branco, no Acre, até
o litoral peruano.

O também ex-presidente Ollanta Humalla, que governou o Peru de


2011 a 2016 e sua esposa, Nadine Heredia, foram para o banco dos réus
no início de 2022 por envolvimento em um grande esquema de
corrupção envolvendo a Odebrecht. O Ministério Público peruano
acusa o casal de ter recebido 3 milhões de dólares em contribuições
ilegais para a campanha presidencial. A promotoria também acusa o
casal de ter ocultado a compra de imóveis com dinheiro proveniente da
empreiteira brasileira.58

Chile: Em delações do publicitário Duda Mendonça (1944–2021) e do


então presidente da empreiteira OAS, Leo Pinheiro, foi revelado que o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva atuou em favor de Michelle
Bachelet antes e depois das eleições chilenas. Segundo Pinheiro, Lula o
teria solicitado que “desse uma ajuda para Bachelet”. Desta forma foi
enviado 150 mil dólares em espécie a um assessor de Bachelet em 2014,
logo após a eleição a qual vencera em dezembro de 2013.

Panamá: No âmbito da investigação jornalística conhecida como


Panama Papers, veio a público o esquema que envolvia a empresa
Mossack Fonseca, especializada na abertura de empresas offshore, e
expôs uma rede de lavagem de dinheiro que abrangia 76 países. Antes
de ser preso, um dos sócios da empresa, o Sr. Ramón Fonseca Mora
disse a jornalistas que as propinas pagas pela Odebrecht nos países vão
além do que já fora confessado. “Estimo que ultrapasse 1 bilhão de
dólares só no Panamá”, relatou à época Mora, que também foi ministro-
conselheiro (equivalente a Ministro-Chefe da Casa Civil no Brasil) do
então presidente panamenho Juan Carlos Varella.
Hugo Chávez, o idealizador do Porto de
Mariel

Através da operação, foi possível con rmar o papel de destaque que


exercia Hugo Chávez no Foro de São Paulo. Um dos casos mais
emblemáticos é o do Porto de Mariel, que é lembrado como um
“presente” do então governo brasileiro ao regime cubano. Mas, segundo
o próprio Emílio Odebrecht, o projeto era venezuelano e foi ele quem
pediu a “garantia” brasileira. Em sua delação premiada no âmbito da
operação Lava-Jato, o patriarca da família relatou que visitou Hugo
Chávez em Caracas no ano de 2007, e que ele lhe solicitara que
construísse um porto em Cuba, missão que ele aceitou com a condição
de que o Brasil nanciasse o projeto. Emílio Odebrecht queria garantir
o recebimento do quinhão, pois, segundo o próprio empreiteiro, “em
condições normais” nem mesmo a Odebrecht cogitaria construir um
porto em Cuba e nem o BNDES nanciaria uma obra para a ditadura
de Fidel Castro. Odebrecht ainda relata que somente a intermediação
de Hugo Chávez e posteriormente de Lula foi o que possibilitou que a
obra acontecesse. Lula inclusive teria manobrado para interferir nas
decisões do BNDES para liberação do nanciamento:59

Chávez tinha uma relação muito intensa com Fidel, ao ponto de fazer
preços camaradas na venda de barris de petróleo para Cuba. Ele me
pediu que nós procurássemos viabilizar um programa de um porto lá
em Cuba, porque era muito importante para os cubanos. Eu disse:
“Olha chefe, nós trabalhamos nos Estados Unidos, um assunto desse
de dinheiro, com tudo que Cuba tem de restrição, não é fácil
viabilizar o esquema nanceiro. Um pedido do senhor é algo que vou
encontrar uma forma de atender. Agora, eu precisaria que o governo
brasileiro estivesse engajado nesse projeto e também solicitasse [a
construção do porto] a Odebrecht. Eu não gostaria de tomar essa
iniciativa sozinho. O senhor, que tem uma boa relação com o
presidente Lula, poderia ligar para ele e transmitir isso”. De fato,
Chávez fez a ligação. Logo depois desse encontro, o Lula me
convocou dizendo que tinha recebido um telefonema do Chávez
transmitindo o encontro que teve comigo e que estava na linha de
apoiar o programa de Cuba do Porto de Mariel.

A preocupação de Emílio Odebrecht não era à toa: dadas as sanções


nanceiras, o custo para a empreiteira poderia prejudicar não somente
o seu negócio lícito, mas também o famoso “Departamento de
Operações Estruturadas”, utilizado para irrigar todo o esquema de
corrupção em nível internacional. É importante ressaltar que, devido a
lei Helms-Burton, qualquer navio que atracar em portos cubanos ca
impedido de atracar nos EUA por um período de 180 dias. Além disto,
na região do Caribe, à época da inauguração do porto em evento que
contou com a presença da Presidente Dilma Rousseff, havia 65 portos
ativos e sem restrições críticas de atuação e com regras para as Zonas de
Processamento de Exportação (ZPE) juridicamente desimpedidas de
funcionar. Nos anos 1990, Fidel Castro fechou a única ZPE ativa em
Cuba,

deixando diversos investidores e empresas


literalmente a “ver navios”,
aumentando o risco e a instabilidade de investimentos em Cuba.

Caro leitor, com o que já demonstramos até aqui nesta obra, é possível
imaginar o real propósito do Porto de Mariel, ao ser encomendado por
Hugo Chávez. Vamos recapitular alguns aspectos importantes:

• Fidel Castro inicia operação de trá co de drogas nos anos 1980 e


inicia contatos pessoais com Pablo Escobar;

• Incentiva e vence as resistências de Hugo Chávez para apoiar as


FARC;

• A Venezuela passa a ser a responsável pelo escoamento de 90% das


drogas produzidas na Colômbia;
• Cuba torna-se um importante entreposto logístico neste processo;

• O Cartel dos Sóis é instituído na Venezuela.

O Porto de Mariel possui todas as


características necessárias para maquiar todo
o processamento logístico de armas e drogas
no meio do Caribe,
favorecendo não somente o regime cubano, mas todo o esquema que
envolve as guerrilhas e os narco-Estados ligados ao Foro de São Paulo.
Ainda que não seja possível a rmar que o trá co de drogas esteja
acontecendo, é plausível especular. Já para o trá co de armas, a situação
é mais sólida.

Em 2013, um navio com bandeira da Coréia do Norte foi apreendido


no Panamá e gerou um escândalo internacional. A embarcação estava
carregada com mais de 240 toneladas de material bélico. Por conta da
descoberta foi possível identi car o trajeto do navio norte-coreano: em
4 de junho, o cargueiro Chong Chon Gang descarregou em Havana
rodas automotivas e outros produtos industriais. No dia 20 de junho o
navio aportou, secretamente, em Mariel. Lá o material bélico foi
embarcado. No dia 22 de junho, o Chong Chon Gang chegou a Puerto
Padre, onde recebeu carga de açúcar, que seria utilizado para mascarar
o armamento.

A maior parte da carga era formada por componentes que seriam


usados em mísseis terra-ar, modelos C-75 Volga e C-125 Pechora (de
origem soviética). Dois caças MiG-21, desmontados, estavam no
carregamento. Muita munição foi encontrada. Também havia
lançadores de mísseis, peças de radares, antenas, transmissores e
geradores de energia.60 Até mesmo os containers foram repintados,
mudando a cor verde, que indica materiais bélicos, para a cor azul. Em
um depoimento à imprensa, o então ministro da Defesa do Panamá,
José Mulino, relatou61 que

o capitão do navio tentou cometer suicídio


quando o carregamento de armas foi descoberto.

A Coréia do Norte pediu a liberação do navio apreendido para o


governo panamenho. O regime de Kim Jong-un declarou que a carga
era transportada sob um “contrato legítimo” e repetiu a justi cativa
cubana de que se tratava de material obsoleto. “Esse carregamento não
é nada mais do que armas antigas que serão enviadas de volta a Cuba
depois de passarem por uma revisão, de acordo com um contrato
legítimo”, a rmou o Ministério das Relações Exteriores, segundo
informação da agência o cial KCNA. A nota ainda a rmava que “As
autoridades do Panamá devem tomar a iniciativa de deixar a tripulação
e a embarcação partirem sem demora”.

Um último ponto importante a ressaltar é que justamente o Porto de


Mariel foi o responsável pela recepção dos armamentos soviéticos
durante a Crise dos Mísseis de 1962, envolvendo Cuba diretamente na
Guerra Fria entre EUA e União Soviética.

DO ÁPICE À QUEDA
Se na década de 2000 e início da década de 2010 o Foro de São Paulo
atingiu o seu ápice, em meados da segunda década a história começou a
mudar de rumo. Uma sucessão de acontecimentos contribuiu para isto,
porém os principais fatores foram as quedas de 2 potências regionais —
Brasil e Argentina — e o declínio econômico e social da Venezuela. Este
processo iniciou um efeito cascata em todo o continente, fazendo com
que o Foro perdesse sua posição em diversos países como Bolívia,
Equador, Paraguai, Uruguai, Chile além dos já citados Brasil e
Argentina. Mas é necessário um olhar mais cuidadoso sobre algumas
destas situações para entender o contexto amplo da queda política e
revolucionária em todo o continente.

A derrocada na Venezuela

Nos anos entre 2013 e 2016, diversos fatores ao redor do mundo


contribuíram para uma acentuada queda do valor do barril de petróleo,
mas um foi essencial para esta mudança: o aumento da produção dos
EUA. Entre os anos de 2012 e 2015 os americanos elevaram a sua
produção de 10 para 14 milhões de barris por dia, tornando-se assim o
maior produtor mundial, ultrapassando até mesmo a Rússia e a Arábia
Saudita.62

Este grande aumento foi possível graças a aplicação de tecnologias


inovadoras, como o fraturamento hidráulico,63 conhecimento
popularmente como fracking. A tecnologia possibilitou a extração tanto
de petróleo quanto de gás em profundidades inalcançáveis em
condições normais. Esse processo possibilitou que os EUA voltassem a
exportar petróleo no ano de 2016, prática proibida pelo governo
americano desde os anos 1970, com o objetivo de diminuir a
necessidade de importação de petróleo.

Este fator levou a uma

queda abrupta nos preços dos barris de


petróleo,
principal commodity venezuelana, de uma média de 110 dólares o
barril para cerca de 30 dólares em meados de 2015. Durante este
período a estabilidade econômica da Venezuela começou a evaporar, e
os problemas da irresponsabilidade política e econômica começaram a
cobrar a fatura. No dia 12 de fevereiro de 2014, menos de um ano após
a posse de Maduro, eclodem grandes manifestações populares e
estudantis na Venezuela.

As marchas contra o chavismo levaram ao assassinato de 43


venezuelanos, além de centenas de feridos e dezenas de presos
políticos.64 Entre estes presos estava Leopoldo López,65 que foi apontado
pelo regime de Maduro como o responsável pelos protestos, pelos
mortos e feridos — um bode expiatório para a propaganda de Maduro
que protegeria a imagem de seu governo e transferia toda a culpa das
instabilidades para a oposição, tirando o foco das insatisfações
populares e conseqüentemente cobrindo a repressão sangrenta aplicada
ao cidadão venezuelano. As ações do regime comunista viriam à luz da
verdade em outubro de 2015, quando o então procurador Franklin
Nieves, formalmente o responsável pela acusação de Leopoldo López,
fugiu para os EUA e ofereceu detalhes de como atuou no caso. Segundo
o Sr. Nieves, ele fora escalado para prender Leopoldo López, antes
mesmo de os fatos que lhe foram atribuídos como crimes
acontecessem. Em uma declaração por vídeo, publicado na internet,
Nieves declarou:

Sou Franklin Nieves. Decidi sair da Venezuela por causa da pressão


que estavam exercendo o Executivo nacional e meus superiores
hierárquicos para que continuasse defendendo as provas falsas com
as que foi condenado o cidadão Leopoldo López.

Leopoldo López foi preso em Caracas sem ao menos que uma


investigação formal estivesse em curso.66 Com López preso, coube ao
Presidente da Assembléia Nacional, Diosdado Cabello, redigir o
relatório da operação, que, segundo fontes do jornalista brasileiro
Leonardo Coutinho, foi digitado em meio às gargalhadas do chavista e
dos demais militares presentes no momento.67

Neste período, os venezuelanos sentiram na pele o aumento


estratosférico da in ação, queda na produção, aumento da
criminalidade e principalmente o racionamento de alimentos. Neste
momento os companheiros do Foro de São Paulo foram acionados para
socorrer os chavistas.

O Foro de São Paulo entra em ação para salvar


Maduro

Neste período a Venezuela já se tornara um negócio de risco para


quase todos os investidores mundiais, a nal, os calotes aumentavam
semanalmente e a produção privada estava em declínio absoluto. O
governo chegou a atuar com hipermercados estatais, como o
Bicentenário,68 para controlar o abastecimento das prateleiras. Mesmo
assim, a escassez de produtos não era vencida. Produtos como papel
higiênico, açúcar e principalmente frango faltavam.

Nicolás Maduro estatizou diversas empresas


alimentícias, que passaram a operar de
maneira insatisfatória.
Os índices de escassez atingiram 28%. Luís Vicente León, presidente
de uma das maiores empresas de consultoria privada da Venezuela,
declarou em 2014 que “a Venezuela não é uma boa pagadora e não tem
mais crédito internacional, ninguém quer vender nada para nosso
governo”.69

Pouco meses antes das revelações de Franklin Nieves, Diosdado


Cabello visitou o Brasil — como já relatamos acima — e um dos
principais alvos de sua visita foram as instalações da JBS, acompanhado
de Joesley Batista. Chegou a declarar em seu Twitter que estava
trabalhando pelo país, postando uma foto ao lado de Lula. A JBS
possuía um acordo que outras empresas não possuíam: todas as vendas
eram pagas em até 90 dias, isso segundo documentos elaborados em
conjunto com a empresa e a estatal venezuelana Corpovex.70 Mais tarde,
descobriu-se que este processo de pagamento da JBS envolvia o Estado
brasileiro que acabou resultando em calotes e desfalque ao erário
público.

Para a JBS, escolhida como campeã nacional71 pelo governo petista, o


mercado da Venezuela tornou-se importantíssimo. Em abril de 2015 foi
fechado contrato de exportação com cifras de 2,1 bilhões de dólares
com o regime chavista e tornou-se responsável por quase metade da
carne bovina e um quarto do frango consumido por 28 milhões de
consumidores. No ano de 2014 os valores de venda concretizado já
teriam sido de 1,2 bilhões de dólares.

É importante ressaltar que entre os anos de 2003 e 2017, que


compreende o período em que o PT esteve na presidência do Brasil, O
Grupo J&F — que inclui as empresas JBS e Eldorado Celulose, entre
outras — recebeu desembolsos do BNDES no valor total de R$ 17,6
bilhões, equivalente a R$ 31,2 bilhões em valores de agosto de 2022,
cando atrás apenas de Petrobrás, Embraer, grupo Odebrecht e Oi.
Desse total histórico, foram R$ 9,5 bilhões em empréstimos e R$ 8,1
bilhões de investimento em ações da JBS e da Bertin, que
posteriormente passou a fazer parte do grupo.72

A queda argentina

Os Kirchner ocuparam a presidência da Argentina por doze anos,


sendo Nestor Kirchner presidente de 2003 a 2007 e sua esposa Cristina
Kirchner de 2007 a 2015. Ambos são guras proeminentes do
Peronismo argentino, representando a ala mais radical e à esquerda do
movimento de bases fascistas fundado por Juan Domingo Perón. As
ligações com o Foro de São Paulo foram publicizadas inclusive pela
mídia estatal brasileira da Agência Brasil, que em 20 de agosto de 2010
publicou matéria anunciando a XVI reunião do grupo, sediada em
Buenos Aires com o título “Representantes do Foro de São Paulo são
recebidos por Cristina Kirchner”:73
Cerca de 100 representantes do Foro de São Paulo foram recebidos na
noite de hoje (19) pela presidente da Argentina, Cristina Kirchner, na
Casa Rosada, para uma conversa sobre a situação política de seu país
e do mundo. Pela primeira vez, o evento é realizado na Argentina.

[...] “Estivemos na Casa Rosada com cerca de 100 representantes de


todos os partidos políticos que integram o Foro. Cristina Kirchner
tomou conhecimento do que estamos debatendo em Buenos Aires e
fez uma exposição muito interessante sobre a política local e
internacional”, disse o secretário executivo do Foro São Paulo, Valter
Pomar.74

Em 2013, Cristina Kirchner avançou com um plano para controlar o


poder judiciário na Argentina, tal qual zeram os chavistas na
Venezuela e que já haviam sido seguidos por Evo Morales na Bolívia,
Rafael Correa no Equador e Daniel Ortega na Nicarágua. Em linhas
gerais, o projeto de reforma judicial impunha limites a concessão de
liminares para cidadãos e empresas contra o Estado argentino, e
facilitaria a instauração de processos disciplinares contra juízes. Isto
impediria cenários desvantajosos para o governo, como quando a
Justiça barrou a

aplicação total da Lei de Mídia, que


regulamentava os meios de comunicação,

desejo antigo de Lula e do Partido dos Trabalhadores no Brasil. O


projeto ainda tinha como meta a ampliação do Conselho de
Magistratura, organismo que de ne quais seriam os novos juízes e o
poder de os destituir. Por m, a reforma contemplava a publicação da
declaração de bens dos juízes na internet, bem como o andamento dos
processos.75 O projeto avançou em abril de 2013 na câmara dos
deputados (por coincidência em meio a uma visita de Dilma Rousseff
na Argentina à época76 ) e em maio no Senado Federal. Após muitos
protestos civis e da magistratura, a Suprema Corte argentina declarou o
projeto inconstitucional no mês de junho do mesmo ano.77

Em novembro de 2015 foram realizadas eleições gerais na Argentina: o


pleito resultou na eleição de

Mauricio Macri,

ex-prefeito de Buenos Aires e ex-presidente do popular clube de


futebol Boca Juniors. Sua campanha teve como principal mote a
promessa de recuperar a economia do país e interromper o ciclo de
populismo distributivista. Nos primeiros anos de governo, Macri
enfrentou muita di culdade em avançar com a implementação de seu
plano de governo, principalmente pelo aparelhamento do Estado
argentino com milhares de militantes e sindicalistas. O presidente
chegou a demitir 18 mil funcionários públicos apadrinhados da
estrutura kirchnista. Macri conseguiu à época, com muitos percalços,
avançar com o m do controle cambial e das barreiras alfandegárias, o
que foi su ciente para que a Argentina deixasse de ser um “país-
problema” e voltasse a atrair a atenção de investidores internacionais.

O impeachment de Dilma Rousseff e a queda


do PT

A operação Lava-Jato elevou a temperatura do debate político no


Brasil a um nível que não era visto em pelo menos 30 anos no país.
Mesmo com a reeleição de 2014, Dilma Rousseff não conseguia manter
o apoio da classe política brasileira, que estava pressionada e
impressionada com as manifestações de rua iniciadas em 2013. A
operação Lava-Jato aprofundava cada vez mais as investigações e com
ela os escândalos dentro da Petrobrás ganhavam força, em meio a
insatisfação política, descon anças com o sistema de contagem de votos
por parte da oposição e principalmente do PSDB,78 partido de Aécio
Neves (candidato derrotado nas eleições de 2014), e a crise econômica
que começava a cobrar a conta dos brasileiros. Em 2015, diversas
manifestações foram convocadas em todo o país,79 levando

centena de milhares de brasileiros às ruas


e aumentando cada vez mais a pressão sobre o congresso nacional.

No dia 15 de outubro de 2015, uma denúncia por crime de


responsabilidade foi oferecida à câmara dos deputados. A denúncia foi
formulada pelo procurador de justiça aposentado e co-fundador do PT
Hélio Bicudo e os advogados Miguel Reale Júnior e Janaina Paschoal.
Até setembro de 2015 havia 37 pedidos de impeachment protocolados
na câmara; o pedido aceito contava com o apoio de parlamentares e da
sociedade civil, que organizou abaixo-assinado em apoio ao processo.
Segundo o pedido, Dilma fez editar, nos anos de 2014 e 2015, uma série
de decretos que resultaram na abertura de créditos suplementares, de
valores muito elevados, sem a autorização do Congresso Nacional e na
ordem de 18,4 bilhões de reais. Segundo os autores, Dilma tinha
conhecimento de que a meta de superavit primário prevista na lei de
diretrizes orçamentárias não estava sendo cumprida desde 2014, pois
foi o próprio governo quem apresentou o projeto de lei pedindo a
revisão da meta, uma con ssão de que

a meta não estava sendo e não seria cumprida.

Mas, mesmo assim, expediu os decretos sem a autorização prévia do


legislativo.

A denúncia foi aceita pelo então presidente da câmara dos deputados,


Eduardo Cunha, no dia 02 de dezembro de 2015, e foi encerrado no dia
31 de agosto de 2016 com o impedimento da presidente, pondo m a
longos 14 anos de governo do partido criador do Foro de São Paulo,
durante os quais o Brasil obteve desempenho econômico medíocre,
cou abaixo da média dos países emergentes no combate à miséria, teve
um baixo desempenho na promoção de ascendência econômica dos
mais pobres, inseriu o país em uma grande recessão econômica,
praticou o maior esquema de corrupção da história da humanidade em
valores desviados e, não menos importante, tornou o país um dos 10
lugares mais perigosos de todo o planeta.80

As eleições de Donald Trump e Jair Bolsonaro

Em 2015, o bilionário outsider Donald Trump lançou seu nome como


candidato às primárias do Partido Republicano para a eleição
presidencial de 2016. Partiu assim como candidato ao lado de Mike
Pence em sua chapa, onde enfrentou a candidata do Partido Democrata
Hillary Clinton, favorita das elites e da classe política. Venceu.
Surpreendendo quase a totalidade do consórcio de imprensa mundial
colocando os diplomatas e governantes autocratas e ditadores em
alerta.

