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RESUMO
Introdução: A utilização de antimicrobianos (ATM) em ambientes hospitalares
e na comunidade tem tido um aumento significativo. O uso inadequado aponta
lacunas acerca de ações de prevenção e controle de infecções. Essa situação pode
levar à resistência antimicrobiana, elevação de custos, tangíveis e intangíveis, como
a morbimortalidade. Assim, é preciso estabelecer barreiras de proteção, como a
Dose Diária Definida (DDD), uma estratégia de controle voltada para diminuir os
excessos e cuidar da gestão de uso de antimicrobianos. Objetivo: Identificar o perfil
dos ATM de acordo com a DDD, utilizados em um Hospital de Ensino em Goiás, no
período de 2018 a 2021. Método: Estudo transversal e analítico sobre a DDD dos
ATM usados em pacientes na UTI adulto, de um Hospital de Ensino no estado de
Goiás. Realizada coleta dos dados secundários no SCIRAS a partir de relatórios de
consumo de ATM do período de 2018 a 2021. Os aspectos éticos foram observados
de acordo com o protocolo de aprovação nº 1269485/20. Resultados: Dentre os
ATM analisados, o Meropenem, da classe dos carbapenêmicos foi o ATM mais
utilizado, obtendo uma tendência crescente, não sendo estatisticamente significante,
porém, contrapondo este cenário a Cefepima da classe das cefalosporinas
apresentou um declínio estatisticamente significativo no consumo durante os anos.
Conclusão: O programa de gerenciamento de antimicrobianos preconizado no
Brasil e implementado no Hospital de ensino é a DDD, considerada uma estratégia
bem estruturada e articulada. Essa teve impacto significativo no controle e
prevenção das IRAS, pois foi possível verificar a manutenção das DDD no período
estudado e encontra-se de acordo com a definição da Anvisa.
Descritores: Antimicrobianos; Dose diária definida; Prevenção; Gestão de
antimicrobianos; Manejo de antimicrobianos.
APRESENTAÇÃO
A utilização de antimicrobianos (ATM) em ambientes hospitalares e na
comunidade tem tido um aumento significativo e com isso, o aumento da resistência
antimicrobiana (RAM). Devido a este fato, atualmente a RAM é considerada um
problema de saúde pública e um dos fatores de destaque para esse problema, é o
uso inadequado de antimicrobianos (ALVIM, 2019).
O uso inadequado de antimicrobianos, mostra que há uma falta de cuidado
dos profissionais em relação às medidas de prevenção e controle de infecções e
como consequência pode acarretar uma RAM, elevação de custos e
morbimortalidade (ANVISA, 2007). Consoante a isto, Souza; Baroni e Roese (2017)
apontam sérias consequências em relação ao uso inadequado, como: efeito
terapêutico insuficiente, reações adversas, farmacodependência, aumento da
resistência bacteriana e redução da qualidade.
Segundo Brasil (2019) as consequências geradas pela resistência antimicrobiana
sejam elas diretas ou indiretas, comprometem o paciente e a população e com isso:
“estima-se que no ano de 2050, caso não sejam tomadas ações efetivas para
controlar os avanços da resistência aos antimicrobianos, uma pessoa morrerá a
cada três segundos, o que representará 10 milhões de óbitos por ano.”
Por esta razão, visando a prevenção e controle de infecções, há a
recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2020) para a
implementação de Programa de Gerenciamento de Uso de antimicrobianos (PGA)
conhecido como Antimicrobial Stewardship Programs (ASP) e definido pela
organização como “[...] um conjunto integrado de intervenções, baseadas em
evidências, que promovem o uso consciente e adequado de antimicrobianos”
(BRASIL, 2021).
No Brasil o uso da Dose Diária Definida (DDD), é a preconizada pela OMS a
qual é considerada uma estratégia de controle com a obtenção de estatística acerca
do consumo de medicamentos, visando a análise da racionalidade do mesmo e
assim, fornece uma base para uniformização do sistema de assistência à saúde. O
DDD é uma medida de consumo de medicamentos, criada para superar as
dificuldades derivadas da utilização de mais de um tipo de medicamento, sendo uma
unidade técnica internacional, com isso, os serviços de saúde se tornam
responsáveis pela notificação de DDD, avaliação do perfil e a tendência do uso de
antimicrobianos preconizado pela Agência Nacional de Vigilância à Saúde (ANVISA,
2008).
