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Processo de trabalho e saúde dos


trabalhadores na produção artesanal de carvão
Elizabeth Costa Dias 1 vegetal em Minas Gerais, Brasil
Ada Ávila Assunção 1
Cláudio Bueno Guerra 2  
Hugo Alejandro Cano Prais
1 Labor process and workers' health in charcoal
production in Minas Gerais, Brazil

1
Departamento de Medicina  
Preventiva e Social, Abstract This study is a tentative approach to
Faculdade de Medicina,
Universidade Federal de the relationship between environmental and
Minas Gerais. Av. Alfredo occupational health and development in a
Balena 190, Belo Horizonte, specific situation: charcoal production in the
MG 30130-100, Brasil.
Jequitinhonha Valley, the poorest region in the
bethdias@medicina.ufmg.br
2
Agência Terra. Rua State of Minas Gerais, Brazil. The study focuses
Nicarágua 275/603, Belo on the labor process, involving heavy
Horizonte, MG 30320-050,
exploitation, hazardous working conditions, and
Brasil.
extremely precarious living conditions. Working
conditions and activities are described and
related to the workers' health situation. Social
policies and decisive participation by the various
social stakeholders are necessary to change this
reality.
Key words Charcoal; Child Labor; Occupational
Health

Resumo O processo de trabalho na produção


artesanal de carvão vegetal e sua articulação
com as condições de vida e saúde de
trabalhadores carvoeiros foram estudados em
um Município do Vale do Jequitinhonha, em
Minas Gerais, enfocando os aspectos históricos
e econômicos da atividade carvoeira na região, a
situação de saúde da população e dos
trabalhadores, em particular, com destaque para
as crianças e adolescentes envolvidos nessa
atividade. O estudo do processo de trabalho foi
baseado na observação direta, análise
ergonômica das fases de abastecimento e
retirada do carvão dos fornos, entrevistas com
trabalhadores e encarregados da produção e
elaboração do "mapa de risco" da atividade. Os
resultados indicam a necessidade da integração
das políticas sociais e intervenção técnica
visando transformar a atual situação social,
cultural e laboral relacionada à produção
artesanal de carvão, considerada muito precária.

Palavras-chave Carvão Vegetal; Trabalho de


Menores; Saúde Ocupacional

Introdução

A produção de carvão vegetal em escala comercial surgiu


em Minas Gerais, em meados do século XIX, na região de
Mariana e Ouro Preto, favorecida pela abundância de jazidas
de minério de ferro e recursos florestais da Mata Atlântica.
Em 1940, o Estado de Minas já respondia por 90% da
produção de ferro gusa do país, posição consolidada nos
anos 50, com a implantação do pólo siderúrgico do Vale do
Aço. Na década de 70, Minas Gerais tornou-se o maior pólo
siderúrgico a carvão vegetal do mundo.

Na atualidade, o faturamento anual na cadeia produtiva da


siderurgia a carvão vegetal - madeira-carvão-ferro gusa/ferro
ligas-aços - é de aproximadamente quatro bilhões de
dólares, arrecadando 600 milhões de dólares de impostos e
empregando 120 mil pessoas. O Estado de Minas produz e
consome cerca de 80% do carvão vegetal brasileiro. Estima-
se que 30% do carvão utilizado no país sejam produzidos
valendo-se de matas nativas, especialmente o cerrado em
um processo primitivo, devastador do ambiente e da saúde
dos trabalhadores (ABRACAVE, 1997; Agência Terra, 1996).

A mudança na base energética dos alto-fornos nas grandes


empresas siderúrgicas do Estado de Minas Gerais, pela
substituição do carvão vegetal pelo mineral nas coquerias, a
partir dos anos 90, tem acarretado repercussões sociais e
econômicas importantes, gerando desemprego e tornando
inúteis as florestas homogêneas de eucalipto, subsidiadas
pelos órgãos governamentais.

Na cadeia produtiva do aço, estão presentes condições de


trabalho muito distintas: de um lado, as siderúrgicas
certificadas segundo as normas internacionais; de outro, a
precariedade das carvoarias artesanais, com utilização
intensiva e predatória dos recursos florestais, exploração do
trabalho em condições subumanas, incluindo crianças e
adolescentes, empregando tecnologia rudimentar. O
rendimento térmico na conversão madeira-carvão vegetal
continua baixíssimo, em torno de 50%, com desperdício dos
inúmeros subprodutos gerados na queima, como o alcatrão,
ácido pirolenhoso e diversos gases que não são
aproveitados (CETEC, 1992).

Os resultados apresentados a seguir resultam do projeto de


investigação Trabalho Precoce na Atividade Carvoeira em
Minas Gerais: Um Estudo de Caso dos Impactos sobre a
Saúde das Crianças e Adolescentes e uma Proposta de
Melhoria das Condições de Vida e Trabalho, apoiado pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES), Ministério do Trabalho e
Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina
do Trabalho (FUNDACENTRO). Foi realizado como
contribuição ao esforço conjunto do governo e sociedade
para conhecer a problemática do trabalho precoce no país e
nela intervir. (Brasil, 1998; Ministério Público do Trabalho,
1995; MTb, 1996), envolvendo uma equipe multidisciplinar
de professores, alunos e estagiários da Área Saúde &
Trabalho, Departamento de Medicina Preventiva e Social da
Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas
Gerais (Dias et al., 1999). A questão básica que orientou o
estudo pode ser traduzida por: Quais as principais condições
de risco para a saúde presentes no processo de produção
artesanal do carvão vegetal e seus possíveis efeitos sobre a
saúde dos trabalhadores?