Donald Trump representava o m de um


jogo de comadres,
proposto pela administração Obama (2009–2016), que existia entre as
diversas frentes revolucionárias no mundo como o regime iraniano, o
Estado Islâmico, Partido Comunista Chinês, a má a oligárquica russa
capitaneada por Vladimir Putin e o Foro de São Paulo.

Durante o seu governo, Donald Trump implementou diversas ações


que di cultaram os meios de ações da Venezuela e de Cuba. Uma das
mais emblemáticas foi o envio da Marinha Americana na Costa Sul do
Pací co e no Caribe para barrar o uxo de distribuição de drogas
coordenado principalmente pelo Cartel dos Sóis venezuelano.81
Na esteira da eleição de Donald Trump e do BREXIT no Reino Unido,
inicia-se um processo de

guinada às pautas conservadoras no Ocidente,

sendo o continente americano um dos mais marcantes. Grande crítico


dos governos petistas e considerado pelo consórcio midiático como de
extrema-direita, o Deputado Federal Jair Messias Bolsonaro surge como
um outsider à chamada “estratégias das tesouras”82 composta
principalmente pelo PT e PSDB nas últimas décadas. Contra todas as
expectativas do establishment político e midiático,

Jair Bolsonaro foi eleito presidente do Brasil,

e sobreviveu a uma tentativa de assassinato, esfaqueado por um


militante de esquerda que fora liado ao PSOL, partido dissidente do
PT.

Além das vitórias de Donald Trump e Jair Bolsonaro, o Foro de São


Paulo foi perdendo posições em diversos países, nem sempre para
candidato de direita ou mesmo conservadores, mas que, em suma, não
estavam ligados ao grupo idealizado por Fidel Castro e Lula:

• Guatemala: Jimmy Morales (2016–2020) e Alejandro Giammattei


(2020–presente);

• Honduras: Por rio Lobo Sosa (2010–2014) e Juan Orlando


Hernández (2014–2022);

• Paraguai: Horacio Cartes (2013–2018) e Mario Abdo Benítez


(2018–presente);
• Peru: Pedro Pablo Kuczynski (2016–2018),83 Martín Vizcarra
(2018–2020)84 e Francisco Sagasti (2020–2021);

• Costa Rica: Rodrigo Chaves (2022–presente);

• Equador: Lenin Moreno (2017–2021)85 e Guillermo Lasso (2021–


presente);

• El Salvador: Nayib Bukele (2019–presente);

• Bolívia: Jeanine Áñez (2019–2020)

• Uruguai: Luis Alberto Lacalle Pou (2020–presente)

Maduro na berlinda e a intervenção russa

Após a eleição dos presidentes Donald Trump nos EUA e Jair Messias
Bolsonaro no Brasil, os dois principais regimes no poder do Foro de
São Paulo começaram a ter problemas: Cuba e Venezuela.

Cuba sofreu o primeiro revés nos primeiros meses de administração


Trump. Barack Obama (2009–2016) realizou aproximação histórica
entre EUA e Cuba, a esta altura já governada por Raúl Castro, irmão de
Fidel, chegando até mesmo a visitar a ilha no ano de 2016. Quando
anunciou a reaproximação em 2014, Barack Obama adotou um
discurso retórico com forte apelo emocional — uma característica de
seus discursos —, e prometeu um olhar progressista para o futuro:

Dei instruções ao secretário [de Estado John] Kerry para que inicie
de imediato discussões com Cuba para restabelecer relações
diplomáticas que estão interrompidas desde janeiro de 1961. [...] os
Estados Unidos vão restabelecer uma embaixada em Havana e altos
funcionários visitarão Cuba. [...] Na mudança mais importante de
nossa política em mais de 50 anos, poremos um ponto nal a uma
abordagem obsoleta, que, por décadas, fracassou em defender nossos
interesses, e começaremos a normalizar as relações entre os dois
países.

[...] Estes 50 anos mostraram que o isolamento não deu certo. [...] um
futuro de mais paz, segurança e desenvolvimento democrático é
possível se trabalharem juntos para proteger os sonhos de nossos
cidadãos”.86

Fidel Castro não poderia ter esperado uma propaganda mais efetiva.
Barack Obama simplesmente ignorou todo e qualquer crime cometido
pelo regime cubano, sua in uência em toda a América Latina, o Foro
de São Paulo, os negócios com os principais cartéis de drogas do
continente, sem citar a perseguição política, social, e os assassinatos.
Alguns leitores neste ponto podem estar pensando que Obama se iludiu
com o discurso de que a democracia e o uxo econômico
automaticamente levariam a ilha caribenha à democracia. Infelizmente
não é o caso. Para quem já leu o livro Os EUA e o Partido das
Sombras,87 do qual sou co-autor, está ciente das intrínsecas ligações de
Barack Obama com a esquerda internacional e a sua formação nas
bases estabelecidas por Saul Alinsky e promovida por George Soros.

O discurso emocional de Obama tinha propósito; a nal, os embargos


a Cuba estão promulgados por leis nos EUA, e somente o congresso
poderia derrubá-los, mas o reconhecimento público, o discurso e a
posterior viagem a Cuba foram passos importantíssimos na
normalização das relações.

Donald Trump, ainda nos primeiros meses, em um discurso em


Miami, cidade com forte imigração de refugiados cubanos, anunciou o
rompimento das relações com o governo de Raúl Castro:

Quando os cubanos derem passos concretos, estaremos prontos,


preparados e capazes de voltar à mesa para negociar esse acordo, que
será muito melhor. [...] Desa amos Cuba a vir à mesa com um novo
acordo que esteja no melhor interesse tanto do seu povo como do
nosso. [...] A política rea rma o embargo americano imposto por lei a
Cuba e se opõe aos pedidos nas Nações Unidas e outros foros
internacionais para acabar com ele. [...] Faremos com que o embargo
seja cumprido.

Além do revés diplomático com os EUA, Cuba se viu obrigada a


retirar seus médicos do Brasil às pressas, após a eleição de Jair
Bolsonaro no Brasil, como referido no capítulo anterior.

No caso venezuelano, a situação tornou-se mais complexa para


Nicolás Maduro, pois a eleição de Bolsonaro colocou um aliado de peso
no principal país da América Latina. Mas para entendermos melhor
este contexto é preciso voltarmos ao ano de 2017.

O golpe judiciário contra o parlamento


venezuelano

As últimas eleições com algum resquício de legitimidade na Venezuela


aconteceram em 2015, quando a oposição ao regime chavista conseguiu
uma grande vitória na assembléia nacional, tornando-se a maioria
efetiva a partir de janeiro de 2016. Vendo o seu poder de manobra car
limitado dentro da estrutura política

Maduro articula um golpe

dentro dos poderes, utilizando o poder judiciário, altamente


controlado pelos chavistas. Em primeiro momento, o Tribunal Supremo
de Justiça (TSJ) determinou que diversos parlamentares eleitos não
tiveram eleições válidas. A Assembléia Nacional Venezuelana não
acatou as determinações do TSJ e empossaram os parlamentares. Desta
forma, no dia 29 de março de 2017, o TSJ declarou sentença retirando
todos os poderes da Assembléia Nacional declarando “situação de
desprezo” às determinações anteriores e de nindo que esta não poderia
exercer os seus poderes.
Todos os poderes da Assembléia Nacional
foram transferidos para a Suprema Corte,
o que foi classi cado como um golpe de Estado pelo então presidente
da Assembléia Nacional Julio Borges. Diversos organismos
internacionais e protestos de rua zeram a decisão ser revertida no dia
1º de abril do mesmo ano.

Maduro, porém, não se deu por vencido, e no dia 3o de julho


organizou uma eleição para a realização de uma nova Assembléia
Constituinte e seleção dos seus membros. Ao contrário da constituinte
de 1999 que fora convocada por referendo popular, esta foi convocada
por decreto presidencial de Maduro. Isto fez com que a oposição do
governo boicotasse o processo. A nova Assembléia Constituinte, além
do objetivo de reescrever a constituição, também possuía amplos
poderes “legais” que lhe permitia governar acima de todos os outros
poderes do Estado venezuelano. O local de trabalho designado foi o
prédio do Palácio Legislativo Federal, o mesmo da Assembléia
Nacional, que a rmou que continuaria funcionando no mesmo lugar.

No dia 18 de agosto, foi realizada cerimônia para reconhecer os novos


membros da Assembléia Constituinte, a Assembléia Nacional foi
convidada para o evento e assim reconhecer a sua superioridade legal.
Os membros da Assembléia Nacional recusaram o convite. Assim a
Assembléia Constituinte em resposta usurpou os poderes do legislativo
em benefício próprio. A principal argumentação foi de que a
Assembléia Nacional não conseguiu conter a “violência da oposição”
nos protestos de rua.88 Para a presidência da Assembléia Constituinte
foi eleita Delcy Rodríguez,89 gura central do regime chavista que na
época despachava como Ministra das Relações Exteriores. Assim a
Venezuela passa a ter duas Assembléias ativas, sendo que uma não
reconhecia a outra como poder legislativo legítimo. Diversas
manifestações violentas da população venezuelana implodiram e
tiveram um saldo de 125 pessoas assassinadas pelo regime chavista.
O golpe e leitoral nas eleições presidenciais

A Assembléia Constituinte, com os poderes supremos que lhe foram


“conferidos”, alterou a data das eleições presidenciais, previstas para
dezembro, para o mês de abril de 2018. A Suprema Corte do país,
atuando no exílio,90 declarou inconstitucional a manobra política. A
eleição acabou acontecendo no dia 20 de maio de 2018. O regime
chavista impossibilitou que diversos políticos concorressem ao pleito,
como Henrique Capriles (candidato nas eleições de 2012 e 2013),
Leopoldo López, Antonio Ledezma (preso em 2015 e depois colocado
em prisão domiciliar), Freddy Guevara (cuja imunidade parlamentar
foi removida e fugiu para a residência do embaixador chileno), também
foram presos David Smolansky, assim como María Corina Machado e
Miguel Rodríguez Torres, ex-Ministro da Defesa e dissidente chavista.91

A eleição teve um número recorde de abstenções com cerda de 54% de


abstenções. Dos votos computados, maduro recebeu 6,2 milhões ou o
equivalente a 67,84% do total. Isso com um governo que registrava
desaprovação na casa dos 75% da população.92 Rapidamente, após o
anúncio do resultado,

diversos países aliados de Maduro


reconheceram o resultado da eleição:

Rússia, China, Coréia do Norte, Cuba, Nicarágua e Bolívia foram


alguns. Por outro lado, o alto Comissariado das Nações Unidas para os
direitos humanos, o Grupo de Lima93 e países como a Austrália e os
EUA não reconheceram a legitimidade do processo eleitoral. A posse
para o novo mandato de Nicolás Maduro foi agendada para o dia 10 de
janeiro de 2019. Diferente de Cuba, a administração Trump estava
bastante tímida em relação à Venezuela, fato declarado por
venezuelanos exilados a um diplomata brasileiro que entrevistei no
processo de escrita desta obra. Um dos fatores que levaram a esta
timidez era justamente por não terem o apoio do Brasil, na época sob
administração de Michel Temer, vice de Dilma Rousseff. Segundo o
entrevistado, os EUA chegaram a ensaiar um movimento de apoio à
derrubada de Maduro em 2017 em meio à crise das assembléias, com
apoio de militares venezuelanos, mas por questões internas na
Venezuela e justamente esta falta de apoio brasileiro, o plano foi
abortado.

Maduro é salvo por Vladimir Putin

Os primeiros movimentos em relação à Venezuela na administração


Bolsonaro começaram no dia 04 de janeiro de 2019, apenas 3 dias após
a posse, segundo um diplomata brasileiro.94 A principal via de trabalho
foi através do Grupo de Lima e por interlocuções com a Casa Branca
nos EUA. No dia 05 de janeiro, A Assembléia Nacional empossa seu
novo Presidente, um jovem chamado Juan Guaidó de apenas 35 anos, e
conseqüentemente o declara presidente interino da Venezuela, até que
novas eleições fossem convocadas. No dia 10 de janeiro, conforme
previsto,

Nicolás Maduro assume novamente a


presidência da Venezuela, e iniciam-se os
primeiros focos de insatisfação popular e
protestos nas ruas do país.

A Assembléia Nacional então organizou uma junta diretiva e declarou


Nicolás Maduro como usurpador do poder, e seus atos no poder
executivo passariam a car anulados. Este ato ainda abriria a
possibilidade de funcionários públicos, policiais e integrantes das
Forças Armadas terem respaldo legal para desobedecer ao regime
chavista. Grandes manifestações populares foram programadas para o
dia 23 de janeiro em todo o país.

No dia 21 de janeiro, o TSJ (controlado pelo chavismo), declarou


como inválida a junta parlamentar da Assembléia Nacional e como
“nulos” todos os atos aprovados pelos parlamentares desde 05 de
janeiro.95 Ao m da tarde, Juan Guaidó enviou através das redes sociais
uma mensagem aos membros das Forças Armadas: “Não estamos te
pedindo que dê um golpe de Estado, que atire. Ao contrário, estamos te
pedindo que defenda junto conosco o direito do povo a ser livre”.

Neste mesmo dia, um grupo de militares da Guarda Nacional invadiu


a unidade militar de Cotiza e roubou as armas; em seguida, o Sargento
Wandres Figueroa gravou e publicou um vídeo nas redes sociais onde
declarou que “aqui está a tropa pro ssional da Guarda Nacional contra
este regime que nós desconhecemos completamente, precisamos do
apoio de vocês, saiam às ruas”.96 Imediatamente muitos venezuelanos
dirigiram-se para o local em apoio ao grupo — e imediatamente
diversos militares e policiais foram destacados para o local para efetuar
a prisão de 27 militares envolvidos no levante. O governo chavista
poucas horas depois declarou que “a Força Armada Nacional
Bolivariana rechaça, categoricamente, esse tipo de atos, que com toda
segurança foram motivados por interesses obscuros da ‘extrema-direita’
e são contrários às normas elementares da disciplina militar, à honra e
às tradições da nossa instituição”.

A população venezuelana começa a tomar


as ruas do país,
inclusive da capital Caracas. Organizações não governamentais, como
Observatório Venezuelano de Con ito Social (OVCS), denunciam
violência e confrontos entre manifestantes e forças policiais. Segundo a
OVCS, um adolescente de 16 anos foi baleado em um dos protestos.97
Conforme previsto no dia 23 de janeiro a população e políticos da
oposição foram às ruas em manifestação exigindo a saída de Maduro.
Neste dia Juan Guaidó fez o juramento como Presidente interino da
Venezuela declarando: “Hoje, 23 de janeiro de 2019, em minha
condição de presidente da Assembléia Nacional, ante Deus todo-
poderoso e a Venezuela, juro assumir formalmente as competências do
executivo nacional como presidente em exercício da Venezuela”. Antes
do juramento, Guaidó reforçou a promessa de anistia a todos os
militares que abandonassem o governo e cassem do lado do povo, e
que também instauraria a transição e convocaria novas eleições
presidenciais.

Imediatamente diversos países passaram a reconhecer Guaidó como o


legítimo presidente da Venezuela, entre eles os EUA98 e o Brasil.99 O
anúncio americano foi realizado pelo vice-Presidente Mike Pence no
Twitter:

Hoje o Presidente anunciou que os EUA reconhecem o cialmente


Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela. Para Guaidó e o
povo da Venezuela: A América está com você e continuaremos com
você até que #Liberdade seja restaurada!

O presidente brasileiro também fez pronunciamento o cial através de


sua conta no Twitter:

O Brasil apoiará política e economicamente o processo de transição


para que a democracia e a paz social voltem à Venezuela.

Em ato para tentar demonstrar força, o regime organiza às pressas um


comício de apoiadores no Palácio Mira ores, sede da presidência, com
Maduro ao lado da esposa e assessores. Ele iniciou o seu discurso com
um alvo pouco esperado: Lenín Moreno, presidente do Equador,
chamando-o de nazi-fascista e acusando-o de promover no país ações
de discriminação contra imigrantes venezuelanos que buscam refúgio.
Além disto, apelou para a emoção e rompeu todas as relações com os
EUA. Alguns trechos importantes de sua fala:100
A Venezuela deve ser respeitada e nós, venezuelanos, devemos tornar
esta terra sagrada. Nem golpismo nem intervencionismo, a Venezuela
quer a paz!

[...] Essa tentativa de golpe de Estado é a maior insensatez que o


imperialismo já cometeu, com seus aliados, a direita e a oposição
venezuelana.

Maduro passa então a fazer promessas ao povo:

Governar cada vez mais das ruas e perto do povo para resolver todos
os assuntos. Peço a todos, vamos fortalecer a legitimidade e o poder
do Estado em defesa da paz e da democracia venezuelana.

O povo é o único que elege presidente na Venezuela. Só o povo pode,


só o povo tira. Não queremos voltar ao século 20 de golpes de Estado.
O povo venezuelano diz não ao golpismo.

Aqui não se rende ninguém, aqui não foge ninguém. Aqui vamos à
carga. Aqui vamos ao combate. E aqui vamos à vitória da paz, da
vida, da democracia.

Cabe aos órgãos da Justiça agirem de acordo com a lei e os códigos


venezuelanos, e isso é uma questão de justiça, para preservar o
Estado, a ordem democrática e a lei venezuelana.

Após o discurso de Maduro, o Ministro da Defesa, Vladimir Padrino,


disse que “o desespero e a intolerância ameaçam a paz da nação. Os
soldados da Pátria não aceitam um presidente imposto à sombra de
interesses obscuros ou autoproclamados fora da lei. A Força Armada
Nacional Bolivariana defende a nossa Constituição e é adora da
soberania nacional”.

As ruas da Venezuela foram in ando e o povo em sua maioria não deu


ouvidos aos apelos chavistas. Até mesmo as milícias populares armadas
pelo regime não estavam em condições plenas de aplicar a repressão.
Maduro estava pronto para deixar Caracas e abandonar o governo,
quando recebeu o pedido para permanecer no governo com a promessa
de ajuda.

Este pedido veio de Vladimir Putin.101

Segundo fontes da Reuters,102 já existia uma operação em curso para a


manutenção de Maduro no poder. O primeiro contingente seria de
agentes do Wagner Group já ativos na Venezuela desde 2018 com a
nalidade de proteção de Maduro. O segundo contingente teria voado
para a Venezuela no dia 21 de janeiro em dois aviões fretados para
Havana em Cuba e de lá foram transferidos para a Venezuela. Estes
militares não teriam partido diretamente de Moscou, mas de países
terceiros. Dados de rastreamento de vôo, disponíveis publicamente,
mostraram diversas aeronaves do governo russo pousando na
Venezuela, ou nas proximidades, entre os meses de dezembro de 2018 e
janeiro de 2019. Um Ilyushin-96 russo voou para Havana na tarde de
21 de janeiro depois de iniciar sua viagem em Moscou e voar via
Senegal e Paraguai, mostraram os dados. O jato civil pertencia a uma
divisão da administração presidencial russa de acordo com um
contrato de aquisição disponível publicamente e relacionado ao avião.
Entre os dias 10 e 14 de dezembro de 2018, um avião de carga Antonov-
124 e uma aeronave de transporte Ilyushin-76 realizaram vôos entre a
Rússia e Caracas. Outro Ilyushin-76 esteve em Caracas de 12 a 21 de
dezembro de 2018.

Todas as três aeronaves pertenciam à Força


Aérea Russa.

Nos dias posteriores ao discurso de Maduro, teriam sido


desembarcados cerca de 400 militares mercenários do Wagner Group
para proteção de Maduro. Dimitri Peskov, porta-voz do Kremlin, negou
as informações que repercutiam na imprensa internacional. Peskov
a rmou que “o medo tem muita imaginação” e que “não é conveniente
reagir a mentiras”, e continuou a rmando que “essas informações
pertencem totalmente ao terreno das teorias da conspiração. Lá na
Venezuela se vê por toda parte quem escolta Maduro”.103

Fato é que, no dia 29 de janeiro, começam a surgir diversas denúncias


e fotogra as de aviões russos no aeroporto de Caracas. Segundo
denúncias do legislador venezuelano José Guerra, o avião estaria sendo
carregado com uma carga de ouro proveniente do Banco Central da
Venezuela, com um valor estimado em 840 milhões de dólares.
Checagem de vôos pela internet davam conta de que uma primeira
aeronave russa já teria pousado em Caracas no dia 28 de janeiro e
estaria estacionado em alguma área particular.104

Existia, por parte do governo americano, e pessoalmente de Donald


Trump,105 a expectativa que o Brasil prestasse apoio militar, ou ao
menos logístico com suprimentos e talvez munição, para o povo
venezuelano e parte das Forças Armadas que estavam com Juan
Guaidó. Os EUA também participariam no fornecimento de material.
Porém

esta possibilidade foi rechaçada pelo alto


comando das Forças Armadas brasileiras

ao presidente Jair Bolsonaro.106 O próprio chefe do GSI, General


Augusto Heleno, em entrevista rechaçou a possibilidade de apoio
material.