O presente estudo tem o intuito de realizar um diagnóstico da situação do uso
de antimicrobianos, bem como levantar indicadores que possam influenciar na
tomada de decisão. Tem como objetivo, identificar o perfil de DDD dos
antimicrobianos em um Hospital de Ensino e verificar os fatores de risco para a
resistência antimicrobiana.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de delineamento transversal e analítico realizado em
um Hospital de Ensino no Estado de Goiás, sobre o consumo de antimicrobianos na
Unidade de Terapia Intensiva Adulto que contém 14 leitos, no período de 2018 a
2021.
A amostra do estudo foi composta por dados secundários do banco de dados
sobre o uso de antimicrobianos, do Serviço de Controle de Infecção Relacionada à
Assistência à Saúde (SCIRAS). Para a obtenção dos dados foram realizadas três
etapas. Na primeira os dados foram extraídos de fichas de notificação de Doses
Diárias Definidas (DDD) e relatórios de consumo de material farmacológico do
SCIRAS do Hospital de Ensino. Na segunda etapa os dados foram analisados a
partir da planilha disponibilizada pela Anvisa para a notificação de DDD, assim,
calculando o consumo de antimicrobianos utilizando a fórmula:
DDD/1000 pacientes-dia= A / B
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Anvisa (2021) tornou obrigatória a notificação da Dose diária definida dos
seguintes ATM: Amicacina, Ampicilina-sulbactam (base sulbactam), Anfotericina B,
Anfotericina B Lipossomal, Anidulafungina, Caspofungina, Cefepima, Cefotaxima,
Ceftazidima, Ceftazidima-avibactam (base ceftazidima), Ceftolozana-tazobactam
(base ceftolozana), Ceftriaxone, Ciprofloxacina, Daptomicina, Ertapenem,
Fluconazol, Imipenem, Levofloxacina, Linezolida, Meropenem, Micafungina,
Moxifloxacino, Piperacilina-tazobactam (base piperacilina), Sulfato de Polimixina B,
Sulfato de Polimixina E, Teicoplanina, Tigeciclina, Vancomicina e Voriconazol.
Mediante essa medida o uso racional de antimicrobianos foi analisado, a
partir da DDD gerada pelo consumo final que diz respeito aos ATM transformados
em gramas da substância dispensada, enquanto os antimicrobianos solicitados são
referentes às unidades requisitadas para o uso na UTI (ANVISA, 2022).
Em relação aos ATM solicitados pela UTI a maior média ocorreu em 2021
(669,93g) contrapondo o consumo final com base no cálculo do DDD, onde sua
maior média é referente ao ano de 2019 (750,26g), (Gráfico 1).
Gráfico 1. Média anual dos antimicrobianos solicitados versus a média anual dos antimicrobianos de
acordo com seu consumo pelo DDD.
Mecanismos de ação
Segundo a ANVISA (2008), os antimicrobianos pertencem a uma classe de
fármacos utilizados para tratamento de infecções, em sua maioria de origem
bacteriana e com sua utilização de forma adequada pode retardar a aparição da
resistência antimicrobiana, a partir de uma prescrição racional.
Os ATM são divididos em grupos e classes para que seu uso clínico seja
efetivo, sendo possível a classificação de acordo com seu espectro de ação. No
grupo dos antimicrobianos selecionados, no presente estudo temos as classes de
antifúngicos, carbapenêmicos, cefalosporinas (terceira e quarta geração),
glicopeptídeos, penicilina e polimixinas, sendo todos os componentes considerados
de amplo espectro. Os antimicrobianos como Cefepima, Ceftriaxone,
Piperacilina-tazobactam e Meropenem têm sua indicação, de acordo com seu
espectro de ação voltados para microrganismos, em sua maioria, bastonetes
Gram-negativo, no entanto o Sulfato de Polimixina B e a Vancomicina tem maior
ação contra microrganismos multirresistentes e o Fluconazol é considerado um
potente inibidor de síntese fúngica (MELO; DUARTE e SOARES, 2012).
O Meropenem foi o antimicrobiano mais consumido na unidade de terapia
intensiva do hospital analisado com o maior consumo em 2019 (603,79g),
apresentando uma diferença com relação ao estudo de Oliveira e Santos (2022), em
que o meropenem foi o ATM mais consumido na unidade, porém com (1441,62g).