Metodologia

O estudo desenvolveu-se em um município do Vale do


Jequitinhonha, uma das regiões reconhecidamente mais
pobres do Estado de Minas Gerais. A atividade de produção
do carvão é economicamente relevante na região e
realizada, de modo complementar, por empresas de
reflorestamento e produção de carvão, subsidiárias de
grandes grupos siderúrgicos e por pequenos produtores, em
regime familiar ou de "empreitada", pela queima da mata
nativa (cerrado) e do eucalipto. Considerando os objetivos do
trabalho, privilegiou-se a análise da produção artesanal de
carvão vegetal nas "carvoarias volantes": sistema de
empreitada familiar, com a participação de crianças e
adolescentes. Os dados foram obtidos por meio de
observação direta e de entrevistas com os trabalhadores
ativos e afastados, individualmente e em grupo, elaboração
de "histórias de vida", com ênfase na história ocupacional,
além da escuta de autoridades da administração municipal,
profissionais dos sistemas de saúde e educação do
município e encarregados da produção nas empresas.
Os resultados permitiram a elaboração do fluxograma das
fases e subfases da produção do carvão vegetal. Com base
no fluxograma, foram estudadas as condições potenciais de
risco para a saúde, relacionadas com o trabalho. Duas das
atividades consideradas mais arriscadas ou penosas, as
fases de abastecimento do forno e retirada do carvão, foram
objeto de análise ergonômica. As observações sistemáticas
foram realizadas por dois pesquisadores utilizando lápis,
papel e cronômetro para o registro do número e o tamanho
de "toras" de madeira transportadas pelo trabalhador em
uma dada fase do processo. O tamanho das "toras" foi
classificado aleatoriamente em pequeno, médio e grande.
Este procedimento permitiu colocar em evidência o esforço
físico despendido durante a realização das tarefas.

Os problemas de saúde dos trabalhadores foram


identificados mediante revisão da literatura técnica
relacionada às condições de risco identificadas no estudo do
processo de trabalho e do perfil de morbi-mortalidade da
população do município, além das informações de óbitos
registrados no Cartório de Registro Civil, no período de
janeiro de 1997 a dezembro de 1998; do registro de
atendimento ambulatorial pelo SUS no ano de 1997; dos
resultados da avaliação nutricional de crianças menores de
cinco anos, disponíveis nos arquivos do Sistema de
Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN); e entrevistas
com as equipes de saúde envolvidas no Programa de Saúde
da Família (PSF), com os trabalhadores, e professores da
rede de ensino. Foi confeccionado o "mapa de risco da
atividade", sendo as condições de risco para a saúde,
potencialmente, existentes no ambiente das carvoarias
representadas em uma escala constituída por círculos de
cores e tamanhos variados, para facilitar a compreensão por
parte dos trabalhadores, de acordo com a metodologia
proposta por Oddone et al. (1986) e adaptada por Lima
(1990). O exercício foi realizado com dois grupos de
trabalhadores: um constituído por 25 adultos, homens e
mulheres, e outro por vinte adolescentes do sexo masculino,
com idades entre 10 e 17 anos.
 

O processo de trabalho na produção artesanal de carvão


vegetal

Todos os sentidos do observador são tocados ao se


aproximar de uma carvoaria. Em um local plano, escolhido
por exigência do processo em meio à mata, depara-se com a
fileira de fornos semelhantes a iglus envolvidos pela fumaça,
cujo cheiro forte faz arder os olhos e impregna tudo e todos
ao redor. Pilhas de madeira esperam a vez de ir para o forno
e montes de carvão, às vezes, ainda fumegantes, pelo
ensacamento. Os trabalhadores, geralmente seminus, têm o
corpo coberto pela fuligem e deles, muitas vezes, somente
se vêem os olhos e os dentes.

A maneira pela qual os carvoeiros organizam o trabalho é


variável: individual e solitário, ou em duplas. As principais
funções no processo são as de forneiro-carvoeiro e de
carbonizador-barrelador. No sistema de produção familiar, as
crianças desde muito cedo, aos quatro, cinco anos, quando
começam a andar com mais desenvoltura, acompanham os
pais, especialmente as mães, às carvoarias e "brincam" de
ajudar a encher o forno. Em torno de seis a sete anos,
algumas delas já conhecem todo o processo, e aos 12, 13
anos assumem todas as tarefas, sem distinção de sexo. As
mulheres são, geralmente, poupadas de algumas tarefas
como o esvaziamento do forno; porém, observaram-se
adolescentes do sexo feminino e mulheres jovens
desempenhando todas as funções, além de acumularem as
responsabilidades pelas tarefas domésticas, caracterizando
uma dupla jornada de trabalho.

Nas carvoarias volantes, os trabalhadores moram ou ficam


alojados próximos aos fornos, em instalações improvisadas,
cobertas por lonas, dormem em catres e não dispõem de
condições mínimas de higiene e saneamento básico. É
comum uma família e alguns agregados dividirem o trabalho
e a moradia.

O fluxograma da produção do carvão vegetal está


representado na Figura 1.

 
 
O processo compreende seis fases principais, que podem
ser desdobradas em etapas ou subfases. A rigor, o plantio e
o cultivo do eucalipto também devem ser considerados como
fases do processo; todavia, não foram detalhados neste
estudo, pois, naquele momento, não estavam sendo
processados na região. Entretanto, muitos dos trabalhadores
entrevistados participaram dessa fase e a descreveram
como desconfortável e perigosa para a saúde, notadamente
pelo uso indiscriminado de agrotóxicos, destacando o
emprego de crianças.

Corte e transporte da madeira

De modo esquemático, o processo de produção de carvão


se inicia com o corte da madeira da mata nativa ou de
florestas homogêneas de eucalipto, utilizando ferramentas
manuais como foice e machado, ou mecânicas como a moto-
serra, dependendo dos recursos do empregador ou
contratador do trabalho. Cortada a lenha, ela é "lerada", ou
seja, os galhos são retirados deixando os troncos roliços e
dispostos para secar e, assim, diminuir o seu peso. Após um
intervalo de 15 a 30 dias, a lenha é "embraçada", formando
feixes e transportada até próximo ao forno, com o auxílio de
animais de tração pelos "muleteiros" ou do trator,
dependendo do porte da carvoaria, e aí armazenada em
pilhas.