Nos meses seguintes, o regime chavista conseguiu se reorganizar e


Maduro permaneceu no poder, com uma ajuda cubana e
principalmente russa de Vladimir Putin, que continuou enviando
tropas e equipamentos para a Venezuela.107 No início de maio de 2019,
ao menos 55 manifestantes já haviam sido assassinados dentro da
Venezuela, fora o número desconhecido dos que foram feitos
prisioneiros.108
A queda boliviana

Um membro bastante ativo do Foro de São Paulo e peça importante


na América do Sul é o ex-presidente da Bolívia Evo Morales. Morales
fora eleito presidente da Bolívia pela primeira vez em 2006. Logo após a
sua eleição o Brasil virou gura central em uma polêmica estatização
realizada pelo governo boliviano de uma instalação de gás natural da
Petrobrás. Morales exigia que o Estado boliviano assumisse o controle
acionário das duas re narias e que os impostos sobre o gás
aumentassem de 50% para 82%. No ano anterior (2005), o imposto já
havia sido aumentado pelo então ex-presidente Carlos Mesa de 18%
para 50% com a anuência no congresso do partido de Evo Morales, o
MAS.

As condições foram negadas pela Petrobrás,


que viu suas instalações serem invadidas por
tropas do exército boliviano.
O processo foi um recado para todo o setor privado, pois a Petrobrás
era uma das maiores empresas no país.109 Em 2007, Lula acordou a
venda das duas re narias por 112 milhões de dólares pagos em duas
cotas,110 em uma operação que ao longo dos anos seria revista e geraria
prejuízo à Petrobrás de 872 milhões de reais.111

A operação na verdade foi mais uma ação entre “amigos” do Foro de


São Paulo, confessada pelo próprio Lula:112

O Evo me perguntou: “Como vocês carão se nós nacionalizarmos a


Petrobrás?”. Respondi: “O gás é de vocês”. E foi assim que nos
comportamos, respeitando a soberania da Bolívia.

O presente que Lula deu para Morales valeu a bagatela de 1,5 bilhão de
dólares. Além da con ssão de Lula, ca claro que a ocupação de tropas
do exército boliviano foi uma grande encenação populista do
presidente da Bolívia.

Em 2009, Evo Morales altera a constituição e ca estabelecido que um


presidente só pode ser eleito para dois mandatos consecutivos de 5 anos
cada. Em 2014, Morales conseguiu emplacar um terceiro mandato, pois
o Tribunal Constitucional aceitou a sua argumentação de que as regras
da constituição de 2009 não eram aplicáveis ao mandato inicial de
Morales em 2006. Segundo a tese defendida, a promulgação da nova
constituição era uma refundação da Bolívia, que passou a ser chamada
de Estado Plurinacional da Bolívia. Em suma,

Morales foi eleito presidente de uma Bolívia


que não existia mais e era presidente de um novo
país.

A tese foi acatada.113

Apenas nove meses depois de sua posse para o terceiro mandato (ou o
segundo pós-refundação da Bolívia), diversos sindicatos ligados ao
governo apresentaram um projeto de emenda à Constituição para que
Evo Morales pudesse concorrer novamente no ano de 2019. Para isso
foi proposto um referendo popular para que o povo pudesse decidir. A
maioria do governo cocaleiro aprovou a convocação do referendo que
aconteceu no dia 21 de fevereiro de 2016. O povo boliviano não
aprovou o pedido de alteração constitucional com 51,3% contra e 48,7%
favoráveis. Morales prometeu em diversas oportunidades que
respeitaria a vontade popular. Apesar disto, os governistas começaram
uma campanha a rmando que os bolivianos foram enganados por uma
campanha eleitoral mentirosa, criada pela oposição em conjunto com a
embaixada dos EUA e passou a chamar o dia do referendo de “dia da
mentira”. Em setembro de 2017, parlamentares governistas recorreram
novamente a um Tribunal Constitucional controlado por Morales,
solicitaram que diversos artigos da Constituição e da Lei de Regime
Eleitoral fossem considerados ilegais. O tribunal acatou e as reeleições
passaram a ser inde nidas na Bolívia. Em 20 de outubro 2019, dia da
eleição, uma primeira contagem rápida apontou Evo Morales com
43,9% dos votos e o ex-presidente Carlos Mesa com 39,4%, resultado
que levaria ao segundo turno das eleições.114 Após este primeiro
anúncio, passaram-se 20 horas sem que nenhuma nova informação
fosse dada sobre o andamento da contagem dos votos. Depois de longa
espera foi anunciado o resultado que elegia Morales em primeiro turno:
47,08% contra 36,51% para Carlos Mesa.

Mesa publica então um vídeo nas redes sociais a rmando que o


tribunal descumpriu a promessa de divulgar a recontagem dos votos até
100% das urnas estarem apuradas. O órgão liberou apenas um relatório
do sistema de acompanhamento quando as urnas estavam com 80%
dos votos recontados e interrompeu a recontagem. No dia seguinte, foi
solicitada uma revisão do processo eleitoral, a ser feita pela OEA, que
aceita o pedido com a condição de que a conclusão fosse acatada.115 A
OEA chegou à conclusão de que era estatisticamente improvável que
Morales alcançasse a diferença de 10% dos votos. Também

foram encontradas cédulas de votação


alteradas e assinaturas falsi cadas.
Segundo a OEA, a cadeia de custódia do voto não foi respeitada e
houve manipulação de dados. Foi indicado que as eleições fossem
anuladas e novas convocadas.116

Evo Morales acata a decisão da OEA e anuncia que novas eleições


seriam realizadas, e que todos os membros do STE seriam substituídos.
Boa parte da população e a oposição exigem que, além de novas
eleições, Evo Morales não seja candidato. Durante este processo, os
grupos contrários e favoráveis ao governo boliviano passam a se
enfrentar de maneira violenta em diversas cidades da Bolívia, com
destaque para Potosí. Diversos batalhões policiais cam aquartelados e
deixam de acatar ordens do governo, assim como parte das Forças
Armadas. Acuado,

Evo Morales foge para o interior do país e ca


escondido em uma zona de plantação de coca

no centro do país, dizendo que a polícia irá prendê-lo. As Forças


Armadas passam a exigir a sua renúncia da presidência. O pedido
partiu do Comandante do Exército Williams Kaliman: “Depois de
analisar a situação con ituosa interna, sugerimos que o presidente do
Estado renuncie a seu mandato presidencial, permitindo a paci cação e
a manutenção da estabilidade pelo bem de nossa Bolívia”.117 Evo
Morales perdeu apoio inclusive de sindicatos urbanos que o apoiavam.
Evo Morales divulga em seu Twitter a sua renúncia:118

Renuncio para que Mesa e Camacho não continuem perseguindo,


seqüestrando e maltratando meus ministros, dirigentes sindicais e
suas famílias, e para que não continuem prejudicando comerciantes,
sindicatos, pro ssionais liberais e transportadores que têm direito ao
trabalho.

Quero que o povo boliviano saiba, não tenho motivos para fugir, para
provar se estou roubando alguma coisa. Se dizem que não
trabalhamos, vejam as milhares de obras construídas graças ao
crescimento econômico. Os humildes, os pobres que amam o país vão
continuar nessa luta.

Estamos no governo há 13 anos, nove meses e 18 dias graças à


unidade e à vontade do povo. Aqueles que perderam para nós em
tantas eleições nos acusam de ditadura. Hoje a Bolívia é uma

pátria livre, uma Bolívia com inclusão, dignidade, soberania e força


econômica.
Todos os membros do Foro de São Paulo e governos apoiadores
passaram a condenar a renúncia, que foi classi cada como um golpe de
Estado. O México, de López Obrador, ofereceu sua embaixada para
refugiar diversos membros do governo cocaleiro e ofereceu asilo
político a Evo Morales,119 que aceitou e rumou para o México. O Brasil,
através do então chanceler Ernesto Araújo, disse que apoiaria a
“transição democrática e constitucional”.

Cuba, Venezuela e Rússia declararam apoio a Evo Morales. A Rússia


inclusive, divulgou uma nota que foi interpretada como

um “recado” para o Brasil

e para a oposição boliviana em 11 de novembro de 2019, dia seguinte


à renúncia:

Causa profunda preocupação que a vontade do governo de buscar


soluções construtivas, com base no diálogo, foi rejeitada por eventos
que tem o padrão de um golpe de Estado orquestrado. Estamos
preocupados com a dramática evolução da situação na Bolívia, onde a
onda de violência desencadeada pela oposição não permitiu que o
mandato presidencial de Evo Morales fosse cumprido.

Apelamos a todas as forças políticas bolivianas para que sejam


sensatas e responsáveis, para que encontrem uma solução
constitucional para a situação no interesse da paz, da tranquilidade,
da restauração da governabilidade das instituições do Estado, da
garantia dos direitos de todos os cidadãos e do desenvolvimento
social e econômico do país, ao qual estamos ligados por uma relação
de amizade. Esperamos que esta abordagem responsável seja
demonstrada por todos os membros da comunidade internacional,
pelos vizinhos latino-americanos da Bolívia, pelos países extra-
regionais in uentes e pelas organizações internacionais.
Após uma avalanche de pedidos de demissão dos sucessores
constitucionais para a assumir o cargo, coube então à segunda vice-
presidente do Senado, Jeanine Áñez, assumir interinamente o cargo até
que novas eleições fossem convocadas.
O R  F  S
P
O Foro de São Paulo está bem em toda a América Latina, no Caribe e
no resto do mundo, com os movimentos sociais [...]. Devemos
continuar. Estamos indo melhor do que pensávamos.

— Nicolás Maduro em 19 de outubro de 2019

A partir de 2013,os membros do Foro de SãoPaulo começaram a


experimentar uma seqüência de reveses e de forma gradual
começaram a perder o poder em diversos países, ou car na berlinda
em outros, como a Venezuela. Estes processos, porém, não signi caram
que os meios de ação do Foro de São Paulo foram neutralizados, ou que
seus membros não tivessem apoio. Quando este período problemático
se iniciou, o Foro de São Paulo passou a ter apoio próximo e efetivo de
quatro países: Rússia, China, Irã e México.

Ao longo deste capítulo, vamos trazer um resumo de como o Foro de


São Paulo passou a “ressurgir das cinzas”. Mesmo autores e analistas
conservadores, estudiosos do tema, creditavam os movimentos
ocorridos até 2017 como o possível começo do m, e que teriam já
cumprido a sua missão. Aliado a isto, o Foro de São Paulo passa a
ocultar suas declarações através de sucursais como a Aliança
Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA),120 o Grupo de
Puebla121 e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos
(CELAC). Este último grupo foi deixado pelo Brasil em anúncio do
então chanceler Ernesto Araujo no Twitter:122
O Brasil decidiu suspender sua participação na CELAC
(Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos). A
CELAC não vinha tendo resultados na defesa da democracia ou em
qualquer área. Ao contrário, dava palco para regimes não-
democráticos como os da Venezuela, Cuba, Nicarágua.

O Brasil reforça sua determinação de trabalhar com todas as


democracias da região (seja bilateralmente, seja na OEA, no Prosul ou
no Mercosul) por uma agenda de liberdade, prosperidade, segurança e
integração aberta.

Para entendermos este processo, é preciso revisitarmos algumas datas


e acontecimentos já tratados neste livro, para observar acontecimentos
paralelos e sementes que foram plantadas pelo Foro de São Paulo,
diretamente ou através de suas sucursais, para uma retomada em todo o
continente latino-americano.

O RESGATE DAS FARC E A TRAIÇÃO DE UMA NAÇÃO


Álvaro Uribe Vélez foi presidente da Colômbia entre os anos de 2002 e
2010. Seu governo gozava de alto grau de popularidade entre o povo
colombiano, chegando à marca incrível de 95% de aprovação da
população. O principal fator de suas políticas terem apelo popular
foram os

programas de diminuição do Estado e o


combate ferrenho às FARC.

Uribe na campanha de 2002 era um ferrenho crítico de qualquer


negociação de paz com as FARC, e isso foi um ponto determinante em
sua campanha. Como presidente, cumpriu a promessa de combater a
guerrilha com mão de ferro, sendo muitas vezes acusado de utilizar
caminhos fora do Estado e com grupos paramilitares anticomunistas
como as Autodefesas Unidas da Colômbia. Fato é que Uribe deixou a
presidência com uma alta aprovação da população e encaminhou a
eleição de seu sucessor, o seu então Ministro da Defesa Juan Manuel
Santos.

Santos, ao contrário de Uribe, rapidamente procurou retomar


negociações de paz com as FARC. Estas negociações foram longas e
intermediadas por um intercessor deveras estranho:

Raúl Castro, ditador interino de Cuba.

Boa parte das reuniões e tratativas aconteciam em Havana. Santos


iniciou um processo de quebra de con ança da população com a direita
política colombiana. Em sua primeira eleição, com apoio de Uribe,
obteve a marca de 68,9% dos votos válidos. Já em sua reeleição, este
número caiu para 50,94% dos votos.

Para conseguir ser eleito, usou o mote de campanha “paz sem


impunidade”.123 Para seu discurso de vitória escrevera a palavra paz em
sua mão, fotogra a que percorreu o mundo; e declarou:

Esta não será uma paz com impunidade, esta será uma paz justa.
Teremos que dar passos difíceis para garantir que não só seja justa,
como também duradoura. [...] Paz, paz, a Colômbia quer paz.

As negociações transcorreram durante os seus dois mandatos, sendo


no segundo quando mais rompeu as bases de con ança com a
população. O acordo, de 297 páginas, previa, entre muitas concessões
para as FARC, que

os guerrilheiros se tornariam um partido


político
em detrimento da luta armada e receberiam cinco cadeiras no Senado
e cinco na Câmara nas duas eleições legislativas seguintes. O autor,
analista político e Tenente-Coronel da Reserva do Exército
Colombiano, resumiu outros pontos “obscuros” do acordo assinado por
Santos em Havana:124

O acordo assinado em 23 de junho de 2016 em Havana, como parte


do acordo de nitivo sobre uma cessação bilateral de hostilidades, é o
maior prêmio para a primeira etapa das hábeis imposições das FARC
sobre Santos, uma vez que os terroristas conseguiram impedir que o
Exército colombiano entrasse em suas áreas de base onde os líderes
operam. Eles mantêm o controle sobre as culturas ilícitas, facilitam a
continuação de extorsões e seqüestros, induzem-nos a ceder às
pretensões coordenadas do ELN com as FARC, desviar o foco da
cumplicidade com as FARC por parte dos governos pró-terroristas de
Cuba, Venezuela, Nicarágua, Equador e Bolívia (que, aliás,
permanecem dedicados a legitimar as FARC), deixar de lado e no
esquecimento a existência das milícias bolivarianas, do Partido
Comunista Clandestino e do Movimento Clandestino Bolivariano,
estruturas que são como ou mais terroristas do que as gangues
armadas; mas, acima de tudo, deixam a lacuna aberta para os
governos cúmplices do narcoterrorismo comunista eventualmente
concederem reconhecimento político e status beligerante às FARC e
ao ELN.

Para sacramentar o acordo de paz, foi marcado um referendo para a


população colombiana dar, ou não, o seu aceite ao documento. Durante
a campanha, iniciaram os rumores e posterior indicação de Santos para
o

prêmio Nobel da Paz.

Por outro lado, a campanha pelo Não ganhou um forte aliado: o ex-
presidente Álvaro Uribe. Os colombianos foram às urnas em 02 de
outubro de 2016 em uma disputa acirradíssima que dividiu o país, o
resultado foi de 50,22% para o Não e 49,78% para o Sim. Porém, o povo
colombiano começava a dar sinais de sua insatisfação e sentimento de
traição da classe política: a abstenção foi de incríveis 63%. No dia 07 de
outubro, o Presidente Santos é agraciado com o prêmio Nobel da Paz.125

Rapidamente, o Presidente Santos formula alterações super ciais no


Acordo de Paz e, no dia 26 de setembro, perante 2.500 convidados, sob
os olhares de Raúl Castro e com todos os participantes vestidos de
branco, assina um novo Acordo com Timochenko, o líder das FARC
em Bogotá.126 Desta vez, porém, ele não convocou um novo referendo,
mas remeteu o documento apenas para o congresso nacional e
sacramentou o documento

contra a vontade da população colombiana.


Nas eleições seguintes, em 2018, Iván Duque foi eleito presidente da
Colômbia, com um total de 54% dos votos válidos, contra 41,81% de
Gustavo Petro; as abstenções registraram 46,96% dos votos. O seu
principal mote de campanha foi a contrariedade ao Acordo de Paz, o
qual prometeu rever. Após sua eleição, tentou endurecer as penas dos
guerrilheiros desmobilizados, mas a proposta não passou no
Parlamento. Pouco tempo depois, as FARC declararam que havia uma
dissidência dentro de suas leiras e esta fora dividida em duas: Iván
Márquez, número dois da guerrilha, anunciou a volta à luta armada em
uma clara estratégia das tesouras do grupo revolucionário.

E o ex-presidente Manuel Santos? Foi envolvido em um escândalo de


corrupção de propina paga pela Odebrecht à sua campanha de reeleição
de 2014, em meio as negociações de paz com as FARC. A Odebrecht
informou que a propina foi paga com a intenção de vencer a
concorrência para construção de estradas na Colômbia.127

FORO DE SÃO PAULO REÚNE-SE EM CARACAS EM


MEIO AO CAOS
Em meio à luta do povo venezuelano contra o regime chavista, os
agentes cubanos e os mercenários russos, o Foro de São Paulo
con rmou sua agenda para o XXV Foro de São Paulo em Caracas —
uma clara demonstração de força de Maduro em meio à instabilidade
total em seu país. Nesta reunião estiveram presentes 700 delegados de
70 países, entre os quais Nicolás Maduro e Miguel Díaz-Canel,128
sucessor dos Castro na ditadura Cubana. Diferente dos anos anteriores,
a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, não compareceu ao encontro,
tampouco Dilma Rousseff. Ambas estiveram juntas no XXIV Foro de
São Paulo em Havana em 2018. O motivo alegado para esta ocasião foi
a agenda de ambas, porém, a crise na Venezuela estampava todos os
jornais brasileiros e o PT acabara de sair de um processo conturbado de
impeachment e eleições que desa aram sua posição. O

apoio público de Gleisi Hoffmann a


Maduro
em meio à crise criou um desgaste público com Fernando Haddad,
candidato à presidência da sigla em 2018.129

Em seu discurso Nicolás Maduro fez apelo para a unidade da esquerda


latino-americana “do ponto de vista moral, espiritual e político”,
também clamou pelo objetivo maior do Foro, a união revolucionária:
“Temos de conseguir a união de todas as forças progressistas com um
grande projeto que uni que as forças populares”. Díaz-Canel declarou o
que signi cava o embate atual dentro da Venezuela: “A Venezuela é hoje
a primeira trincheira da luta anti-imperialista”.

A principal chave de leitura, porém, foi dada por Mônica Valente,130


Secretária Executiva do Foro de São Paulo:131

Chegaram a dizer que havia chegado ao m o ciclo progressista na


América Latina, no entanto o companheiro presidente Andres
Manuel Lopez Obrador mostrou que não, não é o nal de nada.
Depois de 500 anos de dominação, recém começamos a governar e a
colocar o povo no poder na América Latina e no Caribe.

Mônica aponta a tese que defendo desde 2018, segundo a qual, com a
eleição de Andrés Manuel López Obrador,

o México passou a ser um centro


determinante para o Foro de São Paulo,

tendo em vista o impeachment de Dilma em 2016 e os reveses que


tratamos no capítulo anterior. Vale ressaltar também a a rmação de que
o Foro de São Paulo não está acabado, como vinha sendo dito e
inclusive propagandeado erroneamente por expoentes e analistas da
direita, principalmente no Brasil. Ponto central da resolução nal do
encontro foi a luta pela libertação de Lula da cadeia e a pressão pública
para sua indicação ao Prêmio Nobel da Paz.132

Abaixo destacarei os principais pontos da resolução deste encontro,


com destaques em negrito:

Exige a promoção da mais ampla solidariedade global com a defesa


da soberania e da autodeterminação do povo venezuelano, e com seu
direito de viver em paz.

Apoia o diálogo entre o Governo Bolivariano e as correntes de


oposição promovidas pelo presidente constitucional Nicolás Maduro,
porque é uma expressão genuína da democracia e das liberdades
existentes na Venezuela, razão pela qual é apoiada pela maioria do
povo venezuelano para resolver as diferenças constitucional e
paci camente, sem interferência estrangeira.

Rejeita veementemente as ameaças de intervenção militar contra a


Venezuela e condena em todos os casos possíveis o bloqueio
econômico, nanceiro, comercial e o cerco diplomático pelo governo
dos Estados Unidos. Preservar a paz na Venezuela é preservar a paz
na região e uma das prioridades dos partidos que compõem o FSP.

Rati ca as justas causas aprovadas nas XXIII e XXIV Reuniões do


FSP, considerando-as em vigor. Assim, esta Reunião XXV exige:

Fortalecer a defesa, como objetivo comum, da Proclamação da


América Latina e do Caribe como Zona de Paz, aprovada na Segunda
CÚPULA do CELAC. Isso é urgente e vital.

Defender o CELAC como o maior evento unitário dos últimos 200


anos e semear a idéia integracionista em nossos povos.

Repudiar a perigosa presença militar dos Estados Unidos e seus


aliados da OTAN no Caribe e no Atlântico, para propósitos
claramente agressivos e pressão sobre nossas nações.

Rea rmar a importância das relações do FSP com partidos de


esquerda na Europa, Ásia, África e Oriente Médio.

Denunciar o papel intervencionista, a serviço dos EUA.


Departamento de Saúde dos EUA e OEA. Continua a operar como
um el ministério de colônias dos EUA simbolizada pelo seu
secretário-geral Luís Almagro, peão do Império. Confronte
vigorosamente o avanço da direita sobre nossos povos. Isso é
evidenciado pelos governos neoliberais, autoritários e pró-fascistas
reciclados, como os de Bolsonaro no Brasil, Iván Duque, na
Colômbia, e Mario Abdo Benitez, no Paraguai, Mauricio Macri, na
Argentina, Lenin Moreno, no Equador, e Juan Orlando Hernández,
em Honduras, que destroem a democracia e os direitos sociais
conquistados.

