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Tecnologia da informação e meio ambiente

Adalberto Wodianer Marcondes1

Nos últimos anos a tecnologia tem sido uma aliada de valor para as causas ambientais.
No início dos anos 70 havia uma crença generalizada em que a ideologia
ambientalista era uma inimiga do desenvolvimento econômico. "A poluição é o
preço do progresso", dizia-se em reuniões de conselhos de grandes empresas
multinacionais.

Em 1972, durante a primeira Cúpula Mundial sobre Meio Ambiente, chegou-se a dizer
que os países do terceiro mundo não deveriam ter preocupações ambientais se
desejassem superar sua condição de subdesenvolvidos. Vinte anos depois, na Cúpula
do Rio, em 1992, uma pauta de compromissos ambientais foi formalizada na Agenda
21, onde governos de todo o planeta se sensibilizam com as necessidades das futuras
gerações em termos de um ambiente saudável e um desenvolvimento econômico em
harmonia com o futuro.

Não há mais um antagonismo aberto entre as necessidades ambientais e as


metas de desenvolvimento econômico. Contudo, as tecnologias capazes de
universalizar as metas de preservação ambiental e crescimento econômico ainda são
pouco conhecidas e recebem atenção deficitária dos órgão de comunicação em geral.
Meio ambiente ainda é um tema para iniciados na maior potência ambiental do
planeta, o Brasil.

A partir de 1992 a imprensa brasileira passou a ter um interesse modesto em


relação ao meio ambiente. No entanto, o momento mais importante da história
ambiental brasileira e global deste final de século acabou sendo turvado - para o
jornalismo brasileiro - pelo processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor
de Mello.

Durante a Cúpula do Rio a imprensa teve a grande oportunidade de


acompanhar de perto as grandes questões globais do meio ambiente. Parte
dela realmente fez isto, mas o processo político em Brasília infelizmente impediu que
nosso jornalismo se dedicasse de corpo e alma ao debate ambiental.

Foi perdido um momento de ouro para a formação de um novo tipo de especialista no


jornalismo, o profissional capaz de distinguir o fato e a verdade frente à militância das
organizações não governamentais (ONGs) e o marketing verde adotados por algumas
empresas que preferem investir em publicidade a gastar em aprimoramento de
processos.

Na falta de especialistas para abordar, nos meios de comunicação, os temas


ambientais, as editorias de meio ambiente que foram criadas no início dos
anos 90 acabaram sendo abandonadas. Hoje muito poucos veículos mantém
jornalistas dedicados à cobertura ambiental em seus quadros. O tema
1
O autor é diretor de Redação da Envolverde, Coordenador da EcoMídias - Associação Brasileira de Mídias
Ambientais e moderador da rede Brasileira de Jornalistas Ambientais.
ambiental passou a ser tratado nas editorias de Geral, principalmente quando
acontece alguma tragédia.

A repressão política dos anos 70 levou à criação de diversos jornais voltados


para o debate sobre direitos humanos e política. Nos anos 90 a
impossibilidade de se tratar os temas ambientais na grande imprensa levou à
criação de diversas mídias direcionadas ao meio ambiente. Contudo, assim
como suas co-irmãs políticas de vinte anos antes, estas mídias ainda não deixaram de
formar uma "imprensa nanica".

O principal problema para o crescimento e democratização da informação


ambiental hoje em dia é a falta de instrumentos de financiamento para estas
mídias. Mídias são financiadas por publicidade e, infelizmente, nem as agências de
publicidade nem as empresas que investem em marketing ambiental entenderam
ainda a necessidade de direcionar verbas para veículos que não estão voltados para as
necessidades de mercado, mas sim para as necessidades ambientais.

O cenário alternativo criado em torno das mídias ambientais levou empresas e


agências de publicidade a atuarem no sentido de direcionar sua comunicação e
marketing verde para as mídias convencionais. Com isso nem as mensagens
ambientais recebem a devida atenção, nem as mídias que se dedicam à difusão de
conhecimentos ambientais recebem o financiamento necessário. As agências de
relações públicas e assessorias de imprensa, ao contrário, já descobriram que as
mídias ambientais são um canal de comunicação bastante eficiente quando se
trata de difusão de informações ambientais positivas, enquanto as mídias
convencionais se concentram na cobertura de catástrofes e tragédias.

Meio ambiente e Internet

A Internet tornou-se, nos últimos anos, um instrumento fundamental de comunicação


para todos os segmentos sociais e, para o meio ambiente não poderia ser diferente. A
criação de cyber-ONGs, especializadas em militância ambiental pela rede, de
publicações ambientais calcadas nos preceitos do bom jornalismo, como por exemplo a
Envolverde, O Jornal do Meio Ambiente, O Eco, Ambiente Brasil e outros que estão
surgindo mostra o potencial eclético deste instrumento de comunicação. Contudo, a
rede é uma miscelânea desordenada de conhecimentos e informações que pode levar o
leitor mais afoito a confundir qualidade da informação com a qualidade visual ou de
qualquer outra manipulação tecnológica.

As tecnologias da informação são o novo front da batalha ambiental. Elas são


as ferramentas para a difusão das tecnologias aplicadas ao meio ambiente, uma vez
que a maior parte dos problemas enfrentados por empresas, cidades e sociedade em
geral relacionados ao meio ambiente têm modos de solução ou prevenção já
dominados, porém ainda não conhecidos do grande público.

Empresas, governos e sociedade usam da Internet para difundir seus produtos,


políticas e interesses. Quanto mais informação circular entre estes três atores
sociais, maior a possibilidade do encontro entre o problema ambiental e a
tecnologia disponível para sua solução.

Fonte: Revista Digital de Ambiente, Educação e Cidadania (www.envolverde.com.br)

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