Abastecimento ou enchimento do forno

Para o abastecimento do forno, o trabalhador executa as


seguintes atividades: (a) preparo do forno; (b) transporte
manual da madeira estocada na área externa até a porta do
forno; (c) transporte manual da madeira da porta do forno até
o interior do mesmo; (d) enchimento do forno, organizando
cuidadosamente as madeiras e; (e) fechamento do forno. No
preparo do forno, o trabalhador limpa o interior do mesmo,
retirando completamente o carvão produzido no processo
anterior, utilizando garfo, pá, enxada, "raspelo" e rodo. A
seguir, ele dispõe folhas secas pelo chão, preparando uma
espécie de "tapete", para diminuir as perdas de calor para o
solo. Continuando, as peças de madeira que estão
estocadas na parte externa do forno são transportadas
manualmente e deixadas perto da abertura ou "boca" do
forno. Uma vez preenchida a abertura do forno, recomeça o
transporte manual da madeira para o interior do mesmo.
Dessa forma, o trabalhador transporta a mesma peça de
madeira duas vezes.

A produtividade do forno depende do processo de


enchimento. Se a carga é mal feita, a produção será menor
do que a capacidade do forno, acarretando prejuízo. A
presença de galhos ou folhas perturba a combustão
"optima", alterando a qualidade do carvão. Durante a
operação de enchimento do forno, o trabalhador assume
posturas penosas. Ele sobe e permanece sobre a pilha de
toras de madeira e as lança ao solo, o mais próximo possível
da entrada do forno. À medida que o processo avança, e a
"pilha" de madeira diminui, a retirada de uma "tora" faz com
que as outras rolem pelo solo, aumentando o risco de
acidentes. O empilhamento das "toras" na entrada do forno
não é aleatório. Existe uma seleção cuidadosa das mesmas,
e sua disposição é feita de modo a aproximá-las do espaço
do forno que será preenchido naquele momento. O
empilhamento prossegue até uma altura tal que permite
apenas a passagem do trabalhador da área externa para o
interior do forno. Ele se deita sobre as "toras" empilhadas e
desliza sobre elas, chegando ao interior do forno e iniciando
o processo de enchimento propriamente dito. Pela segunda
vez, as "toras" são transportadas manualmente pelo
trabalhador, respeitando uma organização minuciosa das
madeiras, dispostas de forma centrípeta, ou seja, o espaço
próximo às paredes é preenchido primeiro, avançando para
o centro do forno. Uma vez no centro, a disposição
obedecerá a outro padrão: da parte interna para a externa,
no sentido da porta. Como o forno possui o formato de uma
"oca", o trabalhador dispõe as "toras" em posição vertical
para, em seguida, fazer o chamado "chapéu" do forno,
colocando as "toras" de menor dimensão em sentido
horizontal, sobre aquelas postas em sentido vertical. Este
modo operatório tem o objetivo de garantir a qualidade do
carvão exigida pelas siderúrgicas, que depende da
combustão. Durante a observação sistemática realizada, o
trabalhador transportou a madeira para a entrada do forno e
em seguida para o interior do mesmo, seis vezes, até que o
forno estivesse completamente abastecido.

A operação de abastecimento do forno apresenta exigências


físicas e cognitivas para o trabalhador. As exigências físicas
decorrem das condições de trabalho e do esforço muscular
despendido. Os deslocamentos são numerosos e exigem
movimentos coordenados dos membros superiores e
inferiores; posturas penosas, com torção e flexão do tronco;
movimentos repetitivos e uso de força para o transporte
manual da carga. É importante destacar que o esforço físico
se dá em condições de desconforto térmico, como será
discutido mais adiante. A Tabela 1 mostra o peso
transportado manualmente no enchimento de um forno e o
tempo empregado para tal atividade. O trabalhador leva 41
minutos e 24 segundos para completar a tarefa,
transportando cerca 7.357kg. O enchimento do forno é
realizado em dois ciclos caracterizados pelo transporte da
madeira até a porta e, a seguir, desta para o interior,
transportando a mesma madeira duas vezes.

 
 

Nas situações analisadas, no conjunto das carvoeiras


visitadas, não existe água potável disponível. Ao longo das
observações sistemáticas, das primeiras horas do dia até o
almoço, isto é, entre sete e onze horas da manhã, os
trabalhadores que estavam abastecendo um forno não
ingeriram água, apesar do esforço físico realizado e da
intensa sudorese. Questionados a respeito, os trabalhadores
responderam que preferem tomar água apenas no período
da tarde. Posteriormente, revelaram a crença de que a
ingestão de água, nas condições de exposição ao calor,
poderia "cozinhar as tripas" ou provocar "constipação".

A dieta básica dos trabalhadores era composta basicamente


de carboidratos, arroz, feijão e macarrão. Não havia
banheiros para higiene pessoal e as condições de moradia
eram, sempre, muito precárias.

Quanto às exigências cognitivas da operação de


abastecimento do forno, observou-se que, na maioria dos
casos analisados, os trabalhadores eram analfabetos e a
aquisição dos conhecimentos necessários à realização das
tarefas obtida empiricamente. Assim, o conhecimento é
incorporado por intermédio de sinais perceptivos em que os
índices e os parâmetros utilizados pertencem à propriedade
da matéria, como aspecto, forma, odor etc. Os trabalhadores
sabem como fazer, ainda que não conheçam as
propriedades físico-químicas da combustão. Este "saber-
fazer", expressão traduzida do francês savoir-faire, é
constituído por um conjunto de percepções, astúcias e
truques adquiridos na prática, no aprender-fazendo. O
trabalhador não possui conhecimentos formalizados e
sistematizados, mas "incorpora" competências, não
facilmente verbalizáveis, que ele mobiliza diante da variação
das situações.

Entre as exigências cognitivas para a realização do


abastecimento do forno está, por exemplo, o conhecimento
específico sobre a disposição das "toras" no interior do
mesmo. Durante o transporte das "toras" da parte externa
para a porta do forno, o trabalhador seleciona-as de acordo
com o espaço do forno que está sendo preenchido. Ele se
orienta no espaço e no tempo, fazendo um planejamento que
se expressa nas características das "toras" que são
escolhidas. Por exemplo, é preciso separar aquelas mais
curtas e mais largas para o "chapéu" do forno, deixando as
mais compridas e estreitas para a base. Esta seleção é feita
para preencher corretamente o forno, impedindo espaços
livres entre uma "tora" e outra, que levam a uma
supercombustão da madeira e interfere na qualidade do
carvão. Existe um planejamento da ação para a seleção e
disposição da "tora" mais adequada a um determinado lugar
no forno, evitando a perda de calor e garantindo a qualidade
do carvão. Finalizando, o forneiro ateia o fogo através de
uma pequena abertura na porta, deixada especialmente para
este fim, fechando o forno com tijolos e barrela, uma mistura
aquosa de terra vermelha e água.