Condenar veementemente o genocídio permanente cometido pela


ultradireita governante na Colômbia contra toda a expressão
organizada do movimento social e popular, através do inaceitável
assassinato sistemático de líderes sociais, ex-combatentes da guerrilha
e suas famílias.
Exigir do governo colombiano o cumprimento integral dos Acordos
de Paz, vital para garantir que nosso continente permaneça uma zona
de paz. Da mesma forma, apoiamos o partido das FARC por sua
persistente defesa dos Acordos e sua realização, o que constitui uma
contribuição inestimável para a luta pela paz. Para alcançar essa paz,
exigimos a retomada imediata dos diálogos com o Exército de
Libertação Nacional (ELN).

Denunciar a intervenção dos Estados Unidos na Nicarágua contra a


Revolução Sandinista, através de uma tentativa de golpe inaceitável,
derrotada pelo povo nicaraguense, cujo direito à paz deve ser
defendido por todos. Com sanções econômicas dos EUA. Os EUA
falharão em derrotar o heróico povo de Sandino.

Oferecer toda a solidariedade à FMLN, cuja militância e pessoas são


vítimas de agressão e revanchismo pela direita local, a serviço dos
EUA. O governo dos EUA, através da violação dos direitos
conquistados e deslegitimá-los por meios judiciais, como acontece,
com graves atos de perseguição política e violação dos direitos
humanos no Equador, Brasil, Argentina. A prisão de Lula e Jorge Glas
demonstra isso, assim como a perseguição judicial contra Cristina
Fernández de Kirchner, Rafael Correa e Ricardo Patiño. E exigimos a
libertação de todos os presos políticos.

Apoiar a candidatura de Evo Morales e Álvaro García Linera na


Bolívia, que com o apoio majoritário de seu povo estão empenhados
em desenvolver em seu quarto mandato a “Agenda Bicentenária”, com
o objetivo de acabar com as dívidas históricas pendentes dos séculos
XIX e XX, e enfrentar as tarefas do século XXI em condições de
independência econômica e soberania política plena.

Apoiar o movimento popular da Argentina que conseguiu formar


uma aliança unitária na Frente de Todos, que lidera como candidato a
presidente Alberto Fernández e como candidato a vice-presidente de
Cristina Fernández de Kirchner, para enfrentar Macrismo e suas
políticas de fome, endividamento, repressão e rendição da soberania,
na próxima disputa eleitoral em outubro. A derrota de Macri e do
neoliberalismo na

Argentina seria um triunfo da nossa integração americana e mais


uma vez incentivaria lutas e resistências no resto dos países.

Apoio ao governo do presidente Andrés Manuel López Obrador, cujo


triunfo, com enorme participação popular, mostrou que não há m
para nenhum ciclo progressivo; abriu perspectivas de mudança em
favor das grandes maiorias com o programa da Quarta
Transformação e pode signi car um renascimento dos processos de
integração regional autônoma e soberana de nossos povos, sob os
princípios de autodeterminação dos povos, não intervenção e
resolução pací ca dos con itos.

Condenar todas as formas de discriminação e violência contra a


mulher, exclusão, trá co de mulheres e meninas, exploração sexual,
feminicídios, além de exigir maior apoio e proteção dos direitos
sexuais e reprodutivos das mulheres.

Exigir o m incondicional, total e de nitivo do bloqueio econômico,


comercial e nanceiro do governo dos EUA. O governo dos EUA
contra Cuba, que constitui o principal obstáculo ao desenvolvimento
econômico e social do país, e uma violação agrante e maciça dos
direitos humanos das mulheres cubanas. Como parte de sua política
de cerco a Cuba, eles aplicam a Lei Helms Burton e ativam o Título
III, juntamente com outras medidas hostis.

Exigir o retorno a Cuba do território ocupado pela Base Naval de


Guantánamo. Apoie a reivindicação histórica da Argentina à
soberania das Ilhas Malvinas, Geórgia do Sul, Ilhas Sanduíche do Sul,
Antártica, Argentina e espaços marítimos circundantes. Questiona,
além disso, o acordo entre o atual governo da Argentina e o Reino
Unido, concluído em setembro de 2016 e conhecido como
“ForadoriDuncan”.
Exigir a libertação imediata de Lula, vítima de um exercício abusivo,
ilegal e ultrajante do poder judiciário contra ele.

Rejeitar a política do império dos EUA para quali car Cuba,


Nicarágua e Venezuela como membros de um suposto eixo do mal.
Defender, como um dos objetivos centrais do FSP, a construção da
unidade anti-imperialista e antiliberal como tática e estratégia de
vitória, em defesa da soberania, independência, democracia,
autodeterminação e direitos humanos em Nossa América, com real
destaque político de seus povos.

Os detalhes mais importantes sobre Foro de São Paulo, porém, nunca


estão no que é divulgado. Recorro aqui ao professor Olavo de Carvalho:

Há anos aviso que no Foro de São Paulo o mais importante não são as
assembléias, mas as conversações discretas, ou reservadas, onde o
destino de vários países é decidido pelas costas da população.

Veremos a seguir o quão certo Olavo estava.

AS REVOLUÇÕES LATINAS E O CAOS PLANEJADO


No dia 23 de setembro de 2019, a OEA aprovou a resolução que
reconheceu o regime de Nicolás Maduro como ameaça. O objetivo era
evitar que a Venezuela continuasse sendo território livre para atividades
ilícitas e criminosas. Para este objetivo foi utilizado o Tratado
Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR). A ação foi liderada
pelo então chanceler do Brasil Ernesto Araújo e pelo Secretário de
Estado americano Mike Pompeo. O tratado foi endossado por outros
países como Argentina, Chile, Colômbia, Panamá, Paraguai, Uruguai,
entre outros.133 Através deste dispositivo, as agências federais dos países
membros (FBI, Polícia Federal etc.) são obrigadas a participar das
investigações.

No dia seguinte à resolução, Nicolás Maduro viaja para a Rússia para


reunir-se com Vladimir Putin, assim como o Presidente da Assembléia
Constituinte Diosdado Cabello rumou para a Coréia do Norte para
reunir-se com Kim Jong-un. “Dentro de algumas horas estou partindo
para a Federação da Rússia, para uma visita o cial onde encontrarei
nosso amigo e companheiro presidente Vladimir Putin”, anunciou
Maduro na TV estatal.134 Uma semana depois, inicia-se um processo
dominó em todo o continente, como veremos a seguir.


A seguir, irei apresentar de maneira resumida diversos acontecimentos
importantes na América Latina por país, para expor de maneira
didática o desenrolar dos acontecimentos e as conseqüências das ações
do Foro de São Paulo, intercalando as contextualizações pertinentes.

Peru, uma nau sem direção

No dia 30 de setembro, houve uma disputa envolvendo, entre outras


pautas, o controle do judiciário peruano. O congresso, de maioria de
oposição, aprova medida que lhe confere o poder de eleger os
magistrados que integrariam o Tribunal Constitucional Peruano. O
Presidente Vizcarra, que assumiu a presidência após seu companheiro
de chapa sofrer impeachment por receber propina da Odebrecht,
considerou a medida como uma forma de controlar o judiciário. Para
evitar a nomeação, o primeiro-ministro Salvador del Solar, que
representa Vizcarra no Parlamento, entrou com uma proposta de
reforma na nomeação dos juízes do Tribunal Constitucional. Essa
proposta estava vinculada a uma moção de con ança, que, em caso de
rejeição, permitiria ao presidente dissolver o Congresso e convocar
novas eleições. Os parlamentares não colocaram a medida em votação.

Vizcarra então foi à TV dissolver o congresso e imediatamente


grupos organizados de esquerda tomaram
as ruas do Peru

em apoio à medida do presidente.135 O congresso, em retaliação,


liderado pela ala de direita, entra com uma moção semelhante a um
impeachment para declarar a presidência vaga e destituir Vizcarra por
“conduta imoral”. O Peru mergulhou em uma crise, e elegeu Pedro
Castillo em 11 de abril de 2021, candidato apoiado pelo Foro de São
Paulo. Disse Evo Morales após sua eleição: “Ganhou com a nossa
proposta”.

Equador, o caos organizado e a intervenção


católica

Nos primeiros dias de outubro, o governo equatoriano de Lenín


Moreno, dissidente do Foro de São Paulo, foi obrigado a mudar a sede
do governo federal de Quito para a cidade de Guayaquil por conta da
violência nas ruas. Lenín Moreno decretou “estado de emergência” no
país. Os protestos iniciaram por conta do aumento nos combustíveis,
resultado do m dos subsídios federais aos combustíveis. A medida foi
parte de um acordo para empréstimo do FMI de 4,2 bilhões de dólares,
para salvar a economia em frangalhos, resultado do governo de Rafael
Correa, um dos principais membros do Foro.

Em pronunciamento, Moreno declarou que estava aberto a mediações


da ONU ou da Igreja Católica. O secretário da presidência, Juan
Sebastian Roldan, a rmou a uma rádio local que “a única resposta é
diálogo e rmeza ao mesmo tempo”. Lenín Moreno em outro
pronunciamento acusou abertamente Nicolás Maduro e Rafael Correa
de estarem por trás da desestabilização no país: “O déspota do Maduro
ativou com Correa seu plano de desestabilização”.
Correa estava e ainda está foragido da justiça equatoriana, por
envolvimento em casos de corrupção e recebimento de propina da
Odebrecht, e com asilo político na Bélgica.

O Foro de São Paulo utilizou organizações


indígenas,

como a CONAIE, para avançar contra o governo e a iniciativa privada.


Estradas importantes foram fechadas e promoveram greves com os
sindicatos. Pequenas empresas e negócios rurais foram invadidos. Em
Cotopaxi, manifestantes invadiram empresas vinícolas, de produção de
embalagem, de laticínios, de papel e de ores. Ao menos 32 fazendas
foram invadidas e saqueadas em Toacazo, Tanicuchí, San Agustín de
Callo, Mulaló, Joseguango Bajo e Piedra Colorada.136

As manifestações não resultaram na queda do governo, e Lenín


Moreno conseguiu manter-se até o nal de seu mandato. Nas eleições
de abril de 2021, Rafael Correa apadrinhou Andrés Arauz (uma aposta
extremamente jovem, 36 anos), que era o favorito para as eleições. No
primeiro turno, Arauz cou em primeiro lugar com 32,7% dos votos,
com Lasso em segundo totalizando 19,7% do total. Em uma campanha
para o segundo turno, que contou com o importante apoio da
associação católica Tradición y Acción,137 a TFP do Equador, os
conservadores conseguiram uma inimaginável vitória, com Lasso
recebendo 52,36% dos votos válidos contra 47,64% de Andrés Arauz.

Honduras, conservador de dia e tra cante à


noite

No dia 10 de outubro, irrompem manifestações nas ruas hondurenhas,


convocadas por Manuel Zelaya, membro do Foro de São Paulo e
próximo de Lula, e, junto com grupos de esquerda e sindicatos, tomam
as ruas exigindo a saída do presidente Juan Orlando Hernandez. No dia
03 de outubro, apenas 10 dias após o acionamento do TIAR na OEA,
teve início o julgamento do irmão de Hernandez que o teria delatado
por envolvimento com o narcotrá co.138

Hernandez negou todas as acusações e disse que eram “100% falsas,


absurdas e ridículas”. Permaneceu no cargo até o m de seu mandato.
Porém, nas eleições de novembro de 2021, Xiomara Castro, esposa de
Manuel Zelaya, venceu as eleições contra o candidato governista Nasry
Asfura.

Sob o governo de Hernandez,

houve aumento da in uência cristã,

por meio de organizações evangélicas conservadoras e da católica


Opus Dei nas decisões governamentais. Hernandez instituiu a oração
obrigatória no início do dia nas escolas e em certas instituições como a
polícia e o exército. No início de 2021, a proibição total do aborto e do
casamento entre pessoas do mesmo sexo foi consagrada na
Constituição do país, tornando muito difícil sua alteração futura.

Foi preso apenas 20 dias após deixar a presidência, sob acusação da


justiça americana que perdurava desde 2019, de envolvimento em um
esquema de trá co internacional de drogas, onde teria transportado
cerca de 500 toneladas de cocaína através do país com destino aos EUA,
além de ter recebido propina de Joaquín Guzman, tra cante
internacional conhecido com El Chapo. Além disto, segundo seu irmão,
detido pela justiça americana, ele teria recebido milhões de dólares para
proteger tra cantes de investigações e processos. Após o processo em
Honduras, foi extraditado para os EUA no dia 21/04/2022.

Apenas uma brisa, furacão do Foro de São


Paulo a caminho
Diosdado Cabello, em uma declaração no 1º Congresso Internacional
de “Las Comunias” em 19 de outubro, fez declarações sobre o papel que
o Foro de São Paulo estava desempenhando em todos os
acontecimentos na região:139

Você não precisa ser cartomante e muito inteligente para saber que a
Colômbia é insustentável por causa da política que Duque e Uribe
realizam. No Chile nos chamavam de ditadores, mas o exército está
na rua correndo e perseguindo pessoas. [...] O que Sebastián Piñera
está fazendo no Chile, é o mesmo que Pinochet fez na época, mas
agora cuja culpa é, Maduro, de Díaz-Canel, do Foro de São Paulo?
Não, isso é do FMI e das políticas neoliberais que eles impõem. [...] O
que está acontecendo no Peru, Chile, Equador, Argentina, Honduras
é apenas a brisa, e um furacão bolivariano está chegando. Não
estamos isolados no mundo, pelo contrário, a Venezuela está se
tornando cada dia mais consolidada.

Cabello ainda a rmou que a Venezuela é um país democrático:

[...] democracia autêntica, onde o povo tem o direito de se expressar


nas eleições e nas ruas [...] o protesto é a burguesia, os grupos
empresariais, as grandes famílias, aqueles que destruíram o país e
seus derivados, mas não o povo porque estão com a revolução.

Também defendeu suas viagens à Rússia e China:

[...] extraordinárias, porque têm uma clareza do que está acontecendo


na Venezuela e recebemos a vontade de continuar nos ajudando.

Nicolás Maduro também discursou no evento e deixou clara a


in uência do Foro de São Paulo nos acontecimentos:140

O Foro de São Paulo, eu posso lhes dizer, o Foro de São Paulo


estamos cumprindo os planos, os planos vão como decidimos, está
indo perfeitamente o plano. Vocês me entendem? O Foro de São
Paulo é o plano que está uindo, vitorioso.
Todas as metas que propusemos no Foro de

São Paulo, estamos cumprindo uma por uma. É a união dos


movimentos sociais, progressistas, revolucionários, nacionais
populares de toda a América Latina e do Caribe e até mais... do
mundo! O Foro de São Paulo saiu revitalizado, impulsado, e assim
devemos seguir, articulando os partidos políticos progressistas,
revolucionários de esquerda de toda a América Latina e do mundo,
com os movimentos sociais, essa foi a estratégia que traçamos. E
vamos bem! Vamos melhor do pensávamos, muito melhor do que
pensávamos. E, todavia, o que falta, não posso dizer mais, são
segredos do super bigode — em referência a si mesmo.

Chile, a maior vítima do Foro de São Paulo

Este é o caso mais grave do plano implementado para desestabilização


da América Latina. A fagulha necessária foi dada pelo governo do então
Presidente Sebastián Piñera ao aumentar o preço da passagem do metrô
em 30 pesos, quase 20 centavos — ironicamente

o mesmo tema que levou às jornadas de


junho de 2013 no Brasil.
Diferentemente do Brasil, onde a população protestou paci camente,
as ruas do Chile foram tomadas pela violência extrema. Os protestos
foram iniciados no dia 18 de outubro, quando manifestantes, jovens e
universitários em sua maioria, tomaram as estações de metrô e
forçaram a entrada sem pagar, causando destruição e confronto com a
polícia. A situação fez com o que o metrô de Santiago, responsável pelo
transporte de quase 3 milhões de pessoas, fechasse e colapsasse o
sistema de transporte da cidade.

Durante a madrugada, o presidente do país decretou estado de


emergência em Santiago e região metropolitana, devido ao aumento da
violência que resultou em ônibus incendiados, saques, destruição de
propriedades privadas e agressões. Em torno de 156 policiais caram
feridos, cinco em estado grave, 49 carros da polícia foram dani cados,
41 estações de metrô vandalizadas e 308 pessoas presas. Sim, caro leitor,

tudo isto em uma única noite.

No dia seguinte, Piñera anunciou que estava revertendo sua decisão,


dizendo que escutou “com humildade a voz de meus compatriotas e
não terei medo de seguir escutando esta voz. Vamos suspender o
aumento nas passagens do metrô”. Não foi o su ciente para conter o
caos. Na madrugada do dia 20 de outubro, três pessoas morreram
durante o incêndio em um supermercado na Zona Sul de Santiago. O
incêndio foi causado pelos manifestantes. Piñera decretou então toque
de recolher em Santiago, Valparaíso, Rancagua, La Serena, Coquimbo e
Concepcíon, mobilizando a presença militar nas ruas. O governo
chileno mobilizou quase dez mil integrantes das forças armadas para
conter o caos. O Minitro da Defesa Alberto Espina a rmou à imprensa
que o Chile estava vivendo “elevadíssimos níveis de delinqüência e
saques”. Diversos chilenos e turistas estrangeiros caram presos no
aeroporto devido a suspensão de centenas de vôos e o toque de
recolher.

As reinvindicações nas ruas eram sobretudo a respeito do modelo


econômico do país; gritos como “basta de abusos!” eram ouvidos nas
ruas. Nas redes sociais a #ChileAcordou dominava os debates no país.
Uma foto de Piñera comendo pizza com seu neto enquanto as
manifestações tomavam o país foi utilizada como propaganda de
inaptidão, e revoltou todos os lados da população.141 Piñera, vendo sua
popularidade cair para 14%, fez outras concessões aos manifestantes,
mas não teve sucesso em conter os protestos, que já passavam de doze
dias. Começa assim um movimento de partidos de esquerda na
oposição, junto com setores da sociedade, pela imposição de mudanças
na constituição. A alegação era de que o foco da constituição vigente
era em priorizar o controle privado sobre praticamente qualquer
aspecto da economia, e que esta era a raiz do problema, seja qual for o
presidente.142 A oposição controlava a Câmara dos Deputados e o
Senado, porém sem maioria su ciente para avançar com a medida. No
entanto, com o aumento do caos, os partidos que apoiavam o governo
passaram também a conceder as mudanças constitucionais. Os
manifestantes passaram a utilizar o slogan

“Nova constituição ou nada”.


Piñera cedeu, e quando perguntado sobre a eventualidade de uma
reforma constitucional, respondeu: “Não descarto nenhuma reforma
estrutural”.

Dessa forma foi agendado um plebiscito popular para a população


responder se desejava uma nova assembléia constituinte. Marcado
originalmente para o dia 24 de março de 2020, foi adiado para o dia 25
de outubro por conta da pandemia de COVID-19.

No dia 18 de outubro, no aniversário de um ano das manifestações,


faltando sete dias para o plebiscito, um grupo de manifestantes decidiu
“comemorar” a data:

vandalizaram e atearam fogo em dois templos


católicos:

a capela dos carabineiros San Francisco de Borja e a Paróquia


Asunción. Na Zona Sul da capital uma estação de metrô foi incendiada,
enquanto um grupo de pelo menos 300 pessoas encapuzadas atacaram
a 20ª delegacia dos carabineiros com coquetéis molotov.143 No dia 25 de
outubro aconteceu o plebiscito e a aceitação do processo de uma nova
constituinte venceu por 78,28% dos votos válidos. Dos 11 partidos
considerados à direita do Chile, apenas 6 mantiveram-se contra o
plebiscito, os outros 5 se uniram aos 20 partidos de esquerda que
apoiavam o processo.

O pós-plebiscito aprofunda o caos chileno

No dia 19 de dezembro de 2021 é realizada a eleição presidencial no


Chile, onde venceu o candidato apoiado maciçamente pelo Foro de São
Paulo Gabriel Boric, líder estudantil com apenas 35 anos de idade.
Boric recebera 55,87% dos votos válidos, contra 44,13% do conservador
José Antonio Kast, que havia vencido no primeiro turno, porém não foi
páreo para a coalizão de esquerda formada no segundo turno.
Prontamente, os principais presidentes ligados ao Foro de São Paulo o
parabenizaram no Twitter pela vitória:

Miguel Días-Canel, presidente de Cuba: “Cordiais parabéns a


@gabrielboric por sua eleição como Presidente do Chile em uma
vitória histórica. Con rmamos nossa vontade de expandir as relações
bilaterais e a cooperação entre nossos dois países.”

Nicolás Maduro, presidente da Venezuela: “Parabenizo o pacto


Apruebo Dignidad por sua vitória e o recém-eleito presidente do
Chile, Gabriel Boric. Saúdo o povo de Salvador Allende e Victor Jara
por sua retumbante vitória sobre o fascismo. Grande dia
democrático! Viva o Chile!”

Luis Arce, presidente da Bolívia: “Saudamos o triunfo eleitoral de


@gabrielboric, que é o triunfo do povo chileno. A democracia latino-
americana se fortalece a partir da unidade, do respeito e, acima de
tudo, da vontade de nosso povo. Parabéns ao presidente eleito do
Chile!”

Pedro Catillo, presidente do Peru: “Parabéns pelo triunfo, meu caro


amigo @gabrielboric. A vitória que você conquistou é a do povo
chileno e a compartilhamos com o povo latino-americano que deseja
viver em liberdade, paz, justiça e
dignidade. Continuemos para lutar pela unidade de nossas nações.”