De acordo com Souza, Baroni e Roese (2017) o uso deste antimicrobiano está
interligado ao fato de ser utilizado como terapia em casos de infecções graves e
podendo-se estender este uso após os resultados laboratoriais para a maior
segurança contra os microrganismos. É considerado mais ativo contra bastonetes
Gram-negativos, pelo seu amplo espectro e possuir o potencial de penetrar nos
sítios de infecção (ANVISA, 2017), indicando a existência de microrganismos
multirresistentes, devido ao uso ser altamente recomendado, indo ao encontro do
estudo de Souza et al. (2021) em que o carbapenêmico meropenem foi o mais
utilizado na unidade.
A Cefepima se mostrou em queda ao decorrer do período, atingindo seu
menor valor de consumo em 2021 (20,54g) e apresentando uma tendência
decrescente. O antimicrobiano pertence a classe das cefalosporina de quarta
geração, tem grande ação contra microrganismos Gram-negativos e ação
antipseudomonas, sendo utilizada em casos de pneumonias hospitalares, infecções
do trato urinário e meningites causadas por bastonetes Gram-negativos (ANVISA,
2017). Sendo este dado considerado contraditório ao comparar com o estudo de
Dantas et al. (2015), uma vez que, a classe cefalosporinas foi considerada a com
maior utilização na UTI e a que obteve a menor redução no período de 2013, além
disso, o uso demasiado e equivocado não apenas no âmbito hospitalar, mas
também na comunidade é considerado um fator agravante e determinante para o
desenvolvimento de bactérias resistentes.
O crescente consumo final pode estar interligado ao aumento dos
pacientes-dia da unidade, sendo assim, demandando uma maior solicitação de ATM
pela equipe interdisciplinar em conjunto a estratégias de controle são instituídas
como normas e protocolos para a prevenção e controle de IRAS, levantamento de
indicadores de IRAS, busca ativa de casos, conscientização sobre o uso racional de
ATM e avaliação de prescrições.
CONCLUSÃO
A DDD no Hospital de Ensino é implementada pelo SCIRAS, possibilitando
verificar o funcionamento pleno das notificações da DDD mensalmente das UTI
adulto do Hospital e realizar o monitoramento desses ATM. A tendência histórica
acompanha o aumento dos pacientes internados, portanto, a DDD se encontra de
acordo com a definição da Anvisa. As estratégias de controle no hospital têm sido
instituídas por meio de normas e protocolos para a prevenção e controle de IRAS,
levantamento de indicadores de IRAS, busca ativa de casos, conscientização sobre
o uso racional de ATM e avaliação de prescrições.
O programa de gerenciamento de antimicrobianos preconizado no Brasil e
implementado no Hospital de ensino é o DDD, considerada uma estratégia bem
estruturada e articulada. Esse teve impacto significativo no controle e prevenção das
IRAS, pois foi possível verificar a manutenção das DDD no período estudado e
encontra-se de acordo com a definição da Anvisa.
O Programa é um importante modelo estratégico, pois tem ações para a
notificação e acompanhamento do uso destes antimicrobianos. Para que seja
fortalecida a equipe multidisciplinar deve atuar alinhada às ações para o uso racional
dos ATM, em prol da prevenção e controle de infecções como: prescrição racional,
adoção de práticas para combate de IRAS, educação continuada sobre manejo de
antimicrobianos, ações de vigilância e notificação de infecções.
O uso de antimicrobianos não se restringe aos pacientes internados em UTI,
sendo de suma importância que o gerenciamento de antimicrobianos seja
implementado em Unidades Básicas de Saúde (UBS) de forma mais incisiva,
abrangendo a educação na comunidade, pois o uso racional e adequado de
antimicrobianos vai além das unidades de saúde, alcançado toda a população.
Sendo assim, é essencial estabelecer estratégias e implementá-las em todas as
unidades de saúde visando o uso adequado de antimicrobianos, como a proposta do
programa de Stewardship e da DDD.
Referências Bibliográficas
SILVA, H. A.; SANTANA, S. S.; CAPUCHO, H. C.; LIMA, A. P. P.; ROCHA, C. L. A.;
LIMA, R. F. Perfil de utilização e custos de carbapenêmicos em uma unidade de
terapia intensiva de um hospital público do Distrito Federal – Brasil. Research,
Society and Development, v. 10, n. 14, 2021. Disponível em:
https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/21691. Acesso em 06 de junho de
2022