Você está na página 1de 6

INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS DE LITERATURA PORTUGUESA

TEATRO VICENTINO

1
Leticia N.Jansen
2
Dra.Mariana Alves

Bom dia, me chamo Leticia Jansen, sou graduanda em Letras com licenciatura

plena em lingua portuguesa e francesa na Universidade Federal do Amapá –

UNIFAP. Meu tema proposto para discursão é o Teatro Vicentino, tendo como

principal fonte de pesquisa a obra História Crítica da Literatura Portuguesa

volume-ll de José Augusto Bernardes. Para compreender o papel e a

importancia das obras vicentinas, faz-se nescessario elucidar quem foi Gil

Vicente.

Poeta de corte, Gil Vicente depende do Rei que assegura a ordem e a


harmonia no reino apoiando-se na Religião, detentora da verdade em
todas as coisas(...) o homem de letras deve tudo ao senhor, cuja
ideologia exprime obrigatoriamente um conjunto de esquemas
intelectuais e discursivos preenchendo uma função social de
legitimação da ordem. (BERNARDES,1999.Os Sentidos e as
Circunstâncias da Obra Vicentina p.104)

Em um contexto histórico onde o humanismo estava acontecendo em Portugal,

surge o poeta. É esperado deste, obras que sigam a ideologia mantida pela

1
Graduanda em Letras licenciatura plena em língua portuguesa e francesa na Universidade Federal do
Amapá – UNIFAP.
ticiajansen2020@gmail.com
2
Professora de Teoria Literária e Literaturas em língua portuguesa na Universidade Federal do Amapá –
UNIFAP.
marianaalves@unifap.br
monarquia, ideologia essa que se apoia na religião e nos princípios intelectuais

que reforcem a “ordem”.

(...)a ordem e a harmonia que o monarca garante devem


evidentemente prevalecer no corpo social do reino. Quanto a este
ponto, Gil Vicente exprimiu muitas vezes o seu pensamento. A ideia
central é a de que a ordem social é um bem e que não deve ser
alterada, Cada ser humano deve procurar a salvação que Deus lhe
destinou. (BERNARDES,1999.Os Sentidos e as Circunstâncias
da Obra Vicentina.p.106-107)

Gil Vicente usa esse aspecto da sociedade da época de modo satírico em suas

obras. A ideia de “Ordem” e de “Vontade Divina” nada mais eram do os pilares

que sustentavam a concepção de um engessamento social, ou seja, a vida de

um indivíduo deveria ser vivida em todos os aspectos dentro da camada social

na qual este havia nascido. Então não se devia almejar uma ascensão, e sim

aceitar a sua condição como “o destino que Deus lhes traçou”, e apenas

interpretar o papel que lhe fosse incumbido. O artesão, o camponês, o burguês

e assim sucessivamente. Na Farsa dos Almocreves, Gil Vicente elucida esses

“papeis”, trazendo uma moral sobre o conformismo e a resignação referentes a

essa dita “ordem e harmonia”, “Conforma-te co que Deus quer e do siso faz

espelho(...)”. É nesse contexto que os princípios vituperados por Gil Vicente

mostram que todos os que negam esta regra referente à ordem são vistos

como figuras ridículas, como o Velho apaixonado de O Velho da Horta. “Não

vedes que sois já morto e andais contra natura?”. A ordem e a harmonia que

garantem o domínio social ao monarca, apoiam-se na moral e na religião. O

dramaturgo tinha uma fé religiosa sincera e profunda, e um conhecimento

preciso das doutrinas, bem como leituras fartas dos textos sagrados, contudo,

não era um mestre ou doutor, então em suas obras transmitia o que ao seu ver,

era essencial. Não se tem de fato muitas certezas sobre a vida do poeta
português, contudo é interessante destacar que as circunstâncias o levaram a

ser protegido da rainha D. Leonor (1458-1525), que era esposa de D.João lll. O

Sr.Vicente, tinha duas designações importantes, a primeira enquanto ourives, e

a segunda como animador das festas e saraus que ocorriam na corte. A

segunda designação, embora pareça talvez pequena e de menor valor em

comparação à primeira, permitiu ao dramaturgo uma posição que lhe

proporcionava a oportunidade de divertir e celebrar através de um humor

crítico, ou seja, a sátira, que mais adiante se tornará uma característica

clássica do teatro vicentino. Em outras palavras, as obras de Gil Vicente faziam

rir e refletir o mesmo público a quem criticava, usando as ideias de moralidade

e imoralidade, bem e mal e principalmente as noções religiosas relacionadas a

esses temas. Em primeiro instante as obras do dramaturgo se dirigiam ao

público pertencente ao palácio, isto é a nobreza, cortesãos e toda a alta

sociedade.

Dirigidas em primeiro instância ao público cortesão, as peças de Gil


Vicente inscrevem-se assim no âmbito mais geral do convívio
palaciano, tendo sido escritas e representadas sob o pretextos que se
relacionavam expressamente com o ciclo da vida civil e religiosa
poderiam citar-se a este respeito destacam-se o caso da Nau de
Amores(...)para além da celebração do nascimento ou dos esponsais
de príncipes e princesas e da sua consequente aclamação pelos
súbditos, os autos vicentinos centraram-se ainda nos grandes marcos
do calendário litúrgico que são o Natal e a Páscoa Algumas vezes,
essas circunstâncias representam mais do que um simples Dirigidas
em primeiro instância ao público cortesão, as peças de Gil Vicente
inscrevem- se assim no âmbito mais geral do convívio palaciano,
tendo sido escritas e representadas sob o pretextos que se
relacionavam expressamente com o ciclo da vida civil e religiosa
poderiam citar-se a este respeito destacam-se o caso da Nau de
Amores(...)para além da celebração do nascimento ou dos esponsais
de príncipes e princesas e da sua consequente aclamação pelos
súbditos, os autos vicentinos