Enquanto este livro é escrito, estamos em meio ao processo de


preparação para um novo plebiscito, onde será posta em votação a nova
constituição chilena, apresentada por Gabriel Boric. O processo de
elaboração do documento levou 12 meses e foi elaborada em uma
assembléia paritária, ou seja, com 50% de homens e 50% de mulheres.
Abaixo irei listar alguns breves destaques do documento:

• Em seu primeiro artigo, estabelece-se que “o Chile é um Estado


social e democrático de direito. É plurinacional, intercultural,
regional e ecológico”. Ainda acrescenta que “se constitui como uma
república solidária”. “Sua democracia é inclusiva e paritária.
Reconhece a dignidade, a liberdade, a igualdade substantiva dos seres
humanos e sua relação indissolúvel com a natureza como valores
intrínsecos e inalienáveis”.

• De acordo com o princípio paritário do artigo primeiro, a Carta


propõe que 50% dos cargos de todos os órgãos do Estado e empresas
públicas devem ser ocupados por mulheres. Também estabelece que
o país deve incentivar a prática no âmbito privado.

• A constituição prevê que o aborto seja garantido pelo Estado: “Toda


pessoa é titular de direitos sexuais e reprodutivos. Isso inclui, entre
outros, o direito de decidir de forma livre, autônoma e informada
sobre o próprio corpo, sobre o exercício da sexualidade, a
reprodução, o prazer e a anticoncepção”, diz a proposta da nova
Constituição, no primeiro ponto do artigo 61.

• Aplica a perspectiva da ideologia de gênero na justiça.

• Con rma os “direitos da natureza” e o dever especial de custódia do


Estado sobre os bens comuns naturais do país.

• Será garantida vagas no congresso nacional para indígenas de


acordo com a proporção da etnia no censo nacional.
• O sistema presidencialista foi mantido. Contudo, a idade mínima
para disputar o cargo de presidente foi reduzida de 35 para 30 anos.
Outra novidade é a possibilidade de 2 mandatos seguidos. A atual
Constituição permite a reeleição, mas não de forma consecutiva.

Em 23 de agosto de 2022, 15 dias antes da votação, as pesquisas


apontavam que o documento devia ser rejeitado por 54% da
população.144 Diante do possível cenário de derrota, Boric apelou para
os supermercados populares, contando que a medida se revertesse em
votos favoráveis à proposta de Constituição. O modelo seria semelhante
ao utilizado pelo chavismo na Venezuela, o fracassado Suprimentos
Bicentenários.145

Brasil, cercado pelo Foro de São Paulo e seus


sócios

No Brasil ocorreu uma sucessão de eventos, todos alinhados com os


membros do Foro de São Paulo e seus aliados. Ainda em outubro de
2019, manchas de petróleo cru começaram a aparecer na costa litorânea
do Norte e Nordeste brasileiro. Imediatamente ONGs como o
Greenpeace protestaram em frente ao Palácio do Planalto.146 Uma feroz
campanha na mídia passa a culpar o governo pela catástrofe ambiental.

Um laudo produzido pela Petrobrás foi enviado para o IBAMA, que


apontava como origem do óleo que atingiu mais de cem praias
brasileiras a Venezuela.147 O então Ministro do Meio-Ambiente,
Ricardo Salles declarou em comissão na Câmara dos Deputados:

Esse petróleo que está vindo, muito provavelmente da Venezuela


como disse o estudo da Petrobrás, é um petróleo que veio de um
navio estrangeiro, ao que tudo indica, navegando próximo à costa
brasileira, com derramamento acidental ou não, e que nós estamos
tendo uma enorme di culdade de conter.
Posteriormente, a Marinha brasileira passou a investigar um navio
liberiano que saiu da Venezuela e desligou o localizador e, também, um
navio ligado a uma companhia grega que estaria fazendo a mesma
operação de pirataria em alto mar.

A Venezuela pratica a pirataria de petróleo


cru para driblar sanções econômicas
internacionais
e vende o seu petróleo no mercado negro. Em 2021, foi con rmada a
origem do petróleo sendo das bacias venezuelanas.148


Coincidência ou não, Luiz Inácio Lula da Silva foi solto da prisão, após
19 meses atrás das grades por envolvimento em diversos escândalos de
corrupção investigados pela operação Lava-Jato. Ele foi bene ciado por
uma decisão do Superior Tribunal Federal que de niu que

réus condenados em segunda instância não


podem ser presos,

revertendo uma decisão do próprio tribunal de 2016. Dos 11


ministros da Suprema Corte, 7 foram indicações dos governos da era
PT e 1 pelo vice de Dilma que assumiu após o impeachment, Michel
Temer. O voto de Minerva para decidir a votação foi dado pelo
Ministro Dias Toffoli, então presidente da Suprema Corte. Toffoli foi no
passado assessor jurídico da Central Única dos Trabalhadores (CUT),
assessor jurídico do Partido dos Trabalhadores e atuou como advogado
de campanha em três eleições de Lula: 1998, 2002 e 2006. Foi indicado
para uma vaga no Supremo Tribunal Federal por Lula em 2009.
Em declaração no dia seguinte a sua soltura, Lula, em discurso
realizado no Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo,
declarou que

era necessário seguir o exemplo que estava


acontecendo no Chile.
“Eles não sabem, não sabem o tesão com que eu estou para brigar por
esse país. Não sabem. A gente tem de seguir o exemplo do povo do
Chile, da Bolívia. A gente tem de resistir. Na verdade, não é resistir. É
lutar, atacar e não apenas se defender. A gente tá muito tranqüilo”.


Em novembro de 2020, Donald Trump perdeu a sua reeleição em um
processo eleitoral cercado de controvérsias e polêmica (assunto que
abordo em detalhes no livro Os EUA e o Partido das Sombras).149 Fato é
que, após a posse de Joe Biden em janeiro de 2021, a posição de
enfrentamento ao Foro de São Paulo e seus principais aliados, como Irã,
Rússia e China, além das retomadas eleitorais do Foro na região,
deixaram o governo brasileiro em uma posição de recuo. Após uma
sucessão de acontecimentos, uma polêmica envolvendo a tentativa de
lobby de empresas chinesas com o chanceler Ernesto Araújo,150 gerou
um grande desgaste público orquestrado pela mídia, que acusou o
ministro de prejudicar os interesses econômicos e diplomáticos com a
China, culminando com sua saída do Ministério das Relações
Exteriores. A interlocução da tentativa de lobby, segundo o Ministro,
foi realizada pela Senadora Katia Abreu, que em 2018 concorreu como
candidata a vice-presidente na chapa de Ciro Gomes, do PDT, partido
pertencente ao Foro de São Paulo. Após forte pressão de diversos
senadores, aliados de Kátia Abreu e dos próprios partidos políticos, o
Ministro foi obrigado a entregar seu cargo para não prejudicar o
governo. Assim,
o Brasil perdeu o seu maior combatente
público da agenda do Foro de São Paulo
e do combate ao bolivarianismo dentro do governo brasileiro.

Argentina, a frágil aliança peronista pela fome

A situação da Argentina é um pouco mais complicada. Pois, como já


mencionamos, o nível de aparelhamento do Estado já era altíssimo e
perpetrou muitas ações prometidas por Mauricio Macri. Desde o início
de 2019, diversas manifestações já estavam sendo promovidas pela
esquerda no país. No mês de setembro, porém, houve uma organização
maior promovida por órgãos sociais, sindicatos e partidos de esquerda,
que mobilizaram para o dia 24 de setembro um grande protesto contra
as políticas de ajuste de Mauricio Macri, isso faltando apenas 33 dias
para as eleições.

As pautas exigidas nas passeatas foram a correção dos salários a partir


da in ação, prevalência do trabalho formal ao informal, aumento nas
aposentadorias e nos programas sociais. Naquele momento, a
Argentina já passava por um aumento da pobreza em níveis de 32% no
nal de 2018. O desemprego batia o nível de 10,6% no segundo
trimestre de 2019, o mais alto em 14 anos.

Como vimos na resolução da reunião do Foro de São Paulo de julho


de 2019, um dos itens era “Apoiar o movimento popular da Argentina
que conseguiu formar uma aliança unitária na frente de todos, que
lidera como candidato a presidente Alberto Fernández e como
candidato a vice-presidente de Cristina Fernández de Kirchner”. A
aliança e candidatura foi anunciada por Cristina Kirchner: “Pedi a
Alberto Fernández que encabece a chapa que integraremos juntos, ele
como candidato a presidente e eu como candidata a vice, para
participar das próximas eleições Primárias, Abertas, Simultâneas e
Obrigatórias, sim, as famosas PASO”.
Alberto Fernandez foi chefe de gabinete de Nestor Kirchner e
posteriormente por mais um ano da própria Cristina. O anúncio foi
inesperado até mesmo para os peronistas, pois

é totalmente incomum que o candidato a vice


anuncie a chapa em que irá concorrer.

Alberto Fernandez, inclusive, demorou alguns dias para fazer o seu


primeiro pronunciamento como candidato.151 Fernandez havia rompido
com Cristina em 2008, tornando-se um ferrenho crítico de seu
governo. No discurso de anúncio, de 13 minutos de duração, Kirchner
ainda pediu aos outros setores do peronismo para formarem uma
coalizão ampla: “O desa o será tentar governar uma Argentina
novamente em ruínas, com uma população outra vez empobrecida”,
“em uma situação de endividamento e empobrecimento pior do que a
de 2001”. “Está claro, então, que a coalizão deverá ser mais ampla do
que a que ganhou as eleições”. Tudo dentro do script, depois
formalizado na ata do Foro de São Paulo.

Durante a campanha eleitoral, Alberto Fernandez chegou a visitar


Lula na prisão, acompanhado de Celso Amorim, Ministro das Relações
Exteriores no governo Lula. “Para mim é uma alegria ver Lula.

Lula é alguém muito importante para nós.

Os argentinos temos um enorme


reconhecimento por Lula

e um enorme carinho por Lula. Sua prisão não é algo que nos passe
despercebido”, disse Fernandez na saída da carceragem.152 Alberto
Fernandez foi eleito em 27 de outubro de 2019 com 48,24% dos votos
válidos, contra 40,28% de Mauricio Macri.
O governo Fernandez começou com o pé esquerdo, literalmente.
Ainda em dezembro de 2019, o novo governo aumentou a alíquota de
exportação em 33% para os produtores de soja e derivados. Para os
produtores de milho, trigo, sorgo, girassol e cevada a alíquota passou
para 15%. A medida econômica fez com que diversos agricultores
revoltados com o prejuízo causado pelo governo passassem a
simplesmente destruir suas lavouras.153 Em janeiro de 2021, o governo
entrou novamente em rota de colisão com os agricultores, quando
proibiu a exportação de milho por dois meses para tentar baixar os
preços dos alimentos. O mesmo intervencionismo utilizado pelos
Kirchners quando ocupavam a presidência.154

Na gestão da pandemia,

a Argentina aplicou o maior lockdown do


mundo,

que durou quase seis meses e levou a Argentina praticamente à


“venezuelização” de sua economia. Aliado a tudo isto, a lua-de-mel com a
ala de Cristina Kirchner na aliança peronista durou pouco, com a vice
freqüentemente atuando nos bastidores do congresso, com a ajuda do lho
Maximo Kirchner, para minar as ações do presidente. Atualmente, Alberto
Fernandez luta para reconstruir seu governo recorrendo ao FMI e salvar o
seu mandato, pensando em uma possível reeleição sem a tutela dos
Kirchners que foram fundamentais para a vitória em 2019. Por outro lado,
Cristina Kirchner, tentado preservar o seu capital político eleitoral, virou a
maior opositora do próprio governo. Em meio a briga de lobos, o povo
argentino padece nas mãos dos agentes do Foro de São Paulo, com um país à
beira do caos.

Bolívia, a vingança travestida de justiça


A presidente interina da Bolívia, Jeanine Añez, assumiu o governo
pela vacância constitucional. Realizou um governo curto de 12 meses
exatos. Dentro de suas competências, organizou novas eleições
presidenciais que ocorreram no dia 18 de outubro de 2020. O vencedor
foi Luis Alberto Arce Catacora, representante de Evo Morales no pleito
com 55,10% dos votos válidos, contra 28,83% de Carlos Mesa e 14% de
Luis Fernando Camacho Vaca.

Luis Arce reconheceu que Evo Morales era um grande líder, mas que
ele não mandaria no governo; alegou que isso não passava de

histórias inventadas pelos partidos de


direita para lhe roubar votos.
No dia 23 de outubro de 2020, apenas 5 dias após a vitória de seu
apadrinhado, Evo Morales deixa o exílio na Argentina e vai para a
Venezuela, em avião o cial do regime chavista, com a promessa de que
voltaria para a Argentina em poucos dias.155

Luis Arce garantiu que não queria vingança e que havia muito
trabalho para ser feito na Bolívia. Uma das coisas a serem feitas seria a
aplicação de imposto para as grandes fortunas, proposta a ser enviada
nos primeiros dias de governo para a Assembléia Legislativa, que
também contava com maioria do partido de Evo Morales, o MAS.156
Jeanine Añez, conforme previa a Constituição, passou o cargo para Luis
Arce no dia 08 de novembro de 2020.

Na madrugada do dia 12 de março de 2021, a polícia boliviana


prendeu durante a madrugada a ex-presidente interina Jeanine Añez,
sob a acusação de sedição (insurreição ou incitação à revolta) e
terrorismo pelas manifestações ocorridas em 2019 que culminaram
com a saída de Evo Morales. Em seu Twitter ela escreveu antes de ser
presa:
A perseguição política começou. O MAS [Movimento pelo
Socialismo, partido do Governo] decidiu voltar aos estilos da
ditadura. Uma pena porque a Bolívia não precisa de ditadores,
precisa de liberdade e soluções.

O mandado ainda abrangia cinco de seus ex-ministros e a cúpula


militar que em 2019 pediu a renúncia de Evo Morales. Añez passou por
dois processos conjuntos de

acusação de golpe de Estado

e foi presa em carceragem feminina com péssimas condições de saúde


para seu problema de hipertensão, além de ter desenvolvido infecção
urinária. Foi mantida isolada e sem direito a visitas com a justi cativa
de cuidados com a COVID-19, sendo que o único presídio que adotou
a medida foi justamente o seu. Sua lha, Carolina Ribera, enviou carta
para Alta Comissária das Nações Unidas para os direitos humanos,
Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile e membro declarado do Foro
de São Paulo,157 pedindo auxílio e relatando a situação de sua mãe:158

Pela saúde e pela vida de minha mãe, pela injustiça desta detenção
preventiva” é que “peço, imploro” que “interceda junto ao governo
boliviano para garantir as condições de atendimento, garantia de uma
vida sã e livre de tortura física e psicológica. [...] [minha mãe] está
isolada de toda atenção necessária à sua delicada saúde, visto que sua
doença genética se agrava com a injusta prisão de 282 dias e a
constante agressão psicológica para destruí-la emocionalmente. [...]
Terrorismo de Estado exercido contra ela (Áñez) com falsas,
mentirosas e sistemáticas sindicalizações, típicas do totalitarismo,
oriundas do Ministério do Governo, do Ministério Público, do
Ministério da Justiça, da Procuradoria-Geral da República e outros
departamentos, que encontram eco em juízes que respondem mais às
pressões políticas do que à aplicação da Justiça.
Ribera ainda relatou que Añez apresentou episódios de automutilação,
ferindo o próprio braço, a rmando que não queria mais viver. Em
audiência realizada em dezembro de 2021, onde era requerida a
cessação da prisão preventiva, Añez “não quis mais se defender porque
sente que falta força física” e que “ela prefere morrer”, antes de condenar
seus lhos “a continuarem sofrendo”.

Em março de 2022, a justiça boliviana ordenou que fosse pago a Evo


Morales indenização por sua exclusão das eleições de 2020. A sentença
estabeleceu uma “reparação integral pelos direitos violados”.159

No dia 10 de junho de 2022, a justiça boliviana condenou Jeanine


Añez a 10 anos de prisão. No dia 26 de junho,160 o Presidente do Brasil

Jair Bolsonaro ofereceu asilo político


o cialmente a Añez,
atitude que enfureceu o governo boliviano. Em sua conta no Twitter,
foi divulgada mensagem agradecendo e recusando a oferta

#JeanineAñez agradece @jairbolsonaro, que não conhece


pessoalmente, por sua rejeição aos abusos cometidos contra o ex-
presidente da Bolívia.

Ela é inocente e não saiu e não vai sair do país. Exige julgamento de
Responsabilidade pela

Verdade e Justiça.

O Presidente Jair Bolsonaro declarou que estivera com Añez em uma


única oportunidade. Na mensagem postada em seu Twitter, ela diz que
não conhece pessoalmente Bolsonaro. O governo boliviano tem
utilizado essa inconsistência como comprovação de que o governo
brasileiro teria arquitetado um golpe internacional com a ex-
presidente.161 Não são incomuns ameaças de processos visando a prisão
de Bolsonaro quando deixar a presidência da República.162

Em novembro de 2021, durante uma caravana organizada por Evo


Morales e o partido MAS, para dar apoio ao presidente Luis Arce após
novas manifestações da oposição ocorrem na Bolívia, o embaixador
argentino na Bolívia, Ariel Basteiro, preferiu discurso entusiasmado em
cima do carro de som e declarou “que por mais que às vezes a direita
queira nos avançar, estaremos defendendo os valores que nos levaram a
ter um governo como o de Lucho (Luis Arce) hoje, como o de Alberto
Fernández na Argentina, como o de Castillo no Peru, vamos ver agora
o que acontece com o Chile, também esperamos que o camarada Lula
volte a governar o Brasil e regenere o projeto de Pátria Grande que
tínhamos até recentemente”.

Cuba, a quase queda e o socorro russo-


mexicano163

O mundo foi pego de surpresa com imagens inimagináveis no


domingo dia 11 de julho de 2021: cubanos tomando as ruas em revolta
contra o governo comunista que controla a ilha desde 1959. Porém, o
que mais surpreendeu foi a forma com que tudo se desenvolve
rapidamente. Tornou-se o maior protesto anti-regime comunista na
história do castrismo. O principal motivo das manifestações foi a
escassez absoluta de alimentos e remédios, aliado a uma crise
econômica avassaladora e potencializada pela pandemia de COVID-19
no mundo.

As primeiras imagens começaram a correr as redes sociais com o povo


marchando pelas ruas, gritando palavras de ordem e acuando policiais
sem equipamentos ou mesmo treinamento nas pequenas cidades. Nas
primeiras horas dos protestos, as notícias davam conta que oito cidades
estariam tomadas por manifestantes, e em pouco mais de três horas o
número subia para vinte e cinco. O governo cubano imediatamente
cortou os telefones e o precário sistema de internet. Em seguida o
ditador comunista Miguel Díaz-Canel foi à televisão estatal e convocou
nominalmente os revolucionários comunistas a irem às ruas e defender
a manutenção do regime.

Díaz-Canel literalmente convoca uma


guerra civil aberta na ilha.
Mesmo com o país sem internet e telefonia, começam a chegar
imagens de marchas favoráveis ao regime comunista, pessoas
carregando quadros de Fidel Castro e, marchando ao lado de Díaz-
Canel de máscara, de peito aberto e ao lado do “povo”. Ao analisarmos
com mais atenção as imagens, observamos que o ditador estava cercado
por agentes de seu serviço secreto e militares à paisana, todos armados.
Mais uma peça de propaganda para os jornais internacionais fabricada
pelo regime.

O governo cubano, através de sua diplomacia, acusou o cialmente os


EUA como responsáveis e promotores da insurgência.

Enquanto o ditador cubano marchava às ruas e dava entrevista para


alguns jornalistas, corriam informes de cubanos nas redes sociais
dizendo que os membros do partido cubano saíam da ilha ou enviavam
suas famílias para fora de Cuba. Surgem as primeiras imagens de
fotógrafos de agências internacionais sendo agredidos por agentes do
regime.164

O povo cubano marcha pelas cidades a pé e tenta dirigir-se para a


capital Havana. Na capital, muitos cercam a sede do governo e também
a sede do Partido Comunista Cubano.

Em Miami a comunidade cubana vai às ruas protestar,165 e na


Argentina manifestantes vão para os portões do consulado cubano. No
Brasil, os partidos ligados ao Foro de São Paulo, PCdoB e PT,
rapidamente promoveram manifestações em apoio à ditadura na frente
da embaixada cubana.166

Surge o rumor de que Raúl Castro teria deixado a ilha durante a noite
com destino à Venezuela. Por outro lado, diversos rumores davam
conta que, na verdade, Castro estava entrincheirado na sede do Partido
Comunista Cubano, coordenando as ações de repressão para manter o
regime em pé.

Na segunda-feira, 12 de julho, a Venezuela vira o centro das atenções:


Juan Guaidó vem a público denunciar que um de seus principais
colaboradores, o deputado Freddy Guevara, fora preso e levado por
milícias bolivarianas de Maduro, sem mandado, sem motivo e, em
suma, arbitrariamente seqüestrado. Guaidó informa que também foi
vítima de tentativa de seqüestro, que, quando já estava rendido por
homens encapuzados, seus vizinhos e pessoas próximas começaram a
protestar e acuar seus captores para defendê-lo: “Interceptaram nosso
veículo, minutos depois de fazerem o mesmo com Freddy Guevara, que
continua desaparecido”, declarou Guaidó a jornalistas. “Entraram em
nossa residência sem nenhum tipo de ordem, apontando armas
pesadas”.167

Neste ponto, quero compartilhar algumas dúvidas contigo, caro leitor,


que pairam até hoje sobre estes episódios da Venezuela:

• Essa desistência em capturar Guaidó, não seria um “comando


externo” barrando o próprio Maduro? Tendo em vista que seqüestrar
o presidente reconhecido por dezenas de países pelo mundo,
incluindo a União Européia, poderia ser catastró co
diplomaticamente para o regime venezuelano, tornando impossível
qualquer tipo de apoio direto ou indireto de seus principais parceiros
diplomáticos: Irã, Turquia, China e Rússia.

