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Norbert Elias, foi um sociólogo alemão de origem judaica, que procurou desmontar a
ideia de que existem dominadores e dominados puros, mas sim grupos/ordens
sociais que estão em constante competição pelo prestígio, na esfera absolutista. Na
obra “A sociedade de corte”, Elias analisa as relações sociais presentes nas
sociedades do Antigo Regime. O seu recorte temporal são os séculos XVII e XVIII,
onde se aprofunda o surgimento de uma cultura cortesã. O recorte espacial da obra
delimita-se na corte do Rei francês Luís XIV, conhecido como o Rei Sol. No capítulo
V, analisa-se todas as relações sociais da classe privilegiada francesa, bem como as
competições que estes se envolviam, isto é, “a batalha pela posição dentro da
hierarquia de corte” (pág.108). Para Elias, o motor da história na sociedade de corte
são as disputas pelo poder e a camuflagem de emoções que envolviam o rei e a
nobreza. Assim, o autor usa e abusa da teoria configuracional, que ele próprio
desenvolvera para ressalvar a interdependência entre os indivíduos.
Num primeiro momento o autor revela que o rei não admitia relações fora do círculo
cortesão, “o rei não aprovava (…) a fragmentação do convívio social e a constituição
de círculos fora da corte” (pág.97), uma vez que para ele a corte era o único e
principal centro de vida dos cortesãos, embora fosse quase impossível evitar esses
relacionamentos exteriores. Portanto, o “monde” deste reinado era uma formação
social extremamente rígida e coerente, pois todos ocupavam posições distintas, de
acordo com vários aspectos que irão ser referidos posteriormente. Esta forma de
governação, viu a sua queda mais tarde devido ao “aumento da riqueza nas mãos
dos burgueses” e às “tempestades da revolução” (pág.98), que deterioraram
definitivamente a estrutura social francesa. A corte era o principal palco deste teatro
cortesão, que para além de ser “um complexo capaz de abrigar milhares de
homens”(pág.98), era um local onde a vida nada tinha haver com os habitantes de
uma sociedade, aqui prevalecia o exagero e a ostentação monstruosa de tudo,
aspectos que levaram aos esvaziamentos dos bolsos aristocráticos, que passaram a
depender das mercês do rei, o que o deixava satisfeito, “Luís XIV gostava de ver os
nobres morando sob o seu teto, e alegrava-se quando lhe pediam um aposente em
Versalhes”. (pág.98)
Trabalho realizado por: Bárbara Magalhães
Lousada, Março 2022
Resenha “Sociedade de Corte”, de Norbert Elias
Norbert Elias dá um verdadeiro show no que diz respeito à descrição mais acertada
da corte de Versalhes, “A vida da corte é um jogo sério, melancólico, que exige
muito” (pág.120),não era de todo um ambiente pacífico ou estagnado, pois quem se
encontrava numa posição elevada hoje podia sofrer uma queda no dia seguinte.
Assim, nasce a arte de observar as pessoas que era essencial, porque era
necessário um auto-conhecimento pessoal quase exímio de cada um, a fim de
perceber as suas verdadeiras paixões para ser capaz de disseminá-las. Para além
disso, interessava aos membros da sociedade de corte estar constantemente em
alerta a cada passo dos seus semelhantes e aos seus também, ou seja, cada
indivíduo não devia revelar os seus sentimentos em relação a outros indivíduos, pois
isso, além de não ir de acordo com a etiqueta vigente à época, poderia resultar
numa fragilidade que os demais iriam certamente aproveitar. A arte de lidar com as
pessoas, foi outro tópico determinante na perspectiva de Norbert, os cortesãos
deveriam calcular previamente a sua forma de agir, quer perante o rei, quer perante
o resto da “corte de salão”, encarando qualquer tipo de situação de forma educada e
séria mas não arrogante. Uma das máximas defendidas para que esta arte surtisse
efeito era, “nunca falar de si próprio” (pág.124), dado que os assuntos pessoais
impulsionam mais facilmente a parte emotiva das pessoas, revelando sentimentos o
que não era pressuposto naquela época.