Carbonização

A queima ou combustão da madeira dura geralmente três


dias. Durante o cozimento da madeira, o carbonizador
supervisiona o processo, no mínimo de hora em hora.
Através da liberação e oclusão dos orifícios do forno,
denominados "tatus" e "baianas", controla a entrada de
oxigênio e dessa forma, a intensidade da combustão.
Segundo os trabalhadores, esta operação é importante para
garantir a qualidade do carvão. Para isso, consideram
índices e parâmetros construídos na prática, como a cor e o
volume de fumaça que sai pelos orifícios do forno. A fumaça
de cor azul indica a conclusão do processo de cozimento da
madeira. O principal cuidado do carbonizador é impedir que
o forno "embale", produzindo um superaquecimento capaz
de provocar a ruptura da cinta que sustenta a abóbada do
forno, fazendo desmoronar toda a estrutura, com perda do
produto ou carga.

Na experiência de Timóteo (1999), os carbonizadores


consideram o seu cargo como "de confiança", a função mais
especializada, profissionalizada e de maior prestígio na
atividade carvoeira. É uma tarefa penosa, vista por alguns
trabalhadores como a "pior função" no carvão, por implicar
trabalho noturno, já que o forno funciona ininterruptamente.

O barrelador tem a função de "sufocar" o forno, com o auxílio


da barrela lançada sobre o forno para impedir a entrada de
ar através de pequenas frestas e aberturas, que alimentam a
combustão. Desta forma o forno é desligado e resfriado. O
barrelador deve repetir este procedimento até que o fogo se
extinga.

Esvaziamento do forno ou retirada do carvão

Após o reconhecimento do "bom momento" e interrompida a


combustão, o forno é deixado para esfriar, sendo então
aberto e esvaziado. Os procedimentos adotados pelo
trabalhador para a retirada do carvão são os seguintes: (a)
quebra da parede do forno, no mesmo local onde foi
fechado, para abri-lo; (b) transferência do carvão da parte
interna para a "grade" colocada na porta do forno; (c)
transporte da "grade" contendo o carvão, da porta do forno
para a área externa, e derramamento deste no solo.
Dependendo do ponto de "cozimento" do carvão, os
trabalhadores lançam água sobre ele, para acelerar o
processo de esfriamento e impedir a perda do produto. A
tarefa é feita manualmente. Com a ajuda de um "garfo", que
pesa cerca de quatro quilos, o trabalhador retira o carvão do
forno, despejando-o na grade. Esta é um artefato metálico,
medindo cerca de dois metros, fabricada com um trançar de
arames, semelhante a uma gaiola, com duas alças em cada
uma das extremidades, improvisadas com toretes. Quando a
"grade" está cheia, o trabalhador pede a ajuda de um colega,
e ambos, cada um segurando uma das alças da grade,
transportam-na até uma área situada cerca de dois a três
metros da porta do forno, despejando o carvão na terra para
permitir o resfriamento, facilitar o transporte e ensacamento.
A grade cheia pesa cerca de 50kg.

A análise da atividade mostra que a retirada do carvão é a


fase mais crítica no que se refere à exposição a altas
temperaturas e aos gases originados na combustão da
madeira, sob exigência de esforços físicos importantes. Além
disso, estão presentes riscos de acidentes como
queimaduras. Em algumas situações, dependendo da
urgência do pedido, do estado do "cozimento da madeira",
ou das exigências de qualidade do produto, o carvão é
retirado ainda aquecido, aumentando a sobrecarga térmica e
o risco de queimaduras corporais.

A atividade de esvaziamento do forno apresenta exigências


físicas e cognitivas importantes. São necessários
movimentos repetidos, com a pá ou o garfo, e adoção de
posturas de flexão do tronco e suporte de cargas. A
repetitividade da tarefa e as condições climáticas e de
conforto desfavoráveis contribuem para a penosidade. A
exposição combinada, ambiental e ocupacional, ao calor ou
às altas temperaturas é significativa. O calor emitido para o
meio ambiente de trabalho pelos fornos, no processo de
carbonização da madeira, interage com o calor natural,
importante na região e o calor corporal interno, ou seja, os
deslocamentos numerosos e fatigantes levam ao aumento
do metabolismo corporal e, como decorrência, ao aumento
da produção interna de calor, explicando a intensa sudorese
observada nos trabalhadores, durante a realização do
trabalho. Na literatura especializada não foram encontrados
estudos abordando a sobrecarga térmica na produção do
carvão, em que o problema sobressai tanto na observação
direta quanto na fala dos trabalhadores. Gripes e resfriados
freqüentes são atribuídos pelos trabalhadores à exposição
às diferenças de temperatura: elevada, próximo aos fornos, e
baixa, no ambiente, nas madrugadas.

Ensacamento e transporte

A etapa de resfriamento do carvão exige um controle atento


porque este pode entrar em combustão espontânea,
causando a perda do produto. O carvão resfriado é
ensacado e/ou colocado no caminhão para ser transportado
e comercializado.

Em estudo realizado com trabalhadores de empresas de


reflorestamento e produção de carvão no Vale do Aço, em
Minas Gerais, Timóteo (1999:40) descreve a atividade de
esvaziamento dos fornos como a pior tarefa do processo,
recusada por muitos dos trabalhadores: "muitos
entrevistados disseram que se este fosse o único serviço
para se fazer, poderiam ser chamados de malandros, que
eles não trabalhariam nunca na função". Segundo o mesmo
autor, os trabalhadores consideram o "pior no trabalho com o
carvão", o esforço físico em 53,1% dos casos, seguido pela
temperatura dentro do forno por 46,9%, e pela poeira de
carvão por 44,9% dos entrevistados.