• A possível fuga de Raúl Castro para a Venezuela, não teria sido para
articular apoio e meios de salvar o regime acuado dentro da ilha de
Cuba? A nal, a Venezuela é o principal posto logístico do Foro de
São Paulo, e base de negociações de minérios, principalmente ouro, e
drogas.

• Juan Guaidó estava em negociações com a administração Biden e


com o Regime de Maduro para a realização de eleições “limpas”,
mediadas pela Noruega e sediadas no México. Em meio ao desespero
para salvar o regime cubano, Maduro teria tentado arrancar
informações de Freddy Guevara e Juan Guaidó de um possível golpe
orquestrado pelos EUA?

Neste ínterim, surgem notícias de que o ditador Díaz-Canel estaria em


contatos diplomáticos com a Vladimir Putin — coincidentemente a
televisão estatal russa (RT) passa a ter um link direto e imagens da ilha,
mostrando as ações “humanitárias” do governo. Após três dias sem
receber notícias dos manifestantes, somente as versões do governo
através da mídia russa, o governador do Estado da Flórida, Ron
DeSantis, escreveu carta para o governo Biden sobre a crise em Cuba e
solicitando que os EUA providenciassem acesso à internet ao povo
cubano:168

Escrevo para incentivá-lo a ajudar a fornecer acesso à internet ao


povo de Cuba que se levanta contra a opressão comunista e exige
uma voz após décadas de sofrimento sob o jugo de uma ditadura
cruel. Como sabem, o povo cubano está tomando as ruas para
protestar contra o regime comunista, e o governo cubano respondeu
com violência. No início, o mundo podia ver as imagens e vídeos
desse movimento de massa, mas agora o regime tirânico do
presidente Miguel Díaz-Canel desligou o acesso à internet. O povo
cubano perdeu a capacidade de se comunicar uns com os outros, e
muitos oridianos nascidos em Cuba não têm informações sobre a
segurança de seus entes queridos. Igualmente importante, o mundo
também perdeu a capacidade de ver o que está acontecendo no
terreno à medida que o povo cubano se levanta em apoio à liberdade.

A tecnologia existe para fornecer acesso à internet em Cuba


remotamente, usando a inovação da empresa americana e das
diversas indústrias aqui. Semelhante aos esforços americanos para
transmitir rádio para a União Soviética durante a Guerra Fria na
Europa, o governo federal tem um histórico de apoiar a disseminação
de informações em Cuba para o povo cubano através da Radio &
Televisión Martí, localizada em Miami. Além de enviar informações,
no entanto, nossos esforços devem incluir a criação de um meio para
o povo cubano falar com o mundo.

Exorto você a agir imediatamente para fornecer todas as autorizações


necessárias, indenizações e nanciamento para as empresas
americanas com a capacidade de fornecer acesso à internet para o
povo de Cuba. Medidas devem ser tomadas imediatamente. O acesso
à internet para o povo cubano é de importância crítica, pois eles se
levantam contra o governo comunista repressivo. Nas mãos desses
bravos indivíduos, esse acesso pode ser a chave para nalmente trazer
a democracia para a ilha.

A administração Biden sequer respondeu ao apelo e nada fez para


auxiliar o povo cubano. No mesmo dia 15 de julho, Agustín Antonetti,
ativista dos direitos humano das fundações Libertad e Fundación
Internacional para la Libertad (FIL), divulgou em sua conta em sua
conta do Twitter169 que um avião da Força Aérea do México pousara em
Cuba170

URGENTE: Um avião da Força Aérea Mexicana pousou em Cuba.


Precisamos de explicações do governo mexicano. Peço aos políticos
do México, vários deles me seguem, que façam uma declaração nesta
situação, precisamos de explicações ao nível de um governo
democrático.

No mesmo dia chegou em Cuba outro vôo proveniente da Turquia.


Ambos os vôos foram ignorados pela mídia internacional e nunca se
soube o que foi enviado a bordo destes aviões. Existem linhas de
análises que dão conta de que pelo menos um deles, o mexicano, estaria
carregado com alimentos para distribuir à população e tentar arrefecer
os ânimos dos revoltosos e famintos. Fato é que após os dois vôos, os
militantes do Partido Comunista Cubano e as forças policiais que antes
faziam a repressão com pedaços de madeira improvisados, começaram
a utilizar equipamentos de repressão mais adequados, o que fez com
que a população passasse a fugir para suas casas, temendo por sua
integridade física.

Em abril de 2022, a ONG Prisioners Defenders, que atua


principalmente com dados sobre o regime cubano,171 denunciou que
havia na ilha 891 presos por participar dos protestos de 11 de julho de
2021, destes, 55 detidos possuíam entre 16 e 18 anos de idade. A ONG
ainda denunciou que um adolescente de 13 anos de idade foi
condenado a 18 anos de prisão. A Organização Human Rights Watch
(HRW) relata terem descoberto “que os promotores estavam
constantemente cobrando dos cubanos por exercerem seus direitos
básicos, como o de protestar paci camente contra seu presidente ou
policiais, exercendo o direito à liberdade de expressão”, e que os abusos
incluíam “assédio, detenção arbitrária, processos com abuso,
espancamentos e outros casos de maus-tratos que em alguns casos
constituem tortura”. Atualmente, o regime cubano passou a regular o
acesso a internet e aumentou o nível de censura no acesso a
informações.

CELAC , atentativa de materializar o sonho de


Fidel Castro

Venho mencionando o México como um país importante para


entender os movimentos do Foro de São Paulo nos anos após 2018 e, se
você chegou até aqui, já se deparou com alguns relatos importantes. A
gura de López Obrador é determinante para isto. Assim como Lula em
seu primeiro mandato, o presidente mexicano consegue passar uma
imagem simpática para todo o mundo, costuma apresentar per l
conciliador. Mas a sua principal característica reside na capacidade de
aglutinar diversos representantes da esquerda
latino-americana em um único local

e de propor meios de ações práticos para avançar com processos


complexos. Como analisamos na resolução nal do XXV Encontro do
Foro de São Paulo de 2019, uma das principais demandas era o
fortalecimento da CELAC.

Em 2021, o México exercia a presidência pro tempore de 2 anos da


entidade e sediou a VI Cúpula da CELAC, e participaram do evento
diversos nomes proeminentes do Foro de São Paulo, como Miguel
Díaz-Canel (Cuba), Pedro Castillo (Peru), Luis Arce (Bolívia) e até
mesmo presidentes considerados à direita como Guilherme Lasso
(Equador), Juan Orlando Hernández (Honduras) e Luis Lacalle
(Uruguai). Porém o grande destaque do encontro foi a chegada
“inesperada” de Nicolás Maduro. O ditador chavista foi muito festejado
por toda a cúpula.172

O Presidente do Brasil Jair Bolsonaro rejeitou o convite porque a


cúpula “deu destaque a regimes não-democráticos”.173

Mais do que uma cúpula diplomática da região, planejada e apoiada


pelo Foro de São Paulo, a CELAC tem a missão de cumprir um plano
de 55 anos de Fidel Castro. Substituir a OEA, excluir os EUA e o
Canadá de toda a diplomacia do continente e assim cumprir a missão
que lhe foi incumbida pela União Soviética na criação da OLAS,
conforme tratamos no início do livro. Na primeira cúpula da CELAC
em 2010, Hugo Chávez já demostrava esta disposição abertamente
declarando que “com o passar dos anos, o CELAC deixará para trás a
velha e desgastada OAS”.

A reunião no México teve declaração semelhante. O pano de fundo é


apresentado por Díaz-Canel, ditador cubano, no dia da independência
mexicana: “O México foi o único país que manteve relações com Cuba
após ser expulso da OEA por um mandato imperial”. A rmou ainda
que a OEA deixou claro que “a união com o marxismo-leninismo é
incompatível com o sistema interamericano”. O Presidente Obrador
a rmou que a OEA é “uma organização com corantes e decisões de
natureza intervencionista, hegemonista, mais orientada para a época da
Guerra Fria do que para a realidade do século XXI”.174

Outro destaque da VI Cúpula da CELAC foi a participação por


videoconferência de Xi Jinping.175 O presidente do regime comunista
chinês reforçou que a CELAC nasceu em meio aos esforços dos países
da América Latina em busca de independência e fortalecimento em
uma unidade.

A China, nos últimos anos vem desenvolvendo acordos para subsidiar


os países da América Latina, em especial os regimes de Cuba,
Venezuela e Nicarágua. Mas além disto, vem estruturando acordos para
compartilhamento de tecnologia nuclear, construção de redes 5G,
desenvolvimento de programas espaciais e o bombeamento de
“empréstimos baratos” para os países da região.176

O plano, ao que tudo indica, é substituir a força econômica dos EUA


na região pela chinesa, garantindo o uxo de dinheiro com o bônus do
alinhamento ideológico.

Colômbia, o prato principal ao molho


vermelho

Em abril de 2021, o Foro de São Paulo tentou repetir os


acontecimentos do Chile na Colômbia. O estopim para isto partiu do
governo colombiano, que apresentou uma reforma tributária
desastrosa, em meio a pandemia que atingiria principalmente a classe
média. Novamente, como no Chile,
os protagonistas foram os jovens.

Sindicatos convocaram manifestações para o dia 28/04 nas 3


principais cidades do país: Bogotá, Medellín e Cali.

A reforma tributária foi revogada pelo Presidente Ivan Duque e


retirada de pauta para votação no congresso,177 o Ministro da Fazenda,
Alberto Carrasquila, apresentou sua renúncia.

As FARCs e a ELN in ltram seus agentes nas manifestações,


começando assim os atos de terrorismo, violência e saque. O Ministro
da Defesa Diego Molano em sua conta no Twitter denunciou as ações:

[A] Colômbia enfrenta a ameaça terrorista de organizações criminais


disfarçadas de vândalos, incitando cidades como Cali, Bogotá,
Medellín, Pereira, Manizales e Pasto para desestabilizar (o governo).

O governo de Iván Duque, acuado pela opinião pública não permite


que os agentes de segurança utilizem a força para conter os protestos,
com isso os agentes in ltrados aumentam a carga. Os agentes de
segurança colombiano que estavam utilizando a força para conter os
protestos passaram a ser processados pelo governo e afastados.

Cali torna-se o epicentro mais violento das manifestações. O Prefeito


de Cali, Jorge Iván Ospina, que também é lho de Iván Marino Ospina,
fundador da M-19 (guerrilha urbana revolucionária), declara estado de
urgência na cidade178 e interrompe as vias de acesso. Porém, permitiu
que cerca de 5.000 indígenas de Cauca entrassem e circulassem pela
cidade com ônibus e caminhões, aterrorizando principalmente os
bairros de classe média alta, escoltados por vans e caminhonetes das
FARC e da ELN, segundo diversos vídeos postados nas redes sociais. A
polícia colombiana con rmou que recebeu relatos de saques e roubos
praticados por indígenas.179
A situação caótica, porém, só foi possível graças às conseqüências do
Acordo de Paz, assinado pelo ex-presidente Santos com as FARC, além
de Iván Duque ser considerado pelos colombianos

um dos piores presidentes de sua história.


Em meio às manifestações e o estado prolongado de violência, ele
levou a Colômbia ao caos econômico e, na agricultura, fez com que
diversos animais cassem sem ração, por falta de abastecimento;
milhões de litros de leite fossem simplesmente jogados fora, e gerou
uma crise prolongada de abastecimento.180 No dia 06 de maio, durante
o Fórum “Defesa da Democracia nas Américas” em Miami, Lenín
Moreno, presidente do Equador, apresentou graves denúncias. Ele foi o
principal palestrante e usou o seu discurso para expor a estratégia
utilizada nos protestos na Colômbia e quem estaria por trás dela. O
evento também contou com a participação do secretário-geral da OEA,
Luis Almagro. Moreno revelou que se distanciou do ex-presidente
Rafael Correa após perceber o estado de destruição das contas públicas
deixado pelo agente do Foro de São Paulo. Comentou que após ser
eleito, pensou em renunciar ao cargo depois de encontrar uma dívida
tão volumosa. O presidente equatoriano disse que seus cabelos brancos
eram resultado de sua relação com o

“socialismo do século XXI”,

termo que cou muito popular após Hugo Chávez o utilizar como
mote de propaganda no Fórum Social Mundial de 2005. Em clara
referência ao Foro de São Paulo, Lenín Moreno instou os presidentes
democráticos a copiar a forma coordenada de agir desse bloco para
defender a democracia.

Lenín Moreno, em referência ao que estava ocorrendo na Colômbia,


enfatizou que “protesto social não é violência” e denunciou a
“interferência rude do ditador Nicolás Maduro no que está
acontecendo agora”. “É por isso que todos em uníssono, como eles, de
forma sincronizada, devemos pedir o m da violência na Colômbia e
para que Maduro tire suas mãos sangrentas do povo colombiano”.181

Após 49 dias de protestos e mais de 50 mortos, as lideranças


anunciaram a suspensão das manifestações em todo o país.182 O
impacto foi profundo na sociedade colombiana e o re exo veio nas
eleições de 19 de junho de 2022.

Com uma sociedade colombiana desacreditada da classe política, os


eleitores à direita com sentimento de traição pelos dois últimos
presidentes eleitos e com uma esquerda forte e com o clima recente das
manifestações, no dia 19 de junho de 2022, Gustavo Petro, ex-
combatente da guerrilha M-19, guerrilha que nos anos 1980 foi
responsável pela invasão e assassinato dos ministros da Suprema Corte
colombiana, foi eleito presidente com 51,60% dos votos válidos, contra
48,40% de Rodolfo Hernández Suárez.

Petro rapidamente restabelece diálogo com o chavismo venezuelano


através de seu governo de transição. Nos primeiros 15 dias de governo,
(a posse ocorreu em 07 de agosto de 2022) fez uma alteração profunda
no comando das Forças Armadas e policiais, colocando 52 generais na
reserva, sendo 24 da Polícia Nacional, 16 do Exército, 6 da Marinha e 6
da Aeronáutica. Segundo Petro, medida necessária para buscar o que
ele classi cou como “Paz Total”. Além disto, as novas medidas incluem
o m das operações antidrogas e do serviço militar obrigatório, além do
desmonte do aparato de inteligência. A polícia será transferida do
ministério da Defesa para a pasta da Justiça e será desmilitarizada.

Venezuela, acordos militares e a dependência


russa

Ao longo de 2019, a relação de dependência de Maduro para com


Vladimir Putin cou mais evidente. Em dezembro de 2019, um grupo
de soldados do exército russo teria chegado ao estado de Bolívar,
conhecido pela atividade mineradora. Andrés Velásquez, líder da
oposição e governador retirado do poder no estado por meio de
fraudes eleitorais, fez a denúncia que os russos teriam a intenção de
“ocupar terrenos no Arco de Mineração da Morte”. A região que
compreende o Norte do estado e parte Nordeste do estado do
Amazonas (venezuelano) possui 7.000 toneladas de ouro, cobre,
diamante, ferro, bauxita e outros minerais.183

Os militares russos também estariam entrando em ação para conter a


corrupção do próprio exército venezuelano, que após a nacionalização
de boa parte da indústria de mineração, em 2011, passou a apoiar
gangues em troca de parte dos lucros. Os mineiros pagariam dinheiro
de extorsão aos líderes de organizações criminosas e assim seriam
autorizados a trabalhar. A nalidade do exército russo seria de acabar
com o esquema, atraindo multinacionais para fazer a mineração na
região com segurança. Em novembro de 2019, o portal Israel News
noticiou a presença de homens de língua russa em Caracas vestidos
com trajes militares venezuelanos.

A urgência em pro ssionalizar a mineração tem objetivo claro:

continuar nanciando a ditadura


venezuelana e driblar os embargos
estabelecidos por boa parte da comunidade
internacional.
O transporte do ouro é realizado através de apoio da Turquia, que
realiza o transporte através das companhias aéreas Solar Cargo CA e
Turkish Airlines, garantindo o recebimento de milhões de euros nos
cofres do regime.184

Em novembro de 2019, o deputado da Assembléia Nacional


venezuelana Carlos Paparoni, denunciou em coletiva de imprensa que o
regime chavista levou 1,2 toneladas de ouro da Venezuela para
Istambul: “O ouro é enviado para a Turquia e convertido em dinheiro,
que paga por comida. Alguns alimentos são enviados da Turquia, de
acordo com pessoas envolvidas na organização de embarques, mas
grande parte deles é originada no México. Antes de enviá-lo para a
Venezuela, seu valor é in ado, permitindo que as pessoas envolvidas no
esquema obtenham dinheiro das transações”.185

Para manter-se à frente do regime,

Nicolás Maduro precisou limpar os cofres


venezuelanos.

Em 05 de novembro de 2019, o economista venezuelano Pedro Palma


denunciou que as reservas de ouro do país foram reduzidas em 30%. O
regime estaria vendendo o ouro sem reportá-lo e de maneira direta,
misturando com o ouro extraído do Arco Mineiro, ocupado pelos
russos. Algumas denúncias dão conta que desde a eleição de Chávez até
o ano de 2019, sob Maduro, a Venezuela tenha perdido pelo menos 764
toneladas de outro através de transações ilícitas. A autorização para a
venda do ouro deve ser concedida pela Assembléia Nacional que, como
observamos anteriormente, foi usurpada e substituída pela Assembléia
Constituinte e é presidida por Diosdado Cabello.

Após as denúncias do governo colombiano no nal de 2021, o regime


chavista e de Vladimir Putin decidem assinar acordo de cooperação
militar o cialmente no dia 17 de fevereiro de 2022. A assinatura do
acordo foi anunciada em rede nacional,186 com representantes do
governo russo, 7 dias antes da invasão da Ucrânia.187 Posteriormente,
no dia 22 de março de 2022, Diosdado Cabello ameaçou em rede
nacional repetir o gesto de “desnazi car” a Ucrânia por parte da Rússia
e decocainar a Colômbia com uma invasão venezuelana.188
No dia 11 de junho de 2022, a Venezuela também assinou acordo de
cooperação de 20 anos com o Irã, anunciado pela mídia iraniana sem
maiores detalhes dos termos.189

A Venezuela também passou a nanciar a construção de uma fábrica


de fuzis Kalashinikov com o apoio do governo russo; a inauguração
estava prevista para 2021,190 porém foi atrasado para 2022.191 O contrato
entre Rússia e Venezuela prevê a fabricação do modelo de assalto AK-
103 e munições Kalashinikov.

Entre os dias 13 e 27 de agosto de 2022 aconteceram exercícios


militares na Venezuela com a presença de militares e equipamentos do
Irã, Rússia e China. O exercício foi liderado e coordenado pela Rússia.
No total os exercícios contaram com a presença de representantes de 37
países, como Argélia, Bielorrússia, Vietnã, Índia, Cazaquistão,
Uzbequistão e Mianmar.

É a primeira vez que um país sul-americano sediou esse tipo de


operação.192


Como podemos observar, após um período de instabilidade
prolongado entre 2013 e 2019, a Venezuela passou a reorganizar o seu
aparato de repressão bélico e de in uência diplomática na região. Sob a
batuta de Nicolás Maduro, assumiu uma postura ainda mais agressiva
que seu antecessor Hugo Chávez e adotou posturas muito semelhantes
às de Fidel Castro nos anos 1960 na região. Promoveu diversos acordos
militares e passou a minar o Estado venezuelano para comprar
proteção externa. Proteção essa que acabou virando serviço de limpeza
da sujeira interna do próprio regime, como na questão da mineração
nos estados de Bolívar e Amazonas. Acima de tudo, com os exercícios
militares,
Maduro pretende enviar um recado claro ao
Brasil e aos EUA,
de que ele está protegido e bem-equipado, e que eventos como os de
2019 não terão mais chance de acontecer. O chavismo balançou na
Venezuela, assim como o Foro de São Paulo. Tiveram paciência e
habilidade para se reorganizar e iniciaram a retomada de boa parte da
América Latina, tal como em meados de 2010. O mundo, porém, está
atravessando um momento muito mais tenso e complexo com a
pandemia de COVID-19, a ditadura sanitária e a volta ao palco da
Guerra Fria.

A mídia e a própria esquerda latino-americana fazem questão de


relativizar o Foro de São Paulo e colocá-lo apenas como um fórum de
idéias. Infelizmente,

muitos analistas na direita também caem nesta


armadilha.

Alguns por ignorância, outros por intrigas eleitorais e um grupo


reduzido por cooptação do aparelho de propaganda da FSB russa. Em
alguns casos os equívocos são mais assustadores, pois diversos
expoentes da direita européia, americana e brasileira enxergam em
Vladimir Putin

um conservador que irá salvar as tradições


do Ocidente,
mas não se debruçam em entender as ações de bastidores, além da
propaganda realizada pelo presidente russo. Costumo dizer, em minhas
análises e palestras, que a Rússia é o garantidor da pólvora e a China da
moeda que sustentam as bases para a retomada do poder do Foro de
São Paulo.
C: A    
A
O grande erro daqueles que se opõem ao movimento revolucionário é
o de separá-lo em grupos contrários e por vezes escolher um lado
como aliado de momento. A revolução é una e processiva; todos os
embates em suas leiras são alimentados pela volúpia, ódio à ordem e
pelo desejo de aprofundar ainda mais os projetos de destruição das
sociedades e de transformação do homem.