Neste momento torna-se perceptível o aparecimento de alguns aspectos

clássicos da obra Vicentina, como um período de transição. Na peça Nau de


Amores que foi apresentada em um momento festivo, onde se dava as boas-

vindas a rainha D.Catarina recém chegada a Lisboa, fez-se presente marcas

icônicas do teatro Vicentino, como o claro destaque para as temáticas "amor e

loucura" Outro aspecto importante da obra vicentina é o uso de personagens,

temáticas e conceitos religiosos, como na Barca da Glória, apresentada na

Páscoa de 1519, a peça descome sobre o julgamento post morten, a

julgamento após a morte de grandes figuras de autoridade e poder na

sociedade, não só políticos como eclesiásticos (Conde, Duque, Imperador, Rei,

Bispo, Arcebispo e Papa), personagens que aparentemente deveriam manter

uma alta moral e ética, mas que após chegarem no momento do seu juramento

são confrontados pelos seus pecados. Essa é uma peça que já carrega em si

um ar satírico, com a presença de personagens como o Anjo e o Demônio,

assim como a discussão de temas como pecado e redenção, que por sua vez,

ainda se farão muito presentes nas obras futuras do dramaturgo.

Outro fato importante a ser destacado seria que apesar de serem

características principais da obra vicentina, a sátira e a crítica não se mostram

presentes quando dizem respeito ao setor político, na verdade é possível ver

justamente o contrário no Auto da Fama, uma obra que glorifica e enaltece a

monarquia e as ações do Monarca. Apesar de Gil Vicente, começar a mostrar

atitudes mais libertas na carta mandada a D. João lll, após os tremores de terra

no Rio de Janeiro 1553. Após os frades terem levado a população a ficar contra

os cristãos-novos, convencendo-os de que o desastre era resultado da ira

divina, Gil Vicente convoco-os no mosteiro franciscano e os conduziu a um

pensamento racional, tal atitude não mostrava a temeridade correta e esperada

aos planos e conceitos do Monarca.


Com a pessoa do Monarca, é a sua acçao e sua política que importa
celebrar e glorificar a este "discurso de glória” mantém-se na maioria
dos casos. O Auto da Fama é inteiramente consagrado a isso(...) é
em vão que se procura na obra de Gil Vicente uma crítica à política
real. O lançamento da sátira, que adiante estudaremos, não atinge
esse setor. No entanto, vários críticos julgaram ver a expressão duma
atitude mais independente na carta que Gil Vicente escreveu a
D.João lll. (BERNARDES,1999,Os Sentidos e as Circunstâncias
da Obra Vicentina.p.105)

Doravante, Gil Vicente começa a voltar o seu olhar para fora do palácio, para a

sociedade que o cercava bem como para as suas incoerência, hipocrisias e

mazelas, nos avanços de uma sociedade em processo de mudança não só

econômico como social.

(...)no seu conjunto, a sátira vicentina concentra-se na mudança rápida


e geral dos costumes e dos valores, estando sobretudo em causa a
miragem da ascensão social e econômica e a empreender face ao
desmoronamento dos valores que caracterizam o Portugal
economicamente agrário(...) é este o quadro socialmente verossímil
em que se movem os protagonistas vicentinos. Verossímil é ainda
também o conflito de valores retratado em um conjunto numeroso de
diálogos entre novos e velhos.
(BERNARDES,1999,Introdução.p.80)

Neste contexto, Portugal passava por um período de mudanças

socioeconômicas, com a expansão marítima e comercial. Grande parte dos

aspectos que compunham a obra vicentina resultaram da adaptação do teatro

tardo-medieval e dessa mudança de realidade da época, de um modo geral, a

sátira vicentina explora as mudanças rápidas dos valores na sociedade. Um

exemplo bem claro é o Auto da Índia, que tem como tema central a infidelidade

feminina, resultante da ausência de um marido que participa de longas viagens

marítimas em busca de riquezas. Cenário comum em Portugal na época, o

mesmo pode ser visto em outras obras, que utilizam de temas recorrentes na

sociedade portuguesa, "A vinculação do teatro Vicentino à realidade social da

época tem sido constantemente sublinhada por historiadores (Hermano

Saraiva, 1979 e Gracês, 1990,)”, um exemplo de tal afirmação é a famosa farsa


Quem Tem Farelos (uma denominação interessantíssima, pois a crítica satírica

que faz alusão a realidade social começa a fazer-se presente no próprio título)

tratando da falsa pompa e ostentação dos escudeiros, ou Almocreves que traz

em voga o seguinte tema: nobres falidos . O ponto em comum entre todas

essas obras é a retratação da realidade social através da sátira. É com essas

características e em meio a esse cenário que nasce o Teatro Vicentino,

apresentado nas ruas, praças e mercados, em um ambiente fora da igreja.

É desse teatro profano, quem nascem os famosos autos de Gil Vicente: O

Auto da Barca, Auto do Inferno e o Auto da Alma, uma característica dos autos

são os personagens “tipo”. Personas sem nome ou muita singularidade que

que tinham por objetivo representar as figuras da sociedade. Essas obras

criticavam a sociedade, a religião e próprio ser humano, trazendo reflexões e

conflitos existencialistas sejam eles humanos ou religiosos que ainda cabem

em discursões na atualidade

Você também pode gostar