Na opinião do engenheiro responsável por uma carvoaria


industrial visitada, o carvão ideal apresenta as seguintes
características: 72% de carbono fixo, 5% de umidade e
resistência mecânica de modo que origine o mínimo possível
de "finos". Para que se alcance esta especificação, o carvão
deverá ser "carbonizado" por inteiro, garantindo suas
propriedades de resistência. Isto exige que o trabalhador
saiba analisar e interpretar os sinais da combustão da
madeira; reconhecer o carvão de boa qualidade, consoante
critérios informais como aspecto e cor, eliminando a madeira
que não cozinhou ou "tiço"; retirar o carvão com a ajuda da
pá para evitar quebra desnecessária e avaliar a necessidade
de umedecer o carvão, e o momento para fazê-lo.

No conjunto, pode-se afirmar que, apesar da aparente


simplicidade, cada uma das etapas do processo tem
embutido um "saber fazer" essencial para garantir a
qualidade do carvão. A carga de trabalho decorre das
possibilidades que o sujeito/agente trabalhador terá, de
acordo com as suas características individuais e aquelas da
organização produtiva, para evitar a intensidade e a duração
da exposição à nocividade das situações laborais, com
repercussões importantes sobre suas condições de saúde e
segurança (Echternacht, 2000).

Principais impactos sobre a saúde dos trabalhadores


carvoeiros segundo o estudo do processo de trabalho,
os registros de saúde e entrevistas com os
trabalhadores

A compreensão mais recente sobre o processo saúde-


doença dos trabalhadores rompe com a conceituação
clássica dos acidentes do trabalho e das doenças
profissionais, incluindo formas variadas de adoecimento
presentes na população em geral, que guardam distintas
relações com o trabalho, e ultrapassam a abordagem "um
risco-uma doença" (Mendes & Dias, 1999).

O estudo do perfil de morbi-mortalidade da população do


município estudado, na quase totalidade envolvida direta ou
indiretamente com a produção de carvão, foi realizado
seguindo os procedimentos anteriormente descritos. Dos 532
óbitos registrados no período assinalado, 58,6% ocorreram
em homens e 41,4% em mulheres. A média de vida foi de 54
anos para o sexo masculino e 59 para o sexo feminino,
abaixo dos índices observados no Estado de Minas Gerais.
Mais da metade dos óbitos ocorreram após os sessenta
anos. Cerca de 20,5% dos óbitos ocorreram em adultos
jovens, na faixa de 18 a 45 anos. Chama a atenção o fato de
que cerca de 49,8% dos óbitos ocorreram sem assistência
médica. Quanto às principais causas de morte, as doenças
cardiovasculares lideram, destacando-se a miocardiopatia
chagásica como a causa básica mais freqüente (12,2% de
todos os óbitos no período estudado). Em segundo lugar,
aparecem as causas externas (suicídios, homicídios e
acidentes) com 7,8% das ocorrências, sendo a maior
prevalência dos acidentes entre os 18 e 45 anos de idade
(55% dos casos de acidentes), com uma média de idade de
36 anos. Para a mortalidade infantil, contribuíram as
gastroenterites, em 24% dos casos, as doenças peri-natais,
em 24%, e as pneumonias em 18%. Em 34% dos casos, a
morte se deu por causa ignorada, revelando os baixos
padrões de vida e assistência médica à população. É
importante destacar que os dados de mortalidade infantil
sofrem importante interferência da subnotificação dos
nascimentos e dos óbitos, no município.

Entre os 7.566 pacientes atendidos pelo PSF, predominaram


os diagnósticos de acometimento de vias aéreas superiores
(14,88% dos casos); parasitoses intestinais (10,78%);
hipertensão arterial (10,47%); e as doenças do sistema
músculo-esquelético e conjuntivo com 8,22% dos casos. Os
atendimentos às gestantes representaram 8,91% das
consultas. As condições nutricionais foram analisadas com
base nas informações referentes a 676 crianças, em um
universo de 917 cadastradas pelo SISVAN, observando-se
uma taxa de desnutrição geral de 6,5% (Z-score < -2; DP =
desnutrição moderada + desnutrição grave). É interessante
notar que a incidência de desnutrição moderada a grave foi
de 25% entre filhos de carvoeiros e de 4,1% entre os filhos
de lavradores. Também os casos mais graves de
desnutrição foram observados entre os filhos de carvoeiros,
sugerindo que, a par da precariedade das condições de vida
da população como um todo, ela é ainda pior entre os
carvoeiros volantes.

Assim, os padrões de adoecimento e morte dessa população


podem ser associados à pobreza e às más condições de
vida, mas também às doenças crônico-degenerativas
próprias da "modernidade". Também estão presentes os
problemas de saúde relacionados com o trabalho,
identificados na da elaboração do Mapa de Risco na
Produção do Carvão (Dias et al., 1999).

Os riscos potenciais de traumatismos e picadas por animais


peçonhentos, sobretudo cobras, escorpiões e aranhas estão
presentes em todas as fases do processo. As falas e os
desenhos das crianças reproduzem esta observação (R. B.
Guerra, comunicação pessoal). O uso da moto-serra, além
de ferimentos e traumatismos de gravidade variável, pode
causar a perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR), contribuir
para os efeitos extra-auditivos do ruído, entre eles, a
hipertensão arterial, problemas gastrointestinais, distúrbios
de sono, além de doenças músculo-esqueléticas e
vasculares decorrentes da exposição à vibração. O
manuseio de machados e facões pode ocasionar lesões
graves, em decorrência do despreparo do trabalhador, às
vezes muito jovem, e do estado de conservação e
adequação das ferramentas.

Nas fases de preparo e enchimento do forno, foram


relatados acidentes envolvendo a queda das toras, atingindo
os trabalhadores e provocando lesões de gravidade variável,
de simples escoriações a traumatismos graves e fraturas. O
esforço físico excessivo e o trabalho em posições forçadas,
bem caracterizados pela análise ergonômica, estão
presentes em todas as etapas do processo de trabalho.
Como assinalado anteriormente, em 41 minutos e 24
segundos, o trabalhador transportou cerca de 7.357kg para
encher o forno, realizando movimentos repetitivos de torção
e flexão do tronco.