Manter o regime cubano é importante para


o movimento revolucionário internacional.
Muitos menosprezam o papel de Cuba e o nivelam a um país
miserável e falido do Caribe. Encarar Cuba como um simples regime
comunista implantado em um pequeno país, como muitos outros
espalhados pelo mundo, é um erro.

Para entender a importância do país na geopolítica da América, seu


papel estratégico, in uência e o respeito político e ideológico de
governos como China, Irã, Turquia e Rússia, é preciso voltar no tempo.

Nos anos 1950 a China estava em seus primeiros anos de regime


revolucionário comunista, a Coréia do Norte vivia o seu jubileu recente
na península coreana, e a União Soviética aumentara sua in uência e o
seu território, tendo sob sua cortina de ferro quase metade da Europa.
Na África, os países europeus preparavam suas colônias para a
independência e o continente tornou-se um terreno fértil para a
revolução emergir. Mas faltava um continente estratégico: o novo
mundo, a América.
Em 1º de janeiro de 1959, Fidel Castro, ao lado de Raúl Castro e
Ernesto “Che” Guevara, alçavam a ilha a um patamar acima na história
do século XX.

Instauraram com sucesso

o primeiro regime comunista baseado na


tomada do poder pelas armas,
com a força do homem do campo e sua revolta contra o capital no
continente americano, a propaganda perfeita. Isso, após mais de 30
anos de tentativas frustradas em outros países da América, como o
Brasil nos anos 1930 com Carlos Prestes e a sua Intentona Comunista.

Tão logo sobe ao poder, o regime de Castro ganha ares pop em parte
da mídia, seus representantes eram recebidos com pompa e
circunstância por toda a América, chegando até mesmo o então
presidente do Brasil Jânio Quadros condecorar Che Guevara com a
Ordem Cruzeiro do Sul.

Porém, além do lado diplomático, institucional e midiático, Cuba


cumpria um papel importantíssimo para a revolução: alimentava os
sonhos e as esperanças de revolucionários por todo o continente, servia
de inspiração e acima de tudo de centro de comando para o continente
inteiro. Não por acaso, já em 16 de outubro de 1962 eclodia a crise dos
mísseis em Cuba, patrocinada e fomentada pela União Soviética, para
forçar os Estados Unidos a retirar seu arsenal da Itália e da Turquia.

Ainda no mesmo ano de 1962, Cuba servia como posto avançado de


treinamento revolucionário para brasileiros, colombianos, bolivianos,
salvadorenhos e outros. Em 1963 e 1964 com apoio da StB, do Partido
Comunista Chinês e a mando da União Soviética,
Cuba auxiliava os revolucionários brasileiros
para um iminente golpe de Estado no Brasil.

Décadas após estes fatos, Cuba ainda teria um papel crucial para a
revolução comunista global.

Com o declínio da União Soviética nos anos 1980, vários satélites


comunistas pelo mundo começaram a também entrar em declínio,
tendo em vista a queda do centro de comando militar e até mesmo
nanceiro da revolução comunista. Cuba, todavia, conseguiu traçar o
seu plano de in uência: anos antes da queda do colosso soviético, Fidel
Castro planejou e reuniu na cidade de São Paulo, sob a hospitalidade de
Luiz Inácio Lula da Silva, líderes revolucionários de 48 partidos
políticos de 14 países latino-americanos. O objetivo deste encontro era
claro: Manter na América o que estava se perdendo na Europa.

Cuba, desta forma, não manteve somente poder, mas tornou-se


literalmente líder supremo da revolução nos trópicos e, sob seu
comando, sua polícia secreta e agentes curvariam toda uma geração de
revolucionários que cresceram enxergando Fidel como um herói,
modelo de líder revolucionário e a partir de então: “Comandante”.

O Foro de São Paulo foi responsável pela


tomada política da revolução em toda a
América Latina,
chegando ao ponto que em 2011 os únicos países da América do Sul
que não estavam na mão do “Foro” eram Chile e Colômbia. Fidel
Castro foi padrinho e tutor de Hugo Chávez desde 1994 e o ensinou
como tomar o poder por dentro do sistema, através das eleições.
Tornou a Venezuela seu principal vetor de ação; o Brasil, o porto seguro
nanceiro; e a Bolívia o principal fornecedor de matéria prima para o
Cartel dos Sóis. Transformou diversos países em narco-Estados e
fomentou guerrilhas nos países sobre os quais não tinha controle.

Cuba usou o dinheiro brasileiro

para construir um porto que serviu de entreposto de armas que


abastecia a Coréia do Norte, regime que fazia parte da rede de trá co
internacional de armas de Qasem Soleimani.

Cuba, é um caso de resiliência revolucionária e estratégia de longo


prazo. Não à toa os Castros são respeitados e condecorados por grandes
líderes revolucionários como Vladimir Putin e Xi Jinping.

Ainda nos últimos anos, Cuba permanece forte em sua in uência,


gerando crises em países onde o Foro de São Paulo perdeu seu poder de
Estado como no Chile, Peru e Equador em 2019 e na Colômbia em
2021.

Uma possível queda do regime cubano é um golpe forte na


organização revolucionária nas Américas, é atacar a cabeça da serpente
e debilitar por algum tempo as ações revolucionárias. Engana-se quem
acredita que a possível queda do regime em nada interfere ou tem a ver
com as políticas internas do Brasil. Porém também se engana quem
acha que, caso a queda do regime se con rme, teremos o m do Foro
de São Paulo, de sucursais como o Grupo de Puebla ou CELAC. Não
existe vácuo contínuo de poder na geopolítica, e Cuba mesmo nos deu
esta lição sob a liderança de Fidel, Lula, Hugo Chávez e Maduro.

A estrutura geopolítica da América está mudando drasticamente;


porém, precisamos estar despertos: Como nós, que aspiramos ser
contra-revolucionários, estaremos preparados para estas mudanças que
nos atingirão nos mais profundos aspectos? Sejam elas sociais,
comportamentais, midiáticas e políticas, devemos estar preparados para
um cenário de aprofundamento do caos provocado, onde a revolução
tende a seguir as premissas de Vladimir Lenin, apontadas por Cliff
Kincaid em A espada da revolução:

[...] nossa tarefa é utilizar cada manifestação de descontentamento,


coletar e utilizar cada grão de protesto rudimentar. Na verdade, se
você quer mudar a sociedade, eis o roteiro de Lênin: cause o
problema. Espalhe a miséria. Envie um quadro de organizadores
comunitários pro ssionais para uni car todos os espíritos deserdados
descontentes e abastecer uma revolta organizada. Atraia caos e
violência. Explore o caos para grandes objetivos políticos. Culpe seus
oponentes políticos, demonize e criminalize-os.
N,  
S  
POR PADRE BERNARDO MARIA GOULART

O perseguição aos cristãos tem sido uma ocor rência comum em


grande parte do Oriente Médio, na China e na Coréia do Norte,
mas uma perseguição igualmente violenta e rancorosa está ocorrendo
no meio do caminho entre o México e a Colômbia, encoberta pelo
silêncio da mídia tradicional. Trata-se da mais recente política do
regime do ditador nicaragüense Daniel Ortega contra a Igreja Católica,
que tem sido alvo constante de desprezo e sofre acusações de minar o
regime de esquerda que se instalou no país, apesar da história de
profundo contato com a teologia da libertação (TdL) e do ativismo pró-
esquerda que a mesma Igreja exibiu na Nicarágua. Ortega, o
revolucionário sandinista que virou ditador e voltou ao poder em 2007
depois de governar a Nicarágua por mais de dez anos na década de
1980,

nunca foi favorável à Igreja Católica.

Desde que o clero emprestou seu apoio aos manifestantes estudantis


em 2018, no entanto, seu governo aumentou signi cativamente a
perseguição contra os católicos e contra qualquer setor da sociedade
civil que se atreva a alçar voz discordante em relação ao Estado.

Em um momento em que as relações do presidente da Nicarágua,


Daniel Ortega, com Washington estão no ponto mais baixo, o aparato
de propaganda de Vladimir Putin — que desde janeiro deste ano
declarou “apoio invariável” ao atual governo do país latino193 — não
economizou em reportagens que incluem um parecer, emitido no
último dia 15 de junho pelo partido no poder na Nicarágua, que
permitiu a entrada no país, a partir de 1º de julho, de até 80 mil
militares de forma rotativa, navios e aeronaves do exército russo,
organizando as Forças Armadas para participarem no que o regime
chamou de “exercícios de intercâmbio e instrução e treinamento militar
em operações de ajuda humanitária”.194 Ora, o que pensar desse apoio
mútuo senão que a Nicarágua está cada vez mais

afundando-se em um regime comunista?


Depois de 30 anos no país, as Missionárias da Caridade foram
expulsas da Nicarágua.195 “Diante da decisão da Assembléia Nacional de
cancelar a personalidade jurídica da fundação das Irmãs Missionárias
da Caridade de Santa Teresa de Calcutá, que ofereciam assistência aos
mais pobres de nossa sociedade nicaraguense, lamentamos
profundamente a dor de muitos de nossos irmãos que não terão mais a
atenção que recebiam das Irmãs”, escreveu o arcebispo de Manágua,
Cardeal Leopoldo Brenes, em uma nota em 4 de julho. O governo de
Ortega mandou fechar todas as rádios católicas administradas pela
Diocese de Matagalpa, ordenou à Polícia que invadisse templos
católicos que possam abrigar opositores do Estado e, além disso, enviou
uma tropa de choque para deter, no último dia 03 de agosto, em plena
cúria de Matagalpa, o bispo católico Dom Rolando Álvares e mais onze
pessoas. Neste último domingo, 14 de agosto, mais três sacerdotes
foram atacados pela ditatura de Daniel Ortega,196 sendo que um foi
detido e os outros dois impedidos de sair à rua. Tudo parece estar se
encaminhando para que se crie uma situação semelhante à da Coréia
do Norte, onde

qualquer cristão corre o risco imediato de


prisão, tortura e morte.
Estima-se que 50 a 70 mil cristãos estão nas prisões e em campos de
trabalho forçado nesse país da Ásia, e ali todas as igrejas são pequenas e
secretas, não é possível con ar em vizinhos e familiares, pois qualquer
pessoa pode denunciar a fé em Jesus para as autoridades. A vida dos
cristãos na Coréia do Norte sofre uma pressão constante que pode
resultar em violência e morte, segundo informa o site
portasabertas.org.br.

Alguém objetaria: “Mas Putin não é comunista, é apenas um


nacionalista”. Uma ova! Essa é a típica objeção de quem não se deu ao
trabalho de fazer uma simples pesquisa na internet e veri car o que o
presidente russo falou em seu discurso de 24 de fevereiro deste ano,
quando anunciou a invasão da Ucrânia, repetindo várias vezes a
expressão “colapso da URSS” (União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas), e sempre relacionando a esse evento conseqüências
negativas para a atual Rússia. Isso mostra a sua crença de que, se a
URSS não tivesse colapsado, a partir de 1991, a Rússia encontrar-se-ia
menos prejudicada, ou seja,

Putin crê que o regime soviético russo


ainda é o melhor regime.
Isso de nitivamente não é nacionalismo, mas devoção ao comunismo!
Putin, no mesmo discurso, a rma que “os resultados da Segunda
Guerra Mundial são sagrados”, ou seja, a ascensão da URSS, seio do
comunismo, como potência mundial — um dos resultados da Segunda
Guerra — é, para o atual Presidente russo, algo sagrado. Que ninguém
se engane: não existe “ex-agente” da KGB (a polícia secreta da URSS).
Jamais um regime comunista permitiria que alguém que tenha se
tornado “não-alinhado” — sabendo o que sabe devido às tantas missões
secretas — continuasse vivo, ao menos não em solo russo, que dirá
então chegar à presidência do país. Acreditar que Putin ascendeu e
permanece por tanto tempo no poder sem compactuar até a alma com
o comunismo é o mesmo que acreditar em uma fantasia grotesca e
espúria. Putin, portanto, tendo sido agente da KGB, continua sendo e
será sempre um agente a serviço da Revolução marxista.

E o que isso tudo tem a ver com o Brasil? Bem, praticamente

todos os países da América Latina estão


retornando, com o apoio de Putin, ao controle
de regimes socialistas,

e o que está acontecendo com os católicos na Nicarágua é um exemplo


do que pode acontecer em nosso país, caso as próximas eleições
presidenciais, no mês de outubro, tenham como vitorioso o candidato
da esquerda — apoiado, aliás, pelos adeptos da TdL —, que, inclusive,
há pouco mais de dois anos, após os vários casos de incêndios
criminosos em igrejas no Chile, perpetrados por militantes da esquerda
local, disse que é preciso imitar o Chile: “atacar, e não apenas se
defender”.197 Ora, que tipo de ataque será esse, senão a repetição dos
costumeiros ataques da esquerda contra tudo o que consideram
“opressor”, ou “contra o povo”? Ou seja, no horizonte aparecem mais
ameaças que podem atingir os católicos, os quais serão apenas os
primeiros a sofrerem o que sofrerão todos os demais cristãos e
integrantes de grupos que se opuserem a um governo esquerdista.

Mas não é de hoje que a Nicarágua sofre desventuras por causa da


in uência dos entusiastas do marxismo. Clérigos e teólogos de várias
congregações e nacionalidades começaram, de maneira mais evidente
nos anos de 1980, a dedicar-se à “luta de classes”, conforme narra
Malachi Martin, em seu livro Os jesuítas: A Companhia de Jesus e a
Traição à Igreja Católica:

Rapidamente, dezenas e dezenas de jesuítas começaram a trabalhar,


com a paixão e o zelo que sempre lhe foram característicos, pelo
sucesso dos sandino-comunistas na Nicarágua; e quando os
sandinistas tomaram o poder, aqueles mesmos jesuítas assumiram
cargos cruciais no governo central e atraíram outros para
participarem em vários níveis regionais. Enquanto isso, em outros
países centro-americanos, os jesuítas não apenas participavam no
treinamento de quadros marxistas em guerrilhas, mas alguns se
tornaram também guerrilheiros. Inspirados pelo idealismo que viam
na Teologia da Libertação, e encorajados pela independência inerente
à nova idéia da Igreja como um grupo de comunidades autônomas,
os jesuítas achavam que tudo era permitido — e mesmo estimulado
— desde que promovesse o conceito da nova ‘Igreja do povo’. Aqueles
homens eram o sonho e o ideal dos verdadeiros teólogos da
libertação. Pois eles eram os combatentes, os quadros que levaram a
Teologia da Libertação de teoria para o que chamavam de práxis – a
implementação da revolução popular pela libertação econômica e
política. Daquela práxis, insistiam os teólogos da libertação, ‘lá de
baixo, entre o povo’, viria toda a verdadeira teologia, para substituir a
velha teologia que certa vez fora imposta autocraticamente ‘de cima’
pela hierarquia da Igreja Romana. (pp. 14–15)

Em nenhum momento os expoentes latino-americanos da TdL zeram


qualquer referência aos mais de 100 milhões de vítimas do comunismo
no mundo inteiro, tampouco relativizaram esse caminho
revolucionário, objetiva e claramente condenado por inúmeros
documentos do Magistério da Igreja Católica. Os adeptos da TdL, uma
espécie de “guerrilheiros eclesiásticos”, empenharam-se todos esses
anos em discutir política e propagar ideologia, sem emitir um mínimo
juízo crítico sobre o pensamento revolucionário, sobre as contradições
entre as ditaturas comunistas e a fé católica. O sofrimento e o desespero
por que passa agora o povo da Nicarágua são fruto, em grande medida,
de um desgraçado conceito sobre o que vem a ser o cristianismo, em
particular o catolicismo.

17 de agosto de 2022.
ALINSKY, Saul. Rules for Radicals: A Practical Primer for Realistic
Radicals, 1971.

ARAUJO, Paulo Henrique; FONSECA, Ivan Kleber. EUA e o Partido


das Sombras, São Paulo, Editora PHVox, 2021.

COUTINHO, Leonardo. Hugo Chávez: O Espectro, São Paulo, Editora


Vestígio, 2018.

KINCAID, Cliff. A espada da Revolução e o apocalipse comunista,


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PAOLA, Heitor de. O eixo do mal latino-americano e a Nova Ordem


Mundial, São Paulo, Editora PHVox, 2022.

SALGUEIRO, Graça. O Foro de São Paulo: a mais perigosa


organização revolucionária das Américas, Observatório Latino, 2016.

SÁNCHEZ, Juan Reinaldo. A vida secreta de Fidel, Miami, Michel


Lafon Publishing, 2014.
N  R
1 A Tradição, Família e Propriedade (TFP), no Brasil registrada como
Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, é
uma organização civil de inspiração católica tradicionalista fundada
primeiramente no Brasil em 1960 pelo professor catedrático, deputado
federal constituinte em 1934, escritor e jornalista católico paulista
Plinio Corrêa de Oliveira. Ela é pautada na tradição católica e no
combate às idéias maçônicas, socialistas e comunistas. A sociedade
baseia-se na obra Revolução e Contra- Revolução e propõe uma
vigorosa reação (contra- revolução) com base no amor à ordem cristã e
na aversão à desordem (revolução). Atualmente, no Brasil, seu legado é
sustentado pelo Instituto Plínio Corrêa de Oliveira. A TFP chegou a
atuar em 26 países nos cinco continentes.

2 www.tfp.org/

3 São Paulo, 2018, Editora Vestígio.

4 Faleceu em 30 de dezembro de 2018, após receber os últimos ritos


da Igreja Católica, em sua cama abraçando sua esposa e cercado por
seus 5.000 livros.

5 O Brasil em sua profundidade, atingindo a massa popular do dia-a-


dia em seus mais diversos meios: cultural, social, midiático e a ns.

6 Comissão Extraordinária de Combate à Contra-revolução e à


Sabotagem, estabelecida em 20 de dezembro de 1917 por Felix
Dzerzhinsky, sob ordens de Lênin. Ao longo da história, esta instituição
ganhou vários nomes como OGPU, NKVD, KGB até a atual FSB da
Rússia.
7 O espantalho é uma falácia informal em que o debatedor ignora
referentes (signi cados) do posicionamento do adversário, substituindo
tudo por uma versão mais ou menos distorcida que não representa o
que de fato seu adversário defende. Essa falácia se produz
propositalmente ou não. Em todo caso, facilmente pode estar
ocorrendo uma ânsia por tornar o argumento do adversário mais fácil
de refutar. Na prática, a falácia consiste em o atacante refutar um
argumento (espantalho) fabricado por ele mesmo. Fica a sensação de
vitória, para a platéia, enquanto a realidade do argumento original,
aquilo que o adversário realmente defende, nem sequer foi tocada. Para
alguém que não esteja familiarizado com o argumento original, que não
esteja ciente da sua signi cação completa, tal “ilusionismo” de golpes
no argumento espantalho será percebido como uma refutação válida do
argumento original.

8 Como tão bem de nido por Graça Salgueiro.

9 É denominado companheiro de viagem o grupo ou indivíduo que é


colaboracionista com a causa revolucionária do partido, geralmente
cooptado por um agente, que defende as causas revolucionárias,
trabalha em diversos níveis de colaboração por meios lícitos e ilícitos,
mas que não conhece em profundidade os objetivos aos quais está
servindo. Precisa sempre ser alimentado com as narrativas utópicas,
pois tende a ser escandalizado quando exposto aos objetivos reais aos
quais está servindo.

10 Saul Alinsky, Rules for Radicals: A Practical Primer for Realistic


Radicals, 1971.

11 Heitor de Paola, O eixo do mal latino- americano e a Nova Ordem


Mundial, Editora PHVox, 2022, p. 173.

12 Partidário da marcha “suave” da revolução, semelhante aos


mencheviques soviéticos e a partidos políticos como o PSDB.

13 Juan Reinaldo Sánchez, La vida oculta de Fidel Castro, Miami,


Michel Lafon Publishing, 2014, pp. 158–159.
14 latinamericanstudies.org/tricontinental.htm.

15 Desde meados da década 1950 os chineses estavam em con ito


com Nikita Khrushchov, ao contrário do fake split sino-soviético dos
anos 1970.

16 Heitor de Paola, O eixo do mal latino- americano e a Nova Ordem


Mundial, Editora PHVox, 2022, p. 122.

17 Irmã de Fidel Castro. Participou da Revolução Cubana; porém,


após a crescente veia comunista do regime tomar forma, sente-se traída
e passa a colaborar com a CIA, deixando a ilha em 1964.

18 Juan Reinaldo Sánchez, La vida oculta de Fidel Castro, Miami,


Michel Lafon Publishing, 2014, pp. 106–111.

19 youtu.be/y1456joMic4.

20 Fundação: 10 de fevereiro de 1980. Registro legal: 11 de fevereiro


de 1982.

21 Revolucionários brasileiros teriam recebido 1 milhão de dólares


de Cuba, onde os primeiros 500 mil dólares foram repartidos em partes
iguais entre Brizola, João Goulart e Darcy Ribeiro. O dinheiro deveria
ser utilizado para nanciar as guerrilhas, o que não foi feito por Brizola.
Existem relatos que posteriormente Brizola teria devolvido o dinheiro
para Fidel, mas o apelido o perseguiu. Veja mais detalhes:
www.jornalopcao. com.br/imprensa/biografo-diz-que-brizola-
devolveu- dinheiro-cuba-e-que-nao-ha-prova-de-que- del-o- tenha-
chamado-de-el-raton-1023/.

22 Graça Salgueiro, O Foro de São Paulo: a mais perigosa


organização revolucionária das Américas, Observatório Latino, 2016, p.
46.