A retirada do carvão do forno configura uma situação crítica,


observando-se um sinergismo entre o esforço físico
despendido, a repetitividade dos movimentos, as condições
climáticas adversas, a exposição a altas temperaturas e a
falta de condições mínimas de higiene e conforto. As queixas
de lombalgias e problemas relacionados à coluna vertebral
são muito freqüentes. Os problemas lombares aparecem
como a segunda causa de demanda de consulta médica na
rede de serviços de saúde, sendo expressivo o número de
trabalhadores precocemente incapacitados para o trabalho.
O esforço físico intenso e continuado, particularmente em
jovens, é responsável pelo desenvolvimento de hérnias
inguinais e escrotais, observação confirmada na literatura
(Marcondes et al., 1992).

A fumaça que sai dos fornos irrita os olhos e as vias aéreas


superiores, impregnando a pele e tudo que está ao redor. No
processo de carbonização da madeira são produzidos
subprodutos da pirólise e da combustão incompleta, como o
ácido pirolenhoso, gases de combustão, Alcatrão, Metanol,
Ácido Acético, Metanol, Acetona, Acetato de Metila, Piche,
Dióxido de Carbono, Monóxido de Carbono, Metano, que
escapam dos fornos através dos orifícios (Guerra, 1995) e
podem provocar lesões das vias aéreas e intoxicação.
Possíveis efeitos neurológicos e hematológicos,
teratogênicos e carcinogênicos dessas substâncias,
descritos na literatura necessitam ser mais bem
investigados.
Resumidamente, o trabalho nas carvoarias expõe os
trabalhadores a relações de trabalho injustas e instáveis,
sem garantia dos direitos trabalhistas básicos, como jornada
de trabalho definida, repouso semanal, férias, seguro social
e de acidente do trabalho. As condições de trabalho são
inadequadas, sem o mínimo conforto, os equipamentos e
instrumentos de trabalho são arcaicos e/ou sem proteção, o
trabalho é monótono e sob tensão, sobremaneira, na fase de
"vigiar" o forno. As exigências de grande esforço físico, a
exposição ao ruído e vibração pelo uso da moto-serra, à
radiação solar excessiva, ao calor emitido pelos fornos, às
substâncias químicas produzidas na combustão da madeira
e à picada por animais peçonhentos são algumas das
condições de risco para saúde identificadas no estudo.
Considerando a fase de crescimento e desenvolvimento
biológico e emocional das crianças e adolescentes
trabalhadores, a exposição a essas condições de risco, sem
a adoção de medidas de controle ou de segurança poderá
comprometer sua saúde de modo irreversível (Assunção et
al., 2001; Forastieri, 1997).

À guisa de conclusão

É difícil falar de conclusões em um estudo dessa natureza.


Pode-se simplesmente propor que a atividade carvoeira
nessa modalidade seja extinta, pois é intolerável que
adolescentes ou crianças, homens e mulheres vivam e
trabalhem sob as condições observadas. A consciência de
que o Brasil exporta com o ferro gusa, a biodiversidade do
Cerrado, madeira, o trabalho e a saúde dos trabalhadores,
incluindo crianças e adolescentes deve nortear uma melhor
distribuição dos lucros na cadeia produtiva do aço e
reordenar os processos produtivos de modo a minimizar ou
abolir algumas de suas conseqüências negativas, na direção
de um desenvolvimento humano sustentável (Schaefer,
1994).

A realidade é complexa e convoca ao esforço de


aprofundamento da questão e à busca de soluções. Entre os
desafios está o de se conseguir melhorar as condições de
trabalho, pela mecanização das fases mais agressivas,
protegendo, contudo, o emprego e os trabalhadores (Zuchi,
2001). Quanto às crianças e adolescentes, para além da
atuação de fiscalização e punição das transgressões da lei,
são necessários programas específicos como o da "bolsa-
escola" e outros similares, que permitam às famílias que
vivem em situação de carência extrema "liberar" seus filhos
para o estudo, dando-lhes outra perspectiva de vida, como
assinalam Minayo-Gomez & Meirelles (1997).

Além dessas e de outras iniciativas no campo da saúde e


educação, são necessárias políticas públicas de mais longo
alcance capazes de corrigir os efeitos deletérios do
"desenvolvimento" da produção de carvão vegetal em Minas
Gerais, que destroem o cerrado, restringem as alternativas
econômicas para os pequenos agricultores e alimentam a
exclusão social.

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Radiologia Brasileira
versionPrint ISSN 0100-3984

Radiol Bras vol.34 no.1 São Paulo Jan./Feb. 2001

doi: 10.1590/S0100-39842001000100003 
Artigo Original

SILICOSE: CORRELAÇÃO DA TOMOGRAFIA


COMPUTADORIZADA DE ALTA RESOLUÇÃO COM A
ANATOMOPATOLOGIA*

Edson Marchiori1, Maria Cecília Heluy Dantas2, Luiz Felipe


Nobre3

 
Resumo
Neste trabalho foram analisados os padrões observados nas
tomografias computadorizadas de alta resolução do tórax de
20 pacientes com silicose, e correlacionados com os
achados anatomopatológicos de cinco pacientes. O principal
aspecto observado foram os nódulos, com distribuição
randômica, na maior parte dos casos com confluência,
fazendo, por vezes, massas conglomeradas. Eles
predominaram nos terços superiores dos pulmões, nas
regiões posteriores. Outro achado importante foi o enfisema.
Unitermos: Silicose. Tomografia computadorizada de alta
resolução. Anatomopatologia.

Silicosis: high-resolution computed


tomography¾anatomopathological correlation.

Abstract
The authors analyzed the patterns observed on the high-
resolution computed tomography scans of the chest of 20
patients with silicosis and correlated them with the
anatomopathological findings of five patients. The most
common findings were randomly distributed nodules that
were confluent in most cases, and at times formed
conglomerate masses, predominantly in the upper and
posterior lung regions. Emphysema was also another
important finding.
Key words: Silicosis. High-resolution computed tomography.
Anatomopathology.

INTRODUÇÃO

A silicose é uma doença pulmonar causada por inalação de


sílica ou de poeiras minerais contendo silicatos, e ocorre em
trabalhadores de grande variedade de indústrias(1).
Nos anos recentes, tem-se tornado claro que a fibrose
pulmonar associada à inalação de partículas inorgânicas é o
estádio final de um longo processo inflamatório crônico,
iniciado pela retenção de partículas minerais biologicamente
ativas no tecido pulmonar(2,3).

A doença se apresenta, clinicamente, com formas e graus de


gravidade diferentes, dependendo da intensidade e duração
da exposição, da natureza da partícula de sílica inalada, da
presença ou não de materiais orgânicos ou inorgânicos na
poeira, e da associação com a tuberculose(4).

A silicose nodular, ou pura, ocorre na forma crônica com 20


ou mais anos de exposição, e na forma acelerada em cinco a
dez anos, com exposição mais pesada. Os achados
patológicos são os mesmos, caracterizados pela presença
de pequenos nódulos, predominantemente nas regiões
superiores dos pulmões(5).

Níveis extremamente elevados de exposição podem resultar


em silicose acelerada ou em silicose aguda (silicoproteinose)
(3)
.

O diagnóstico de silicose requer a combinação de história de


exposição à sílica e achados característicos nas radiografias
do tórax(6,7).

Embora, de maneira geral, o estudo radiológico desses


pacientes seja feito com radiografias convencionais, a
tomografia computadorizada (TC), especialmente a de alta
resolução (TCAR), pode dar informações adicionais
importantes, tanto na detecção precoce de pequenas
opacidades quanto no estadiamento da doença e na
identificação de possíveis complicações(8).

Neste trabalho são correlacionados os aspectos observados


nas TCARs com os achados anatomopatológicos..de 100%.

 
RESULTADOS

Foram analisadas as TCARs de 20 pacientes com silicose


clássica, atendidos nos Hospitais Universitários Clementino
Fraga Filho, da UFRJ, e Antônio Pedro, da UFF. Foi feita
também correlação com os aspectos anatomopatológicos
observados em material de biópsia cirúrgica ou de necrópsia
obtidos de cinco pacientes. Todos eram do sexo masculino e
a idade variou de 30 a 67 anos, com média de 53 anos.

Pequenos nódulos, menores que 1 cm, foram observados


nos 20 pacientes, em geral bem definidos, com distribuição
randômica, porém comprometendo a região subpleural com
elevada freqüência (65%), por vezes formando placas nesta
região, simulando espessamento pleural. Confluência dos
nódulos foi vista em 85% dos casos, em alguns pacientes
formando massas conglomeradas. Os nódulos, de maneira
geral, predominaram nos terços superiores dos pulmões, nas
regiões posteriores (Figuras 1, 2 e 3).

 
 
Na patologia, os nódulos predominam nas regiões
peribroncovasculares, podendo ser compostos apenas por
elementos celulares, ou serem fibróticos, hialinizados. A
confluência, em geral, se deve à fibrose na sua periferia, se
estendendo ao longo dos septos alveolares, unindo nódulos
adjacentes.

Enfisema associado foi visto em 50% dos casos (Figura 4).


Outro achado freqüente, porém pouco específico, foi o
espessamento pleural, em geral com aderências para o
pulmão.

 
 
Naqueles pacientes em que cortes foram obtidos com janela
para mediastino, um achado comum foram as calcificações
linfonodais. Alguns casos apresentavam, também,
calcificações nas massas conglomeradas.

DISCUSSÃO

Após a exposição à poeira de sílica, partículas aspiradas de


1 a 2 mm entram nos bronquíolos terminais e ácinos, embora
a maior parte delas seja removida no ar expirado e pelo
sistema mucociliar. Outras são carregadas para os linfáticos,
possivelmente pelos macrófagos(1).

Os estádios iniciais da reação pulmonar à deposição de


poeira inorgânica são caracterizados pela ativação e
acúmulo excessivo de macrófagos no tecido broncoalveolar
periférico. A inalação de sílica produz acúmulo nodular,
freqüentemente peribroncovascular, de macrófagos e
linfócitos nos espaços alveolares(2,3). Os macrófagos geram
proteínas fibrogênicas e fatores de crescimento, que
estimulam a formação de colágeno(1,5). Não há evidência
direta de mecanismos imunológicos na patogênese da
doença(1,5). Posteriormente, o processo se torna menos
inflamatório, com fibroblastos se acumulando nos nódulos e
depositando grandes quantidades de colágeno e
reticulina(2,3).

Dessa forma, a lesão morfológica típica é o nódulo silicótico,


que começa como coleção de macrófagos carregados de
poeira, com fibras reticulínicas, localizados no interstício,
próximos a bronquíolos respiratórios e vasos pulmonares, e
subpleurais. Com o desenvolvimento do nódulo, a área
central se torna colagenizada, com arranjo concêntrico deste
material, que lembra camadas de uma cebola. A zona central
do nódulo pode se tornar hialinizada, necrótica, ou calcificar.
As porções centrais são em geral acelulares e avasculares,
embora a periferia mostre macrófagos e linfócitos, e outras
células inflamatórias(1,4).

Pequenas partículas birrefringentes, polarizadas, redondas


ou ovais, são freqüentemente vistas dentro dos nódulos. Sua
presença ajuda a confirmar o diagnóstico, mas podem estar
ausentes, e não são específicas de silicose(5).

Com a inalação de baixas concentrações, as partículas se


acumulam nos linfócitos e linfonodos regionais, onde nódulos
esparsos gradualmente se desenvolvem por prolongados
períodos(1).

Na TCAR, o achado típico na silicose são pequenos nódulos


centrolobulares, em geral redondos, embora, em muitos
casos, pequenas opacidades irregulares tenham sido
relatadas(9). Estes nódulos podem calcificar(4,6) e, em geral,
predominam nas zonas superiores dos pulmões(4,6,7), mais
numerosos nas regiões posteriores(6,7). Qualquer que seja a
gravidade da doença, o predomínio das lesões nos lobos
superiores pode ser explicado por princípios fisiológicos de
drenagem linfática pulmonar. Como a doença se deve à
incapacidade do organismo de degradar e remover as
partículas de poeira, as zonas com fluxo linfático mais
deficiente são as mais gravemente afetadas. Estes dados
permitem entender por que as reações mais intensas
ocorrem nos lobos superiores, especialmente nas regiões
posteriores, onde a depuração linfática é mais deficiente(10).