23 forodesaopaulo.org/wp-content/ uploads/2014/07/01-
Declaracion-de-Sao-Paulo-19901. pdf.
24 Carlos Alberto Libânio Christo, ou Frei Betto, é um frade
dominicano, jornalista e escritor. Foi um dos principais articuladores
das comunidades eclesiais de base (CEBs), trabalhou na pastoral
operária em São Bernardo do Campo. Foi assessor especial de Lula na
presidência, tendo seu gabinete ao lado do pertencente ao presidente.

25 Respeito à constituição, ao Estado Democrático de Direito e


apresentando metas de curto prazo (duração do mandato) onde
favorece o Estado do bem-estar.

26 As reais agendas para implementação do socialismo no país alvo e


na cooperação entre os membros do próprio Foro de São Paulo.

27 Disponível no site o cial da presidência da República:


http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/ presidencia/ex-
presidentes/luiz-inacio-lula-da-silva/discursos/1o- mandato/2005/02-
07-2005-discurso-do-presidente- da-republica-luiz-inacio-lula-da-
silva-na-reuniao-do- conselho-de-cupula-do-mercosul/view

28 Esta previsão de Lula tornou-se verdadeira no XIV encontro do


Foro de São Paulo, no ano de 2008 no prédio do Mercosul em
Montevideo.

29 O Movimiento Bolivariano Revolucionario 200 (MBR-200) foi


fundado pelo tenente-coronel Hugo Chávez Frías, ao qual mais tarde se
juntou Francisco Arias Cárdenas. Eles usaram a imagem do herói
revolucionário venezuelano Simón Bolívar como seu símbolo. Sua
principal crítica era sobre a corrupção do governo de Carlos Andrés
Pérez, assim como as di culdades econômicas e a desordem social. Na
visão desses dois homens, o sistema político devia ser mudado por
inteiro para que a mudança social ocorresse.

30 É uma organização paramilitar de inspiração comunista,


autoproclamada guerrilha revolucionária marxista-leninista, que opera
mediante táticas de guerrilha. Lutam pela implantação do socialismo na
Colômbia e defendem o direito dos presos colombianos.
31 Leonardo Coutinho, Hugo Chávez: O Espectro, Editora Vestígio,
2018, pp. 53–59.

32 www.economist.com/the- americas/2016/04/14/unfunny-money.

33 O Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional, é a principal


agência de inteligência na Venezuela. Ela foi criada em março de 1969
com o nome de DISIP, a Dirección Nacional de los Servicios de
Inteligencia y Prevención, pelo então presidente Rafael Caldera,
substituindo a Dirección General de Polícia (DIGEPOL). A SEBIN é
uma força de segurança interna subordinada ao Ministério do Poder
Popular para o Interior, Justiça e Paz.

34 Em 2022, por conta da invasão da Ucrânia pela Rússia de


Vladimir Putin, aliado do regime chavista, Diosdado Cabello que agora
é o primeiro vice- presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela,
veio a público dizer que “Quanto mais o tempo passar, pior para a
Ucrânia, porque a desnazi cação será a raiz [e] alguém disse: por que
não aproveitam a decocainização da Colômbia para ver o que resta?”.

35 www.infomoney.com.br/politica/braco-forte- do-chavismo-na-
venezuela-visita-lula-e-jbs-em-sao- paulo/

36 m.folha.uol.com.br/mundo/2015/06/1641905- dilma-reune-se-
com-presidente-do-legislativo-da- venezuela.shtml.

37 O Exército de Libertação Nacional da Colômbia é uma


organização guerrilheira colombiana, de inspiração comunista e de
caráter político-militar, criado em Simacota em 4 de julho de 1964, por
Fabio Vasquez Castaño, inspirado pela experiência bem- sucedida da
Revolução Cubana.

38 O Sendero Luminoso, o cialmente Partido Comunista del Perú


(PCP), é uma organização de inspiração maoísta fundada na década de
1960 pelos corpos discentes e docentes de universidades do Peru.
39 Paulo Henrique Araujo e José Carlos Sepúlveda da Fonseca,
Editora PHVox, 2022.

40 Leonardo Coutinho, Hugo Chávez: O Espectro, Editora Vestígio,


2018, p. 185.

41 portal.cfm.org.br/artigos/o-mito-da- medicina-cubana/.

42 Leonardo Coutinho, Hugo Chávez: O Espectro, São Paulo, Editora


Vestígio, 2018, p.151.

43 Protestos iniciados na cidade de São Paulo por conta do aumento


da tarifa do transporte público, fomentados pela esquerda que, com
aderência popular, perderam o controle de pauta e a população civil
desorganizada virou as manifestações contra o governo do PT.

44 O Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos


(Revalida) é um exame realizado anualmente para validar diplomas
médicos expedidos por universidades de fora do Brasil. É uma prova
realizada anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais (Inep) e aplicada em 37 universidades públicas.

45 Organização internacional especializada em saúde. Criada em


1902, é a mais antiga agência internacional de saúde do mundo.

46 veja.abril.com.br/saude/opas-nao-sabe- quanto-sera-repassado-
aos-medicos-cubanos/.

47 veja.abril.com.br/coluna/reinaldo/gravacao- comprova-que-
objetivo-do-mais-medicos-sempre-foi- enviar-dinheiro-a-cuba/.

48 istoe.com.br/as-atrocidades-do-mais- medicos/.

49 http://maismedicos.gov.br/images/PDF/TC- 80-e-publicao-
D.O.U-2013.pdf.
50 g1.globo.com/politica/noticia/2018/11/14/ bolsonaro-cubano-
que-quiser-pedir-asilo-aqui-vai-ter. ghtml.

51 share.america.gov/pt-br/a-verdade-sobre-as- missoes-medicas-de-
cuba/.

52 O Fórum Social Mundial (FMS) é um encontro anual


internacional articulado por movimentos sociais. Um dos objetivos
principais do FSM de 2001 foi o de estabelecer uma oposição ao Fórum
Econômico Mundial, realizado anualmente desde 1974, em Davos
(Suíça). Leia em forumsocialportoalegre.org.br/2015/11/30/especial-
fsm-2005-o-ano-em-que-chavez-foi-ovacionado/.

53 Leonardo Coutinho, Hugo Chávez: O Espectro, Editora Vestígio,


2018, p. 113.

54 www.politico.eu/article/5star-movement- received-e3-5m-from-
venezuelan-government-report- gianroberto-casaleggio/.

55 veja.abril.com.br/mundo/telegrama-mostra- como-lula-atuou-na-
reeleicao-de-hugo-chavez/.

56 valor.globo.com/politica/noticia/2017/05/12/ monica-moura-lula-
era-minha-garantia-de- pagamento-na-venezuela-1.ghtml.

57 veja.abril.com.br/mundo/os-impactos- continentais-da-lava-jato/.

58 noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/ afp/2022/02/21/comeca-
julgamento-de-ex-presidente- do-peru-por-escandalo-odebrecht.htm.

59 www.gazetadopovo.com.br/rodrigo- constantino/artigos/o-porto-
de-mariel-em-cuba-era- estrategico-sim-para-os-comunistas/.

60 veja.abril.com.br/coluna/reinaldo/cuba-usou- porto-de-mariel-
nanciado-pelo-brasil-para-vender- armas-a-coreia-do-norte/.
61 veja.abril.com.br/mundo/panama-encontra- armamentos-em-
navio-da-coreia-do-norte/.

62 www.dw.com/pt-br/oito-motivos- para-a-queda-do-
pre%C3%A7o-do- petr%C3%B3leo/a-19051686.

63 Através da injeção de água e líquidos químicos nas rochas


subterrâneas, são ampliadas ssuras existentes.

64 www.infobae.com/2015/02/12/1626403-uno- uno-estos-son-los-
43-muertos-las-protestas-contra-el- regimen-maduro-venezuela/.

65 López é um “político de sangue-azul”, ele vem de uma das famílias


mais poderosas na Venezuela. O seu pai, o empresário e ativista
Leopoldo López Gil, foi diretor do El Nacional, um dos jornais mais
lidos do país, e após se radicar na Espanha foi eleito para o Parlamento
Europeu pelo Partido Popular. Já a sua mãe, Antonieta Mendonza, é
uma das lhas de Hilda Coburn Velutini e Eduardo Mendonza
Goiticoa, que foi Ministro da Agricultura por dois anos do governo de
Rómulo Betancourt (1945–1948).

66 oglobo.globo.com/mundo/leopoldo-lopez-foi- preso-com-provas-
falsas-diz-promotor-1-17869523.

67 Leonardo Coutinho. “Condenado com provas falsas!”, Veja. São


Paulo, 04/11/2015, pp. 64–66.

68 Inaugurado por Hugo Chávez em 2012, o hipermercado é


controlado pelo Ministério do Poder Popular para a Alimentação.

69 veja.abril.com.br/mundo/supermercado- estatal-e-o-retrato-da-
falencia-da-venezuela/.

70 exame.com/negocios/jbs-expande-vendas- para-a-venezuela-e-
vira-tabua-de-salvacao/.
71 Campeãs Nacionais é o nome dado às empresas que participaram
de uma política implementada durante o mandato do então presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. A política consistia em oferecer apoio do
Estado, principalmente por meio da atuação do BNDES, a algumas
empresas selecionadas para que se tornassem campeãs nacionais.

72 www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/ transparencia/bndes-
aberto/jbs.

73 memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/ noticia/2010-08-
19/representantes-do-foro-de-sao- paulo-sao-recebidos-por-cristina-
kirchner.

74 De 1997 até 2005, foi terceiro vice-presidente nacional do PT.


Entre 2005 e 2009, esteve à frente da Secretaria de Relações
Internacionais do PT e desde então ocupou o cargo de Secretário
Executivo do Foro de São Paulo.

75 veja.abril.com.br/coluna/reinaldo/controlar-o- judiciario-e-
agenda-do-foro-de-sao-paulo-cristina-da- mais-um-passo-na-
argentina-sob-o-olhar-atento-de- dilma/.

76 http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/ agenda/agenda-da-
presidenta/2013-04-25.

77 www.conjur.com.br/2013-jun-29/ observatorio-constitucional-
corte-argentina-declara- inconstitucional-reforma-judicial.

78 www.psdb.org.br/ro/auditoria-do-psdb- nas-urnas-eletronicas-
mostra-que-sistema-eleitoral- brasileiro-e-vulneravel/.

79 brasil.elpais.com/brasil/2015/08/16/ politica/1439728675
_375038.html.

80 www.gazetadopovo.com.br/instituto- politeia/5-fatos-pt-
mediocres/.
81 revistaoeste.com/mundo/trump-inicia- operacao-maritima-para-
combater-o-narcotra co/.

82 Inspirada nas idéias do lósofo Hegel e aplicadas na política por


Vladimir Lênin, que sugeriu a criação de dois partidos. A divisão
serviria para produzir uma idéia de oposição quando, na verdade,
ambos os lados trabalhavam juntos. Como os grupos ainda eram do
mesmo partido, todo apoio aos mencheviques iria dar poder também
aos bolcheviques.

83 Sofreu impeachment por envolvimento em corrupção com a


Odebrecht.

84 Sofreu impeachment.

85 Apadrinhado de Rafael Correa, porém dissidente do Foro de São


Paulo.

86 www.istoedinheiro.com.br/obama-anuncia- uma-historica-
aproximacao-eua-cuba/.

87 Paulo Henrique Araujo e Ivan Kleber Fonseca, Os EUA e o


Partido das Sombras, Editora PHVox, 2021, capítulo 12.

88 www.latimes.com/world/mexico-americas/la- fg-venezuela-
takoever-20170819-story.html.

89 Delcy Rodríguez Gómez Eloina, é advogada e ex-Ministra das


Relações Exteriores da República Bolivariana da Venezuela. Também
foi ministra da Comunicação e Informação do país durante o governo
Nicolás Maduro. É lha do marxista Jorge Antonio Rodriguez,
fundador da Liga Socialista da Venezuela. Desde 14 de junho de 2018
exerce o cargo de Vice- Presidente da Venezuela.

90 A Suprema Corte Venezuelana passou a atuar no exílio, desde que


o regime de Maduro ameaçou os magistrados de prisão.
91 www.lapatilla.com/2018/01/23/lideres- opositores-que-no-
podran-ser-candidatos-en-proxima- eleccion-presidencial-de-
venezuela/.

92 ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2018-05-21/ maduro-
reeleito.html.

93 À época formado por Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia,


Costa Rica, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai e Peru. O
Grupo de Lima foi fundado por iniciativa do governo do Peru com o
objetivo de “abordar a crítica situação da Venezuela e explorar formas
de contribuir para a restauração da democracia no país”. Alguns
comunicadores reputam o Grupo de Lima como um enfrentamento ao
Foro de São Paulo, o que é uma visão errônea do agrupamento. Sua
pauta é a atuação na questão venezuelana e não no combate a todos os
tentáculos do Foro, tentáculos que analisamos até este ponto na obra.
Uma característica fundamental do Grupo de Lima, e ao mesmo tempo
sua maior fragilidade, está na dependência da vontade política do chefe
de Estado no cargo. O grupo de Lima atualmente (2022) está
praticamente esfacelado, pois os seguintes membros estão com
governos ligados ao Foro de São Paulo: Bolívia, Chile, Colômbia,
Honduras e México. A Argentina retirou-se do grupo em 24 de março
de 2021 e o Peru, sede do agrupamento, retirou-se em 07 de agosto de
2021.

94 Em entrevista ao autor, 2022.

95 g1.globo.com/mundo/noticia/2019/01/21/ supremo-da-
venezuela-declara-nulos-atos-da- assembléia-nacional.ghtml.

96 g1.globo.com/mundo/noticia/2019/01/21/ homem-que-se-diz-
sargento-da-guarda-nacional- da-venezuela-pede-em-video-que-
maduro-nao-seja- reconhecido.ghtml.

97 agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/ noticia/2019-01/guaido-
faz-juramento-e-diz-ser- presidente-em-exercicio-da-venezuela.
98 agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/ noticia/2019-01/trump-
reconhece-guaido-como- presidente-legitimo-da-venezuela.

99 agenciabrasil.ebc.com.br/politica/ noticia/2019-01/brasil-
reconhece-guaido-como- presidente-interino-da-venezuela.

100 agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/ noticia/2019-


01/maduro-faz-discurso-da-janela-do- palacio-e-diz-que-se-mantera-
no-poder e noticias.uol. com.br/internacional/ultimas-
noticias/2019/01/23/ maduro-rompe-com-os-eua-e-diz-que-nao-
deixara- presidencia-da-venezuela.htm.

101 Segundo diplomata brasileiro em entrevista ao autor, 2022.

102 www.reuters.com/article/us-venezuela- politics-russia-exclusive-


idUSKCN1PJ22M

103 noticias.r7.com/internacional/kremlin-nega- que-mercenarios-


russos-protegem-maduro-29062022.

104 noticias.r7.com/internacional/aviao-russo- estaria-carregado-


com-20-toneladas-de-ouro-da- venezuela-29062022.

105 www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/03/ governo-trump-conta-


com-interlocucao-militar-do- brasil-na-venezuela.shtml.

106 Diplomata brasileiro em entrevista ao autor, 2022.

107 www.forte.jor.br/2019/03/24/avioes-militares- russos-


carregando-tropas-e-equipamentos-chegam-a- venezuela/.

108 veja.abril.com.br/mundo/regime-de-maduro- matou-55-


manifestantes-desde-o-inicio-de-2019/.

109 www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/ 0205200602.htm.

110 oglobo.globo.com/economia/bolivia-assume- re narias-


compradas-da-petrobras-4178931.
111 veja.abril.com.br/economia/petrobras-perdeu- r-872-mi-por-
acordo-feito-por-lula/.

112 www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/ lula-o-


entreguista-5um32kr7bb2vozm4ag8dc12jy/.

113 noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/ efe/2019/10/17/como-


morales-e-candidato-ao-4- mandato-na-bolivia-se-a-constituicao-o-
proibe.htm.

114 Na Bolívia, a eleição é decidida em primeiro turno em duas


ocasiões: quando um candidato possui 50% + 1 voto ou, no caso de o
resultado ser menor que 50%, a vantagem entre o primeiro e o segundo
colocado seja maior do que 10% dos votos.

115 brasil.elpais.com/brasil/2019/10/23/ internacional/1571785


328_073195.html.

116 www.bbc.com/portuguese/ internacional-50367271.

117 brasil.elpais.com/brasil/2019/11/10/ internacional/1573419


777_926417.html.

118 twitter.com/evoespueblo/ status/1193674863162134529.

119 brasil.elpais.com/brasil/2019/11/10/ internacional/1573425


323_091251.htm.

120 É uma plataforma de cooperação internacional baseada na idéia


da integração social, política e econômica entre os países da América
Latina e do Caribe. Composta por Antígua e Barbuda, Cuba, Dominica,
Nicarágua, São Vicente e Granadinas, Bolívia e Venezuela.

121 Ver página 16.

122 twitter.com/ernestofaraujo/ status/1217902306747932673.


123 g1.globo.com/mundo/noticia/2014/06/ presidente-reeleito-
promete-paz-sem-impunidade-na- colombia.html.

124 http://www.luisvillamarin.com/defensa- nacional-y-seguridad-


nacional/1274--re exiones- politico-estrategicas-luego-de-44-meses-
de- conversaciones-farc-gobierno-en-cuba.

125 brasil.elpais.com/brasil/2016/10/07/interna- cional/1475837870


_926134.html.

126 www.dn.pt/mundo/santos-nao-arrisca-novo- referendo-a-paz-


na-colombia-5514807.html.

127 www.diariodoaco.com.br/noticia/0047944- oposicao-pede-


renuncia-de-presidente-da-colombia-por-propina-da- odebrecht e
brasil.elpais.com/brasil/2017/08/11/internacio- nal/15024712
92_740928.html.

128 Nascido em 20 de abril de 1960, professor universitário,


engenheiro eletrônico e político cubano que serve como Presidente da
República de Cuba desde 19 de abril de 2018, e como Primeiro
Secretário do Partido Comunista de Cuba (PCC) desde 2021.

129 brasil.elpais.com/brasil/2019/01/16/ politica/1547642 566_8111


37.html.

130 Psicóloga, foi presidente do Sindicato dos Trabalhadores Públicos


da Saúde no Estado de São Paulo (Sindsaúde-SP) e vice-presidente da
Central Única dos Trabalhadores (CUT). Entre 2001 e 2002 foi chefe de
gabinete da prefeitura petista de Marta Suplicy na cidade de São Paulo
e, entre 2002 e 2004, secretária de Administração e Gestão Pública. Ela
atuou também como assessora técnica legislativa na área da Saúde na
Assembléia Legislativa de São Paulo.

131 www.brasildefato.com.br/2019/07/29/25o- foro-de-sao-paulo-


termina-pedindo-foco-nas-disputas- presidenciais-do-continente.
132 forodesaopaulo.org/memoria-del-xxv- encuentro-del-foro-de-
sao-paulo-25-al-28-de-julio-de- 2019-caracas-venezuela/

133 exame.com/mundo/resolucao-com-restricoes- a-governo-da-


venezuela-e-aprovada/.

134 exame.com/mundo/nicolas-maduro-e-braco- direito-viajam-a-


russia-e-coreia-do-norte/.

135 www.brasildefato.com.br/2020/11/11/ protestos-populares-


denunciam-golpe-parlamentar-da- direita-no-peru.

136 g1.globo.com/mundo/noticia/2019/10/08/ equador-transfere-


sede-do-governo-de-quito-para- guaiaquil-anuncia-presidente-lenin-
moreno.ghtml.

137 tradicionyaccionec.org/.

138 expresso.pt/internacional/2019-10-10- Policias-das-Honduras-


usa-gas-lacrimogeneo-para- dispersar-manifestantes.

139 albertonews.com/internacionales/diosdado- lo-que-esta-


pasando-en-peru-chile-ecuador-argentina- honduras-es-apenas-la-
brisita-viene-un-huracan- bolivariano/.

140 www.gazetadopovo.com.br/mundo/breves/ maduro-declara-que-


metas-do-foro-de-sao-paulo- estao-sendo-cumpridas/.

141 twitter.com/maniacotv/ status/1185358248737755136?


ref_src=twsrc%5Etfw

142 Realmente, este modelo constitucional torna quase impossível a


destruição de um país por regimes estatistas de esquerda.

143 brasil.elpais.com/internacional/2020-10-19/ duas-igrejas-sao-


incendiadas-no-primeiro-aniversario- das-revoltas-no-chile.html.
144 www.cnnbrasil.com.br/internacional/ pesquisa-sobre-plebiscito-
chileno-mostra-que-54- rejeitariam-nova-constituicao/.

145 panampost.com/gabriela-moreno/2022/08/22/ supermercados-


populares-de-boric-plebiscito/.

146 g1.globo.com/df/distrito-federal/ noticia/2019/10/23/ativistas-


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188 hojenomundomilitar.com.br/cabello-sugeriu- uma-operacao-na-


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189 www.defesanet.com.br/ven/noticia/44738/- Amizade-


indestrutivel---Ira-e-Venezuela-assinam- acordo-de-cooperacao-de-20-
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190 sputniknewsbrasil.com.br/20190828/ kalashnikov-inaugurara-


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193 jovempan.com.br/noticias/mundo/ putin-expressa-apoio-a-


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entrada-de-tropas-russas-em-seu- territorio/#.YwT4rC7MJOA.

195 diocesedeosasco.com.br/2022/07/11/ missionarias-da-caridade-


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196 www.aciprensa.com/noticias/domingo- negro-para-nicaragua-3-


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197 congressoemfoco.uol.com.br/area/justica/ao- vivo-lula-discursa-


no-sindicato-dos-metalurgicos/.

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