Nódulos ocorrendo em relação a septos interlobulares


espessados, como vistos na linfangite e na sarcoidose, são
poucos ou ausentes(6).

Na classificação ILO, as pequenas opacidades redondas são


classificadas em p (menor que 1,5 mm), q (entre 1,5 e 3 mm)
e r (entre 3 e 10 mm)(11). Na silicose simples, embora os
nódulos variem de tamanho, por definição todos têm menos
que 1 cm de diâmetro(3,7). Nódulos maiores que 1 cm são
classificados como silicose complicada(3). Doença mais grave
é vista na TCAR como um aumento do número e do
tamanho dos nódulos(6,7).

Na silicose complicada, os nódulos continuam a crescer e se


tornam coalescentes, formando grandes massas de tecido
hialinizado. Este aspecto é chamado de fibrose maciça
progressiva(4). Um achado comum é a presença de
calcificações esparsas nas massas(4). Estas grandes massas
podem distorcer estruturas mediastinais ou hilares, com
redução de volume dos lobos superiores e retração superior
dos hilos. Podem surgir formações bolhosas com ruptura e
pneumotórax(4,7). Na TCAR, o achado mais importante é o de
grandes opacidades, associadas a estrias no parênquima
adjacente e alterações bolhosas. Elas tendem a ocorrer nas
regiões médias ou na periferia dos lobos superiores, e
"migrar" para os hilos, deixando espaços enfisematosos
entre as massas e a pleura(6). Estas massas podem sofrer
necrose e cavitação(6).

Reconhecimento precoce de coalescência é importante,


porque ela constitui substituição de tecido pulmonar
normalmente aerado por massa de tecido fibroso sem
função, e se associa com o aparecimento de sintomas
respiratórios, levando à deterioração da função pulmonar.
Esta forma complicada da silicose tem pior prognóstico que a
forma simples. Além disso, essas massas têm diagnóstico
diferencial a ser feito com tuberculose e câncer brônquico(8).

A superfície pleural dos pulmões freqüentemente revela


fibrose focal, associada com nódulos silicóticos.
Macroscopicamente, assemelha-se a pingos de vela.
Microscopicamente, tem as características do nódulo
silicótico, e eventualmente confluem, formando placas(1).

As lesões das pneumoconioses são causadas pela


incapacidade do sistema linfático em remover partículas. Os
nódulos subpleurais se relacionam ao sistema linfático
subpleural. A presença de micronódulos subpleurais em
fumantes sadios também sugere uma relação com o sistema
de drenagem do pulmão. Nódulos subpleurais não têm valor
diagnóstico quando são achados isolados na TCAR, mas
associados a alterações parenquimatosas podem sugerir os
diagnósticos de pneumoconiose, linfangite carcinomatosa ou
sarcoidose(12).

Os linfonodos hilares e/ou mediastinais podem estar


comprometidos, apresentando calcificações com aspecto de
"casca de ovo"(4,6).

A complicação mais importante da silicose é o


desenvolvimento de tuberculose(4,5). Se a tuberculose se
associa ao processo, necrose com caseificação e células
gigantes podem aparecer, com o bacilo sendo demonstrado
por colorações especiais(4). Necrose central, embora possa
resultar de isquemia, em geral sugere micobacteriose
associada(5).

O nódulo silicótico simples é lesão progressivamente


expansiva, que pode comprimir e estreitar os bronquíolos
respiratórios. Os espaços aéreos adjacentes são, em geral,
normais. Freqüentemente, espaços aéreos irregulares
alargados se associam a nódulos e cicatrizes(1).

Bégin et al.(13) encontraram elevada incidência de enfisema


pulmonar em pacientes com silicose suave (0 e 1),
associado a disfunção pulmonar. Isto estava relacionado ao
fato de serem fumantes. A exposição à sílica se associa a
alta prevalência de enfisema em fumante, maior que na
exposição ao asbesto. Está bem demonstrado que na
silicose as anormalidades na função pulmonar estão mais
relacionadas ao enfisema que à profusão de nódulos(8).

Alterações enfisematosas difusas, consistindo de pequenas


bolhas e áreas de baixa atenuação, são vistas tanto em
pacientes com muitos nódulos quanto nos com nódulos
esparsos(7). Tem sido sugerido que os pacientes com
nódulos tipo p têm mais enfisema focal que os outros(11).
Estes achados correspondem à fibrose irregular em torno
dos bronquíolos respiratórios, com enfisema adjacente. Com
a contração do nódulo, um halo de enfisema focal se forma
em torno dele, na região centrolobular. Na TCAR, o aspecto
é semelhante a enfisema centrolobular verdadeiro, podendo,
em algumas áreas, ser observado um ponto central, que
corresponde ao nódulo(6,11).

Um diagnóstico diferencial bastante difícil é com a


pneumoconiose dos trabalhadores com carvão, que resulta
de exposição a altas concentrações de poeira de carvão,
contendo baixo porcentual de sílica. Macroscopicamente, as
lesões têm distribuição similar à silicose, explicando a
impossibilidade de distinção radiológica entre ambas(6,10).

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* Trabalho realizado no Departamento de Radiologia da


Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, RJ, e no
Serviço de Radiodiagnóstico do Hospital Universitário
Clementino Fraga Filho (HUCFF) da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ.
1. Professor Titular de Radiologia da UFF, Coordenador
Adjunto do Curso de Pós-graduação em Radiologia da
UFRJ.
2. Ex-Médica Residente do HUCFF-UFRJ.
3. Professor Auxiliar de Radiologia da Universidade Federal
de Santa Catarina, Florianópolis, SC.
Endereço para correspondência: Prof. Dr. Edson Marchiori.
Rua Thomaz Cameron, 438, Valparaíso. Petrópolis, RJ,
25685-120
Aceito para publicação em 24/7/2000.

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